CONSELHO FEDERAL DE ESTATÍSTICA
Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2011.
Ao Excelentíssimo Ministro Juiz Ricardo Lewandowski.
Assunto: Pesquisas Políticas
Inicialmente parabenizamos a Justiça Eleitoral pelo sucesso na condução das eleições
realizadas no País em 2010, fato aliás, amplamente reconhecido e comemorado em âmbito
Nacional e Internacional. Expressamos também, nossa homenagem por sua confirmação na Corte
Eleitoral decidida pelo Supremo em 10/02/20010 e desejamos renovado sucesso.
Entretanto, passado o momento da turbulência das ações logísticas para execução dos
pleitos, o Conselho Federal de Estatística (CONFE) vem apresentar algumas questões que julga
relevantes para a análise desse Tribunal, no sentido de contribuir para o aprimoramento das
normas definidas para registro das Pesquisas e faz outras considerações pertinentes.
Capítulos, Parágrafos e Artigos citados no texto são relativos à Instrução Nº 127 de 16 de
dezembro de 2009 do TSE que normatizou o registro das pesquisas políticas a serem realizadas
para conhecimento público, relativas às eleições de 2010.
A: Questões Não Técnicas
Questão I. Data de Vigência da Instrução Normativa.
Preliminares I: Artigo 1 do Capítulo 1 das Disposições Preliminares “A partir de 1º de janeiro de
2010, as entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições
ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a
registrar...............
Comentários I:
a) considerando que 9 (nove) meses antes das eleições, os partidos ainda não registraram seus
candidatos e o ambiente político está impregnado de incertezas;
b) considerando que as pesquisas do início do ano têm o objetivo muito claro de sondagem e
simulação de candidaturas, nas quais são feitos ensaios de avaliação de nomes postulados por
atores e agentes do jogo político;
c) considerando que os nomes menos trabalhados e outros menos em evidência no cenário
político no início do ano eleitoral são praticamente massacrados e alijados precocemente da
disputa política, antes mesmo de se tornarem conhecidos dos eleitores;
d) considerando que tais pesquisas só interessam aos referidos agentes e não seduz a opinião
pública, que só é usada para respaldar estratégias que ela desconhece;
e) considerando que é da natureza da pesquisa eleitoral incorporar certo grau de incerteza, mas
que uma componente forte desta incerteza nos primeiros meses do ano eleitoral é determinada
pelo voto não cristalizado, o qual só irá se transformar em intenção de voto muito mais adiante;
f) considerando que as pesquisas políticas, mesmo as realizadas próximas as eleições, chegam a
apresentar erros grosseiros que saem do intervalo de confiança programado;
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Sugestão I: O CONFE sugere que as pesquisas políticas para divulgação pública devam ser
autorizadas somente quando os candidatos tivessem as candidaturas registradas ou homologadas
na Justiça Eleitoral. Óbvio, que as pesquisas de sondagem ou ensaios simulados continuariam
liberadas para os contratantes interessados em traçar suas estratégias.
Questão II: Pesquisa de Boca de Urna.
Preliminares II: As Instruções Normativas do TSE publicadas nos anos de eleição incluem
corretamente, segundo nosso juízo, a obrigatoriedade do registro da pesquisa de boca de urna.
Mas, a boca de urna não se justifica nos tempos da urna eletrônica.
Comentários II: A partir da adoção das urnas eletrônicas nos pleitos eleitorais acrescidos dos
procedimentos informatizados na apuração, as pesquisas de boca de urna perderam a finalidade.
No passado quando a apuração era executada manualmente e o resultado de uma eleição para
Presidente da República chegava ultrapassar uma semana, a boca de urna era esperada com
certa aflição. Na época, valia a pena correr os riscos das incertezas ligadas às estimativas
estatísticas por causa da angustiante demora na apuração. Atualmente, a pesquisa de boca de
urna além de ser dispensável passou a ser indesejável, por conta da imprecisão natural dos
resultados obtidos por processo amostral. As eventuais divergências entre o resultado da Boca de
Urna e o do TSE podem gerar problemas de credibilidade no resultado oficial da apuração,
mormente numa situação de diferença estreita de votos entre candidatos.
