AÇÕES DE INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO FEMININO NA
INCUBADORA DE EMPRESAS DA COPPE/UFRJ.
Elena Martinis1
Lucimar Campos Caldeira Dantas2
RESUMO
As mulheres estão cada vez mais presentes nas universidades e no mercado de trabalho.
A participação nas incubadoras de empresas também tem aumentado consideravelmente e tem
trazido novos modelos de gestão. A liderança de uma empresa, no entanto, exige da
empresária uma dedicação quase que exclusiva. Esta dedicação, no caso das mulheres, tem
repercussões diferentes na vida pessoal da que tem para os homens. Isso porque ainda é
atribuído à figura feminina a dupla jornada e o cuidado principal com os filhos, dentre outros.
No caso das incubadoras tecnológicas as empresárias encontram um componente
importante a mais: há ainda predominância numérica masculina nestas áreas. A maioria das
empresas ligadas a tecnologia, além disso, é liderada por homens, o que leva as empresárias a
ter de lidar também com um ambiente de negócios predominantemente masculino.
Com base nesta realidade as empresárias instaladas na Incubadora de Empresas da
Coppe/UFRJ formaram um grupo de debates para discutir tanto as questões familiares e
pessoais face às atividades empreendedoras femininas quanto o próprio posicionamento de
liderança e de superação em um ambiente masculino.
Este trabalho tem como objetivo relatar os resultados alcançados, de forma a incentivar
a realização de debates em outras incubadoras. Os pontos discutidos, longe de serem
específicos de uma incubadora, refletem algumas das principais questões das mulheres na
esfera das empresas de base tecnológica.
As empreendedoras estão se tornando protagonistas nos ambientes de inovação, e é
necessário que os gestores das incubadoras também se apropriem destas discussões,
fomentando ambientes de inovação mais sustentáveis.
ABSTRACT
1
Elena Martinis – Mestrado em Geologia – Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade – Rua
Paissandu, 59/303, Rio de Janeiro/RJ – (21) 97239-1337 – [email protected]
2
Lucimar Campos Caldeira Dantas – Mestrado em Engenharia – Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ – Rua
Hélio de Almeida s/n, Cidade Universitária/Ilha do Fundão, Rio de Janeiro/RJ – (21) 3733-1951 –
[email protected]
The women are more and more present in the universities and job market. The
participation in the business incubators is also increased substantially and it has brought new
management models. However the leadership of a company demands from the entrepreneur a
dedication almost exclusive. Compared to men this dedication has different effects in the
personal lives of women. This also occurs because it is attributed to the female figure a double
shift with the primary care of the children, among others.
In the case of technological incubators, entrepreneurs find an important additional
component: a numerical male predominance in these areas. The majority of the enterprises
that use technology, it is still led by men.
Based on this reality entrepreneurs who are in the Coppe/UFRJ Business Incubators
formed a discussion group of the family and personal issues with respect to women's
entrepreneurial activities, and also the own positioning of leadership and overcoming in a
male environment.
This paper aims to report the results achieved, in order to encourage discussions in other
incubators. Points discussed, which are not from a specific incubator, reflect some of the main
issues of women in the technology-based companies.
Entrepreneurs are becoming leading figures in the innovation environments and it is
necessary that the managers of incubators also take ownership of these discussions, promoting
more sustainable innovation environments.
PALAVRAS-CHAVE
Incubadora, tecnologia, empreendedoras, análise SWOT, diversidade, gênero.
1. INTRODUÇÃO
As mulheres são hoje maioria da população brasileira, 51,4% segundo dados da PNAD
– Pesquisa Nacional de Avaliação de Domicílios (IBGE, 2013), têm mais anos de estudo que
os homens, têm menos filhos do que a geração anterior e ocupam cada vez mais postos no
mercado de trabalho. No meio universitário as mulheres constituem 57,1% dos estudantes
entre 18 e 24 anos. Porém, ainda estão concentradas nas áreas de Educação (83%), e
Humanidade e Artes (74,2%). Nos cursos universitários voltados para a área tecnológica, as
mulheres são significativamente minoria, como por exemplo, nos cursos de engenharia.
