N.16 JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO 2013 TRIMESTRAL . EDIÇÃO GRATUITA Tema de Capa AGRICULTURA Base da Economia e da Alimentação p.5 Entrevista Presidente da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira p.12 Destaques > 38.º Aniversário da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira p.24 > Feira Anual da Trofa 2013 p.26 ORIGENS E FUTURO AGROS - União de Cooperativas de Produtores de Leite Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, U.C.R.L. Lugar de Cassapos, Argivai . 4490 Póvoa de Varzim . TEL 00351 252 241 000 www.agros.pt Editorial CRIAR VALOR EM TEMPOS DE MUDANÇA Uma realidade a implementar no Grupo AGROS O setor agroalimentar tem demonstrado uma crescente importância no rumo da nossa economia. Qualquer negócio começa a montante da atividade comercial, ou seja, inicia-se quando o ciclo da mercadoria, produto, ou serviço, volta a entrar no circuito produtivo. Assim, para se entender na perfeição onde se poderá atuar no sentido de obter maiores eficiências económicas, sociais e ambientais, torna-se necessário esmiuçar como se compõe determinada fileira. No caso concreto do leite, e no ponto da cadeia de valor que nos diz respeito – a produção de matéria-prima –, o seu modelo de desenvolvimento, assentou, durante algumas décadas, essencialmente em margens confortáveis entre os custos totais e os preços de venda. Esta situação só foi possível devido a dois fatores: estabilidade de preços das matérias-primas (cereais, petróleo, eletricidade, e mercados de transação de capitais) e a procura (capacidade de compra, níveis de rendimento, confiança no consumo e investimento, público e privado). Neste momento, o contexto, como bem sabemos e sentimos nas nossas explorações, é outro. Quanto à alimentação, o caminho lógico a seguir, passará por perceber onde se poderá obter ganhos de eficiência, não só na ingestão por vaca, mas na lógica e disciplina de gestão económica da exploração agrícola, que permitam identificar os desperdícios. Não obstante, por si só, aquela medida não será suficiente para minimizar os impactos negativos que a nossa atividade tem vindo a sofrer. Temos, devemos, e é possível ir muito mais longe. Quanto à atuação empresarial do grupo AGROS, estaremos em condições de iniciar um caminho (algumas empresas já iniciaram), que permita vislumbrar outro rumo. Na realidade, estamos preparados para avançar no caminho da integração, e, se possível, sincronização (produtiva, logística, de informação, de marketing e ao nível dos recursos humanos), com destaque para a alimentação animal, mas igualmente, nos herbicidas, fertilizantes, e outras matérias-primas. Estou absolutamente convicto de que, quer a AGROS, quer os Produtores e as Cooperativas, só teremos a ganhar em desenvolver este desafio. Isto porque, fomos nós, que, juntos, conseguimos alcançar a liderança Nacional na recolha e qualidade de leite. Apenas teremos que ter a arte e o engenho de abdicar do particular em prol do conjunto, repondo alguma ordem no negócio dos fatores de produção. Essa ordem permitir-nos-á encarar a atividade produtiva com o otimismo de outrora, contudo, um otimismo adaptado à realidade atual. Por fim, e como mensagem de reflexão, gostaria também de vos dizer, que, mesmo o Setor Cooperativo, necessitará de repensar o seu atual modelo, quanto à base e conceitos de gestão empresarial e, essencialmente, de filosofia de marketing. Os modelos que sustentam a atividade empresarial terão de se ajustar, caso contrário, andaremos a duas velocidades. Ora, duas velocidades, são contrárias ao conjunto, e favorecem o individual, o que, a meu ver, nem sequer respeita um dos princípios do Cooperativismo. Felizmente são muitas as Cooperativas Agrícolas que partilham desta visão e não esqueçamos que há, também, alguns bons exemplos de integração empresarial no setor Cooperativo. Se internamente não somos capazes de dar o passo da integração nos fatores de produção, por inoperância empresarial, o que manifestamente não acredito, dado ser um impedimento sem lógica, pelo menos, tenhamos capacidade de olhar para o lado … ! VÍTOR MAIA Diretor da Agros, U.C.R.L. “Estou absolutamente convicto de que, quer a AGROS, quer os Produtores e as Cooperativas, só teremos a ganhar em desenvolver este desafio. Isto porque, fomos nós, que, juntos, conseguimos alcançar a liderança Nacional na recolha e qualidade de leite.” REVISTA AGROS Nº16 . 3 Índice Ficha Técnica PROPRIEDADE E EDITORA AGROS - União das Cooperativas de Produtores de Leite de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, U.C.R.L. CONTACTOS Lugar de Cassapos - 4490-000 Argivai PVZ Tel. 252 241 000 - Fax. 252 241 009 E-mail: [email protected] Url : www.agros.pt DIRETOR José Fernando Martins Capela PRODUÇÃO E COORDENAÇÃO Serviço de Marketing SEDE DE REDAÇÃO Lugar de Cassapos 4490-000 Argivai PVZ N.º DE CONTRIBUINTE 500291950 DEPÓSITO LEGAL 295758/09 ISSN 1647-3264 REGISTO NA ERC 125612 DESIGN E COMPOSIÇÃO GRÁFICA Boaventura Matos IMPRESSÃO GRÁFICA Minerva Artes Gráficas Alberto Santos & Filhos, Lda. Av.ª Alexandre Herculano, n.º275 4480-878 Vila do Conde [email protected] TIRAGEM 2500 exemplares PERIODICIDADE Trimestral FOTOS Agros UCRL; iStockPhoto; Shutterstock Os textos publicados nesta edição são da responsabilidade dos respetivos subscritores. 3 EDITORIAL > Criar Valor em tempos de mudança: Uma realidade a implementar no Grupo Agros 5 Tema de Capa > Setor agroalimentar: Paradoxalmente a verdadeira economia. > Leite: Um alimento muito próximo da perfeição. 8 Análise > Setor leiteiro: Pistas para a internacionalização. 12 A Agros em... > Entrevista ao Presidente da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira > Exploração Manuel António Santos Coelho > Descobrir Paços de Ferreira 18 Produzir > Leite de Qualidade 22 Divulgação > UCANORTE XXI 24 Destaque > 38.º Aniversário da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira. > Feira Anual da Trofa 2013 28 Divulgação > Agros Comercial 30 Destaque > Sociedade Agromancelos distinguida pela Associação Empresarial de Vila Meã Tema de Capa Setor Agroalimentar: paradoxalmente a verdadeira economia RUI ROSA DIAS Professor do IPAM, especialista em Marketing Agroalimentar A gora que os grandes meios de comunicação alertam para a importância do setor agroalimentar, maioritariamente, com base no desempenho económico que tem demonstrado em contexto de crise económica, fruto do crescimento das exportações e da dinâmica comercial e de marketing que começa a emergir, o nosso País, parece que acordou para a produção agrícola. Contudo, estimular a produção de qualquer bem alimentar, porque há somente um deficit de determinada matéria-prima e acesso ao investimento, parece-me um erro crasso. Estimular e apoiar o investimento agroalimentar, apenas porque uma das duas variáveis do contexto macro económico – acesso e disponibilidade aos mecanismos de financiamento e pseudo atratividade do setor agroalimentar, poderão constituir outro erro, cuja fatura, sei de antemão, alguém a irá pagar no decorrer da próxima década. E esse alguém esperemos que não venha a ser o produtor. Continua a imperar o individualismo. Como exemplo, temos vários subsetores da Agricultura. Porém, o destaque recai nos pequenos frutos silvestres. Assiste-se, sem qualquer exagero, a uma febre de projetos, e a um crescente interesse em aumentar a oferta. A este respeito, a questão a colocar passa por perceber para que níveis de produção os responsáveis desta dinâmica, estão a projetar? E, já agora, como se organizará a cadeia de valor? Onde está a estratégia de base a toda esta intensidade de projetos de oferta? Quem leu os sinais da atratividade deste segmento? Qual será o ciclo de vida da oferta e da procura? Enfim, tantas e tantas questões… cujas respostas, constata-se à posteriori, não existir. Continuamos a assistir e a verificar que o principal drive na aprovação/reprovação dos projetos de investimento, é a VAL (Valor Acrescentado Líquido) e o ROI (Retorno do investimento). Neste, como em muitos outros casos, o que mais interessa é o retorno do investimento. O empresário agrícola, que foi estimulado a investir, quando se vê com a produção nas mãos, terá tendência a cometer erros cruciais: lutar por preço, evidenciando, desde logo, falta de rigor e de estratégia. Não se pode desvirtuar a estratégia só porque se imagina que se percebe que a definição do mix operacional do marketing, se resume à variável preço. Outro erro crasso. REVISTA AGROS Nº16 . 5 Tema de Capa Não existe ainda cultura de marketing estratégico na análise dos projetos e, em grande medida, na Agricultura Nacional. O que há, e revela-se de ano para ano absolutamente insuficiente, é alguma cultura de marketing operacional, principalmente, detida nas mãos de quem tem o enfoque empresarial, na produção e nas finanças. E o mercado, o consumo e as tendências? A boa notícia é que todos nós sabemos, que as modas são passageiras e que representam ciclos. Não é admissível que se continue a aceitar nos planos e formulários dos projetos de investimento, análises swot, descrição de mercados de destino, estratégias de preços, comuns, pois, fazem-se autênticas cópias de projeto para projeto. Pior do que tudo isto, é a total ausência de rigor na obtenção das declarações de quem serão os compradores da matéria-prima, dado que, por um lado, muitas vezes são os mesmos players que afirmam, sob compromisso, comprar as quantidades produzidas, e, por outro, porque é uma declaração sem qualquer fundamento de mercado e de estratégia. Será este o caminho? Como poderá um avaliador de um projeto de investimento conhecer o feeling do empresário se não o conhece? Conhece-o através do anexo do seu Curriculum Vitae? Como poderá avaliar um projeto 6 . REVISTA AGROS Nº16 alguém que nunca foi empresário, e que nada sabe sobre marketing estratégico e operacional? Como poderá aprovar e/ou reprovar um projeto, se não há objetividade, coerência e equilíbrio na realização dos projetos. Como pode um avaliador de um projeto avaliá-lo e emitir um parecer, se invariavelmente a única fórmula de cálculo de preço, variável intimamente relacionada com a VAL e o ROI, que poderá conhecer, é a que ressalta do conjunto dos custos fixos e variáveis? Que conhece de concorrência e de predisposição a pagar? Onde está a avaliação e categorização dos projetos em função daquilo em que se diferenciam um dos