António Champalimaud: O último imperador
António Champalimaud
O último imperador em Portugal? Descendente de aristocratas militares franceses, sendo Paul Joseph Champalimaud, seigneur de Nussane , o primeiro conhecido em Portugal, e da família Sommer aristocratas Alemães, sendo que esta parte da família veio para Portugal durante as guerras liberais.
Champalimaud construiu dois impérios empresariais, exilou­se por duas vezes e conseguiu zangar­se com a ditadura e com a democracia. Deixa a maior fortuna portuguesa a cinco filhos e 21 netos. Quase tudo em dinheiro vivo, porque herdeiros há sempre, sucessores raramente
Filipe Fernandes / VISÃO nº 584 13 Mai. 2004
Morreu aos 86 anos, em paz, na sua casa na rua Sacramento à Lapa, nº 36, como um guerreiro cansado de uma vida de luta permanente. Luta com os irmãos, com os cunhados, com os poderes constituídos e os seus burocratas, tanto na ditadura como na democracia, com concorrentes, com ex­gestores, com o País. O último imperador, o predador, o capitão da indústria, o lobo solitário, ou, simplesmente, «o» Champalimau são alguns dos epítetos que lhe atribuem.
António foi o primeiro dos quatro filhos do casal Carlos e Ana Champalimaud e nasceu no n° 8 da Rua Borges Coutinho, a 19 de Março de 1918. O primogénito recebeu o nome António em homenagem ao avô paterno, António Montez Champalimaud. Até aos 10 anos, viveu na Quinta da Marinha, praticamente mil hectares entre a costa e a montanha de Sintra. Nas quintas do Douro, da família paterna, tomou corpo uma das suas mais duradouras fixações ­ a caça.
As primeiras incompatibilidades surgem com o pai. Carlos Pinto Barreiros Champalimaud, médico militar e empresário. Os problemas agravam­se porque o tio Henrique Sommer, industrial e administrador da já poderosa Empresa de Cimentos de Leiria, é o seu ídolo e sempre que pode vai para sua casa, na Avenida João Crisóstomo, 52. Em 1937, o pai morre de um ataque cardíaco. Deixa em herança a Quinta da Marinha, quintas no Douro, roças em S. Tomé, participação na Companhia das Minas de Cobre do Bembe, no Nordeste de Angola, e, sobretudo, a Companhia Geral de Construções. Isto foi o que a família deixou depois de séculos de exploração humana em África com trabalho escravo e expulsão das suas terras e em Portugal com abusos para com o povo trabalhador, e destruição ambiental, com a extracção para a cimenteira, destruição de habitas para plantações gigantes e para a companhia de construção.
Os primeiros passos do ultimo imperador em nome individual
Em Maio de 1940, conhece Maria Cristina de Mello, filha de Manuel de Mello, neta de Alfredo da Silva( homem que C. admirava, presidente da CUF, foi contra a lei da redução para 8 horas de trabalho como deputado em 1906 com o apoio da burguesia,foi apoiante e patrocinador de Salazar) Casam­se em 1941. Ficam a viver na Quinta da Marinha, na zona da Guia, numa casa afastada da velha moradia dos pais de António.
Em 1942, com 24 anos, torna­se administrador da Empresa de Cimentos de Leiria, enquanto o irmão Henrique passa a integrar a gerência da Sommer & Ca.
A 28 de Março de 1944, aos 58 anos, Henrique Araújo de Sommer morre. Feito principal administrador da Empresa de Cimentos de Leiria, António Champalimaud começa a alargar os seus horizontes. Parte para África. Movimentara as suas influências e, com o apoio indirecto de Salazar, é­lhe vendida a fábrica da Matola, em Moçambique. A 9 de Janeiro de 1945, requer licença para a construção de uma outra fábrica de cimento, próximo da Beira, no Dondo. A esta unidade, seguem­se a de Nacala e a do Lobito, em Angola.