No ambiente empresarial também tem sido observada tendência ao crescimento do
protagonismo feminino: nos últimos anos o número de mulheres que abriram novas empresas
superou o número de homens (SEBRAE, 2013). Esse aumento da presença feminina nos
meios universitário e empresarial tem se refletido naturalmente em um maior número de
mulheres nas incubadoras de empresas. No entanto, nas incubadoras de base tecnológica, a
presença feminina ainda é pequena, embora esteja em franco crescimento.
A configuração da nova economia, em um ambiente empresarial altamente
competitivo, evidencia o papel fundamental da inovação. A questão que se coloca é como
fazer com que as empresas tenham a inovação como parte da sua cultura, de forma a que a
sustentabilidade seja continuamente fomentada por este ambiente inovador. Neste contexto a
diversidade nas empresas tem se mostrado um dos pilares da inovação e em especial a
diversidade de gênero tem sido apontada como um dos pontos fundamentais
(ONU/ENDEAVOR, 2012).
Dessa forma as mulheres têm trazido, com sua participação no meio empresarial, uma
forte contribuição no que se refere ao potencial criativo e realizador. Não valorizar e não
incentivar a contribuição destas mulheres é renegar sua participação na solução das graves
questões mundiais com que nos deparamos hoje.
As mulheres, por sua vez, aspiram hoje outras formas de realização que não somente a
familiar e a maternidade. Porém deparam-se ainda com demandas históricas inerentes ao
gênero feminino como, por exemplo, a dupla jornada. Os estereótipos de gênero ainda
rotulam a mulher como cuidadora e não incentivam a liderança e o protagonismo destas
mulheres. No meio acadêmico e empresarial, onde se inserem as mulheres das incubadoras
tecnológicas, estes questionamentos também são encontrados uma vez que refletem as
características da sociedade em que estão inseridas.
A demanda das mulheres por realização pessoal também na área do trabalho e a
existência de fatores sociais que dificultam ou mesmo impedem esta realização, apontam para
a necessidade de nominar estas questões em busca de uma solução coletiva e não somente
individual. Estudo da ONU (2015), realizado em 167 países, aponta para apenas uma pequena
melhoria nos últimos anos na igualdade de gêneros no mundo do trabalho. A se confirmar esta
tendência, e sem que ações eficazes sejam tomadas, o mundo levará ainda 80 anos para
diminuir a diferença entre os gêneros, perdendo um precioso tempo e principalmente
perdendo a contribuição de empreendedoras no protagonismo da nova economia. A revolução
nos negócios, hoje, passa pela forte entrada das mulheres no meio empresarial e em especial
tecnológico.
2. OBJETIVO
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de levantar as questões inerentes ao
empreendedorismo feminino na Incubadora de Empresas da Coppe/URFJ, de forma a
apresentar as principais dificuldades bem como as principais conquistas das empresárias
residentes. Conduzido na forma de debates, este trabalho objetiva também apontar soluções
práticas que contribuirão para o avanço das mulheres no ambiente inovador das incubadoras,
sugerindo iniciativas institucionais para o empreendedorismo feminino nas demais
incubadoras do país.
O referencial teórico sobre empreendedorismo feminino vem aumentando
consideravelmente, porém ainda em ritmo lento, principalmente se comparado ao crescimento
dos negócios liderados por mulheres. A demanda por estudos que sirvam de insumo a ações
de incentivo ainda é grande. Faz-se necessário, no entanto, que estes estudos sejam
segmentados segundo aspectos sociais, econômicos, geracionais e de raça. Os primeiros
estudos sobre mulheres na área de negócios as colocavam como um bloco único sem que estas
especificidades fossem analisadas. Embora este primeiro olhar fosse necessário, atualmente
não mais se justifica a baixa representatividade dos estudos segmentados por perfil.
Com o presente trabalho objetivamos somar dados e reflexões sobre uma área onde as
mulheres ainda são minoria, contribuindo para o conhecimento das características específicas
deste grupo. Objetivamos ainda servir de incentivo para o surgimento de trabalhos similares
em outras incubadoras, bem como para a troca de informações e saberes com incubadoras
onde este tipo de atividade já esteja sendo desenvolvida.
