Oitavo Escrito – Regidos de Eternia
Uma serpente.
O animal era completamente feito de pedra: escamas, guizo, presas e olhos. Alcançava
facilmente dezenas de metros de comprimento e o corpo era tão grosso quanto uma árvore.
Estava inquietamente raivosa. Estel, ao vê-la, teve um súbito estalo na mente...os arcos de
pedra...eram o corpo daquela serpente se movimentando!
— Solenni, vamos sair daqui! Esse bicho tá atrás da gente! — falou o garoto, muito
tenso, tentando se sobressair ao barulho.
Enquanto tentavam seguir a multidão assustada, Estel e Solenni viram que umas poucas
pessoas vinham na direção oposta com seus cetros erguidos e pronunciando palavras
estranhas. Logo uma enorme cúpula azul-vidro cobriu o bicho e dentro dela encheu-se de luzes
coloridas que iam como jato em direção ao monstro, mas elas não surtiam muito efeito, só o
deixavam mais furioso dentro daquele mínimo espaço. Eles tinham que ir.
— Você endoidou, Luan?! — exclamou, indignado, um dos garotos da gangue. — Você
vai ficar?!
— Eu tenho que ficar! Aquele troço vai esmagar a cidade! — respondeu Luan, ansioso.
— Eu sonhei com isso, sonhei com esse bicho!! Durante toda a minha vida eu vi essa cena
bizarra...está tudo aqui!! Eu tenho que ficar!
— Então fica você, cara! O que você paga pra gente não cobre essa parte não. Você é
doido mesmo!
E o outro ficou sozinho. Ele já sabia que iria acontecer isso, não precisou sonhar para
saber. Agora era hora de encontrar aqueles dois.
Estel e Solenni estavam completamente perdidos, sendo jogados de um lado para outro
pelas pessoas que corriam.
— Ei! Esperem! — disse Luan, colocando a mão sobre o ombro de Solenni e a puxando.
A garota girou para dar um soco no outro, que escapou por muito pouco.
— Peraí, maluca! — disse ele, assustado.
— O que você quer numa hora dessas?! — perguntou Solenni, exasperada.
— O que eu quero de você vai ficar para depois! Merda!! Aconteceu rápido demais, eu
não sabia...quer dizer, sabia, mas não sabia que seria tão cedo assim! Vocês precisam vir
comigo! Digam onde estão as armas de vocês, eu as trago para cá.
— O que?! Espera, aí! O que está querendo com a gente?! — falou Estel, indignado. —
Nós vamos sair daqui!
— E deixar aquela cobra matar todo mundo?! Não foi isso que eu vi no sonho! Vi vocês
dois quebrando arcos de pedra, aquela coisa!! Magnus me falou de vocês, que iam aparecer!
São Regidos! Não me digam que é mentira!
Estel e Solenni deixaram seus queixos caírem, estavam desnorteados.
— Pela Coroa Branca! Vocês sabem do que eu estou falando?! — indignou-se Luan, cada
vez mais nervoso. — Droga! Eu não to enlouquecendo! Eu vi!!
— Espera! Espera! Você sonhou....conosco?! Sabia que essas coisas iriam acontecer?! —
indagou Estel, confuso. — Por isso estava atrás da gente?!
— É! Sempre sonhei com arcos de pedra, tremores e duas pessoas...mas só a pouco
tempo eu vi tudo mais claramente. Ninguém ligou para o que eu disse. Então esperei que
vocês aparecessem, mas eu via chegar só ela aqui. Precisava dos dois para ser real! Ela, ela
pode curar a minha irmã! Por favor, eu explico o resto depois! Onde estão as armas de vocês?!
Os outros dois ainda estavam confusos, não sabiam o fazer. E Luan notou isso.
Exasperado, ele retirou das vestes uma jóia branca que em segundos tomou a forma de um
cetro. Ele colocou a mão em volta da ponta do objeto e começou a murmurar palavras
esquisitas. De olhos fechado, o garoto perguntou de novo:
— Onde estão as armas de vocês? Vou trazê-las para cá e tirar o lacre.
Estel e Solenni continuavam mudos.
— Anda!! — gritou Luan, acordando os outros dois.
