Férvedes
Vilalba (Lugo)
Número 7
Año 2011
Pp.: 243 - 252
ISSN 1134-6787
MINERAÇÃO E METALURGIA DO FERRO EM TRÁS-OS-MONTES (NORTE
DE PORTUGAL) NA ÉPOCA ROMANA.
ROMAN IRON MINING EXPLOITATION AND METALLURGY IN TRÁS-OS-MONTES
(NORTH OF PORTUGAL).
Recibido: 03/06/2011
Aceptado: 13/06/2011
Francisco SANDE LEMOS
Universidade do Minho
[email protected]
Carla Maria BRAZ MARTINS1
CITCEM-Universidade do Minho
[email protected]
RESUMO
Nesta comunicação apresenta-se uma síntese dos conhecimentos sobre a mineração e a metalurgia do
Ferro no âmbito da implantação do Império Romano no Noroeste Peninsular, em Trás-os-Montes. Pretende-se
enquadrar o desenvolvimento da exploração mineira e tratamento do ferro na primeira metade do século I
d.C., num contexto em que se registou um crescimento exponencial da produção de utensílios destinados à
abertura da nova rede viária, novos programas urbanísticos (sede conventual e capitais de civitates) e no
aproveitamento intensivo de outros metais (ouro, prata, estanho). Analisam-se por um lado grandes áreas de
exploração de ferro, focando em particular o concelho de Torre de Moncorvo, e por outro alguns exemplos de
actividade localizada, relacionando sempre com o povoamento e rede viária.
ABSTRACT
In this paper we present a synthesis of the knowledge about the iron mining and metallurgy under the
Roman Empire in “Trás-os-Montes” (northwestern of Iberian Peninsula). The aim it’s to understand the development of mining and iron processing in the first half of the first century AD, in a context where there has
been an exponential growth in the production of artifacts used for opening new roads, new urban settlements
(capital of the conventus and civitates) and the intensive use of other metals (gold, silver, tin). It examines the
major areas of iron exploration, especially the Torre de Moncorvo Municipality, and other examples of this
activity, always in connection to the settlement and the road network.
Palavras-chave:
Keywords:
Romanização, exploração mineira, povoamento.
Roman time, mining exploitation, settlement.
1.- O impacte da mineração do ferro sob
domínio romano.
De um modo geral, a importância da mineração e do tratamento do ferro tem sido subavaliada
na bibliografia. Não nos surpreende, pois, que Alain Tranoy (1981) se tenha interrogado expressamente sob a presença de imigrantes na zona de Torre de Moncorvo, sem estabelecer a ligação com a
actividade mineira. Jorge Alarcão, pelo contrário,
admite que os Seurri oriundos da Callaecia, sepultados na zona da Carvalhosa, foram atraídos pelas
minas de ferro (1988), embora já tivesse conhecimento da descoberta de Vale de Ferreiros II, que
adiante será referida.
Existem dados relativos a esta metalurgia na
Idade do Ferro Tardia do Norte de Portugal, designadamente nas Citânias de Briteiros (Lemos, F.S.,
Cruz, G., 2007) e de Sanfins (Silva, A.C.F., 1986),
nos castros de S. Vicente da Chã (Montalegre)
(Fonte, J., et al., 2008) ou da Cigadonha (Torre de
Moncorvo) (Tavares, J.A., 1922; Santos Júnior,
J.R., 1929 e 1973; Silva, A.C.F., 1986; Lemos,
F.S., 1993).
A nova ordem social e económica introduzida
pelo Império Romano exigia quantidades substanciais de ferro, aplicadas no fabrico dos diversos utensílios indispensáveis em múltiplas actividades:
na mineração do ouro, prata, estanho e chumbo
(Martins, C.M.B, 2008); no arroteamento de matas,
provocado não somente pela reorganização do espaço económico e desenvolvimento da cultura cerealífera (colecção de peças da vila da Póvoa de
Lanhoso)(Carvalho, H.P., 2008) mas também pela
actividade mineira, pois as minas (de ouro, ferro,
chumbo, etc.) exigiam quantidades substanciais de
madeira, quer para travejamentos e equipamentos
diversos, quer para aquecimento da rocha, pre-
E. Ramil Rego & C. Fernández Rodríguez (Ed.): 2 Congreso Internacional de Arqueoloxía de Vilalba (Vilalba, 2011).
244
F. SANDE LEMOS - C.M. BRAZ MARTINS
Fig.: 1. Ocorrências minerais de ferro no Norte de Portugal.
parando o desmonte (Wahl, J., 1986, 1988, 1989 e
1993); na exploração adequada dos solos cerealíferos mais profundos (relha de arado do Arrabalde de
Gimonde) (Lemos, F.S., 1993; Redentor, A., 2002);
na abertura das novas vias que cruzavam as montanhas graníticas do Noroeste, como a VIA NOVA
(Lemos, F.S., et al., 2008); na construção das novas
cidades, como Bracara Augusta e sedes regionais
do conventus (Tude, Auria, Aquae Flaviae, Tongobriga, Cale); na edificação dos aglomerados urbanos mais pequenos como os vici; e mesmo na construção de estruturas simples e isoladas como a mutatio da milha XX da VIA NOVA (Lemos, F.S., et
al., 2008). Pode assim deduzir-se as enormes quantidades de picos, martelos, escopros, ponteiros, picaretas, etc., necessárias para todo esse processo de
mudança das paisagens urbanas e rurais. Basta verificar a forma como foi aberta a via que cruzava a
Serra do Gerês, com diversos tramos assente na rocha aplanada para o efeito, como demonstraram as
sondagens que efectuámos em 1977 e no ano de
1992 (Lemos, F.S., et al., 2008). Na mesma serra,
observam-se ainda as frentes de extracção de pedra,
abertas na rocha viva, para fabrico dos numerosos
miliários que sinalizam as milhas.
