CRESCIMENTO DE ESFERAS DE GÁLIO UTILIZANDO A TÉCNICA MOCVD Léo Happ Botler¹; Marco Sacilotti² ¹Estudante do curso de engenharia eletrônica-DES-UFPE;E-mail:[email protected] ²Pesquisador/Bolsista DCR-FACEPE/CNPq-DF-UFPE-Recife-PE-Br.E-mail:[email protected]. Sumário: Este artigo descreve a utilização do sistema MOCVD construído no Departamento de Física da UFPE e foi realizado em parceria com o CETENE e a FACEPE. Exibiremos resultados obtidos com a utilização do sistema, assim como um modelo inédito para explicar o crescimento das micro esferas de gálio. As micro esferas de gálio são revestidas por uma membrana de carbono denominada Fulereno. Os Fulerenos conhecidos tem diâmetro da ordem de nanômetros. Os Fulerenos desenvolvidos com a utilização do sistema MOCVD apresentam esferas com diâmetros que podem chegar a 5 micrometros. Palavras–chave: esferas de Gálio; Fulereno; MOCVD INTRODUÇÃO A técnica MOCVD (Metal Organic Chemical Vapour Deposition) conhecida desde 1967 é uma técnica de crescimento de materiais inorgânicos, utilizando moléculas metal-orgânicas sobre substratos sólidos. A técnica MOCVD vem sendo aplicada em larga escala nas últimas décadas, pois são de alto interesse para as áreas da eletrônica e da fotônica. O funcionamento é simples: Um substrato é colocado dentro de um reator, que é aquecido entre 550 a 750 °C, mantido à pressão de N2: 70 a 760 torr. Um fluxo de vapor de moléculas organometálicas (OM) é levado até o reator pelo gás de arraste N2. O aquecimento faz com que as moléculas de OM se pirolisem e o metal deposita sobre o substrato (silício por ex.), dando origem a estruturas micro e até nano métricas. Os principais fatores que afetam o crescimento são: tipo do substrato, composição dos gases, pressão e temperatura no interior do reator. Embora o funcionamento seja simples, ainda não se sabe explicar o mecanismo de crescimento e como os parâmetros de crescimento afetam a estrutura cristalina gerada. Devido ao tamanho das estruturas geradas, as amostras são preferivelmente analisadas em microscópio eletrônico de varredura ou de transmissão. Como não podemos analisar o que ocorre no interior do reator durante o crescimento, variamos os parâmetros de crescimento como temperatura, pressão, fluxos dos gazes e analisamos os resultados após o crescimento em busca de uma melhor compreensão do sistema, de um modelo para o crescimento e de estruturas de interesse para as demais áreas da ciência. MATERIAIS E MÉTODOS O sistema MOCVD implantado no Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco será descrito a seguir. O painel do sistema está ilustrado abaixo. Inicialmente, colocamos o substrato desejado dentro do reator. Então liga-se a chave geral de energia para que o controlador de pressão do reator, os medidores de fluxo e as válvulas elétricas possam funcionar. Então liga-se a bomba de vácuo e abri-se as válvulas B2,NC1 e M1. Como o reator está a pressão atmosférica, o controlador de pressão(que controla a abertura da válvula B1) mantém o setpoint para pressão dentro do reator, caso este seja abaixo da pressão atmosférica. Abrimos então as válvulas M16,M17,M19,NC,NC2,M3, M2 e as válvulas manuais inferiores do cilindro de organometálico a ser usado, que desobstruem a passagem do N2(gás de arraste) pelas linhas bypass, principal e secundária. Deve-se então regular o setpoint do aquecedor, ligar o aquecedor e esperar até que a temperatura do reator chegue ao setpoint(aproximadamente 8 minutos). Podemos agora abrir a válvula NC do organometálico desejado e esperar até o fim do crescimento, quando esta válvula deve ser desligada. Durante o crescimento é possível variar a pressão do reator mudando o canal do controlador de pressão. Os resultados aqui analisados são referentes ao crescimento feito com deposição de TMGa por 15 minutos em substrato de MOS, com pressão do reator igual a 70 torr, temperatura de 700°C. RESULTADOS A seguir estão fotografias das duas amostras já analisadas tiradas com microscópio eletrônico de varredura. Na figura 1, podemos ver 4 balões com diâmetros de aproximadamente 3 micrometros. 