— Na hospedaria da Iona. A espada, no segundo quarto à direita da escada do salão de
entrada, e o escudo no quarto ao lado. — explicou Solenni, tensa.
— Digam como elas são exatamente, preciso ter uma imagem clara. — pediu Luan,
forçando as sobrancelhas, fazendo uma luz aparecer na ponta do cetro.
— A espada está numa bainha de couro com letras curvas, o cabo é de bronze em forma
de sol e nele tem uma jóia amarela. — descreveu Estel, rapidamente. — O escudo é meio
triangular, bordas prateadas, dentro é feito de cristal verde e tem uma estrela de cinco pontas
no meio.
Luan fechou ainda mais a expressão, esforçando-se. Sua mão fechou-se sobre a jóia de
seu cetro com força. Então, surpreendendo os outros dois, ele disse: “Achei!”. Nesse instante,
linhas de luz branca saíram do cetro e desenharam a espada e o escudo no ar.
— Incrível...! — espantou-se Estel, vendo as linhas tomarem volume e cor na sua frente.
— Certo, vou entender isso como um “sim, essas são nossas armas”. — falou Luan, que
exibia na fronte inúmeras gotas de suor. — As duas foram lacradas?
— Sim, mas em relação a mim. — respondeu Solenni.
— Selo duplo...meu Sábio-Rei! O pessoal tá ficando neurótico com isso. — o outro
desfez a magia e mais gotas de suor brotaram na sua face. — Mas como ele conseguiu entrar
sem ser lacrado?
— Menti. Disse que era só o “carregador de malas” dela. — explicou Estel, dando de
ombros. — Acho que o cara não deu muita bola para mim e para o escudo, mas
principalmente para mim.
— Não sei, não... Você não hipnotizou o cara com esses seus olhos estranhos?
— Não!! Agora dá para falar o que a gente tem que fazer?!
Estel dissera aquilo irritado, os olhos começavam a atrapalhar de novo. Todo mundo
comentando, achando estranho... Um grito agudo chamou a atenção dos três jovens. Eles
correram então na direção da cúpula azul, que já exibia algumas rachaduras aqui e acolá.
— Merda!! Eles não vão agüentar! — exclamou Luan, nervosamente. Olhava para os
lados, frenético. — Achei! Vamos!!
Luan os guiou até uma das pessoas que mantinha a cúpula e atacava a serpente. Ele
ficou tão tenso frente a ela que seus ombros se recurvaram e sua expressão fechou. A pessoa,
quando o viu se aproximar, olhou para ele aturdida.
— O que diabos está fazendo aqui, garoto!! — exclamou ela, entre dentes. – Vá
embora!!
— Não vou!! Eles estão aqui, pai, como eu disse que estariam!! — exclamou Luan, em
alto e bom som. — Eu disse que os sonhos se tornariam reais! Agora você tem que ajudar a
gente!!
O pai de Luan ficou branco, mais do que já era naturalmente. Um homem de meia idade
vestido em roupas púrpuras. Seu bigode grisalho e loiro embaixo de um nariz adunco
murchou. Os olhos eram iguais ao do filho, intensos e lilases.
— Você enlouqueceu de vez, está ficando pior do que sua mãe e sua irmã! — vociferou
o outro, indignado. — Estamos tratando de algo muito sério aqui e você me vem com essa
história de sonho!!
— Olha lá como fala delas!! Você sabe que é verdade, não pode fingir até nessa hora!!
— retrucou Luan, a discussão chamando a atenção de outros ao redor. — Pare de ser tão
imbecil!! Precisa acreditar ou esse reino vira poeira, sua posição de ancião não vai valer de
nada debaixo de um monte de ruínas!!
— Senhor, nós podemos ajudar. — falou Solenni, muito séria, entrando na discussão. —
Nossas armas podem ferir aquele bicho, deixe-nos entrar.
— Quem são vocês?! Quem permitiu que manipulassem essas armas laminadas?! —
exasperou o homem. — Como podem acatar com as idéias desse delinqüente?!
