Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste.
Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de maio de 2006.
TV DIGITAL NO BRASIL: DO SBTVD AO IMPASSE
Alex Pereira de Moura1
RESUMO
Apresentam-se as implicações decorrentes da possível implantação da TV
Digital no Brasil. A TV Digital é um sistema de transmissão de dados através de um
código binário no qual o som e a imagem são digitalizados, ou seja, transformados em
séries que combinam os dígitos 0 e 1 que, por sinal, é a mesma linguagem utilizada
pelos computadores. São apresentados aspectos fundamentais da TV Digital, dos
padrões já estabelecidos e o panorama brasileiro, além de referências ao potencial
multimídia deste sistema de comunicação e uma análise, através de estudos
exploratórios, das perspectivas de implantação de um sistema de TV Digital no Brasil
PALAVRAS-CHAVE: TV Digital, Sistema de Comunicação, Convergência
Em meados da década de 1980 a possibilidade de difusão digital de televisão era
considerada uma realidade muito longe de ser alcançada. O principal motivo para este
pensamento era a necessidade de se ter taxas de transmissão consideradas elevadas –
entre 108 a 207 Mbit/s – para não ser necessário o uso da codificação. (SÂMIA et al
2003).
Além das limitações tecnológicas, a TV Digital teve que disputar espaço com a
HDTV (High Definition TV). Segundo Zuffo (2001) o conceito que se tem de TV
Digital confundiu-se com o de HDTV. Enquanto a HDTV tinha a preocupação de
melhorar a imagem através da alta definição a TV Digital estava focada em aumentar o
número de canais, programas e serviços disponíveis, contudo ainda não havia sido
encontrada a solução tecnológica para isto.
Pode-se definir TV Digital como:
um sistema de radiodifusão televisiva que transmite sinais digitais, em lugar dos
atuais, analógicos. É um sistema mais eficiente, no que diz respeito à recepção
dos sinais, pois, na transmissão analógica cerca de 50% dos pontos de resolução
de uma imagem se perdem e, portanto, apenas metade deles são recebidos nos
1
Aluno do Curso de Pós-Graduação
em
Comunicação Midiática – Nível
Mestrado da FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da
Unesp – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Bauru-SP
([email protected]).
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lares. Já a transmissão digital permite que a íntegra do sinal transmitido pelas
emissoras seja recebido pelos televisores domésticos. (MELO, 2000 p.7)
Verifica-se, então, no início dos anos 90, a rápida evolução de algoritmos de
compressão de dados que atingem níveis (de compressão) elevados para a transmissão
de imagens digitais. É o surgimento de tecnologias como o JPEG, para a fotografia e o
MPEG para imagens em movimento (SÂMIA et al 2003).
Os equipamentos tornaram-se acessíveis para o desenvolvimento da Televisão
Digital e, por outro lado, o preço dos receptores de HDTV não iria atingir rapidamente
um nível de preço acessível ao consumidor. Por estas razões e pelo fato de os
consumidores estarem interessados no conteúdo e no número de programas oferecidos
intensificou-se as pesquisas acerca dos sistemas de transmissão de TV digital. (SÂMIA
et al 2003).
Hoje todo um sistema completo de televisão que é composto por três
componentes, representados na Figura 1 a seguir, pode ser todo digitalizado, ou seja, a
imagem, o áudio e demais informações são geradas, transmitidas e recebidas na forma
de sinais digitais.
Estúdio
Envolve entre outras, as atividades de produção (gravação de
cenas), pós-produção (edição e acabamento), transmissão de
sinais entre diferentes setores da emissora ou entre um
veículo e a base (reportagens externas) e armazenamento dos
vídeos.
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Radiodifusão
(broadcast)
Sistema de recepção
Transmissão das informações para o usuário final
Antena e o receptor (Televisor)
Figura 1: Sistema de transmissão
Fonte: Ministério das Comunicações: TV Digital – Curso Para Jornalistas, 2004
Padrões de TV Digital
Até ao início da década de 90, a radiodifusão da Televisão Digital era
impensável devido aos custos elevados para a sua implementação. Durante o ano de
1991 a evolução tecnológica tornou a compressão digital de vídeo cada vez mais viável,
o que levou a uma discussão em torno da Televisão Digital Terrestre.