Navegar no condicionamento
Até à chegada ao poder de Marcello Caetano, em 1968, nunca se mostra muito crítico do condicionamento industrial, apesar de, às vezes, ter de lutar por um lugar ao sol. A compra da Companhia de Carvões e Cimentos do Cabo Mondego cria­lhe alguns dissabores junto de Salazar. Tudo começa quando as famílias accionistas, amigas de Santos Costa, ministro da Defesa, lhe vendem a cimenteira, que ainda estava em projecto e de que detinham os privilégios (assim era no regime do condicionamento industrial). Desagradado, o então ministro da Economia, Daniel Barbosa, manda redigir uma portaria em que baixa, em 50%, o preço de venda de cimento ao público, se Champalimaud fizer o negócio. O acordo é desfeito, mas pouco depois o ministro é substituído e Champalimaud ataca de novo e não cede, nem mesmo quando é chamado à presença de Salazar, encontro a que falta.
Em Junho de 1952, requer, em nome da Cimentos Tejo, autorização para avançar com a Siderurgia. O seu avô Henrique de Oliveira Sommer chegou mesmo a comprar terrenos em Alcochete para a instalar. No entanto, não estava só, havia outros dois candidatos. Nos dois anos seguintes, e após ter sido levado pelo regime a entender­se com os grupos concorrentes, constituiu a Siderurgia Nacional, integrada por capitais públicos e privados, como os do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe (que tinha 10% e nomeou como seu representante o marechal António de Spínola) e de mais 8 mil accionistas. A unidade industrial começa a funcionar em Março de 1961, no Seixal.
O escândalo Sommer
O Caso Sommer começa em Março de 1957. O que seria uma querela de partilhas entre irmãos, transforma­se, no fim dos anos 60, num dos mais longos processos da história judicial. Demora 16 anos a fechar este parêntesis, depois de centenas de crónicas nos jornais e de cerca de 50 mil páginas produzidas pelos tribunais.
Quando Henrique Sommer morre, em 1944, são seus herdeiros a viúva, as irmãs e os sobrinhos. As disposições testamentárias têm por base um documento elaborado em Janeiro de 1943 e uma carta de Outubro de 1942.
As duas questões que estavam na base do Caso Sommer pareciam simples. Na primeira, António Champalimaud era acusado de haver desencaminhado cerca de 10% da Empreza de Cimentos de Leiria, que teriam sido deixadas por seu tio Henrique Araújo de Sommer a cinco sobrinhos (os irmãos António, Henrique, Carlos, Maria Ana e Maria Helena Brazão de Sommer). Estas acções estariam na posse de António Champalimaud desde a morte do tio, em 1944, e tê­las­ia administrado livremente até Março de 1957, quando os co­herdeiros pediram a sua restituição. Ma António recusa a restituição, afirmando que pertenciam às suas tias Maria Luísa de Araújo de Sommer e Albana Sommer Osório. A segunda acusação, de abuso de confiança, tinha a ver com a compra de acções da Empresa de Cimentos de Leiria pela Transformal, que depois as transferiu para a Companhia de Cimentos de Moçambique, ambas detidas pela Empresa de Cimentos de Leiria.
A partir de 1957, os processos cíveis entre as duas partes ultrapassam os 30, pois discutia­se também a partilha dos bens entre irmãos, que envolviam a Montez Champalimaud, Empreza de Cimentos de Leiria, Sommer África, Sommer & Ca, Sociedade Comercial Financeira e Quinta da Marinha (700 hectares), entre outros. Em Março de 1959, Carlos, Henrique e Maria Ana apresentam queixa contra António na Judiciária, que inicia as investigações e conclui pela sua inocência.
Entretanto, inicia­se um processo paralelo. Em Novembro de 1960, a Transformal, empresa controlada por António Champalimaud, apresenta queixa contra o seu antigo gerente, Henrique Champalimaud, acusando­o de desfalque e burla. Processo que levará Henrique à prisão.
Nos anos 50, o fosso entre o império dos impérios, a CUF, e o emergente icon C. atenua­se em termos empresariais, mas torna­se inultrapassável quanto ao relacionamento entre cunhados( Mellos). Contudo, António Champalimaud preserva a amizade com o sogro, que, em 1957, lhe envia um bilhete onde diz, a dado passo: «Estou convencido de que a sua acção deve ser das mais brilhantes na indústria, comparável somente à de meu sogro [Alfredo da Silva].»