— Somos Solenni Apollux e Estel Elecktrion. Somos Regidos. — respondeu Estel, tão
sério quanto a outra. — E acreditamos nos sonhos de Luan, porque nós também sonhamos. Eu
sonhei com arcos de pedra, sonhei com essa serpente.
O homem não soube o que responder. O filho reagiu por ele:
— Está vendo, eu disse que era verdade!! Os nomes são os mesmos!!! — falou, ansioso.
— Tudo o que Magnus nos falou era real, é real!!
– Não pronuncie o nome desse desgraçado! Ele arruinou com a minha vida!! — gritou o
pai de Luan, perdendo o controle. — E vocês não vão entrar lá! Eu não vou permitir! Não vou
deixar vocês arruinarem tudo por causa desses sonhos idiotas.
O homem fez um simples movimento com seu cetro cinza-chumbo, uma mão enorme e
invisível empurrou os três jovens para longe da cúpula. Luan levantou-se gritando. Mexeu com
seu próprio cetro e abriu um buraco na cúpula de vidro.
— Entrem logo!! — gritou ele, fazendo um enorme esforço.
Estel e Solenni não pensaram duas vezes. Correram e entraram.
— Tirem aqueles dois dali!! — gritou o pai de Luan, ensandecido.
— Não conseguimos vê-los!! Há muita interferência mágica por causa da serpente!! —
respondeu outra pessoa do círculo. — E se mexermos muito na cúpula ela vai quebrar de vez!!
— Não importa o que precisem fazer, tirem eles dali!!!
O homem olhou para o filho, que se aproximava da cúpula. Luan devolveu o olhar
furioso que recebia do pai.
— Se eles morrerem a responsabilidade será sua! Vou fazer com que seja expulso deste
reino!!
— Como se você nunca tivesse tido a vontade de fazer isso. — respondeu o outro,
colocando a mão na jóia do cetro. — Você não me precisa dizer que sou responsável por eles,
Magnus me avisou disso, me preparou.
—Desgraças caiam sobre aquele homem!! Ele fez sua mãe, sua irmã e você
enlouquecerem!
— Não, foi você quem fez.
E Luan ignorou o pai. Era hora de tomar conta dos outros dois lá dentro com a serpente.
Assim que entraram, Estel e Solenni sentiram um choque elétrico pelo corpo. Estavam
trancados com uma serpente gigante. Eles se esconderam, inicialmente, atrás de um grande
pedaço chão que se levantara. Tossiam por conta da poeira no ar. O defensor equipou o
escudo, a espártaca retirou a espada. Entreolharam-se.
— Estel, todo cuidado é pouco. — disse Solenni, tensa. — Estamos sem nossas
armaduras e acho que vamos demorar a surtir algum tipo de efeito sobre esse bicho. Luan nos
viu vencendo, então vamos nos manter vivos para isso se tornar verdade. Toma cuidado, por
favor!
— Você também. — respondeu Estel, ansioso.
Eles se deram as mãos por alguns instantes e correram para lados distintos.
O monstro logo notou a presença deles. Serpentou ameaçadoramente na direção de
Solenni. Estel aproveitou para correr para o lado contrário, para a cauda.
A primeira idéia era saber se as armas deles faziam mais efeito na couraça de pedra do
que os jatos de luz das pessoas de fora. Se houvesse confirmação, o que atacou seguraria a
atenção do monstro até o outro ter a mesma oportunidade e assim por diante. Seria uma
batalha longa, aquele bicho era enorme! Quem sabe com a pele danificada, as magias
surtissem mais efeito. Pelo menos era isso que eles esperavam que acontecesse.
Solenni observava, apreensiva, tanto a cobra quanto Estel. Para chamar ainda mais a
atenção da primeira, acendeu a jóia da espada. O efeito foi imediato. Apesar de haver outras
tantas luzes no lugar, o monstro hipnotizou-se com o ponto luminoso de ouro. Porém a
paralisia foi apenas uma introdução para um ataque frenético. E o que restou para Solenni foi
fazer o possível para não ser esmagada.
Estel assistia preocupado o que acontecia. E para evitar que a situação se complicasse,
era hora de fazer a sua parte. Será que manusear aquele escudo enorme seria tão fácil quanto
o anterior? Só havia um jeito de saber. Ele correu e jogou-se sobre a parte final do corpo da
cobra com toda força.
