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Audiência 100
Infovini.com
País: Portugal
Âmbito: Outros Assuntos
ID: 55769254
18-09-2014
OCS: Infovini.com
Pelos caminhos do vinho Verde
URL:
http://www.infovini.com/article118284
Vida
Jornal Sol | 18-09-2014 | Geral, Património
O vinho verde anda nas bocas do mundo, literalmente. E para isso muito têm contribuído as
'operações de charme' que se fazem ? sua volta.
O favoritismo dos tintos e dos brancos está a esmorecer cada vez mais. Os verdes começam a ganhar
um terreno que já não é só visível em hectares, mas principalmente em serviços e turismo. As quintas
do Minho - onde se insere a Rota dos Vinhos Verdes - que ainda não tinham as suas portas abertas ao
enoturismo foram 'empurradas' pela procura a fazê-lo. Aquelas que já estavam familiarizadas com os
enoturistas arriscaram voar mais alto e alargaram a sua oferta.
O trabalho da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) também tem ajudado
quem está no terreno. 1,6 milhões de euros é a fatia do investimento para a região, até Março de
2015, através do projecto Minho IN, financiado pelo PROVERE - Programa de Valorização Económica
dos Recursos Endógenos, do QREN. Houve que 'educar' primeiro os produtores a organizarem a
oferta. E depois da formação e consultadoria em vários domínios do enoturismo, o trabalho faz-se
agora ao nível da promoção.
"Hoje temos uma Rota dos Vinhos Verdes organizada, com cerca de 60 aderentes, e estamos a
procurar posicioná-la e divulgá-la ainda mais, não só ao cliente mas também aos produtores, para que
estes se entusiasmem e aprendam como fazer do enoturismo uma parte do seu negócio", relata o
presidente da CVRVV, Manuel Pinheiro.
Um museu do Vinho Verde - da responsabilidade da Câmara Municipal de Ponte de Lima - e novas
ofertas temáticas dentro da Rota dos Vinhos Verdes são outros chamarizes para o crescimento do
turismo na região. "Uma dessas rotas temáticas é dedicada à aguardente velha. O cliente russo, que
está a crescer cada vez mais, pede-nos isso. As outras serão dedicadas aos solares, aos espumantes,
aos vinhos verdes orgânicos ou biológicos, sendo estes últimos muito procurados pelos EUA e pelo
Norte da Europa, e ao Alvarinho", revela Sofia Lobo, a responsável pela Rota.
Cerca de 50 quintas - 12 com alojamento turístico e uma com restaurante aberto ao público - fazem
parte desta rota, sendo os restantes aderentes unidades hoteleiras e outros restaurantes da região.
A Quinta de Santa Cristina, produtor de Celorico de Basto com 50 hectares de vinha e uma produção
de 250 mil garrafas por ano, foi a última a juntar-se à Rota dos Vinhos Verdes. O negócio começou
pelos vinhos, há dez anos por carolice, mas, recentemente, e com a construção de uma adega nova,
este projecto familiar começou a dar os primeiros passos no enoturismo. "Tenho actividade noutra
área de negócio. Mas quando me apercebi que não tinha feitio para estar no café a jogar à sueca
quando me reformasse, começámos este projecto por hobby, isto numa altura em que ficámos com as
terras da família", conta bem-disposto o proprietário António Pinto.
O investimento na nova adega, concretizado em 2013, totaliza 1,2 milhões de euros e foi
comparticipado em 30% pelo PRODER. A adega e a loja estão prontas, mas faltam agora alguns
equipamentos, o laboratório, a sala de provas e um espaço multiusos, que acolherá eventos diversos e
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terá ligação a uma cobertura ajardinada com vista para o Marão, a Senhora da Graça e o Alvão. Tudo
previsto para 2015.
"Este projecto está pensado para termos aqui até um milhão de litros - 1,4 milhões de garrafas -,
sem deitar paredes abaixo", avança António Pinto, de 71 anos. "É um grande investimento, mas os
negócios são mesmo assim. Ou corremos alguns riscos ou paralisamos. Era agora ou nunca",
acrescenta Mónica, de 39 anos, que administra o negócio juntamente com o pai.