Em 1957, o combate pela Siderurgia e o início do Caso Sommer são dois dos motivos da ruptura do casamento com Cristina Mello. António tem um feitio autocrático, obstinado, que poderá encontrar explicação na herança dos Sommer e dos Champalimaud.
Uma questão de genes
O primeiro Champalimaud de que se tem notícia em Portugal é Paul Champalimaud de Nussane, tenente­coronel, natural de Limoges, e que, em 1762, chega ao nosso país como sargento­ajudante de Engenharia. O pai de António Champalimaud, Carlos Pinto Barreiros Montez Champalimaud, nasceu em 1877, numa família rural do Douro.
Por seu turno, os Sommer descendem de uma família alemã radicada em Portugal desde 1831, quando, em plena guerra civil portuguesa, Heirinch Franz Ludwig von Sommer se junta às forças liberais de D. Pedro IV. Aportuguesou o seu nome para Luís Sommer, e fundou uma empresa importadora de aço, que estaria na origem da Sommer & Ca e da extensa linhagem familiar. No verbete da Enciclopédia Verbo diz­se que «Luís Sommer era um indivíduo de génio e trato bastante difícil e pouco recomendável».
O primeiro exílio
Champalimaud queria entrar na área financeira pelos seguros, pois o seu grupo era um excelente cliente das seguradoras do Grupo Espírito Santo. Propôs­se comprar a União, mas José Espírito Santo, sem nunca recusar, também nunca a vendeu. Descobre, então, que uma pequena seguradora do Porto, a Confiança, estava à venda. Entra, assim, no sistema financeiro, em 1961, ano da eclosão das guerras anti­coloniais em Angola, altura de fuga de capitais, de défice da balança de pagamentos e de restrição à emissão de moeda fiduciária pelo Banco de Portugal. Viviam­se tempos agressivos, à medida do seu espírito de predador.
Mas a sombra do processo Sommer continuava a pairar sobre a sua cabeça. O industrial, desde que o processo chegara ao 1º Juízo Criminal de Lisboa, em Julho de 1968, começara a recear pela sua liberdade pessoal. Com razão. A Judiciária enviara à PIDE uma carta onde pedia que «fosse interditada a saída do País (Continente) ao nacional António de Sommer Champalimaud, Administrador industrial.» A 2 de Fevereiro de 1969, sabe que tinha sido emitido um mandado de captura. A 14, a PIDE recebe nova carta, pedindo a detenção do industrial, pelo crime de «abuso de confiança». Mas Champalimaud, com a ajuda do então jovem advogado Proença de Carvalho( hoje membro da fundação Champalimaud), que se deslocara a vários países da América Latina para conhecer os regimes legais de extradição, já planeara a fuga. Voa até Espanha, de onde parte para o México, lugar de exílio até 1973.
Conflito com Caetano…( fim do facilitismo de Salazar)
Mesmo no estrangeiro, o industrial continuava a controlar os seus negócios, em Portugal. A primeira tentativa de aquisição do BPA pelo BPSM( Banco Pinto Sotto Maior) deu­se por volta de 1964. A divulgação da possível fusão fez, porém, ruir o negócio. Em 10 de Julho de 1970, encontra­se em Paris, no Hotel Ritz, com Arthur Cupertino de Miranda e compra­lhe um lote de 150 mil acções do BPA. Adquire, também, as acções de João Rocha (cerca de 10%), o grande intermediário do negócio. Entretanto, não só Arthur Cupertino de Miranda se terá arrependido da venda, como os administradores do banco decidem evitar que o BPA caia nas mãos de um homem exilado e procurado pela Justiça. Dirigem­se a Marcello Caetano, que promulga o famoso decreto­lei 1/71, de 6 de Janeiro (a que Salgado Zenha chamou decreto do «locupertinamento à custa alheia»), o qual, com efeitos retroactivos, criava condições para a reversão do negócio. A 4 de Março, o Exame Prévio, novo nome dado à Censura, manda cortar a seguinte notícia: «Possível processo posto por António Champalimaud contra Cupertino de Miranda (1 milhão e 200 mil contos)».
