PROPOSTA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br)
ENTREVISTA
Leia atentamente as instruções que se seguem. Trata-se de excerto do Novo Manual da
Redação da Folha de S. Paulo, publicado em 1996. São apresentadas algumas regras e
indicações para a realização de entrevistas, que conformam a principal fonte de evidências – o
testemunho – para o jornalista. Tomando estas regras como referência, produza uma entrevista
(imaginária) com Joaquim Maria Machado de Assis, de forma a dele obter uma resposta
(exclusiva) para aquele que vem sendo considerado o grande enigma de sua obra: Capitu traiu
ou não traiu Bentinho?
Instruções para a produção e edição de entrevistas (extraídas do Novo Manual da
Redação da Folha de S. Paulo. São Paulo: PubliFolha, 1996).
entrevista - A maioria das notícias publicadas no jornal tem entrevistas como matéria-prima, embora nem
sempre pareça assim. A finalidade de caracterizar um texto jornalístico como entrevista é permitir que o
leitor conheça opiniões, idéias, pensamentos e observações de personagem da notícia ou de pessoa que
tem algo relevante a dizer. Em geral, a Folha adota o estilo indireto ao publicar entrevistas. Pode-se editar
entrevista na forma de pergunta e resposta (pingue-pongue) quando o entrevistado está em evidência
especial ou diz coisas de importância particular.O segredo de uma boa entrevista está na elaboração de
um bom roteiro. Levante sempre o máximo de informações sobre o entrevistado e o tema de que ele vai
falar. Com esse material em mãos, reflita sobre o objetivo a que pretende chegar. O melhor caminho é
redigir perguntas tão específicas quanto possível. Perguntas muito genéricas resultam em entrevistas
tediosas.Observe as seguintes recomendações quando fizer e redigir uma entrevista:
a) Marque-a com antecedência;
b) Informe o entrevistado sobre o tema e a duração do encontro;
c) Anote e, de preferência, também grave a entrevista, para poder reproduzir com absoluta
fidelidade eventuais declarações curiosas, reveladoras ou bombásticas;
d) Vista-se de modo a não destoar do ambiente em que será feita a entrevista, para não inibir
ou agredir o entrevistado;
e) Faça perguntas breves e diretas, que não contenham resposta implícita;
f) Identifique contradições, mencione pontos de vista opostos e levante objeções sem agredir o
entrevistado;
g) Não deixe de abordar temas considerados "sensíveis" pelo entrevistado. Faça perguntas
diretas e ousadas. Insista quantas vezes achar necessário se o entrevistado se recusar a
responder a alguma pergunta;
h) Registre essa recusa, se for significativa.
O entrevistado tem direito de retificar e acrescentar declarações. Se for relevante, o jornalista pode
registrar as duas versões (original e posterior). Se o entrevistado solicitar que certos temas não sejam
abordados, que as perguntas lhe sejam apresentadas por escrito e com antecedência ou que o texto final
seja submetido a ele antes da publicação, o jornalista deve consultar a Direção de Redação. Veja
anotações; declaração textual (no cap. Texto); gravador; ouvir o outro lado.
entrevista exclusiva - Concedida a um só jornalista ou veículo de comunicação. Se for grande seu apelo
jornalístico, a informação de que se trata de uma entrevista exclusiva deve constar na abertura do texto
na forma entrevista exclusiva e não entrevista exclusiva à Folha, o que seria redundante.
Não use a expressão entrevista exclusiva quando uma personalidade concede entrevistas individuais a
vários veículos de comunicação em um mesmo dia. Neste caso, use apenas a expressão em entrevista à
Folha.
Folha Observe esse critério com rigor, para evitar a autopromoção sem fundamento.