As visitas à nova adega, pensada para que os trabalhadores andem o mínimo possível dentro do
edifício, já vão acontecendo, apesar de a Quinta de Santa Cristina ainda não ter essa oferta
organizada. Está "de portas abertas", recebendo para já "gratuitamente" os visitantes. Neste
momento, pai e filha encontram-se a ultimar o seu primeiro programa turístico nas vindimas, que se
realizarão em Outubro.
Em 2015, a família Pinto, que facturou 500 mil euros no último ano e está presente em cinco
mercados internacionais, pretende também assinalar percursos pedestres e de bicicleta na vinha. "Se
soubesse o que era isto tinha começado há 30 anos", remata António Pinto.
A Quinta da Lixa, um dos grandes produtores dos vinhos verdes, é outra que está a construir um
hotel rural em Amarante. Com um volume de negócios de quase seis milhões de euros e mais de 30
marcas, o produtor de Felgueiras está ainda presente em 31 mercados. Trata-se de um projecto que
está a avançar com financiamento próprio e que está orçado em cerca de três milhões de euros.
Na Quinta de Sanguinhedo, "uma propriedade com cerca de 30 hectares, 22 dos quais de vinha", vão
nascer 30 quartos, recepção, restaurante, wine bar, zona de visitas, uma pequena adega experimental
e um spa vínico. "Na mini-adega, o hóspede poderá ser enólogo por um dia - podendo participar, de
resto, em todas as actividades relacionadas com a produção de vinho, inclusive as vindimas", avança
o enólogo da Quinta da Lixa, Carlos Teixeira. A nova e moderna unidade hoteleira promoverá "provas
e cursos de prova", bem como "jantares vínicos e temáticos".
Actualmente, a Quinta da Lixa tem disponíveis visitas às vinhas, nas várias propriedades que detém
na região - são ao todo sete quintas, com um total de 74 hectares -, visita à adega, provas
comentadas e, mediante marcação, refeições, numa sala com 'vista' para a linha de engarrafamento
da empresa e que fica por baixo da loja nas instalações da Lixa.
"Uma prova simples com visita pode variar entre os 3 e os 6 euros, dependendo do número de vinhos
que se provem. Se incluir refeição, pode chegar aos 18, 19 euros. E fazemo-lo durante todo o ano. Os
nossos programas não são sazonais e iniciaram-se há cinco anos. O enoturismo é um negócio de
futuro", refere o enólogo Carlos Teixeira sobre o futuro hotel, cuja inauguração poderá acontecer já no
final do ano.
Dimensão diferente tem o projecto de Fernando Fernandes. Na Quinta das Escomeiras, um 'bikotel'
com três anos, os turistas acordam com os galos e começam o dia com um pequeno-almoço que inclui
produtos biológicos da quinta.
A propriedade deste economista de Matosinhos, de 66 anos, fica junto ao Rio Tâmega e é
praticamente auto-sustentável. Fernando Fernandes, que conhecia a zona - Celorico de Basto - por
passar ali algum tempo na sua juventude, tinha o sonho de produzir vinho e adquiriu a propriedade de
10,5 hectares - três de vinha - em 1994. Entendeu sempre "que dificilmente conseguiria rentabilizar
este investimento só com base na vinha" e lançou-se no enoturismo.
O investimento que fez até à data - "1,2 a 1,5 milhões de euros" - na quinta saiu todo do próprio
bolso. Envolveu trabalhos de reflorestação, a construção de uma adega - de onde hoje saem 8.000 a
12.000 garrafas por ano - e a reabilitação das casas e a sua transformação para enoturismo. Na Casa
da Eira - outrora dos caseiros -, há cinco quartos e uma suite. Na casa dos proprietários, há mais três
quartos, uma piscina e balneários de apoio.
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Reformado há um ano e meio, Fernando Fernandes é um dos produtores que participa nas formações
da CVRVV - da poda às compotas e doces, passando pelas flores comestíveis, está em todas. Também
participou no projecto do Minho IN que permitiu desenvolver 20 percursos pedestres em vinhas da
região.
"Temos dois percursos na quinta, um com 2,4 km, dentro da própria quinta, e outro, com 5 km, que
sai da quinta e continua junto ao rio para se ir encontrar com a Ecopista da Linha do Tâmega",
descreve, lembrando a proximidade com outro 'caminho', a Rota do Românico.
