Tiago Carrasco
Até Lá Abaixo
Três homens, um jipe e 150 dias
de aventuras em África
Fotografias de João Henriques
Título original: Até Lá Abaixo
© 2011, Tiago Carrasco
e Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.
Editor: Francisco Camacho
Capa: Rui Garrido
Fotografia: © João Henriques
Revisão: Alda Rocha
Composição: Cristiana Vicente,
em caracteres Sabon, corpo 11
Impressão e acabamento: Rolo & Filhos II, S.A. – Indústrias Gráficas
1.ª edição: Maio de 2011
ISBN: 978-989-555-728-8
Depósito legal n.º 326352/11
Oficina do Livro
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ÁFRICA
O percurso de 30 mil km e 150 dias
NOTA DO EDITOR
O fascínio que África exerce sobre os aventureiros permanece intacto, séculos após as primeiras colonizações e
décadas passadas sobre as últimas independências do poder
europeu. Será escusado falar da América do Sul ou da Ásia
Central. Viajar pelo continente africano continua a ser a maior
aventura a que um viajante pode aspirar. Nenhuma região do
mundo é tão resistente ao desenvolvimento e à penetração da
civilização, como a entendemos no Ocidente. Nenhuma implica
tantos riscos diferentes e em simultâneo. Nenhuma tem uma
natureza tão intensa. Não, nenhuma é tão sedutora como
África para quem procura emoções fortes – tenham elas que
ver com o calor impiedoso do deserto, com o ruído inesquecível
de uma tempestade no mato, com a visão de um animal selvagem, com a quantidade de metralhadoras em mãos erradas,
com os desafios que a pequena corrupção coloca aos viajantes,
com a profusão de doenças ou com a beleza primordial da
paisagem.
É por estes e outros motivos que as raras pessoas capazes
de pensar sequer em fazer uma viagem de milhares de quilómetros por África não partem para a estrada sem antes montarem
cuidadosamente uma logística capaz de cobrir todos os imprevistos imagináveis (e, ainda assim, sobram os que não se podem
imaginar), sendo que, normalmente, isso custa muito dinheiro
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AT É LÁ ABAIXO
e conta com o mínimo de experiência entre o grupo de aventureiros.
Quando Tiago Carrasco e dois amigos – todos no desemprego – saíram de Portugal a bordo de um jipe em segunda
mão em direcção à Cidade do Cabo, não podiam estar mais
impreparados para a odisseia que os esperava. Na noite antes
da partida, escreve o autor, «ficámos com a sensação de que
éramos as primeiras pessoas a tentar uma aventura daquelas
sem seguro de viagem, sem carta de condução internacional,
sem trincos nas portas, sem noções básicas de mecânica, sem
kit de primeiros-socorros, sem saber fazer uma massagem
cardíaca, sem mapas. Éramos trapezistas sem rede na mais
difícil acrobacia para um viajante.» Percebe-se o desprendimento. Afinal, foi com a célebre pergunta de Bruce Chatwin
que esta aventura começou: «Que faço eu aqui?»
A constatação óbvia da falta de experiência em grandes
viagens – ainda para mais em África – não os travou: nem
mesmo depois de se perderem logo à saída de Lisboa, quando
tinham 30 mil quilómetros pela frente. Tiago Carrasco, João
Henriques e João Fontes também não desistiram perante a
pobreza do orçamento de que dispunham: uns míseros sessenta
euros diários para sustentar três homens e um automóvel ao
longo de cinco meses. As opiniões desencorajadoras de amigos,
familiares e conhecidos, que os olhavam como se fossem loucos,
também não os demoveram. Nada os deteve. Pura e simplesmente avançaram em direção ao desconhecido e ao sonho de
quem nada tinha a perder se cortasse amarras e partisse à
aventura.
