Os desafios do uso do tablet pelos professores do Ensino
Médio das escolas públicas do Distrito Federal
Angélica Magalhães Neves1 (UCB)
Caroline Rodrigues Cardoso 2 (SEDF)
Resumo: Em 2013, 3 mil tablets foram disponibilizados para os professores
de Ensino Médio da rede pública de ensino do DF como parte do Plano de
Ações Articuladas da SEDF com o MEC. O objetivo desta pesquisa foi
investigar os desafios do uso do tablet em sala de aula. Com base na
Teoria da Enunciação e na Pedagogia dos Multiletramentos, esta
investigação, de cunho qualitativo, utilizou como principais instrumentos
metodológicos o questionário e a análise de participações em fóruns do
ambiente virtual de aprendizagem de um curso de formação para uso
pedagógico dos equipamentos. Os resultados mostraram que os professores
ainda têm dificuldade de utilizar o tablet em sala de aula, devido
principalmente à característica de imigrantes digitais. Também ficou
evidenciada a necessidade de revisão do planejamento de distribuição de
equipamentos tecnológicos e de formação continuada de professores.
Palavras-chave: Multiletramentos, Ensino Médio no DF, tablet.
Abstract: In 2013, 3000 high school teachers of public schools of DF
received tablets as part of the Plano de Ações Articuladas of SEDF with
MEC. The goal of this research was to investigate the challenges of using
the tablet in the classroom. Based on the Theory of Enunciation and
Pedagogy of Multiliteracies, this qualitative research used as the main
methodological tools the analysis of questionnaires and virtual forums in
the learning environment of a training course for pedagogical use of
tablets. The results showed that teachers still have difficulty using the
tablet in the classroom mainly due to the characteristic of digital
immigrants. It also evidenced the need to review the procedures for
distribution of technological equipment and continuous training of
teachers.
Keywords: Multiliteracies, public high school in DF, tablet.
Introdução
Como preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 2012), é importante que o processo pedagógico busque favorecer a trans e
1
Angélica Magalhães NEVES, profa. Graduada.
Universidade Católica de Brasília (UCB).
E-mail: [email protected].
2
Caroline Rodrigues CARDOSO, profa. dra.
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF).
E-mail: [email protected].
-1-
a interdisciplinaridade e a ressignificação dos conteúdos com base no entendimento
de que a atual configuração social – das múltiplas culturas, das multissemioses
textuais, da comunicação digital em rede – possibilita uma prática pedagógica
diferenciada, holística e complexa (MORIN, MOTTA & CIURANA, 2003).
Nesse contexto, uma das ações do Plano de Ações Articuladas (PAR)3 do
Ministério da Educação em todo o país foi o projeto Educação Digital – política para
computadores interativos e tablets, que destinou cerca de R$ 150 milhões para a
aquisição de 600 mil tablets a serem distribuídos para professores de escolas
públicas em todo o país. O objetivo do projeto é oferecer instrumentos e formação
aos professores e gestores das escolas públicas para o uso intensivo das Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC) no processo de ensino e aprendizagem.
No Distrito Federal, foram disponibilizados 3 mil tablets para os professores
de Ensino Médio no início de 2013 e está prevista a distribuição de 40 mil aparelhos
em 2014. Os pré-requisitos para a distribuição inicial dos equipamentos foram: (i)
ser escola urbana de Ensino Médio, (ii) ter internet banda larga e rede sem fio, (iii)
ter laboratório do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo).
Assim, esta pesquisa, de cunho qualitativo, objetivou investigar os desafios
do uso do tablet em sala de aula tomando como bases a Teoria da Enunciação
(BAKHTIN, 1997; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999) e a Pedagogia dos Multiletramentos
(CAZDEN
et
al.,
1996)4.
Foram
utilizados
como
principais
instrumentos
metodológicos um questionário e a análise de participações em fóruns do curso de
formação continuada Tablet Educacional como Ferramenta Pedagógica, na
modalidade a distância, ministrado pela Escola de Aperfeiçoamento dos
Profissionais da Educação (EAPE) da Secretaria de Estado de Educação do Distrito
Federal (SEDF) com o objetivo de inserir o tablet nas práticas pedagógicas dos
professores de Ensino Médio da rede pública de ensino.
3
4
Disponível em: <http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php>.
The New London Group: Cazden; Cope; Fairclough; Gee; Kalantzis; Kress; Luke; Luke; Michaels; Nakata.
-2-
Os resultados evidenciaram que os professores ainda têm dificuldade de
utilizar novas tecnologias em sala de aula, devido principalmente à característica
de imigrantes digitais (TAPSCOT, 1999; PRENSKY, 2001a; 2001b). Também ficou
evidenciada a necessidade de revisão dos procedimentos de compra, distribuição e
gestão de equipamentos coadunados com ampla informação e formação continuada
qualificada dos professores.
1. Contextualização da pesquisa
Esta pesquisa foi idealizada no final de 2012 e início de 2013 quando
soubemos que a SEDF distribuiria tablets para os professores de Ensino Médio da
rede pública de ensino do DF em caráter de concessão, ou seja, o professor assina
um termo de posse do equipamento, mas o patrimônio é da SEDF.