Na Quinta das Escomoeiras há um estábulo onde a égua lusitana Sereia e a burra de Miranda Julieta
fazem as delícias dos visitantes - 80% são estrangeiros. Há ainda canoas para alugar e levar para o
rio, um açude e uma praia fluvial. Os quartos custam entre 90 e 120 euros em época baixa e entre
105 e 140 na época alta - com tudo incluído, à excepção das canoas.
A facturação global é de 100 mil euros por ano, com o turismo rural a representar 20% deste volume.
O gigante Quinta da Aveleda, em Penafiel, não tem hotel, mas recebe 2.000 visitantes por mês, um
número impressionante e o recordista, quando comparado com os outros produtores da região.
É uma máquina bem oleada, mas que também procura evoluir. Para 2015, está prevista a abertura
de um restaurante na propriedade de 180 hectares, onde a família Guedes começou a produzir vinho
de forma profissional em 1870.
No próximo ano, a Quinta da Aveleda, que está presente em mais de 70 mercados no mundo inteiro e
que este ano deverá ultrapassar os 30 milhões de euros de facturação, quer também implementar um
percurso pedestre na vinha, lançar um programa turístico durante as vindimas e diversificar e
personalizar as visitas na quinta - no corporate já faz isso.
Porque, afinal, se há quem visite a Aveleda pelo vinho - como o norte-americano que levou a
namorada, apreciadora de Casal Garcia, à quinta para ali a pedir em casamento -, outros há que se
enamoram pelos jardins românticos por onde se passeiam pavões, galinhas-da-Índia e o labrador
Black, havendo ainda uma torre onde vivem cabras.
"O que nos acontece muito, com norte-americanos por exemplo, é os visitantes quererem vir cá para
conhecer o berço dos vinhos que consomem", explica Chantal Guilhonato, do Departamento de
Marketing e Comunicação da Aveleda.
"Todos os anos temos melhorado alguma coisa. Há dois anos, por exemplo, estávamos fechados ao
fim-de-semana, hoje já estamos abertos sete dias por semana", conta o administrador Martim
Guedes, quinta geração de uma família que é proprietária da Aveleda desde 1671. Provas de vinhos
premium ou de várias regiões ou mesmo harmonizações com queijos e compotas da quinta - a
propriedade tem queijaria e vacaria próprias - são algumas das últimas novidades.
A visita guiada standard - que custa 4,5 euros e está disponível de Março a Outubro -, inclui canto
gregoriano na Adega Velha, onde é possível ver a garrafa que veio da Rússia na época dos Czares e
serviu de modelo à primeira garrafa da Quinta da Aveleda, e termina com uma prova de vinhos e
queijos. "Depois da mente, o estômago", brinca Chantal Guilhonato. Também é possível almoçar na
quinta e comprar os vinhos da casa com desconto na Aveleda Shop.
Martim Guedes vê no enoturismo "um complemento" do negócio dos vinhos e uma forma de reforçar
as marcas da Aveleda e lembra que "o turismo já é uma coisa antiga aqui na quinta". "Toda a família
tinha um interesse grande nos jardins, que hoje são famosos. As pessoas foram vendo que estavam
abertos e que eram visitáveis. E depois é que o turismo se tornou enoturismo", explica.
Por que não fechar a oferta com um hotel? "Hoje em dia, no Vale do Sousa, já há uma oferta muito
boa e não temos necessidade de estar a duplicar essa oferta e especializamo-nos na parte do vinho,
que é aquilo que sabemos", justifica Martim Guedes.
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Opinião idêntica tem Tony Smith, da Quinta da Covela, uma propriedade de 46 hectares - 13 de vinha
- em Baião. "Muitos chegam aqui e perguntam: 'Então quando é que vocês vão abrir um hotel?'
Porque isto de facto é calmo e bucólico. Mas a nossa ideia é que é possível fazer enoturismo durante
meia hora. E, depois, esse era todo um outro negócio", diz o jornalista britânico que se mudou de São
Paulo para S. Tomé de Covelas para produzir vinho.
Tony Smith e o sócio Marcelo Lima compraram a quinta, que pertenceu a Manoel de Oliveira, em
2011, e hoje em dia têm as portas abertas para "quem chega da rua" à quinta e à sexta-feira. Nos
restantes dias da semana, "se as pessoas ligarem antes, dá para combinar tudo e mais alguma coisa".