Todos ali taparam os ouvidos e sentiram uma pontada de dor na cabeça ao ouvirem o
guincho de dor da serpente.
A parte onde o escudo batera havia se transformado numa profunda cratera e as
rachaduras se espalhavam pelo corpo de pedra. Estel teve suas dúvidas sanadas. Contudo, no
instante seguinte ao da dor, a serpente virou-se rápido demais para o defensor se proteger.
Estel ergueu o escudo, esperando o impacto, só que, para sua total surpresa, foi erguido do
chão como se tivesse sido fisgado por uma vara de pescar. Ao olhar do alto, viu Luan manusear
o cetro como se fosse uma alavanca, por sinal a mais pesada do mundo.
A altura não mostrou ser empecilho para a serpente, que ficou ainda mais excitada com
o sobe e desce da presa. Solenni, saindo de seu esconderijo, viu o que estava acontecendo a
Estel e preparou a espada.
Luan não agüentava mais manter Estel erguido, mas tinha medo de que se tentasse
colocar o outro em segurança no chão, a cobra o comeria no caminho. Olhou tenso o
momento em que ela arreganhou a boca, contudo não tentou morder, gritava de dor pela
segunda vez.
— Ei!! ME DESCE!! ME DESCE DAQUI!! — berrou Estel, agoniado. — Solenni precisa de
ajuda!! DESCE!!
Estel viu a serpente voltar sua fúria novamente para o ponto dourado. Assim que tocou
os pés no chão, correu. O tremor que o bicho causava ao tacar a boca rochosa no chão fazia o
garoto bambear de um lado para outro. Todo o piso estava terrivelmente irregular e o ar cheio
de poeira o impedia de enxergar direito. Onde estava Solenni?! Observou impressionado que
havia um longo e profundo corte em brasa ao longo do corpo do animal.
— Solenni!! — chamou. — Solenni!!
— Estou aqui! — respondeu uma voz, que quase não se sobressaiu ao barulho. — Aqui
atrás!
Estel virou-se. No meio da poeira uma luz piscou rapidamente. Ele correu até o ponto
atrás de uma grande árvore caída, junto com ele estava Solenni. A cobra urrou com mais força
e abocanhou o chão.
— Meu deus, Solenni!! — assustou-se Estel. — Olha como você está!
O defensor tocou preocupado o rosto da espártaca, que exibia, além da grande
quantidade de poeira, um profundo corte na têmpora e outro nos lábios. Fora os arranhões
pelo corpo.
— Eu vou ficar bem. — disse a outra, a voz entrecortada por fortes puxadas de ar. Ela
apontou para onde a serpente batia a cabeça, havia pontos laranja-incandescente no chão. —
Seu presente é que manteve viva. Estou usando as brasas da lanterna para despistar aquela
coisa. Elas devem ser mágicas, não se apagam. A serpente é cega, só sente as coisas que estão
em movimento ou que são muito quentes. Por agora ela vai comer as brasas que eu joguei,
acha que é a jóia da espada, mas temos que resolver isso logo, não tem muito mais para se
jogar.
A garota abriu a tampa da lanterna, o qual só continha algumas brasas e uma
salamandra assustada.
— Droga!! E o que...!!
Antes que Estel terminasse a frase, ele e Solenni foram arremessados. A serpente os
achara. O defensor levantou a cabeça o mais rápido que a dor no corpo o permitiu fazer, a
pancada no chão fora forte. Solenni estava há alguns metros, fazendo uma feia careta de dor.
O garoto apavorou-se quando viu uma das pernas da espártaca presa entre os escombros. E o
monstro sibilava em direção a ela.
— Ei, filho da puta! Desgraçado! — rugiu Estel, levantando-se num pulo. — Sai de perto
dela!!
A cobra não lhe deu atenção preparava o bote certeiro...
Estel pulou com todo o peso de seu corpo sobre a serpente de pedra. A depressão feita
por ele anteriormente aumentou mais ainda, arrancando grandes pedaços do monstro.
Contudo, este se remexeu fortemente com a dor, rebatendo Estel de novo para longe.