Existiam na área de influência de cada uma
das civitates mencionadas, tendo em conta a complexidade metalífera do Noroeste, a quantidade de
ferro necessário para prover às necessidades do
mercado? Algumas zonas podem ter sido autónomas devido aos jazigos disponíveis na sua área de
influência. Se nos jazigos secundários de ouro o
gasto de picos e cinzéis era significativo, maior ainda seria nas jazidas primárias do tipo da serra da
Padrela, da serra de Montesinho ou de Macedinho
(Lemos, F.S., 1993). Entendemos contudo que sobretudo terá havido uma exploração sistemática das
zonas onde a abundância do metal facilitava a sua
extracção em maiores quantidades e talvez a custos
inferiores, assegurando a exportação de lingotes para os locais mais carecidos, quer fossem outras áreas mineiras (auríferas, argentíferas e estaníferas)
quer zonas urbanas em pleno crescimento como terá sido Bracara Augusta no século I.
Neste trabalho apresentamos como exemplo a
área mineira da Serra do Reboredo, em Torre de
Moncorvo. Estes jazigos eram de tal modo extensos
que permitiam uma exploração intensiva, sem problemas de esgotamento e com uma fácil recolha do
minério. Jazidas com dimensão semelhante apenas
existiam na Cantábria, pelo que se pode admitir que
o ferro dos cabeços da Mua e da Car-valhosa e de
outros lugares da referida serra serviriam não só o
Conventus Asturicensis como também toda a área
dependente de Bracara Augusta (Fig.: 1).
Por certo, na zona, apenas se procedia ao tratamento das hematites, mediante repetidas operações,
dando assim origem aos extensos escoriais disseminados por toda a área. O produto final do processo seriam os lingotes rectangulares seme-lhantes
aos que foram achados em Vale de Ferreiros II
(Custódio, J.; Campos, N., 2002: 152 e 216). Tais
lingotes seriam distribuídos por ferrarias localiza-
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MINERAÇÃO E METALURGIA DO FERRO EM TRAS-OS-MONTES (NORTE DE PORTUGAL) NA ÉPOCA...
das em cidades, centros mineiros, vici e villae de
certa dimensão.
2.- A zona mineira da Serra do Reboredo.
A Serra de Reboredo, orientada de Sudoeste
para Nordeste, constitui um imponente relevo que
se destaca na paisagem da Terra Quente transmontana. A sua estrutura é constituída predominantemente por xistos, nos quais irrompem formações
quartzíticas que lentamente evoluem para hematites, de tal modo que os relevos do extremo Noroeste da serra, os cabeços da Carvalhosa e da Mua, são
inteiramente compostos por aquele mineral, formando-se assim uma das maiores jazidas da Europa
Ocidental (Custódio, J.; Campos, N., 2002: 54). No
entanto, as hematites deste jazigo, apesar de possuírem uma percentagem de ferro que varia entre 40%
e 50% são consideradas como pouco rentáveis, devido à significativa presença de sílica e elevada
percentagem de fósforo (Custódio, J.; Barros, G.M.,
1984: 29). Este problema, porém, não se colocava
na Antiguidade, pois que ainda não se tinha alcançado a possibilidade de fundir o ferro, processo
que vai apenas ser inventado na Idade Moderna,
graças aos altos fornos biscaínhos, nos quais se obtinha a elevada temperatura necessária para o efeito. Na Antiguidade, bem como na Idade Média, operava-se por redução do mineral, ou seja a passagem dum óxido (magnetite Fe3O4, ou hematite
Fe2O3) à forma metálica (Cavalheiro, J., 1989:
132). Se era necessário obter um ferro de melhor
qualidade realizavam-se sucessivas operações de
redução, ou forjamento (Cavalheiro, J., 1989: 132).
O processo de redução do ferro produzia abundantes escórias (Fig.: 2), cujo teor de ferro chegava a
ser de 50%. Aliás, os mantos de escórias (Fig.: 2)
são o primeiro indício da exploração uma vez que
os fornos eram feitos de materiais perecíveis.
O modelo de forno mais comum, deveria ter
um formato côncavo e circular, forrado por uma
camada de argila, no interior do qual seria colocado
em alternância o combustível e o minério, que posteriormente era coberto com argila (Martins,
C.M.B., 2008: 79), sem qualquer forma de escoamento da escória (Cavalheiro, J., 1989: 128).
Um estudo realizado por Pleiner (1997) a diferentes modelos de fornos europeus, permitiu agrupá-los em quatro categorias, uns com sangria de escória, outros não: fornos em fossa, escavados em
cova de terra ou rocha, nos quais é montada uma
chaminé cilíndrica; fornos com chaminé ver-tical
assentes em plano horizontal ou apenas com leve
depressão no solo; fornos subterrâneos, completamente escavados no solo, sem qualquer estrutura
saliente; e fornos de estrutura circular que poderão
estar ligeiramente escavados no solo, e em que a
cobertura é em cúpula. As tubeiras normalmente
são introduzidas em orifícios abertos para o efeito
ao nível da superfície do terreno.
