Aceite que você
é amado
por Deus
Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o
nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que
viria a travar o passo para uma humanização real.
José Saramago1
Ouvir a Deus. Alguns diriam que há ousadia, presunção e
perigo nesse pensamento. Mas e se tivermos sido criados
exatamente para isso? E se o sistema que é o ser humano
não conseguir funcionar adequadamente sem ouvir a
Deus?
Dallas Willard2
O admirável filósofo Jean-Paul Sartre, o homem que
melhor entendeu o ser humano em meados do século 20,
escreveu, desesperado:
1 SARAMAGO, José. O fator Deus. Disponível em <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2001/09/7316.shtml>.
2 WILLARD, Dallas. Ouvindo Deus. Rio de Janeiro: Textus, 2002, p. 9.
Sete passos e meio para a felicidade
O que é o homem, para que o elétron se preocupe com
ele? O homem é apenas um grão no cosmos, abandonado
pelas forças que o criaram. Desassistido, desgovernado pela
autoridade onisciente ou benevolente, precisa defender-se
sozinho, e com ajuda de sua inteligência limitada encontrar
seu caminho num universo indiferente.3
O poeta da Bíblia canta, ao contrário, esperançoso:
SENHOR, SENHOR nosso, como é majestoso o teu nome em toda a
terra!
Tu, cuja glória é cantada nos céus.
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
e a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto:
“Que é o homem, para que com ele te importes?
E o filho do homem, para que com ele te preocupes?
Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais
e o coroaste de glória e de honra.
Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos;
sob os seus pés tudo puseste".
SENHOR, SENHOR nosso, como é majestoso o teu nome em toda a
terra!
Salmos 8.1,3-6,9
Sartre não está sozinho. Infelizmente com ele estão os
muitos que não creem, como o também filósofo Bertrand
3 A conferência "Existencialismo é um humanismo" (várias edições) foi proferida
em 1945. Parte dela é comentada por CLARK, Kelly James. (Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 174), que cita também os pensamentos
de Bertrand Russell (p. 173) e Jacques Ellus (p. 50).
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Aceite que você é amado por Deus
Russel, que igualmente prefere crer no acaso da criação e no
acaso da história, convencido que a origem do homem, “seu
crescimento, suas esperanças e temores e crenças, nada mais
são do que o resultado da disposição acidental de átomos”.
O poeta bíblico também não está sozinho. Felizmente
estão com ele todos aqueles que reconhecem, pela fé, que
“o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”
(Hebreus 11.3). Quem crê assim canta: “Digno és, Senhor
nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder;
porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram
e foram criadas” (Apocalipse 4.11).
Não crer é uma escolha, a escolha de ficar sozinho, como
um amontoado de átomos, como ontem diziam alguns filósofos, ou como um conjunto de genes, como hoje indicam
os biólogos. Crer é uma escolha, a escolha de que Deus existe, nos criou, nos amou, demonstrando-o ao vir morar entre
nós, por meio de Jesus Cristo, e ainda nos ama, mantendo
permanentemente aberta a via de acesso a ele.
Jesus inaugurou uma nova era, na qual homens e mulheres podem crer que podem ter acesso especial a Deus.
Por meio da fé em Jesus, homens e mulheres podem ver
a chegada do Reino de Deus à terra no passado e podem
esperar a completude deste Reino no futuro. Quem faz esta
escolha, a escolha da fé, experimenta alto nível de felicidade e confiança (Harvie Ferguson).4
É esta escolha, a escolha por Deus, que nos abre o acesso ao sentido da vida. O escritor Albert Camus concluiu
seu magnífico ensaio “O mito de Sísifo” com uma pergunta:
4 Harvie Ferguson é citado em McCLORY, Robert. History of happiness. Disponível
em <www.uscatholic.org/2000/09/cov0009.htm>.
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Sete passos e meio para a felicidade
“Concluo que o sentido da vida é a mais urgente das perguntas. Como responder a ela?”. Para ele, crer em Deus, e
derivar dessa fé o sentido para vida, era absurdo. Diferentemente desta postura de “contumaz orgulho ou insanável
desespero”, o absurdo não é crer. O absurdo, o vazio, o semsentido é não crer nele.5
A vida tem um sentido, que é voltarmos, por meio da
fé, para casa, para Deus, de onde nos afastamos. “A fé é um
vislumbre, um momento de discernimento quando vemos
nossa casa futura e nos comprometemos a completar a jornada antes do pôr do sol” (Kelly James Clark).6
O verbo que abre o sentido da vida é um só: crer. E
crer não é uma concordância de natureza racional, porque
envolve toda a personalidade. “A fé é uma substância terrivelmente cáustica, um ácido que queima. Ela testa cada
elemento de minha vida e da sociedade; não poupa nada.