3. METODOLOGIA
A crescente presença das mulheres na Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ, o
aumento da consciência do papel protagonista da mulher no meio empreendedor e o crescente
debate das questões de gênero pela sociedade fez surgir espontaneamente discussões entre as
empresárias e as gestoras da incubadora da Coppe sobre o tema empreendedorismo feminino.
As discussões apontaram para a oportunidade de, em um primeiro momento, elencar
os principais pontos comuns que afetavam as mulheres e, em um segundo momento, buscar
soluções conjuntas. Os próprios debates até então realizados já apontavam para o grande
potencial do caminho escolhido.
Participaram da construção deste trabalho as seguintes empresas: Forebrain, GPE,
Oilfinder, Aquafluxus, Twist, Geonumerica, CUG, Ambidados, E-papers, Ocean, Biorepair,
GE e Argumentare. Estas são ou lideradas somente por mulheres ou possuem uma sócia nos
seus quadros. O trabalho conta com a liderança tanto da gestora da incubadora quanto de uma
de suas fundadoras e atualmente gerente. A presença feminina nestes tem papel relevante na
realização e condução dos trabalhos aqui apresentados.
Com base em Martinis et al. (2014) foi estabelecida a utilização da matriz SWOT para
definição dos pontos fortes e fracos, bem como das oportunidades e ameaças comuns às
empresárias. Realizada de forma colaborativa, a matriz SWOT foi trabalhada ao longo de uma
semana pelas empresárias.
Após a finalização da matriz SWOT foi realizada reunião com participação das
empresárias e da gestão da incubadora com objetivo de elencar quais os itens apontados na
matriz possuíam uma maior representatividade e importância para as participantes, e
potencialmente mais relevantes na busca de soluções para as questões apresentadas. Como
resultado duas linhas de discussão principais foram elencadas: (1) o papel histórico-social da
mulher como forma de conscientização da sua situação na atualidade; (2) o exemplo de
mulheres de sucesso e suas formas de superação.
A consolidação dos resultados da matriz SWOT, e as discussões subsequentes,
permitiram a definição da forma mais apropriada para condução dos trabalhos: eventos
constituídos de debates onde uma ou mais convidadas trouxessem um referencial teórico ou
vivencial ao tema, permitindo a partir destes a abertura dos debates. Para contemplar todas as
questões, foi definida a realização de três encontros, a se iniciarem com as discussões acerca
do papel histórico-social da mulher, de forma a melhor contextualizar as empresárias sobre a
sua situação na sociedade, bem como permitir um referencial teórico para os próximos
encontros. Para os eventos subsequentes foi apontada a necessidade de discussões com a
presença de empresárias já estabelecidas com sucesso na área tecnológica, tanto oriundas de
incubadoras quanto as que não tiveram essa formação. Assim os debates permitiram englobar
não somente as questões atuais e suas formas de superação como trazer a experiência de
mulheres de sucesso e suas vivências ao longo de anos no mercado.
O formato de explanação seguida de debates mostrou-se extremamente eficaz uma vez
que a experiência das empresárias convidadas, seus sucessos e seus fracassos, seus erros e
seus acertos, e principalmente suas histórias de superação permitiram às empresárias da
incubadora refletir sobre diversos aspectos de seu dia-a-dia e principalmente vislumbrarem
soluções para as questões de gênero ligadas ao empreendedorismo. A própria discussão
coletiva destas questões traz por si só uma força impulsionadora de novas superações de
desafios inerentes ao feminino.
O primeiro evento foi realizado em março de 2015 e contou com a participação de
Hildete Pereira de Melo, economista da Universidade Federal Fluminense (UFF), dedicada à
pesquisa de gênero no trabalho. Estiveram presentes 16 empresárias e em um primeiro
momento foi realizada uma explanação da pesquisadora acerca da trajetória profissional no
contexto feminino, bem como a análise deste contexto sob a ótica histórica. Em um segundo
momento foi aberto diálogo entre as participantes, de forma a apontar e debater as principais
questões e dificuldades com o objetivo de apontar caminhos para soluções. Em muitos casos a
complexidade das questões é grande, mas o próprio fato de serem discutidas as conduz a um
patamar mais elevado de questionamentos.