outros? Ou serão mesmo todos, todos, iguais? Será que os projetos e planos de negócios são só VAL e ROI? A rigidez com que tudo isto se avalia, e decide, num sentido unidirecional, é absolutamente limitador a que um empresário agrícola possa ter confiança no futuro. Há exceções? Sim, há. Mas, para meu receio e certeza, apenas, confirmam a regra. Haverá uma luz no fundo do túnel? Pelo que tenho visto neste segmento dos pequenos frutos, pode ser que venha a aparecer, mas, para já, a que existe, tem apontado no sentido errado. O tempo passa, e os ajustamentos tardam a surgir. LEITE: Um alimento muito próximo da perfeição SARA LOPES Nutricionista pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Escrito segundo o antigo acordo ortográfico. E m pleno século XXI, o Homem encontra-se geneticamente próximo do seu semelhante no Paleolítico, no entanto, vive profundas alterações alimentares que culminam nas designadas “doenças da civilização”. Das evoluções genéticas mais interessantes em nutrição, do género Homo, a manutenção da capacidade de digerir lactose depois do desmame e ao longo da vida, merece um lugar de destaque. A lactose é o principal hidrato de carbono do leite e para que possa ser utilizada pelo organismo, terá de ser digerido pela lactase, uma enzima produzida no intestino, sendo que apenas 20% a 30% da população mundial apresenta níveis elevados desta enzima. A maior ou menor predisposição de algumas populações para reter a capacidade de digerir a lactose, pode ter origem longínqua apoiada na tradição da criação de animais com apetência para produção de leite, contribuindo,desta forma, com alguma pressão selectiva ao dar vantagem a adultos, que tinham capacidade para digerir os lácteos. Esta capacidade permitiu-lhes, assim, ficar em vantagem nutricional e de sobrevivência, relativamente aos adultos que não tinham essa capacidade. Podemos observar que em países sem tradição de criação animais para produção de leite, como a China ou a África tropical, poucos adultos têm a capacidade de digerir a lactose. Sendo o Homem, de forma espontânea, o único animal que se alimenta de leite após o desmame, este hábito único tem suscitado bastante controvérsia, no que diz respeito ao valor alimentar e nutricional do leite e seus derivados. No entanto, a versão mais recente da Pirâmide Alimentar norte-americana inclui os lacticínios, bem como a Nova Roda dos Alimentos portuguesa, que prevê o consumo de duas a três porções de lacticínios por dia. Vários estudos têm demonstrado os efeitos benéficos dos produtos à base da fermentação do leite; sendo que o cálcio e os produtos lácteos têm sido referidos por ter um “efeito anti-obesidade”, mesmo sem restrição da ingestão energética. Os mecanismos que poderão explicar este efeito são bastante complexos, podendo incluir: a acção do cálcio proveniente dos alimentos na produção de certas hormonas, e no metabolismo dos adipócitos, entre outros. A saúde óssea é a mais beneficiada com o consumo de lacticínios, sendo que o consumo regular de lacticínios, devido ao elevado teor de cálcio, ajuda, comprovadamente, a minimizar problemas, existindo de forma complementar, a necessidade de um aporte adequado de vitamina D. Desta forma, o leite enriquecido em vitamina D, poderá passar a ser uma boa solução no combate a doenças ósseas, como a osteoporose. Para os cerca de 30% da população que não sofrem de intolerância à lactose, evitar os lacticínios com base no argumento de que o Homem não está ”preparado” para os ingerir após o desmame, é um argumento que actualmente, não tem validade científica. Sendo a capacidade de integrar equilibradamente na alimentação, todos os alimentos, é uma opção mais razoável. Em suma, e citando uma conclusão ainda viva de Hipócrates: "o leite é um alimento muito próximo da perfeição". REVISTA AGROS Nº16 . 7 Análise SETOR LEITEIRO: PISTAS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO PEDRO PIMENTEL Diretor-Geral da ANIL - Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios O setor lácteo português apresenta uma taxa de autoaprovisionamento que ronda os 106%, é diariamente confrontado com uma concentração excessiva na área de comercialização e uma desregulação do poder negocial face aos clientes; tem de se debater com o peso crescente das Marcas da Distribuição (que é o principal foco de importação); não tem como contornar a excessiva maturidade do mercado, com a sua estagnação e com a perda de valor do consumo. Pelas razões acima indicadas, existe a necessidade de escoar e valorizar anualmente no mercado externo, sob os mais diversos formatos, aproximadamente 15% da produção leiteira portuguesa, ou, se quisermos, entre 250 e 300 milhões de litros de leite por ano, o que nos leva a concluir que a internacionalização e, mais especificamente, a exportação, são, hoje em dia, um imperativo da fileira do leite nacional. Mas se assim é, não deveríamos já estar bastante adiantados no que respeita à tentativa de conquista 8 . REVISTA AGROS Nº16 do mercado externo? Ou existem justificações para uma internacionalização tardia? Convém recordar que Portugal apenas atingiu a autossuficiência produtiva em meados da década de 1990, e que o desenvolvimento da produção, bem como o processamento industrial, acompanhou a evolução do consumo, induzida pelo desenvolvimento da moderna distribuição. Este enquadramento empurrou o setor para o fabrico dos produtos ditos de grande consumo, e, muito em especial, do leite embalado, iogurte e queijo, este último, nos formatos mais aceites pelo mercado nacional. Por outro lado, a exportação de muitos produtos lácteos, em especial dos chamados produtos industriais (manteiga, leite e soro em pó), em razão da dimensão das empresas (e dos correspondentes volumes de produção) e da sua menor especialização relativamente a estes produtos, foi – tradicionalmente – deixada nas mãos de traders nacionais e estrangeiros. Igualmente, a saída de volumes consideráveis de matéria-prima (a granel) para Espanha, limitou os volumes disponíveis para um esforço de internacionalização mais coerente e sustentado. Outrossim, a insularidade das produções açorianas, gera um efeito “dois países”, no ataque aos mercados de exportação, limitando a massa crítica para o esforço de internacionalização. Não pode ainda ser esquecido, o significativo desconhecimento das especificidades dos produtos lácteos portugueses, em especial, dos seus queijos, cujos mais conceituados, são fabricados a partir de leite de pequenos ruminantes (ovelha, cabra) e com produções de muito reduzido volume. 250 a 300 Milhões Lts Disponíveis para Exportação 15 % da Produção Nacional LER A BALANÇA COMERCIAL Analisando de forma sintética a Balança Comercial deste setor, constatamos que o seu deficit, apesar de estabilizado nos dois últimos anos, ronda os 190 milhões de euros. Este valor deriva, não do diferencial de volumes transacionados, mas, especialmente, REVISTA AGROS Nº16 . 9 Análise Leite 225 Milhões Lts Exportação para Espanha 90 % da Produção Nacional 120 Milhões Lts Importados de Espanha 72 % do leite importado 47 Milhões Lts Importados de França, Alemanha e Polónia 10 . REVISTA AGROS Nº16 do diferencial de valor entre os produtos importados e os que são colocados no mercado externo. As saídas assentam em leite líquido (a granel e embalado), manteiga e soro em pó, enquanto as entradas se referem, concretamente, a iogurtes/leites fermentados e a queijos. Os volumes e valores de importações e exportações relativos a leite em pó equivalem-se. Mais de 90% das exportações (225 milhões de litros) de leite líquido são dirigidas para Espanha, mas, destas, aproximadamente 150 milhões de litros são vendidos como leite a granel, em cisterna. Em sentido inverso, 72% do leite importado (120 milhões de litros) provém de Espanha, mas apenas 25 milhões de litros entram a granel. De França, da Alemanha e da Polónia “chegam”, grosso modo, 47 milhões de litros. As exportações de leite em pó, de manteiga e de soro em pó (todas, em volume e valor, superior às importações) têm como destinos principais a Espanha (mas apenas em 38%), a França, a Holanda, a Bélgica e a Itália. Considera-se pertinente salientar que, muitas das exportações feitas para outros continentes, são expedidas a partir desses países. A balança comercial, no caso dos iogurtes e leites fermentados, é altamente negativa (126 milhões de euros e 118 mil toneladas). É consequência da produção externa de algumas marcas comerciais mais tradicionais, adicionada ao forte peso da importação no aprovisionamento das Marcas da Distribuição (que valem já mais de 40% do mercado). Espanha é o principal mercado de origem (67 mil toneladas), mas a França, a Alemanha e a Polónia, também assumem posição de algum destaque. Finalmente, no caso do queijo, a balança comercial é igualmente muito negativa (27 mil toneladas e 112 milhões de euros). Aqui, o principal foco de importação, para lá de algumas marcas brancas, refere-se ao aprovisionamento do chamado canal Horeca, bem como das empresas de Food Service e outras empresas do sector alimentar. Uma vez mais, a Espanha lidera como origem das importações (quase 40%), mas a Alemanha, a França, a Holanda, a Polónia e o Reino Unido, também apresentam valores consideráveis. SUBSTITUIR IMPORTAÇÕES, AUMENTAR EXPORTAÇÕES Atualmente, a capacidade industrial instalada para a generalidade dos produtos lácteos (mesmo no caso do fabrico de queijo) é superavitária, sendo o caso do iogurte a única exceção, por causa da incapacidade efetiva de abastecimento total do mercado nacional a partir das unidades industriais instaladas em Portugal. Apesar disso, existe nas fábricas de iogurte nacionais, capacidade ociosa, ou seja, não totalmente tomada, por força do ‘condicionamento comercial’ de acesso ao mercado de algumas marcas nacionais e o domínio absoluto do fornecimento do crescente mercado das marcas brancas por empresas estrangeiras. No caso do queijo, existe alguma incapacidade de adaptação da oferta nacional à procura (em preço, mas também em especificidade) própria dos canais Horeca, Food Service e de alguns segmentos da indústria alimentar. Alguns tipos de queijo com utilização significativa naqueles canais – mozzarella, cheddar,... – não são produzidos em Portugal, essencialmente, por razões de escala produtiva. Para atacar estas dificuldades, uma primeira pista passaria por uma melhor identificação da origem dos