Após várias utilizações, este tipo de estruturas é
destruído e/ou abandonado, tornando-se difícil a
detecção.
No entanto, no povoado romano de Aldeia
Nova / Olival dos Telhões, Almendra, Vila Nova de
Foz Côa, apareceu uma estrutura semi-circular,
consubstanciada em lajes de xisto, com um leito no
mesmo material, revestida a argila e coberta em
forma de cúpula por blocos de argamassa, associada a níveis de cinzas (Cosme, S.R.; Martins,
C.M.B., 2000: 217). Aqui poderia ter existido uma
pequena oficina de transformação do ferro, a avaliar pela quantidade de escórias e objectos em ferro
exumados, cuja matéria-prima poderia ser proveniente da região de Moncorvo (Cosme, S.R.; Martins,
C.M.B., 2000: 217).
O processo de extracção seria variável. Nos
cabeços da Mua e da Carvalhosa conhecem-se referências a galerias antigas, e ao achado de mate-riais
romanos, descobertos durante a grande fase de laboração desta jazida, que se desenvolveu a partir do
início dos anos cinquenta e que começou a declinar
a partir dos anos 60 no século XX.
No entanto, embora sem dispormos de dados
arqueológicos para tal, admitimos como mais provável que a mineração da época romana, e mesmo
nas épocas subsequentes, tenha explorado preferencialmente os depósitos de vertente, que se acumulam no sopé dos cabeços da Mua e da Carvalhosa. Estes depósitos, extensos, e com grande
espessura, formaram-se no Plistocénico, provavelmente durante a fase final do Würm, sendo constituídos por blocos de hematite, envolvidos numa
ganga argilo-arenosa, de cor avermelhada. A abertura de valas nestas formações era fácil, não exigindo técnicas especiais. Existem mesmo vertentes
mais escarpadas, em que os blocos de rocha com
minério se acumulam em grande quantidade, sem
ganga, podendo ser manualmente separados os que
possuem maior teor de minério. Este recurso a depósitos de vertente, mais ou menos argilosos ou pedregosos, já sugerido por outros autores (Custódio,
J.; Barros, G. M., 1984), não exclui a possibilidade
de terem sido desmontados afloramentos em que a
concentração de ferro era mais elevada, nem a hipótese de terem sido abertas galerias subterrâneas
para a lavra de filões especialmente ricos. A Ferrominas era proprietária de alguns picos de ferro, do
tipo utilizado nas minas romanas, que foram encontrados em antigas galerias descobertas no cabeço da
Mua, durante os trabalhos de mineração levados a
cabo nos anos 50 e 60 (século XX), material actualmente observável no Museu do Ferro e da Região
de Moncorvo.
Os dados actualmente disponíveis indicam
que houve dois grandes momentos na exploração
das jazidas de ferro de Moncorvo: na época romana
e na Baixa Idade Média. Anteriormente ao período
romano apenas referenciámos um único povoado da
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F. SANDE LEMOS
L
- C.M. BRAZ
B
MARTINS
S
Idade do Ferro, a Cigadonha de Carviçais,, relacionávvel com as jazzidas em caussa. Depois da Baixa
Idade Média, os ennsaios de exploração, desennvolvin século XVIIII (Ferraria da
d Chapa Cunnha) e
dos no
no sécculo XX (Ferrrominas), nãoo duraram maais que
décaddas, tendo fraacassado. A intensa explooração
romanna e medievall é testemunhhada pelos exttensos
escoriiais, como se referiu. Não há,
h ainda, umaa carta
exausstiva de todos os escoriais, cuja datação é por
certo variável. A lista publicada por Adriano Vasco
V
Rodriigues (Rodriggues, M.A.C.;; Rodrigues, A.V.,
1963)) está incomplleta, tal comoo outro mapa posterior (C
Custódio, J.; Barros,
B
G.M., 1984. Custóddio, J.;
Camppos, N., 2002)). Na verdade,, apesar do traabalho
já reaalizado, não dispomos
d
de uma
u
cartograffia sistemática dos escorriais, nem dass medidas dass suas
d respectivoss volumes. Saabe-se,
áreas ou cálculos dos
por exemplo,
e
que a Capela dee Santa Bárbaara de
Carviçais foi erguiida sobre um espesso monntículo
formaado por várioss metros de esscórias de ferrro. Sabe-se,, também, que as ruínas roomanas de Vale de
Ferreiiros II jaziam sob vários metros
m
de escorrial. O
estudoo dos escoriaiis que pretenddia incluir a análise
a
de teoores das escóriias (Quadro 1), tentado porr Jorge
Custóódio, ficou aquuém do que see poderia realizar.
Nível
Profundid
dade (cm)
Teor de Fe (%
%)
1
2
3
4
5
6
7
00
0-40
40
0-70
70--100
100
0-160
160
0-180
180
0-210
210
0-290
42.10
45.52
38.72
41.37
42.81
39.31
45.15
fe
de escórias de diferentes éppocas
Quadrro 1. Teores de ferro
de Valee de Ferreiros II (valores expostos no Museu doo Ferro
& da Região
R
de Moncoorvo).