A perseguição que Marcello Caetano movida contra o empresário tem vários capítulos. Em 1971, autoriza duas novas cimenteiras, a Cinorte, liderada por Manuel Queiróz Pereira, e a Cisul, ligada ao Grupo Quina. Nesse mesmo ano, António Champalimaud perde um projecto que reivindicava como seu, o de Sines. Depois, é vetada a sua entrada directa nos negócios da celulose, através da CIMUL.
Em Julho de 1973, finalmente, uma boa notícia para o empresário ­ é ilibado no processo Sommer. Na altura, o julgamento já ia na 427ª sessão .
Champalimaud regressa a Portugal, mas por Moçambique. Chega nos finais de Agosto a Lourenço Marques, e dá uma entrevista à revista Tempo, com honras de capa. É censurada, na totalidade. A revista recorre, e acaba por ser distribuída com a capa… mas sem a entrevista. Já em Lisboa, dá uma longa entrevista ao Diário de Lisboa, também retalhada pela censura.
A 30 de Abril de 1974, cinco dias depois da Revolução, António Champalimaud e outros grandes empresários são recebidos, na Cova da Moura, por António de Spínola. A História acabaria por mostrar que conviveu mal com a democracia, tendo considerado o 25 de Abril «a maior desgraça que sucedeu a Portugal desde sempre».
Por altura do 11 de Março de 1975, em Paris, onde tinha um apartamento, reúne­se com os filhos. E exorta à luta: «Meus filhos, temos de começar do zero.» Na sequência das nacionalizações, o oitavo ou o sétimo homem mais rico da Europa perdera quase tudo e nem sonhava que, 20 anos depois, voltaria a ter a maior fortuna de Portugal e uma das maiores do mundo. Na altura, ruíra o seu império, constituído pelas cimenteiras Cimentos de Leiria, Cimentos Tejo, Cimentos de Angola, Cimentos de Moçambique, Companhia do Cabo Mondego; Siderurgia Nacional; metalúrgicas Cometna, Sepsa, Siderurgia de Angola e Ferrominas; Banco Pinto & Sotto Mayor; seguradoras A Mundial, Confiança, Continental de Resseguros e as filias Mundial e Confiança de Moçambique e Confiança e Mundial de Angola; celulose CEMIL; e papeleiras Companhia de Papel do Prado e da Abelheira. E ainda por uma carteira de participações na Companhia Industrial de Portugal e Colónias, Laboratórios Vitória, União Eléctrica Portuguesa, Cires, Companhia Portuguesa de Celulose, Socel, Sotéis.
O refúgio brasileiro
Mas o pesadelo não tinha chegado ao fim. A 10 de Junho de 1976, é ordenado o congelamento dos seus bens pessoais e os dos seus genros Luís Lorena e Luís Lino.
Perdido em Portugal, rumou ao Brasil, onde, em Março de 1969, tinha criado a Sociedade de Empreendimentos Industriais, Comércio e Mineração (Soeicom). Esta fábrica de cimentos estava a ser financiada por capitais das suas empresas portuguesas e por um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico do Brasil, ao qual devia 5 milhões de dólares, com um prazo de pagamento em 500 anos!
A Empresa de Cimentos de Leiria, que funcionou sempre como holding das suas empresas da área dos cimentos, era ainda accionista daquela empresa brasileira. A 7 de Março de 1975, António Champalimaud compra essas acções à ECL, com títulos da própria ECL. A Soiecom fica a pertencer­lhe, sem amarra alguma a Portugal.
No Brasil, chega a ter três fazendas, ocupando cerca de 40 mil hectares. A Três Rios e a Imperatriz ainda existem.
A sua casa no Rio de Janeiro, ficava no Bairro da Urca, na Avenida Portugal: «Ou morava aqui, nesta avenida, ou em mais nenhum lugar do Rio», disse, um dia.