Disse-me um dia o Tiago: «Foi a nossa ingenuidade que
nos fez chegar lá baixo.» E a coragem, acrescente-se. Porque
esta é uma história de superação individual. Uma prova eloquente de determinação. Uma metáfora sobre a capacidade
humana de vencer as contrariedades e até mesmo (como bem
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NOTA DO EDITOR
traduz a dedicatória do livro) de transformar essas contrariedades em estímulos e vantagens. Um exemplo inspirador
para toda uma geração paralisada pelo medo e pela desconfiança em relação ao futuro.
Mas sobre tudo isto temos uma grande aventura, onde
nos cruzamos com a história recente de África e vemos as
manifestações desse desastre pelos olhos de três europeus aturdidos: emigrantes em fuga para a Europa, traficantes de gente
e de ouro, senhores da guerra, governantes manobrados por
feiticeiros, polícias corruptos, militares e rebeldes cegos pelo
ódio, órfãos e deficientes entregues a si próprios, perseguições
étnicas, cidades caóticas, bairros miseráveis. E, a par deste
cenário sem lugar para a esperança, a hospitalidade dos povos
e a sensação de terra inexplorada que só África proporciona
– nos encontros com tribos como os dogons ou os pigmeus,
no deslumbramento do Parque de Etosha ou das cataratas de
Vitória, no encontro mágico com um rinoceronte negro, na
incursão pelas entranhas da selva do Congo ou na violência
dos relâmpagos numa noite de apocalipse em que o mundo
parecia prestes a acabar.
Definitivamente, Até Lá Abaixo é uma das mais empolgantes
narrativas de viagem escritas em português nos últimos anos.
Francisco Camacho
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Aos meus pais, à Tânia, ao João Fontes e ao João Henriques.
E também a todos os chefes que nunca me propuseram um
contrato de trabalho – sem eles este livro não teria sido possível.
Uma paragem a caminho de Brazzaville, Congo
I
Nem o cheiro insuportável nem o chão pegajoso perturbam
o meu momento de introspeção. Estou na casa de banho de
um bar do Cais do Sodré, não sei qual, mas pouco importa.
São todos iguais. A mesma penumbra, os mesmos pseudo-intelectuais, a mesma música obsoleta dos anos 80. Tudo a mesma
merda. E eu faço parte dela.
Preciso de me isolar. Pouso o copo de gin tónico no lavatório
asqueroso enquanto a porta da casa de banho se fecha lentamente, deixando os decibéis dos Joy Division cada vez mais
abafados, até se tornarem num sussurro. Muda de vida.
O espelho reflete uns olhos injetados e ofusca-me com a ilusão
apaziguadora de que estou diante de alguém que me compreende
– sou eu, embriagado. É quando atinjo este estado que me dou
conta da minha necessidade imperiosa de evasão. Quero partir
para bem longe. E não me faltam pretextos para a fuga.
Lá fora, a Sofia está a arrasar a festa da revista onde trabalho. Irrompeu bar adentro com o seu ar alucinado, decidida
a mostrar a todos que temos um caso. Os estragos provocados
à minha imagem por aquele furacão de mulher estão a ser
terríveis. A Sofia tenta beijar-me à força, cospe vodka para
cima dos meus colegas jornalistas e distribui linguados por
lésbicas decadentes. Antes de me refugiar na casa de banho,
ficou com um ataque de ciúmes da minha colega da frente,
mordeu-lhe o pescoço e ainda acusou o meu chefe de ter cara
de quem não sabe fazer sexo oral. Uma catástrofe.
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TIAGO CARRASCO
Deixei-me contagiar pela sedução tresloucada da Sofia,
pela cavalgada contínua da sua longa crina castanha, pela
irreverência do sotaque algarvio, pelo seu prazer de viver e
pela sua obsessão mal disfarçada pela morte. A vida que tinha
construído sobre os alicerces de um apartamento na Graça,
partilhado durante três anos com a minha namorada italiana,
estremecera e ruíra. Não queria trocar a minha felicidade estável
com a Giovanna pela felicidade libidinosa que a Sofia prometia.