Hoje estão estabelecidos três padrões de TV Digital no mundo, que em linha
geral são:
O padrão ATSC prevê uma melhor inter-operabilidade entre os atuais sistemas
analógicos(seja PAL-M ou NTSC) com a futura transmissão digital, podendo
utilizar receptores no formato tradicional 4x3 ou no formato HDTV (16x9).
O padrão DVB é voltado para uma utilização mais eficiente do espectro através
de técnicas modernas de modulação e transmissão dos sinais, mas com ênfase
na utilização de aparelhos receptores com o formato tradicional 4x3.
O ISDB é voltado para a utilização da TV não apenas como um meio de
recepção de imagens em tempo real, mas como um verdadeiro sistema
multimídia bidirecional, provendo recursos para o usuário escolher uma dentre
várias fontes de imagem (múltiplas câmeras), também utilizando as mesmas
técnicas de modulação do padrão DVB. (ZUFFO, 2001:24)
Tais sistemas apresentam as especificidades técnicas apresentadas no Quadro 1.
QUADRO 1 – Comparativo dos sistemas de TV Digital
Sistema
Freqüência
Modulação
HDTV
ATSC
6MHz
8-VSB
Sim
DVB-T
8MHz
COFDM
Não
ISDB-T
6MHz
COFDM
Sim
Fonte: SET/ABERT
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O “Padrão Europeu” de TV Digital
No ano de 1991 foi constituído o European Launching Group (ELG). O ELG
tinha como função definir e normalizar um sistema de transmissão ao digital de
televisão na Europa. Em 1993, é criado o Digital Video Broadcasting (DVB), baseado
no Main Profile Main Level (MPML) da norma internacional de compressão MPEG-2.
De modo a englobar todos os meios de transmissão ao de televisão, o DVB dividiu-se
em três padrões: o cabo (DVB-C), o satélite (DVB-S) e o terrestre (DVB-T) (SÂMIA et
al 2003). Neste trabalho irá se discutir o DVB-T que é o que já se encontra consolidado.
Verifica-se após de 1993 uma expansão do ELG-DVB que passou a incluir os
maiores grupos de interesse no audiovisual da Europa (radiodifusores públicos e
privados, indústria eletrônica, operadores de rede e reguladores). O ELG-DVB começou
a elaborar o Memorandum of Understanding (MoU), no qual se estipulavam as regras a
utilizar no desenvolvimento e harmonização do DVB. O MoU foi o ponto de partida
para a unificação de muitos interesses, significando que interesses comerciais rivais
precisavam de ter em conta requisitos e objetivos comuns (SÂMIA et al 2003).
O DVB juntou os maiores interesses televisivos europeus num único grupo, com
o intuito de desenvolver um sistema completo de Televisão Digital.Tornou-se claro que
o satélite e o cabo iriam fornecer os primeiros serviços de Televisão Digital. Menos
problemas técnicos e uma fácil normalização das suas especificações, levaram a que
estes se desenvolvessem mais rapidamente que o sistema terrestre. Porém, foi através do
sistema terrestre que o DVB se estabeleceu plenamente (SÂMIA et al 2003).
Por volta de 1997, o desenvolvimento do projeto DVB tinha atingido os seus
objetivos iniciais, entrando numa nova fase que visava promover as suas especificações
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de um modo global e a criação do padrão (standard) aberto para a Televisão Digital
interativa: Multimedia Home Platform (MHP) (MELO, 2000).
O DVB-T caracteriza-se por apresentar a flexibilidade do sistema contemplada
na sua definição, de forma que através de alguns dos canais simultâneos podem ser
veiculados dados, o que propicia o desenvolvimento de aplicações interativas. É desta
maneira, aliás, que a TV digital vem sendo utilizada na Europa, especialmente na
Inglaterra, onde ela é mais difundida. (MELO, 2000)
Alternativamente, o sistema DVB permite que, em lugar de até quatro canais de
Standard Definition Television SDTV, seja transmitido um único canal de HDTV,
continuando parte da banda reservada para serviços de dados. Além da flexibilidade, a
robustez do sistema foi também privilegiada, na medida em que ele necessita atender a
uma grande diversidade de geografias e formas de recepção, como são as dos vários
países europeus (MELO, 2000)
Ainda podem ser elencadas como características do DVB-T, conforme SÂMIA
et al, 2003:
•
O sistema tem que coexistir com o PAL (Partilha da banda VHF/UHF) conforme
Figura 2.