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entrevista pinguepingue-pongue - Publicada na forma de perguntas e respostas. Exige texto introdutório contendo
a informação de mais impacto, breve perfil do entrevistado e outras informações, como local, data e
duração da entrevista e resumo do tema abordado. Eventualmente, algumas dessas informações podem
ser editadas em texto à parte. O trecho com perguntas e respostas deve ser uma transcrição fiel, mas nem
sempre completa, da entrevista. Selecione os melhores trechos. Corrija erros de português ou problemas
da linguagem coloquial quando for imprescindível para a perfeita compreensão do que foi dito. Mas não
troque palavras ou modifique o estilo da linguagem do entrevistado. Se relevantes, eventuais erros ou atos
falhos do entrevistado podem ser destacados com a expressão latina sic entre parênteses. Restrinja o uso
desse recurso.
Recomenda-se ainda preservar a ordem original em que as perguntas foram feitas.
Para editar uma entrevista pingue-pongue, observe a seguinte padronização:
a) Texto introdutório em grifo;
b) Estrela separa texto introdutório da entrevista propriamente dita;
c) Cada pergunta é precedida pelo nome do jornal;
d) A primeira resposta é precedida pelo nome completo do entrevistado. As demais,
apenas pelo nome por que ele é mais conhecido;
e) As perguntas e o nome do entrevistado são editadas em negrito e grifo;
f) As respostas são editadas em texto redondo e normal;
g) Separe o nome do jornal e o nome do entrevistado da pergunta ou resposta por hífen.
Os hifens também vão em negrito e grifo.
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Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br)
ENTREVISTA COM MACHADO (Rubem Braga, 1958)
Repórter – O senhor gostava muito de jogar xadrez com o maestro Artur Napoleão, não é verdade?
Machado – “O xadrez, um jogo delicioso, por Deus! Imaginem a anarquia, onde a rainha come o peão, o peão come o
bispo, o bispo come o cavalo, o cavalo come a rainha, e todos come a todos. Graciosa anarquia...”
- Por falar em comer, é verdade que o senhor era vegetariano?
“...eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne.
Quando cheguei à idade da razão e organizei meu código de princípios, incluí nele o vegetarianismo; mas era tarde para a
execução. Fiquei carnívoro.”
- Que tal acha o nome da Capital de Minas?
“Eu, se fosse Minas, mudava-lhe a denominação. Belo Horizonte parece antes uma exclamação que um nome.”
- E a respeito da ingratidão?
“Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes cair das nuvens que de um terceiro andar.”
- E a imprensa do escândalo?
“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado.”
- E esses camaradas que estão sempre na oposição?
“O homem, uma vez criado, desobedeceu logo ao Criador, que aliás lhe dera um paraíso para viver; mas não há paraíso
que valha o gosto da oposição.”
- E o trabalho?
“O trabalho é honesto; mas há outras ocupações pouco menos honestas e muito mais lucrativas”
- E a loteria?
“Loteria e mulher, pode acabar cedendo um dia”
- E sobre dívidas?
“Que é pagar uma dívida? É suprimir, sem necessidade urgente, a prova do crédito que um homem merece. Aumentá-la é
fazer crescer a prova.”
- Pode me dar uma boa definição do amor?
“A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada.”
- O amor dura muito?
“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.”
- E a honestidade?
“Se achares três mil réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.”
- E o Brasil?
“O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.
- E os filhos?
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
- Muito obrigado, o senhor é muito franco em suas respostas.
“A franqueza é a primeira virtude de um defunto.”
- De qualquer modo, desculpe por havê-lo incomodado. Mas é que neste programa sempre entrevistamos alguém que já
morreu...
“Há tanta coisa gaiata por esse mundo que não vale a pena ir ao outro arrancar de lá os que dormem...”
Você que chegou até aqui, muito obrigado. Não foi absolutamente perda de tempo. Àqueles que acreditam unicamente no
conhecimento técnico, no aperfeiçoamento exclusivo de sua área de atuação, vale o remorso de Darwin.
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Ronaldo Martins (http://www.ronaldomartins.pro.br)
“Meu espírito parece ter-se convertido numa máquina de extrair leis gerais de grandes acumulações de fatos. (...) Se eu
tivesse que viver novamente minha vida tomaria como norma ler, ao menos uma vez por semana, algo de poesia, e ouvir
música”.
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Entrevista com Machado