O segundo evento, ocorrido em junho de 2015, teve como objetivo atender a demanda
das empresárias por exemplos femininos de sucesso e formas de superação. Para participar
deste evento foi fundamental convidar empresárias de áreas afins aos negócios da incubadora,
ou seja, da área tecnológica e que tivessem histórias de resiliência que refletissem os
principais questionamentos apontados anteriormente. Mulheres cujo sucesso representa uma
possibilidade concreta de superação para as novas empresárias. O foco do segundo evento foi,
portanto, a superação feminina no mundo dos negócios.
As empresárias convidadas foram Nara Savattone, proprietária da IDK – Indekser
Industrial e Serviços Ltda, empresa com experiência na fabricação de equipamentos de
Tanques de Armazenagem de Fluidos, e Beatriz Mattos proprietária da Ambipetro, empresa
de soluções integradas no mercado de energia e meio ambiente, e fundadora da Oceansat.
Beatriz Mattos foi parte integrante do quadro de empresas da Incubadora da Coppe/UFRJ no
início da sua trajetória empreendedora.
O terceiro evento, a ser realizado também na forma de debates com mulheres de
sucesso, terá como foco as questões de superação no meio familiar. A previsão é que seja
realizado durante o mês de setembro de 2015.
Com base na análise SWOT e nos dois eventos já realizados foi possível definir tanto
as principais questões que as empresárias apontam como críticas para seu desempenho
profissional e pessoal, bem como apontar caminhos que contribuam para a solução de
algumas destas questões.
4. RESULTADOS
O interesse por parte das empresárias e a riqueza dos debates evidenciou a importância
de que os temas ligados ao empreendedorismo feminino sejam discutidos. Em primeiro lugar
porque nominar quais são estes problemas, preferencialmente utilizando uma ferramenta que
permita seu rastreamento e comparação, como a Matriz SWOT, permite que seja lançada uma
luz sobre assuntos que, de outra forma, ficariam sem o tratamento adequado e cujas
consequências continuariam a estender suas raízes nos resultados empresariais e na vida
pessoal das empresárias. E em segundo lugar devido à evidência de que questionamentos
considerados individuais são em sua maioria coletivos e que a busca de soluções passa
necessariamente por ações institucionais.
Pretendemos que estes resultados sejam somados a outras iniciativas em andamento
em incubadoras brasileiras, de forma que o efeito propagador destas ações permita a
aceleração dos seus resultados, em uma verdadeira onda de mudanças que encontra agora um
momento altamente oportuno. Toda mudança na sociedade é fruto de lutas e conquistas
anteriores, porém sem dúvida existem momentos que se fazem mais favoráveis a estas
mudanças. Este é, sem dúvida, um destes momentos. E é um momento ímpar, também, para
as próprias incubadoras imprimirem o seu papel inovador, além da área tecnológica onde já
são reconhecidas, também na área social.
A análise da matriz SWOT, no quadrante individual (forças e fraquezas) e de mercado
(oportunidades e ameaças) permitiu evidenciar pontos comuns entre as empresárias.
Conforme descrito na metodologia foi com base nestes pontos comuns que foram
determinadas as linhas de discussão nos encontros realizados. Os principais pontos definidos
na análise SWOT foram: (1) Oportunidade: a integração crescente de diferentes áreas da
empresa para superação e gestão de múltiplos desafios; (2) Ameaças: preconceitos e
estereótipos de gênero presentes no meio empresarial; (3) Forças: a forte habilidade na gestão
de múltiplos desafios, integrando inclusive o universo empresarial e pessoal; (4) Fraquezas:
excesso de autocobrança, perfeccionismo e demanda concomitantes de outras
responsabilidades como a dupla jornada.
As linhas de debates definidas, com base na metodologia acima, foram: a situação
histórico-social da mulher no contexto empresarial e a análise de casos de superação com
empresárias de sucesso.