J
Jorge
Custóddio (Custódio,, J.; Barros, G.M.,
1984)) pretende datar os escoriais, com base no
n teor
de feerro, da seguiinte maneira:: com teores entre
50% e 55% seriam
m da época roomana; entre 50%
5
e
40% seriam mais recentes
r
(Idadde Média); e os de
j da Idade ModerM
teoress inferiores a 40% seriam já
na. Essta interpretaçção cronológicca dos escoriaais, baseada exclusivamennte no parâmeetro teor de feerro, é
contraaditória com os resultados dos materiais provenienntes da menccionada Cigaddonha de Carvviçais,
cujas escórias apresentam uma percentagem
p
d ferde
mento de Jorgee Cusro de 45%. Na linhha de pen-sam
tódio,, redução do teor de ferro equivalente a uma
evolução tecnológica função da modernidade,, parece-nos pouco provável que tenhha havido um retroa
que ass escócesso. Julgamos maais prudente alvitrar
q oscilam enntre 45% e 55% se integraam na
rias que
épocaa romana. Estaariam pois neste
n
período os escoriaiis de S. Pedroo de Mós (51.12 %) e de Vale
V de
Ferreiiros I (49.32 %),
% por exempplo.
D
Dados
arqueeológicos inddirectos confiirmam
ue toda a zonaa envolvente ddo Cabeço da Mua, mas
qu
em
m especial as faixas Nortee e Oeste, soffreram um
in
ntenso aproveeitamento, com
m a qual se articulam
diiversos habitaats e um conjuunto de epígrrafes funeráárias, que reveelam a desloccação de imigrrantes oriun
ndos do litoraal. O ponto ccentral desta região
r
mineeira terá sido Vale
V de Ferreeiros II. Tend
do em contaa que este sítiio, malgrado a sua importâância, não
fo
oi até hoje maatéria de umaa publicação adequada,
mas
m apenas dee breves citaçções, ou notíccias sumárias, destinámoos alguns paráágrafos a defin
nir os seus
ontornos, paraa depois gizarrmos um quad
dro do que
co
su
upomos ter siddo a região miineira circundante.
Fiig.: 2. Vale de Ferreiros
F
II.
3..- Vale de Ferreiros
F
III.
Vale de Ferreiros
F
é um
ma depressão fluvial
f
(inteegrada na baccia do Sabor), ampla e de vertentes
ab
bertas, situadaa no altiplanoo, que se esttende para
no
orte do Cabeçço da Mua e da serra do Carvalhal,
C
en
ntre o Vale doo Sabor, a poeente, e a serra de Freixo,
a Leste. As cottas do fundo ddo Vale de Feerreiros siuam-se entre 640
6 a 650 m
metros, enquan
nto que os
tu
caabeços que o marginam
m
alccançam valorees superiorees a 720 metrros. Próximo elevam-se, a mais de
90
00 metros, os cumes da Carrvalhosa e da Mua, que
feecham a Sul o vale.
A primeirra referência ao interesse arqueológiico de Vale dee Ferreiros deeve-se a Adriaano Vasco
Rodrigues
R
(Roodrigues, M.A
A.C.; Rodrigu
ues, A.V.,
19
962) que assiinalou a desccoberta de veestígios da
ép
poca romana, sem, no entannto, os especifficar. Posteeriormente Jorrge Custódio, no âmbito dee um projeecto consagraddo à Arqueoloogia Industriaal da região
o, registou a ocorrência
o
de dois escoriaiis, que designou Vale dee Ferreiros I (C
Carviçais; Carrta Militar
1//25 000 folha nº 131, coorrdenadas 301.4
4 e 469.6,
alltitude 620 m)
m e II (Carviççais; Carta Militar 1/25
00
00 folha nº 1331, coordenaddas 300.5 e 469.5,
4
altitu
ude 640 m), situados amboos no mesmo vale. Não
esstabeleceu, poorém, nenhum
ma relação enttre os vestíg
gios entrevistos por Vasco Rodrigues e os escoriaiis.
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MINERAÇÃO E METALURGIA DO FERRO EM
E TRAS-OS-M
MONTES (NOR
RTE DE PORTUGAL) NA ÉPOC
CA...
O contornos da ocupaçãoo antiga de Vale de
Os
Ferreiiros acabariam
m por ser escclarecidos, devvido à
constrrução de uma barragem parra abastecimennto de
água à vila de Toorre de Moncorvo (Fig.: 2).
2 Em
1983, terraplanagenns e remoçõees de terra effectuadas noo local registaado como Vale de Ferreiross II revelaraam um conjunnto de estruturras romanas, que
q jaziam sob mais de cinco
c
metros de escória dee ferro
misturrada com terrras. A descobeerta dos muroos e de
numerroso espólio motivou umaa intervenção de emergêência do Servviço Regional de Arqueologgia da
Zona Norte, que see limitou à reecolha de matteriais,
ao reggisto fotográfiico das estrutuuras ainda intaactas e
a um apressado levvantamento. Graças
G
ao apooio da
minas, foi feiita uma plantta esquemáticaa desFerrom
sas esstruturas. Os negativos
n
das fotografias
f
estão no
arquivvos do Museuu de D. Diogoo de Sousa (B
Braga),
onde o material foii lavado, marrcado e tratadoo pelo
mente para Toorre de
laboraatório, seguindo posteriorm
Monccorvo ao cuidaado do PARM
M e encontranndo-se
actuallmente exposttos no Museu do Ferro & da
d Região de
d Moncorvo.
Fig.: 3.
