ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, Vol. 19, nº 1, 080-086, 2003.
AVALIAÇÃO DA IMUNOGENICIDADE DE UMA VACINA
EXPERIMENTAL OBTIDA A PARTIR DE Mycoplasma pulmonis
ISOLADO DE RATOS (Rattus norvegicus)
NATURALMENTE INFECTADOS
(IMMUNOGENICITY EVALUATION OF AN EXPERIMENTAL VACCINE
OBTAINED BY Mycoplasma pulmonis ISOLATED FROM NATURALLY
INFECTED RATS (Rattus norvegicus))
J. I. ARAÚJO1, J. TIMENETSKY2, F. A. ÁVILA3
RESUMO
A ocorrência de micoplasmose foi investigada em um biotério de um centro de pesquisas da região de Ribeirão
Preto - SP, com histórico de doença clínica que acometia de forma enzoótica o plantel. O diagnóstico comprobatório foi
efetuado mediante triagem sorológica por ELISA e exame microbiológico de material oriundo de ratos sadios e doentes.
Foi desenvolvida uma vacina formolada contendo como antígeno uma suspensão de Mycoplasma pulmonis, adsorvida em
hidróxido de alumínio e administrada por via subcutânea na dosagem de 0,5 ml. O experimento foi efetuado em ratos
(Rattus norvegicus) criados em um biotério convencional. A quantificação dos níveis de anticorpos foi feita por ELISA nos
intervalos de 15 e 30 dias após a vacinação e resultou em soroconversão, sugerindo que esta pode atuar como uma barreira
imunológica eficaz no controle da micoplasmose, vislumbrando uma provável forma de erradicação da doença em animais
de experimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Mycoplasma pulmonis. Micoplasmose. Vacinas. Biotério.
SUMMARY
The occurrence of mycoplasmosis was investigated in the animal house of a research center in the Ribeirão Preto
– SP region with a history of clinical diseases attacking the entire stock in an enzootic manner. The confirmatory diagnosis
was made by serologic screening by ELISA and by microbiological examination of material obtained from healthy and sick
rats. A vaccine was developed containing a formolized Mycoplasma pulmonis suspension adsorbed to aluminum hydroxide and administered subcutaneously at the dose of 0.5 ml. The experiment was conducted on rats (Rattus norvegicus)
reared in a conventional animal house. Antibody levels were quantified by ELISA at 0, 15 and 30 days after vaccination
and serum conversion was observed, suggesting that vaccination can act as an effective immunological barrier for the
control of mycoplasmosis, hopefully representing a probable means of eradication of the disease among experimental
animals.
KEY-WORDS: Mycoplasma pulmonis. Mycoplasmosis. Vaccines. Animal facilities.
1 Pesquisador do Laboratório de Monitoramento Sanitário do Biotério Geral da Prefeitura do Campus Administrativo de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP - Ribeirão Preto - SP.
2 Professor Assistente do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo USP - São Paulo - SP.
3 Professor Titular do Departamento de Patologia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do Campus de
Jaboticabal - UNESP - Jaboticabal - SP.
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J. I. ARAÚJO, J. TIMENETSKY, F. A. ÁVILA. Avaliação de imunogenicidade de uma vacina experimental obtida a partir de Mycoplasma pulmonis isolado de
ratos (Rattus norvegicus) naturalmente infectados. / Immunogenicity evaluation of an experimental vaccine obtained by Mycoplasma pulmonis isolated from
naturally infected rats (Rattus norvegicus). Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 19, nº 1, 080-086, 2003.
INTRODUÇÃO
Dentre os diversos organismos que acometem os
animais de laboratório, os micoplasmas merecem atenção
redobrada por parte dos bioteristas, em especial o
Mycoplasma pulmonis, agente causal da Micoplasmose
Respiratória Murina (MRM), o qual é responsável por uma
infecção respiratória insidiosa e crônica no rato
(CASSELL, 1982), muito embora outros organismos também possam estar associados (HOWARD et al., 1978).
