ANÁLISE DA APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EM
OBRAS DE EDIFICAÇÕES ATRAVÉS DO SISTEMA DE GESTÃO “LEAN
CONSTRUCTION” – ESTUDO DE CASOS
Fernanda Maria P. F. Ramos Ferreira*, Paulino Graciano Francischini**
* Professora da FATEC-SP e Doutoranda em Eng. de Produção pela EPUSP. e-mail: [email protected].
** Professor da EPUSP e Doutor em Eng de Produção pela EPUSP. E-mail: [email protected].
Resumo
A origem de muitas das idéias representadas pelo
JIT estão no trabalho de Taiichi Ohno da Toyota
Motor Company. Segundo Ohno, a Toyota começou
sua jornada de inovação em 1945, quando o
presidente Toyoda Kiichiro exigiu que a companhia
chega-se ao nível da indústria americana em três
anos, sob pena de não sobreviver. Nessa época, a
economia japonesa estava debilitada pela guerra, a
produtividade da mão-de-obra 1/9 da americana e a
produção automotiva era modesta. Foi reconhecido
que o único caminho era diminuir a distância
enorme de produtividade entre os dois países,
através da eliminação de desperdício apontado pela
diminuição dos custos. A Toyota não reduziria
custos explorando economias de escala em
instalações de produção de massa gigantescas como
as indústrias americanas. O mercado japonês
automobilístico era muito pequeno. Então, os
gerentes decidiram que a estratégia tinha que
possibilitar a produção de vários modelos em
quantidades pequenas. O principal desafio do
controle da produção era manter a suavidade do
fluxo produtivo face à variedade no ‘mix’ dos
produtos. Além disso, evitar o desperdício, sem criar
grandes estoques. Os autores concluem que, entre o
fim dos anos 40 até os anos 70, a Toyota instituiu os
procedimentos e sistemas para implementação do
“just-in-time” e autonomatização. O efeito global foi
erguer a Toyota para uma das maiores fábricas
automobilistas do mundo nos anos 90. [2]
Neste trabalho, foram estudadas as
aplicações das ferramentas de engenharia de
produção na construção civil, mas precisamente no
sistema de gestão denominado construção enxuta “lean construction”. Foram analisadas
as
contribuições para a melhoria do produto final e
consequentemente a satisfação do cliente, além das
dificuldades de implantação, em obras de
edificações, realizadas na cidade de São Paulo.
Palavras-chave: Construção civil, Ferramentas de
qualidade, Construção enxuta.
1.
Introdução
Os processos de manufatura são definidos como
sistemas produtivos que, através de uma operação
básica transforma recursos em produtos, mudando
suas formas ou composições (figura 1). Vários
programas foram criados, visando à melhoria da
produtividade desses sistemas, principalmente no
setor automobilístico. Entre estes programas, o “lean
production” revolucionou este setor, e ainda de certa
forma, influenciou outros setores como o da
construção civil.
Neste trabalho, analisaremos o sistema de
gestão “lean production” e sua influência no setor da
construção civil, conhecida como sistema de gestão
“lean construction”. Este sistema de gestão surgiu
através do Sistema Toyota de Produção (TPS).
Ambiente (mercado de fornecedores de mão-de-obra,
materiais, equipamentos e consumidores).
Recursos produtivos diretos
(com características de qualidade
e em certas quantidades)
Mão-de-obra
Relações
entre
Materiais
Equipamentos
O texto considera um
único produto, com
certa qualidade
e quantidade.
preços
SISTEMA FÍSICO DE
PRODUÇÃO
(OPERAÇÕES)
Tecnologia empregada
Produto
Produtos úteis com
especificações e quantidades
que satisfaçam os clientes
Figura 1: Sistema físico global [1], com as categorias de itens físicos mais importantes, pelos autores.
Também no Brasil o crescimento econômico
retraído influencia a necessidade pela busca da
redução dos desperdícios, em detrimento da
sobrevivência das empresas, inclusive as de
construção civil. Segundo Ferro apud Womack &
Jones (1.998) [3], a difusão de técnicas de produção
enxuta é fruto de um processo de criação e
desenvolvimento de novos valores e premissas sobre
como desenvolver, manufaturar e distribuir
produtos. O Brasil é um país aberto a inovações
como também para a disseminação de idéias testadas
e aprovadas, advindas de culturas administrativas
estrangeiras de origens distintas (americana,
japonesa, alemã, inglesa, francesa, etc). Portanto, a
mentalidade enxuta pode continuar a difundir-se no
Brasil, principalmente no combate a preferência por
proteção econômica, a falta de orientação para o
futuro e a negligência na formação de recursos
humanos capacitados.
