Evangelho segundo S. Lucas 17,1-6. – cf.par. cf. Mt 18,6-7.15-22
Disse, depois, aos discípulos: «É inevitável que haja escândalos; mas ai daquele que os causa!
Melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar,
do que escandalizar um só destes pequeninos. Tende cuidado convosco! Se o teu irmão te
ofender, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se te ofender sete vezes ao dia e sete
vezes te vier dizer: 'Arrependo-me', perdoa-lhe.» Os Apóstolos disseram ao Senhor:
«Aumenta a nossa fé.» O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda,
diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar', e ela havia de obedecer-vos.»
S. Cipriano (200-258), bispo de Cartago e mártir
Os benefícios da paciência
“Perdoar-lhes-ás”
“A caridade tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7). Assim o apóstolo
Paulo mostra que, se esta verdade pode manter-se com uma tal firmeza é porque ela foi
temperada na paciência a toda a prova. Ele diz ainda: “Suportai-vos uns aos outros no amor,
fazendo tudo o que está ao vosso alcance para perservar a unidade do espírito no elo da paz”
(Ef 4,2).
Não é possivel manter a unidade nem a paz, se os irmãos não se aplicam a guardar a
tolerância mútua e o elo da concórdia graças à paciência. Que dizer ainda, a não ser que não
juremos, nem maldigamos, nem reclamemos o que nos tiraram, que apresentemos a outra face
a quem nos bate, que perdomoes ao irmão que pecou contra nós, e não só setenta e sete vezes,
que desculpemos as suas faltas, que amemos os nossos inimigos, que oremos pelos nossos
adversários e por aqueles que nos perseguem?
Como conseguir cumprir tudo isto se não se é firmemente paciente, tolerante? Foi o que fez
Sto. Estêvão quando em vez de gritar vingança, pediu a graça para os seus algozes dizendo:
"Senhor, não lhes imputes este pecado!" (Act 7,60)
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Discursos sobre os Salmos, Sl 60, 9
Pedir perdão e perdoar aos outros
“Todos os caminhos do Senhor são graça e verdade para os que guardam a sua aliança e os
seus preceitos” (Sl 24, 10). O que este salmo diz acerca do amor e da verdade é da maior
importância. […] Fala do amor, porque Deus não olha aos nossos méritos, mas à sua bondade,
a fim de nos perdoar os nossos pecados e de nos prometer a vida eterna. E fala igualmente da
verdade, porque Deus nunca falta às suas promessas. Reconheçamos este modelo divino e
imitemos a Deus, que nos manifestou o Seu amor e a Sua verdade. […] Tal como Ele,
realizemos neste mundo obras cheias de amor e de verdade. Sejamos bons para com os fracos,
os pobres, e mesmo para com os nossos inimigos.
Vivamos na verdade evitando fazer o mal. Não multipliquemos os pecados, porque aquele que
presume da bondade de Deus está a permitir que nele se introduza a vontade de tornar Deus
injusto. Imagina esse que, mesmo que se obstine nos seus pecados e se recuse a arrepender-se
deles, Deus lhe há-de conceder um lugar entre os seus fiéis servidores. Mas seria justo Deus
colocar-te no mesmo lugar que aqueles que renunciaram aos seus pecados, quando tu
perseveras nos teus? […] Por que pretendes, então, dobrá-lo à tua vontade? Sê tu a submeterte à Sua.
A este propósito diz justamente o salmista: “Quem procurará a misericórdia e a verdade do
Senhor junto Dele?” (Sl 60, 8). […] E por que dirá “junto Dele”? Porque são muitos os que
procuram instruir-se acerca do amor do Senhor e da Sua verdade nos Livros sagrados. Porém,
uma vez aí chegados, vivem para si próprios e não para Ele. Procuram os seus próprios
interesses, e não os interesses de Jesus Cristo. Apregoam o amor e a verdade, mas não os
praticam. Já aquele que ama a Deus e a Cristo, quando prega a verdade e o amor divinos, é
para Deus que os procura, e não no seu próprio interesse. Não prega para daí retirar vantagens
materiais, mas para o bem dos membros de Cristo, ou seja, dos seus fiéis. Distribui-lhes
aquilo que aprendeu em espírito de verdade, de tal maneira que “os que vivem não vivam
mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5, 15).
“Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor?”
S. Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
«A Fé, se a deixásseis inchar como um grão de mostarda»
Antigamente eu pensava que o Senhor só realizava milagres em resposta às preces dos santos,
mas agora compreendi que o Senhor também faz milagres ao pecador, quando a sua alma se
humilha; pois, assim que o homem aprende a humildade, o Senhor escuta as suas preces.
Muita gente diz, por inexperiência, que tal santo fez um milagre, mas eu percebi que é o
Espírito Santo que habita o homem quem realiza os milagres. O Senhor quer que todos sejam
salvos e vivam eternamente com Ele, e é por isso que escuta as preces que o homem pecador
lhe dirige para o bem dos outros e para o seu próprio bem.
Evangelho segundo S. Lucas 17,5-10.
Os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé.» O Senhor respondeu: «Se tivésseis
fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar', e
ela havia de obedecer-vos.» «Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe
dirá, quando ele regressar do campo: 'Vem cá depressa e senta-te à mesa'? Não lhe dirá antes:
'Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois, comerás e
beberás tu'? Deve estar grato ao servo por ter feito o que lhe mandou? Assim, também vós,
quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que
devíamos fazer.'»
Jean-Pierre de Caussade (1675-1751), jesuíta
Abandono à providência divina
A fé dos humildes servos, da humilde serva
Encontrar Deus tão bom tanto nas coisas mais pequenas e triviais como nas maiores, é ter uma
fé não comum, mas grande e extraordinária. Contentar-se com o momento presente, é
saborear e adorar a vontade de Deus em tudo o que surge para fazer e sofrer, nas coisas que
compõem, por sucessão, o momento presente. As almas simples, pela vivacidade da sua fé,
adoram igualmente a Deus nos estados mais humilhantes; nada passa despercebido ao olhar
vivo da sua fé. Nada os espanta, nem desgosta.
Maria verá fugir os apóstolos, permanecerá constantemente ao pé da cruz e reconhecerá o seu
filho por desfigurado que esteja por causa dos escarros e das chagas. A vida de fé não é senão
uma contínua perseguição de Deus através daquilo que O disfarça, O desfigure, O destrua, por
assim dizer, O aniquile. É verdadeiramente a vida de Maria que, desde o estábulo até ao
Calvário, permanece firme a Deus que o mundo desconhece, abandona e persegue. Assim, as
almas de fé empreendem uma contínua caminhada de mortes, de véus, sombras e aparências
que tentam tornar irreconhecível a vontade de Deus. Estas almas perseguem-na e amam-na,
até à cruz. Elas sabem que é preciso deixar sempre as sombras para alcançarem o sol divino;
desde que se levantam até que se deitem, por sombrias e densas que sejam as sombras que o
escondem, ele ilumina, aquece e abrasa os corações fieis.
Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não há amor maior
«Servos anónimos somos: cumprimos o nosso dever, apenas»
Sê sempre fiel nas pequenas coisas, pois nelas reside a nossa força. Para Deus, nada é
pequeno. A seus olhos nada tem pouco valor. Para Ele, todas as coisas são infinitas. Deves
pôr fidelidade nas coisas mais mínimas, não pela virtude que lhes é própria, mas por essa
coisa maior que é a vontade de Deus – e que, eu própria, respeito infinitamente.
Não procures realizar acções espectaculares. Devemos renunciar deliberadamente ao desejo
de contemplar o fruto do nosso labor, devemos apenas fazer o que podemos, o melhor que
pudermos, e deixar o resto nas mãos de Deus. O que importa, é a dádiva que fazes de ti
mesmo, o grau de amor que pões em cada acção que realizas.
Não te permitas desencorajar face aos fracassos, se deste de facto o teu melhor. Recusa
também a glória sempre que sejas bem sucedido. Oferece tudo a Deus na mais profunda
gratidão. Se te sentires abatido, isso é sinal de orgulho que mostra o quanto acreditas nas tuas
forças. Deixa de te preocupar com o que as pessoas pensam. Sê humilde e nunca mais coisa
alguma te importunará. O Senhor ligou-me aqui, ao lugar onde estou; é Ele quem me
desligará de onde estou.
Pregador do Papa: Deus só pode ser alcançado com «salto» da fé
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 5 de outubro de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, ofmcap., pregador da Casa Pontifícia, sobre a liturgia do próximo
domingo, XXVII do tempo comum.
***
XXVII Domingo do tempo comum [C]
Habacuc 1, 2-3; 2, 2-4; 2 Timóteo 1, 6-8.13-14; Lucas 17, 5-10
Aumenta nossa fé
O Evangelho de hoje se abre com a petição dos apóstolos a Jesus: «Aumenta a nossa fé!». Ao
invés de satisfazer seu desejo, Jesus parece querer aumentá-lo. Diz: «Se tivésseis fé como um
grão de mostarda...». A fé é, sem dúvida, o tema dominante deste domingo. Na primeira
leitura se ouve a célebre afirmação de Habacuc, retomada por São Paulo na Carta aos
Romanos: «O justo viverá por sua fé». Também a aclamação ao Evangelho está em sintonia
com este tema: «O que conseguiu a vitória sobre o mundo é nossa fé» (1 João 5, 4).
A fé tem diferentes matizes de significado. Agora eu gostaria de refletir sobre a fé em sua
acepção mais comum e elementar: crer ou não em Deus. Não a fé segundo a qual se decide se
se é católico ou protestante, cristão ou muçulmano, mas a fé segundo a qual se decide se se é
crente ou não-crente, crente ou ateu. Um texto da Escritura diz: «Quem se aproxima de Deus
deve crer que Ele existe e que recompensa os que o buscam» (Hebreus 11, 6). Este é o
primeiro degrau da fé, sem o qual não há outros.
Para falar da fé em um nível tão universal, não podemos basear-nos só na Bíblia, porque esta
teria valor somente para nós, os cristãos, e, em parte, para os judeus, mas não para os demais.
Por sorte, Deus escreveu dois «livros»: um é a Bíblia, o outro é a criação. Um está formado
por letras e palavras, o outro por coisas. Nem todos conhecem, ou podem ler, o livro da
Escritura, mas todos, desde qualquer latitude e cultura, podem ler o livro da criação. À noite
talvez melhor, inclusive, que de dia. «Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento
anuncia a obra de suas mãos. (...) Por toda a terra se espalha o seu ruído, e até os confins do
mundo a sua voz» (Salmo 19). Paulo afirma: «Desde a criação do mundo, as perfeições
invisíveis de Deus se tornaram visíveis à inteligência, por suas obras » (Romanos 1, 20).
É urgente dissipar o difundido equívoco segundo o qual a ciência já liquidou o problema e
explicou exaustivamente o mundo, sem necessidade de recorrer à idéia de um ser fora dele
chamado Deus. Em certo sentido, atualmente a ciência nos aproxima mais da fé em um
criador que no passado. Tomemos a famosa teoria que explica a origem do universo com o
«Big Bang» ou a grande explosão inicial. Em um milésimo de segundo, passa-se de uma
situação na qual não existe ainda nada, nem espaço nem tempo, a uma situação na qual
começou o tempo, existe o espaço e, em uma partícula infinitésima de matéria, existe já, em
potência, todo o sucessivo universo de bilhões de galáxias, como o conhecemos hoje.
Alguns dizem: «Não tem sentido propor-se a questão do que havia antes daquele instante,
porque não existe um ‘antes’ quando ainda não existe o tempo». Mas eu digo: como não se
propor esse questionamento? «Remontar-se à história do cosmos – afirma-se também – é
como folhear as páginas de um imenso livro, partindo do final. Chegando ao princípio,
percebe-se que é como se faltasse a primeira página». Acho que precisamente sobre esta
primeira página que falta, a revelação bíblica tem algo a dizer. Não se pode pedir à ciência
que se pronuncie sobre este «antes» que está fora do tempo, mas ela não deveria tampouco
fechar o círculo, dando a entender que tudo está resolvido.
Não se pretende «demonstrar» a existência de Deus, no sentido que damos comumente a esta
palavra. Aqui embaixo vemos como em um espelho e em um enigma, diz São Paulo. Quando
um raio de sol entra em um quarto, o que se vê não é a própria luz, mas a dança do pó que
recebe e revela a luz. Assim é Deus: não o vemos diretamente, mas como em um reflexo, na
dança das coisas. Isso explica por que Deus só pode ser alcançado com o «salto» da fé.
[Tradução realizada por Zenit]
Evangelho segundo S. Lucas 17,7-10.
«Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, quando ele regressar do
campo: 'Vem cá depressa e senta-te à mesa'? Não lhe dirá antes: 'Prepara-me o jantar e cingete para me servires, enquanto eu como e bebo; depois, comerás e beberás tu'? Deve estar grato
ao servo por ter feito o que lhe mandou? Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que
vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.'»
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja
Sobre o Evangelho de S. Lucas 8, 31-32
Somos uns servidores inúteis
Que ninguém se vanglorie do que faz, pois que é em simples justiça que devemos o nosso
serviço ao Senhor... Enquanto vivermos, devemos sempre trabalhar para o nosso Senhor.