produtos, muito especialmente no caso das Marcas de Distribuidor, a qual tenderia a beneficiar as empresas fornecedoras nacionais e a promover uma ampla substituição de importações, permitindo uma melhor utilização da capacidade instalada em território português. Uma outra, relativa ao segmento do queijo, passaria por desenvolver linhas de produção competitivas e mais adequadas aos canais de Food Service e de hotelaria, cafetaria e restauração, assim como uma pressão para uma melhor identificação dos produtos utilizados, o que faria com que o preço não fosse, praticamente, o único fator de escolha. A exportação de produtos lácteos frescos, com períodos de prateleira curtos (casos dos iogurtes, leites fermentados, leites pasteurizados, queijo fresco,...), fica limitada por imperativos logísticos e pela excentricidade geográfica do território nacional. Ainda assim, existem alguns exemplos bem sucedidos como a produção em Portugal de produtos ultrafrescos para Espanha ou Bélgica, bem como exportações relevantes (6 + 3 milhões de euros) para Angola e Cabo Verde. No caso do Leite UHT, apesar da sua ‘comoditização’, a exportação, seja para mercados de proximidade, com Espanha à cabeça, seja para mercados mais longínquos (Norte de África, Golfo Pérsico e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – PALOP’s ) é interessante e viável. As exportações para países terceiros atingiram 14,5 milhões de euros em 2010 (com, Angola e Cabo Verde à cabeça, com 7 e 2,5 milhões de euros). As exportações de manteiga, leite em pó e soro em pó são muito condicionadas pelas opções, em termos de mix, em relação ao fabrico dos produtos essenciais do setor (leite líquido, iogurtes e leites fermentados, queijo) e pela volatilidade das respetivas cotações de mercado. Todavia, são produtos com espaço em mercados interessantes como os do Norte de África, Golfo Pérsico e PALOP’s. No caso do soro em pó, a indústria dos alimentos compostos para animais é um dos principais clientes. Num outro contexto, as exportações de queijos são muito diversificadas, seja em relação à tipologia de produtos colocados nos mercados externos, seja em relação aos mercados de destino. Contrariamente aos outros produtos, as exportações para países terceiros valem mais de 60% do total exportado, com Angola, mais uma vez, à cabeça (quase 10 milhões de euros), mas também para diversos mercados onde a presença de imigração portuguesa é importante (Estados Unidos da América, Canadá, Venezuela e África do Sul). LINHAS BÁSICAS DE ESTRATÉGIA E FERRAMENTAS PARA A OPERACIONALIZAÇÃO Há pois que começar por escolher os mercados prioritários, com os PALOP’s, os países do Norte de África Mediterrânico e do Golfo Pérsico na primeira linha. Estratégica é, igualmente, a definição de quais os produtos mais relevantes para os mercados de exportação, com saliência para o queijo, para o leite UHT e para os produtos lácteos industriais (leite em pó, manteiga, soro em pó). Outro aspeto essencial, passa por aumentar o valor acrescentado dos produtos exportados. Neste caso, o primeiro objetivo é a redução dos volumes exportados de leite a granel e a sua compensação com o incremento das saídas de produtos transformados. É conhecido o deficit estrutural da fileira do leite espanhola – o país vizinho não produz mais do que 70% do leite necessário para abastecer o seu próprio mercado de consumo. Esta situação deve ser potenciada e aproveitada, quer pelo desenvolvimento de parcerias com empresas daquele país, seja através do aprofundamento das relações comerciais com as principais cadeias de retalho a operar no mercado espanhol. Considerando a opção Norte de África e Médio Oriente como mercados de elevado interesse, que conjugam aptidão de consumo, incapacidade de autoaprovisionamento e capacidade económica de aquisição, as empresas nacionais interessadas em apostar nesses países não podem deixar de investir na certificação Halal, incontornável para a exportação para os mercados muçulmanos. Para esses mercados, e para os dos PALOPs, as empresas nacionais deverão apostar na exportação dos produtos que fabricam e no desenvolvimento de produtos adequados às exigências de consumidores e cadeia comercial desses países, de que podem ser exemplos os leites fermentados de longa duração, alguns queijos de vaca diferenciados, os queijos fundidos, ou as bebidas lácteas. A aposta no reforço das exportações dos chamados produtos lácteos industriais deverá implicar uma melhor estruturação da respetiva comercialização, sendo de equacionar a criação de um marketing board, a exemplo do que existe em vários países do Norte da Europa, aglutinando volumes, especializando a comercialização, desenvolvendo ações de marketing e promoção, direcionados para os clientes destes produtos, em regra, bastante distintos dos clientes dos produtos ditos de grande consumo. Finalmente, deve ser utilizada a nossa gastronomia e o nosso turismo, insistindo na integração dos produtos lácteos na ‘nova’ e ‘velha’ cozinha nacional, assim como na presença dos melhores produtos lácteos portugueses nos nossos melhores restaurantes e unidades hoteleiras A nível de ferramentas operacionais, e para além dos instrumentos mais óbvios – contratação de jovens técnicos vocacionados para a exportação, realização de estudos de reconhecimento dos mercados potenciais, participação em feiras e outras ações de mercado ou o apoio à elaboração de materiais de apoio ao processo de exportação – a aposta pode passar por algumas ferramentas mais específicas. Assim, e no curto prazo, sugere-se, por exemplo, a compilação de informação técnico-administrativa de apoio à exportação: elaboração de dossiers país-a-país, o desenvolvimento das démarches diplomáticas que conduzam à remoção de barreiras não alfandegárias em países de destino (EUA, Brasil, Rússia, Angola, entre outros), a criação de uma marca coletiva para os Queijos Portugueses, o apoio à criação de mecanismos de certificação para mercados externos (Halal, Kosher, BRC,...) e, porque não, o envolvimento de empresas de trading nacionais na definição de estratégia de internacionalização. A médio e a longo prazo, a aposta poderá passar pelo desenvolvimento de uma campanha sustentada, direcionada para o mercado espanhol, pela integração os de produtos lácteos na oferta alimentar nacional (com ações multissetoriais e maridagens específicas, por exemplo), e pela coordenação e campanhas com ações no setor do turismo e da restauração. Mas podem ser também ser criadas orientações para os investimentos do Quadro Comunitário de Apoio V, com apoios dirigidos a linhas de produção vocacionadas para o mercado externo ou o apoio a programas de investigação com forte vertente-produto, que permitam, o desenvolvimento de queijos e outros produtos lácteos de identidade portuguesa. Mercados Prioritários PALOP’s, Norte de África Mediterrânico e Golfo Pérsico Aposta em produtos adequados às exigências dos respetivos mercados REVISTA AGROS Nº16 . 11 A Agros em... “A LAVOURA” DO CONCELHO DE PAÇOS DE FERREIRA, C.R.L. 17 Fev. 1975 Instituida em 27 Fev. 1951 Cooperativa Agrícola dos Produtores de Leite de Paços de Ferreira Associada da Agros 18 3.384.683,81 Colaboradores Volume de negócios (Euros) 1620 Associados 3.417.008,72 Total de proveitos (Euros) 1 FILIPE SILVA ARQUIVO AGROS, U.C.R.L. Atualmente, como caracteriza a “vida agrícola” na área social da vossa Organização? Posso dizer-lhe que sofremos dos mesmos problemas do resto da região e do País. No caso específico dos Produtores de leite, estamos a sentir algumas dificuldades, inerentes aos sucessivos aumentos dos fatores de produção, nomeadamente das rações, e da não subida do preço do leite. Esperemos que a curto prazo estas dificuldades possam ser minimizadas. Quantas secções existem na vossa Cooperativa. O que vos levou a criá-las? Neste momento quatro: Leiteira – para a compra de leite aos nossos Associados e posterior entrega à Agros; OPP/ADS – relacionada com a Sanidade Animal; Posto de Venda – por via do qual procuramos facultar os produtos ao mais baixo preço aos nossos clientes; Compra e Venda – compra de fatores de produção e de produtos agrícolas produzidos pelos nossos associados. Disponibilizamo-lhes, também, gratuitamente, um Gabinete de Contabilidade, desde que eles se comprometam a fazer as suas compras na Cooperativa. 12 . REVISTA AGROS Nº16 2 1. 1. Edifício da Cooperativa 2. Direção da Cooperativa. Da esquerda para direita: Paula Neto, Idalino Leão, e António Gomes. Neste momento, na região do Vale do Sousa a produção de leite não está entre as mais proeminentes. No seu entender a que se deve esta realidade? No que toca ao concelho de Paços de Ferreira, estamos em contraciclo, pois temos vindo a produzir cada vez mais. Na região do Vale do Sousa e Baixo Tâmega, somos a Cooperativa que mais leite entrega à Agros. Por outro lado, temos uma faixa etária bastante jovem de Produtores. Embora estes sejam em menor número do que há vinte anos atrás, produzimos muito mais leite do que então, e estou convicto de que assim continuaremos. Efetivamente, a nível regional, essa produção tem decrescido. Associo esse declínio a outras áreas de investimento, particularmente, ao kiwi e à vinha. É Presidente desta Organização desde fevereiro de 2012. O que preconiza fazer futuramente? Antes de mais, quero elogiar o trabalho realizado pelas anteriores direções desta Instituição. Quando tomámos posse, tínhamos algumas preocupações, umas mais prementes, outras, para serem tomadas com mais tempo. Queremos tornar esta “Casa” autossustentável, a médio e longo prazo. Nesse sentido, estamos a tentar criar um conjunto de “âncoras” de desenvolvimento. A este respeito, quero salientar que a incorporação de um Balcão da Caixa de Crédito Agrícola no edifício da Cooperativa servirá para cumprirmos esse objetivo. Pretendemos, igualmente, ter um armazém com mais e melhores produtos. A nível de serviços, desejamos fazer alguns investimentos no campo da Formação Profissional. Neste âmbito, a CONFAGRI poderá ter um papel muito importante neste nosso propósito. Desde o ano de 1951 que esta Instituição está ligada à Agros, U.C.R.L.. Considera profícua esta união? Sem dúvida, e temos muito orgulho nela. A Agros foi, é, e será, um bastião da Agricultura a nível Nacional e Regional. Estou convicto de que os nossos Agricultores sentem esse mesmo orgulho de estarem ligados a uma Organização como a