3 Sigillata hispâânica decorada alto-imperial
a
de Vale
de Ferrreiros II.1, Dragg. 37; 2, Drag. 29;
2 3, Drag. 37;; 4,
Drag. 37; 5, fundo e paança de forma inndeterminável.
O abundante material recoolhido (classificado
por Manuela
M
Delgaado, a quem see agradece) é muito
diversso: cerâmicass comuns de tradição inddígena,
com a superfície exterior muitto polida, apresenmentos decoraação brunida em
e retando quatro fragm
S., 1993: vol. 3, est. CXXI, figutículas (Lemos, F.S
ras 8--11); numerossos fragmentoos de cerâmicaas importaddas (terra siggillata hispâânica alto-impperial)
(Lemoos, F.S., 19933: vol. III, est. CXIX e CXX
X); cerâmica cinzenta (L
Lemos, F.S., 1993: vol. IIII, est.
mum de diveersos fabricoss e de
CXXIII); olaria com
os de barro
diistintos tipos; fragmentos de dólios; peso
e de pedra (xxisto); artefacctos metálicoss (Lemos,
X) e outros uteensílios de
F..S., 1993: vol.. III, est. CXX
feerro (picos); dois
d
lingotes dde ferro; mós rotativas.
Este conjunto de materiais ilustra a po
olivalência
uncional do povoado,
p
abraangendo, paraa além da
fu
acctividade mineeira, a agriculttura.
As estrutuuras que ainda puderam ser registaadas revelaram
m-se como poouco significattivas: muro
os de construuções rectanggulares, provaavelmente
caasas de mineirros. Além desssas construçõ
ões foi enco
ontrado um foorno intacto, ccuja finalidadee exacta se
deesconhece. Addmitimos, conntudo, que se tratava de
um
m forno para produção de cerâmica com
mum. Nas
veertentes do Cabeço da Muua e da serra da Carvalh
hosa, existem boas argilas, que poderiam
m ser aproveeitadas para o fabrico de olaria. Na zo
ona envolveente dos relevvos supracitaddos, em Felgaar, mantevee-se, até há poucos anos, a tradição de fabrico
f
de
ceerâmica (Rodrrigues, M.; R
Rebanda, N., 1996),
1
tradiição que podeeria remontar à época roman
na.
Não foram
m detectadoss elementos arquitectóa
niicas (fustes; capitéis ou basses), ou outross vestígios
(m
mosaicos, por exemplo), quue sugiram qu
ue Vale de
Feerreiros tenhaa sido uma viilla vocacionaada para a
ex
xploração minneira (Alarcãão, J., 1988). Julgamos
qu
ue se trata de um povoado, provavelmen
nte fundado
o na primeiraa metade do século I (cerâm
micas cinzeentas finas poolidas), e que conheceu um
ma fase de
deesenvolvimennto na segundaa metade do século I e
no
o século II (abbundantes fraagmentos de teerra sigilla
ata hispânica).. Parece ter suubsistido duraante o Baixo
o Império, época documenttada pela ocorrência de
ceerâmicas cinzzentas tardiass. É, no entaanto, intereessante verificcar que, entre os numerososs fragmento
os de terra siggillata, não see regista um único que
seeja atribuível ao
a Baixo Império. Julgamo
os que esta
ciircunstância see deve a uma eventual dimiinuição da
acctividade mineira, reflectinndo uma meno
or procura
daa matéria prim
ma produzida. No Alto Imp
pério a zonaa de Vale de Ferreiros
F
prodduzia para um
m mercado
qu
ue incluía miinas de ouro em plena lab
boração, a
ab
bertura de novvas vias e extensos program
mas de urbaanização, com
mo o que está documentado
o em Braca
ara Augusta, ao longo do século I (Maartins, M.,
20
011) e que taambém se teráá verificado em
e Aquae
Flaviae
F
(Carneeiro, S., 2005). Ao diminuirr de forma
gllobal a activiidade mineiraa, no Baixo Império,
I
a
prrocura reduziuu-se ao mundoo agrícola.
A Sudestee de Vale de Ferreiros II taalvez passaasse um caminnho secundáriio, que ligavaa o grande
eiixo do Vale da
d Vilariça - Vale do Tuaa (Lemos,
F..S., 1993) à "Estrada
"
Mouurisca" que prroveniente
do
o Douro se dirrigia para Norrte ao longo do
d planalto
mirandês
m
(Lem
mos, F.S., 1993). O traçado
o desta via
teerciária é uma mera conjecttura, deduzidaa da lógica
do
o povoamentoo e da geomoorfologia quee, por ora,
nãão se baseia em
e dados arquueológicos. Ju
unto deste
caaminho ficaria uma necróppole, cujo ex
xacto local
aiinda não foi determinado,
d
apesar de see conhece-
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F. SANDE LEMOS
L
- C.M. BRAZ
B
MARTINS
S
Fig.: 4.