Reconhece pois que és um servidor preso a um grande número de serviços. Não te envaideças
de ser chamado « filho de Deus» (1Jo, 3,1): reconheçamos esta graça, mas não esqueçamos a
nossa natureza. Não te gabes se serviste bem, pois fizeste o que devias fazer. O sol
desempenha o seu papel, a lua obedece, os anjos fazem o seu serviço. S. Paulo, « o
instrumento escolhido pelo Senhor para os pagãos» (Act, 9, 15), escreve: « Eu não mereço o
nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus» (Co 15,9). E se algures ele mostra que
não tem consciência de nenhuma falta, acrescenta, de seguida: «Mas nem por isso estou
justificado» (1Co, 4,4). Nós também, não pretendamos ser louvados por nós próprios, não
antecipemos o julgamento de Deus.
S. Patrício (c. 385 - c.461), monge missionário, bispo
Confissão, 12-14
"Somos servos inúteis"
Eu, que, de início, não era mais do que um fugitivo frustre e sem instrução e que "não sei
prever o futuro" (Qo 4,13 Vulg), sei, no entanto, uma coisa com toda a certeza: é que, "antes
de ser humilhado" (Sl 118,67), eu era como uma pedra que jazia numa lama profunda. Mas
Ele veio, "aquele que é poderoso" (Lc 1,49) e agarrou em mim na sua misericórdia; ergueume verdadeiramente bem alto e colocou-me em cima do muro. Por isso, eu tenho de elevar a
voz com toda a força, a fim de devolver qualquer coisa ao Senhor em troca dos seus
benefícios, tanto aqui em baixo como pela eternidade, benefícios tão grandes que o espírito
dos homens não pode enumerar.
Ficai, pois, em admiração, "grandes e pequenos que temeis a Deus" (Ap 19,5); e vós, senhores
e bem-falantes, escutai e examinai com atenção. Quem foi que me ergueu, a mim, o insensato,
de entre os que passam por sábios, peritos da lei, "poderosos em palavras" (Lc 24,19) e em
todas as outras coisas? Quem foi que me inspirou, mais do que aos outros, a mim, o rebotalho
deste mundo, a fim de que "no temor e no respeito" (He 12,28)... eu faça lealmente bem aos
povos a quem o amor de Cristo me conduziu e me entregou para, se for digno disso, os servir
toda a minha vida com humildade e verdade?
É por isso que, "segundo a medida da minha fé" (Rm 12,6) na Trindade, eu tenho de
reconhecer e... proclamar o dom de Deus e a sua "eterna consolação" (2Tes 2,16). Tenho que
espalhar sem temor mas com confiança o nome de Deus por toda a parte para que, mesmo
após a minha morte, eu deixe uma herança aos meus irmãos e aos meus filhos, a tantos
milhares de homens que baptizei no Senhor.
São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo
Escritos
“Servos inúteis”
Existem muitos graus de humildade. Há quem seja obediente e se censure a si mesmo em
todas as coisas; isso é humildade. Há também quem se arrependa dos seus pecados e se
considere um miserável diante de Deus; e também isso é humildade. Outra, porém, é a
humildade de quem conheceu o Senhor pelo Espírito Santo: o seu conhecimento e os seus
gostos são diferentes.
Quando a alma compreende, no Espírito Santo, como o Senhor é manso e humilde, humilhase a si mesma até ao fim. Esta humildade é bem peculiar, e impossível de descrever. Se os
homens quisessem saber, por meio do Espírito Santo, que Senhor é o nosso, mudariam por
completo: os ricos desprezariam as suas riquezas; os sábios, a sua ciência; os governantes, o
poder e o prestígio de que dispõem. Todos viveriam numa paz profunda e cheia de amor e
reinaria na terra uma grande alegria.
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
Um caminho simples
«Somos uns sevidores quaisquer»
Não vos canseis a procurar a causa dos grandes problemas da humanidade; contentai-vos em
fazer o que puderdes fazer para os resolver levando a vossa ajuda àqueles que necessitam
dela. Alguns dizem-me que fazendo a caridade aos outros retiramos aos estados as suas
responsabilidades para com os necessitados e os pobres. Eu não me preocupo nada com isso
porque não é amor aquilo que os Estados geralmente oferecem. Faço simplesmente tudo
aquilo que posso fazer, o resto não é da minha conta.
Deus foi tão bom para connosco! Trabalhar no amor é sempre um meio de nos aproximarmos
dEle. Olhai o que Cristo fez durante a Sua vida na terra! Passou-a a fazer o bem (act 10, 38).
Lembro às minhas irmãs que Ele passou os três anos da Sua vida pública a tratar dos doentes,
dos leprosos, das crianças e de outros. É exactamente aquilo que nós fazemos quando
pregamos o Evangelho através das nossas acções.
Consideramos que servir os outros é um privilégio e tentamos fazê-lo a cada instante com
todo o nosso coração. Sabemos bem que a nossa acção não é mais do que uma gota de água
no oceano, mas, sem a nossa acção, faltaria essa gota.
Evangelho segundo S. Lucas 17,11-19.
Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia. Ao entrar
numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, gritaram,
dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos
aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. Um deles, vendo-se
curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; caiu aos pés de Jesus com a face em terra e
agradeceu-lhe. Era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que
ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a
Deus, senão este estrangeiro?» E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.»
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermões diversos, n.º 27
«Os outros nove, onde estão?»
Vemos, hoje em dia, muitas pessoas que rezam, mas, afinal, não as vemos a voltar atrás para
dar graças a Deus [...] «Não foram os dez curados? Onde estão pois os outros nove?» Estais a
lembrar-vos, penso eu, que foi nestes termos que o Salvador se lamentou acerca da ingratidão
dos outros nove leprosos. Podemos ler que eles sabiam «rezar, suplicar e pedir», pois tinham
levantado a voz para exclamar: «Jesus, Filho de David, tende piedade de nós». Mas faltoulhes uma quarta coisa que o apóstolo Paulo reclama: «a acção de graças» (1Tm2,1), porque
não voltaram para dar graças a Deus.
Nos nossos dias é ainda frequente ver um considerável número de pessoas pedir a Deus com
insistência o que lhes falta, mas são em pequeno número as que parecem ficar reconhecidas
com os dons recebidos. Não há mal em pedir com insistência, mas o que faz que Deus não nos
atenda é considerar que nos falta gratidão. Afinal, talvez seja até um acto de clemência da sua
parte recusar aos ingratos o que estes pedem, para que não venham a ser julgados com rigor
por causa da sua ingratidão [...]. É pois por misericórdia que Deus retém por vezes a sua
misericórdia [...]
Vede portanto como todos os que estão curados da lepra do mundo, quero dizer, das
desordens evidentes, não aproveitam a sua cura. Alguns, com efeito, foram atingidos por uma
chaga bem pior do que a lepra, tanto mais perigosa por ser uma chaga mais interior. É por isso
com razão que o Senhor do mundo pergunta onde estão os outros nove leprosos, porque os
pecadores se afastam da salvação. É por isso que, depois de o primeiro homem ter pecado,
Deus lhe perguntou: «Onde estás?» (Gn 3,9).