Sugestão II: O CONFE sugere a suspensão da divulgação da pesquisa de boca de urna.
Questão III: Pesquisa de Índice de Aprovação dos Governos Executivos.
Preliminares III: O Índice de Aprovação dos Governos é notoriamente uma pesquisa política que
não é disciplinada pelo TSE. Como o registro não é obrigatório, este tipo de pesquisa não tem
merecido o devido controle por parte da sociedade civil.
Comentários III: Como o Índice é necessariamente avaliado através da metodologia estatística da
amostragem, antes da divulgação pública pela mídia a pesquisa deveria mencionar o plano
amostral e as medidas de confiabilidade das opiniões. Porém, ao contrário das pesquisas de
intenção de votos, os resultados são transmitidos como se fossem retratos fiéis da realidade. No
caso do Índice, a situação é agravada devido à complexidade do questionário que tenta prospectar
as razões da opinião dos entrevistados. Ilustrando nosso comentário com o relatório da pesquisa
CNI-Ibope “Avaliação do Governo e Expectativa em Relação ao Novo Governo” realizada no
periodo de 4 a 7 de dezembro de 2010 e inserida no site do Ibope, pode-se constatar o volume
surpreendente de informação extraído de pequena amostra de 2002 entrevistados. Apesar de,
fornecer burocráticas informações técnicas no item “5-Especificações Técnicas da Pesquisa”,
página 32 do relatório, o texto não dá as informações detalhadas e exigidas como no caso das
pesquisas registradas. O questionário não é revelado, mas mesmo assim, pode-se ter uma clara
idéia do seu tamanho e da sutileza das perguntas formuladas verificando a multiplicidade de dados
estatísticos contidos no relatório. Reproduzimos a seguir, o Sumário do Relatório da Pesquisa CNIIbope para ilustrar a quantidade de informação gerada: Destaque-se que não faremos neste texto
comentários da parte futurista do Relatório, 3-Expectativa em Relação ao Novo Governo, por
considerar as respostas desprovidas de confiabilidade política.
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Sumário. (Pesquisa CNI-Ibope de Aprovação do Governo)
1 Principais resultados 9
1.1 Avaliação do governo 9
1.2 Expectativa com relação ao novo governo 9
2 Avaliação do governo 10
2.1 Avaliação do governo Lula 10
2.2 Aprovação do presidente Lula 11
2.3 Confiança no presidente Lula 12
2.4 Comparação do segundo com o primeiro mandato 13
2.5 Aprovação por área de atuação 14
2.6 Percepção do noticiário sobre o governo 19
2.7 Assuntos mais lembrados sobre o governo do presidente Lula 20
3 Expectativa com relação ao novo governo 21
3.1 Como será o governo de Dilma Rousseff 21
3.2 Como será o governo de Dilma Rousseff em comparação com o governo Lula 21
3.3 Prioridades para o governo Dilma Rousseff 22
4 Tabelas 24
4.1 Avaliação do governo / Expectativa com relação ao novo governo 24
5 Especificações Técnicas da Pesquisa 32
5.1 Período de campo 32
5.2 Universo
5.3 Amostra 32
5.4 Variáveis para cotas amostrais 32
No item “2.5-Aprovação por área de atuação” na página 14 do Relatório foram pinçadas e
oferecidas aos entrevistados as seguintes áreas de atuação para avaliação do desempenho do
Governo Lula: Combate à Fome e à Pobreza; Meio ambiente; Combate ao Desemprego; Combate
à Inflação; Taxa de Juros; Educação; Saúde; Segurança Pública e Impostos.
Trata-se, portanto de uma verdadeira avalanche de perguntas de difíceis respostas para a
maioria dos entrevistados da população entrevistada, que tinha o seguinte perfil de instrução: 28%
até a 4ª série, 22% até a 5ª e 8ª série do fundamental; 35% com ensino médio e 14% com nível
superior. Devido à dificuldade de responder, não vale a pena comentar o inconclusivo resultado
das respostas ao item “2.4 Comparação do segundo com o primeiro mandato” do Presidente Lula.