nossa União de Cooperativas, que é o garante do escoamento do leite por eles produzido. Como analisa a situação do Setor Cooperativo em Portugal? Um momento de viragem para melhor. Repare que não foi ocasional, 2012, ter sido consagrado o Ano Internacional das Cooperativas. Os seus valores devem ser praticados por outros setores de atividade da nossa sociedade. Se assim for, todos temos a ganhar. É muito importante lembrar que o Norte é o “Coração do Cooperativismo”. Aliás, os resultados apresentados pelas Cooperativas do Entre Douro e Minho são um exemplo de trabalho na sua região. O Setor leiteiro, sem um Movimento Cooperativo forte, não teria tido os resultados que apresentou. Fomos e somos tidos como exemplo da Agricultura Nacional. As fileiras do Vinho e do Azeite estão a seguir esse mesmo caminho, e os resultados estão à vista. O que espera da Nova PAC? Tenho muito receio. O que está em cima da mesa não tem em conta as necessidades do País e da Região. Este documento foi redigido de, e para os países do Norte e Centro da Europa, logo, atendeu, claramente, aos seus interesses. Em razão do que foi dito anteriormente, apelo aos Governantes do nosso País e à CONFAGRI que defendam a Agricultura Nacional, em especial, a da nossa circunscrição geográfica. Se a Nova PAC for aprovada, vamos todos sofrer muito, em especial, os Homens da Terra do Norte de Portugal. No seu entender, o que acarretará o fim das quotas leiteiras em 2015? Essa situação é tida como certa, logo, avizinham-se problemas acrescidos para o Setor. Tem-se dito que os contratos poderão vir a substituir este mecanismo de regulação de mercado, mas, com toda a certeza, não surtirão o mesmo efeito. Os Países como Portugal, e as Regiões como o Entre Douro e Minho, ficarão mais desprotegidos. Todos os intervenientes – Produtores, Organizações, Empresas, Distribuição e o MAMAOT – devem unir esforços para encontrar uma solução que garanta o escoamento do produto a um preço justo. Todas estas vicissitudes, não serão um entrave para o aparecimento de Jovens Agricultores? A vida agrícola nunca foi fácil, nem nunca o será. Mas ser Agricultor é mais do que uma profissão. É uma forma de estar na vida. Obviamente que, todas estas situações faladas, em nada ajudam aqueles que se dedicam a esta atividade. Mas estou convencido que com perseverança e apelando ao espírito Cooperativo de todos nós, Homens da Terra, conseguiremos minorar todos estes impactos e tornar esta atividade mais atrativa e rentável para todos aqueles que dela dependem. No passado dia 15 de fevereiro, a vossa Instituição comemorou o seu 38.º Aniversário. O que lhe apraz transmitir aos vossos associados. Sobretudo, passar-lhes uma mensagem de confiança, cooperação e partilha. Considero que uma das mais-valias desta Direção é que somos todos Agricultores, logo, sentimos na pele as dificuldades que afetam o Setor. Neste contexto, posso dizer-lhe que trabalharemos afincadamente para acautelar os interesses dos nossos Associados. A existência de uma Cooperativa Agrícola só faz sentido se for para estar ao serviço dos Agricultores, caso contrário, a sua existência não tem razão de ser. Assim foi ao longo de todos estes anos e assim continuará, certamente, a ser no futuro. REVISTA AGROS Nº16 . 13 A Agros em... Exploração Manuel António Santos Coelho Soc. Agrí. BHD57 Naturalidade/Residência Sanfins de Ferreira (Paços de Ferreira) Formação – 6.º Ano de escolaridade; – curso de Práticas Administrativas; – curso de Higiene e Segurança no Trabalho; – curso de Fitofármacos ; – curso de Jovem Empresário Agrícola. FILIPE SILVA ARQUIVO AGROS, U.C.R.L. Objetivos futuros: – aumentar o efetivo; – produzir leite com mais e melhor qualidade; – garantir um cada vez melhor bem-estar animal. Quota Leiteira e Produção Média Mensal na presente campanha (2012/2013) Quota leiteira – 632.386 Kg. Produção média mensal – 47.000 Lt. Experiência profissional – adquirida na exploração. A ntes de se iniciar nas lides agrícolas, o Senhor Manuel Coelho trabalhava na indústria têxtil. Por essa altura, a sua progenitora, conjuntamente com seu avô materno, tinham uma pequena exploração com dezoito animais. Posteriormente, em 1998, este agricultor decidiu dar seguimento a este projeto. «Todavia, só “herdei” esses animais. Tudo o resto foi construído de raiz e adaptado às necessidades existentes. Num primeiro momento, tive necessidade de comprar algumas vacas, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Foi assim que consegui aumentar o efetivo. Mas, desde de há quatro anos a esta parte, só temos animais nascidos neste espaço.» De igual modo, foi enaltecido o trabalho desenvolvido pela Cooperativa “ A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira. «Têm-nos ajudado muito. Inclusive, neste momento, estamos a frequentar, nas suas 14 . REVISTA AGROS Nº16 instalações, um curso relacionado com a Higiene e Segurança. Quero, igualmente, realçar o labor desenvolvido pelos técnicos do Departamento de Produção de Leite da Agros. Estão sempre à nossa disposição para solucionar qualquer problema ou para me aconselharem.» Relativamente ao futuro, «é óbvio que desejamos ampliar, quando for oportuno, a área da exploração e apetrechá-la com outros equipamentos. Porém, só o vamos fazer quando considerarmos propício. O próximo investimento será o aumento da ordenha, pois, neste momento, demoramos muito tempo nessa tarefa. É lógico que estou a pensar em tudo isto, tendo quase como certeza, que, pelo menos, um dos meus dois filhos – João Pedro (15 anos) e Diogo (8 anos) – levará por diante esta atividade. Penso que o mais pequeno tem mais apetência, apesar de ainda ser cedo para pensar O concelho de Paços de Ferreira, em contraciclo com o que acontece neste momento na região do Vale do Sousa, está a aumentar a produção de leite. Para tal desiderato, em muito tem contribuído o trabalho levado a cabo pelos Associados da Cooperativa “ A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira”. O Senhor Manuel Coelho, conjuntamente com sua esposa, D. Liliana Marques, estão, obviamente, incluídos e envolvidos neste projeto de projeção da Fileira. No entanto, cientes de que ainda muito há por fazer, ao longo, destas duas últimas décadas, têm vindo, de um modo sustentado e equilibrado, a modernizar a sua exploração agrícola. O labor levado a cabo por estes dois jovens Empresários Agrícolas deve ser exemplo para outros, pois consideramos que a atividade agrícola, muitas vezes, para além de ser o sustento para muitas famílias, é, também, um modo de estar na vida. RECURSOS HUMANOS Nesta exploração laboram, em permanência, duas pessoas: o Senhor Manuel Coelho, que se dedica, quase exclusivamente à alimentação animal, e sua esposa, D. Liliana Marques, mais ligada ao trabalho da ordenha e limpeza. Quando necessário, recorrem a serviços prestados (pessoas e maquinaria), nomeadamente para lavrar os campos. DESCRIÇÃO DO EFETIVO, DA ÁREA OCUPADA PELA EXPLORAÇÃO, DOS EQUIPAMENTOS E DAS MÁQUINAS AGRÍCOLAS O efetivo é composto, aproximadamente, por cerca de 113 animais (62 adultas – 50 em lactação; 12 secas; e 51 novilhas). Possui uma área de 18 hectares (todos eles alugados), divididos para vários tipos de produções, cultivando-se, no Outono/Inverno, erva, e, na Primavera/Verão, milho. Têm, entre outros, os seguintes equipamentos: dois tratores, uma cisterna, um Unifeed, e um semeador. nessa situação.» Relativamente ao futuro deste Setor, este Empresário Agrícola vaticina que «a Agricultura é das poucas áreas que pode ajudar o nosso País a sair desta situação. Não obstante, isso só será possível se produzirmos cada vez mais e melhor, para, assim, vermos os nossos produtos reconhecidos.» Acerca do tão propalado fim das quotas leiteiras e sobre a PAC após 2015, o Senhor Manuel Coelho não tem dúvidas de que, «em relação à primeira situação, poderemos vir a sofrer as consequências dessa decisão, pois, em Portugal, produzimos muito menos do que alguns países, os quais, para escoar a sua produção, colocam no mercado o leite a um preço baixo. Por essa razão, tenho algum receio em relação ao futuro da fileira. Quanto à PAC, penso que deve ser revista, sob pena de vermos, novamente, os Estados do Sul da Europa a serem prejudicados em relação aos do Norte. Como MANEIO ALIMENTAR Vacas leiteiras (silagem, palha e migalha), secas (ração e palha seca); novilhas (farinha concentrada e rolos). DADOS SANITÁRIOS Possui o estatuto indemne para a Peripneumonia contagiosa dos bovinos, Tuberculose, Brucelose e Leucose. Todos os animais estão vacinados contra o BVD e o IBR, e estamos inscritos no Programa da Qualidade do Leite (SEGALAB). tal, e mais do que nunca, o espírito Cooperativo deve estar bem vincado e evidente. Contudo, só isso não chega. É preciso que os dirigentes políticos pensem em estratégias capazes de atenuar estas e outras situações. Repare, o preço das rações sobem, assim como o gasóleo, mas o leite não. Algo está mal. Se os subsídios acabarem, a nossa vida ficará ainda mais difícil. É urgente precaver esta eventualidade. Devemos trabalhar cada vez mais e melhor e não fazer grandes investimentos, uma vez que, os próximos tempos, serão de incerteza.» Em relação ao trabalho desenvolvido pela Agros, U.C.R.L. nesta região, o nosso interlocutor enalteceu a sua atuação: «Sempre que foi necessário, esteve do nosso lado. Logo, devemos ser-lhe sempre gratos. Sem o seu suporte, muitos de nós, certamente, já não seriamos Produtores de leite.» REVISTA AGROS Nº16 . 