A Construção Civil Paulista Atual
Neste trabalho, foram estudadas as
aplicações das ferramentas de engenharia de
produção na construção civil, com base no sistema
de gestão “lean construction”, através de diversos
casos reais ocorridos na cidade de São Paulo, em
obras de edificações (categoria segundo ABNT NBR
8950 [4], 1985), analisando as contribuições para a
melhoria do produto final e conseqüentemente a
satisfação do cliente.
Existem diversas características diferenciadas no
setor, que dificultam o desenvolvimento dessas
ferramentas de engenharia de produção e,
conseqüentemente, retardam a melhoria dos sistemas
de produtividade e qualidade. Entretanto,
percebemos que também existe na atual construção
civil paulista, uma crescente preocupação na
melhoria dos processos construtivos, visando uma
maior produtividade para enfrentar o aumento da
competitividade do setor, e melhorando o
atendimento aos clientes externos.
Na opinião de Conte apud Contador et al.
(1.997) [5], a indústria da construção civil passa
atualmente por situações que exigem a cada instante
melhores resultados a curto e médio prazo, sob pena
de que as empresas participantes de sua cadeia
produtiva, caso não alcancem o sucesso desejado,
passem a ter dificuldades crescentes para manter a
viabilização de seu negócio e mesmo a própria
continuidade de suas atividades.
Atualmente, segundo o mesmo autor, a
vantagem competitiva de cada empresa surge com
maior intensidade, não somente na definição do
preço de venda ou da forma de pagamento da
unidade executada, mas sim, na habilidade para
gerenciar o dia-a-dia do empreendimento tendo em
vista a garantia do desempenho operacional
planejado, em face dos diversos imprevistos
ocorridos.
Além disso, segundo Jobim (2.000) [6], as
empresas de construção civil, apesar do
comportamento tradicional e conservador em grande
número, encontram-se atualmente engajadas em
programas de qualidade e preocupadas em promover
melhorias, especialmente no que tange à
padronização dos processos. O desenvolvimento de
produtos, entretanto, baseia-se em critérios
tradicionais e locais e o gerenciamento desse
processo necessita de modelos adequados às
características da indústria da construção.
Lembra a mesma autora que, quando se
trata do processo de desenvolvimento do produto
edificação, este necessita ser repensado a partir dos
métodos utilizados nos demais setores industriais, e
que as mudanças devem iniciar no reconhecimento
de que esta atividade não é simples e nem direta. Ao
contrário, requer pesquisa, planejamento, controle e
uso de métodos sistemáticos.
De acordo com Oliveira apud Jobim
(2.000), a participação de muitos intervenientes no
processo de desenvolvimento do produto edificação
gera um número elevado de interfaces, fazendo com
que haja a necessidade de uma organização do fluxo
de informação entre estes intervenientes e uma
maior preocupação com a gestão das interfaces.
O sistema de gestão “lean construction”
Nos autores analisados é percebida a
significativa contribuição da engenharia de produção
à construção civil, principalmente na última década.
As ferramentas de engenharia de produção
encabeçaram o processo de racionalização da
construção civil mundial, e hoje todo esse
movimento leva a medida sistemática de redução de
desperdícios. Alguns autores denominam esse
movimento de “lean construction”, construção
enxuta ou construção sem perdas.
Scardoelli et al. (1994) [7] salienta que
existe consenso entre as empresas da construção
civil, de que existe a necessidade de planejar melhor
a produção, definindo no planejamento operacional
da produção, o seqüenciamento de determinadas
operações, concentrando a produção em uma área
relativamente pequena, de forma a estimular o
trabalho em equipe, e facilitar o abastecimento de
materiais; envolvendo não só o engenheiro da obra e
o mestre de obras, mas também todos os operários.
Para os mesmos autores, a rapidez do
acesso às informações necessárias à realização de
uma tarefa, contribui efetivamente para o aumento
da produtividade. Um dos aspectos fundamentais
para a agilidade dos serviços é reunir os
equipamentos, materiais e instruções antes do início
do trabalho. Nesse sentido, as empresas vêm
desenvolvendo medidas que visam à organização da
produção.
