Empresa Familiar e Desempenho Econômico-Financeiro: um Estudo Sobre a
Configuração da Produção Científica Internacional
Autoria: Ieda Margarete Oro, Carlos Eduardo Facin Lavarda
RESUMO
O estudo objetiva verificar a configuração da produção científica sobre empresa familiar e
desempenho econômico-financeiro em periódicos internacionais no período de 2002 a 2012.
O universo constitui-se de periódicos internacionais das bases de dados Science Direct
(Elsevier), Scopus (Elsevier) e Thomson Reuters Web of Knowledge (ISI). A amostra consistiu
de 80 artigos em 40 periódicos. A análise consistiu do exame da teoria de base, temática,
instrumento de coleta dos dados e variáveis de desempenho. Constata-se consolidação do
tema como um campo de pesquisa em pleno desenvolvimento e contribui para incremento da
produção científica por relacionar pontos importantes em âmbito internacional.
1
1 Introdução
As organizações empresariais integram um ambiente competitivo e dinâmico. Obter
vantagem competitiva é muitas vezes difícil, em função do ambiente empresarial complexo e
dinâmico (Mazzi, 2011). Estas dinâmicas não só afetam o desempenho dos negócios, mas
também o crescimento e a transição ao longo do tempo (Olhson, Zuiker, Danes, Stafford,
Heck & Duncan, 2003). As dificuldades também são agravadas quando as empresas não têm
uma compreensão clara dos fatores que afetam o desempenho. No entanto, ao identificar estes
fatores que determinam a melhoria do desempenho, elas podem explorar melhor seus recursos
e competências, assim como fazer escolhas estratégicas que melhorem sua capacidade de
adotar vantagem competitiva (Habbershon, Williams & Macmillan, 2003).
Neste ambiente empresarial, um tipo de organização que é objeto frequente de estudos
são as empresas familiares. Percebe-se uma tendência de estudos ligados a empresa familiar
se consolidando na literatura internacional. Por exemplo, na base da Scopus, a inserção das
palavras Family Firms no título de artigos resultou em 405 (2002 a 2012), sendo apenas 7 em
2002 para 88 em 2011 e 63 em 2012. Na concepção de Chrisman, Chua e Sharma (2005), os
pesquisadores reconhecem a importância de estudos de negócios de família, mas destacam a
necessidade de explorar o assunto.
Nota-se que pesquisa sobre desempenho de empresas familiares tornou-se uma área
cada vez mais central de investigação entre pesquisadores (Sciascia & Mazzola, 2008). Entre
os vários fatores que estão associados positivamente ao desempenho do negócio familiar está
a estrutura de governança, investigado tanto do ponto de vista teórico quanto empírico
(Mazzi, 2011). Estudos empíricos recentes foram realizados por San Martin-Reyna e DuranEncalada (2012) investigaram a relação entre os negócios da família, governança corporativa
e desempenho da empresa no México e Giovannini (2010) na Itália com empresas que
abriram capital entre 1999 e 2005.
Outros estudos avaliaram o desempenho financeiro com outros temas como inovação
(Craig, Dibrel & Davis, 2008); estrutura de propriedade (Anderson & Reeb, 2003, Villalonga
& Amit, 2006; Maury, 2006; Chung & Chan, 2012); com sucessão e geração (Hillier &
Mccolgan, 2009; Cucculelli & Micucci, 2008; Kellermanns & Eddleston,2006; Bennedsen,
Nielsen, Perez-Gonzales, & Wolfenzon, 2007). Estudos na linha da influência e envolvimento
da família nos negócios (Dyer, 2006; García-Castro & Sharma, 2011; Muñoz-Bullón &
Sánchez-Bueno, 2012).
Diante do exposto e focalizado neste estudo, torna-se relevante conhecer como as
pesquisas em empresa familiar e desempenho estão sendo desenvolvidas, não somente do
ponto de vista da contabilidade, mas também sob a configuração da produção científica. Sob
tal perspectiva, este estudo busca responder a seguinte questão: Qual a configuração da
produção científica sobre empresa familiar e desempenho econômico-financeiro em
periódicos internacionais no período de 2002 a 2012? Assim, esta pesquisa tem por objetivo
verificar a configuração da produção científica sobre empresa familiar e desempenho
econômico-financeiro em periódicos internacionais no período de 2002 a 2012.
A relevância de estudos que ligam a empresa familiar e o desempenho é recorrente na
literatura internacional (Mazzi, 2011; Gama & Galvão, 2012). A revisão e análise do
conhecimento têm como finalidade sistematizar os resultados existentes de forma a
proporcionar uma perspectiva do estado-da-arte sobre o tema. Este trabalho apresenta
contribuições de forma integrada, com maior abrangência de periódicos de estudos empíricos
relacionados à empresa familiar e desempenho econômico-financeiro. Mazzi (2011) ressalta a
importância da ligação entre a empresa familiar e o desempenho financeiro para
sistematização dos resultados como etapas preliminares para facilitar estudos futuros.