Leva-me a questionar inelutavelmente todas as minhas
certezas, minha moralidade, minhas crenças e diretrizes.
Proíbe-me de dar uma importância máxima a qualquer
expressão da atividade humana. (...) A fé não deixa nada
intacto. Se a minha fé não é da mesma espécie que a de
Abraão, não é nada” (Jacques Ellul).
O itinerário para a fé
É por isto que a fé não é para todos, frase que exige uma
explicação: nem todos escolhem ter fé, embora Deus tenha
escolhido a todos para crerem nele.
5 Um bom ensaio sobre a obra de Albert Camus aparece em BORGES, José Ferreira. O absurdo em Albert Camus; uma leitura de O Mito de Sísifo. Disponível em
<http://zonanon.com/letras/ensai_2.html>.
6 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 63.
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Aceite que você é amado por Deus
1. Tem fé quem ousa duvidar de suas certezas
Quando olho para um agnóstico ou para um ateu, tenho
o maior respeito. Por ocasião da divulgação do Censo 2000,
os jornais contaram a história de uma família em que todos
são ateus. Inicialmente, eles não tiveram a coragem de assumir sua falta de fé e se afirmavam luteranos. Na esteira do
crescente agnosticismo, inclusive no Brasil, eles saíram do
armário da incredulidade e assumiram que não creem que
Deus existe.
Eu respeito, mas fico admirado: Como podem ter tanta
certeza? Eu uso a palavra “certeza” de propósito, porque ela
indica crença. Em outras palavras, penso no ateísmo ou no
agnosticismo como um tipo de fé. Para não crer de modo
tão radical, uma pessoa precisa crer... Para não crer, uma pessoa tem de ignorar uma multidão de evidências contrárias.
Não dá para não crer a não ser crendo. É o credo do não,
mas é um credo.
O descrente pode chegar à fé a partir do instante em que
começar a duvidar da sua certeza. Este passo demanda coragem. Muitos preferem esconder-se atrás do comodismo de
não duvidar de suas próprias verdades. Muitos temem abrir-se para Deus, com vergonha de verem a obviedade do seu
amor. Muitos temem correr em direção a Deus, com preguiça de pesquisarem em honestidade de propósito. Estão satisfeitos com as suas verdades, e não querem outras, mesmo
que entre elas haja uma – a transcendência se tornou imanência, vivendo entre nós e deixando-se matar na cruz, tão
somente por amor –, que pode trazer sentido a uma história
universal e a uma trajetória pessoal sem sentido.
Ouse duvidar.
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Sete passos e meio para a felicidade
2. Tem fé quem tem a coragem de ser humilde
A quem não tem fé, sugiro que olhe para os que creem
não como servos da irracionalidade, mas como humildes
buscadores da verdade, como você, com a diferença de que
eles escolheram crer, enquanto você optou por não crer.
Quem crê merece respeito.
O humilde é aquele que faz todas as perguntas. O arrogante é aquele que tem todas as respostas. O humilde olha
para a amplidão do amor e do firmamento e se pergunta:
Quem fez tudo isto? O arrogante responde: Ninguém; foi
tudo obra do acaso. O humilde olha a perfeição do corpo
humano e se pergunta: Quem organizou tudo isto? O arrogante responde: Ninguém; tudo resultou de um longo processo de coincidências sem nenhum propósito definido. O
humilde olha para a profundeza da alma humana e se pergunta: Quem criou este mistério? O arrogante responde: A
alma é uma autoinvenção humana.
Quem está mais perto da verdade: quem responde ou
quem pergunta? Certamente, é quem pergunta, é quem se
admira, é quem se encanta, como o poeta da Bíblia:
Os céus declaram a glória de Deus,
e o firmamento proclama as obras das suas mãos.
Um dia fala disso a outro dia,
e uma noite o revela a outra noite.
Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz.
Mas a sua voz ressoa por toda a terra,
e as suas palavras, até os confins do mundo.