Figura 2: Transmissão DVB-T
Fonte: Ministério das Comunicações: TV Digital –
Curso
Para Jornalistas, 2004
•
Necessidade de sistema com elevada robustez à interferência co-canal e
interferência devida a canais adjacentes.
•
Efeitos de propagação potencialmente nocivos:
a) multipercursos;
b) ecos (outros transmissores no caso de utilizar uma Single Frequency
Network)
c) Efeito Doppler (mobilidade)
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•
MPEG - 2
•
Sistemas de correção de erros: Viterbi e Reed Solomon
•
Modulação OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing)
•
Dois modos: 2K (1705 portadoras) ou 8K (6817 portadoras)
•
Tempo de guarda variável (1/4, 1/8, 1/16, 1/32) para acomodar o Delay Spread
•
Modulação das sub-portadoras depende da qualidade do canal de propagação:
QPSK, 16-QAM ou 64-QAM.
•
Hierarquização do tráfego (maior proteção e menor taxa de transmissão para
tráfego destinado a um receptor móvel)
•
Canais de largura de banda de 6MHz, 7MHz ou 8MHz
•
Taxa de transmissão depende dos parâmetros de codificação e modulação, que
por sua vez, dependem do canal de propagação
•
Taxa de transmissão máxima da ordem de 32Mbps
•
Banda de transmissão: VHF/UHF
O custo da transição para o DVB-T está associado ao equipamento de recepção
que será instalado. Existem duas opções: a substituição do televisor por um com sistema
digital integrado de recepção ou a inclusão de apenas mais um elemento, a set-top-box,
que é um dispositivo para converter os sinais digitais para o padrão analógico
(FASSOLO, 2005)
Num primeiro momento o set-top-box é um caminho mais barato de migração
para o digital porque você pode aproveitar o que você tem em casa hoje.
Comprar o set-top-box simplesmente para converter o sinal digital para
analógico. Ou para áudio e vídeo, você entrar nas portas de áudio e vídeo do
seu aparelho e para você num futuro comprar um display integrado.[...] No
primeiro momento em que o receptor é caro, o display é caro comprar
conjugado é mais complicado. Fora que a evolução do set-top-box vai ser muito
mais rápida do que a do televisor. É mais prudente você comprar um set-topbox e depois comprar um receptor integrado do que você já partir para um
receptor integrado.[...] Na Europa o mercado é quase que cem por cento settop-box (FRANCO, 2005)
Apesar de desenvolvido na Europa, desde o princípio o sistema DVB visava o
mercado mundial, pois suas especificações são extremamente abrangentes e prevêem
condições de utilização distintas das européias. Como exemplo, tem-se que, embora
naquele continente a largura de banda de um canal de televisão seja de 8 MHz, o DVB
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permite a sua utilização com larguras de banda de 7 e de 6 MHz, que é o caso nas
Américas. (MELO, 2000)
O consórcio DVB possui atualmente, mais de 260 membros, tendo o seu sistema
sido adotado, além dos países europeus, pela Austrália, Nova Zelândia, Singapura e
Índia.(www.dvb.org)
O “Padrão Americano” de TV Digital
Nos Estados Unidos, a introdução da Televisão Digital teve início em
1998. O Advanced Television Systems Committe (ATSC), organismo que
estabelece qual o padrão a ser utilizado nos EUA, optou por introduzir em
simultâneo, a Televisão Digital e a Televisão de Alta Definição (HDTV), o que
acabou criando a necessidade dos consumidores americanos de comprar
novos receptores.
Em conseqüência desta opção e do elevado preço dos receptores, a penetração
junto dos consumidores americanos, num primeiro momento, foi baixa. (SÂMIA et al,
2003)
O ATSC tem algumas limitações, foi projetado para oferecer uma TV de alta
definição de imagem. Porém, em sua concepção original, a convergência com aparelhos
como os celulares de Terceira Geração e a utilização da TV móvel foram deixadas de
lado. Contudo, hoje, o sistema americano permite também a transmissão de Standart
Definition Television SDTV e de canais de dados para a implementação da
interatividade. Mesmo assim é um sistema que permite a utilização de muito pouco do
que a TV digital pode oferecer. Utiliza o MPEG-2 para a codificação do sinal de vídeo e
o Dolby AC-3 para o áudio (MELO, 2000).