Os resultados permitem apontar soluções para algumas das questões ligadas ao
empreendedorismo feminino, que poderão ser replicadas a outras incubadoras. A primeira
delas é a formação de uma rede entre as empreendedoras na difusão de informações e boas
práticas. Esta rede de relacionamento é fundamental tanto para o apoio mútuo quanto para a
geração de futuros negócios. Longe de segregar as mulheres, buscam a formação de contatos
e apoio mútuo para a realização de negócios, auxiliando na entrada em um mundo ainda
predominantemente masculino. Esperamos que a rede de relacionamento construída com este
trabalho ultrapasse o período de incubação das empresas.
A figura de um mentor ou mentora na fase inicial do negócio é também um fator
positivo. Este pode ser tanto um empresário/a estabelecido quanto ser desempenhado pela
própria incubadora de empresas. O objetivo é não somente orientar os primeiros passos na
área empresarial como também auxiliar na construção da rede de relacionamentos.
Apesar de contrariar o estereótipo ainda vigente, as empresárias estão assumindo que a
liderança faz parte de seu perfil pessoal, e que inclusive é instrumento de realização.
Assumindo conscientemente esta liderança, as mulheres estarão contribuindo para a
construção da nova imagem da empresária, que reflita de forma mais coerente a sua posição
de protagonista nos negócios. A exigência de um alto padrão de qualidade no trabalho é
importante na superação dos desafios, onde a tomada de decisões está embasada no
conhecimento da qualidade de seus produtos ou serviços.
As posturas preconceituosas observadas, antes motivo de grandes desconfortos, hoje
são consideradas pelas empresárias experientes como questões menores, e interpretadas como
falta de profissionalismo da outra parte. As mulheres se sentem seguras para isso. A postura
não profissional assumida por um empresário pode sim refletir de maneira negativa na
realização de um negócio. Essa mudança de visão acerca do protagonismo da mulher é
fundamental para o novo cenário dos negócios.
O apoio da família, e em especial do marido ou companheiro, tem papel fundamental
no desempenho empresarial da mulher. A divisão de tarefas de cunho familiar, como os
cuidados com os filhos, a casa e os idosos da família constituem-se em uma verdadeira
revolução necessária para que a mulher possa dedicar-se mais às atividades da empresa. Em
determinados momentos os negócios demandam de tal forma o envolvimento da empresária
que, sem este apoio, as dificuldades da esfera doméstica se somam às questões da empresa
gerando uma carga de preocupações que muitas vezes interferem inclusive na saúde da
mulher.
É importante ressaltar os questionamentos acerca da maternidade, inclusive no que se
refere a tornarem-se ou não mães, o tempo de dedicação necessária aos filhos, e muitas vezes
o fato de assumirem sozinhas as responsabilidades com a família.
O sucesso das mulheres é muito mais cobrado do que o sucesso dos homens, mulheres
são testadas o tempo todo. Conforme a fala de uma das empresárias “Somos testadas a toda
hora, somos desafiadas a todo instante”. Desta forma, é fundamental para a empresária ter
consciência não somente da situação histórico-social da mulher como também ter consciência
dos estereótipos de gênero. A vida de empresária leva naturalmente a diversos momentos de
pressão, seja pelas crises do mercado seja pelas oportunidades de crescimento em que
importantes decisões devem ser tomadas em um curto espaço de tempo. Nestes momentos,
conforme foi ressaltado, ter uma forte visão de futuro é fundamental.
A autoconfiança é fundamental nos momentos em que as mulheres são desafiadas
pelos estereótipos de gênero. Ao contrário do início de sua vida no mundo dos negócios,
quando muitas vezes as empresárias eram tomadas inicialmente por assistentes ou secretarias,
atualmente acontecimentos como este são menos frequentes. Porém, pelo fato de hoje as
mulheres ainda serem maioria em atividades de apoio, e minoria nos meios empresariais,
acontecimentos como estes ainda fazem parte da vida das empresárias. O fundamental é,
conforme observado nos debates, que as mulheres tenham claro que as suas atividades são
reflexo do mundo que se deseja construir. Para deixar a sua marca e realizar mudanças é
necessário autoconfiança e assertividade na medida certa. As empresárias têm o poder nas
mãos e os preconceitos de gênero devem ser tratados na dimensão de cada caso. Sem serem,
no entanto, ignorados.