2
2 Empresa familiar e desempenho
As empresas familiares são objeto frequente de estudos por se caracterizarem como um
tipo de organização considerada única e complexa devido à combinação de família e negócios
(Lee, 2006; Lindow, Stubner, & Wulf, 2010). Empresas familiares são, por sua natureza,
complicadas pela dinâmica da configuração da concentração de propriedade da família
proprietária (Aguilera & Crespi-Cladera, 2012). Naturalmente que os negócios familiares
podem ser menos complexos quando de propriedade e gerenciado pelo proprietário, como
ocorre nas pequenas empresas, ou mais complexos quando da combinação de indivíduos
familiares e não familiares, como uma sociedade de irmãos ou outros membros associados
como no caso das grandes empresas.
A definição de um negócio ou empresa familiar é ponto de discordância entre autores
e pesquisadores (Chrisman, Chua, & Sharma, 2005) pela falta de clareza conceitual sobre a
fusão da família e negócio (Rantanen & Jussila, 2011). Chua, Chrisman e Chang (2004)
ressaltam que o entendimento da definição implica em medir o envolvimento da família na
propriedade, gestão e potencial sucessão de não ocorrer de forma conjunta, neste caso,
dimensionar as condições suficientes para diferenciar empresas familiares de empresas não
familiares. Na sequência a Figura 1 apresenta definições de empresas familiares.
Autor
Arosa,Iturralde & Maseda
Ano
2010
Miller Le Breton-Miller, Lester,
& Cannella Jr.
2007
Barth,Gulbrandsen & Schønea
2005
Astrachan, Klein & Smyrnios
2002
McConaughy,
Fialko
Klein
Matthews
&
2001
2000
Chua, Chrisman & Sharma
1999
La Porta, Lopez-de-Silanes, &
Shleifer
Shanker & Astrachan
1999
Donckels & Fröhlich
1991
1996
Definição de empresa familiar
Um grande número de ações ordinárias pertence ao
fundador ou familiares e membros da família participam
ativamente na gestão da empresa. (p. 239, tradução nossa)
Vários membros da família participam da gestão (como
diretores) ou são proprietários (5 % ou mais da empresa),
ao mesmo tempo (p. 837, tradução nossa)
Uma pessoa ou família é dona de 33 % das ações da
empresa (p.111, tradução nossa).
A escala de F-PEC mede a influência da família como
variável contínua. (p. 51, tradução nossa).
Diretor-presidente da empresa (CEO) é fundador ou um
membro da família do fundador. (p. 37, tradução nossa)
Soma de percentual de participação da propriedade
familiar, gestão e/ou administração de pelo menos 1 ou
mais se classificam como um negócio familiar. Soma de
(percentagem de propriedade de ações da família)
(percentagem de membros da família em conselho de
administração) (percentagem de membros da família no
conselho de administração) (p. 158, tradução nossa)
Uma empresa regida e / ou geridos com a intenção de
moldar e buscar a visão da empresa por um capital
dominante e coligação controlada por membros da mesma
família ou um número pequeno de famílias que mantém a
sustentabilidade em várias gerações (p. 25, tradução nossa).
Uma pessoa controla 20 % ou mais dos direitos de voto
(p.478, tradução nossa)
Definição abrangente: controle efetivo da direção
estratégica, destina-se a permanecer na família. Definição
do intermediária: fundador da empresa / descendentes
possuem o controle legal de votação. Definição restrita:
várias gerações, família diretamente envolvida na gestão,
mais do que um membro da família proprietária em cargos
de responsabilidade na gestão. (p. 109, tradução nossa)
Os membros da família detém 60% ou mais do capital
3
(p.152)
Um dos quatro critérios: (1) de 50 % ou mais da
propriedade é constituída por uma única família; (2) 50 %
ou mais da propriedade é detida por múltiplos membros de
com mais de uma família; (3) um único grupo familiar é
efetivamente o controle do negócio; e (4) a alta
administração é integrada por pessoas da mesma família.
(p. 50, tradução nossa)
Ward
1987
Uma empresa que será repassada para a próxima geração da
família para gerenciar e controlar. (p. 252, tradução nossa)
Figura 1 - Definição de empresa familiar pela literatura
Smyrnios,
Romanom
Tanewski
&
1988
Fonte: adaptado de Lindow,C. M. (2013). A strategic fit perspective on family firm performance. Springer Gabler.
Entre as definições apresentadas na Figura 1, duas correntes se destacam em relação a
definição de empresa familiar: a primeira, trata da relação entre a participação da família e
negócios familiares de forma abrangente, enquanto outra corrente, trata desta relação de
forma mais restrita. Lindow (2013) ressalta que definições mais amplas permitem a formação
de subconjuntos com maior número de empresas do que definições mais restritas.
Astrachan e Shanker (2003) observam que o desafio é ainda maior quando se investiga
grande quantidade empresas familiares pois nenhuma definição é mensurável e concisa.
Conforme pode-se observar no Quadro 1 diversos critérios para indicar a caracterização da
empresa familiar, percentual de participação, controle estratégico, envolvimento das gerações,
bem como a intenção da família permanecer na empresa. Astrachan e Shanker (2003) aludem
que todos esses critérios podem ser importantes para descrever um negócio de família,
dependendo do ciclo de vida ou do estágio que se encontra a empresa. A definição pode
ocorrer de forma mais ampla, ou de forma mais restrita e o nível de inclusão depende do grau
de percepção de envolvimento da família no negócio.