O organismo responsável pela MRM localiza-se
no trato respiratório, nasofaringe e ouvido médio
(DAVIDSON et al., 1981; CASSELL et al., 1981a), podendo, também, ser encontrado no aparelho genital
(CASSELL et al., 1981a). Sua transmissão pode ocorrer
por via aerógena (MISTSCHERLICH & MARTH, 1984)
e por via transplacentária (CASSELL et al., 1985), sendo
esta a responsável pela prevalência da micoplasmose em
biotérios mantidos sob barreiras sanitárias (SPARROW,
1976; CASSELL et al., 1981b).
O estudo das espécies de micoplasmas que acometem animais de laboratório é pouco explorado no Brasil, muito embora o primeiro relato seja de 1983, quando
ROSSINI et al. (1983) isolaram Mycoplasma sp. de ratos
e camundongos. TIMENETSKY & DE LUCA (1998) isolaram Mycoplasma pulmonis de ratos e camundongos de
biotérios situados na cidade de São Paulo. Segundo os
autores, o organismo foi isolado da maioria dos animais
criados em condições convencionais, o mesmo não ocorrendo naqueles biotérios nos quais os animais eram mantidos sob barreiras sanitárias.
O controle da micoplasmose em biotérios faz-se
necessário por que animais de experimentação infectados,
embora aparentemente sadios, podem ter seu quadro fisiológico alterado, levando a mudanças nas respostas biológicas (BAKER et al., 1971; LINDSEY et al., 1971). Diferentes métodos têm sido utilizados na tentativa de
erradicar a MRM, entre eles: 1) A triagem sorológica seguida da eliminação dos animais infectados e prevenção
de recontaminações por meio da interposição de barreiras
sanitárias (CASSELL et al., 1981a); 2) O tratamento oral
com cloridrato de oxitetraciclina associado à obtenção de
crias por meio de histerectomia (BANERJEE et al., 1987)
e 3) A associação de tratamentos medicamentosos, como
o uso de antibióticos (oxitetraciclina) e antiinflamatório
(dexametazona) (BOWDEN et al., 1994).
No Brasil, a tentativa de se eliminar a MRM torna-se difícil por várias razões, entre elas: 1) a maioria dos
biotérios nacionais utiliza sistema de criação convencional em instalações que não permitem um adequado controle sanitário e 2) mesmo em ambientes controlados, onde
se utiliza a derivação por meio de operação cesariana, a
perpetuação da micoplasmose pode ocorrer por via
transplacentária.
Outra medida preconizada é a eliminação do
plantel acometido (KLEVEN et al., 1984), contudo, em
se tratando de biotério, tem como inconveniente a
repovoação do mesmo, já que a aquisição de animais sadios é difícil e onerosa. Além disso, deve-se ter em mente
que em um sistema de criação convencional existe a possibilidade de recontaminações, o que torna a maioria das
medidas de controle sem efeito.
O uso de vacinas como meta de controle da MRM
em biotérios vem sendo tentado há várias décadas. Diferentes formulações e formas de administração foram testadas, entre elas, a utilização de vacina formolada e
adsorvida em adjuvante oleoso administrada por via subcutânea (TAYLOR et al., 1977), vacina formolada administrada via intraperitonial e endovenosa (CASSELL &
DAVIS, 1978), vacinas vivas contendo como antígeno
cepas mutantes sensíveis à temperatura (LAI et al., 1990;
LAI et al., 1991) e vacinas genéticas (LAI et al., 1994;
BARRY et al., 1995), as quais estimulam tanto a produção de anticorpos quanto a imunidade mediada por células, com efeito protetor contra a infecção por Mycoplasma
pulmonis.
Uma vez que as medidas higiênico-sanitárias e
medicamentosas preconizadas para o controle da
micoplasmose não têm produzido os resultados esperados
e levando-se em conta que a resposta imune decorrente da
vacinação pode ser protetora, uma alternativa que se apresenta como prática, econômica e funcional é a imunização
dos animais através de uma vacina específica, a qual proporcionaria uma barreira imunológica contra a infecção
por Mycoplasma pulmonis.