15 A Agros em... 1 Descobrir Paços de Ferreira FILIPE SILVA CAMÂRA MUNICIPAL DE PAÇOS DE FERREIRA A ocupação deste território, localizado num planalto conhecido por “ Chã de Ferreira”, remonta a tempos imemoriais. Os melhores vestígios deste passado ancestral são o Dólmen de Lamoso e a Citânia de Sanfins (século II a.C.), considerada uma das mais importantes estações arqueológicas da Proto-história do Noroeste Peninsular. Próximo dela, podemos visitar o Museu Arqueológico, instalado no Solar dos Brandões, cujo espólio nos transporta até essa era da História da Humanidade. Nos séculos subsequentes, sucessivos povos por aqui passaram, com especial ênfase para os Romanos, cujas necrópoles, são o testemunho vivo dessa fixação territorial. No século XI, mais propriamente em 1258, a Vila de Ferreira já aparece nas Inquirições como terra realenga. Posteriormente, no século XVI (1514), o rei D. Manuel I concede um Couto dependente da antiga Vila de Ferreira. Nessa época, tempos da fundação da 16 . REVISTA AGROS Nº16 5 nacionalidade, começou a florescer uma sociedade hierarquizada, e, como resultado dessa tipificação, a divisão da propriedade segundo os preceitos feudais. Corolário dessa pujança económica e social, foi a construção do majestático templo de S. Pedro de Ferreira, incluída na Rota do Românico do Vale do Sousa, e que, à época, foi o eixo central na vida desta Comunidade. Porém, por esta altura e nos séculos subsequentes, outras “peças” patrimoniais foram adereçadas à paisagem: a Igreja de S. Salvador; a Capela de S. Tiago; a Capela de S. Francisco e Casa do Hospício, em Freamunde; a Igreja Matriz de Carvalhosa, cuja arquitetura a torna num exemplo peculiar em Portugal (entre outras características, pelo facto de o seu interior estar dividido em duas amplas naves exatamente iguais); o Pelourinho de Paços de Ferreira; e o Cruzeiro dos Templários. A escultura, azulejaria, pintura e talha dourada, são, outrossim, aspetos que realçam a religiosidade deste povo. Por outro lado, os moinhos e os palheiros mesclam-se entre os 1. Mosteiro de Ferreira 2. Citânia de Sanfins 3. Igreja de Carvalhosa verdes campos e as ribeiras, conferindo à paisagem uma ambiência bucólica. Em 1836, após as reformas administrativas encetadas por Mouzinho da Silveira, com a anuência da Rainha D. Maria II, Paços de Ferreira foi elevada à categoria de concelho, e à de cidade, em 1993. Todavia, a outrora vila rural, ponteada por lugares e quintas, casas graníticas e solares, símbolos de uma velha e poderosa aristocracia, com o passar dos anos, transformou-se numa urbe moderna. Felizmente, algumas reminiscências desses tempos ainda subsistem: as antigas Escolas Primárias, algumas casas antigas, como por exemplo, a Quinta das Uveiras (século XIX), a Casa da Torre (quinta da família de D. Sílvia Cardoso – famosa benemérita pacense – que contém uma capela datada de 1898), e a Casa da Coquêda, que tal como o nome o indica, tem traços da arquitetura brasileira. Como feição relevante dessa mesma ruralidade, até há bem pouco tempo, no centro da cidade, existia uma Estação Agrária, adstrita ao Ministério da Agricultura, onde, entre outras atividades, se efetuava a criação de gado, produção de leite, cereais e forragens. Existia aí, também, um espaço para a confeção e venda do “Queijo de Paços”. Em 2005, procedeu-se à sua desativação, mas, recentemente, este imóvel foi reaproveitado e inserido no Parque Urbano, local, por excelência, para a prática de atividades desportivas e de lazer. Hoje em dia, a sua laboração resume-se, apenas, à produção de milho. Paços de Ferreira assume o epiteto de “capital do móvel”, em razão da enorme quantidade de unidades fabris que por aqui proliferam. Num concelho com um elevado índice de população jovem, mais da metade dos seus habitantes trabalha no setor secundário, mais especificamente, no do mobiliário, estando, de igual modo, disseminada por outras áreas de atividade, nomeadamente, têxtil, metalomecânica, alimentar, serração de madeiras e transformação de granitos. Mas, a agricultura continua a ser muito importante para esta região, em particular, a produção de leite, batata, milho, produtos hortícolas e vinho. 4. Pelourinho 5. Parque Urbano (Antiga Agrária) 2 3 4 REVISTA AGROS Nº16 . 17 Produzir Leite de Qualidade LEITE DE QUALIDADE ISABEL SANTOS Médica Veterinária da C.A.V.C. ANA GOMES Técnica Responsável do Projeto LeiteSaudável - C.A.V.C. 18 . REVISTA AGROS Nº16 LeiteSaudável foi um projeto, promovido em copromoção entre a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde,CRL (C.A.V.C.), o Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias e Agroalimentares (I.C.E.T.A.) e a União das Cooperativas de Produtores de Leite de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, U.C.R.L. (AGROS). Com esta iniciativa levaram-se a cabo atividades de Investigação Industrial no sentido de adquirir novos conhecimentos e capacidades no âmbito dos sistemas de produção de leite de vaca, bem como desenvolver novos produtos para introduzir no mercado. Deste fizeram parte diferentes ações interligadas, tais como, certificação das explorações, melhoria da qualidade do leite, através da implementação de programas inovadores ao nível da exploração, produção de leite com gordura mais saudável e redução do impacto negativo das explorações no ambiente. Atualmente, os produtores de leite enfrentam uma série de problemas conjunturais que desvalorizam o seu produto no tando riscos para a saúde pública. A qualidade do leite é definida por parâmetros de composição, microbiológicos, sanitários e químicos. Os teores de proteína, gordura, lactose, sais minerais e vitaminas determinam a qualidade da composição, que, por sua vez, é influenciada pela alimentação, maneio e genética do animal, entre outros fatores. Os testes utilizados para avaliar os restantes parâmetros de qualidade do leite constituem normas regulamentares, em que são avaliadas, sobretudo, a contagem total de microrganismos, a pesquisa de microrganismos patogénicos, a contagem de células somáticas, bem como a deteção de conservantes químicos e de resíduos de antibióticos . De facto, não é possível manter um efetivo leiteiro totalmente livre de doenças, mas uma exploração controlada do ponto de vista higio-sanitário tem melhores índices de produção, produz leite de melhor qualidade e, consequentemente, torna-se mais rentável. IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE QUALIDADE DO LEITE Num programa de qualidade do leite, a identificação de pontos críticos de controlo, o estabelecimento de critérios de avaliação e monitorização, a verificação constante desses pontos e a recomendação de ações corretivas são os primeiros passos para assegurar a higiene e a qualidade do produto à saída da unidade de produção. Os indicadores fornecidos por empresas de recolha de leite apontam para níveis muito elevados de cumprimento, relativamente a parâmetros de saúde e de higiene, até porque o pagamento do leite é realizado de acordo com a qualidade da matéria-prima. Assim, o custo associado à implementação de um programa de qualidade de leite é pouco significativo, quando comparado com os benefícios económicos que pode trazer à exploração. Ao longo dos três anos do Projeto LeiteSaudável, as explorações implementaram um programa de qualidade do leite, onde foi feito um levantamento inicial da situação de cada exploração e posterior aconselhamento de medidas corretivas adaptadas a cada exploração. O nosso trabalho incidiu, sobretudo, nas seguintes áreas: controlo dos parâmetros do leite de tanque (essencialmente contagem total de microrganismos e contagem de células somáticas), análise do contraste leiteiro, identificação dos agentes atogénicos de mastites e prevenção de resíduos de inibidores no leite. mercado. Apesar desta realidade, a produção de leite nacional tem vindo a ser marcada por um contínuo processo de especialização dos métodos de produção e pela valorização dos parâmetros que garantem a qualidade do leite. Neste contexto, os produtores necessitam de apoio técnico especializado que lhes permita responder a estas exigências, garantindo uma melhor eficiência, rentabilidade e motivação no exercício da sua atividade. Do ponto de vista do controlo de qualidade, o leite e os derivados lácteos estão entre os alimentos mais testados e avaliados, pela facilidade de amostragem, pela importância que representam na alimentação humana e pela sua natureza perecível. MAS O QUE É LEITE DE QUALIDADE? É o leite produzido por vacas saudáveis e bem alimentadas, que conserva as suas qualidades nutritivas ao longo de todas as etapas da cadeia de produção até ao consumidor, não apresen- CONTROLO DOS PARÂMETROS DO LEITE DE TANQUE CONTAGEM TOTAL DE MICRORGANISMOS Por maiores que sejam os cuidados de higiene na produção de leite, é praticamente impossível obter leite livre de microrganismos contaminantes. Por isso, estão definidos números máximos aceitáveis, com base nas alterações que estes causam no leite e derivados, cujo valor, para a União Europeia, se encontra nos 100.000/ml. Esta avaliação é muito importante para a determinação da qualidade do leite cru, pois será um indicador das condições de higiene em que o leite foi produzido e armazenado, desde o processo de ordenha. CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS Células somáticas são primariamente leucócitos ou células brancas do sangue (macrófagos, linfócitos e neutrófilos) e algumas células epiteliais de descamação, que passam para o leite em resposta a uma agressão sofrida pela glândula mamária. A principal causa do aumento da contagem de células do leite REVISTA AGROS Nº16 . 19 (%) (%) (%) (%) (%) (%) % de animais em lactação Tipo de infeção % de animais em lactação % de animais emnão lactação Tipo de infeção Tipo de infeção infetados não infetados não infetados 15 Tipo de infeção Tipo de infeção % de animais em%lactação de animais em lactação15 15 90 não infetados não infetados % animais com 90 90 % animais com % animais cominfeção crónica 89 10 15 15 infeção crónica infeção crónica 89 8990 10 10 90 88 % animais com animais com % animais%com 88 8889 % animais com % infeção animaiscrónica com novas infeção infeção crónica 89 5 10 10 87 5 5 87 8788 novas infeção novas infeção 88 86 % animais com % animais com 86 8687 5 5 0 87 novas infeção novas infeção 85 0 0 85 8586 2010 2011 2012 86 2010 2011 2012 2012 0 2010 2011 020122010 2011 2012 2010 852011 2010 2012 2011 85 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2012 2010 20112010 20122011 Risco de infeção Probabilidade de cura Risco de infeção Risco de infeção Probabilidade de cura Probabilidade de cura 0,20Risco de infeçãoRisco de infeção 15 Probabilidade de cura Probabilidade de cura 0,20 15 0,20 15 0,15 0,20 0,20 15 15 10 0,15 0,15 10 10 0,10 0,15 0,15 0,10 0,10 10 10 5 5 5 0,05 0,10 0,10 0,05 0,05 5 5 0 0,00 0,05 0,05 0 0 0,00 0,00 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2012 2010 2011 2010 2012 2011 2010 2011 2012 2010 2011 2012 0 0 0,00 0,00 2010 2011 2012 2010 2011 2012 2010 2011 2010 2012 2011 2012 (%) (%) (%) (%) Produzir Figura 1: Indicadores da saúde do úbere das explorações integrantes do projeto LeiteSaudável, ao longo dos 3 anos de execução do mesmo, usando da saúde dointegrantes úbere das explorações integrantes doao projeto ao longo dos 