Não. O que estava em causa era o próprio conceito de felicidade,
que sofrera o primeiro abanão quando a Giovanna, fundamentalista vegetariana e amiga dos animais, decidiu levar lá
para casa dois coelhos-anões. Malditos roedores. Começaram
a mijar no tapete e a invadir-me o território, desviando todas
as atenções da Giovanna para os seus lindos focinhos. Os meus
dias passaram a ser divididos entre idas de emergência ao veterinário em Telheiras, porque o Ernesto era epilético, e serões
passados em cuecas no sofá a acariciar a felpuda Amélie. Apesar
de até gostar dos bichos, eu já não suportava apanhar caganitas
de leporídeos e substituir cabos de rodapé, roídos pelos incisivos
assassinos das novas coqueluches da minha namorada. E assim
começaram as discussões.
Além disso, o trabalho, onde me fui habituando a descarregar as frustrações, já não me animava. Dava por mim a salivar
para cima da National Geographic e da Newsweek, verde de
inveja por não poder fazer reportagens internacionais. E depois
havia o salário, tão baixo que da última vez que tinha pedido
apoio ao arrendamento jovem me responderam que os meus
rendimentos não alcançavam o patamar mínimo contemplado.
Demasiado pobre. Assim, deixava-me flutuar entre as páginas
do Ébano de Kapuscinski e os delírios do Hunther Thomson,
sonhando com os tempos em que os jornais eram pastos abundantes habitados por vacas gordas. «Não podes sentir nostalgia
de um tempo que não viveste», alertou-me em conversa de balcão, há minutos, o meu estimado chefe – o tal que pouco depois
estava a ser cruelmente acusado de não saber fazer minetes.
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AT É LÁ ABAIXO
Na superfície daquele espelho encardido iam desfilando
as ilusões criadas por uma educação numa família da classe
média – a família feliz, o emprego estável, o automóvel vistoso,
o apartamento decorado com requinte, o ecrã LCD mais fino
que o do vizinho, a Bimby que até faz papas de serrabulho, e
segurança, muita segurança. Foi ali, naquele momento, que
tomei uma decisão. Foi ali que matei o sonho americano. Não
senti remorsos, porque ele estava a sufocar-me. Chegara a
hora de superar um verdadeiro desafio, de criar a minha
própria ilusão, um lugar onde nem o espaço me aperte nem o
tempo me asfixie. Quero…
«África, já», berra uma figura baixa e cabeçuda, como
se estivesse a adivinhar-me os pensamentos, ao mesmo tempo
que empurra a porta da casa de banho e se planta ao meu
lado de boca aberta, com um sorriso aberto. É o Johnny, o
meu amigo inseparável. O volume da música voltou a aumentar.
Agora é uma piroseira qualquer dos Abba.
Há treze anos que conheço esta expressão do Johnny. Traz
sempre água no bico. Conhecemo-nos no Baleal, na costa oeste,
onde as nossas famílias construíram uma casa de férias. Passámos verões intermináveis e fins de semana de inverno a brincar
aos polícias e ladrões, a fazer guerras de torrões de areia e a
jogar à bola. Principalmente a jogar à bola. Juntos, bebemos
os primeiros copos, vivemos os primeiros namoricos e fumámos
os primeiros cigarros. Quis o destino que o Johnny tal como
eu fosse parar ao jornalismo, como fotógrafo, e que trabalhássemos juntos. Por isso conheço bem aquela cara de quem
fez alguma ou está para fazer. É que o Johnny também quer
sair daqui. Está saturado de preencher recibos verdes e passar
dias sentado sem fazer nenhum. Mas o grande mal do Johnny
é que está cego de amor. Há dois ou três anos que tem uma
obsessão desmedida por uma rapariga do Norte chamada Inês,
que conheceu quando ambos estudavam em Espanha. O namoro
acabou, mas o Johnny e a Inês continuam a viver juntos, num
apartamento no Bairro Alto. Desde essa altura abdica de tudo
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TIAGO CARRASCO
para alimentar a esperança de reatar a relação. De há uns
tempos para cá, olho para o Johnny como um herói da mitologia
grega caído em desgraça e castigado pelos deuses – vive diariamente a um palmo da única coisa que quer na vida e não consegue tocar-lhe. Mas esta carantonha está a dizer-me que ele
atingiu o limite. Tal como eu, quer fugir.