Na opinião de Ceotto apud Andrade &
Conceição (1998) [8], o processo de gestão em uma
construtora é difícil, pela grande quantidade de itens
e fatores que se tem de administrar, com um custo
gerencial muito alto. Portanto, é preciso simplificar
o processo construtivo, tirando as interferências.
Parece que tudo vai se resolver no nível de
planejamento e gestão.
Analisando os autores, percebe-se a
importância das ferramentas que viabilizam o
planejamento da produção, através do aumento do
processo de comunicação entre os intervenientes,
com o principal objetivo de organizar a produção,
fazendo mais com menos, ou como alguns autores
dizem, ser mais produtivo.
Conte lembra Koskela, apud Contador et al. (1997),
que este modelo tem como fundamento considerar
simultaneamente os seguintes aspectos da produção:
(a) conversão: caracterizado pelo processamento de
insumos com o objetivo de se alcançar o produto
final esperado; (b) fluxos: definidos pela logística de
insumos e informações durante a execução do
empreendimento; (c) valor agregado: caracterizado
pelo esforço sistemático em agregar valor ao produto
entregue, sem que isso implique o aumento do
respectivo custo da produção.
Conceito de Perdas no sistema de gestão “lean
production”
mas não cria valor, como erros que exigem
retificação, produção de itens que o cliente não
deseja, e acúmulo de mercadorias em estoques,
etapas de processamento que não são necessárias,
movimentação de funcionários e transporte de
mercadorias sem necessidade, grupos de pessoas em
uma atividade posterior que ficam esperando porque
uma atividade anterior não foi realizada dentro do
prazo, e bens e serviços que não atendem às
necessidades do cliente.
O passo preliminar para a aplicação do TPS
é identificar completamente os desperdícios:
superprodução,
tempo
disponível
(espera),
transporte, processamento em si, estoque disponível
(estoque), movimento e de produzir produtos
defeituosos.
As dificuldades de implantação das ferramentas
da engenharia de produção
Thomas
(2002)
[9] alerta sobre os cuidados e as dificuldades de
aplicação das ferramentas de engenharia de
produção à construção civil. Em seu texto são
apresentadas algumas características críticas da
construção civil (aspectos ou Princípios), que
dificultam ou inviabilizam a utilização dessas
ferramentas, ou as fazem cair em descrédito. A
Tabela 1 é feita uma análise crítica dos conceitos
aplicados à construção civil, com base nesse autor.
Para Womack & Jones (1998), desperdício
(muda em japonês) significa especificamente
qualquer atividade humana que absorve recursos,
Tabela 1: Aspectos ou Princípios da construção de edifícios e a indústria seriada.
Aspectos/
Construção de edifícios
Indústria seriada
princípios
Gerenciamento de processos, com foco
Orientação
Produção de produtos, com foco no produto acabado.
nos métodos usados. Um único centro de
e ponto de
Vários centros de custo.
custo.
vista
Utilizando-se de técnicas de programação CPM
O processo de produção e a fabricação
devido às atividades diferenciadas e simultâneas e
do produto passam por múltiplas
Natureza da levando à um número variado de trabalho por dia. A
estações de trabalho, acrescentando valor
integração natureza do trabalho muda diariamente devido às
e com o mesmo número de pessoas na
habilidades, informações, materiais e serviços de
das
mesma natureza de trabalho. Por isso, é
suporte. As operações seqüenciais são consideradas
atividades
possível dar atenção ao método e à
num nível macro. Mas usualmente, não são quando
melhoria de desempenho.
são feitas análises mais detalhadas.
Tem a quantidade de produção fixada ao
Desempenho medido com base nas horas de trabalho
dia, tendo material e trabalho
por unidades ou quantidades. Isto porque, cada
essencialmente constante. A avaliação de
atividade de construção está em um centro de custo.
desempenho pode ser feita na saída. O
A meta é usar um número mínimo de recursos para
único caminho para melhoria de
fazer o produto. O trabalho de cada recurso pode ser
desempenho na fabricação seriada é
Medidas de altamente variável e as horas de trabalho são
fazer um método mais eficiente. O foco
desempenho eqüalizadas da medida de desempenho. Os tempos de
no método é a identificação e eliminação
ciclo são muito diferentes, e são eqüalizados dentro
de atividades desnecessárias como
do possível através do método da linha de balanço. A
transporte de materiais e espera. Outros
melhoria de desempenho é feita no ambiente aonde o
mecanismos de aumento de desempenho
trabalho é realizado, buscando eliminar as
são a redução do tempo de ciclo e do
interrupções.
número de trabalhadores.