Vida de S. Francisco de Assis dita «Compilation de Pérouse» (c. 1311)
§43
«Dar glória a Deus»
Dois anos antes da sua morte, o bem-aventurado Francisco estava já muito doente,
sofrendo especialmente dos olhos... Esteve mais de cinquenta dias sem poder suportar durante
o dia a luz do sol, nem durante a noite a claridade do lume. Ficava sempre na obscuridade do
interior da casa, na sua cela... Uma noite, como reflectisse acerca das tribulações que sofria,
teve pena de si mesmo e disse: « Senhor, socorre-me nas minhas enfermidades, para que eu
tenha a força de as suportar pacientemente!». E, de repente, ouviu em espírito uma voz: «Dizme, irmão: se, como compensação dos teus sofrimentos e tribulações, te dessem um imenso e
precioso tesouro... não te alegrarias?... Compraz-te e vive na alegria no meio das tuas
enfermidades e tribulações: a partir de agora vive em paz como se participasses já do meu
Reino».
No dia seguinte disse aos seus companheiros...: «Deus deu-me uma tal graça e bênção que, na
sua misericórdia, se dignou assegurar-me, a mim, seu indigno servo vivendo ainda aqui em
baixo, que participasse do seu Reino. Assim, para sua glória, para minha consolação e
edificação do próximo, quero compor um novo «louvor ao Senhor» pelas suas criaturas.
Todos o dias estas atendem às nossas necessidades, sem elas não poderíamos viver, e por elas
o género humano ofende muito o Criador. Todos os dias também ignoramos um tão grande
bem, não louvando como deveríamos o Criador e Dispensador de todos este dons»...
A esses «Louvores do Senhor», que começam por: «Altíssimo, todo poderoso e bom Senhor»,
chamou-lhes «Cântico do irmão Sol». Com efeito, essa é a mais bela das criaturas, a que
podemos, mais que qualquer outra, comparar a Deus. E ele dizia: «Ao nascer do Sol todo o
homem deveria louvar a Deus por ter criado esse astro que durante o dia dá aos olhos a sua
luz; à tardinha, quando cai a noite, todo o homem deveria louvar a Deus por esta outra
criatura, o nosso irmão fogo que, nas trevas, permite que os nossos olhos vejam claro. Somos
todos como cegos, e é por estas duas criaturas que Deus nos dá a luz. Por isso, por estas
criaturas e pelas outras que nos servem diariamente, devemos louvar muito particularmente o
seu glorioso Criador.»
Bento XVI: cura completa e radical é a «salvação»
Intervenção durante o Ângelus
CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 15 de outubro de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos
a intervenção que Bento XVI pronunciou ontem, ao rezar a oração mariana do Ângelus.
***
Queridos irmãos e irmãs:
O Evangelho deste domingo apresenta Jesus curando dez leprosos, dos quais só um,
samaritano e, portanto, estrangeiro, volta para agradecer-lhe (cf. Lucas 17, 11-19). O Senhor
lhe diz: «Levanta-te e vai; tua fé te salvou» (Lucas 17, 19).
Esta passagem evangélica nos convida a uma reflexão dupla. Antes de tudo, faz pensar em
dois níveis de cura: um mais superficial, que afeta o corpo; e outro, mais profundo, no íntimo
da pessoa, no que a Bíblia chama o «coração», e daí se irradia a toda a existência. A cura
completa e radical é a «salvação». A mesma linguagem comum, ao fazer a distinção entre
«saudação» e «salvação», nos ajuda a compreender que a salvação é muito mais que a saúde:
é, de fato, uma vida nova, plena, definitiva. Também aqui, Jesus, como em outras
circunstâncias, pronuncia a expressão: «tua fé te salvou». A fé salva o homem,
restabelecendo-lhe em sua relação profunda com Deus, consigo mesmo e com os demais; e a
fé se expressa com o reconhecimento. Quem, como o samaritano curado, sabe agradecer,
demonstra que não considera tudo como algo que lhe é devido, mas como um dom que, ainda
que chegue através dos homens ou da natureza, em última instância provém de Deus. A fé
comporta, então, a abertura do homem à graça do Senhor, reconhecer que tudo é dom, tudo é
graça. Que tesouro se esconde em uma pequena palavra: «obrigado»!
Jesus cura dez enfermos de lepra, enfermidade que então era considerada como uma
«impureza contagiosa», que exigia um rito de purificação (cf. Levítico 14, 1-37). Na verdade,
a lepra que realmente desfigura o homem e a sociedade é o pecado. O orgulho e o egoísmo
geram no espírito indiferença, ódio e violência. Só Deus, que é Amor, pode curar esta lepra do
espírito, que desfigura o rosto da humanidade. Ao abrir o coração para Deus, a pessoa que se
converte é curada interiormente do mal.
«Convertei-vos e crede no Evangelho» (cf. Marcos 1, 15). Jesus fez este convite no início de
sua vida pública, e ele continua ressoando na Igreja, até o ponto de que inclusive a Virgem
Santíssima em suas aparições, especialmente nos últimos tempos, sempre renovou este
chamado.
Hoje pensamos em particular em Fátima, onde, precisamente há 90 anos, de 13 de maio a 13
de outubro de 1917, Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos: Lúcia, Jacinta e Francisco.
Graças à conexão televisiva, quero fazer-me espiritualmente presente nesse Santuário
mariano, onde o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, presidiu em meu nome as
celebrações conclusivas de um aniversário tão significativo.
Eu o saúdo cordialmente, assim como os demais cardeais, os bispos presentes, os sacerdotes
que trabalham no santuário e os peregrinos vindos de todas as partes do mundo por este
motivo. Pedimos a Nossa Senhora o dom de uma conversão de todos os cristãos, para que se
anuncie e testemunhe com coerência e fidelidade a perene mensagem evangélica, que indica à
humanidade o caminho da autêntica paz.
© Copyright 2007 – Libreria Editrice Vaticana
Pregador do Papa: para que servem os milagres?
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 12 de outubro de 2007 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, ofmcap., pregador da Casa Pontifícia, sobre a liturgia do próximo
domingo, XXVIII do Tempo Comum.
***
XXVIII Domingo do Tempo Comum [C]
2 Reis 5,14-17; 2 Timóteo 2, 8-15; Lucas 17, 11-19
Para que servem os milagres?
Enquanto Jesus estava em caminho para Jerusalém, ao entrar em uma aldeia, vieram-lhe ao
encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: «Jesus, Mestre, tem
compaixão de nós!». Jesus se apiedou deles e lhes disse: «Ide, mostrai-vos ao sacerdote».
Durante o caminho, os dez leprosos ficaram milagrosamente curados. A primeira leitura
também fala de uma cura milagrosa da lepra: a de Naamã, o sírio, por obra do profeta Eliseu.