4 O povoamentoo e rede viária roomana na Serra de Reboredo.
rem diversas
d
estelaas funerárias com a mesm
ma origem (Carvalhosa)
(
que, se dispersaram por várias
aldeiaas. A sua disppersão explica-se pela circuunstância daa zona denom
minada Carvalhhosa ser o ponnto de
confluuência dos terrmos de diverssas freguesiass Duas
dessass estelas posssuem um inteeresse especiaal pelo
facto de se referireem a pessoas oriundas do litoral,
l
do vaale do Minho, do povo Seurrrus: Reburroo, Seurrus do
d Castelo Naarelia (CIL, II
I S, 6290; Vaasconcelos,, J.L., 1896; Alves,
A
F.M. 1934;
1
Tranoy 1981;
Alarcão, J., 1988; Lemos,
L
F.S., 1993);
1
e Tridiia, dos
Seurrri Transminiennses (Tavares, A. 1899; Vaasconcelos,, J. L., 1933; Alves, F.M. 1934; Tranooy, A.,
1981; Alarcão, J., 1988; Lemoss, F.S., 1993).. Consideraando o achaddo das estelass supracitadass e de
outrass duas, julgam
mos que Valee de Ferreiross seria
um viicus, para ondde convergiram
m habitantes oriundos dee diversos ponntos da Hispannia. As duas estelas
e
atrás referidas
r
são parcas
p
em infformações sobbre antroponnímia. Refereem-se a persoonagens femiininas,
uma de
d nome Sabbina (CIL II, S, 6290; Alvves, F.
M., 1934; Tranoy,, A, 1981; Allarcão, J., 1988); e
Alves,F., 19334; Lemos, F.S.,
outra Coratia (A
1993));desconhecenndo-se a filiaçção. Trata-se, sublinhamos, de nomes pouco frequeentes na antrooponíd área.
mia da
O posicionam
mento de Vale de Ferreirros II,
controolando uma portela
p
naturaal, ponto de passap
gem obrigatório entre
e
a depreessão de Torrre de
mbém
Monccorvo e o plaanalto de Carvviçais, faz tam
upor que este povoado foi o ponto centrral de uma
su
zo
ona mineira, que abrangia a área envollvente dos
montes
m
do Carvvalhal e da Muua, incluíndo o planalto
dee Carviçais e a zona de Móss (Fig.: 4).
Na área ennvolvente do Cabeço da Mua
M conheceem-se pelo menos
m
outros ddois sítios rellacionados
co
om exploração mineira do ferro. No lo
ocal designaado Vale de Ferreiros
F
I, cerrca de dois qu
uilómetros
a Sudeste de Vale
V
de Ferreeiros II, obserrva-se um
xtenso escoriaal. Neste sítioo abrimos du
uas sondaex
geens. Não deteectámos qualqquer estrutura, mas distin
nguimos dois horizontes dde actividade metalúrgim
caa, atestados quer
q
pelas esccórias quer pelas manch
has brancas de
d cal (adicionnada aos bloccos de hematite,
m
para faccilitar o processso de redução
o). No horizzonte superioor, entre os peedaços de esccória recolh
heram-se fragmentos de ceerâmica mediieval. Nas
caamadas inferioores registaraam-se fragmen
ntos de olaaria comum roomana.
A Sul do Cabeço da M
Mua, no sítio designado
Po
omar da Carrqueija, Adriiano Vasco Rodrigues
R
(R
Rodrigues, M.A.C.; Rodriggues, A.V., 19
962) efectu
uou sondagenss noutro escoorial, tendo id
dentificado
reestos de um possível forno e estruturas pétreas
p
indeefinidas. Recoolheu cerâmicas importadass que classificou genericamente comoo "sigillatae". Supomos
qu
ue este segunndo povoado explorava o ferro das
veertentes sul doo Cabeço da M
Mua.
Situado a uma maior ddistância do Cabeço
C
da
Mua,
M
próximo do sopé leste do Cabeço
o da Car-
Férveddes, 7 (2011), pp.: 243 - 252
249
MINERAÇÃO E METALURGIA DO FERRO EM TRAS-OS-MONTES (NORTE DE PORTUGAL) NA ÉPOCA...
valhosa, existe um vasto escorial sobre o qual se
ergue uma pequena capela dedicada a S. Pedro. A
Sudoeste da encosta por onde se estende o escorial
observa-se um grupo de sepulturas escavadas na
rocha (Lemos, F.S., 1993). Embora não tenhamos
detectado cerâmicas esclarecedoras, admitimos que
se trata dum povoado mineiro romano que, eventualmente, perdurou durante a Alta Idade Média, e
cujas estruturas jazem sob o manto de escórias de
ferro.
Na orla dos povoados que acabamos de mencionar, existem outros sítios que embora fiquem a
uma certa distância das jazidas de ferro também
deveriam estar relacionados com a actividade mineira. Encravados no fundo de profundos vales,
junto de cursos de água, numa serra árida, eram locais mais apropriados para o tratamento metalúrgico do minério (dispondo de água mesmo na
época seca), do que para a agricultura. Referimos,
designadamente o sítio de S. Cristóvão, Carviçais
(Carta 1:25 000, folha nº 131; coordenadas: 397.8,
466.9, altitude: 440 metros), situado nos áridos relevos que se estendem entre o planalto de Carviçais
e o rio Douro, num esporão encravado no profundo
vale de uma ribeira, citado pela bibliografia devido
a uma série de achados: uma ara a Júpiter (Garcia,
J.M., 1991); uma estela funerária de Rvfvs Mosi
(Alves, F.M., 1934; Garcia, J.M.,1991), uma "carranca" , mós e cantarias. Uma equipa do PARM recolheu uma cabeça de berrão e um fragmento de
terra sigillata hispânica tardia. No local observamse numerosos fragmentos de cerâmica de construção (tegulae, imbrices, tijolos) e doméstica, bem
como escória de ferro.