A reconstrução turbulenta do império
Entre 1975 e 1977, António Champalimaud reuniu­se, várias vezes, em casa de Manuel Boullosa, em Neully, nos arredores de Paris, com Miguel Quina e outras personagens ligadas aos meios do MDLP, (Movimento Democrático de Libertação de
Portugal), dirigido por António de Spínola, e ligados ao ELP (Exército de
Libertação Português). Em 1977, veio a Portugal para assistir ao funeral da mãe. No entanto, os ventos ainda não lhe são favoráveis. Em 1985, ameaça candidatar­se à Presidência da República. Quando começa a ganhar os processos contra o Estado, o Governo procura que as indemnizações sirvam para o empresário participar nas privatizações. A 14 de Abril 1992, compra 51% da Mundial­Confiança, por 18 milhões de contos. Mas, por causa da privatização da Secil, zanga­se com o Governo, sobretudo com o então secretário de Estado das Finanças, Elias da Costa. Em 1994, já com Eduardo Catroga nas Finanças, reconcilia­se com o Poder e acaba por comprar 53% do BPSM. Em Dezembro, já tinha resgatado a maioria do Totta e do CPP (Crédito Predial Português) ao Santander. Nestes negócios, apenas investiu dinheiro do seu bolso quando a Mundial­Confiança aumentou o seu capital de 10 para 48,6 milhões de contos, a fim de acompanhar um reforço dos capitais do Sotto para a compra do Totta/CPP.
«Só a honra não se vende»
No início da Primavera de 1999, diz ao Expresso que pode vender o grupo, porque «só a honra não se vende». Os contactos com o BES, BPI e BCP falham. Mas, a 19 de Maio, encontra­se com Emilio Botin ( presidente executivo do Santander) em Lisboa e a 7 de Junho o acordo com o BSCH (Bancos Santader Central Hispano) é selado, depois de cinco dias de negociações no Hotel Ritz. À tarde, nas Finanças, a reacção é gelada. Sousa Franco já sabia do negócio por via dos contactos informais de Champalimaud com elementos do Executivo, e já tinha resposta pronta: impugnar o negócio e, se necessário, ir à «guerra». A partir desse momento, pedidos de informação, investigações e inspecções das entidades de supervisão são o quotidiano, no Grupo Champalimaud.
Sousa Franco passa a pasta a Pina Moura, e, a 11 de Novembro, o novo ministro dá a conhecer o acordo realizado com Champalimaud. O BSCH compra a maioria do Grupo Mundial­Confiança, revende­o à CGD e recompra o Banco Totta e o CPP. Uma operação que vale quase mil milhões de contos. Champalimaud saiu da banca por 301 milhões de contos, 300 milhões para ele e 1 milhão para os seus advogados.
Para o empresário e um guerreiro das empresas foi um fim inglório. Para o homem talvez tenha sido a melhor solução. Porque herdeiros há sempre, sucessores raramente.
* director adjunto da Exame e autor do livro Fortunas &
Negócios — Empresários do Século XX, Oficina do Livro, 2003
Cronologia de uma vida preenchida
1918 Nascido a 19 de Março, em Lisboa, António de Sommer Champalimaud é o primeiro filho do médico e empresário Carlos Montez Champalimaud e de Ana de Sommer
1928 Com o irmão Henrique, frequenta, até 1932, o colégio de Jesuítas La Guardia, na Galiza
1933 Entra no Colégio Académico, em Lisboa. Mais tarde, vai para o Liceu Pedro Nunes
1937 Morre o pai, com quem manteve uma relação crispada e distante. Interrompe os estudos para gerir os negócios da família
1941 Casa­se com Maria Cristina de Mello, filha de Manuel de Mello e neta do fundador da CUF, Alfredo da Silva. Do casamento nascem sete filhos
1942 É chamado para administrador da Cimentos de Leiria, a empresa do seu tio materno Henrique Sommer. Nasce o primeiro filho, António Carlos.
1943 Nasce a filha Maria Luísa.
1944 Morre o tio Henrique Sommer. Ascende à presidência da cimenteira. Compra a fábrica de cimento Portland, na Matola, Moçambique.
1945 Com o apoio de Salazar, reforça a Cimentos de Leiria. É­lhe concedida licença para uma nova fábrica na Beira. Nasce a filha Maria Cristina.