Para medir o envolvimento da família na gestão da empresa familiar, Astrachan, Klein e
Smyrnios (2002) propõe um método alternativo para avaliar a extensão da influência familiar
em qualquer empresa, possibilitando a medição do impacto da família sobre os resultados
como sucesso, fracasso, estratégia e operações. O modelo chamado de F-PEC compreende
três subescalas: poder, experiência, e cultura. Rutherford, Kuratko e Holt (2008) utilizaram a
sub-escala F-PEC para analisar a relação entre negócios familiares e desempenho e encontrou
associações com receitas, estrutura de capital e crescimento, no entanto, as relações foram
positivas e negativas.
Objeto de estudos empíricos estão as relações de propriedade das empresas familiares e
não familiares com o desempenho financeiro. Anderson e Reeb (2003) investigaram a relação
da posse da empresa familiar com o desempenho e constataram que os acionistas minoritários
não são afetados pela propriedade familiar e concluem que a propriedade familiar é uma
estrutura organizacional efetiva. Villalonga e Amit (2006) investigaram 508 empresas e
constaram que a propriedade familiar agrega valor somente quando o fundador serve como
CEO da empresa familiar ou como Presidente com um CEO contratado. Quando descendentes
servem como CEOs, o valor da firma é destruído.
Chu (2011) estudou 786 empresas da Tailândia, e constatou que a propriedade familiar
está associada positivamente com o desempenho da empresa. A associação positiva é forte
especialmente quando membros da família servem como CEOs. Outra constatação,
investigada por Gonzáles, Colombo e Trujilo (2012) com 523 empresas de médio a grande
porte na Colômbia, identificou diferenças significativas no desempenho financeiro entre as
empresas familiares e não familiares. O envolvimento da família foi pesquisado em três
dimensões (gestão, propriedade e controle) e encontrou um efeito positivo para empresas de
pequeno porte e jovens, especialmente quando o fundador é responsável.
4
3 Método de pesquisa
A pesquisa empírico-analítica foi realizada em uma perspectiva longitudinal a partir de
pesquisa documental, conforme descreve Martins (1994) e Creswell (2007). Para tanto, se
apresentam as características da abordagem teórica, temática e metodológica dos artigos que
integram este trabalho.
O universo do estudo consistiu de pesquisas divulgadas em periódicos internacionais
que constam da base de dados Science Direct (Elsevier), Scopus (Elsevier) e Thomson Reuters
Web of Knowledge (ISI). Para a seleção dos artigos nas bases de dados, primeiramente filtrouse a expressão “Family Firms” e “Performance” no título do artigo. Nesta pesquisa,
retornaram Science Direct (Elsevier) (45), Scopus (Elsevier) (88) e Thomson Reuters Web of
Knowledge (ISI) (72) totalizando 205 artigos. Posteriormente, identificou-se artigos que não
tinham a palavra Performance no título, mas constava no abstract. Na sequência, revisaramse os títulos dos artigos para conferir os que estavam incluídos duplamente nas bases de
dados. Destaca-se que neste filtro, excluíram-se artigos que não tinham o desempenho
econômico-financeiro na finalidade da pesquisa. Outro critério adotado, consistiu da inclusão
de artigos que tinham característica empírica, ou seja, a investigação por meio de pesquisa de
campo. Contudo, o estudo limita-se a sistematizar características da produção científica de
empresa familiar e desempenho econômico-financeiro, mas não se observou o fator de
impacto do periódico como fator de seleção das revistas, que poderia ter sido um critério de
inclusão e exclusão de artigos.
Também, foi realizado busca adicional, nas revistas mais reconhecidas em pesquisa de
negócios de família, Family Business Review e Journal of Business Family Strategy, embora
já estivesse incluído no banco de dados, método utilizado por Mazzi (2011). Após estes
procedimentos, a amostra resultou em 80 artigos publicados em 40 periódicos. O período de
consulta consistiu de 2002 a 2012. Constatou-se que os estudos apresentam a seguinte
configuração demográfica: América do Norte (26); América do Sul (3); Europa (36); África
(1); Ásia (11) e Oceania (3).
Quanto ao instrumento de coleta dos dados, Bruyne, Herman e Schoutheete (1982, p.
209) mencionam que “apoia-se numa gama de técnicas cada uma das quais satisfazendo as
regras próprias de utilização. Várias técnicas podem e devem frequentemente ser empregadas
numa mesma pesquisa para compor um feixe de dados ao mesmo tempo [...]”. Neste estudo,
verificou-se o instrumento utilizado pelos autores para coletar os dados. Esta informação é
importante por se tratar de estudos empíricos. Na próxima seção, a configuração da pesquisa
de empresa familiar e desempenho econômico-financeiro quanto aos periódicos publicados e
períodos, teoria de base, temática, coleta dos dados e indicadores utilizados na medição do
desempenho.
4 Descrição e análise dos resultados
Nesta seção apresenta-se a descrição e análise dos dados. Destaca-se que 80 artigos
foram publicados em 40 periódicos sobre empresas familiares e desempenho econômicofinanceiro nas bases de dados consultadas, referente ao período de 2002 a 2012. Na Tabela 1,
nota-se a ampliação do número de periódicos, a partir de 2006 a 2012, os resultados
corroboram Mazzi (2011), com maior concentração em 2010-2011, correspondendo a 24
artigos ou 30%. Em estudo de revisão sobre empresas familiares realizado por Lindow (2013)
com 123 artigos em três décadas, a maioria (107), foi publicada de 2001 a 2010 [em
comparação, 13 entre 1991 e 2000 e 3 entre 1981 e 1990], refletindo a proliferação de
interesse científico no desempenho da empresa familiar na última década. Na Tabela 1, o
número de artigos analisados por periódico e por período em ordem alfabética.