Os objetivos do presente experimento foram isolar Mycoplasma pulmonis de ratos com infecção natural,
produzir uma vacina homóloga específica com quantidades distintas de antígeno e testar sua capacidade
imunogênica em ratos criados em biotério convencional
com histórico de micoplasmose enzoótica, mediante a
quantificação do nível de anticorpos, por ELISA, aos 15 e
30 dias após a vacinação.
MATERIAL E MÉTODOS
Animais: Foram utilizados 96 ratos (Rattus norvegicus),
machos, com idade de 45 dias, criados em condições convencionais, provenientes de um biotério de um centro de
pesquisas da região de Ribeirão Preto - SP.
Durante a fase experimental, os animais foram
mantidos em gaiolas plásticas com tampa de grade confeccionada em material inoxidável, que também serve
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ratos (Rattus norvegicus) naturalmente infectados. / Immunogenicity evaluation of an experimental vaccine obtained by Mycoplasma pulmonis isolated from
naturally infected rats (Rattus norvegicus). Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 19, nº 1, 080-086, 2003.
como comedouro, e alimentados com ração comercial própria para roedores e água “ad libitum”. A sala foi
climatizada para manter uma temperatura de 22ºC ± 2ºC,
umidade relativa de ar em torno de 60% e um fotoperíodo
de 12h. Foram adotadas medidas higiênico-sanitárias visando a minimizar os riscos de contaminações dos animais em testes, por organismos infectocontagiosos.
Microrganismo: Foi utilizada uma cepa selvagem de
Mycoplasma pulmonis isolada de um animal doente, proveniente do plantel em estudo. Ratos apresentando
sintomatologia clínica sugestiva de micoplasmose foram
sacrificados com uma dose letal de anestésico e submetidos à lavagem traqueobronquial (TBL) com 10 ml de caldo SP4 (TULLY, 1996), em capela de fluxo laminar. O
material aspirado foi dispensado em um tubo de ensaio
com tampa rosqueável (16X150 mm), após filtração em
membrana “millipore” com poros de 0,45 mm de diâmetro. A filtração teve como meta eliminar contaminantes
do TBL. Em seguida, as culturas foram levadas a uma estufa bacteriológica, onde ficaram em observação por um
período de até 15 dias a uma temperatura constante de
37ºC.
Os tubos de ensaio cujo meio de cultura apresentaram mudança de coloração de vinho para amarelo
foram repicados em placas “Corning” (35X10 mm) contendo aproximadamente 3 ml de meio SP4 semi-sólido e
mantidas em cultivo. Dentre as colônias com crescimento
sugestivo de micoplasma, uma foi selecionada, clonada 3
vezes para garantir a pureza da cepa isolada (SENTERFIT,
1983) e cultivada em caldo SP4 por meio de repiques seriados, usando-se 1/10 (v/v) do inóculo até atingir 200 ml
da cultura. Em seguida, foi distribuído em alíquotas de
1,0 ml e congelado a –70ºC.
A caracterização morfológica da cepa isolada foi
feita mediante observação microscópica, com base nos relatos de CHANOCK & TULLY (1980). Os testes de inibição do crescimento, em presença de digitonina
(DAVIDSON et al., 1994) e de soro específico contra
Mycoplasma pulmonis (CLYDE, 1983), foram feitos em
paralelo com a cepa ATCC-19.612. O clone selecionado
foi denominado de Mycoplasma pulmonis Clone-4 (MPC4) e utilizado durante toda as fases do experimento.
Vacina: Uma alíquota do MPC-4 foi descongelada e cultivada em caldo SP4 por meio de repiques seriados até
atingir 2.000 ml da cultura. Em seguida, a suspensão foi
inativada mediante a adição de 0,1% (v/v) de formalina a
40% (p/v) e mantida sob agitação em estufa a 37ºC, durante 24h. A cultura morta foi centrifugada 3 vezes a 20.000
x g por 15 minutos e o sedimento foi ressuspendido em
100 ml de tampão salina fosfato, contendo 0,025% (v/v)
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de formalina a 40% (p/v) e pH 7,2 (CASSELL & DAVIS,
1978).