Nosso projeto inicial era investigar, a partir de uma perspectiva qualitativa e
por meio de observação de campo, aplicação de questionários e realização de uma
oficina, os desafios do uso do tablet pelos professores de uma escola pública da
periferia do DF, bem como apresentar propostas metodológicas para o uso didático
do aparelho em sala de aula.
Sendo assim, partimos da hipótese de que utilizar um equipamento
tecnológico em sala de aula constitui um desafio para os professores,
especialmente os da rede pública, por uma série de fatores, mas principalmente
três: dois de cunho infraestrutural - rede sem fio e velocidade da internet – e um
que diz respeito aos recursos humanos – a formação e o preparo do professor.
Contatamos alguns possíveis colaboradores e, após a distribuição dos
equipamentos pela SEDF, no final de maio, iniciamos um levantamento de quais
desses professores, futuros colaboradores, estavam efetivamente utilizando o
tablet em sala de aula. Descobrimos que, dos professores contatados, nenhum
estava utilizando o tablet.
-3-
Com base no que propõe Erickson (2004) acerca do caráter indutivo da
pesquisa qualitativa, continuamos a investigação com um pequeno redesenho
metodológico e definimos como instrumentos de coleta de dados questionários e
participações dos professores nos fóruns do curso Tablet Educacional como
Ferramenta Pedagógica, oferecido pela EAPE.
Sem uma pesquisa de campo na escola e sem o uso efetivo do tablet na sala
de aula, como previmos inicialmente, também precisamos abrir mão da oficina que
resultaria em sugestões metodológicas para o uso didático do equipamento, no
entanto entendemos que o próprio curso da EAPE se propõe a esse fim.
1.1. Cenários: entre o ideal e o real
Segundo dados do Sistema de Gerenciamento do Patrimônio (SisGePat) da SEDF,
o atual cenário em relação aos tablets é o seguinte: dos 3 mil aparelhos
disponibilizados, apenas 1900 foram pegos pelos professores; aproximadamente 1100
ainda estão no depósito da Gerência de Administração Patrimonial. Dos 1900 recebidos,
240 foram devolvidos - 100 por apresentarem defeito e 140 sem justificativa.
Para o curso de formação da EAPE, foram oferecidas 3051 vagas distribuídas
em 84 turmas com 35 alunos cada, na modalidade a distância, com 4 encontros
presenciais, totalizando 90h/a (sendo 15h presenciais, 60h a distância e 15h
indiretas). O curso teve início em setembro de 2013, com término previsto para
dezembro e com um total de 1337 inscritos.
Diante desse cenário, resolvemos coletar dados no curso oferecido pela
EAPE. Participamos do primeiro encontro presencial – que foi uma aula inaugural no
auditório da EAPE, no dia 3 de setembro - e solicitamos permissão para participar
do AVA como visitantes a fim de analisar as interações nos fóruns.
Encaminhamos um questionário nos dias 20 e 21 de outubro, via e-mail, para
os 1337 professores inscritos no curso e apenas 14 foram respondidos e devolvidos
-4-
até o momento do fechamento deste texto. Realizamos a coleta e a análise de
dados nos fóruns entre os dias 16 de setembro e 20 de outubro. Esse levantamento
contemplou os dois primeiros módulos dos quatro que compõem o curso: módulo I –
Tablet - Recursos Básicos e Potencialidades e Desafios do uso das TICs (de 16/09 a
29/09); módulo II – TICs/Fundamentação básica e teórica do uso dos Tablets e
Formação do Professor do Séc. XXI (de 30/09 a 20/10); módulo III – Tablet –
Recursos pedagógicos e pesquisas (de 21/10 a 10/11); módulo IV – Tablet –
Recursos pedagógicos avançados na Educação (de 11/11 a 01/12).
A partir desses dados, foi possível verificar quais são os maiores desafios que
os professores da escola pública de ensino médio do DF vêm enfrentando para
utilizar o tablet em sala de aula. A seguir, apresentaremos o arcabouço teórico que
subsidiou nossas análises e, na seção 3, apresentaremos as análises dos resultados.
2. Multiletramentos: nova configuração social, postura pedagógica
ressignificada
O homem contemporâneo está inserido num universo onde as novas
tecnologias influenciam desde a formação e interação sociocultural até a maneira
de adquirir novos conhecimentos. Diante dos reflexos das novas tecnologias,
apresenta-se uma sociedade com uma nova configuração – multicultural e plural,
onde circulam textos multissemióticos e se sobressaem as interações guiadas pelos
movimentos, não mais pela estaticidade da linguagem no papel.
Assim, surge cotidianamente a necessidade de criar novos métodos e
estratégias de aprender e ensinar, pois há que se contemplar com eficiência as
atuais práticas de leitura e de escrita em que estamos inseridos.
Para haver qualidade na Educação, na formação das pessoas, é necessário
traçar caminhos além da alfabetização e/ou da simples prática mecânica de ler e
-5-
escrever. Essa nova configuração social contribuiu para a criação de novas práticas
sociais e, consequentemente, necessitamos de novas práticas pedagógicas.