Pela mesma razão, dificuldade de responder, é inconclusiva a resposta do item “2.6-Percepção do
noticiário sobre o governo“. Todavia, merece nossos comentários o item “2.7-Assuntos mais
lembrados sobre o governo” por conta da evidência das respostas dadas, onde os três temas mais
mencionados pelos entrevistados foram;
1º-“Ação das Forças Armadas no Rio de Janeiro, no combate ao tráfico nas favelas (32%)”.
2º-“Formação do novo governo da presidente eleita Dilma Rousseff / Influência do presidente Lula
na composição do novo governo (11%)”.
3º-Problemas e Erros nas provas do ENEM. Protestos e pedidos de anulação da prova (10%)
Os demais temas lembrados neste item são desprezíveis e pontuados na vizinhança dos
2% (4 pessoas), sendo que a soma: Nenhuma menção (21%) e Não Sabe/Não Respondeu (32%),
revelam que 53% dos entrevistados nada disseram (1.061 pessoas). Ainda, levando-se em conta
que os três primeiros temas mais mencionados eram assuntos veiculados na mídia no período da
pesquisa, fica então evidenciada a inutilidade da pergunta, o que já era previsto dado o perfil de
instrução da população entrevistada.
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Para finalizar os comentários, dirigimos a atenção para o complexo critério de espalhamento
da pequena amostra de 2002 entrevistados, definido no item “5.4-Variáveis para cotas amostrais” e
reproduzidos a seguir;
5.4 Variáveis para cotas amostrais
• SEXO: Masculino e Feminino.
• GRUPOS DE IDADE: 16-17, 18-24, 25-29, 30-39, 40-49, 50-69 e 70 anos e mais.
• INSTRUÇÃO: Até 4ª série do fund.; 5ª a 8ª série do fund.; Ens. Médio; Superior.
• ATIVIDADE: Setor de dependência - agricultura, indústria de transformação, indústria de construção, outras
indústrias, comércio, prestação de serviços, transporte e comunicação, atividade social, administração pública, outras
atividades, estudantes e inativos.
Devido a profusão de cortes têm-se 672 estratos = 2(sexo) x 7(idade) x 4(instrução) x
12(atividade), o que deve ter dificultado sobremaneira a execução do levantamento de campo que
foi realizado em dois dias. Para completar a fragilidade da pesquisa, as cotas da pesquisa
realizada em dezembro/2010 foram montadas, segundo o Ibope, com base nas desatualizadas
fontes; FONTES DE DADOS PARA ELABORAÇÃO DA AMOSTRA: Censo 2000, PNAD 2008 e
TSE 2008.
Sugestão III: Considerando que nossos comentários permitem concluir a superficialidade da
pesquisa do tipo CNI-Ibope, o CONFE sugere que a pesquisa amostral do Índice de Aprovação
seja considerada uma pesquisa política em qualquer época, e que portanto, seja incluída nas
Instruções Normativas do TSE. Propomos ainda que o Índice de Aprovação para divulgação
pública deva refletir somente o resultado da pergunta dicotômica: O Sr(a) aprova ou desaprova o
governo executivo....X.....?. Aprova ( ) Desaprova ( ). Evitando que as respostas originárias dos
entrevistados passem pelos níveis de aprovação: péssimo; ruim; regular; bom e ótimo, sofrendo
posterior agregação e que esta seja a primeira pergunta formulada ao entrevistado.
Questão IV: Data de Eleição dentro de Feriadão.
Comentários IV: Analisando o calendário das eleições passadas não é raro observar que a data
fixada para o pleito situa-se nas proximidades de feriado, apelidado pelo povo de feriadão. São
intervalos nos quais o domingo é antecedido por feriado na quinta-feira ou na sexta-feira ou é
seguido por feriado na segunda-feira ou terça-feira. Ocorreu na eleição do segundo turno para
Presidente no dia 31/10/2010 com feriado nacional em 02/11/2010 uma terça-feira, Dia de Finados,
e ocorreu também na eleição do segundo turno para Prefeito do Rio de Janeiro realizada em
26/10/2008 e com feriado em 28/10/2008, dia do Funcionário Público numa terça-feira. Inclusive
neste caso o Governo Estadual antecipou o feriado para a segunda-feira dia 27/10/2008. Como o
resultado do pleito apontou vencedor com pequena margem de votos, então o feriadão dominou a
discussão política na cidade. Naquela oportunidade o CONFE publicou o estudo “AVALIAÇÃO DO
IMPACTO CAUSADO PELO AUMENTO DA ABSTENÇÃO NO 2º TURNO DA ELEIÇÃO PARA
PREFEITO DO RJ EM 26/10/2008: PAES x GABEIRA” mostrando que o feriadão aumentou a
abstenção e certamente alterou o resultado final. O estudo é encontrado em Artigos no site do
CONFE www.confe.org.br.