É clara, portanto, a intenção da liturgia de convidar-nos a refletir sobre o sentido do milagre e
em particular do milagre que consiste na cura da doença.
Digamos antes de tudo, que a prerrogativa de fazer milagres é contada entre as mais
testemunhadas na vida de Jesus. Provavelmente, a idéia dominante que as pessoas tinham de
Jesus, durante sua vida, além da que ele fosse um profeta, era a de ser alguém que fazia
milagres. O próprio Jesus apresenta este fato como prova d autenticidade messiânica de sua
missão: «Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os
mortos ressuscitam» (Mateus 11, 5). Não se pode eliminar o milagre da vida de Jesus sem
desfazer toda a trama do Evangelho.
Junto aos relatos de milagres, a Escritura nos oferece também os critérios para julgar sua
autenticidade e seu objetivo. O milagre nunca é, na Bíblia, um fim em si mesmo; menos ainda
deve servir para exaltar quem o realiza e exibir seus poderes extraordinários, como quase
sempre acontece no caso de curandeiros e taumaturgos que fazem propaganda de si mesmos.
É incentivo e prêmio da fé. É um sinal e deve servir para elevar a um significado. Por isso
Jesus se mostra tão entristecido quando, depois de ter multiplicado os pães, percebe que não
entenderam do que isso era um sinal (cf. Marcos 6, 51).
O milagre aparece, no próprio Evangelho, como ambíguo. Algumas vezes é visto
positivamente, em outras, negativamente. Positivamente, quando é acolhido com gratidão e
alegria; suscita a fé em Cristo e abre à esperança em um mundo futuro já sem doenças nem
morte. Negativamente, quando é solicitado, ou inclusive exigido para acreditar. «Que sinal
fazes para que, vendo-o, acreditemos em ti?» (João 6, 30). «Se não virdes sinais e prodígios,
não credes», dizia Jesus com tristeza àqueles que o escutavam (João 4, 48). A ambigüidade
continua, sob outra forma, no mundo de hoje. Por um lado, estão aqueles que buscam o
milagre a todo custo; estão sempre à caça de fatos extraordinários, detêm-se neles e em sua
utilidade imediata. No lado oposto, estão aqueles que não admitem nenhum milagre;
contemplam-no até com certo incômodo, como se se tratasse de uma manifestação inferior de
religiosidade, sem perceber que, dessa forma, se pretende ensinar ao próprio Deus o que é ou
não a verdadeira religiosidade.
Alguns debates recentes suscitados pelo «fenômeno Padre Pio» evidenciaram quanta confusão
ainda existe com relação ao milagre. Não é verdade, por exemplo, que a Igreja considere
milagre todo fato inexplicável (disso, sabemos, o mundo está cheio, e a Medicina também!).
Ela considera como milagre somente aquele fato inexplicável que, pelas circunstâncias em
que ocorre (rigorosamente comprovadas), reveste o caráter de sinal divino, isto é, de
confirmação dada a uma pessoa ou de resposta a uma oração. Se uma mulher que nasceu sem
pupilas, em um determinado momento começa a ver, ainda sem pupilas, isso pode ser
catalogado como fato inexplicável, mas se isso acontece precisamente enquanto ela se
confessa com o Pe. Pio, como de fato ocorreu, então já não basta falar simplesmente de «fato
inexplicável».
Nossos amigos «leigos», com sua atitude crítica ante os milagres, oferecem uma contribuição
belíssima à própria fé, porque se mostram atentos às falsificações fáceis neste campo. No
entanto, também eles devem ser contemplados desde uma aproximação acrítica. É igualmente
errado acreditar a priori em tudo o que circula como milagroso, como rejeitar tudo a priori,
sem se preocupar sequer por examinar suas provas. É possível ser crédulos, mas também...
incrédulos, que não é (uma atitude) tão diferente.
[Tradução realizada por Zenit.]
Odes de Salomão (texto cristão hebraico do início do século II)
N°2
"Lançou-se aos pés de Jesus, com a face em terra, e agradeceu-lhe"
Cristo está perto de mim: adiro a ele e ele abraça-me. Eu não teria sabido amar o Senhor se
ele mesmo não me tivesse amado primeiro. Quem pode compreender o amor, senão aquele
que ama? Eu abraço o amado e a minha alma acolhe-o e, lá onde ele repousa, aí eu me quedo.
Não serei mais um estrangeiro para ele porque não há ódio no Senhor. Estou ligado a ele
como a amante que encontrou o amado.
Porque amo o Filho, tornar-me-ei filho. Sim ,eu adiro àquele que não morre, que não morrerá.
Aquele que se compraz na Vida, permanecerá também ele vivo. É assim que, sem falsidade, o
Espírito do Senhor ensina os homens a conhecerem os seus caminhos.
S. Bruno de Segni (cerca de 1045-1123), bispo
Comentário sobre o Evangelho de Lucas
Purificados da lepra do pecado
"Enquanto iam a caminho, ficaram purificados." É preciso que os pecadores escutem esta
palavra e se esforcem para a compreender. É fácil ao Senhor perdoar os pecados. Muitas
vezes, com efeito, o pecador fica perdoado mesmo antes de vir ao encontro do sacerdote. Na
realidade, ele é curado no mesmo instante em que se arrepende. Isto é, seja qual for o
momento em que se converte, ele passa da morte à vida... Que ele se recorde, contudo, de que
conversão se trata. Que ele escute o que diz o Senhor: "Regressai a mim de todo o vosso
coração, no jejum, nas lágrimas e no luto! Rasgai os vossos corações e não os vossos fatos"
(Jl 2,12). Toda a conversão deve pois operar-se no coração, lá dentro.
"Um deles, vendo-se curado, voltou sobre os seus passos, glorificando a Deus em voz alta."
Na realidade, este homem representa todos os que foram purificados na água do baptismo ou
curados pelo sacramento da penitência. Não seguem o demónio mas imitam a Cristo,
caminham atrás d'Ele glorificando-o e dando-lhe graças e não abandonam o seu serviço...
"Jesus disse-lhe: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou." Grande é, pois, o poder da fé porque,
"sem ela, segundo a palavra do apóstolo, é impossível ser agradável a Deus" (He 11,6).
"Abraão acreditou em Deus e, por isso, Deus justificou-o" (Ro 4,3). É, pois, a fé que salva, a
fé que justifica, a fé que cura o homem na sua alma e no seu corpo.