Outro sítio é Lamazedo, Mós (Carta 1:25 000,
folha nº 131; coordenadas: 289.7, 465.2, altitude:
450 metros), também situado num vale encravado
nos áridos contrafortes orientais da serra de Reboredo. Segundo a equipa do PARM que o des-cobriu
no local observa-se material romano, disperso pela
superfície do solo. Pelo seu posiciona-mento numa
zona de escassos recursos agrícolas, junto de ocorrências de hematite, pode supor-se que estaremos
perante um pequeno povoado mineiro (Lemos, F.S.,
1993). Na Quinta das Bezerrinhas, Mós (Carta
1:25 000, folha nº 131; coordenadas: 303.0, 461.3,
altitude: 430 metros) regista-se um povoado romano também localizado nos áridos contrafortes orientais da serra de Reboredo e implantado no topo de
um cabeço sobranceiro a uma ribeira afluente do
Douro. No local observam-se fragmentos de material romano, dispersos pela superfície do solo. A
escassez de recursos agrícolas e a ocorrência de filões de diversos minérios, faz supor que este povoado poderia estar relacionado com a actividade mineira. A sua inclusão numa lista de castros (Silva,
A.C.F., 1986) não tem fundamento, pois não só não
se distinguem muralhas como também não se registam materiais da Idade do Ferro. Referido pela equipa do PARM e outros autores (Silva, A.V.F.,
1986; Alarcão, J., 1988; Lemos, F.S., 1993).
A par destes povoados, situados no extremo
Norte da serra do Reboredo, ou nas suas faldas nascentes, importa mencionar outros sítios distribuídos pelo maciço, seja a Sudeste seja na base das
vertentes meridionais, ou seja entre o limite Sul
deste acidente orográfico e o vale do rio Douro. Referimo-nos aos povoados de Barrais (Açoreira)
(Lemos, F.S., 1993) e de S. Martinho (Ligares)
(Lemos, F.S., 1993), nos quais, além da abundante
escória de ferro, se pode observar o habitual cortejo
de materiais da época romana.
Nos contrafortes Sudeste da Serra de Reboredo fica o Castelo Ferronho, Quinta do Castelo
Ferronho, Ligares (Carta Militar 1:25 000, folha nº
131; coordenadas: 306.1, 462.1, altitude: 450 metros). Povoado fortificado médio instalado num esporão, encravado nos contrafortes orientais da serra
de Reboredo, sobranceiro a um ribeiro afluente do
Douro. Devido à instalação dos anexos de uma
quinta e à plantação de oliveiras, é inviável reconstituir a arquitectura defensiva deste povoado. Observam-se troços dispersos de uma muralha de pedra partida (xisto). De registar a ausência de cerâmica atribuível à Idade do Ferro e a ocorrência de
abundante material romano (tegulae, imbrices, cerâmica comum) e de escórias. Não é de excluir a
possibilidade de se estar perante um povoado mineiro, fundado na época romana, que se fortifi-cou,
num contexto cronológico desconhecido (Alves,
F.M., 1934; Santos Júnior, J.R., 1975; Silva,
A.C.F., 1986; Lemos, F.S., 1993).
Outro local interessante é o de Barrais, Açoreira (Carta Militar 1:25 000, folha nº 130; coordenadas: 290.6, 464.0, altitude: 330 metros). Segundo o Abade de Baçal, no lugar de Barrais, situado nos últimos contrafortes meridionais da serra
do Reboredo, apareciam tegulae e existiria um penedo com arte rupestre. Efectivamente, o sítio de
Barrais parece ter sido um povoado mineiro romano, já muito afectado pela agricultura. Numa área razoável, quer na cumeada de um cabeço de
substrato xistoso, quer na sua encosta poente, observam-se fragmentos dispersos de cerâmicas romanas de construção e doméstica. O que se destaca,
porém, é a abundância de escória de ferro, que prova uma intensa actividade metalúrgica. Para poente,
a menos de oitocentos metros, fica Canelas, um outro habitat romano (Tavares, J.A., 1928 in Agenda
Brigantina, citado por Alves, F.M., 1934: 681).
Também é indispensável referir S. Martinho,
Ligares (Carta Militar 1:25 000, folha nº 142; coordenadas: 288.7, 457.6, altitude: 460 metros). O sítio
de S. Martinho fica encravado num vale abrigado,
drenado por um pequeno curso de água, afluente da
ribeira de Candedo, mil metros a sudeste da aldeia
de Ligares. Neste sítio, ao longo da margem direita
da pequena linha de água, numa encosta suave, em
terrenos de trigo, oliveiras e vinha, numa grande
extensão, vê-se grande quantidade de fragmentos
Férvedes, 7 (2011), pp.: 243 - 252
250
F. SANDE LEMOS
L
- C.M. BRAZ
B
MARTINS
S
mbrices, tijoloos, pede maaterial romanoo: tegulae, im
sos de
d tear, dólioss, bordos e fundos
fu
de cerrâmica
comum
m. Observam
m-se também pedaços de mós
m e
cantarrias. Na faixa mais a Nortee, o solo está juncaj
do dee inúmeros peedaços de escóória de ferro, o que
revelaa que a metaluurgia terá sidoo importante na
n actividaade deste povvoado. A abuundância de escória
e
leva-nnos a supor que
q seria um
m povoado miineiro,
emborra as condiçõões de implanntação sejam igualmentee favoráveis à agricultura. A textura difeerenciada de
d alguns fraggmentos de teelha curva sugerem
que o povoado perrsistiu na Idadde Média. Esste povoadoo dista 1500 metros
m
do sítioo de S. Paio (Rebo(
fa) (L
Lemos, F.S., 19993).