Salmo 19.1-4a
A fé está para os humildes como a incredulidade está para
os arrogantes. Entre a incredulidade e a fé, prefiro a que
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Aceite que você é amado por Deus
traz felicidade: a fé, que é: “o ser, ao ser ele mesmo e desejar
ser ele mesmo, descansa transparentemente em Deus”.
Sören A. Kierkegaard7
3. Tem fé quem se livra de tudo (ou de qualquer coisa)
que o afasta de Deus
A razão não é o único inimigo da fé. “A fé em Deus custa tudo: tempo e bens, relações e engajamentos, nosso eu
secreto, nossa vida mesmo. Mas o que Deus tira com a mão
esquerda, devolve com a mão direita. Ganhamos paz, paciência, bondade, descanso para nossa alma e felicidade eterna” (Kelly James Clark).8 Jesus tanto sabia disso que, por
seis vezes, os evangelhos repetem um de seus pensamentos
fundamentais:
Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por
amor de mim achá-la-á.
Mateus 10.39
Quem quiser salvar a sua vida por amor de mim perdê-la-á; mas
quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.
Mateus 16.25
Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua
vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á.
Marcos 8.35
Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua
vida por amor de mim, esse a salvará.
Lucas 9.24
7 O conceito de fé, de Kierkegaard, está em HOUSTON, James. Mentoria cristã. Rio
de Janeiro: Textus, 2003, p. 110.
8 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001,
p. 48.
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Sete passos e meio para a felicidade
Qualquer que procurar preservar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer
que a perder, conservá-la-á.
Lucas 17.33
Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a
sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
João 12.25 (ARA)
Este é o paradoxo da fé. É por isso que a fé é uma escolha
radical. Para experimentar a paz, para obter paciência, para
fruir bondade, para alcançar descanso, para receber felicidade,
é preciso renunciar a toda e qualquer coisa que nos afasta de
quem (Deus) nos pode oferecer isto que buscamos. Só ganha
a vida quem se dispõe a perdê-la. Crendo naquele que perdeu
a sua vida por nós, é que ganhamos a vida que ele nos dá.
4. Tem fé quem reconhece que é amado por Deus
Creia que ele sacrificou por você seu único filho. “Devemos crer como Abraão. O teste de crença para nós é como
o teste de fé de Abraão.” Para sermos cristãos, não precisamos matar nosso único filho, mas precisamos acreditar “que
Deus sacrificou seu filho único” (Kelly James Clark).9
Diante dos traumas da rejeição humana, felicidade é saber-se aceito e querido por Deus. Mesmo que seu pai tenha
rejeitado você, Deus o aceita e quer você de volta na sua
casa. Mesmo que seu pai ou avô ou tio tenha abusado (sexualmente, fisicamente, moralmente) de você, Deus ama você
e quer a sua companhia respeitosa. Mesmo que seus pais
não tenham feito outra coisa senão criticar você, Deus sabe
9 CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de Janeiro: Textus, 2001,
p. 59.
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Aceite que você é amado por Deus
o valor que você tem e ele quer dizer isto para você. José do
Egito se sabia amado por Deus, mesmo rejeitado por seus
irmãos, mesmo achando ter sido abandonado por seu pai.
Deixe Deus amar você.
5. Tem fé quem sabe que é especial para Deus
Deixe o apóstolo Paulo lhe falar: “Pois quantas forem as
promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’. Por
isso, por meio dele, o ‘Amém’ é pronunciado por nós para a
glória de Deus. Ora, é Deus que faz que nós e vocês permaneçamos firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos selou como sua
propriedade e pôs o seu Espírito em nossos corações como
garantia do que está por vir” (2Coríntios 1.20-22).
Este texto narra uma conspiração, uma conspiração divina a nosso favor. Estamos diante de uma afirmativa de fé
que pode ser resumida em duas palavras: “Somos especiais”.
O autor escreve aos coríntios, cristãos como nós. Eles eram
especiais para Deus. Nós somos especiais para Deus.
Analise agora que diz o psiquiatra norte-americano Gerald
May (1940-2005): “Sei que Deus é amoroso e o seu amor é
confiável. Sei disso pela via direta, por meio da experiência da
minha vida. Houve inúmeras vezes em que duvidei, principalmente quando eu achava que a bondade de Deus significava
que eu não seria atingido por coisas ruins. Mas tendo passado
por sofrimento um número razoável de vezes, hoje sei que a
bondade de Deus é algo muito mais profundo do que sofrimento e prazer – ela inclui as duas coisas”. 10
Dos grandes homens que conheci, um deles, o pastor
Xavier (Manoel Xavier dos Santos Filhos, pastor da Igreja
10 Citado por MANNING, Brennan. Confiança cega. São Paulo: Mundo Cristão,
2009, p. 33.