Ambiente
de trabalho
Nível
de
incerteza
Diversidade
de produtos
Gerenciamento
de
recursos
O ambiente de trabalho muda todos os dias. Recursos
de vários tipos e em quantidades diferentes são
necessários todos os dias. Melhorias no método são
singelas, porque os componentes ou locais mudam
freqüentemente. As questões ligadas ao ambiente
dominam os assuntos relacionados aos métodos de
trabalho.
Ambiente muito instável. Distúrbios do clima afetam
a produção e distúrbios de programação podem ser
resultados de erros de projeto, quebra de
equipamentos, de falta de materiais e outras
situações. Congestionamentos também podem ser
problemáticos como os causados por acessos
restritos. O canteiro de obras modifica-se a todo
tempo. Não é possível trabalhar com estoques e
inventários reduzidos porque são medidas de
segurança contra as incertezas.
A mesma equipe executa atividades diferentes, as
quais exigem qualificação e quantidade de recursos
variada, conforme a necessidade.
Materiais: São necessárias entregas diariamente.
Muitas de um só tipo e que são especificadas em
projeto. A programação das entregas deve ser
coordenada e o local de estocagem e transporte deve
ser cuidadosamente planejado. Os esforços de
vendedores, projetistas, proprietários e contratantes
devem ser sincronizados.
O trabalho é estável. Os recursos estão
disponíveis, a seqüência de operações é
fixa e as áreas de trabalho não são
congestionadas.
Ambiente estável. Recursos prontamente
disponibilizados, rotinas de trabalho
estabilizadas e de total conhecimento da
programação da produção, a qual é a
mesma aplicada diariamente. Com a
programação correndo suavemente,
estoques e inventários podem ser
mantidos em um mínimo para atender
uma operação máxima.
Trabalha com uma mínima diversidade,
resultando numa mínima mudança de
ambiente de trabalho ou rotina.
Materiais: Está intimamente ligada ao
gerenciamento das relações de venda.
Entregas envolvem um grande número
de itens. Se há menos diversidade de
itens, a programação de entrega pode ser
mais ajustada (precisa).
Equipamentos: as linhas de montagem
Equipamentos: São usados para múltiplos propósitos
são usualmente estacionárias e com uma
e por várias equipes. Não ficam estacionados em um
única equipe de trabalho. O projeto é
lugar fixo. Se ficam, é por pouco tempo. Ficam sob
desenhado para desempenhar uma única
condições severas de clima, e quebras são comuns.
função.
Informação: As iniciais são os planos e as
Informação: a principal é a ordem do
especificações. Entretanto, a programação do
cliente, detalhando o que ele quer no
trabalho, os desenhos, as responsabilidades e outras
produto ou como deve ser produzido.
são importantes formas de comunicação. A origem da
Sem a ordem, o produto não é fabricado.
comunicação ocorre nos diversos intervenientes do
processo.
Trabalho: A força de trabalho aumenta gradualmente Trabalho: O trabalho não requer um
e há picos ao longo da execução da obra. As tarefas gerenciamento
rigoroso
(próximo)
variam diariamente. O número de trabalhadores e de porque as estações de trabalho são
horas de trabalho necessárias variam de acordo com o operadas pelo mesmo número de
tarefa disponível (frente de trabalho).
trabalhadores diariamente.
Relações entre equipes de trabalho: A
Relações entre equipes de trabalho: Muitas operações
relação entre os grupos é seqüencial e o
de construção também são seqüenciais, mas algumas
time adiciona valor ao produto, o qual
vezes as relações entre as equipes de trabalho são
não irá mais retornar àquela estação de
cooperativas ou simbióticas. Quando isto ocorre, as
trabalho. As operações podem tornar-se
equipes envolvidas devem buscar trabalhar no mesmo
simbióticas, mas somente por um curto
ritmo, almejando o mesmo tempo de ciclo.
espaço de tempo.
Resultados
O Quadro 1 apresenta casos reais de empresas de
construção civil, exemplificando os sete tipos de
desperdícios levantados no sistema TPS.
Quadro 1: Os tipos de desperdícios analisados na construção civil.