5
Tabela 1:
Número de artigos sobre empresa familiar e desempenho econômico-financeiro publicado em cada
periódico por período
Periódico
2002-2003 2004-2005 2006-2007 2009 2010-2011 2012 Total
Accounting and Finance
1
1
Advanced Management Journal
1
1
African Journal of Business Management
1
1
Asia Pac Journal Manag
1
2
3
Asian Pacific Economic Literature
1
1
1
1
Corporate Governance: an International Review
Emerging Markets Review
1
1
Entrepreneurship Theory and practice
1
1
2
1
5
European Financial Management
1
1
Family Business Review
2
5
6
6
1
20
Integrative Busines Economic
1
1
Journal Japanese Int. Economies
1
1
Journal Management Gov
1
1
Journal of American Academy of Business,
1
1
Journal of Banking & Finance
1
1
Journal of Business Family Strategy
5
2
7
Journal of Business Finance & Accounting
1
1
2
Journal of Business Research
2
2
Journal of Business Venturing
1
1
Journal of Corporate Finance
2
2
4
Journal of Empirical Finance
1
1
Journal of Financial Economics
1
1
Journal of International Business Studies
1
1
Journal of Management Studies
1
1
Journal of Small Business Management
1
1
2
1
1
Journal of the European Economic Association
1
1
Journal of The Japanese and Intern. Economies
Journal of World Business
1
1
1
3
1
1
International Journal of Economics and Finance
Management Accounting Research
1
1
Procedia - Social and Behavioral Sciences
1
1
2
Revista Innovar
1
1
Small Business Economic
1
1
Strategic Entrepreneurship Journal
1
1
Strategic Management Society
1
1
Strategic Mangement Journal
1
1
Swiss Finance Institute Research
1
1
The Journal of Finance
1
1
The Quarterly Journal of Economics
1
1
Universia Business Review
1
1
Total
4
5
18
17
24
12
80
percentual
6%
5%
23%
21%
30%
15% 100%
Fonte: dados da pesquisa.
Quanto aos periódicos que apresentaram maior quantidade de artigos, constatou-se a
Family Business Review com 20 artigos e o Journal of Business Family Strategy com 7
artigos. Entre os periódicos que não tem o escopo de publicar artigos relacionados a empresas
familiares, estão Entrepreneurship Theory and practice e Journal of Corporate Finance, com
5 e 4 artigos, respectivamente. Nota-se na Tabela 1, que 30 periódicos publicaram artigos
relacionados a empresas familiares e desempenho de forma esporádica.
Entre os artigos mais citados pela literatura está Anderson e Reeb (2003), FoundingFamily Ownership and Firm Performance: Evidence fromthe S&P 500 e Villalonga e Amit
(2006) intitulado How do family ownership, control and management affect firm value? Os
artigos que trouxeram notória contribuição científica foram publicados pelos periódicos
Journal The Finance e Journal of Financial Economics, respectivamente. Os estudos
6
enfatizam a relação da propriedade e controle da empresa familiar com o desempenho.
Na sequência, a teoria de base utilizada para explicar o desempenho dos estudos.
Tabela 2:
Teoria de base
Teoria
Agência
RBV
Stewardship
Contingência
Institucional
Subtotal
Outras teorias
Não identificado
Total
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
2
2
2
9
4
3
4
4
9
2
1
1
1
1
1
2
2
3
1
2
2012
9
1
1
Total
48
6
6
5
2
67
7
6
80
%
60
8
8
6
3
84
9
8
100
Fonte: dados da pesquisa.
Com relação à teoria de base, nota-se ênfase para cinco teorias principais que explicam
o desempenho da empresa: teoria da agência, visão baseada em recursos (VBR), stewardship,
contingência e institucional. Os achados diferem do estudo de Lindow (2013) pela inclusão da
teoria institucional. A teoria da agência, segundo Jensen e Meckling (1976) aludem como um
acordo entre proprietários (principal) e os gestores (agentes), em que o principal emprega o
agente para trabalhar na sua empresa delegando algum poder. O principal fará o
monitoramento e a fiscalização para assegurar que tudo seja feito de acordo com sua vontade.
A teoria da agência foi empregada por Gonzalez, Combo e Trujilo (2012) para explicar
o desempenho de empresas familiares e não familiares com 523 empresas em um estudo
longitudinal. Os resultados empíricos mostram diferenças significativas no desempenho
financeiro entre os dois tipos de empresas. O envolvimento da família na gestão foi testado
em três dimensões diferentes (gestão, propriedade e controle) e encontrou efeito positivo da
família para empresas de pequeno porte e jovens, especialmente quando o fundador é
responsável pelo processo decisório.