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Sete passos e meio para a felicidade
Batista Memorial da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro),
foi levado por um câncer, mas nem por isto suas últimas
palavras não foram diferentes das proferidas ao longo de sua
vida: Deus é bom.
Precisamos da bondade de Deus. Por isto, alguns de nós
fazemos qualquer negócio para receber esta bondade sobre
a nossa vida familiar, sobre a nossa saúde física e mental, sobre a nossa vida profissional. Parte da experiência religiosa,
em muitos credos, tem como objetivo garantir esta bondade.
Neste caso, religião é algo debaixo (do homem) para cima
(em direção a Deus).
Neste caso, então, religião tem a ver com resultado. Quem
dá mais? É para lá que eu vou.
Há uma igreja onde a bênção acontece. Vou para lá.
Há uma comunidade em que o pastor ora com poder.
Vou para lá.
Precisamos entender as palavras “ungidos”, “selados” e
“garantidos” do apóstolo Paulo.
Ungidos – A palavra “unção” tem quatro sentidos no Novo
Testamento.
1. Um sentido é o uso do óleo derramado sobre o corpo ou parte do corpo para fins de cura. Somos informados que os discípulos de Jesus “expulsavam
muitos demônios e ungiam muitos doentes com
óleo, e os curavam” (Marcos 6.13). Tiago recomenda que as orações dos enfermos sejam acompanhadas com óleo (Tiago 5.14), indicando que a fé não
precisa abrir mão da medicina.
24
Aceite que você é amado por Deus
2. Outro sentido indica a honra dada a uma pessoa.
Foi o caso da mulher que “se colocou atrás de
Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe
os pés com suas lágrimas. Depois os enxugou com
seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume”
(Lucas 7.38).
3. Era comum ao tempo de Jesus que os corpos mortos fossem perfumados como parte de seu preparo para o sepultamento. Neste sentido, lemos:
“Quando terminou o sábado, Maria Madalena,
Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram especiarias aromáticas para ungir o corpo de Jesus”
(Marcos 16.1).
4. Destas práticas, temos a que venceu o tempo, por
seu caráter simbólico. Ungir significa separar uma
pessoa para uma missão específica no Reino de
Deus. Jesus aplica a si mesmo o verbo “ungir”, usado também no Antigo Testamento, para a consagração de reis, profetas e sacerdotes. Disse ele na
sinagoga em Nazaré: “O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas
novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar
liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos” (Lucas 4.18).
Quando diz que Deus nos ungiu, Paulo incorpora todos estes significados. Primeiramente, Deus nos curou dos
nossos pecados, pela morte de Jesus na cruz, como escreve
Pedro: Jesus “mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os
25
Sete passos e meio para a felicidade
pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês
foram curados” (1Pedro 2.24).
Mais ainda, Deus nos olha como filhos amados, destila
óleo sobre nossa cabeça, óleo de honra e óleo que nos perfuma, de modo que possamos ser vistos e cheirados, por causa
da fragrância de Cristo (2Coríntios 2.14).
Somos, então, especiais também porque a unção de Deus
significa que ele tem expectativas em relação a nós. O ungido é aquele que tem uma missão. Somos especiais para Deus
porque ele nos deixa uma missão: como ele quer que a graça
alcance o mundo, quer que sejamos os anunciadores, pela
voz e pela vida, desta graça.
Selados – A imagem é pastoril: um animal é selado com
ferro quente sobre a pele para indicar quem é o seu dono ou
a que pasto pertence. Desta imagem limitada, desenvolvem-se outras para indicar um relacionamento.
Essa unção divina sobre nós estabeleceu um novo de relacionamento bem pessoal. O Senhor deixa de ser percebido
como um Deus cósmico e genérico, para ser recebido como
um Deus pessoal e específico. Deixamos de ser pessoas anônimas para sermos pessoas com nome e sobrenome, nome e
sobrenome que Deus profere como quem entoa uma canção.
É por isto que Pedro nos escreve: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de
Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9).
Já sabíamos disto, porque o poeta dos salmos canta que
Deus “é o nosso Deus, e nós somos o povo do seu pastoreio,
o rebanho que ele conduz” (Salmo 95.7a). Por essa razão ele
nos convida: “Reconheçam que o SENHOR é o nosso Deus.