A tênue separação entre alfabetização e letramento, ocorrida no Brasil em
meados da década de 80, foi crucial para a possibilidade de entender hoje a leitura
e a escrita proporcionadas pelo acesso à linguagem multissemiótica que circula
incessantemente por smartphones, tablets, TVs digitais, notebooks e outros
equipamentos, milhares, conectados na grande teia global e conectando pessoas de
características culturais tão diversas quanto inimagináveis há uns 20 anos.
As práticas de ler e escrever cotidianas ultrapassaram os limites do papel,
invadiram as áreas de tecnologias digitais de forma múltipla e diversa, carregando
as características culturais de cada comunidade, e foram ressignificadas, fazendo
surgir modalidades diferentes de letramentos – ou os multiletramentos (SOARES,
2002; COPE & KALANTZIS, 1997; 1999; 2009; ROJO, 2012).
Xavier (2002) defende que o surgimento das novas tecnologias de informação
e comunicação tem modificado a vida contemporânea e o aumento da utilização
das novas tecnologias na vida social cotidiana exige dos indivíduos habilidades
específicas de manuseio, leitura e escrita. Os letramentos digitais (XAVIER, 2002)
são uma modalidade dos letramentos, entendida como a capacidade que as pessoas
têm de responder adequadamente às demandas sociais nas quais utilizam recursos
tecnológicos que envolvem a leitura e a escrita no meio digital.
Essa capacidade não está desassociada da construção de sentidos advinda das
práticas discursivas e da necessidade de se desenvolver uma consciência da interrelação entre linguagem e sociedade, entre discurso e poder. Deparamo-nos, então,
com os letramentos críticos (MUSPRATT, LUKE & FREEBODY, 1997), cujo sentido está
justamente em desenvolver posturas questionadoras, críticas, desafiadoras em relação à
linguagem, às práticas sociais e à inter-relação entre elas. A partir dos letramentos
críticos, a prática social atrelada à linguagem é (re)interpretada e pode, a partir daí,
renovar-se e contribuir para a revisão das práticas pedagógicas.
-6-
Sendo assim, o processo de ensino e aprendizagem na escola precisa levar
em consideração essas questões. Lidar com as formas de interação e com alta
interatividade proporcionadas por essa teia global interconectada envolve múltiplas
capacidades e conhecimentos para mobilizar essas capacidades, muitos dos quais
não têm necessariamente relação com a leitura e a escrita “tradicionais”. A
disseminação das novas ferramentas tecnológicas na vida social exige que as
pessoas adentrem no mundo da informação e adquiram novos hábitos, novas
posturas e novas formas de ensinar e aprender.
É preciso, para se conseguir atingir o maior objetivo da Educação - as
aprendizagens -, não direcionar o ensino pelo caminho da dissociação de conteúdos
e de áreas de conhecimento. É necessário legitimar o papel de agente dos alunos,
assumindo uma prática pedagógica situada a partir da legitimação dos contextos
culturais e linguísticos particulares de alunos e professores a fim de enriquecer o
acervo cultural de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem
(CARDOSO, 2012).
2.1. X, Y, Z: muito mais que letras do alfabeto
Quando se fala em usar o tablet na escola, o senso comum já aponta para
um “Adeus às mochilas pesadas!”. Mas o uso de novas tecnologias como
smartphones e tablets nas salas de aula vai muito além de tirar o peso das costas.
A cada dia que passa, essas tecnologias móveis conquistam mais espaço no
cotidiano de todos. Tanto na esfera social quanto pessoal, muitas vezes
dependemos delas para realizar atividades cotidianas e, na atual configuração
cibercultural (LÉVY, 1999; LEMOS, 2004), as possibilidades de o indivíduo participar
efetivamente da sociedade sem dominar a tecnologia são bastante reduzidas.
Para algumas pessoas, principalmente as da chamada Geração X (pessoas
nascidas entre as décadas de 60 e 70), é muito mais complicado transitar
-7-
socialmente hoje em dia, pois praticamente todas as atividades bancárias e de
aquisição de serviços como telefonia, TV a cabo, internet e passagens aéreas são
resolvidas por meio de algum dispositivo digital.
No entanto, para adolescentes e crianças nascidos nas décadas de 80 (Geração Y)
e 90 (Geração Z) a cibercultura é habitual e familiar. Eles se sentem em casa nos
ambientes de comunicação digital, pois já nasceram inseridos na teia global
interconectada pela internet. O modo como esses jovens aprendem e interagem, a
forma como lidam com o conhecimento e a informação, a maneira de enxergar o mundo
do trabalho e a escola não são nem de perto parecidos com os da Geração X.
Não cabem julgamentos de valor nessa questão, mas uma reflexão acerca das
expectativas e anseios de jovens e crianças que adentram os muros escolares hoje: nós
temos atendido, enquanto escola, enquanto profissionais da educação, enquanto
governo, os anseios e as expectativas de aprendizagens desses jovens e crianças?
Acreditamos que muitos de nós temos uma resposta negativa para essa
reflexão. Portanto, é necessário adequar a forma de ensinar a essa nova
configuração, fazendo com que os alunos sintam interesse em frequentar a escola,
tornando a escola um local atraente. E é preciso saber como...