Oyadomari (2008, p.12) menciona que a teoria da visão baseada em recursos (VBR)
“defende que os recursos são a fonte da vantagem competitiva”. A VBR fornece recursos
[ativos, capacidades, informações, conhecimento e processos] e fundamentos teóricos para
entendimento da vantagem competitiva da empresa e, neste caso, o desempenho. Num estudo
com 199 empresas italianas, Chirico, Sirmon, Sciascia e Mazzola (2011) ressalta que VBR
explicou a capacidade e experiência oferecida pela maior participação dos gestores nos ciclos
geracionais. No entanto, sem um mecanismo de coordenação, a participação da geração leva
ao conflito e resultados negativos. Na concepção de Habbershon e Williams (1999), a VBR
fornece um modelo teórico para analisar as relações entre os processos da empresa, ativos,
estratégia, desempenho sustentável e vantagem sustentável para a empresa familiar.
A teoria Stewardship na concepção de Giovannini (2010) é uma alternativa a teoria da
agência. Esta teoria defende que os gestores são mais confiáveis e são menos suscetíveis de
desperdiçar recursos, uma vez que agem no interesse da empresa, portanto, visam alcançar
maior lucro e retorno aos acionistas. Craig e Dibrel (2006) realizaram estudo com pequenas e
médias empresas, sendo 179 não familiares e 217 familiares e constaram que empresas
familiares proporcionam e facilitam as condições necessárias para promover inovação na
empresa e aumentar o desempenho financeiro, sendo mais eficazes do que as empresas não
familiares.
Giovannini (2010) investigou uma amostra de 56 empresas italianas que emitiram IPOs
entre 1999 e 2005, várias hipóteses foram testadas sobre a interação entre a governança
7
corporativa, propriedade familiar e desempenho. E confirmou hipóteses de contingências,
revelando que a estrutura de governança corporativa nas empresas familiares deve adaptar-se
ao seu ambiente para melhorar o desempenho (Lindow, Stubner & Wulf, 2010). Zahra e
Sharma (2004) ressaltam que pesquisadores de empresas familiares demonstram que na
comparação com empresas não familiares, o comportamento do gestor (por exemplo, na
estratégia de inovação) é orientado significativamente por aspectos como a cultura ou a
orientação empreendora (OE) em longo prazo.
As contingências representam variáveis que moderam o efeito de uma característica
organizacional no desempenho da empresa [...] (Donaldson, 2001). A teoria da contingência
foi examinada por Casillas e Acedo (2007) num estudo bibliométrico sobre a evolução da
estrutura intelectual sobre empresas familiares e confirmou existência de relações de
contingências entre OE, envolvimento da família e crescimento e sugerem que futuros
trabalhos investigassem OE e desempenho numa perspectiva estratégica de ajuste. Lindow,
Stubner e Wulf (2010) ressaltam que conceito tradicional de ajuste estratégico (FIT) foi
empiricamente validado para empresas familiares.
A abordagem institucional contribui muito para o entendimento de como e por que as
organizações assumem determinadas formas, já que “busca incorporar em suas proposições a
ideia de instituição e de padrões de comportamento, de normas e de valores, de crenças e
pressupostos, nos quais se encontram imersos indivíduos, grupo e organizações” (MachadoDa-Silva & Gonçalves, 2001, p.220). Alpay, Bodur, Yilmaz, Cetinkaya e Ankan (2008) em
estudo na Turquia com 132 empresas, sendo 3 respondentes em cada empresa de pequeno e
médio porte, os resultados indicaram que, entre as dimensões de institucionalização, a
transparência tinha o efeito mais forte no desempenho quantitativo e qualitativo da empresa.
As demais teorias organizacionais com menos frequência identificadas no estudo são:
identidade social e organizacional, cultura organizacional e redes.
Na Tabela 3, apresentam-se os temas mais evidenciados pelos estudos. Constatou-se
que 29% ou 23 artigos correspondem à propriedade, controle e estrutura de capital. Estudos
sobre estrutura de propriedade pode ser conceituada em duas dimensões.
Tabela 3:
Abordagem temática dos artigos
Temáticas
Propriedade, controle, estr.capital
Influência/envolvimento da família
Sucessão e geração
Conselho, CEO e Diretores indep.
Inovação e competitividade
Processo estratégico
governança corporativa
mobilização de recursos
orientação empreendora
Sistemas de controles gerenciais
Subtotal
Outros temas
Total
### 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 ### ### 2012 Total
2
2
0
7
1
1
1
2
3
4
23
2
0
2
1
3
1
2
2
13
2
2
1
3
2
10
1
1
3
2
7
2
1
1
1
5
1
1
1
3
1
2
3
1
1
2
1
1
2
1
1
2
70
10
80
%
29
16
13
9
6
4
4
3
3
3
88
13
100
Fonte: dados da pesquisa.
Os estudos a respeito do efeito da sucessão na estrutura de capital ainda é
inconclusivo. Os estudos abordam sobre o impacto da sucessão com a estrutura financeira das
empresas familiares e baseiam-se principalmente em dados transversais, investigando as
diferenças entre a estrutura de capital entre fundador-controlado e os descendentes que
controlam empresas familiares. Embora alguns estudos encontraram efeito positivo da
sucessão no financiamento da dívida, outros estudos descobriram uma relação negativa entre a
sucessão e o financiamento da dívida (Molly, Laveren, & Deloof, 2010).