Alíquotas da suspensão antigênica concentrada,
tomadas ao acaso, foram repicadas nos meios SP4 líquido
e semi-sólido, BHI (Difco), Tioglicolato de Sódio (Merck)
e Sabouraud (Difco) para a confirmação da esterilidade.
Com a finalidade de facilitar os cálculos durante
a preparação da vacina, a suspensão bacteriana foi padronizada para conter 1,0 mg de proteína total por ml. A dosagem de proteína foi feita utilizando-se o “Kit reagente
de Coomasie” (Pierce Chemical Company) para proteínas totais (BRADFORD, 1976) e a leitura feita em
espectrofotômetro “Spectra Max-2.500”, em um comprimento de onda de 595nm.
Foi produzida uma bacterina inativada pelo
formol e adsorvida em adjuvante aquoso, composta de 70%
(v/v) de antígeno e 30% (v/v) de um gel de hidróxido de
alumínio, previamente esterilizado e contendo 2,5% de
extrato seco, pH 8,0 e ausência de sulfato (SO4—) e amônia
(NH4+).
Imunização: Para o teste de imunização foram adotados
dois tipos de ensaios. Estes requereram que a vacina fosse
subdividida em 3 alíquotas e padronizada para conter,
respectivamente, 100, 250 e 500μg de proteína total por
dose de 0,5 ml.
No primeiro ensaio foram testadas as diferentes
concentrações de antígeno. Esta etapa teve como meta determinar a concentração ideal de antígeno a ser utilizada
como vacina. A imunização foi feita mediante a administração de uma dose única de 0,5 ml da vacina por via subcutânea na região do gradil costal. Foram vacinados 36
ratos, divididos em 3 grupos (G) de 12 animais cada, como
se segue: o G-I recebeu 100μg de proteína total, o G-II
recebeu 250 μg e o G-III recebeu 500 μg.
Nos dias zero, 15 e 30 após a vacinação (DPV),
todos os animais foram anestesiados com “thionembutal”
na dosagem de 50 mg/kg de peso vivo e, em seguida, submetidos a uma sangria de prova, mediante a punção cardíaca. Foi coletado aproximadamente 1,5 ml de sangue
total de cada rato. Após o processamento do sangue, os
soros foram estocados em congelador a –20ºC e destinaram-se ao estudo sorológico.
O segundo ensaio foi realizado com a vacina na
concentração antigênica que apresentou melhor desempenho em termos de estímulo à produção de anticorpos (IgG)
contra Mycoplasma pulmonis. Foram vacinados 60 ratos,
divididos em dois grupos. O primeiro grupo de 30 ratos
(G-IV) recebeu apenas uma dose da vacina, enquanto que
os animais do segundo grupo (G-V) foram revacinados.
De modo semelhante aos ratos utilizados no primeiro ensaio, estes também foram submetidos a uma sangria de
J. I. ARAÚJO, J. TIMENETSKY, F. A. ÁVILA. Avaliação de imunogenicidade de uma vacina experimental obtida a partir de Mycoplasma pulmonis isolado de
ratos (Rattus norvegicus) naturalmente infectados. / Immunogenicity evaluation of an experimental vaccine obtained by Mycoplasma pulmonis isolated from
naturally infected rats (Rattus norvegicus). Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 19, nº 1, 080-086, 2003.
prova antes de receberem a primeira dose de vacina. Transcorridos 15 dias da primeira vacinação, foi feita uma segunda sangria, após a qual 50% dos ratos receberam uma
dose de reforço, igual à primeira, no gradil costal
contralateral. Trinta dias após a primeira vacinação todos
os ratos foram submetidos a uma terceira sangria. As amostras de sangue coletadas foram processadas e estocadas
de maneira semelhante às do primeiro ensaio e tiveram a
mesma finalidade.