Para chegarmos ao como tornar a escola um lugar atraente, precisamos
entender e legitimar os aspectos culturais diversos que caracterizam os alunos do
mundo atual. Segundo
Prensky, (2001b, p.
1) “nossos alunos mudaram
radicalmente. Os alunos de hoje não são os mesmos para os quais o nosso sistema
educacional foi criado”. Então como deveríamos nomear os nossos alunos de hoje?
Para Prensky (2001b, p. 1), “nossos estudantes de hoje são todos ‘falantes nativos’
da linguagem digital dos computadores, vídeo games e internet”. Assim, o autor os
denominou nativos digitais.
Os nativos digitais são as pessoas nascidas na era da tecnologia digital, nos
anos 2000; crescem cercados pela mídia digital; desde cedo possuem contato com
computadores, smartphones, internet, câmeras digitais, videogames, tablets, GPS;
passam boa parte do tempo fazendo download, acessando as redes sociais,
-8-
trocando SMS, “whatsappeando”, “facebookeando”, ouvindo música, vendo TV – às
vezes simultaneamente! As mensagens instantâneas, as redes sociais, os jogos de
computadores, a internet e tudo o que ela pode propiciar às pessoas já fazem parte
da vida dos alunos da educação básica.
Assim, uma pergunta que devemos nos fazer é se é possível desvincular as
tecnologias digitais da educação. Isso tem despertado curiosidade e preocupação
de muitos educadores e estudiosos, pois nosso sistema educacional não atende
satisfatoriamente as necessidades dos nativos digitais, porém ainda não se
encontrou uma solução, uma forma de tornar a escola mais atraente. Até agora, o
que há é tentativa.
Segundo Tapscot (1999), muitas escolas ainda lutam contra a realidade de
alunos que dominam o espaço cibernético mais que o professor. No entanto, o uso
das tecnologias digitais no âmbito educacional deixou de ser um diferencial e
passou a ser uma necessidade. Não há como dissociar o processo de ensino e
aprendizagem da disseminação das novas tecnologias.
Como somos partes efetivas de uma sociedade cada vez mais conectada,
inserida no universo da velocidade e do acesso fácil às informações, tanto a nova –
nativos digitais - quanto as antigas gerações - denominadas imigrantes digitais por
Prensky (2001a, 2001b), necessitam dominar o uso das tecnologias digitais.
Talvez este seja o maior desafio dos profissionais de educação na atualidade
(imigrantes digitais): adequar estratégias pedagógicas que atendam as gerações
que frequentam as escolas e adequar-se às características de um mundo dominado
pelos nativos digitais: “nossos instrutores, imigrantes digitais, que usam uma
linguagem ultrapassada (da era pré-digital), estão lutando para ensinar uma
população que fala uma linguagem totalmente nova” (PRENSKY, 2001a, p. 2).
A Geração Z e a geração dos nativos digitais têm o papel de impulsionar a
transformação de nossa prática pedagógica. Como eles assumem posturas
diferenciadas em relação ao mundo,
-9-
preferem os seus gráficos antes do texto ao invés do oposto. Eles preferem
acesso aleatório (como hipertexto). Eles trabalham melhor quando ligados
a uma rede de contatos. Eles têm sucesso com gratificações instantâneas e
recompensas frequentes. Eles preferem jogos a trabalham “sério”.
(PRENSKY, 2001a p. 2)
Nós, os imigrantes digitais, precisamos entender, acatar e disseminar um novo
paradigma de ensino e aprendizagem – colaborativo e interativo. Nesse sentido, a
lógica do dialogismo (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999) pode ser a base para um
programa educacional almejado, em que se legitime a correlação e integração entre
as várias culturas, as várias linguagens, as várias formas de aprender e de ensinar.
É imprescindível dar voz e lugar às produções, reproduções, transgressões,
subversões, releituras, enfim, às intertextualidades, já que assumimos e
reconhecemos a polifonia, no sentido bakhtiniano, como processo chave da
interação em um mundo altamente interativo-colaborativo. Porém, é necessário,
mais do que nunca, discutir na escola o conceito de ética no sentido de repensar os
conceitos de propriedade intelectual, criação e recepção de artefatos culturais.
O controle unidirecional das informações e do conhecimento, que
caracterizava a sociedade que a Geração X vivenciou, não faz mais sentido em uma
sociedade em rede (CASTELLS, 1999), na qual a hiperatividade, a hipertextualidade
e a ação fazem muito mais sentido do que a passividade da comunicação um-paramuitos. Agora estamos na era do muitos-para-muitos (GIDDENS, 2005).
2.2. Por que optar pela distribuição de tablets?
Os nativos digitais não querem apenas ser ouvintes das aulas, eles sentem
necessidade de ser usuários e poder fazer contribuições e interações, assim como
no meio digital.
Pensando nisso e na necessidade de aliar tecnologia e educação, muitas
instituições educacionais têm inserido tecnologias móveis como o tablet em sala de
- 10 -
aula. As escolas têm procurado inovar os mecanismos tecnológicos aliados ao
ensino a fim de despertar o interesse dos alunos.