Sugestão IV: Para abolir a influência do calendário nos resultados dos pleitos, sugerimos que o
TSE fixe o dia da eleição fora de feriadão. No caso de Feriado Nacional julgamos possível evitá-lo
com certa facilidade, mas nos casos Estatuais e Municipais pode existir cobertura de feriados
gerando dificuldade de implementação desta proposta. Neste caso, propomos que o calendário
eleitoral evite os feriadões nos maiores colégios eleitoral (Estadual ou Municipal).
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B - Questões Técnicas
Nessa parte B discutiremos dois problemas de natureza metodológica identificados pelo
CONFE no 2º turno da eleição para Presidente em 2010.
Problema 1: Comparando os resultados de duas pesquisas antes do pleito, em dois momentos
contíguos ao dia da eleição do 2º turno para Presidente, justificaremos a suspeita técnica que a
metodologia aplicada pelo Instituto Ibope apresentava um grave viés de conceituação. Os três
resultados, dois das pesquisas do Ibope e a apuração oficial do TSE, podem ser considerados
como praticamente simultâneos. As informações referentes às duas pesquisas do Ibope no 2º
turno para Presidente foram transcritas do site Ibope-Inteligência em Eleições 2010.
Pesquisa Eleitoral Ibope – Dia Anterior as Eleições 30/10/2010.
Ficha Técnica da Pesquisa (JOB Nº 0984-14/ 2010)
Período de campo: a pesquisa foi realizada no dia 30 de outubro de 2010.
Tamanho da amostra: foram entrevistados 3.010 eleitores em 203 municípios do Brasil.
Margem de erro: é de 2 pontos percentuais, considerando um grau de confiança de 95%.
Solicitante: Globo Comunicação e Participações Ltda e O Estado de S. Paulo.
Registro eleitoral: registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob protocolo nº 37917/2010.
Resultado da Pesquisa 30/10/2010
Candidatos Votos Válidos (%)
Dilma
56,5
José Serra
43,5
Total
100,0
Pesquisa Ibope de Boca de Urna 31/10/2010
Ficha Técnica da Pesquisa (JOB Nº 0984-15/ 2010)
Período de campo: a pesquisa foi realizada no dia 31 de outubro de 2010.
Tamanho da amostra: foram entrevistados 54.400 eleitores em 420 municípios.
Margem de erro: é de 2 pontos percentuais, considerando um grau de confiança de 99%.
Solicitante: Globo Comunicação e Participações Ltda.
Registro eleitoral: registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob protocolo nº 38132/2010.
Resultado da Boca de Urna 31/10/2010
Candidatos
Votos Válidos (%)
Dilma
58,0
José Serra
42,0
Total
100,0
No quadro a seguir faremos um resumo para facilitar a visualização da comparação dos
resultados, onde estão transcritos nas duas primeiras linhas os resultados das pesquisas, e na
terceira linha o resultado oficial do TSE da Eleição para Presidente em 31/10/2010.