3 anos de execução do mesmo, usando Figura 1: Indicadores daFigura saúde 1: doIndicadores úbere das explorações do projeto LeiteSaudável, longoLeiteSaudável, dos 3 anos de execução do mesmo, usando o ano de 2009 como referência. o ano de 2009 como referência. o ano de 2009 como referência. Figura 1: Indicadores Figura da saúde 1: Indicadores do úbere das daexplorações saúde do úbere integrantes das explorações do projetointegrantes LeiteSaudável, do projeto ao longo LeiteSaudável, dos 3 anos de aoexecução longo dosdo3 mesmo, anos de execução usando do mesmo, usando o ano de 2009 como referência. o ano de 2009 como referência. é a resposta inflamatória da glândula mamária, que, na maioria Com base nos dados da contagem de células somáticas indiviIdentificação dos agentes patogénicos dedo mastites dos casos, é resultado de uma infeção, a mastite. Esta é uma duais contraste leiteiro, foi realizada uma análise de parâIdentificação agentes patogénicos de mastites Identificação dos agentesdos patogénicos de mastites metros indicadores da saúde do úbere dos animais do efetivo, das infeções mais frequentes que afetam os efetivos leiteiros, Identificação Identificação dos agentes dos patogénicos agentes patogénicos de mastites de como taxa demastites animais infetados (contagem de células somáticas levando a significativas perdas económicas, por redução na As mastites, nos bovinos, estão associadas a uma grande variedade de agentes infeciosos, podendo estar envolvidas As mastites, bovinos, associadas a uma de grande variedade de agentes infeciosos, estartaxa envolvidas As mastites, bovinos, estão nos associadas uma rejeitado, grande variedade agentes podendo estar acima deinfeciosos, 200.000/ml) vs taxa deenvolvidas nãopodendo infetados, de mastites produção dos nos quartos mamários, perda doaestão leite diferentes espécies de vírus, fungos e, principalmente, bactérias. Assim, como é grande a variedade de agentes crónicas e de novas infeções, entre outros… Foram ainda calcugastos com mão de obra e medicamentos, desvalorização dos diferentes espécies de vírus, fungos e, principalmente, bactérias. Assim, como é grande a variedade de agentes diferentes espécies de vírus, fungos e, principalmente, bactérias. Assim, como é grande a variedade de agentes As mastites, nos As bovinos, mastites, estão nos associadas estão a umaassociadas grandeconstitui variedade a umaogrande de agentes variedade infeciosos, de agentes podendo infeciosos, estar podendo estar envolvidas etiológicos de mastite, obovinos, exame microbiológico método padrão para o diagnóstico dosenvolvidas agentes implicados lados indicadores como a probabilidade de cura e o risco de animais pela redução funcional dos quartos implicados e, até etiológicos de mastite, o exame microbiológico constitui o método padrão para o diagnóstico dos agentes implicados etiológicos deespécies mastite, o exame microbiológico constitui o método padrão para o diagnóstico dosvariedade agentes implicados diferentesnesta diferentes de vírus, espécies fungosdados de e, principalmente, vírus, fungos e, principalmente, bactérias. Assim, bactérias. como é grande é grande de agentes a variedade de agentes doença, fornecendo seguros ao médico veterinário, com vista aAssim, adotaracomo medidas específicas de controlo. infeção associado a cada exploração (Figura 1). Como se pode mesmo, refugo precoce do animal ou morte. nesta odoença, fornecendo dados seguros ao médico veterinário, com vistapara a dos adotar medidas específicas controlo. nesta doença,defornecendo dados seguros médico veterinário, com vista aopara adotar medidas específicas de implicados controlo. etiológicos mastite, etiológicos exame de mastite, microbiológico oaoexame constitui microbiológico o método constitui padrão método o diagnóstico padrão oagentes diagnóstico dos agentesde implicados verificou-se evolução positiva dosde vários parâmeA contagem de células somáticas do leite de tanque do efetivo nesta doença, fornecendo nesta doença, dados fornecendo seguros aodados médico seguros veterinário, ao médico com observar veterinário, vista a adotar com medidas vista auma específicas adotar medidas de controlo. específicas controlo. tros estudados ao longo dos anos do projeto. é um indicativo da prevalência de mastite. Efetivos com baixas contagem de células somáticas apresentam menores perdas na produção e produzem leite com melhor qualidade composiIDENTIFICAÇÃO DOS AGENTES PATOGÉNICOS DE cional, tanto do ponto de vista nutricional, como do processaMASTITES mento. Adicionalmente, efetivos com baixa contagem de células Nos bovinos, as mastites estão associadas a uma grande variesomáticas usam menos antibióticos para tratamento de mastite dade de agentes infeciosos, podendo estar envolvidas difedurante a lactação, apresentando menor risco de contaminação rentes espécies de vírus, fungos e, principalmente, bactérias. do leite com resíduos de inibidores. O limite máximo para este Assim, como é grande a variedade de agentes etiológicos de indicador na União Europeia é de 400.000 cels/ml. mastite, o exame microbiológico constitui o método padrão Das explorações que integraram o Projeto LeiteSaudável, para o diagnóstico dos agentes implicados nesta doença, fornenenhuma ultrapassava esse limite aquando do início do mesmo. cendo dados seguros ao médico veterinário, com vista a adotar Contudo eram, por vezes, obrigadas a rejeitar leite para cumprir medidas específicas de controlo. este objetivo, principalmente nas fases em que a taxa de animais infetados era elevada. Num programa de qualidade do leite, se o animal é diagnosticado como infetado, é realizada a identificação do agente causador da ANÁLISE DOS DADOS DO CONTRASTE LEITEIRO infeção e, se necessário, os testes de sensibilidade a antibióticos, O contraste leiteiro consiste na avaliação da quantidade e quali- para que o tratamento mais eficaz possa ser aplicado o mais dade do leite, produzido por cada uma das vacas de uma explorapidamente possível. A realização de tratamentos em função ração, no decurso das sucessivas lactações. da identificação do agente aumenta a probabilidade de cura dos Os dados do contraste leiteiro são uma ferramenta muito útil animais. Além disso, o risco de aparecimento de resíduos de antipara a avaliação da taxa de mastites do efetivo, fornecendo bióticos no leite do tanque é reduzido através da implementação dados que, quando corretamente analisados, nos permitem de protocolos de tratamento, com combinações antibióticas calcular índices básicos de saúde do úbere e estabelecer um racionais (nas doses, vias de administração e posologia indicadas) plano de ação para melhoria destes mesmos índices. e mantendo registos dos tratamentos efetuados. Mensalmente, e com base nos dados obtidos do contraste leiteiro, foi realizada uma visita à exploração, durante a REDUÇÃO DO CONSUMO DE ANTIBIÓTICOS E ordenha, onde eram observados os animais infetados (com PREVENÇÃO DE RESÍDUOS NO LEITE contagem de células somáticas elevada nos resultados do Embora algumas ações, que tendo como objetivo o uso racional contraste leiteiro) e recolhida uma amostra para análise microde antibióticos, tenham sido realizadas no âmbito da saúde biológica dos mesmos. humana, o mesmo não acontece na pecuária, o que torna o Assim, o tratamento dos animais era realizado mais rapidamente combate à resistência bacteriana inviável, considerando que com o antibiótico indicado para o agente em causa, diminuindo cerca de 50% do consumo de antibióticos a nível mundial são os dias de rejeição de leite para cada tratamento efetuado. utilizados neste setor. 20 . REVISTA AGROS Nº16 Foi considerado o total de antibióticos intramamários, tendo-se depois separado os dados relativos aos antibióticos intramamários de tratamento de mastites na fase de lactação e os utilizados preventivamente na fase de secagem dos animais. Verificamos que o trabalho realizado ao longo dos três anos resultou numa diminuição significativa do consumo de antibióticos intramamários nas explorações em causa (Figura 2). 7,0 6,0 (%) 5,0 4,0 Período 1 3,0 Período 2 2,0 1,0 0,0 Total de intramamários / animal Intramamários de lactação / animal Intramamários de secagem / animal Figura 2: Consumo de antibióticos intramamários/animal em lactação. Período 1: 1 ano antes do início do Projeto; Período 2: 3 anos de execução do Projeto. Este decréscimo reflete a diminuição dos intramamários de tratamento na lactação, sendo que, no caso dos intramamários aplicados preventivamente na fase de secagem, como era esperado, existiu uma estabilização do seu projeto) até junho de 2012 (data do término do projeto). A As boas práticas na produção de leite visam assegurar que consumo. análise foi realizada por semestre, considerando o consumo de este é produzido por animais sãos, em condições de higiene Constatámos que nos intramamários de lactação houve uma diminuição de 2.13 injetores/vaca em lactação/semestre, intramamários por vaca em lactação. aceitáveis e que não veicule resíduos e contaminantes a níveis o que se traduz economicamente numa significativa redução de custos na aquisição de medicamentos, além da que comprometam a saúde humana. Para isso, aplicam-se dasanidade rejeição de leite associada dos de riscos para intramamários, a saúde pública. Foi consideradoeo total antibióticos tendomedidasdiminuição preventivas na animal, na higiene ao nível aos tratamentos Se, a de título dena exemplo, considerarmos umaanimal exploração com 100 animais em lactação, e tendo em que o preço se depois separado os dados relativos aosconta antibióticos intrada produção leite, alimentação, no bem-estar e dos intramamários de lactação variano aproximadamente 1 a 8 euros,deesta redução de pode traduzir-se numa poupança tratamento mastites na fase de lactação e os no ambiente envolvente e, cada vez menos, tratamento de de mamários de 426 a 3408a produção euros/anode emleite compra de antibióticos. utilizados preventivamente na fase de secagem dos animais. patologias. De facto, de qualidade, proveniente de animais saudáveis, é o objetivo das explorações. Mas, Verificámos que o trabalho realizado, ao longo dos três anos, quando eles adoecem e os tratamentos são necessários, os anti- resultou numa diminuição significativa do consumo de antibióConclusão ticos intramamários nas explorações em causa (Figura 2). bióticos devem ser usados de forma apropriada, prevenindo o