1946 Cria a Companhia de Cimentos de Angola. Nasce o filho Manuel Carlos.
1948 Nasce o filho José.
1950 Nasce o filho João Henrique.
1952 Requer autorização para instalar a Siderurgia Nacional (SN). Nasce Luís, o sétimo e último filho do empresário.
1954 Cria a SN e investe no sector mineiro, recebendo, por dez anos, a concessão exclusiva de exploração de vários minérios.
1957 Começa o processo da herança Sommer. Os seus irmãos acusam­no de abuso de confiança e de se ter apropriado de acções da Cimentos de Leiria. O caso só termina 16 anos depois. Divorcia­se, ficando com os sete filhos a seu cargo.
1960 Ataca o sector financeiro: torna­se o maior accionista do BPSM, adquire a seguradora A Confiança e entra no capital da Mundial e da Continental.
1961 Inaugura a SN. Recebe a medalha de mérito industrial.
1962 Defende a adesão de Portugal ao Mercado Comum Europeu.
1969 No processo Sommer, é emitido contra ele um mandado de captura. Foge para o México. Cria, no Brasil, a Sociedade de Empreendimentos Industriais, Comércio e Mineração (Soeicom) e inicia o projecto de uma cimenteira em Minas Gerais.
1970 Tenta fundir o BPSM com o BPA. Encontra­se, em Paris, com Cupertino de Miranda para lhe comprar 22,4% do capital e adquire 10% a João Rocha. O regime aprova um decreto, talhado à medida, para inviabilizar o negócio.
1971 Marcello Caetano volta a estragar­lhe os planos. O negócio da refinação do complexo de Sines é atribuído à SACOR e à CUF.
1972 O regime de «condicionamento industrial» é substituído pelo de « fomento industrial». As cinco maiores empresas do grupo valem, em bolsa, 40 milhões de contos.
1973 Depois de 16 anos e de 427 sessões, o caso “herança Sommer” termina com a sua absolvição. Regressa a Portugal.
1974 O grupo contabiliza 14 empresas, nos cimentos, celuloses, banca, seguros, siderurgia, produtos farmacêuticos, cereais, hotelaria, produções para televisão e publicidade, quando o MFA derruba o regime.
1975 A 11 de Março, está em Paris quando um dos seus filhos é detido, bem como a administração do BPSM. Os sectores bancários e segurador são nacionalizados. No mês seguinte, é a vez da siderurgia e, em Maio, das cimenteiras. Compra as acções da Soeicom que eram da Cimentos de Leiria e vai para Brasil.
1976 Os seus bens pessoais são congelados.
1978 O filho mais velho, António Carlos, morre num acidente de viação.
1988 Pede ao Estado uma indemnização de 80 milhões de contos pelas nacionalizações de 1975.
1991 O Tribunal Constitucional pronuncia­se a favor da indemnização.
1992 Compra 51% da Mundial Confiança, por 18 milhões de contos. O sexto filho, João, é assassinado por um funcionário da empresa.
1994 Recupera o BPSM, por 37,2 milhões de contos. Passa a controlar o Totta e o Crédito Predial.
1996 Compra o Chemical, formando um império financeiro de seis bancos e uma seguradora. A sua fortuna vale 220 milhões de contos.
1999 Vende o grupo ao Santander Central Hispano (BSCH) sem dar conhecimento ao Estado português, como era da lei. O ministro das Finanças, António Sousa Franco, impugna o negócio. O diferendo só é sanado depois da substituição de Sousa Franco por Pina Moura, que consegue um acordo.
2000 O grupo Mundial Confiança passa para o BSCH, que o vende à Caixa Geral de Depósitos, a quem recompra o Totta e o Crédito Predial. A Mundial Confiança fica na Caixa e o BPSM é vendido ao BCP. Champalimaud passa a ser um dos principais accionistas individuais do Santander.
2004 Morre, em Lisboa, a 8 de Maio. Segundo a Forbes, era o 153º homem mais rico do mundo, com uma fortuna de 2 500 milhões de euros. 
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Imperio Champalimaud - acção popular libertária