Sorologia: A avaliação da soroconversão foi feita pelo
Ensaio Imunoenzimático (ELISA) e obedeceu a
metodologia descrita por CASSELL & BROWN (1983),
sendo utilizado um anticorpo biotinilado anti-IgG de rato
(Vector Laboratories Inc.) como segundo anticorpo e a
avidina – HRP (Dako A/S.) como substrato. A revelação
foi feita com o reagente cromógeno O-Phenylenediamine
(Sigma) em presença de H2O2. A leitura foi feita em
espectrofotômetro “Spectra Max 2.500”, a 490 nm.
Os valores de absorbância correspondentes às
atividades imunológicas de cada amostra de soro foram
corrigidos com base na relação A/P (Taxa de Amostra
Positiva de cada diluição) (MACHADO et al., 1997).
Análise Estatística: A comparação das médias de
soroconversão (níveis de IgG contra Mycoplasma
pulmonis) expressas em valores A/P foi feita utilizandose o teste não paramétrico de Mann-Whitney (NORMAM
& STREINER, 1986), com significância estabelecida em
*p < 0,05, **p<0,01 e ***p<0,001.
espécie. Como estas etapas foram feitas em paralelo com
a cepa de referência ATCC-19.612, por similaridade, o
organismo isolado ficou caracterizado como Mycoplasma
pulmonis.
A comprovação de que suspensões antigênicas
contendo distintas concentrações de proteína inativada pelo
formol e adsorvida em adjuvante aquoso estimularam a
produção de anticorpos baseou-se na comparação dos níveis séricos de IgG, quantificados por ELISA, antes e após
a administração das vacinas. Os resultados expressos em
valores A/P revelaram um estímulo imunogênico positivo
no G-I (100μg/dose), que foi crescente e muito significativo no intervalo de 0-15 DPV (**p<0,01) e extremamente significativo no intervalo de 0-30 DPV (***p<0,001).
Entretanto, não foi observada diferença significativa no
intervalo de 15-30 DPV (p>0,05). O G-II (250μg/dose)
apresentou uma produção de anticorpos crescente e significativa nos intervalos de 0-15 e 15-30 DPV (*p<0,05) e
extremamente significativa no intervalo de 0-30 DPV
(***p<0,001). O G-III apresentou uma produção de
anticorpos distinta das demais. Ela foi significativa no intervalo de 0-15 DPV (*p<0,05), extremamente significativa no intervalo de 0-30 DPV (***p<0,001) e muito
significativa no intervalo de 15-30 DPV (**p<0,01).
O estímulo imunogênico entre os grupos de ensaios foi não significativo em todos os intervalos (p>0,05),
1.5
G-I (100 μ g/dose)
G-II (250 μ g/dose)
G-III (500 μ g/dose)
**
RESULTADOS
A confirmação do isolamento de organismos com
características de micoplasma foi feita mediante a observação dos tubos de ensaio nos quais o meio de cultura
mudou da cor vinho para amarelo (viragem do pH em conseqüência do metabolismo da glicose pelo organismo, indicado pelo vermelho de fenol) e das placas de cultura
que deram origem a colônias diminutas, opacas e que ao
microscópio estereoscópico apresentaram-se com o formato de “ovo frito”, como conseqüência da peculiaridade
do micoplasma em escavar o ágar, dando ao núcleo da
colônia uma coloração mais densa e opaca, ficando a borda com um crescimento superficial translúcido.
