Trabalhando com gêneros discursivos: um gênero quadro a quadro; a história em quadrinhos. DECHICO, Isabela Carolina (UEL) MOREIRA, Daiane Fernanda (UEL) Orientadora: Profª. Drª. Alba Maria Perfeito (UEL) Resumo: Pensando que o processo ensino/aprendizagem deve se basear no processo sociointeracionista na ação pedagógica, - que possibilita que o conteúdo escolar possa ser concretizado e contextualizado em situações práticas do uso da língua - a proposta do trabalho em pauta surge na tentativa de responder a alguns desafios postos aos profissionais de língua materna em sala de aula, em consonância com uma visão contemporânea de ensino: de abordar os e os gêneros discursivos como objeto de ensino. E, neste caso em especial, de trabalhar com o gênero história em quadrinhos no estágio supervisionado do curso de letras da UEL. Nesse sentido, o objetivo fundamental do projeto será abordar o gênero história em quadrinhos, referente à leitura, à análise lingüística e a produção/refacção de textos, tendo em vista as características do gênero (tema, construção composicional e estilo, vinculadas às condições de produção, no processo de construção de possíveis efeitos de sentido.) E, então, de desenvolver e aplicar atividades didáticas em turma de quinta série do Ensino Fundamental, a fim de contribuir de maneira teórico-prática com estudos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de língua materna. Palavras-chave: gêneros discursivos, história em quadrinhos, ensino/aprendizagem. Introdução: O processo ensino/aprendizagem deve se basear no processo sociointeracionista da ação pedagógica, envolvendo professor e aluno e aluno sociedade, o que possibilita que o conteúdo escolar possa ser concretizado e contextualizado em situações práticas do uso da língua. Os DCE (2007), para Língua Portuguesa, explicitam que "na linguagem, o homem se reconhece humano, interage e troca experiências, compreende a realidade em que está inserido e o seu papel como participante da sociedade" e é a partir desse caráter social da linguagem que Bakhtin e os teóricos do círculo bakhtiniano formulam os conceitos de dialogismo e dos gêneros discursivos, cuja definição é dada como "a dinâmica, a fluidez, a imprecisão da linguagem, não aprisiona os textos em determinadas propriedades formais". Nesse sentido, podemos entender as práticas da linguagem, como um fenômeno de uma interlocução viva, que perpassam todas as áreas do agir humano, potencializando, na escola, a perspectiva interdisciplinar. Vale ressaltar que essas práticas não se dão somente no tocante a língua, mas na Literatura também: verdadeiramente enciclopédica, faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles. [...] A literatura não diz que sabe alguma coisa, mas que sabe de alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas - que sabe muito dos homens (BARTHES apud DCE 1989). Além disso, Geraldi (apud PERFEITO, 1984) propõe uma articulação metodológica entre uma concepção de linguagem e sua correlação com a postura educacional, apresentando ao aspecto concepção de linguagem, três modos de ser concebida: como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma de interação. Assim, observa-se que o discurso é produzido na concepção interativa de linguagem, e manifestado através dos textos e estes se organizam dentro de um determinado gênero discursivo. (BRASIL, 1998). Dessa forma os Parâmetros (1998), preconizam ser os gêneros discursivos o objeto de ensino – eixo de articulação e progressão curricular. Dessa forma, elegemos para atuar no estágio do curso de Letras um gênero próximo da realidade dos alunos, verbal e não verbal, que ainda traz a ludicidade presente. O objetivo fundamental do projeto será abordar o gênero história em quadrinhos, referente à leitura, à análise lingüística e a produção/refacção de textos, e tendo em vista as características do gênero (tema, construção composicional e estilo, vinculadas às condições de produção, no processo de construção de possíveis efeitos de sentido. E, então, de desenvolver e aplicar atividades didáticas em turma de quinta série do Ensino Fundamental, a fim de contribuir de maneira teórico-prática com estudos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de língua materna. Podemos conceituar, portanto, gêneros discursivos como sendo enunciados relativamente estáveis que circulam nas diferentes áreas de atividade humana e que se caracterizam e/ou distinguem por seu conteúdo temático, pela sua construção composicional( estrutura, organização geral ou arranjo textual) e estilo (marcas lingüístico-enunciativas). A experiência dos alunos com gêneros