África assaltou-nos o imaginário há mais de um ano,
quando trabalhávamos juntos numa produtora televisiva. Tivemos então esta ideia ingénua: sair de Lisboa num jipe e atravessar
o continente pela costa atlântica, até à África do Sul. Na
bagagem levaríamos uma bola de futebol. Acreditávamos que
era o objeto indicado para comunicar com os africanos e chegar
à África do Sul, onde estaria a começar o Mundial, com uma
série de boas histórias acumuladas ao longo do caminho (além
de que não aguentamos muito tempo sem dar uns toques). Falámos da ideia a amigos, colegas e familiares, mas ninguém nos
levou a sério. Agora, naquela casa de banho imunda, tinha
chegado a hora de mostrar que não estávamos a brincar.
«Estava a pensar arrancar no início de Janeiro. Que
achas?»
«Parece-me bem», balbuciou o Johnny. «Mas faltam-nos
umas coisinhas: dinheiro, carro… nem a bola de futebol temos.»
«Arranja-se. O que me preocupa é o Fontes. O sacana
continua em Angola.»
Conhecera o João Fontes na produtora. Eu como jornalista, ele como operador de câmara, trabalhávamos em programas sobre assuntos tão variados como o novo iPhone ou
a pesca da tainha. Ficámos amigos. Quando dividimos um
apartamento em Lisboa com uns italianos, enchíamos a casa
de estrangeiras e fazíamos festas pela madrugada fora.
«Como é que ele se está a dar por Angola?», perguntou
o Johnny.
«Anda a fazer um programa sobre o jet set angolano e
está farto de Luanda. Acho que vem a Lisboa para a semana.»
«Já não volta, vamos sequestrá-lo. África, já!»
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AT É LÁ ABAIXO
Bebemos mais um gin e uma cerveja e abandonámos o
bar. A Sofia entrou pela janela do meu Ford Fiesta e deitou-se sobre mim e o meu colega que se sentara no lugar do morto.
Com a vista embaciada e a alavanca das mudanças tapada
por umas belas coxas, deslizei em segunda velocidade pelas
ruas de Lisboa, agora mais tranquilo, apenas com vontade de
acelerar a contagem decrescente para a chegada do João Fontes.
São sete da manhã no aeroporto da Portela. O Gordo desce
as escadas rolantes em grande correria e abalroa-me. Dois corpos
no chão de mármore e dois baldes de cerveja derramados. Ainda
combalido, espreito por cima do ombro e vejo aproximar-se um
grupo de hooligans descontrolados. O Johnny está no meio
deles. O caos está lançado na plataforma de chegadas. Nada a
temer. É só o grupo de amigos do João Fontes que, como eu e
o Johnny, não quiseram faltar à receção de boas-vindas.
Já não o vemos há meio ano. Até que o Fontes lá aparece,
com a pele torrada pelo calor dos trópicos, um sorriso aliviado,
piercing a reluzir aos primeiros raios de sol que entram pelas
janelas. Saltamos como uma mola para a rampa de passageiros.
O Fontes espalha-se ao comprido. Seguem-se os apertos de
mão, os abraços, uma enorme algazarra. Sem querer empurro
o carrinho das malas contra um dos pilares, causando um
grande estrondo. «Saia já do aeroporto», grita um polícia. «Ou
então vou ter de o deter». O Gordo e o resto dos desordeiros
saem em minha defesa. Vêm mais polícias e acabamos todos
na rua. Cá fora, faço a pergunta fatal ao recém-chegado: «Como
é, Fontes? Vamos mesmo até à África do Sul?»