Segundo o Currículo em Movimento da Secretaria de Estado de Educação do
DF (DISTRITO FEDERAL, 2013), o acesso às tecnologias digitais e a formação dos
estudantes em torno dessas tecnologias são fundamentais e devem ser
desenvolvidos, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio
(BRASIL, 2012), a partir das dimensões da formação humana – trabalho, ciência,
tecnologia e cultura.
Assim, no caso do Ensino Médio, a inclusão tecnológica é tida como uma
possibilidade de enriquecer ainda mais o ensino, despertar o interesse do aluno e
estimular a aprendizagem de conteúdos necessários tanto para prosseguir nos
estudos quanto para se posicionar no mundo do trabalho.
Para Rojo (2012, p.37), a presença das tecnologias digitais em nossa cultura
contemporânea cria novas possibilidades de expressão e comunicação. Cada vez
mais, elas fazem parte do nosso cotidiano e, assim como a tecnologia da escrita,
também devem ser aprendidas. Atualmente, para que os alunos interajam nas
aulas, é preciso falar a língua deles, a língua dos nativos digitais.
A estratégia de distribuição dos tablets nas escolas públicas, primeiramente
para os professores e futuramente para os alunos, é prova de que o governo
brasileiro está atento às necessidades cada vez mais crescentes de atrair e manter
os jovens na escola, bem como possibilitar a formação continuada dos professores a
fim de melhorar a qualidade social e os índices da educação no país.
Os tablets são equipamentos relativamente novos no mercado, tendo sido
popularizados em 2010 nos Estados Unidos. São dispositivos móveis menores que os
notebooks e um pouco maiores que os smartphones, que possibilitam acesso à
internet (inclusive wi-fi), armazenam dados diversos, possibilitam edição de
documentos, entretenimento com games, organização de agendas e calendários,
visualização de fotos, mapas e vídeos, leitura de livros, jornais e revistas, realização
de videoconferência. Alguns podem receber sensores de movimento, o que
- 11 -
possibilita, em um game de corrida, girá-lo como se fosse um volante. Também é
possível escolher a orientação da página na hora da leitura – horizontal ou vertical.
O aparelho comprado pelo MEC e distribuído pela SEDF é da marca CCE,
Modelo Motion Tab T735, tem tela 7", vem com o sistema operacional Android,
câmera frontal de 0.3 megapixels, possui armazenamento interno de 4GB com
possibilidade de expansão de 32GB.
Além do preço, da mobilidade e do espaço ocupado, a diferença entre um
tablet e um notebook é que a interface com aquele é 100% tátil, pois ele apresenta
tela touchscreen e alguns modelos vêm com uma caneta especial para telas
sensíveis ao toque.
Sendo assim, todas essas características justificam a opção do governo
federal pela distribuição de tablets e não de notebooks para os professores e
alunos da rede pública.
2.3. A postura dos professores, imigrantes digitais, em relação ao
uso de TICs em sala de aula
Para subsidiar nossa pesquisa, é importante refletir sobre alguns aspectos
referentes à postura dos professores, imigrantes digitais, em relação a novos
métodos de ensino e aprendizagem, inclusive dos que usam as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs).
Muito se discute acerca da implantação de políticas educacionais que sejam
eficientes para atender os estudantes. Diante da necessidade de melhorar a
qualidade social da educação brasileira, percebeu-se que a escola deveria não só
incluir as novas tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, mas também
preparar os professores para usá-las.
Em pleno século XXI, está claro para todos os envolvidos no processo
educacional que não há como pensar em um ensino e aprendizagens com qualidade
- 12 -
sem aliá-los ao emprego das tecnologias digitais. Na sociedade em rede, é necessário
que o professor, ainda que imigrante digital, seja flexível para aceitar que não
conhece tudo acerca do uso dessas tecnologias e que os alunos, nativos digitais,
podem auxiliá-lo. O professor necessita estar aberto a aprender continuamente, já
que as tecnologias estão em constante atualização, sob pena de se estagnar.
Mas a grande angústia dos imigrantes digitais é justamente como fazer,
como agir, como planejar aulas interessantes. Prensky (2001b, p. 3) também
apresenta reflexão nesse sentido:
Então o que deveria acontecer? Os estudantes nativos digitais deveriam
aprender as velhas formas, ou os educadores imigrantes digitais deveriam
aprender as novas? Infelizmente, independente de quanto os Imigrantes queiram
isso, é bem improvável que os nativos digitais regredirão. Em primeiro lugar,
isto deve ser impossível – as mentes podem já ser diferentes.
Rojo (2012, p. 22) vai além nessa reflexão e mostra que
não são as características dos “novos” textos multissemióticos, multimodais e
hipermidiáticos que colocam desafios aos leitores. Se assim fosse, nossas
crianças e jovens nativos não teriam tanta facilidade e prazer na navegação. O
desafio fica colocado pelas nossas práticas escolares de leitura/escrita que já
eram restritas e insuficientes mesmo para a “era do impresso”.