Quual seria o esstatuto da áreea mineira que acabamos de referir? Recordamos que nesta zona
z
a
densiddade de povooados proto-hhistóricos era muita
reduzida, devido à escassez doss recursos híddricos.
No momento
m
da roomanização seeria um espaço "vazio". No
N quadro daa subsequente reorganizaçãoo político-aadministrativa é possível quue o próprio Estado
E
tenha criado uma área
á
mineira que
q arrendava a parm nesse sentiddo a dimensãão das
ticularres. Apontam
minass e a presençaa de imigrantes. Não existem
m, porém quaisquer
q
outrros dados arquueológicos que abonem a favor dessa hipótese.
h
Podde considerar-sse, em
alternnativa, a hipótese das minass serem controoladas
pela própria
p
civitass Baniensis. Por
P certo, na zona,
apenaas se procediia ao tratameento das hem
matites
daando assim origem
o
aos exxtensos escoriiais disseminados
m
por toda a área. O pproduto final do
d processo
o seriam os linngotes rectanggulares semelh
hantes aos
qu
ue foram achaados em Vale de Ferreiros II (Custódiio, J.; Camposs, N., 2002). T
Tais lingotes seriam
s
expo
ortados para ferrarias
f
locallizadas nos ceentros mineeiros, nas cidaades, nos vicii, nas villae dee certa dimensão.
m
4..- Outros jazigos de feerro.
ua não são
Os cabeçoos da Carvalhhosa e da Mu
ass únicas jaziddas de ferro existentes em
m Trás-osMontes
M
Orienttal. Um jaziggo de certa dimensão,
co
om minério de
d boa qualiddade, localiza--se no extremo norte do distrito de Brragança, em Guadramil.
G
ogia aluviEste jazigo enquadra-se nnuma morfolo
on
nar estratiforrme onde occorrem limon
nites num
su
ubstrato de xisstos e quartzitos.
Sobre a eventualidade
e
e deste jazigo
o ter sido
ex
xplorado na época
é
romana,, apenas regisstámos refeerências biblioográficas muiito ténues (Afonso, B.,
19
984: 436), e a localizaçãoo dos desmon
ntes vários
materializados
m
em trincheiraas assinaladas nas plantaas de 1944 exxistentes em arquivo no LNEG,
L
S.
Mamede
M
de Innfesta (Fig.: 55). As prospecções que
effectuámos na zona não revvelaram uma concentrac
çãão particular de povoados. Antes pelo contrário,
Fig.: 5.
5 Uma das planttas da concessãoo de ferro de Guuadramil, com a localização doss trabalhos romaanos (Arquivo do
o Laboratório Naccional de Energgia e Geologia, LNEG,
L
S. Mamedde de Infesta).
Férveddes, 7 (2011), pp.: 243 - 252
251
MINERAÇÃO E METALURGIA DO FERRO EM TRAS-OS-MONTES (NORTE DE PORTUGAL) NA ÉPOCA...
trata-se de um espaço com baixa densidade de habitats na antiguidade, tal como actualmente. Aliás,
em Guadramil não se verificam as mesmas condições favoráveis da região da serra de Reboredo,
pois que não se formaram depósitos de vertente.
A par destes jazigos de ferro, importa referir o
ferro incluído em sulfuretos. Ou seja, existiam, disseminados por todo o território do Nordeste transmontano, pequenas jazidas em que poderia ser obtido ferro, associado a outros minérios. Não há, porém, indícios dessas pequenas ocorrências terem sido aproveitadas, pelo que não foram assinaladas.
5.- Considerações finais.
Não subsistem dúvidas que a Serra do Reboredo foi um importante núcleo mineiro de produção
de ferro o que condicionou o povoamento da área
envolvente em que predominam os sítios mineiros.
Vale de Ferreiros II terá sido um ponto central desse núcleo. Todavia ainda há muito trabalho por realizar no futuro, como seja em Torre de Moncorvo
inventariando os escoriais de modo sistemático e
procedendo a sondagens para determinação da sua
cronologia. Por outro lado, há ainda todo o interesse em realizar trabalhos arqueológicos em povoados mineiros como São Cristóvão, ou S. Martinho
de Ligares, por exemplo. Finalmente torna-se importante avaliar a hipótese apresentada, mediante
uma série de análises a utensílios de ferro de diversos pontos do conventus de Bracara Augusta. Será
assim possível confirmar, como supomos, que
grande parte dos artefactos em ferro utilizados em
diferentes contextos, foram produzidos a partir do
ferro da Serra do Reboredo. Esta será a próxima etapa do nosso projecto.
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7.- Notas.
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Carla Maria Braz Martins, bolseira de pós-doutoramento da
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); colaboradora
externa da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto (FEUP).
Férvedes, 7 (2011), pp.: 243 - 252
Férvedes
ISSN: 1134-6787
Nº 7, 2011
Vilalba (Lugo)
Férvedes
Revista de Investigación
Nº 7
2011
E. RAMIL REGO & C. FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ (ED.):
2 CONGRESO INTERNACIONAL DE ARQUEOLOXÍA DE VILALBA
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- Mineração Antiga e Arqueometalurgia