1. Desperdício de superprodução
Na grande maioria das obras de edificações verticais, as atividades de execução possuem durações diferentes
em função da viabilidade da produção, da quantidade de serviços atribuídos, da equipe dimensionada, além
de fatores externos à execução, como por exemplo, o relacionamento com fornecedores, a localização da
obra, etc. Quando uma atividade tem uma duração menor que sua sucessora, ela ocorre rapidamente
terminando antes do início da sua sucessora, ocasionando o que chamamos de desperdício de superprodução,
pois utilizamos recursos antes de realmente precisamos deles. Uma vez, em certa obra de edificações, uma
atividade foi executada e gastou-se com base em um projeto desatualizado ou que foi modificado em função
da sucessora. Conclusão, tiveram que refazer a atividade. Algumas empresas combatem o desperdício de
superprodução, utilizando o conceito de linha de balanço entre as atividades, buscando um tempo de ciclo
ideal e igual entre as mesmas.
2. Desperdício de tempo disponível (espera)
Execução de edifício residencial, sem a definição do elemento construtivo de proteção das sacadas dos
apartamentos. A obra literalmente parou a execução de fachadas e pisos de sacadas, até a definição desse
elemento construtivo.
3. Desperdício em transporte
Construção de um anexo na parte de trás de prédio existente e ocupado pelo cliente. A escolha do local de
entrega do material foi a parte da frente do prédio, em vez do portão de trás. Todo material tinha de ser
transportado da frente do prédio até a reforma por uns 100 metros de distância, consumindo horas da mão-deobra, além do transtorno aos usuários do prédio existente.
4. Desperdício do processamento em si
O piso dos apartamentos de um edifício residencial teve com definição pelo arquiteto, assentamento cerâmico
cinza e rodapiso de ardósia de 10 cm de largura, como também rodapé com o mesmo material. O
processamento dessa atividade foi cercada de desperdício, pois os apartamentos são de aproximadamente
60m2, muito material teve de ser quebrado para o esquadro no piso, pois os cômodos eram pequenos e com
cortes a 45o nas aberturas de portas, além do desperdício de horas de trabalho na quebra e assentamento do
rodapiso de ardósia.
5. Desperdício de estoque disponível (estoque)
O chefe do departamento de compras recebeu um elogio por fechar o material elétrico de várias obras em um
único pedido. Conclusão, uma obra recebeu todo o material elétrico (inclusive luminárias) no início da
execução. O mesmo material teve de ser estocado em vários locais diferentes até sua utilização.
6. Desperdício de movimento
Em um prédio de escritórios, o projeto de implantação do canteiro de obras não analisou o processo de
produção de serviços com a colocação de azulejos e piso cerâmicos. O acesso de descarga de material era
afastado da posição da grua, provocando a movimentação de mão-de-obra para a descarga do material, e
posterior transporte até a grua. A mesma mão-de-obra buscava ferramentas em um almoxarifado afastado do
elevador de funcionários para chegarem aos andares onde seriam executados os serviços.
7. Desperdício de produzir produtos defeituosos
Durante a execução do concreto armado de um prédio residencial, foi utilizado um projeto errado com o
desenho da viga da sacada. No projeto correto, a mesma viga deveria ter um ‘dente’ para dar acabamento com
forro de lambri de madeira e assim esconder a instalação hidráulica e elétrica. As vigas das sacadas foram
concretadas sem o ‘dente’ na parte inferior, no prédio inteiro. Sem o dente na parte inferior, não foi possível o
acabamento do forro em lambri de madeira. Refizeram os projetos de hidráulica e elétrica, ocasionando
mudanças também no projeto de esquadrias, que também teve que ser refeito, por causa da porta de correr da
sala de estar que dá acesso à sacada.
Os resultados analisados pela pesquisa são
apresentados na Tabela 2 que apresenta as principais
características do sistema TPS comparadas a alguns
casos reais em empresas de construção civil,
devidamente denominadas por letras.
Tabela 2: Principais Características do Sistema TPS comparadas à Construção Civil, com base nos autores
analisados.
Característica
Comentários sobre a aplicação na Construção Civil
Os produtos devem ser examinados por A empresa A, especialista em obras residenciais, busca
consumidores desobrigados, onde o custo de analisar a satisfação de seus clientes através de
manufatura de um produto não possui qualquer pesquisas que, avaliam o valor do produto percebido no
importância, e sim a análise do valor agregado.
pós-ocupação.