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Aceite que você é amado por Deus
Ele nos fez e somos dele: somos o seu povo, e rebanho do
seu pastoreio” (Salmo 100.3).
Paulo diz que, quando ouvimos e cremos na palavra
da verdade, vale dizer, o evangelho que nos salvou, os fomos selados em Cristo “com o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Fomos selados para o dia da redenção
(Efésios 4.30).
Entretanto – lembra o apóstolo em outro lugar – o firme
fundamento de Deus permanece inabalável e selado com
esta inscrição: “O Senhor conhece quem lhe pertence” e
“Afaste-se da iniquidade todo aquele que confessa o nome
do Senhor” (2Timóteo 2.19).
Há confiança neste relacionamento, mas há responsabilidade também, responsabilidade decorrente da gratidão e do
senso de dever. Somos selados para a comunhão com Deus.
Somos selados para viver de acordo com a confissão que
fazemos de que Jesus é o nosso Senhor.
Garantidos – Não creio que tenhamos anjos da guarda,
mas a Bíblia nos garante que o Espírito Santo habita em nós
(2Timóteo 1.14). Presente em nós, ele nos guarda o coração
e a mente (Filipenses 4.7). Deus nos fortalece e nos guarda
do Maligno (2Tessalonicenses 3.3).
Na verdade, “foi Deus que nos preparou para esse propósito, dando-nos o Espírito como garantia do que está por
vir” (2Coríntios 5.5).
Em que “por vir” (futuro) estamos garantidos?
Recebemos a promessa de que nada de ruim (assalto,
desemprego, doença e morte) nos acontecerá? Não, porque
não somos tirados do mundo. Aqui é a nossa casa, casa sujeita a ataques.
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Sete passos e meio para a felicidade
Recebemos a promessa de que, na corrida da vida, correremos na frente de ponta a ponta e chegaremos em primeiro? Não, mas que em nossa corrida cruzaremos a linha final,
onde o pódio nos espera.
Recebemos a promessa de que, quando chegar a nossa
vez, o sistema de saúde ou o sistema de justiça funcionarão,
e seremos atendidos rápidos e bem no hospital e a nossa
causa será julgada com justiça e celeridade? Não. Estamos
sujeitos às mesmas crueldades e injustiças, com uma diferença: nosso futuro está garantido. Pode parecer que perdemos,
porém somos mais que vitoriosos, não nas coisas humanas,
mas em Cristo Jesus (Romanos 8.37).
Quando olho para meus problemas, meus ouvidos se detêm no testemunho do apóstolo Paulo: “Sei em quem tenho
crido e estou bem certo de que ele é poderoso para guardar
o que lhe confiei até aquele dia” (2Timóteo 1.12).
A dinâ mica da fé
Felicidade tem a ver com fé, mas fé viva.
Há muitos cristãos (ou seriam ex-cristãos, mesmo que
dentro de igrejas?) que mantêm a fé, mas a fé da letra, não
a fé do Espírito. São aqueles que não vivem mais segundo
a Palavra, mas segundo suas próprias palavras. Estão neste
grupo os que não vivem os valores morais de Cristo, mas
também os que conservam esses valores, porém sem a vitalidade da vida em Cristo. Sua fé não traz felicidade, porque é
experiência morta. Ela não lhe faz diferença no dia a dia. Se
estas pessoas estão bem de vida, não erguem altares, como
Abraão, ao Senhor, em reconhecimento de que foi ele quem
o fez. Se vão mal na vida, não conseguem tirar força para dar
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Aceite que você é amado por Deus
a volta por cima, para ter de volta a alegria de viver. É a fé
dinâmica que mantém acesa a chama da alegria da vida.
Se a sua fé não torna você feliz, há algo errado, e não
é com Deus; é com você e com a sua fé, porque Deus não
muda. “Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos
os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniquidade;
justo e reto é ele” (Deuteronômio 32.4).
Faça uma revisão na sua vida e chame Deus de novo para
o centro da sua emoção, da sua razão, da sua visão do mundo, dos seus projetos.
Feliz é quem é guiado pelo Espírito Santo de Deus.