discursivos permite-lhe o reconhecimento e a distinção das formas de textualização utilizadas nos casos conhecidos. Visualmente, as histórias em quadrinhos são facilmente identificável, dada a peculiaridade dos ????? quadros, os desenhos e balões. Entretanto, as histórias em quadrinhos revelam-se um gênero tão complexo quanto os outros no que tange ao seu funcionamento discursivo. Embora, por muito tempo, a história em quadrinhos tenha sido considerada como uma leitura de baixa qualidade, levando-a falsa premissa de que “ler quadrinhos é fácil”. Na verdade, segundo Mendonça (2005), determinadas histórias em quadrinhos demandam estratégias de leitura sofisticadas, além de um alto grau de conhecimento prévio, sendo quase que destinadas apenas aos “iniciados” nos enredos de seus personagens. Pode-se explorar as histórias em quadrinhos como se faz com qualquer gênero, atentando-se para recursos diversos do seu funcionamento. Nas atividades de leitura, a exploração de vários aspectos da produção de sentido é a base das atividades. Assim sendo, a análise específica do gênero, sua constituição, formas de circulação, - será nosso objeto de trabalho pedagógico na escola, em termo de leitura, análise lingüística, produção e refacção textual. Estudar inclusive os elementos icônicos, a disposição do texto, por exemplo, e a relação de sentido e peculiaridades do gênero constitui, sem dúvida, material rico para o entendimento dos múltiplos usos da linguagem das histórias em quadrinhos. Cremos que, falta à escola ainda a coragem de incorporar, efetivamente, as histórias em quadrinhos ao conjunto dos vários gêneros, no que diz respeito ao eixo de articulação e progressão curricular. Além disso, reconhecer e utilizar o recurso da quadrinização como ferramenta pedagógica parece impor-se como necessidade, numa época em que a imagem e a palavra, cada vez mais, associam-se para a produção de sentido nos diversos contextos comunicativos. Desenvolvimento Metodológico: Nossa proposta surge na tentativa de responder a alguns desafios postos aos profissionais de língua materna em sala de aula, em consonância com uma visão contemporânea de ensino, de relacionar a concepção interacionista de linguagem e o estudo sobre os gêneros discursivos, neste caso em especial, o gênero história em quadrinhos. Consideramos que, no ensino de língua portuguesa (LP), o aluno ao entrar em contato com diferentes gêneros discursivos em organização curricular progressiva, no processo de leitura, análise lingüística, produção e refacção textual, tem a oportunidade de vivenciar a pluralidade de textos que circulam em distintas esferas da sociedade e de atividade humana, tendo assim, experiência com a diversidade dos gêneros. Não se tem ainda uma definição pré-estabelecida sobre o gênero HQs, no entanto, podemos observar que este está totalmente inserido o nosso cotidiano. Estando assim tão inseridos em nossas vidas, é quase natural não refletirmos sobre as histórias em quadrinhos enquanto “produto de nossa cultura, sua complexidade e suas implicações e ideologias” (HIGUCHI, 1997). A HQ é uma narrativa essencialmente recreativa com um aspecto informativo secundário e mais ou menos involuntário, com base nessa finalidade lúdica, orientada para o humor, os americanos batizaram o gênero inteiro de comics e funnies. (ANSELMO, 1975, p. 34). Segundo Barbosa (2006), as histórias em quadrinhos deve ser instrumento de educação, formação moral, propagando de bons sentimentos e exaltação das virtudes sociais e individuais. As possibilidades de comunicação são enriquecidas pela familiaridade com as histórias em quadrinhos. A inclusão das HQs na sala de aula possibilita ao estudante ampliar seu leque de meios de comunicação, incorporando a linguagem gráfica à linguagem oral e escrita, que normalmente utiliza ( BARBOSA, 2006). Atendendo a nossa proposta, as HQs auxiliaram no desenvolvimento da prática de leitura, no enriquecimento do vocabulário, na análise lingüística e na produção textual. E com isso poderemos, a exemplo do que está sendo feito em nosso projeto de estágio, onde ministramos aulas para uma sala de quinta série de ensino fundamental da rede pública de ensino, explorar, analisar, discutir, ponderar e compreender o processo de produção e construção que permeiam o gênero história em quadrinhos. Abordaremos as historinhas da Turma da Mônica, especificamente, as protagonizadas pelo personagem Chico Bento, cuja autoria pertence a Mauricio de Souza. Mauricio de Sousa nasceu no Brasil, numa pequena cidade do estado de São Paulo, chamada Santa Isabel. Foi em outubro de 1935. Seu pai era o poeta e barbeiro Antônio