Apesar das restrições técnicas do sistema de modulação americano, reveladas
também pelo relatório da ABERT/SET (2002), o padrão ATSC possui uma
característica de valor inegável: uma camada de software com interface aberta – o
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DASE (DTV Application Software Environment), que permite que as aplicações e os
serviços interativos sejam executados normalmente em qualquer receptor.
O ATSC foi adotado nos Estados Unidos, no Canadá, no México, em Taiwan e na Coréia do Sul.
5.1.1
O “Padrão Japonês” de TV Digital
O padrão japonês é denominado ISDB - Integrated Service Digital Broadcasting foi criado em 1999, no Japão, por um grupo de empresas, fabricantes e operadoras de
televisão e de telecomunicações capitaneado pelo governo japonês, contudo só foi
colocado em operação oficialmente em 2003 nos três maiores centros urbanos daquele
país – Tokyo, Osaka e Nagoya –, e no restante do Japão até o início de 2006. (MELO
2000).
O sistema japonês baseou-se nos conceitos do DVB, com um aprimoramento de
suas qualidades de robustez e flexibilidade o que permite que sejam transmitidos dados,
imagem e som, com tipos de modulação e taxas de transmissão diferentes, configuráveis
em até três grupos independentes e reprogramáveis de sinais (SÂMIA et al 2003).
A faixa de transmissão do canal de televisão consiste de 13 segmentos.
Os parâmetros de transmissão podem ser definidos independentemente para
cada segmento, utilizando-se integralmente as propriedades da modulação na
qual as portadoras são configuradas para serem ortogonais uma às outras.
Portanto, na transmissão hierárquica em que os programas são
transmitidos com níveis de robustez diferentes, a possibilidade de estabelecer
parâmetros de transmissão específicos para os respectivos níveis hierárquicos,
ou seja, definir esquema de modulação/correção de erro/transposição temporal
específicos, é extremamente importante.
No ISDB um canal pode ter até três níveis hierárquicos.
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O sistema ISDB provê uma largura de faixa de recepção mínima de 430 KHz (um
segmento), além da largura de faixa de transmissão normal de 5,6 MHz. Além destas
características destacam-se:
•
alta definição,
•
mobilidade,
•
portabilidade,
•
data casting (serviços de dados) e
•
flexibilidade. (SÂMIA et al 2003).
A aplicação de um segmento, realizado em uma porção do sinal
transmitido de TV, pode ser uma ferramenta poderosa na construção de um
novo modelo de negócio para provimento de vídeo, orientado para recepção
portátil, por si só ou quando integrado a outra mídia. (MELO 200)
O sistema ISDB possui o modo 4K adicionalmente aos modos 2K e 6K. O modo
4K suporta as características de transmissão requeridas tanto para recepção fixa quanto
para recepção móvel e é, portanto mais adequado para uma programação combinando
recepção fixa / móvel / portátil. (SÂMIA et al 2003).
Panorama da TV Digital no Brasil
No Brasil a decisão sobre o padrão a ser adotado foi colocada em
consulta pública pela Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel. Os
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testes de campo e laboratório realizados pelo grupo SET – Sociedade
Brasileira de Engenharia de Televisão e Abert – Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão - apontaram a modulação COFDM como
sendo a ideal para as condições brasileiras. O COFDM é usado tanto pelo
padrão europeu DVB-T quanto pelo japonês ISDB-T.
Pela primeira vez, o grupo formado pela Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (SET/Abert) descartou oficialmente para o Brasil o padrão de TV
digital DVB, adotado pela Comunidade Européia. Nos comentários que o grupo
SET/Abert encaminhou à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel),
referentes à consulta pública do relatório elaborado pela Fundação CPqD, está
a sugestão para que o órgão regulador adote não só o padrão como o modelo
de negócios da tecnologia ISDB. "O japonês é o único que atende ao modelo
de negócio flexível defendido pela Abert", disse o coordenador do grupo,
Fernando Bittencourt, em 12/6/2001, durante o "22º Congresso Brasileiro de
Radiodifusão", em São Paulo.