Há muito cristãos que deixaram escravizar de novo, ou
pelo pecado da desobediência ou pelo pecado do medo, da
tristeza, da amargura, da intolerância, da falta de sentido. Segundo o apóstolo Paulo (Romanos 8.14-16), há muitos cristãos infelizes porque se esqueceram de que "todos os que são
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus". Eles estão
esquecidos que não receberam o espírito de escravidão, para
viverem, outra vez, atemorizados. O sacrifício de Cristo na
cruz nos tornou filhos de Deus. Este espírito de adoção nos
leva a chamar a Deus de “Pai”. Se o evento da cruz nos parece um pouco distante, o Espírito Santo mesmo, quando
permitimos que reine em nossa vida, nos recorda, segundo a
segundo, que somos filhos de Deus.
Passos para uma fé bíblica
Se você crê, acaba de ler um resumo do ensino bíblico
sobre a fé.
Se você não crê, recordo-lhe que a Bíblia não apoia a fé
cega e superficial.
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Sete passos e meio para a felicidade
O que é crer, então? A partir de Isaías 6.10b (“Que eles
não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, e não
entendam com o coração, para que não se convertam e sejam curados”), podemos trazer à mente os passos de uma fé
bíblica.
1. Crer é ver com os olhos
Precisamos perceber a nossa necessidade de saúde, família, dinheiro e amigos, e a possibilidade de enfrentar a
depressão, o fracasso, a vergonha, a culpa e o vazio. Não
podemos controlar as circunstâncias e as pessoas e, pior, não
podemos contentar nem a nós mesmos. Somos capazes de
fazer coisas que nos envergonham e de agir de um modo que
não queremos.
2. Crer é ouvir com os ouvidos
Precisamos sentir que há um Deus que é amoroso, sábio e
poderoso. Ele não apenas nos dá tudo aquilo de que necessitamos; ele é tudo aquilo de que necessitamos. Esta compreensão
fica clara se ouvimos aquilo que a Bíblia diz acerca de Deus.
3. Crer é entender com o coração
Precisamos entender que há uma evidência que confirma
que a Bíblia vem de Deus, é verdadeira e confiável. Não é
apenas o registro humano de acontecimentos, ideias e esperanças, mas a Palavra da verdade absoluta. A ciência nos
dá verdades relativas, alteráveis com mais conhecimento. A
Bíblia nos dá a verdade absoluta, no sentido de que nela está
tudo aquilo de que precisamos para sermos salvos.
30
Aceite que você é amado por Deus
4. Crer é decidir por uma vida com Deus
Precisamos arrepender-nos de uma vida sem Deus e nos
comprometer de modo pleno com ele.
Quem tem fé sabe que Deus está aperfeiçoando, para terminar um dia, o trabalho que começou na grande história,
por meio da vida-morte-ressurreição de Jesus, e na pequena
história de cada um de nós, por meio do Seu Espírito (Filipenses 1.6).
Esta é a fé que faz diferença: aquela que nos leva a ter certeza de que, sendo filhos de Deus, somos também herdeiros:
herdeiros do Pai e co-herdeiros com Cristo (Romanos 8.17).
Aceitar-se amado por Deus é um passo primordial. Sem
ele, os outros não poderão ser dados. Ou melhor: quando
ele não é dado, os outros são esforços inúteis. Dá-lo implica uma escolha, escolha que tem a ver com o seu lugar no
mundo e na história. Você pode ficar com a palavra de um
grande filósofo, mas pode ficar também com a Palavra do
próprio Deus.
É ao Deus que é poderoso para confirmar,
no coração que se oferece para acreditar,
a verdade que edifica o novo a partir do velho
e transforma o mundo pela força do Evangelho.
É ao Deus que é único para agora revelar
o mistério de Cristo que nos veio outorgar
para que deixássemos de ver como num espelho
a clara plenitude do seu eterno conselho.
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Sete passos e meio para a felicidade
É ao Deus que é sábio para ensinar e proclamar
à comunidade dos marcados para amar
que Jesus Cristo é a razão de ser da história.
É a este Deus, Senhor poderoso, único e sábio,
que, movido pela fé e pleno de prazer, meu lábio
canta, em nome do Filho, hoje e sempre, toda a glória.
(Doxologia da gratidão – Romanos 16.25-27)
Para Continuar Caminhando
CLARK, Kelly James. Quando a fé não é suficiente. Rio de
Janeiro: Textus, 2001.
HOUSTON, James. Mentoria cristã. Rio de Janeiro:
Textus, 2003.
STOTT, John. Crer é também pensar. São Paulo: ABU,
1978.
32
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