Verifica-se que precisamos nos preparar para romper definitivamente com o
modelo de ensino e a aprendizagem que vimos mantendo há séculos a fim de
realizar um trabalho eficiente e que atenda às expectativas do nosso alunado que
já nasce imerso no mundo digital (quiçá nossas!).
3. Apresentação e análise dos resultados
Ao analisar os dados dos 14 questionários respondidos pelos professores que
participam do projeto dos tablets e as participações deles nos fóruns, foi possível
chegar aos resultados apresentados a seguir.
- 13 -
Segundo o perfil dos professores que responderam ao questionário, percebeu-se
que todos têm acima de 30 anos e, portanto, são imigrantes digitais. Grande parte já
atua como professor há mais de cinco anos. Todos os participantes da pesquisa
receberam o tablet, mas nenhum faz uso desse recurso em sala de aula.
Quanto ao uso em sala de aula, Q1, professor de filosofia há 16 anos,
justificou-se:
minha disciplina não tem muito espaço para recursos tecnológicos. A
filosofia é transmitida por meio de textos e escrita. Um computador não
acrescenta muita coisa. O importante para o aluno é ler e escrever. É o
que ele precisa. Isso pode ser feito, e muito bem, com papel impresso.
Tapscot (1999) afirma que há uma dificuldade dos professores/das escolas
em aceitar a atual realidade, na qual os alunos dominam o espaço cibernético mais
do que eles. A fala de Q1 ilustra bem essa dificuldade. Sem contar que Q1
demonstra desconhecimento em relação aos conceitos de texto, escrita, já que os
recursos tecnológicos mais atuais fazem circular mais do que nunca a linguagem
escrita. Na verdade, a rede digital existe com base nas multissemioses textuais –
em textos orais, escritos e imagéticos – e na hipertextualidade.
É importante compreender que nossos alunos mudaram e, com isso, faz-se
necessário que o ensino também mude. Para o ensino mudar, o professor precisa
estar atento e estudar novas formas de inserir tecnologias digitais em suas aulas
sem, no entanto, abandonar as antigas como o livro, a TV, o DVD.
Q3 mostrou-se animado com a ideia da inclusão do recurso nas aulas, só não
faz uso porque se sente despreparado:
não tenho base, formação, experiência para integrar o tablet nas minhas
aulas. Espero que essa experiência, esse conhecimento seja adquirido no
curso que está sendo ofertado [pela EAPE].
- 14 -
O depoimento de Q3 demonstra, apesar de seus 16 anos de atuação no
magistério e de seus 37 anos de idade, uma consciência em relação à necessidade
de atualização de suas aulas e, para isso, de estudo, preparo, formação.
Também há casos como os de Q6, atuando há 10 anos no magistério e com
39 anos de idade, que nos apontam para um quadro de certo conhecimento em
relação a recursos tecnológicos, mas, ao mesmo tempo, demonstra desmotivação
em relação ao modelo do aparelho distribuído:
gostaria muito [de usar], mas o horrível tablet foi devolvido, pois quebrou
no 4º dia de uso. Durante os 4 primeiros dias de funcionamento, não teve
um desempenho compatível com as necessidades de um professor. A
capacidade era ínfima, não abria o diário eletrônico da SEDF, não
comportava o Dropbox, usado pelo próprio colégio. Era demasiadamente
lento em atender aos comandos, não obedecia ao comando de zoom com
uso dos dedos (item básico a qualquer tablet), não deixava acessar e-mails
(gmail, por exemplo), travando. Ressalto que todas as atividades
desenvolvidas pelo professor envolvem uso maciço do e-mail, do Dropbox,
do diário eletrônico, do Excel, do Word, do Powerpoint, da internet e da
memória de armazenamento e de RAM do equipamento. O tablet entregue
a mim recebe nota zero em todos esses itens. Em alguns até chega a ser
nota negativa. Trata-se de um equipamento extremamente obsoleto em
tecnologia, em capacidade, em softwares e em velocidade de resposta.
O interessante é que Q6 não só critica, mas também sugere como deveria ser
organizada a distribuição dos equipamentos aos professores:
acredito que o GDF deveria, antes de fechar a compra de tablets, fazer
uma análise com especialistas da área (tipo um test-drive), pois no papel
dizia que o meu tablet tinha de tudo e mais um pouco, mas, na prática,
não atendia em absolutamente nada as minhas necessidades. Nos
momentos que o utilizei, perdi meu precioso tempo, me aborreci, e nunca
cheguei a conseguir fazer o que me propusera ao ligá-lo.
Encontramos uma exceção a essa realidade de não uso do tablet em sala de
aula, mas é importante frisar que Q25, professor de filosofia há cinco anos, utiliza
5
Para preservar a identidade dos nossos colaboradores e facilitar a compreensão dos leitores, denominaremos de Q seguido
do número do respondente para nos referirmos aos professores colaboradores. Como tivemos 14 questionários devolvidos,
então teremos do Q1 ao Q14.