Segundo Gersick, Davis, Hampton e Lansberg (2004), a estrutura de propriedade de
uma empresa familiar pode permanecer estática por gerações, porém, depois da primeira
8
geração, a propriedade começa a se tornar cada vez mais diluída. Na maioria dos casos ela
recai em um dos três tipos: empresas controladas por proprietários únicos (Proprietário
Controlador), por irmãos (Sociedade entre Irmãos) e por um grupo de primos (Consórcio de
Primos). Nesta perspectiva, foi publicado A New Perspective on the Developmental Model for
Family Business (DMFB) na Family Business Review por Rutherford, Muse e Oswald (2006)
com a realização do primeiro teste empírico do modelo de desenvolvimento para negócios de
família (DMFB), desenvolvido por Gersick, Davis, Hampton e Lansberg. Os autores
identificaram características da empresa familiar e família do proprietário, para melhorar o
modelo DMFB. Na análise de regressão hierárquica de 934 empresas, sugerem que o modelo
original fornece uma base sólida para a classificação de empresas familiares, mas o modelo
modificado com novas variáveis aumenta significativamente e explica melhor a variação no
desenvolvimento da empresa familiar.
A influência e envolvimento da família na gestão é outra temática abordada que
apresentou maior objeto de estudos a partir de 2007. Na análise da longevidade das empresas
familiares, pressupõe-se uma relação positiva entre o envolvimento da família e desempenho
da empresa (O'boyle, Rutherford, & Pollack, 2010). Chu (2011) em estudo realizado na
Tailândia com 786 pequenas, médias e grandes empresas no período de 2002 a 2007,
confirmaram que a propriedade e envolvimento da família estão associados ao desempenho
positivo, à associação positiva é forte quando membros da família estão na condição de
CEOs, gerentes, presidentes ou diretores das empresas; no entanto, a associação torna-se fraca
quando membros da família não estão envolvidos na gestão da empresa ou controle.
Propriedade e desempenho da empresa são mais fortes nas pequenas e médias empresas do
que em grandes empresas. Em estudo de revisão por Rutherford, Kuratko e Holt (2008), dos
23 artigos revistos, nove demonstraram relação positiva entre o envolvimento da família e o
desempenho da empresa.
Estudos relatam que sociedades familiares listadas em bolsa de valores que possuem
propriedade e controle são positivamente e significativamente relacionadas com desempenho
de indicadores financeiros e contábeis, mas tem uma menor associação estatística com
indicadores de desempenho de mercado ( Anderson & Reeb, 2003; Barontini; Caprio, 2006;
Maury, 2006; Miller, Breton-Miller, Lester & Cannella, 2007; Sraer & Thesmar, 2007;
Villalonga & Amit, 2006; Allouche, Amann, Jaussaud, & Kurashina, 2008; Andres, 2008; ).
Kowaleski, Tavalera e Setyuk (2010) em um estudo longitudinal (1997 a 2005) com
217 companhias Polonesas constataram que as empresas com CEOs da família são capazes de
apresentar melhores resultados do que outros CEOS não familiares. No entanto, Chirico et al.
(2011) advertem que para perceber os benefícios do envolvimento e empreendedorismo nas
empresas familiares é uma questão complicada que afetam sincronização de orientação
empresarial (OE), envolvimento geracional e estratégia participativa.
Uma característica identificada nos estudos é que 40%, ou seja, 32 artigos da amostra
realizaram estudo empírico com empresas familiares e não familiares. Entre os estudos está o
de Chrisman, Chua e Litz (2004) intitulado Comparing the agency costs of family and
nonfamily Firms: conceptual issues and exploratory evidence na entrepreneurship theory and
practice e sugerem que o problema de agência pode ser menos grave nas empresas familiares
que nas empresas não familiares. Ainda, com relação às diferenças entre empresas familiares
e não familiares, Abdellatif, Mann e Jaussaud (2010) estudaram 759 subsidiárias japonesas
em todo mundo para verificar as estratégias de internacionalização de empresas familiares e
não familiares e constataram diferenças no comportamento estratégico das empresas
familiares e empresas não familiares.
Um trabalho com maior abrangência demográfica com 27 países da Europa, MuñozBullón, e Sánchez-Bueno (2012), cujo título, Do family ties shape the performance
9
consequences of diversification? Evidence from the European Union publicado no Journal of
World Business envolveu 2.596 empresas, das quais, 78,35% negócios não familiares e
21,65% familiares, constataram que as empresas familiares são mais rentáveis do que as
empresas não familiares, quando se envolvem em diversificação de produtos.
Em estudo longitudinal na Alemanha, que envolveu um intervalo de tempo de 100
(cem) anos publicado por Ehrhardt, Nowack e Weber (2006) com 124 empresas intitulado
Running in the Family The evolution of ownership, control, and performance in German
family owned firms, 1903-2003 comparou as empresas familiares e não familiares e analisou
variáveis como propriedade, controle, indústrias e desempenho, bem como o impacto do
controle entre as transferência de gerações. Os achados indicam que as famílias dificilmente
desistem da posse e controle da empresa, mesmo depois de várias gerações. Outro achado é
que as empresas familiares parecem superar as empresas não familiares em termos de
desempenho, mas é menor quando recai sobre as gerações.
Com relação à governança corporativa, percebe-se que é objeto preponderantemente de
estudos em grandes empresas. Kim (2006) analisou a relação entre governança corporativa e
desempenho, concentrando-se na propriedade familiar e estrutura de capital de 786 empresas
Koreanas. Os resultados indicam relação positiva entre a concentração de propriedade
familiar e desempenho e é muito mais forte nas empresas chaebol do que nas empresas nãochaebol.