Comparamos os dados obtidos neste trabalho com os alcançados em Martinis et al.
(2014), cujo foco foi a análise e a proposição de insumos para o incentivo ao
empreendedorismo feminino na área de petróleo e gás. Essa comparação é interessante uma
vez que muitas empresas hoje residentes em incubadoras tecnológicas ou já graduadas têm
como foco a área de petróleo. Encontramos diversas áreas de convergência nos dois estudos
realizados. Podemos ressaltar como mais importante a demanda das empresárias por espaços
de discussão, de troca de ideias e formação de redes de relacionamento. Nesta mesma linha,
existe uma demanda por integrar aos cursos regulares de formação, aspectos ligados à
diversidade. É fundamental que as discussões sejam realizadas com a participação dos
diversos atores envolvidos. As discussões sobre o empreendedorismo feminino devem incluir
também a participação de empreendedores, visto que a transformação necessária à plena
realização das mulheres passa necessariamente pela transformação dos agentes masculinos no
empreendedorismo.
Indiscutivelmente o poder do exemplo, a força dos debates e da consciência social tem
consequências diretas na autoconfiança e na autoafirmação das mulheres. No momento em
que vivemos, com a crescente entrada de novas empresárias das incubadoras de empresas,
uma nova cultura empresarial está se formando. Além disso, a presença feminina nos meios
empresariais inovadores vem resgatar uma contribuição histórica que por muitos anos foi
impedida de se desenvolver. Hoje, pela sua crescente diversidade, estes ambientes apresentam
muito mais capacidade de inovação e consequentemente de sustentabilidade. Temos
possibilidade cada vez mais de ter empreendedoras e empreendedores como protagonistas de
uma nova economia, mais diversa e consequentemente mais inovadora.
5. IMPACTOS NA SOCIEDADE
Ao se observar o mesmo ritmo de crescimento da participação das mulheres na
política, no mercado de trabalho e no mundo empresarial, veremos somente daqui a mais de
80 anos a igualdade ser atingida. As demandas mundiais em termos de sustentabilidade, de
crise ambiental e de mudanças climáticas têm reflexo direto na capacidade e no ritmo de
desenvolvimento dos países. Para fazer frente a estas questões é necessário potencializar toda
a capacidade produtiva dos países de maneira sustentável. Desta forma, incentivar e
potencializar a participação das mulheres tem se mostrado extremamente importante. As
mulheres em certos momentos da história foram inclusive impedidas por lei de estudar e de
trabalhar. Vencida esta etapa, nas últimas décadas as mulheres têm conquistado seu espaço de
maneira extremamente eficaz.
O aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho tem sido
acompanhado pela maior presença das mulheres como empresárias. No entanto, nas empresas
e nas universidades as mulheres ainda são maioria nas áreas ligadas ao cuidado e minoria nas
áreas tecnológicas. Para aumentar a presença das mulheres nas áreas empresariais
tecnológicas é necessário, em primeiro lugar, entender melhor quais são as questões e as
barreiras que as mulheres enfrentam. Pela especificidade destas empresas, tanto em termos de
inovação tecnológica quanto de abertura de mercado, as mulheres líderes das empresas em
incubadoras tecnológicas apresentam uma série de demandas específicas e um potencial
imenso de melhorar a sociedade e a economia do país.
A criação da Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o
Empoderamento das Mulheres (ONU MULHERES) em 2010 teve como principal objetivo
acelerar a implementação de metas para a melhoria da qualidade de vida das mulheres e do
aumento na participação destas no mercado de trabalho. Os dados dos estudos do Banco
Mundial (2012) demonstram, inclusive, que o investimento realizado em mulheres traz um
grande retorno para o desenvolvimento da sociedade, mais do que qualquer outra forma de
investimento.