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RESUMO COMPARATIVO DAS PESQUISAS DO IBOPE X RESULTADO TSE
Data Pesquisa
Resultados Votos Válidos(%)
Nº de Eleitores
Nº de Municípios
Dilma
J. Serra
30/10/2010
56,5
43,5
3.100
203
31/10/2010 (Boca)
58,0
42,0
54.400
420
31/10/2010 (TSE)
56,0
44,0
135.803.366
5.564
Fonte TSE: Dados atualizados em 27/01/2011
Salta à vista a boa aproximação conseguida pelo Ibope na sua estimativa do dia anterior da
eleição (30/10) executada com base numa amostra com 3.010 entrevistados. A diferença entre a
estimativa e o resultado oficial do TSE foi de mais 0,5 para Dilma e consequentemente menos 0,5
para J.Serra. Todavia o mesmo desempenho não se repetiu na Boca de Urna, justamente no dia
da eleição (31/10) com amostra de 54.400 entrevistados. A diferença entre a estimativa do Ibope
na Boca de Urna em relação ao valor oficial, só considerando o valor da candidata Dilma, foi igual
a
= 58.0 – 56.0 = 2,0. Ressalte-se que o erro ocorrido tangenciou a margem de 2% (máximo)
programada, apesar da previsão de 99% de probabilidade dele ser menor. Isto é, a probabilidade
de ocorrer diferença menor de 2% entre o valor estimado na pesquisa e o valor apurado pelo TSE,
declarado pelo próprio Ibope, é igual a 0,99. Porém, aconteceu o contrário com chance menor que
0,01. Então, se ocorreu um evento raríssimo é preferível admitir que há erro na metodologia .
Aliás, um outro argumento intuitivo pode levar a suposição que a metodologia do Ibope
apresenta falhas graves. Basta considerar que o senso comum rejeita que uma metodologia
encontre uma estimativa próximo do valor verdadeiro com uma amostra de 3010 eleitores no dia
anterior a eleição, e esta mesma metodologia produza um valor mais afastado do valor verdadeiro
quando usa uma amostra de 54.400 eleitores na Boca de Urna. Pior do que agredir o senso
comum, tal resultado colide frontalmente com a famosa Lei dos Grandes Números deixando os
estatísticos perplexos, estupefatos e assombrados.
Problema 2: Faremos uso dos dados da pesquisa de Índice de Aprovação publicada pelo Instituto
Datafolha em 26/10/2010 para tecer alguns comentários, que segundo nosso juízo apontam para
existência de inconsistência interna dos resultados. Usamos a pesquisa do Instituto Datafolha pela
simples razão de conter informações que podem ser confirmadas por um simples raciocínio. A
pesquisa foi registrada no TSE com o Nº 37.404/2010 e contratada pelo jornal Folha de S. Paulo e
pela Rede Globo. Em seguida, temos as informações contidas no site oficial do Instituto Datafolha;
“A pesquisa do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por sexo e
idade com sorteio aleatório que entrevistou 4.066 eleitores em 246 municípios em todos os
Estados, cujo universo da pesquisa é composto pelos eleitores com 16 anos ou mais do país e
com margem de erro máxima 2 pontos percentuais para mais ou para menos considerando um
nível de confiança de 95%. A aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi de
83% e de acordo com o levantamento, 96% dos entrevistados que disseram votar na candidata do
PT à Presidência, Dilma Rousseff, consideram a gestão de Lula como ótima ou boa. Entre os
eleitores de José Serra (PSDB), esse percentual cai para 67%”.
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Partindo-se da premissa que o Datafolha esteja correto quando expressa o percentual de
aprovação condicionada a declaração da intenção de votos, ou seja, aquele eleitor que vota na
candidata Dilma tem probabilidade a 0,96 (96%) de aprovar o Governo do Presidente Lula e o
eleitor que vota no candidato José Serra tem probabilidade de 0,67 (67%) de aprovar. Então, o
quadro a seguir fornece os dados necessários para estimar o Índice de Aprovação do governo Lula
no momento da eleição.
Estimativa do Nº de Eleitores que Aprovavam o Governo Lula em 31/10/2010
Eleição 2º
Turno para
Presidente
(Canditados)
(TSE) 31/10/2010
Votos Válidos
Datafolha em
26/10/2010 Índice
de Aprovação (%)
Eleitores que Aprovam
o Governo Lula
(Estimativa do CONFE)
Dilma
55.752.529
96%
53.522.428
José Serra
43.711.388
67%
29.286.630
Total
99.463.917
-------x------
82.809.058
Com base nos resultados reais do pleito segundo o TSE e usando a probabilidade de
aprovação dado pelo Datafolha, pode-se expressar o cálculo a seguir:
apg = 55.752.529 x 0,96 + 43.771.388 x 0,67 = 82.809.058
(1)
onde apg é o valor estimado do número de eleitores que aprovavam o governo.