Os sistemas de controles gerenciais (SCG) com desempenho foram investigados por
Duréndez, Madrid-Guijarro e García-Pérez-de-Lema (2010) e por Speckbacher e Wentges
(2012). O primeiro realizou uma pesquisa com 285 pequenas empresas espanholas e os
resultados mostram que as empresas familiares: a) têm mais cultura hierárquica e menor grau
de utilização SCG do que empresas não familiar e, b) o uso dos SCG têm influência positiva
na cultura inovadora e consequentemente no desempenho da empresa familiar. O segundo
estudo abordou o impacto da estrutura de governança da empresa no sistema de controle de
gestão (SCG). Com base numa amostra de 304 pequenas e médias empresas da Áustria e
Alemanha, os resultados evidenciam empiricamente o envolvimento da família na gestão
como uma característica de governança corporativa e é um fator contingencial do SCG.
Uma característica dos estudos empíricos é o instrumento de coleta de dados utilizados
neste tipo de pesquisa. Theóphilo (1998) ressalta que a utilização de testes empíricos teve
maior ênfase a partir da década de 1960, com a preocupação dos autores de buscar teorias que
explicassem práticas contábeis. A Tabela 4 apresenta os resultados.
Tabela 4 :
Instrumento de coleta dos dados
Instrumento 2002 2003 2004 2005
questionário
2
0
1
0
documental
0
1
1
1
questionário/
documental
0
1
1
1
2006
3
6
2
2007
2
5
0
2008 2009
5
3
4
3
0
2
2010 2011 2012 Total
4
3
4
27
6
10
7
44
1
0
1
9
%
34
55
11
Fonte: dados da pesquisa.
Quanto ao instrumento de coleta dos dados, representando mais da metade da amostra,
ou seja, 55% empregou pesquisa documental, utilizando base de dados como Economática,
Compustat, Osiris (Bureau van djik), entre outras bases (Bonilla, Sepulveda & Carvajal,
2010; Banalieva & Edlleston, 2011; Adams, Almeida & Ferreira, 2009). O questionário é um
instrumento muito utilizado nas pesquisas empíricas. Martins e Theóphilo (2007, p.35)
mencionam que “para explorar empiricamente um conceito teórico, o pesquisador precisa
traduzir a assertiva genérica do conceito em uma relação com o mundo real, baseada em
variáveis e fenômenos observáveis e mensuráveis [...]” de forma a operacionalizar.
10
Constatou-se que 34% realizaram pesquisa por questionário com os gestores das
empresas familiares e não familiares. Os resultados indicam que 11% utilizaram mais de um
instrumento de pesquisa, questionário e documental para analisar o desempenho. Nas
pesquisas documentais, a média de anos observados pelo estudo é de aproximadamente cinco
anos, sendo mínimo de 1 ano (García-Castro & Sharma, 2011; O'boyle Jr., Pollack &
Rutherford, 2011) e máximo de 12 anos (Bocatto, Gisper & Rialp, 2010).
A relação das principais variáveis de desempenho econômico-financeiro citado pelas
pesquisas. Destaca-se que neste item alguns artigos apresentaram mais de uma variável de
desempenho. O Retorno sobre o Ativo (ROA) e Vendas (incluído crescimento das vendas,
receita bruta e retorno sobre as vendas) estão entre as variáveis mais citadas. O ROA também
foi o indicador mais ressaltado por Mazzi (2011) em estudo de revisão com 23 artigos e
O´boyle, Rutherford e Pollack (2010) em estudo de meta análise com 78 artigos. Robins e
Wiesema (1995, p.290 apud O´boyle, Rutherford, & Pollack, 2010, p.8, tradução nossa)
argumentam que "o uso de ROA, como uma medida de desempenho permite que os
resultados da análise possam ser comparados diretamente com um quadro de trabalhos
relacionados com tópicos em estratégia". A Tabela 5 indica os resultados.
Tabela 5:
Variáveis de desempenho econômico-financeiro
INDICADOR/ANO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
ROA
1
1
4
3
3
4
7
7
VENDAS/ROS
1
3
3
6
8
4
4
4
TOBINS Q
1
4
2
2
1
1
1
LUCRO
2
1
3
3
2
2
1
ROE
1
1
1
1
3
2
ATIVO
1
1
2
1
1
1
1
EBITDA
1
1
2
1
PL
1
2
1
2
ROI
3
1
PASSIVO
1
1
1
1
1
FLUXO CAIXA
1
1
1
1
OUTROS
1
2
3
3
6
3
3
3
2012 TOTAL
9
39
4
37
3
15
14
1
10
1
9
1
6
6
4
1
6
4
3
27
Fonte: dados da pesquisa.
Anderson e Reeb (2003) testaram variáveis como vendas, Ebitda e Tobins q, e
Villalonga e Amit (2006) também utilizaram Tobins q e ROA para análise do desempenho
financeiro. Goel, He e Karri (2011) utilizaram o ROA para avaliar o desempenho de 163
grandes empresas na China no período de 2001 a 2005, para testar o efeito de dispersão dos
direitos de controle sobre o desempenho da empresa em empresas familiares. Com base nas
hipóteses formuladas, aceitou-se que a alta dispersão do controle entre os membros da família
está associada com o desempenho positivo da empresa e a posse dos membros da família seria
moderada por esta relação positiva.