3 deles estão sustentados por uma base em forma de cone, e o mais a esquerda está sustentado por 2 bases em forma de cone. Podemos perceber também que há “desenhos” na superfície esférica, que fica mais claro na figura 2. Estes desenhos são do tipo fractal. Podemos ver, através de EDS que o interior das esferas está repleto de Gálio. Figure 1: 4 esferas de Gálio com diâmetro de 3 micrometros enfileiradas. Figure 2: esfera de Gálio com desenhos. DISCUSSÃO Como mostrado acima, temos esferas de diferentes tamanhos no mesmo crescimento. Sabemos que aumentando o tempo de crescimento aumentamos também os diâmetros das esferas de um modo geral. Concluímos que o gálio deposita-se no interior das esferas em função do tempo. Porém, o gálio é liquido a temperatura ambiente (29°C) e mais ainda à temperatura de crescimento de 550- 750ºC. A força gravitacional impediria que um líquido se aglomerasse do modo que vemos nas figuras 1 e 2. Como o organometálico utilizado é o (CH3)3Ga, concluímos que há uma membrana externa composta do carbono vindo desta molécula. Devido ao formato esférico, acreditamos que os átomos de carbono desta membrana estão organizados formando uma molécula de Fulereno. Em estudos anteriores, mostramos com a técnica TEM que o cone de suporte da esfera é construído de membranas de carbono. Para explicar como o (CH3)3Ga constrói a estrutura esférica e faz com que o gálio passe através da camada de Fulereno, foi criado um modelo baseado na fórmula de Euler para poliedros côncavos que leva em conta a simetria dos Fulerenos, a valência do Carbono, as forças de ligação entre as moléculas de Carbono no Fulereno e a disponibilidade de Carbono no meio. O modelo não só explica o crescimento das esferas de gálio, como também explica o crescimento do Fulereno de uma maneira ainda não reportada na literatura. Inicialmente faremos uma análise sobre os poliedros côncavos com faces hexagonais e pentagonais usando a fórmula de Euler para poliedros côncavos. Temos que F + V = A + 2. Ou seja, o número de faces (F) somado ao número de vértices (V) é igual ao número de arestas (A) mais 2. Se considerarmos que queremos formar um poliedro apenas com faces hexagonais e pentagonais, que cada vértice esta compartilhada por 3 faces e que cada aresta está compartilhada por 2 faces chegamos a seguinte expressão: P = 12, onde P é o número de faces pentagonais. Isso significa que podemos criar poliedros com quantos hexágonos quisermos, contanto que o número de pentágonos seja igual a 12. Por isso começamos ilustrando uma molécula de C20, que tem a forma de um dodecaedro (12 pentágonos) e achataremos esta no plano para que possamos analisá-lo matematicamente. Na figura 3, cada vértice representa um Carbono, cada aresta com uma linha representa uma ligação simples e cada aresta com duas linhas representa uma ligação dupla: Como o meio está repleto de moléculas de Carbono ligados a Gálio((CH3)2Ga ou (CH3)Ga) e as ligações duplas são mais fracas que as ligações simples, algum Carbono tenderá a quebrar uma de suas ligações duplas e formar uma ligação simples com algum carbono do meio, mas sempre tentando preservar a simetria da molécula, afinal esta é a razão para que moléculas como C60,C70 e C20 sejam estáveis. Podemos mostrar passo a passo que o C20 evolui para o C24. Teremos: Embora a complexidade aumente a medida que a molécula aumenta, sempre é possível somar-se 4 carbonos(2 hexágonos) à estrutura. Acreditamos que quando a molécula assume dimensões muito grandes, dependendo dos organometálicos utilizados, a estrutura do Fulereno começa a se romper, dando origem aos desenhos do tipo fractal, vistos nas figuras 1 e 2. CONCLUSÕES Utilizamos o sistema MOCVD para crescer esferas metálicas perfeitas, sendo estas envolta por membranas de carbono, vindo da molécula precursora (CH3)3Ga. Concluímos que o sistema MOCVD deve continuar sendo estudado devido a infinidade de estruturas que podem ser geradas com este. É bom ressaltar que o modelo criado neste trabalho não exclui outros modelos de formação do Fulereno. Pretendemos continuar nossa pesquisa com as esferas de Gálio para poder provar, com análises concretas, que a membrana que reveste as esferas são de fato um Fulereno. AGRADECIMENTOS Agradecemos a FACEPE e ao PIBIC pelo suporte financeiro. Agradecemos também a Francisco Rangel, Técnico especialista em Microscopia eletrônica de varredura do CETENE-Recife-Br, pois graças a ele as fotografias tiveram alta qualidade e foram de grande auxílio ao desenvolvimento do trabalho. REFERÊNCIAS Sacilotti, M et al. Organometallic precursors as catalyst to grow three dimensional micro/nano structures: spheres, clusters and wires. Surface & Coatings Technology, 2007.