6. ORIGINALIDADE DO TRABALHO
As mulheres estão se tornando, em número crescente, protagonistas no meio
empresarial. Existe, desta forma, uma grande demanda por estudos que enfoquem as questões
específicas relativas ao empreendedorismo feminino. Em especial no que se refere a mulheres
empresárias da área tecnológica, ainda predominantemente masculina, essa demanda por
estudos torna-se ainda mais evidente, bem como a especificidade das questões a serem
discutidas. Existe uma deficiência de estudos que enfoquem as questões específicas relativas
ao empreendedorismo feminino, em especial com foco em incubadoras.
O início destas empresas, quando se dá em incubadoras, por um lado evidencia uma
oportunidade ímpar, pela concentração em um mesmo local e sob a linha de preparo da gestão
da incubadora, para que estes temas sejam discutidos e tratados de forma inovadora.
O levantamento dos pontos fortes e fracos das empresárias, bem como das
oportunidades e ameaças percebidas por elas, tem como contribuição registrar a situação atual
das mulheres que estão abrindo novas fronteiras empresariais em número crescente, e que
desta forma devem ser apoiadas para que sua liderança desponte cada vez mais. O registro
deste cenário vem acrescentar às discussões a ótica deste nicho tão relevante para o
desenvolvimento do país no que se refere às empresas inovadoras, que estão trazendo saltos
tecnológicos para a sociedade. Nominar as questões, levar os problemas e as soluções
permitirá não somente que a Incubadora da Coppe/UFRJ defina ações nesta área, mas também
que a metodologia seja replicada para outras incubadoras em uma onda crescente de inovação
onde os avanços tecnológicos e sociais andam juntos. Somente especificando as questões é
que estas podem ser tratadas, incentivando o empoderamento e a capacidade de realização das
mulheres.
7. RECOMENDAÇÕES
Com base nos estudos descritos acima, recomendamos:
(1) Difundir entre as incubadoras de empresas o papel da mulher como líder, de forma
que este conhecimento influencie no empoderamento das mulheres e no tratamento
dado a estas pelos seus pares;
(2) Incentivar o aumento no número de estudos realizados com empresárias em
incubadoras de empresas, e a continuidade destes estudos, de forma a gerar uma
massa crítica de dados para ações específicas;
(3) Promover estudos relacionados à origem das empresárias em incubadoras, suas
trajetórias e formas de acesso ao ambiente empreendedor. Teríamos desta forma
dados sobre como estas mulheres superaram as barreiras sociais ainda existentes e
conseguiram ingressar em carreiras tecnológicas e empresariais;
(4) Realizar o acompanhamento das empresárias desde o momento em que deixam o
ambiente das incubadoras, sob o foco do empreendedorismo feminino. Para isso é
necessário especificar indicadores, que possam ser medidos ao longo do tempo e
comparados inclusive entre as incubadoras das diversas regiões do Brasil;
(5) Evidenciar de forma mais assertiva que o sucesso destas mulheres como
empresárias tem reflexo direto na economia do país, visto que no Brasil mais de
50% da população é formada por mulheres, e esse potencial realizador não pode de
forma alguma ser minimizado. A discussão destas questões vem realizar um
resgate histórico da posição da mulher na sociedade já que estas lidam não
somente com problemas empresariais, mas também com questões de gênero no
empreendedorismo. Estas, longe de serem específicas das incubadoras, têm nelas
apenas o reflexo da nossa sociedade;
(6) Incluir discussões e ações de gênero na formação não somente das empresárias nas
incubadoras, mas também dos empresários, já que estes lidam de forma direta com
sócias, parceiras de trabalho, clientes e fornecedoras, e necessário é que atentem
para as questões de gênero no meio empresarial inclusive para que atuem não
somente como agentes de inovação empresarial, mas também como agentes de
inovação social;
(7) Trazer exemplos de mulheres de sucesso, cuja superação possa ser discutida tanto
em termos empresariais quanto pessoais. Estes exemplos têm se mostrado
fundamentais para as mulheres, e as discussões entre as novas empresárias e as
empresárias já estabelecidas no mercado mostraram-se uma das formas mais ricas