S. Cláudio la Colombière (1641-1682), jesuita
Retiro de 1674, quarta semana (Escritos Espirituais)
"Lançou-se aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe"
Ao meditar sobre o amor de Deus, fiquei muito tocado perante os bens que dele recebi desde
o primeiro instante da minha vida até agora. Quanta bondade! Que cuidado! Que providência,
tanto para o corpo como para a alma! Quanta paciência! Quanto doçura!... Deus fez-me
penetrar, julgo, e depois ver claramente esta verdade: primeiro, que Ele está em todas as
criaturas; segundo, que Ele é tudo o que nelas há de bom; terceiro, que nos faz todo o bem que
delas recebemos. E pareceu-me ver este rei de glória e de majestade aplicado a aquecer-nos
com a nossa roupa, a refrescar-nos com o ar, a alimentar-nos com a carne, a alegrar-nos com
os sons e com os objectos agradáveis, a produzir em mim os movimentos necessários para
viver e para agir. Que maravilha!
Quem sou eu, ó meu Deus, para ser assim servido por Vós, em todo o tempo, com tanta
assiduidade e em todas as coisas, com tanto cuidado e tanto amor?! E Ele age igualmente em
todas as outras criaturas; mas tudo isso para mim, como um intendente zeloso e vigilante que,
em todos os lugares do reino, faz que trabalhem para o seu rei. O que é mais admirável é que
Deus faz isso para com todos os homens, embora quase ninguém pense nisso, excepto
algumas almas eleitas, algumas almas santas. Que ao menos eu pense nisso, que eu seja
agradecido.
Imagino que, uma vez que Deus tem a sua glória como finalidade última de todas as suas
obras, Ele faz todas estas coisas principalmente por amor dos que pensam nisso e nisso
admiram a sua bondade, que por isso lhe estão gratos, que aproveitam tal ocasião para o
amarem; os outros recebem os mesmos bens, como por acaso e por sorte... Deus concede-nos
incessantemente o ser, a vida, as acções de tudo o que há de criado no universo. Eis a sua
ocupação na natureza; a nossa deve ser receber sem cessar o que Ele nos envia por todos os
lados e retribuir-lho com acções de graças, louvando-o e reconhecendo que Ele é o autor de
todas as coisas. Prometi a Deus que o farei tanto quanto puder.
S. Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos Irmãos Menores
Primeira regra,23
«Voltar para dar graças a Deus»
Ó omnipotente, santíssimo, altíssimo e soberano Deus
Pai santo e justo, Senhor e Rei do céu e da terra,
nós Te damos graças por Ti mesmo
porque pela Tua santa vontade,
e pelo Teu Filho único com o Espírito Santo,
criaste todas as coisas, espirituais e corporais.
Fizeste-nos à Tua imagem e semelhança,
colocaste-nos no paraíso;
e nós caímos por nossa culpa.
Damos-te graças porque,
assim como nos criaste pelo Teu Filho
assim, pelo santo amor com que nos amaste.
fizeste nascer o Teu Filho, verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
da gloriosa Virgem Santa Maria,
e, pela Sua cruz, pelo Seu sangue, pela Sua morte,
quiseste remir-nos do nosso cativeiro.
E damos-te graças porque esse mesmo Filho
Virá de novo, na glória da Sua majestade,
Para lançar no fogo eterno os malditos
Que recusaram converter-se e reconhecer-te
E para dizer a todos aqueles que Te tiverem reconhecido,
adorado e servido na penitência:« Vinde, benditos de me u Pai, recebei o
reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo.» (Mt
Evangelho segundo S. Lucas 17,20-25. – cf.par. cf. Mt 24,23-27.37-41
Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: «O
Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: 'Ei-lo aqui' ou 'Ei-lo
ali', pois o Reino de Deus está entre vós.» Depois, disse aos discípulos: «Tempo virá em que
desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. Vão dizer-vos: 'Ei-lo ali', ou
então: 'Ei-lo aqui.' Não queirais ir lá nem os sigais. Porque, como o relâmpago, ao faiscar,
brilha de um extremo ao outro do céu, assim será o Filho do Homem no seu dia. Mas,
primeiramente, Ele tem de sofrer muito e ser rejeitado por esta geração.”
Orígenes (cerca de 185 - 253), presbítero e teólogo
Tratado sobre a oração
"O Reino de Deus está no meio de nós e dentro de nós"
Tal como disse o nosso Senhor e Salvador: "O Reino de Deus vem sem que se possa notar.
Não se dirá: 'Ei-lo, está aqui' ou 'Está ali'. Porque o Reino de Deus está dentro de vós". Com
efeito, "está bem perto de nós, essa Palavra, está na nossa boca e no nosso coração" (Dt
30,14). Sendo assim, é evidente que aquele que reza para que venha o Reino de Deus tem
razão em pedir que esse reino de Deus germine, dê fruto e se realize dentro de si próprio. Em
todos os santos em quem Deus reina e que obedecem às suas leis espirituais, ele habita como
que numa cidade bem organizada. O Pai está presente nele e Cristo reina com o Pai nessa
alma perfeita, tal como Ele mesmo disse: "Viremos a ele e faremos nele a nossa morada" (Jo
14,23).
Uma vez que estamos sempre a progredir, o Reino de Deus que está em nós atingirá a sua
perfeição quando a palavra do apóstolo Paulo se cumprir: Cristo, "depois de ter submetido"
todos os seus inimigos, "deporá o seu poder real nas mãos de Deus Pai, para que Deus seja
tudo em todos" (1Co 15,28). É por isso que, rezando sem desanimar, com disposições
divinizadas pelo Vebo, nós dizemos: "Pai nosso que estás nos céus, que o teu nome seja
santificado, que o teu Reino venha" (Mt 6,9).
Imitação de Jesus Cristo, tratado espiritual do século XV
II, cap. 1, 1-2
«No meio de vós e dentro de vós»
«O Reino de Deus está dentro de vós», diz o Senhor (Lc 17, 21). Volta-te para Deus de todo o
coração, esquece este mundo, e a tua alma encontrará descanso. Aprende a dedicar-te, antes
de mais, às coisas interiores, e verás como vem a ti o Reino de Deus, Porque «o Reino de
Deus é paz e gozo no Espírito Santo» (Rm 14, 17).
Esta alegria não se dá aos que não crêem. Se Lhe preparares digna morada em teu coração,
Cristo virá a ti e te fará sentir a sua consolação. «Toda a sua glória e formosura estão no
interior» (Sl 44, 14), e é aí onde Ele Se compraz em habitar. Deus visita com frequência o
homem interior, conversa com ele, oferece-lhe uma grande paz e trata-o com uma
familiaridade indizível. Eia, alma fiel, prepara o teu coração para que Ele se digne vir habitálo! Porque Ele mesmo disse: «Se alguém Me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o
amará, e viremos a ele e nele estabeleceremos a nossa morada» (Jo 14, 23).