Banalieva e Eddleston (2011) utilizaram o ROA e Retorno sobre as vendas numa
pesquisa com empresas familiares e não familiares em um estudo longitudinal (1996 a 2006)
para avaliar a influência da liderança no desempenho no contexto de empresas europeias. Os
indicadores Tobins q e ROA foram empregados para avaliar o desempenho de 341 pequenas e
médias empresas em Taiwan, Chu (2009) constatou que a influência da família e propriedade
sobre o desempenho das PME é positiva e significativa.
O Ebitda foi empregado juntamente com o ROA e Tobins q por Andres (2008) em
estudo documental para avaliar o desempenho de 275 grandes empresas na Alemanha. Miller
et al. (2007) analisaram o desempenho de empresas familiares a partir de uma amostra da
11
Fortune 1000, empregaram na avaliação os indicadores Tobins q, vendas, crescimento das
vendas, patrimônio total. Yammeesri e Lodh (2004) utilizaram o lucro e vendas como
parâmetro de desempenho com empresas familiares e não familiares na Tailândia.
Nota-se que alguns estudos fazem uso de outras variáveis de desempenho: Lee (2006)
analisou as taxas de crescimento de emprego, pagamentos, renda bruta, e margem de lucro;
Chrisman et ai. (2004) crescimento das vendas e Sciascia e Mazzola (2008) crescimento das
vendas, crescimento da receita, crescimento do lucro líquido, retorno sobre o crescimento do
ativo líquido, dívida/patrimônio líquido, retorno sobre o patrimônio e crescimento de
dividendos.
5 Considerações finais
Este artigo verificou a configuração da produção científica em periódicos internacionais
no período de 2002 a 2012. Apresenta contribuição de forma integrada, com maior
abrangência de periódicos de estudos empíricos relacionados à empresa familiar e
desempenho econômico-financeiro. O estudo consistiu de 80 artigos publicados em 40
periódicos internacionais.
O estudo da ligação entre a empresa familiar e desempenho aborda muitos aspectos que
precisam ser mais explorados. Os resultados indicam que o número de artigos publicados nos
periódicos nacionais vem crescendo na última década, o que significa uma evolução no
campo de pesquisa de empresas familiares. Entretanto, o periódico que apresentou o maior
volume de artigos é o Family Businnes Review, representando 25% da amostra. Os resultados
deste estudo são similares aos de Lindow (2013) e Mazzi (2011).
Quanto à teoria de base mais ressaltada pelos artigos consta a teoria da agência. Na
sequência, visão baseada em recursos (VBR) e contingência. Percebe-se que a teoria da
agência vem sendo utilizada nos estudos praticamente em todo período de análise, enquanto
que a VBR e a teoria da contingência com ênfase nos últimos cinco anos. Além destas, a
teoria Stewardship indicada como uma alternativa a teoria da agência (Giovannini, 2010).
Quanto à abordagem temática dos artigos, a propriedade, controle e estrutura de capital
detêm cerca de 30% da amostra. A abordagem das temáticas possui consonância com teoria
de agência para explicar as relações e diferenças significativas no desempenho financeiro na
gestão da empresa com empresas familiares e não familiares. Outra abordagem que
apresentou uma quantidade significativa de alusões foi o envolvimento e influência da
empresa familiar, representando um dos pontos temáticos de maior divergência entre os
autores, pelas múltiplas relações que podem apresentar, principalmente quando envolve
propriedade, gestão familiar e a relação com variáveis de desempenho. Na avaliação do
envolvimento da família nos negócios, dois modelos se destacam o F-PEC (Astrachan, Klein
& Smyrnios, 2002) e DMFB (Gersick, Davis, Hampton & Lansberg, 2004).
As pesquisas documentais foram as mais utilizadas, a média de anos observados pelos
estudos é de aproximadamente cinco anos, sendo mínimo de 1 ano (García-Castro, Sharma,
2011; O'boyle, Pollack & Rutherford, 2010) e máximo de 12 anos (Bocatto, Gisper & Rialp,
2010). Com relação à coleta de dados, percebe-se a relação do questionário com pequenas e
médias empresas, pelas características dos estudos evidencia a necessidade de percepção dos
respondentes ou pela falta de informações financeiras estruturadas.
Quanto as variáveis utilizadas pelos estudos na avaliação do desempenho, o ROA é
mais citado, corroborando com outros estudos Mazzi (2011); O´Boyle, Rutherford e Pollack
(2010) e Lindow (2013). Constataram-se ainda outras variáveis de avaliação do desempenho,
tais como: EBITDA, crescimento das vendas, rentabilidade, retorno sobre o patrimônio
(ROE), fator de desempenho, valor adicionado, retorno sobre as vendas, crescimento do
emprego, exportação, retorno de ações.
12
Evidencia-se a consolidação do tema como um campo de pesquisa em pleno
desenvolvimento e contribui para o incremento da produção científica em empresas familiares
e desempenho, por relacionar pontos importantes de sua configuração em âmbito
internacional. Recomenda-se para futuras pesquisas sobre o tema, ampliar as bases de dados,
o período de análise, incluindo um comparativo de empresas familiares e não familiares,
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