A caracterização da cepa, por meio de teste de
inibição do crescimento, foi feita levando-se em conta o
surgimento de uma zona na qual não foi observada a presença de colônias. A inibição do crescimento em presença
de digitonina foi sugestiva para o gênero, enquanto que a
inibição frente ao anti-soro específico foi sugestiva para a
Valores S/P
*
*** *** ***
1.0
** * *
0.5
0.0
0
15
30
DIAS
Figura 1 - Cinética da produção de anticorpos (IgG) contra Mycoplasma pulmonis em ratos vacinados
com uma bacterina formolada e adsorvida em
adjuvante aquoso (hidróxido de alumínio). Os
animais experimentais receberam doses de 100,
250 e 500 μg de antígeno. A avaliação do nível de anticorpos foi feita por ELISA e os resultados estão expressos em valores A/P com
Média + EPM (n=36 animais). * p<0,05; **
p<0,01; *** p<0,001 representam diferenças
significativas nos intervalos de tempos analisados (0, 15 e 30 dias), usando o teste nãoparamétrico de Mann-Whitney.
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naturally infected rats (Rattus norvegicus). Ars Veterinaria, Jaboticabal, SP, Vol. 19, nº 1, 080-086, 2003.
indicando que as três formulações se comportaram de
modo similar quanto à produção de anticorpos.
No segundo ensaio, no qual os animais receberam uma vacina contendo 250μg de proteína total, a via
de administração e a dose foram as mesmas do teste anterior, tendo como distinção, apenas, a revacinação de 50%
dos animais. No G-IV, os níveis de anticorpos revelaram
uma imunogenicidade positiva, crescente e extremamente
significativa nos intervalos 0-15 e 0-30 DPV (***p<0,001).
No entanto, não foi observada diferença significativa no
intervalo de 15-30 DPV (p>0,05). No G-V, a produção de
anticorpos foi crescente e extremamente significativa
(***p<0,001) em todos os intervalos.
O estímulo imunogênico entre os ratos
primovacinados e revacinados foi não significativo
(p>0,05), indicando que as formas de administração comportaram-se de modo similar quanto à produção de
anticorpos, independentemente do número de vacinações
e do intervalo de tempo.
Valores S/P
1.5
***
*** ***
1.0
***
***
G-IV (0 DPV)
G-V (0 DPV)
G-IV (15 DPV)
G-V (15 DPV)
G-IV (30 DPV)
G-V (30 DPV)
0.5
0.0
0
15
30
DIAS
Figura 2 - Cinética da produção de anticorpos (IgG) contra Mycoplasma pulmonis em ratos vacinados
com uma bacterina formolada e adsorvida em
adjuvante aquoso (hidróxido de alumínio). Os
animais experimentais receberam uma ou duas
doses de 250 μg de antígeno. A avaliação do
nível de anticorpos foi feita por ELISA e os
resultados estão expressos em valores A/P com
Média + EPM (n=60 animais). * p<0,05; **
p<0,01; *** p<0,001 representam diferenças
significativas nos intervalos de tempos analisados (0, 15 e 30 dias), usando o teste nãoparamétrico de Mann-Whitney.
DISCUSSÃO
A MRM é um processo infeccioso, insidioso e
crônico (CASSELL, 1982), causada pelo Mycoplasma
pulmonis, que acomete colônias de roedores de todo o
mundo (SPARROW, 1976; CASSELL et al., 1981) e que
tem sido observada tanto em animais criados em condi84
ções convencionais quanto naqueles mantidos sob sistemas de barreiras (LAI et al., 1991), podendo ser encontrado numa taxa de até 100% em biotérios convencionais e
em torno de 18% em biotérios com barreiras
(TIMENETSKY & DE LUCA, 1998).
Até o momento, a maioria dos métodos adotados
para o controle da micoplasmose mostrou-se ineficiente,
mas apenas a vacinação tem apresentado resultados promissores. CASSELL & DAVIS (1978) argumentaram que
a vacina contendo Mycoplasma pulmonis viável ou
inativado pelo formol é capaz de reduzir a incidência e a
gravidade das lesões no trato respiratório baixo, após o
desafio com organismo viável e que a vacinação sistêmica
pode proporcionar maior proteção para o pulmão do que
vacinação intranasal. Por sua vez, LAI et al. (1990) utilizando, como antígeno, uma cepa de Mycoplasma pulmonis
modificada, sensível ao calor e administrada por via
intranasal, obtiveram significante proteção contra o desafio com a cepa virulenta. Relataram, ainda, que houve um
estímulo na produção de anticorpo local (IgA), sistêmica
(IgG) e, provavelmente também, de imunidade
citomediada, com conseqüente prevenção do desenvolvimento de lesões no pulmão e tímpano.