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico
«O reino de Deus está no meio de vós»
É especialmente o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações, nele encontro tudo o
que é necessário à minha pobre alma. Nele encontro sempre novas luzes, sentidos escondidos
e misteriosos…
Compreendo e sei por experiência que “o Reino de Deus está dentro de nós”. Jesus não
precisa de livros nem de doutrinas para instruir as almas, ele que é o Doutor dos doutores
ensina sem o barulho das palavras. Nunca o ouvi falar mas sinto que ele está em mim; em
cada instante, ele guia-me, inspira-me o que devo dizer ou fazer. Descubro, precisamente no
momento em que necessito, luzes que ainda nunca tinha visto; e não é particularmente durante
as minhas orações que essas luzes me são dadas, é antes no meio das ocupações do meu dia.
Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo actual "Gaudium et spes", § 38
"O Reino de Deus está no meio de vós
O Verbo de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas, fazendo-se homem e vivendo na
terra dos homens, entrou como homem perfeito na história do mundo, assumindo-a e
recapitulando-a. Ele revela-nos que «Deus é amor» (1Jo 4, 8) e ensina-nos ao mesmo tempo
que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o novo
mandamento do amor... Suportando a morte por todos nós pecadores, ensina-nos com o seu
exemplo que também devemos levar a cruz que a carne e o mundo fazem pesar sobre os
ombros daqueles que buscam a paz e a justiça.
Constituído Senhor pela sua ressurreição, Cristo, a quem foi dado todo o poder no céu e na
terra (Mt 28,18), actua já pela força do Espírito Santo nos corações dos homens; não suscita
neles apenas o desejo da vida futura, mas, por isso mesmo, anima, purifica e fortalece também
aquelas generosas aspirações que levam a humanidade a tentar tornar a vida mais humana e a
submeter para esse fim toda a terra. Sem dúvida, os dons do Espírito são diversos: enquanto
chama alguns a darem claro testemunho do desejo da pátria celeste e a conservarem-no vivo
no seio da família humana, chama outros a dedicarem-se ao serviço terreno dos homens,
preparando com esta sua actividade como que a matéria do reino dos céus. Liberta, porém, a
todos, para que, deixando o amor próprio e empregando em favor da vida humana todas as
energias terrenas, se lancem para o futuro, em que a humanidade se tornará oblação agradável
a Deus.
*
*
*
«Faz frutificar em nós, Senhor, a Eucaristia que nos reuniu: é por ela que Tu formas,
desde agora, através da vida deste mundo, o amor com que eternamente te amaremos.»
(Missal romano: oração depois da comunhão, 1º domingo do Advento)
«Cristo Rei» manifesta plano amoroso de Deus, diz arcebispo
Dom Odilo Scherer recorda solenidade que encerra ano litúrgico, este domingo
SÃO PAULO, quinta-feira, 22 de novembro de 2007 (ZENIT.org).- Ao recordar a festividade
que marca o encerramento do ano litúrgico, o domingo de Cristo Rei, o arcebispo de São
Paulo destaca que esse título dado a Jesus «fala do desígnio de Deus criador e salvador para a
existência humana: um plano amoroso, que dá sentido ao nosso existir».
Segundo explica Dom Odilo Scherer, em mensagem aos fiéis difundida pela CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) esta quinta-feira, a Solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Rei do Universo, como é denominada, «nos faz pensar no significado da
existência deste mundo, da vida humana e do nosso peregrinar pela história».
«Mais que especular sobre o significado político do título de rei, dado a Cristo, os textos da
liturgia, belíssimos e ricos de significado, apontam para o desígnio de Deus sobre o presente e
o futuro da humanidade e deste mundo», afirma.
De acordo com o arcebispo de São Paulo, através do seu ato criador, Deus revela sua glória
em cada criatura e chama os seres humanos a participarem livremente da vida no seu “reino”.
«Ainda mais, no Mistério da Encarnação do Filho eterno em nossa condição de criaturas,
Deus manifesta de maneira clara sua proximidade em relação ao mundo e aos homens.»
«Jesus anuncia o reino de Deus “chegando” e “já presente” no mundo, como sendo a grande e
boa notícia que deve ser acolhida com alegria; e convida todos a aderirem ao reino de Deus e
a entrarem nele, desde agora», escreve.
Dom Odilo Scherer afirma que toda a vida de Jesus, assim como sua pregação e sua atividade,
foi um testemunho de que, com Ele, o reino de Deus de fato já estava presente entre os
homens.
«Os males eram superados, os demônios, vencidos, os pobres, os doentes, os pecadores e
todos os privados de sua dignidade eram “salvos”, a vida e a dignidade eram restituídas e
todos estavam sendo chamados ao encontro com Deus.»
O arcebispo destaca ainda que Jesus também convidou à conversão. «O reino de Deus requer
vida nova e a superação das maneiras de ser, de pensar e de se comportar que não coadunam
com o modo de vida e com a lei do reino de Deus.»
O reino da morte precisa dar lugar ao reino da vida – afirma o prelado. «E cada pessoa é
convidada a colaborar livremente e com a ação constante para adequar o “reino dos homens”
ao reino de Deus», escreve.
Segundo explica Dom Odilo Scherer, «o título de “Cristo Rei” dado a Jesus fala, portanto, do
desígnio de Deus criador e salvador para a existência humana: um plano amoroso, que dá
sentido ao nosso existir».
«E todos os cidadãos do reino de Deus, beneficiados pela salvação, são chamados a serem
discípulos e missionários de Cristo Rei, para que todos possam acolher a Boa Notícia e
transformar suas vidas e as estruturas da convivência humana de acordo com a proposta do
reino de Deus», afirma o arcebispo.
Evangelho segundo S. Lucas 17,26-37.
Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também nos dias do Filho do Homem:
comiam, bebiam, os homens casavam-se e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia
em que Noé entrou na Arca e veio o dilúvio, que os fez perecer a todos. O mesmo sucedeu
nos dias de Lot: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, construíam; mas, no dia
em que Lot saiu de Sodoma, Deus fez cair do céu uma chuva de fogo e enxofre, que os matou
a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se revelar. Nesse dia, quem estiver no
terraço e tiver as suas coisas em casa não desça para as tirar; e, do mesmo modo, quem estiver
no campo não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar salvar a vida, há-de
perdê-la; e quem a perder, há-de conservá-la. Digo-vos que, nessa noite, estarão dois numa
cama: um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas a moer: uma será
tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo: um será tomado e o outro será
deixado.» Tomando a palavra, os discípulos disseram-lhe: «Senhor, onde sucederá isso?»
Respondeu-lhes: «Onde estiver o corpo, lá se juntarão também os abutres.»
Orígenes (c. 185-253), padre e teólogo
Homilias sobre o Génesis, II, 3
A arca da Igreja
Tanto quanto mo permite a pequenez do meu espírito, penso que o dilúvio, com o qual o
mundo quase acabou, é o símbolo do fim do mundo, fim que um dia chegará
verdadeiramente. Tal declarou-o o próprio Senhor, quando disse : «Nos dias de Noé, os
homens compravam, vendiam, lutavam, casavam, davam as filhas em casamento, e veio o
dilúvio e a todos fez perecer. Assim será igualmente com a vinda do Filho do homem». Neste
texto, parece que o Senhor descreve de uma mesma e só maneira o dilúvio, já acontecido, e o
fim do mundo, que anuncia para o futuro.