A serpente voltou-se ensandecida para Solenni, que não conseguia libertar a perna
soterrada. A criatura urrou e jogou-se com a boca aberta para a espártaca.
Estel, imaginando que a outra seria aniquilada, presenciou um milagre. Uma luz branca
apareceu ao lado de Solenni, transformando-se no segundo seguinte em Luan. O garoto
ergueu o cajado e, junto com ele, uma cúpula que era uma miniatura da que cobria a serpente.
Esta, sem parar a investida, bateu contra a proteção de modo violento, tendo a cabeça jogada
para trás. Urrou de dor e raiva, completamente desnorteada. Com o impacto, a cúpula que
cercava Luan e Solenni quebrou-se como vidro. Luan, aparentando tanta dor quanto o
monstro, aproveitou a tontura do mesmo para tocar no ombro de Solenni e sumir com ela
num flash de luz.
Estel estava sozinho agora.
Lá fora, Luan reapareceu e caiu ao chão de joelhos, exausto. Solenni estava bem pior,
além do cansaço, das feridas e de uma possível perna quebrada, havia a preocupação com
Estel. Ele estava sozinho agora.
— Por favor, tira o Estel dali!! — pediu ela, respirando com dificuldade. — Tira ele dali!!
— Eu disse que essa loucura não daria certo! — retrucou o pai de Luan, irritado. — Eu
sabia!!
— Cala a boca!! — gritou Luan, exasperado. — Eu vou achá-lo.
Luan ergueu o seu cetro mais uma vez. Colocou a mão sobre a jóia e tentou se
concentrar apesar da vista embaçada e da dor de cabeça. O corpo latejava. Ele precisava achar
o outro, porém não conseguia ver nada.
— Não estou enxergando nada!! Não estou vendo ele! — falou Luan, ansioso, a
expressão se fechando com o esforço mental. — Tem alguma coisa...alguma coisa cobrindo a
minha visão!
Solenni sentiu um aperto na garganta, um peso no peito. Estava acontecendo de
novo...ela ali, sem poder fazer nada, enquanto alguém... Não!! De novo não!!
Um urro encheu os ouvidos de todos ali. Era de dor e raiva ao mesmo tempo, mais
intenso que os das outras vezes. O sangue de Luan e Solenni gelou. E antes que pudessem
pensar no que estava acontecendo, um segundo urro cortou o ar, ainda mais dolorido, ainda
mais raivoso. A nuvem de poeira tornou-se tão densa quanto o barulho de pedras sendo
trituradas.
Segundos de tensão se arrastaram até que o terceiro e último urro feriu os ouvidos de
todos, um urro sofrido. Logo em seguida, foi o som de algo muito pesado batendo no chão.
Então o silêncio engoliu tudo.
Ninguém se mexia, ninguém ousava sequer respirar mais forte. Todos observavam
tensos a poeira começar a baixar. O tempo passava e, quando a cena dentro da cúpula tornouse visível, foi chocante. O corpo da serpente estendia-se pelo chão em três grandes pedaços
com a cabeça completamente destruída.
— Desfaçam a cúpula!! — gritou Luan, nervoso. — Anda, desfaçam de uma vez!! Ele
está ali!!
Solenni ergueu-se com o resto de força de que tinha e foi de encontro àquele que
caminhava com tanta dificuldade quanto ela. A espártaca olhou para Estel e sentiu uma dor no
peito, não sabia como naquele estado deplorável ele conseguia manter-se de pé. Seus olhos
eram delirantes, como alguém que estava com muito sono e fora proibido de dormir por vários
dias. Contudo eles brilhavam muito, mais do que faziam normalmente, eram duas pérolas
douradas no meio de sangue, poeira e cansaço.
Solenni aproximou-se e abraçou Estel, assim como ele fizera na noite da caverna de
vespertritas. Ele retribuiu tímido e fraco. Mas os dois tinham o mesmo sentimento: o de alívio.
— Está tudo bem. — disse ela, repetindo as mesmas palavras de antes. Tirando das
mãos queimadas do defensor uma lanterna. – Está tudo bem agora.
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Oitavo Escrito – Regidos de Eternia Uma serpente. O animal era