«Então não foi para isso que eu voltei?» A pergunta confirmava as melhores expetativas: o Fontes acabara de trocar
os dólares de Luanda pela viagem mais louca das nossas vidas.
A equipa estava feita.
Agora só faltava o dinheiro. E o carro.
Pormenores.
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O nosso jipe, o Yuran, na despedida em Lisboa
II
«Vocês acham que conseguem atravessar África assim? Olha
para ti… Se te veem com esse brinquinho e essa camisola com
bonecos comem-te vivo», diz o velho Albertino, apontando para
o Road Runner e o Wile E. Coyote estampados na T-shirt cinzenta
do Fontes.
Deveríamos estar num encontro de angariação de fundos
para a viagem. Em vez disso estão a rogar-nos pragas há mais
de uma hora.
Albertino tinha sido nosso patrão na produtora e levou-nos a uma reunião com o misterioso produtor Jacques Domy,
num apartamento de tetos altos junto à Avenida da Liberdade.
É já a terceira vez que nos sentamos em frente deste sexagenário
de rosto indecifrável e olhos escondidos por lentes grossas,
ouvindo, arrepiados, o seu sotaque com erres carregados.
Albertino dissera-nos que Jacques produzia vídeos institucionais,
mas não vejo nem posters de cinema, nem câmaras, nem bobinas, nem salas de edição, nem gente – só mesmo a secretária
jeitosa que nos veio abrir a porta O apartamento mais parece
um entreposto de tráfico de interesses e, de facto, Jacques tem
fama de fazer muitos favores diplomáticos. O seu discurso
cheirava mais a esturro que uma incineradora.
«Estão a falarrr com dois homens com experrriência de
Áfrrrique. Quando menos esperrrarrrem têm uma pissstole na
cabeça.» A dupla grisalha tentava despertar o nosso medo e a
nossa insegurança. Albertino e Jacques, que tinham passado
19
TIAGO CARRASCO
boa parte da vida na África colonial – o português em Angola,
o francês na Costa do Marfim – exalavam a nostalgia própria
de muitos retornados. A última imagem que guardavam de
uma terra que outrora lhes dera conforto e prosperidade era
a revolta sanguinária dos negros contra os antigos senhores
coloniais – massacres, pilhagens e violações. Albertino chegara
mesmo a lutar do lado do MPLA pelo nascimento de uma
nova Angola mas, depois da independência, apenas se aguentara
até aos anos 80, altura em que se desiludira com a guerra e
com o partido e voltara à pátria. Jacques fizera várias viagens
de negócios pela Costa do Marfim até que, em 2002, tivera
de fugir da guerra civil e da caça aos franceses.
«Em Abidjan não podem andarrr na rua sem segurrranças.
Assim que chegarrrem à fronteirrra vão roubar-vos as câmarrras. Se parrrarrrem num sinal verrrmelho, entrram-vos no
jipe e tirram-vos as malas.»
Jacques e Albertino traçavam-nos um cenário terrível e
ameaçador. Era preciso cuidado com o calor assassino, com
os canibais, com as minas, com os feiticeiros que envenenavam
a água embebendo a unha do dedo mindinho nas garrafas e
com as doenças dos trópicos que matavam um homem em
poucas horas. Atiravam-nos tudo o que já sabíamos e ainda
o que não queríamos saber. Todos os perigos tinham um
denominador comum. «Vocês são brrrancos. Il n'y a rien de
plus dangereux pour un blanc en Afrique que le simple fait
d'être blanc.»
O francês estava bastante reticente em investir um cêntimo
que fosse na nossa aventura. A suspeita de que os seus preciosos
euros fossem desaparecer num remoto posto alfandegário ou
numa barricada de uma milícia hostil era superior ao interesse
pelo projeto. Quando disse que era imperativo fazermos um
curso de defesa pessoal, apressámos o desfecho da reunião e
fomo-nos embora.
Continuávamos sem dinheiro para a viagem.
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