Foi, portanto, dito outrora a Noé que fizesse uma arca e que, nesta, com ele introduzisse não
só os seus filhos e parentes mas também animais de todas as espécies. Da mesma forma, no
fim dos tempos, foi dito pelo Pai ao Senhor Jesus Cristo, novo Noé, o único Justo e Íntegro
(Gn 6,9), para fazer uma arca de madeira esquadriada com as exactas medidas dos mistérios
divinos (cf. Gn 6,15). Isto vem indicado num salmo que diz : «Pede e dar-te-ei as nações
como herança e os confins da terra como propriedade» (Sl 2,8). Ele construiu portanto uma
arca com todas os tipos de abrigo para acolher os diversos animais. Um certo profeta fala-nos
dessas moradas, escrevendo : «Eia, povo meu, entra nos teus aposentos, esconde-te por algum
tempo, até que a cólera tenha passado» (Is 26,20). Há de facto uma misteriosa
correspondência entre este povo que está salvo na Igreja e todos aqueles seres, homens e
animais, que, dentro da arca, foram salvos do dilúvio.
São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém, doutor da Igreja
Catequese baptismal 15, 1-3
As duas vindas de Cristo
Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a sua primeira vinda, mas também uma segunda,
bem mais gloriosa. Com efeito, a primeira foi marcada pelo signo da paciência, enquanto a
outra trará o diadema da realeza divina. Aquando da primeira vinda, Ele foi enfaixado e
deitado na manjedoura; aquando da segunda, será “envolvido em luz como num manto” (Sl
103, 2). Aquando da primeira, suportou a cruz e desprezou a vergonha; aquando da segunda,
avançará para a glória escoltado por um exército de anjos.
Não nos basta já apoiarmo-nos na primeira vinda; continuamos à espera da segunda. E, depois
de termos dito, aquando da primeira, “Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor!”
(Mt 21, 9), voltaremos a dizer-lho aquando da segunda, quando viermos, com os anjos, ao
encontro do Senhor para O adorar. O Salvador virá, não para ser novamente julgado, mas para
julgar aqueles que julgaram. Ele tinha vindo realizar a salvação e ensinar os homens através
da persuasão; nesse dia, porém, tudo sub meterá à Sua realeza.
São Gregório de Nissa (cerca de 335-395), monge e bispo
Homilia 11 sobre o Cântico dos Cânticos
«Comiam, bebiam, compravam, vendiam»
O Senhor fez grandes recomendações aos seus discípulos para que o seu espírito sacudisse
como se fosse pó tudo o que é terrestre na natureza e se elevasse assim ao anseio pelas
realidades sobrenaturais; de acordo com uma destas recomendações, aqueles que se viram
para a vida do alto devem ser mais fortes do que o sono e manter sempre o seu espírito
vigilante… Falo daquele adormecimento suscitado nos quês estão mergulhados na mentira da
vida por esses sonhos ilusórios que são as honras, as riquezas, o poder, a fascinação dos
prazeres, a ambição, a sede do gozo, a vaidade e tudo o que a imaginação leva os homens
superficiais a procurar insensatamente. Todas essas coisas se esgotam com a natureza efémera
do tempo; são do domínio do parecer…; mal pareceu que existiam, logo desaparecem à
maneira das ondas do mar…
É para que o nosso espírito seja liberto dessas ilusões que o Verbo nos convida a sacudir dos
olhos das nossas almas esse sono profundo, a fim de que não deslizemos para longe das
realidades verdadeiras, ligando-nos ao que não tem consistência. É por isso que nos propõe a
vigilância, dizendo-nos: “Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12.35). Porque a
luz, ao brilhar diante dos olhos, expulsa o sono e os rins apertados com o cinto impedem o
corpo de a ele sucumbir… Aquele que está cingido com a temperança vive na luz de uma
consciência pura; a confiança filial ilumina a sua vida como uma lâmpada… Se vivermos
assim, entraremos numa vida semelhante à dos anjos.
São Romano, o Melodista (? – c.560), compositor de hinos
Hino de Noé
«Deus espera a nossa conversão»
Quando contemplo a ameaça suspensa sobre os culpados, no tempo de Noé, tremo, eu que
também sou culpado de pecados abomináveis [...] Aos homens de então, ameaçou o Criador
primeiro, porque esperava o tempo da sua conversão. Para nós também haverá a hora final,
que desconhecemos, e que até aos anjos foi escondida (Mt 24,36). Nesse último dia, Cristo, o
Senhor de antes dos séculos, virá, cavalgando nas nuvens, para julgar a Terra, como viu
Daniel (7,13). Antes de esta hora cair sobre nós, supliquemos a Cristo, pedindo-lhe: «Salva da
tua cólera todos os homens, pelo amor que nos tens, ó Redentor do Universo» [...]
O Amigo dos homens, vendo a maldade que então reinava, disse a Noé: «O fim de toda a
humanidade chegou diante de mim, pois ela encheu a Terra de violência. Vou exterminá-la
juntamente com a Terra» (Gn 6,13); «só a ti reconheci como justo nesta geração» (Gn 7,1).
Constrói uma arca de madeiras resinosas [...] como uma matriz, ela carregará as sementes das
espécies futuras. Fá-la-ás como uma casa, à imagem da Igreja [...] Nela te guardarei, a ti, que
me rezas com fé: «Salva da tua cólera todos os homens, pelo amor que nos tens, ó Redentor
do universo!»»
Com inteligência, o eleito cumpriu a sua obra [...], e pedia com fé aos homens sem fé:
«Depressa! Saí do pecado, rejeitai a maldade, arrependei-vos! Lavai a mácula das vossas
almas, conciliai pela fé o poder do nosso Deus [...].» Mas os filhos da rebelião não se
converteram. À perversidade, acrescentaram ainda a dureza. Então Noé implorou a Deus, com
lágrimas: «Fizeste que eu nascesse do seio da minha mãe; salva-me ainda dentro desta arca de
socorro. Porque vou fechar-me nesta espécie de sepultura, mas quando me chamares, dela
sairei pela tua força! Nela, vou prefigurar desde agora a ressurreição de todos os homens,
quando salvares os justos do fogo, como a mim me salvas das ondas do mal arrancando-me do
meio dos ímpios, eu que te rezo com fé, a Ti, o compassivo Juiz: «Salva da tua cólera todos os
homens, pelo amor que nos tens, ó Redentor do universo!»»
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Evangelho segundo S. Lucas 17,1-6. – cf.par. cf. Mt 18,6-7.15