Por exemplo, "piqueniques - na vinha, no mirante, na ruína, junto ao riacho, no bosque", explica Tony,
que quando está na quinta tem sempre três fiéis Podengos no seu encalço. A recepção é informal e
despretenciosa.
A carrinha azul da Covela transporta até ao local escolhido pelos visitantes as saladas - a quinta tem
produção biológica -, o paté de sardinha que a chefe de cozinha Diana Oliveira faz, sanduíches e
covilhetes de Vila Real. Um 'cenário' a que ninguém fica indiferente.
O básico para quem chega sem avisar é um percurso na vinha e uma prova de três vinhos,
experiência que fica por 8 a 10 euros - quem comprar vinho antes de se ir embora vê esse valor ser
descontado na factura.
Na quinta, que tem uma bonita ruína do século XVI e fica perto do Caminho de Jacinto - percurso
pedestre implementado pela Fundação Eça de Queiroz, outro membro da Rota -, Tony Smith quer
"criar um jardim romântico", algo a que só voltará depois dos investimentos que ainda tem para fazer
na produção, e desenvolver um programa turístico no moinho que existe - e funciona - junto ao riacho
que atravessa os terrenos.
Pedro Araújo - irmão de Nuno, anterior proprietário da Quinta da Covela e que a dinamizou - decidiu
"recuperar todas as casas antigas" que existiam na Quinta do Ameal e criar o Ameal Wine and Tourism
Terroir. É um projecto novinho em folha, ainda por inaugurar.
"O conceito, no que diz respeito às estadias, é os clientes poderem usufruir de todo o ambiente de
produção de uvas e elaboração dos vinhos - e não só - num ambiente de conforto de um hotel de
cinco estrelas", explica o produtor de Ponte de Lima, cujo volume de negócios ronda os 200 mil euros
por ano - com a exportação a representar 60% desta facturação.
No último ano e meio, o investimento no enoturismo na Quinta do Ameal rondou os 160 mil euros e
contou com uma comparticipação do PRODER a 50%, conta Pedro Araújo, acrescentando que também
foram feitos investimentos na adega e nos jardins e criada uma nova sala de rotulagem.
"Há muitos anos que fazemos provas e visitas à quinta, agora os visitantes também podem ficar",
congratula-se Pedro Araújo, explicando que os turistas podem "observar todos os trabalhos a decorrer
na quinta", encomendar refeições, explorar a mata com mais de 8 hectares nas margens do Lima,
passear de bicicleta na ecovia ou descer o rio em canoas.
Numa primeira fase, o hotel terá "dormida e pequeno-almoço". "O restante os hóspedes poderão
comprar na nossa pequena loja da quinta. As suites e a casa estão completamente equipadas e têm
cozinhas completas", explica o empresário.
Para já, são três suites com um quarto e uma casa com duas suites, que custam 195 e 350 euros por
dia, respectivamente, mas Pedro Araújo quer "recuperar mais quatro casas" e chegar a uma
capacidade de "no máximo cerca de 20 pessoas". "Queremos que as pessoas gozem em plenitude de
toda a tranquilidade e sossego únicos que a quinta proporciona", justifica o proprietário.
Em 2013, as quintas da Região dos Vinhos Verdes, onde há 22.000 produtores de uva e 600
engarrafadores, receberam, pelo menos, 100 mil turistas, número referente apenas às grandes
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empresas. A expectativa é de que no ano de 2014 estas visitas cresçam.
Para isso contribuirá a primeira edição do Vinho Verde Wine Fest, no início de Setembro, evento
através do qual a CVRVV - que investe cerca de 3 milhões de euros por ano a promover o vinho verde
- pretendeu fazer a ligação vinho-turismo-gastronomia e que em 2015 poderá acontecer também no
Algarve.
Os turistas que visitam a região são sobretudo estrangeiros, espelhando o que acontece nas vendas.
No primeiro semestre deste ano, as exportações atingiram 27,3 milhões de euros, um crescimento de
14,2% em relação ao período homólogo do ano passado. A Alemanha foi o país que mais vinho verde
comprou até Junho, ultrapassando os Estados Unidos da América, até aqui o principal mercado.
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