Mauricio de Sousa. A mãe, Petronilha Araújo de Sousa, poetisa. Além de Mauricio, o casal teve mais três filhos: Mariza (já falecida), Maura e Marcio.). Na criação de seus personagens, Mauricio se apegou à características da personalidades e até estéticas de seus filhos, amigos de seus filhos e familiares. Chico Bento, por exemplo, foi criado em 1961, e teve como modelo um tio-avô de Mauricio. O personagem do Chico Bento faz parte de uma turma de crianças vivendo num meio rural, típico de cidades pequenas no interior do Brasil. Chico Bento é um menino interiorano, que anda sempre descalço, com roupas simples e chapéu de palha. Vai à escola, mas não gosta muito de estudar, acorda antes do nascer do sol para ajudar o pai na roça, brinca com os amigos da turma e ainda namora a Rosinha. É um dos personagens mais populares e queridos dos quadrinhos. É acomodado, eventualmente preguiçoso, mas é muito aventureiro. Chico Bento é um menino bondoso, generoso, ama a natureza e os animais, sejam eles selvagens ou do sítio. De tudo isso concluímos, que história em quadrinhos tem evoluído bastante em todos os campos: na metafísica, na sátira social e política, na psicanálise e no entreterimento; todas elas despertando a compreensão para provar que não são uma série incoerente de desenhos, mas a forma mais autêntica dos sonhos, aspirações, grandezas e misérias do nosso século. Objetivos: O principal objetivo desta proposta é trabalhar o gênero discursivo no Ensino Fundamental, discutir e analisar junto ao aluno o reconhecimento dos elementos característicos que compõem as histórias em quadrinhos e proporcionar a discussão de temáticas, estrutura, recursos estilísticos e/ou marcas lingüístico-enunciativas empregados na composição dos textos, vinculadas às condições de produção. Além disso, pretendemos atingir outros objetivos que envolverão a participação efetiva dos professores e alunos. Entre eles estão: • Propiciar ao aluno o contato com os conceitos de gênero discursivo; • Discutir sobre definição de histórias em quadrinhos e todos os seus elementos (conteúdo temático, construção composicional e arranjo textual ou estilo) relativamente às condições de produção; • Apresentar o autor-chave do projeto (Maurício de Sousa) suas histórias em quadrinhos e suas características enquanto escritor; • Oportunizar aos alunos o contato com a teoria básica e estrutura da história em quadrinhos; • Perceber marcas lingüístico-enunciativas (marcas do gênero e do autor); • Viabilizar aos alunos o processo de produção e refacção textual do gênero em pauta. Cronograma: O projeto terá um total de 20 horas divididas em, no mínimo, duas horas/aulas por dia, ao menos uma vez por semana, durante no máximo dez semanas. A distribuição do conteúdo se dará da seguinte maneira: Unidades Didáticas Objetivos específicos Contextualizar o conteúdo temático que será abordado durante o projeto: Gênero História em Quadrinhos. Conhecer as estruturas internas que compõem uma história em quadrinho. Conteúdos Número de Desenvolvimento aulas metodológico Apresentar o gênero Introdução do conceito do gênero discursivo história em quadrinhos. 2 aulas (de 50 min. cada) discursivo História em quadrinhos através de uma dinâmica, em seguida conceituar o gênero juntamente com os alunos. Apresentar os diferentes 2 aulas Explorar e desenvolver conteúdos (de 50 min. atividades de identificação estruturais do cada) dessas estruturas gênero. Descrição do Autor Maurício de Sousa Trabalhar as Apresentar o autor –chave ( obras, do projeto, Maurício de personagens, 2 aula características do autor Sousa e seu personagem características, (de 50 min.) Maurício de Sousa e do Chico Bento histórias) e de seu personagem Chico Bento personagem Chico Bento Leitura e análise de Reconhecer nas HQs as figuras de linguagem algumas histórias de Chico Explorar os elementos 6ulas composicionais/ (de 50 min. estruturais e as cada) marcas lingüísticas das Bento Desenvolver uma produção textual HQs Elaborar um texto 2 aulas Será entregue aos alunos para a História em (de 50 min. uma história em quadrinhos cada) quadrinhos sem as falas das personagens, a partir das imagens e usando a criatividade produzirão a história. Elaborar uma Será entregue aos alunos seqüência gráfica (história em Desenvolver uma quadrinho), a partir produção gráfica. do texto apresentado pelos 2 aulas (de 50 min. cada) dois textos em prosa, no qual será selecionado por eles apenas um, para que seja realizada a produção gráfica. professoresestagiários. Durante o processo de refacção, na qual foram observadas as dificuldades Observar as dificuldades Refacção das 2 aulas dos alunos, os apresentadas nas atividades de (de 50 min. professores-estagiários produções e solucioná-las. avaliação. cada) auxiliarão nos problemas apresentados para concluírem as atividades de avaliação. Fazer um breve resumo do Apresentar os resultados Entrega do material atingidos durante projeto. de avaliação. 