LAI et al. (1994) argumentaram que a vacina deve
desenvolver não apenas anticorpos séricos, mas também
IgA específicos no trato respiratório, uma vez que esses
anticorpos interferem nos eventos iniciais de aderência e
colonização bacteriana.
O argumento de que o micoplasma é antigênico é
incontestável, como também o é a participação de eventos
humorais e celulares nos mecanismos de defesa contra a
infecção provocada por este agente. A defesa estimulada
por vacinas vivas tem se mostrado ser mais efetiva do que
as vacinas contendo organismos mortos; por sua vez, as
vacinas gênicas são capazes de corrigir os efeitos negativos das vacinas contendo o micoplasma vivo. Entretanto,
em se tratando de animais de experimentação, existem
restrições quanto à utilização deles após serem vacinados,
sobretudo com vacinas vivas, que além do risco de reversão da cepa vacinal apatogênica à sua forma patogênica
original, ainda há a possibilidade de a mãe transferir o
organismo para seus descendentes, fazendo com que esses sejam continuamente estimulados a produzirem
anticorpos. Em adição, as vacinas gênicas, apesar de não
apresentarem os riscos de reversão de cepa (LAI et al.,
1994), têm o inconveniente de poderem estimular
antigenicamente, por geração, os filhos de matrizes vacinadas.
CASSELL & DAVIS (1978) utilizaram uma vacina inativada pelo formol, contendo 70μg de proteína total
como antígeno, e argumentaram que a vacinação de ratos
contra micoplasmose é viável e que a purificação do
J. I. ARAÚJO, J. TIMENETSKY, F. A. ÁVILA. Avaliação de imunogenicidade de uma vacina experimental obtida a partir de Mycoplasma pulmonis isolado de
ratos (Rattus norvegicus) naturalmente infectados. / Immunogenicity evaluation of an experimental vaccine obtained by Mycoplasma pulmonis isolated from
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antígeno associada ao uso de maiores doses antigênicas
incorporados a adjuvantes podem melhorar sua eficácia.
Com base neste argumento e considerando a simplicidade
e a praticidade de produção de uma vacina contra
micoplasma usando uma cepa selvagem, inativada pelo
formol e adsorvida em hidróxido de alumínio, foi feita a
opção pelo método adotado.
Este experimento fornece dados que comprovam o
estímulo imunogênico de uma bacterina produzida com
uma cepa selvagem de Mycoplasma pulmonis, inativada
pelo formol e adsorvida em adjuvante aquoso. Desta maneira, pode-se esperar que a vacinação de reprodutores e
matrizes contribua para a manutenção da colônia no limiar da infecção. Mesmo em ambientes onde se criam animais mantidos sob barreiras sanitárias, a vacinação de
matrizes e reprodutores, com antígeno inativado, pode ser
vista como uma alternativa para a erradicação da doença,
uma vez que esta não proporcionaria as conseqüências
negativas das vacinas vivas, onde a condição de animal
SPF poderia ser descaracterizada para a pesquisa
biomédica.
CONCLUSÕES
A avaliação dos resultados permite chegar-se às
seguintes conclusões:
1- O organismo isolado no plantel de ratos foi identificado como Mycoplasma pulmonis.
2- As formulações das vacinas, levando-se em conta
a quantidade de proteína total utilizada como antígeno e
as formas de administração, não revelaram diferença significativa no estímulo imunogênico.
3- A vacinação de ratos com uma bacterina
inativada pelo formol e adsorvida em hidróxido de alumínio estimulou a produção de anticorpos contra Mycoplasma
pulmonis, os quais foram evidenciados por ELISA nos
intervalos de 0-15 e 0-30 DPV.
ARTIGO RECEBIDO: JANEIRO/2002
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