aparecimento de resíduos no leite, maximizando a sua eficácia e A implementação de um de programa deresistentes. qualidade do leite nas explorações projeto LeiteSaudável melhorar Este decréscimodoreflete a diminuição dospermitiu intramamários de minimizando o desenvolvimento bactérias os indicadores de saúde do úbere, reduzindo o consumo de antibióticos intramamários no tratamento de tratamento na lactação, sendo que, no caso dos mastites. Assim, o uso de antibióticos numa exploração leiteira é uma Estade evolução impacto quer produtividade e rentabilidade da exploração, quer na saúde pública, intramamários aplicados preventivamente napor faseminimizar de secagem, ferramenta trabalhotem importante, parana o Produtor e Médico o aparecimento a antibióticos e o risco resíduos de inibidores noconsumo. leite. comode erapresença esperado, de existiu uma estabilização do seu Veterinário da exploração, de masresistências com as mudanças que se Constatámos que nos intramamários de lactação houve uma verificam na sociedade e as exigências do consumidor atual, diminuição 2.13 injetores/vaca emprodução lactação/semestre, as abordagens terapêuticas produção técnicos animal tendem a práticas Todos estes fatores em económicos, e de boas têm cadadevez mais relevância na leiteira, e oa que se traduz economicamente numa significativa redução sofrer grandes alterações, privilegiando estratégias preventivas sua melhoria deve beneficiar os produtores, porque garante a confiança do consumidor e a competitividade da cadeiade custos na aquisição de medicamentos, além da diminuição da baseadas no maneio e higiene. produtiva do leite, a médio e longo prazo. rejeição de leite associada aos tratamentos e dos riscos para a Neste sentido, o uso preventivo de antibióticos tem vindo a ser saúde pública. aconselhado em algumas fases da vida produtiva das vacas. É Se, a título de exemplo, considerarmos uma exploração com o caso da fase de secagem, em que está recomendado o uso 100 animais em lactação, e tendo em conta que o preço dos de antibiótico, por ser uma fase de elevado risco para o desenintramamários de lactação varia aproximadamente de 1 a 8 volvimento de mastite. Portanto, o uso de antibióticos intraeuros, esta redução pode traduzir-se numa poupança de 426 a mamários, no período seco das vacas leiteiras, foi uma prática 3408 euros/ano em compra de antibióticos. recomendada nas explorações deste projeto, sendo aplicado na última ordenha de cada lactação, cerca de dois meses antes CONCLUSÃO da data prevista para o parto. Esta prática diminui o número de A implementação de um programa de qualidade do leite nas infeções intramamárias existentes e previne o aparecimento de explorações do Projeto LeiteSaudável permitiu melhorar os indinovas infeções, durante as primeiras semanas do período seco. cadores de saúde do úbere, reduzindo o consumo de antibióAo longo destes três anos em que acompanhamos as exploraticos intramamários no tratamento de mastites. ções do Projeto LeiteSaudável, foi nosso objetivo reduzir o uso Esta evolução tem impacto, quer na produtividade e rentabide antibióticos intramamários para tratamento durante a fase da lactação, com diminuição do número total de dias em que os lidade da exploração, quer na saúde pública, por minimizar animais estão em tratamento. Através da escolha do antibiótico o aparecimento de resistências a antibióticos e o risco de mais indicado para o agente em causa, diminuímos os custos de presença de resíduos de inibidores no leite. Todos estes fatores económicos, técnicos e de boas práticas têm compra destes medicamentos e os custos indiretos associados cada vez mais relevância na produção leiteira, e a sua melhoria aos dias de rejeição de leite. deve beneficiar os produtores, porque garante a confiança do Para analisar os resultados obtidos, recolhemos os dados consumidor e a competitividade da cadeia produtiva do leite, a da compra de antibióticos intramamários nas explorações médio e longo prazo. do projeto, desde julho de 2008 (um ano antes do início do REVISTA AGROS Nº16 . 21 Divulgação CONFIANÇA E PERSO Estrutura Empresarial SOLIDEZ e FUTURO UCANORTE, U.C.R.L. 49% AGROS, U.C.R.L. 51% 32 ANOS de Atividade empresarial de apoio aos Produtores de leite e Cooperativas Mercadorias e Produtos Armazenamento Industrialização Comercialização Gestão de Mercados Mercominho - hortícolas e frutícolas Mercoflores - flores e plantas ornamentais UCANORTE XXI - UNIÃO AGRÍCOLA DO NORTE, U.C.R.L. 22 . REVISTA AGROS Nº16 Folgosa da Maia - Maia [email protected] Análises Solos, Plantas e Fertilizantes TEL. 229 865 010 FAX 229 865 019 ONALIZAÇÃO ALIMENTAR GRANULADOS PARA VACAS EM LACTAÇÃO GRANULADOS PARA ENGORDA DE NOVILHOS GRANULADOS PARA VACAS SECAS, VITELOS E NOVILHAS LEITES DE SUBSTITUIÇÃO PARA VITELOS PREMIU M 50 UCANORTE XXI_2012 UCANORTE XXI_2012 GRUPO COOPERATIVO AGROS UCANORTE XXI_2012 GRUPO COOPERATIVO AGROS GRUPO COOPERATIVO AGROS UCANORTE XXI_2012 GRUPO COOPERATIVO AGROS REVISTA AGROS Nº16 . 23 Destaque 1 38.º Aniversário da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira N o passado dia 15 de fevereiro, a Cooperativa Agrícola “A Lavoura” do Concelho de Paços de Ferreira celebrou o seu 38.º Aniversário. Neste contexto, realizou-se no Salão Nobre do seu edifício sede, uma sessão solene comemorativa desta data, destacando-se a presença do Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira – Senhor Pedro Pinto, do Presidente da CONFAGRI – Senhor Comendador Manuel dos Santos Gomes, e do Presidente da AGROS, U.C.R.L. – Senhor José Capela. Na sua intervenção, o Presidente da Cooperativa Agrícola “A Lavoura” – Dr. Idalino Leão – saudou todos os presentes e agradeceu o empenho dos colaboradores daquela Instituição na preparação deste evento. Destacou, ainda «o bom exemplo de parceria 24 . REVISTA AGROS Nº16 que a Cooperativa tem com a Câmara Municipal de Paços de Ferreira na criação e dinamização do Mercado Agrícola e na bolsa de terras concelhia.» Posteriormente, dirigiu-se aos Órgãos Sociais da nossa Organização, dizendo: «É uma honra receber a Direção da AGROS nas nossas instalações. “A Lavoura” de Paços de Ferreira é associada da nossa União de Cooperativas desde o ano de 1951, e temos muito orgulho dessa ligação. É muito importante e urgente os produtores aumentarem a sua liquidez mensal. Esse objetivo pode ser feito através da maximização de todas as empresas do Grupo AGROS, beneficiando, desta forma, todos com o efeito escala da União.» Subsequentemente, endereçou algumas palavras ao Presidente da 2 3 CONFAGRI: «É fundamental que esta Organização faça lobby no sentido de acautelar os interesses agrícolas desta região.» Mostrou-se, igualmente, muito preocupado com a nova PAC, nomeadamente «com os efeitos do greening e as consequências que daí poderão advir para a produção em sistema de minifúndio. Devem ser efetuadas alterações ao código cooperativo e criarem-se sinergias com as Instituições de Ensino, no sentido de, em conjunto, encontrarmos novos métodos de gestão e organização, potenciadores de aumentar a rentabilidade agrícola.» Terminou dizendo, «acredito em quem trabalha a terra. Portugal precisa dos agricultores, por isso, esta é a nossa hora. A aposta na agricultura deve assentar em dois pilares: um, de proximidade, que promova e incentive mercados e “nixos” locais, dependente apenas das Cooperativas e das Autarquias; e um outro, mais vocacionado para o mercado e para agroindústria, capaz de criar e desenvolver fileiras de negócio estratégico para a sobrevivência do nosso País. Este pilar é da responsabilidade das Organizações de agricultores e dos nossos governantes. Ser agricultor é mais do que uma profissão, é uma forma diferente de estar na vida. Não devemos ter medo ou vergonha do que fazemos. Alimentamos o mundo. Viva a produção nacional, viva “A Lavoura”.» Por sua vez, o Presidente da Agros, U.C.R.L., Senhor José Capela, aquando da sua intervenção, num primeiro momento, em nome da Direção da Agros, felicitou “A Lavoura” de Paços de Ferreira pelo seu 38.º aniversário. Seguidamente, focou alguns temas prementes para o setor agrícola/leiteiro, com especial relevância para o fim das quotas leiteiras e a Nova PAC. Enfatizou ainda a relação umbilical que une esta Empresa e as suas Cooperativas agrupadas, e que estas últimas «são corresponsáveis pela liderança destacada da Agros na recolha de leite a nível nacional.» A finalizar disse: «Acredito na competitividade do nosso setor pecuário de leite, na sua capacidade de se “reinventar”, na sua competitividade, mas acredito também, num Setor Cooperativo Agrícola forte, capaz de responder afirmativamente aos desafios atuais.» 1. Intervenção do Dr. Idalino Leão 2. Edifício Sede (década de 1960) 3. Edifício Sede (2013) REVISTA AGROS Nº16 . 25 Destaque FEIRA ANUAL DA TROFA 2013 1,2,3/Março O que podemos esperar da participação da Agros, U.C.R.L. neste Certame? Em todos os eventos de cariz agrícola em que estamos envolvidos, a nossa participação é, essencialmente, institucional. A Feira Anual da Trofa tem pergaminhos, não só no Entre Douro e Minho, mas também, em todo o país, e na vizinha Galiza. Não nos podemos esquecer que a “Bacia Leiteira” da Região está aqui. Por essa razão, esta é, igualmente, uma excelente oportunidade para algumas empresas do GRUPO AGROS divulgarem os seus equipamentos, produtos e serviços, junto dos Produtores de leite. O que mais o impressiona, positivamente, neste Evento? O crescente número de visitante, que, de ano para ano, aflui a este espaço. Esse é, sem dúvida, um sinal de vitalidade e notoriedade que este Evento já granjeou. Para tal, em muito, contribui a afluência dos Produtores de leite, sobretudo, da Região Norte de Portugal. Isso é visível ano após ano. Por outro lado, é de enaltecer como, num espaço relativamente pequeno, se consegue agregar atividades de índole agrícola, mas também outras com um cariz mais citadino. Esse é um dos grandes trunfos da Feira Anual da Trofa. JOSÉ CAPELA Presidente da AGROS, U.C.R.L. 26 . REVISTA AGROS Nº16 Qual o envolvimento da C.A. de Santo Tirso/Trofa neste Certame? Desde o início, temos prestado todo o apoio possível à sua Organização, quer a nível logístico, quer a nível de recursos humanos. Neste contexto, quero salientar a ajuda prestada nos Concursos que se realizam. Somos também parte interveniente, conjuntamente com a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte e a CONFAGRI, no Colóquio que, todos os anos, se realiza na Feira da Trofa. O controlo sanitário dos bovinos presentes – Raça Frísia e Autóctones, é, igualmente, incumbência nossa. Estamos a falar de um Evento, que, em todas as suas edições, recebe uma elevada afluência de público. O facto de o concelho da Trofa estar inserido na denominada “Bacia Leiteira” do Entre Douro e Minho, em muito, contribui para recebermos tantos visitantes, sobretudo, Produtores de leite. Futuramente, considera que a sua abrangência poderá ser alargada? Estou convicto de que sim, e estamos a trabalhar para isso. Tanto a Junta de Freguesia de S.M. de Bougado como a Câmara Municipal da Trofa, suas entidades promotoras, têm consciência da necessidade de se efetuarem alguns melhoramentos, nomeadamente, a nível das infraestruturas, para que, ano após ano, este certame atinja um patamar cada vez mais elevado, tendo-se sempre em conta a satisfação dos Criadores. Antes de cada edição, reunimonos com eles para aferirmos o que tem de se melhorado. Só assim, penso eu, poderemos avançar com otimismo e confiança no trabalho realizado. VÍTOR MAIA Presidente da Cooperativa Agrícola dos Concelhos de Santo Tirso e Trofa, C.R.L. Qual a importância desta feira para o Município da Trofa? É um acontecimento de âmbito nacional, centrado nos valores e nos produtos do Norte, assumindo grande relevância para o Concelho e para a economia da Região, e que, ano após ano, recebe um cada vez maior número de expositores e de visitantes. Esta iniciativa é uma mais-valia para a cooperação de sinergias, e para a afirmação e projeção da Trofa, mas também para o desenvolvimento rural e agrícola, por via da preservação de raças autóctones e da pecuária extensiva nacional, setores em que conseguimos distinguir os nossos produtos. Por outro lado, tem-se procurado fortalecer a internacionalização deste Certame, como exemplo de uma estratégia de desenvolvimento territorial e económico, que permite a criação de oportunidades de negócio que se prolongam para além da Feira. Estou convicta de que, se assim for, a sua Organização poderá aspirar a uma posição de relevo no panorama europeu do turismo de negócios na área da agropecuária e da tradição equestre. O que está preconizado fazer-se nesta Edição Anual da Feira da Trofa? Para esta edição da Feira vai manter-se a tradição dos eventos que já granjearam grande aceitação junto do público. Assim, evidenciam-se, ao longo dos três dias de Feira, os diversos Concursos referentes às distintas raças presentes, o Campeonato Regional do Norte de Equitação de Trabalho, a Monumental Garraiada, o Concurso de Modelos e Andamento, Provas de Horse Ball, o Desfile e a Gala da Confraria do Cavalo, com Reprise da GNR, as Cavalhadas e as demonstrações de Atrelagem e Horse Paper. As crianças das escolas do Concelho farão, no primeiro dia do Certame, uma visita ao recinto, e teremos ainda atividades direcionadas para agricultores e criadores, mas também para o público em geral, onde se distingue o folclore, o artesanato, a transmissão em direto do programa da TVI, “Somos Portugal”, uma mostra gastronómica, bem como a área de exposição e divulgação de produtos nacionais. Dr.ª JOANA LIMA Presidente da Câmara Municipal da Trofa Qual é a importância desta Feira para a freguesia de S. M. de Bougado? Devido ao seu enorme impacto económico, a Feira Anual da Trofa é um importante catalisador e potenciador de todas as atividades ligadas à agricultura e à pecuária no Concelho da Trofa, com especial realce, para os encontros aqui promovidos, os quais, se assumem como contributos fundamentais para o enriquecimento da solidez interprofissional e para o fortalecimento das áreas de atividade agropecuária. Uma qualidade reforçada pela modernização e profissionalização deste Certame, que reflete o aumento da competitividade do setor e da sustentabilidade do espaço rural, a nível nacional e europeu. O que podemos esperar da edição deste ano da Feira Anual da Trofa? Uma vez mais, podemos esperar a consubstanciação de um espaço de negócios, bem como de divulgação de produtos e serviços, para um público altamente qualificado. A verdade é que, hoje, mais do que nunca, a nossa Feira complementa e diversifica o seu impacto. Por outro lado, à grande qualidade apresentada nos concursos das raças autóctones e dos criadores nacionais, tem acrescentado uma forte aposta nas atividades em torno do Cavalo e das provas equestres, já com grande repercussão nacional e internacional, transformando a Trofa numa das principais “montras” do Cavalo no Norte de Portugal. Por todas estas razões, a nossa Feira Anual da Trofa voltará a ser palco da equitação tradicional portuguesa, das inúmeras e originais “casetas” dos criadores, do picadeiro central, que recebe as provas equestres agendadas. Realce-se, ainda, os muitos concursos de Preparadores e Manejadores da Raça Holstein Frísia e das Raças Minhota, Arouquesa e Barrosã. JOSÉ SÁ Presidente da Junta de Freguesia de São Martinho de Bougado REVISTA AGROS Nº16 . 27 Divulgação Exploração Manuel Júlio Matos Bogas Manhente - Barcelos “ A ordenha é mais suave, os tetos dos animais não ficam com tonalidade roxa. ” “ O nível de células somáticas diminuiu. ” COMPETÊNCIA E SOLUÇÕES RENTAVÉIS e d A H N A P M A C S E R O T COLE AÇÃO e PULS Exploração António Maurício da Silva Moreira Gemunde - Maia “ Foi dos melhores investimentos que já realizámos. ” Exploração Maria Joaquina Fernandes da Silva Macieira da Maia - Vila do Conde 28 . REVISTA AGROS Nº16 Flo-Sta Apartado 39 4481-953 Vila do Conde PORTUGAL [email protected] TEL. 252 241 240 BouMatic “ A ordenha é feita em menos tempo, 1 hora/dia. ” Exploração Sociedade Agropecuária Sepúlveda & Filho, Lda Adaúfe - Braga uar a n ti n o c emos cesso ! d n e t e r P su o r a h l ti utiliza. par uem já do por va Compro q Pulsador HiFlo ar MAX TM “ Os animais não sujam tanto e rejeito menos leite. ” Exploração Maria Alice Santos Ramos Figueira Rio Mau - Vila do Conde “ Os coletores são mais leves e o leite sai com maior rapidez. ” Exploração Maria Isabel Ferreira da Fonte Rates - Póvoa de Varzim REVISTA AGROS Nº16 . 29 Destaque SOCIEDADE AGROMANCELOS DISTINGUIDA PELA ASSOCIAÇÃO EMPRESARIAL DE VILA MEÃ FILIPE SILVA ARQUIVO AGROS, U.C.R.L. N o passado dia 23 de novembro de 2012, realizou-se, no Mosteiro de Travanca, a “Gala da Cruz”. Um dos objetivos subjacentes a este evento foi o de distinguir empresários e coletividades do Vale do Tâmega e Sousa, que se destacaram, em diversas áreas de negócios, ao longo do ano de 2011. Com esta iniciativa, a Associação Empresarial de Vila Meã pretendeu evidenciar e dar a conhecer o trabalho realizado, e, cujos resultados, aportam oportunidades e valor acrescentado a esta área geográfica, procurando, igualmente, ajudar estas empresas a encontrar estratégias, soluções e projetos sustentáveis. Estiveram presentes cerca de noventa pessoas (Empresários, Individualidades e Instituições). Nesta cerimónia foram atribuídos três categorias de prémios distintas: Revelação, Prestígio, e Coletividade. O 1.º Prémio para a Categoria Prestígio foi para a exploração Agromancelos, propriedade da D. Maria Manuela Marinho – secretária da Assembleia Geral da Agros, U.C.R.L.. Neste contexto, decidimos auscultar a sua opinião acerca do galardão recebido, aferir o que perspetiva para a agricultura nacional e para a produção de leite. O que significa para a D. Manuela Marinho este prémio? Para mim foi uma dupla alegria recebê-lo. Não só porque foi a nossa Exploração a premiada, mas também, em razão de estarem presentes Empresas com grande notoriedade nesta Região. Por outro lado, foi uma enorme satisfação termos estado, naquele dia, no Mosteiro de Travanca, a representar o Setor Agrícola. Considero que esta distinção veio, acima de tudo, demonstrar a importância que a Sociedade Civil lhe atribui. Num momento economicamente menos bom para o nosso País, considera que este tipo de iniciativas potencia o empreendedorismo por parte, neste caso concreto, dos empresários agrícolas? Penso que as pessoas estão cada vez mais conscientes da importância que, atualmente, a Agricultura tem para o nosso País. Estou certa de que o investimento no Setor Primário poderá ser uma das formas de contornar o momento que atualmente Portugal atravessa. Considera-se um modelo a seguir por outros Agricultores? Pelo menos, tento ser. Mas, como em tudo na vida, nada é perfeito. Há que trabalhar sempre mais e melhor. Tudo farei para incentivar outras pessoas a dedicarem-se “de corpo e alma” a esta atividade. Se puder servir de modelo, tanto melhor, pois é sinal de que as pessoas reconhecem o labor diário que, ao longo destas quase duas décadas, tanto eu como o meu marido, temos vindo a desenvolver, 365 dias por ano, 24 horas por dia. Esta distinção encoraja-vos a produzir cada vez mais leite e com melhor qualidade? O facto de termos sido reconhecidos entre cerca de meia centena de empresas, é, para nós, motivo de grande satisfação. Sinceramente, não esperávamos ser distinguidos. E esta menção revestiu-se de um simbolismo ainda maior, quando, entre as candidatas, estavam empresas de elevada envergadura. Posso dizer-lhe que, quando anunciaram o nome da Sociedade Agromancelos, tanto eu como o meu marido, nem queríamos acreditar. Mas, como é óbvio, foi muito bom vermos o nosso esforço e dedicação reconhecidos pela Associação Empresarial de Vila Meã. No seu entender, o que é que Empresários Agrícolas poderão começar a fazer para começar a reverter esta situação? Se for uma empresa que já trabalhe bem e seja responsável a nível económico, “é meio caminho andado” para não ser afetado. Mas, acima de tudo, temos de estar atentos a essa situação. Ao longo destes dezoito anos, conseguimos atingir os objetivos propostos, fazendo sempre os nossos investimentos a crédito. Todavia, atualmente, pensamos “duas vezes” antes de iniciarmos qualquer projeto. Acredita em dias melhores para a produção de leite no nosso País? Tenho essa esperança. Mas é necessário que os nossos governantes vejam a Agricultura como um setor capaz de ajudar o nosso País a sair do impasse em que nos encontramos. Existem situações que têm de ser revistas. Por exemplo, o custo dos fatores de produção é muito superior ao da recolha do leite. Para muitos Produtores, esta diferença está a tornar muito difícil a viabilidade económica das suas explorações. 30 . REVISTA AGROS Nº16