Segundo Roberto Franco, presidente da SET, o que a instituição fez “foi
analisar o que já existe no mundo inteiro” (FRANCO 2005) e ressalta “Nós
comparamos os 3 padrões mundiais, ou seja, sistemas reconhecidos pela OIT”.
Franco acrescenta que “Pegamos os 3 sistemas: o ATSC, o ISDB e o DVB,
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comparamos estes sistemas tecnologicamente e procuramos entender qual
seria o impacto no Brasil.”
Franco aponta que “o melhor caminho para o Brasil é adotar um destes
3 sistemas ou desenvolver parte destes sistemas, ou seja, sem reinventar a
roda, mas fazendo com que ele atenda a necessidade do mercado brasileiro.”
Segundo os estudos da SET, Franco destaca as características que o padrão
adotado no Brasil deva ter:
que ele consiga ter a robustez que nós precisamos, que ele seja forte o
suficiente, o robusto o suficiente para resistir a ruídos, a condições de
recepção não muito adequadas, como a gente tem aqui no Brasil, em
que a gente tem um controle bom da parte de transmissão, mas a
condição de recepção na casa do telespectador nem sempre é a mais
adequada. Que ele seja robusto o suficiente para atender esta
característica e ao mesmo tempo flexível para que a tecnologia não seja
limitadora das aplicações. Que deixe para os exploradores dos serviço e
para os consumidores do serviço decidam o que é bom e o que é ruim
na TV Digital. Não é a tecnologia que tem que definir que deva ser
Standard Definition, High Definition, móvel , portátil. Que a tecnologia
seja transparente. Você tem aí o Sistema Europeu e o Sistema Japonês
que atendem muito bem a isso. (FRANCO, 2005)
Dentre os 3 padrões vigentes Franco (2005) é categórico “o Sistema
Japonês é o melhor tecnologicamente”.
Franco (2005) ainda destaca: “No governo passado, ainda Fernando Henrique,
no final do governo, por volta de 1998, 1999, o Brasil estava muito próximo da
decisão.” sobre qual sistema o Brasil iria adotar e que a decisão foi postergada porque
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“o presidente Fernando Henrique achou que no final do governo não deveria tomar uma
decisão, que é uma decisão complexa com vários interesses em jogo”. E, partir de 2002,
“O governo Lula resolveu reestudar todo o assunto. Achava que o assunto não havia
sido suficientemente discutido”
No início do Governo Lula, o Ministro das Comunicações Miro Teixeira anuncia
o projeto do Sistema Brasileiro de TV Digital – SBTVD que deve ter as seguintes
características:
I promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a língua pátria por
meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação;
II propiciar a criação de rede universal de educação à distância;
III estimular a pesquisa e o desenvolvimento e propiciar a expansão de
tecnologias brasileiras e da indústria nacional relacionadas à tecnologia de
informação
e
comunicação;
IV planejar o processo de transição da televisão analógica para a digital, de
modo a garantir a gradual adesão de usuários a custos compatíveis com sua
renda;
V viabilizar a transição do sistema analógico para o digital, possibilitando às
concessionárias do serviço de radiodifusão de sons e imagens, se necessário, o
uso de faixa adicional de radiofreqüência, observada a legislação específica;
VI estimular a evolução das atuais exploradoras de serviço de televisão
analógica, bem assim o ingresso de novas empresas, propiciando a expansão do
setor e possibilitando o desenvolvimento de inúmeros serviços decorrentes da
tecnologia digital, conforme legislação específica;
VII estabelecer ações e modelos de negócios para a televisão digital adequados
à realidade econômica e empresarial do País;
VIII aperfeiçoar o uso do espectro de radiofreqüências;
IX contribuir para a convergência tecnológica e empresarial dos serviços de
comunicações;
X aprimorar a qualidade de áudio, vídeo e serviços, consideradas as atuais
condições do parque instalado de receptores no Brasil; e
XI incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos e serviços
digitais. (ATOS DOS PODER EXECUTIVO, DECRETO 4.901, 26 DE
NOVEMBRO DE 2003)
Conforme o Decreto nº 4901 de 26/11/03 foram instituídos os seguintes comitês
para a implantação do SBTVD:
• Comitê de Desenvolvimento, com a participação de representantes dos vários
ministérios e da Anatel.