Para se ter uma primeira estimativa do Índice de Aprovação do Governo Lula, basta dividir
apg pela quantidade de eleitores aptos na eleição de 31/10/2010 que segundo o TSE é igual a
135.803.366 valor atualizado em 27/01/2011 (ver quadro anterior do Resumo). Logo a estimativa
do Índice com base na pesquisa do Datafolha é igual a:
sendo que nesta primeira estimativa 61%, originária da expressão (1), usamos somente os votos
válidos 99.463.917 que corresponde a 55.752.529 da Dilma mais 43.711.388 do José Serra. Tal
procedimento é similar ao do Datafolha que usou no numerador do seu Índice só os votos válidos,
isto é, somente entrevistados que responderam a indagação Aprova/Desaprova desconsiderando
as respostas “Não sei”/“Não Respondeu”, e usou no denominador da razão o número total de
eleitores entrevistados na amostra.
Todavia, no nosso caso devemos indagar o que ocorreu com a diferença de votos entre o
número de eleitores e os votos válidos, ou seja, 135.803.366 - 99.463.917 = 36.339.449. Esta
diferença corresponde à soma dos votos: brancos, nulos e abstenção; sendo esta última igual a
29.197.152 eleitores que não compareceram ao 2º turno da eleição para Presidente (TSE). Notar
que para cálculo do Índice de Aprovação os votos brancos e nulos não devem ser considerados no
numerador da razão, pois certamente estes eleitores responderiam “Não sei”/“Não Respondeu” a
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pesquisa do Índice, tais votos também foram desconsiderados na pesquisa do DataFolha. Todavia,
a pesquisa do Datafolha não captou a abstenção e nem poderia, deste modo 29.197.152 eleitores
deixaram de entrar na equação (1), consequentemente sua participação no Índice deve ser
discutida. Logicamente a abstenção inclui aqueles eleitores que votariam em branco ou nulo e que
constituem uma parte não desprezível da abstenção, e como dissemos estes votos não entrariam
no numerador do Índice. Por outro lado, a abstenção também inclui eleitores dos candidatos Dilma
e José Serra e estes certamente declarariam sua opinião Aprova/Desaprova na pesquisa do
Índice, portanto deveriam participar da equação (1). Entretanto, não há como saber quantos
eleitores dos candidatos Dilma e José Serra estão incluídos na abstenção. Para contornar este
desconhecimento formularemos hipóteses inverossímeis e construiremos estimativas improváveis
que permitirão avaliar a verossimilhança da estimativa (83%) do Datafolha. Considere-se por
absurdo que todos os 29.197.152 faltantes fossem eleitores do José Serra, neste caso o Índice de
Aprovação passaria para 75%; por outro lado, imaginando que os 29.197.152 fossem eleitores da
Dilma o Índice passaria para 82%. Nas duas alternativas os votos brancos e nulos não foram
abatidos da abstenção o que contribuiu para agigantar os dois valores (acresceu o numerador do
Índice) o que torna as estimativas ainda mais irrealistas. Portanto, o valor 83% do Datafolha estava
totalmente fora da realidade, o que mostra a inconsistência interna da referida pesquisa.
Aproveitamos para transmitir a esse egrégio tribunal nossa convicção quanto a importância
para nossa sociedade da criação de um canal de comunicação que permita interação ágil entre os
Conselhos Regionais de Estatística (CONRE’s) e os Tribunais Regionais Eleitoral (TRE’s),
facilitando a participação do profissional estatístico na avaliação das metodologias e na análise dos
resultados das pesquisas políticas, agilizando a convocação do profissional estatístico como perito
nas ações impetradas na Justiça Eleitoral. Finalizando, consideramos que os TRE’s poderiam
programar a incorporação em seu quadro funcional de profissionais estatísticos para assessorar a
análise técnica das metodologias.
Atenciosamente,
LUIZ CARLOS DA ROCHA
VICE-PRESIDENTE DO CONFE
NOTA: Este texto de 26/02/2011 corresponde à uma versão com pequenas mudanças em
relação ao original enviado para o TSE em 21/02/2011, a essência do texto original foi
preservada.
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