- 15 -
seu tablet pessoal, da marca Apple, em suas aulas. Ele justifica a opção por um
tablet diferente do distribuído:
o tablet em questão é muito ruim, possui baixa qualidade e isso dificulta
muito o desempenho dele em atividades em sala de aula. Tentei utilizá-lo
no início, mas foi impossível continuar usando. O tablet que utilizo é o
meu, pessoal, um Ipad2, esse sim é de ótima qualidade e tem um
desempenho que permite desenvolver as atividades que proponho para as
minhas aulas. Utilizo o Ipad2 desde 2012.
Com exceção de Q1 e de Q3, ficou claro que há uma resistência ao modelo e
à marca do aparelho distribuído pelo governo. Cabe ponderar que o preço de um
Ipad pode ser até 10 vezes maior que o distribuído pela SEDF. Em termos
financeiros, seria inviável para os cofres públicos, já que o aparelho foi distribuído
para professores de todo o país.
Compreendemos que a justificativa dos professores para o desinteresse em
relação ao aparelho distribuído, supostamente por problemas técnicos, é
pertinente, mas também detectamos certo desconhecimento e descrédito em
relação às reais funcionalidades do tablet nas aulas.
Como parte do programa de educação digital nas escolas, a distribuição do
tablet deve ser acompanhada de um curso de formação. Na questão 13 do
questionário, buscamos investigar se os professores estavam participando do curso
Tablet educacional como ferramenta pedagógica, oferecido no DF pela EAPE.
Ao analisarmos as respostas, percebemos que, dos 14 colaboradores que
responderam ao questionário, apenas 9 estão inscritos no curso. Inicialmente, o
curso teve 1337 professores inscritos, mas grande parte deles desistiu já no
primeiro módulo – o curso tem quatro.
Além da resistência “natural” dos imigrantes digitais em relação ao
emprego de recursos tecnológicos móveis em suas aulas, outro motivo para essa
evasão é a modalidade por que optou a EAPE em oferecer o curso. Carr (2000)
mostra que a persistência em cursos on-line é cerca de 10% a 20% inferior ao curso
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presencial e Levy (2007) chama atenção para o fato de que, antes do advento da
internet, a evasão em cursos a distância já era alta – entre 25% e 60%.
Esses dados mostram a necessidade de se repensar a logística de compra e
distribuição dos aparelhos, bem como de formação dos profissionais envolvidos.
Incluindo aqueles que já se embrenham pelo mundo digital, dificilmente será
executado um bom trabalho em sala de aula com os tablets sem a efetiva
participação dos professores em cursos de formação.
Também investigamos o fato de os professores estarem devolvendo os
aparelhos e recebemos, entre outras, as seguintes justificativas:
Q3: Os motivos que eu vejo são: falta de informação sobre o uso, falta de
apoio após a entrega, responsabilidade por ser um objeto do governo e não
do professor, decepção sobre os recursos e as configurações do tablet.
Q4: Os professores pensavam em resolver questões de lançamento de
frequência e registro de notas, atividades burocráticas, pelo uso de novas
tecnologias que facilitassem a mão de obra. Não tinham entendimento de
que a função é buscar novos recursos pedagógicos para o ensino aliado às
novas tecnologias. O professor não quer mudar sua forma de ministrar a sua
aula. O tablet demandaria inserção em projetos pedagógicos diferenciados.
Q14: A forma repentina como aconteceu essa entrega e a jogada de
responsabilidade do mesmo, na forma de um empréstimo, que foi frisada
nessa entrega, sem explicitar os objetivos pedagógicos dessa empreitada.
Diante desses depoimentos, podemos destacar que uma das justificativas
unânimes para a devolução é a qualidade do aparelho, que não atende às
expectativas
da
grande
maioria
dos
professores
–
que
parecem
girar,
principalmente, em torno de questões burocráticas do cotidiano escolar e não de
um uso efetivamente pedagógico. Outro fator determinante é que muitos
profissionais não apresentaram interesse em mudar a própria prática pedagógica.
Mas um fator crucial para o descontentamento foi a forma escolhida pela SEDF para
gerenciar a distribuição dos aparelhos e a formação para o seu uso.
Além dos questionários, analisamos os conteúdos dos fóruns do curso Tablet
educacional como ferramenta pedagógica a fim de compreender com mais eficácia
o que está ocorrendo com a inclusão do recurso no sistema educacional do DF. O
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curso é composto por quatro módulos, totalizando um total de 90 horas, nas quais
15h são presenciais, 60h são a distância e 15h indiretas. Os formadores da EAPE
e/ou professores multiplicadores dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs) são
os tutores que auxiliam aos professores no curso.
Na análise dos fóruns, permaneceram as reclamações acerca dos problemas
técnicos e da qualidade do aparelho distribuído, além de problemas estruturais das
escolas. Salientamos que, os professores que participaram da pesquisa por meio
dos questionários também estão inscritos no curso. No entanto, nem todos são
participantes efetivos.
O debate do módulo 1, em setembro de 2013, apresentava duas perguntas
como motivadoras: “Como ignorar as TICs no processo educacional?” e “Como pode
o Currículo ficar estático?”. Para que os professores pudessem refletir a respeito,
fizeram referência ao pensamento de Baraldo e Barbato (2013), logo em seguida
pediram para que os cursistas explanassem suas opiniões. Aqui vamos destacar as
respostas dadas à primeira questão.