•
Comitê Consultivo, com a participação de entidades representativas.
•
Grupo Gestor, com apoio técnico e administrativo da Finep e do CPqD.
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Hoje são 105 instituições envolvidas no projeto SBTVD, entre universidades,
centros de pesquisa, indústrias e emissoras, agrupadas em 22 consórcios, com os
trabalhos técnicos coordenados pelo CPqD . Ao todo, são 1.300 pesquisadores das cinco
regiões do país desenvolvendo a tecnologia, a linguagem e um modelo de conteúdo para
o Sistema Brasileiro de TV Digital (BECKER, 2005).
Diversos cronogramas foram estabelecidos, porém nenhum deles foi cumprido.
Para Franco (2005) “A SET considera que o assunto, do ponto de vista tecnológico, já
está totalmente esgotado, totalmente discutido.” e acrescenta que “O Brasil é hoje um
dos países mais conhecedores do assunto, que tem maior domínio sobre a tecnologia em
comparação entre os 3 sistemas existentes.” Franco (2005) vai além da questão
tecnológica e afirma que “do ponto de vista de negócios já se tem bastante elemento de
decisão para iniciar o processo.”
De acordo com o Ministério das Comunicações (29/12/2005), em junho, durante
a Copa do Mundo, será feita a primeira transmissão oficial em canal aberto da tv digital,
em São Paulo. Ainda, de acordo com o MC, em setembro, as emissoras de televisão
devem entrar em operação comercial.
“O atraso da ação no Brasil é prejudicial ao país, a indústria e ao mercado de
televisão.” (FRANCO, 2005)
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS:
ATOS do Poder Executivo , Decreto 4.901, 26 DE NOVEMBRO DE 2003
BECKER, Valdecir - Plano de Comunicação do SBTVD, Brasília, MC, 2005
BENEYTO, J.V.La ventana global, Madrid: Taurus, 2002
FASSOLO, Sandro. Entrevista concedida a Alex Pereira de Moura, Santa Rita do Sapucaí,
08 set. 2005.
FRANCO, Roberto Dias Lima, Entrevista concedida a Alex Pereira de Moura, São Paulo,
27 set. 2005.
MELO, Paulo Roberto de Sousa Melo TV DIGITAL: DESAFIO OU OPORTUNIDADE
,Rio de Janeiro, BNDES, 2000
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MEYROWITZ, J. Medium theory. In D. Crowley & D. Mitchell (org). Communication theory
today. Cambridge: Polity Press, 1994. pp. 50-77
MEYROWITZ, Joshua. Multiple Media Literacies. In: Journal of Communication 43(3). New
York, Summer, 1998. pp. 96-108.
NEMICHE, M. Un Modelo sistémico de evolución social dual, Barcelona, Universidade
Autônoma de Barcelona, 2002.
SÂMIA et al Digital TV Systems and Standards, Santa Rita do Sapucaí, FINATEL, 2003
SEVERINO, A .J. Metodologia do trabalho científico. 20ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 1997
STRAUBHAAR, Joseph D.
Thompson Learning, 2004.
Comunicação, Mídia e Tecnologia São Paulo: Pioneira
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia - Petrópolis:
Vozes, 1998
VILCHES, Lorenzo A migração digital – São Paulo – Rio de Janeiro : Edições Loyola,
Editora PUC – Rio, 2003
ZUFFO, Marcelo Knörich A Convergência da Realidade Virtual e Internet Avançada em
Novos Paradigmas de TV Digital Interativa, 2001, 91p.
Sitiografia
Site da organização norte-americana que desenvolveu o sistema de TV Digital ATSC
<www.atsc.org> acessado em 20 de julho de 2005
Site do grupo que desenvolveu o sistema de TV Digital Europeu <www.dvb.org> acessado em
01 de agosto de 2005.
Site da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão <www.abert.org.br> acessado
em 02 de agosto de 2005.
Site
da
Sociedade
Brasileira
de
Engenharia
de
Televisão
e
Telecomunicações
<www.set.com.br> acessado em 04 de agosto de 2005
Site da Agência Nacional de Telecomunicações <www.anatel.gov.br> acessado em 06 de
agosto de 2005.
Site do Sistema Brasileiro de TV Digital < http://sbtvd.cpqd.com.br> acessado em 28 de agosto
de 2005
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