2 aulas (de 50 min. cada) gênero história em quadrinhos e dos objetivos do mini-curso e mostrar o resultado das atividades de avaliação. Estratégias: A postura adotada pelos professores estará pautada na interação professor-aluno. Acreditamos que assim, o processo ensino/aprendizagem se torna eficaz para a realização das atividades. Nossa proposta é aliar o gênero discursivo contextualizado ao autor Maurício de Sousa, juntamente às histórias de seu personagem Chico Bento, atentando ao fato de o personagem ser um típico caipira brasileiro. Para tanto, utilizaremos algumas histórias, já pré-selecionadas e adequadas à sala de aula em questão, do Chico Bento. Avaliação: Por entendermos a avaliação como um processo, é imprescindível que a avaliação seja contínua e dê prioridade à qualidade e ao progresso de aprendizagem, ao desempenho do aluno ao longo do ano letivo, nesse caso, ao longo do projeto. Será observado e relatado, sem parâmetros quantitativos, a oralidade, leitura e escrita, ou seja, a participação em sala, pesquisas, debates, atividades orais e escritas dos alunos envolvidos ao longo do desenvolvimento do projeto. Além disso, todas estas atividades subsidiarão nossa auto-avaliação enquanto educadores, a avaliação do nosso desempenho em sala pelo professor colaborador e pelo professor orientador do presente projeto. Considerações Finais: A partir do trabalho em tela apresentamos uma espécie de diálogo entre a perspectiva enunciativa de estudos da linguagem e o trabalho que pode ser desenvolvido em sala de aula. A partir dessa concepção buscamos esclarecer que os recursos lingüístico- enunciativos podem e devem estar aliados às práticas de leitura e produção textual. Após conceber uma idéia para criar uma história em quadrinhos, seu criador procura desenvolvê-la como um objeto uno, formado por palavras e imagens. Como o produto final deve ser lido como um todo visual, percebe-se que a imagem predomina sobre o texto. No entanto, o conceito de história narrada é ampliado e desenvolvido pelas palavras que, tanto pelo seu significado como por seu aspecto gráfico e visual, complementam a arquitetura da composição de cada quadro. A combinação do signo lingüístico com uma imagem visual revela-se, ao contrário, muito rica e, sobretudo atrativa para os leitores, principalmente porque se serve de recursos próprios da oralidade. Os recursos de paralinguagem enriquecem e complementam a comunicação. Todos esses elementos tornam as histórias em quadrinhos de tal forma atrativas que se vendem aos milhares ou mesmo milhões de exemplares em todo o mundo. Leitores e autores se comunicam de maneira fácil, e cremos poder dizer que as características de oralidade, implícitas nos quadrinhos, são um dos fatores que contribuem fortemente para esse sucesso, tranformando-os em meio de comunicação de massa. Desse modo, podemos concluir que a perspectiva que aborda os gêneros discursivos como eixo de progressão e articulação textual possibilitam a instrumentalização do aluno no sentido de que ele tornar-se-à um sujeito crítico que conseguirá manifestar-se adequadamente em diferentes esferas da atividade humana. Referências Bibliográficas: ANSELMO, Zilda Augusta. Histórias em quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975, p. 34. BARBOSA, Alexandre (org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2006. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Ensino Médio. Brasília: MEC/SEF, 1998. HIGUCHI, Kazuko Kojima. Super-Homem, Mônica & Cia. In: CITELLI, Adílson. Aprender e ensinar com textos não escolares. Vol. 3. São Paulo: Editora Cortez, 1997. MENDONÇA, Márcia Rodrigues de Souza. Um gênero quadro a quadro: a história em quadrinhos. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; e BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e Ensino. 4ª edição. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica. SEED: Curitiba, 2007. Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>. Acesso em: 05 de abril de 2008. PERFEITO, Alba Maria. Concepções de Linguagem, Teorias Subjacentes e Ensino de Língua Portuguesa. In: RITTER, L. C. R; SANTOS, A. R. (Orgs.) Concepções de linguagem e ensino de Língua Portuguesa. Coleção formação de professores EAD. nº 18. Maringá: EDUEM, 2005. Site de Pesquisa: www.turmadamonica.com.br acessado em : 08/09/2008