Em uma participação nesse fórum, C16 relatou problemas técnicos do tablet
e estruturais das escolas:
eu utilizo esse tablet há um tempo, mas pouco em sala de aula, pois não
consigo carregar o diário eletrônico, as escolas não têm wi-fi e não consigo
abrir os vídeos nessa página e não teria como passá-los em sala, pois não
temos TVs com entrada HDMI, fora a ausência de corretor de texto.
C2 ressaltou o papel da escola na inclusão das TICs no processo educacional,
mas demonstrou uma consciência crítica em relação a esse papel e a essa utilização:
a escola não pode e não tem como evitar e desconsiderar o uso das TICs em
seu processo de atuação. Para tanto, deve estar programada para além da
utilização das TICs, direcionar seus objetos e objetivos em acordo com os
anseios da sociedade, seus objetivos históricos e sua natureza eminentemente
pedagógico. Isto é, não se trata de apenas utilizar as TICs, mas adequar seu
uso ao fazer pedagógico e à práxis reflexiva do processo educativo.
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Para preservar a identidade dos nossos colaboradores, usamos a denominação C seguida de um número de identificação.
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C4 destacou o trabalho que já vem sendo desenvolvido em sua escola com o
uso das TICs e ressaltou os desafios enfrentados pelos colegas que, como ele, são
da geração de imigrantes digitais, enfatizando o posicionamento dos alunos:
na escola onde trabalho já desenvolvemos trabalhos voltados a TICs, como
produção de revistas digitais com a publicação em sites de publicidades;
blogs, projetos, cineclubes, entre outras. A dificuldade encontrada foi que
os colegas não têm a capacitação básica para tal atividade. Quanto aos
alunos, eles gostaram e se sentiram desafiados.
Na participação de C5, percebemos contentamento com o uso das TICs e
uma ênfase no trabalho coletivo, destacando o papel dos gestores, algo
mencionado pela primeira vez, o que demonstra que esse professor tem
consciência da importância da organização administrativa para o êxito do processo
pedagógico coletivo. Quer dizer, a função de educar e de ensinar não é só do
professor, mas de todos os agentes escolares:
felizmente a escola em que trabalho está buscando inserir potencialidades
para auxiliar professores e alunos no processo de construção da
aprendizagem. O comprometimento com a gestão escolar é uma fatia
grande para a prática escolar de qualidade. Temos laboratório de
informática com trinta e cinco máquinas funcionando com acesso à
internet, wi-fi com sinal que alcança a escola toda, monitores que auxiliam
nas atividades propostas para o laboratório, cinco aparelhos de Datashow um fixo e quatro móveis, impressora multifuncional wi-fi para os
professores e todos os colegas têm pelo menos um notebook. Hoje, utilizo
também a rede social Facebook para postar, orientar e avaliar atividades
das minhas turmas, já que possibilita a criação de grupos. Fiz uma cirurgia,
estou de licença, e esta ferramenta está me ajudando, e muito, a quebrar
a ausência, a distância entre mim e os alunos. O que falta é a escola
construir um planejamento que contemple toda a comunidade escolar. Que
o grupo docente caminhe na mesma direção, ou seja, o crescimento
coletivo. E isto, está perto de acontecer.
Considerações finais
A partir dos dados aqui analisados, podemos concluir que não basta as
escolas estarem equipadas com internet e rede wi-fi, tablet e laboratório de
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informática com equipamentos de última geração, nem oferecer cursos de
formação continuada para os professores sem que estejam muito claros para os
objetivos das formações e da reestruturação física das unidades escolares.
Foi destacado o papel crucial que a gestão da escola tem nesse processo,
mas também não nos esqueçamos do papel da gestão da própria SEDF, que precisa
rever
a
questão
logística
de
compra
e
distribuição
dos
tablets,
mas,
principalmente, de organização do oferecimento do curso de formação – ele precisa
ser antes ou concomitante ao recebimento do aparelho e, talvez, em uma
modalidade presencial ou semipresencial.
No tocante ao uso das TICs em sala de aula, ainda é preciso vencer a
barreira das diferenças geracionais. Em alguns depoimentos, está clara a
necessidade de mudança de postura do professor em relação à aquisição e à
circulação do conhecimento e da informação na atualidade. A incorporação das
TICs pelos professores é uma nova maneira de compreender como elas podem
auxiliar na construção e no compartilhamento de conhecimento e informação,
sendo assim, com base nos estatutos teóricos e nos dados aqui analisados,
defendemos
a
necessidade
de
aprimoramento
das
relações
interativas-
colaborativas, com uso de tecnologias móveis como o tablet na escola já que isso
ocorre cotidianamente em nossas vidas fora do ambiente escolar.
Para o futuro, pretendemos analisar os materiais didáticos do curso
oferecido pela EAPE e implementar a pesquisa em alguma escola em que esteja se
fazendo uso efetivo do tablet distribuído, com vistas a possibilitar a aplicação de
outros instrumentos metodológicos, tais como grupo focal, entrevista e observação
participante para procedermos ao planejamento de sugestões metodológicas de uso
da tecnologia móvel em sala de aula.
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