de incentivo ao empreendedorismo feminino. Questionar, discutir, descobrir
problemas e respostas comuns mostrou-se uma experiência das mais gratificantes e
realizadoras para as participantes;
(8) Incluir na grade de formação das incubadoras questões sociais como gênero, raça e
geracional, por exemplo, que têm um enorme potencial de alavancar o sucesso das
empresas incubadas. Isso se aplica não somente às empresas com liderança
feminina, mas também com as de liderança masculina que necessitam se preparar
para um mercado onde a presença das mulheres é marcante e o será mais ainda em
um futuro próximo;
(9) Provocar e contribuir para uma agenda inclusiva comum entre as incubadoras no
país, que traga as discussões e inovações sociais mais recentes e que estas ações
passem a fazer parte da agenda nas incubadoras;
(10) Contribuir para o resgate de estudos já realizados sobre a participação das
mulheres como gestoras de parques e incubadoras de empresas. A incubadora da
Coppe/UFRJ possui mulheres no seu quadro de gestão e desta forma pode
contribuir de forma decisiva para estes debates;
(11) Em incubadoras ligadas a universidades, incentivar a ação das empresárias
junto às estudantes, na forma de palestras e eventos, apresentando as jovens ao
empreendedorismo, para que as empresárias sirvam de exemplo a estas estudantes;
(12) Incentivar a participação das empresárias das incubadoras em eventos ligados
ao protagonismo feminino no meio empresarial, como forma não somente de
empoderamento, mas também para que sirvam de exemplo, pelo seu pioneirismo, a
outras mulheres inclusive de áreas não tecnológicas;
(13) Fomentar o intercâmbio entre as mulheres das diversas incubadoras no Brasil
de forma a gerar uma rede de contatos e uma agenda positiva de discussões,
apoiando e incentivando o protagonismo feminino e a longevidade destas
empresas;
(14) Observar as melhores práticas e experiências de incubadoras em países em
desenvolvimento e desenvolvidos, buscando aplicar com as devidas adaptações, as
soluções encontradas por estes países.
8. CONCLUSÕES
As mulheres são fortes protagonistas do empreendedorismo nas incubadoras, e a
tendência evidente no mercado é a de que este protagonismo se torne cada vez mais evidente.
Algumas questões básicas, no entanto, ainda constituem problemas comuns à maioria das
mulheres. Muitas novas empreendedoras não têm, inclusive, a exata dimensão de que estes
problemas são em grande parte coletivos, e não apenas individuais. E que, portanto, a busca
por soluções pode e deve ser de toda a sociedade. Neste caso, o protagonismo pertence às
empresárias residentes em incubadoras bem como a empresárias já estabelecidas no mercado.
Estudos que tenham como objeto especificar as características das mulheres nos
diversos segmentos da área de negócios, bem como os motivos que as levaram a empreender,
contribuem para a formação de uma base de dados fundamental para ações focadas de
incentivo ao empreendedorismo feminino.
O poder das discussões coletivas, o poder do exemplo e da busca institucional por
soluções tem a força de uma inovação social, que se reflete na produtividade de uma área tão
sensível para o sucesso do país: a área de inovação tecnológica.
9. REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. Mulheres, empresas e direito de 2012: levantar os obstáculos para a
inclusão econômica.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD – Pesquisa Nacional de
Avaliação
de
Domicílios,
2013.
(online).
Disponível
na
internet
via
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/mulheres-sao-maioria-da-populacao-eocupam-mais-espaco-no-mercado-de-trabalho.
MARTINIS, Elena; Novaes, Alba M. A.; Zanelli, Luana; Campos, Vania. Empreendedorismo
Feminino: Insumos a Ações de Incentivo na Área de Petróleo e Gás. Rio Oil & Gas 2014.
ONU/ENDEAVOR, 2012 – ONU/ENDEAVOR Destaca Empreendedoras Brasileiras.
Disponível na internet via https://endeavor.org.br/estudo-da-onu-destaca-empreendedorasbrasileiras.
ONU, 2015 – Disponível na internet via http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/onuestima-que-igualdade-de-genero-so-vira-daqui-a-81-anos.
SEBRAE. As mulheres empreendedoras no Brasil, 2013.
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