Os operadores devem adquirir um grande número de A empresa B, especialista em obras comerciais, utiliza
habilidades produtivas, percebendo o valor no seu um sistema de fechamento vertical feito por placas prétrabalho. É necessário um sistema de gestão total moldadas de concreto armado em telas soldadas
que desenvolva a habilidade humana até sua mais (sistema “tilt-up”). Essas placas de concreto armado
plena capacidade, a fim de melhor realçar a são moldadas na obra por uma equipe semi-autônoma,
criatividade, para utilizar bem instalações e onde os operadores conhecem todo o processo
máquinas. O trabalho em equipe é tudo. A idéia é o produtivo, habilitados em múltiplas atividades com a
trabalho em equipe – não quantas peças foram mesma destreza, diminuindo o cansaço da atividade
usinadas ou perfuradas por um operário, mas repetitiva e propiciando um ambiente de inovação, já
quantos produtos foram completados pela linha com que o funcionário vê as atividades de uma maneira
um todo.
Fazer com que o processo precedente produza
apenas a quantidade retirada pelo processo
subseqüente. A força de trabalho e o equipamento
em cada processo de produção devem estar
preparados, para produzir as quantidades necessárias
no momento necessário. As diferenças individuais
nos tempos de operação causadas por condições
físicas, deverão ser absorvidas pelo primeiro
operário no processo, padronizando o tempo de ciclo
e favorecendo a harmonia entre os operários.
Para atender a diversificação do mercado e manter o
nivelamento da produção em harmonia, é importante
evitar o uso de instalações e equipamentos
dedicados. Estudando cada processo dessa forma,
podemos manter a diversificação e o nivelamento da
produção em harmonia e ainda atender os pedidos
dos clientes em tempo.
As informações devem ser transmitidas apenas
quando elas são necessárias. As informações
enviadas à produção devem ser exatamente
programadas no tempo. Muito do excesso de
informações geradas por computadores não é de
modo algum necessário para a produção.
A identificação da cadeia de valor de um produto
específico passa pelas tarefas gerenciais críticas em
qualquer negócio: a tarefa de solução de problemas
que vai da concepção até o lançamento do produto,
do projeto detalhado à engenharia, a tarefa de
gerenciamento da informação, que vai do
recebimento do pedido até a entrega, seguindo um
cronograma detalhado e a tarefa de transformação
física, que vai da matéria-prima ao produto acabado
nas mãos do cliente, mostrando os três tipos de ação:
etapas que criam valor (percebidas pelo cliente),
etapas que não criam valor, porém inevitáveis com
as atuais tecnologias e ativos de produção, como os
sistemas de desenvolvimento do produto,
atendimento de pedidos etc, e etapas adicionais que
não criam valor e devem ser evitadas.
Conclusões
Na utilização de ferramentas da engenharia
de produção analisadas nos casos, percebeu-se uma
forte adaptação ao ambiente desfavorável, e uma
certa dificuldade na aplicação de algumas delas;
dando margem a novas pesquisas, experiências e
explorações, na tentativa de realmente aplicá-las,
aumentando o valor agregado ao produto, e assim a
satisfação percebida pelos clientes.
Referências
[1] Muscat, A. R. N., Produtividade e Gestão da
Produção, Cadernos de Política e Gestão em C&T
pelo NPGCT da USP, São Paulo, 1.987.
[2] Hopp W. J. & Spearman M. L., The JIT
Revolution. Factory Physics: foundations of
manufacturing management. 2.ed., Boston, Irwin /
McGraw-Hill, 2.000.
sistêmica.
A empresa C não executa nenhuma atividade em suas
obras de edificações sem um estudo das possibilidades
de realização da mesma, em um tempo de ciclo que a
atenda a demanda, ou seja evitando o desperdício de
superprodução. As atividades devem ocorrer com
tempos de ciclos aproximados, nivelando a produção. A
questão é sempre definir o tempo “takt” com precisão,
em um determinado momento, em relação à demanda, e
processar toda a seqüência de momento, precisamente
com base no tempo “takt” (linha de balanço).
Já há alguns anos, a empresa A possibilita aos seus
clientes à escolha de acabamentos e disposição de
ambientes em suas obras de edificações habitacionais,
ou seja com os mesmos equipamentos e serviços
oferecem diferentes produtos aos seus clientes.
A empresa D, que é umas das maiores empresas de
construção civil do Brasil, utiliza um sistema integrado
entre departamentos, dispondo informações quando
necessárias.
É o caso da empresa E que, analisa a cadeia de valor
em suas obras que, são basicamente comerciais, e onde
existe um rígido controle do prazo de conclusão da
mesma, inclusive envolvendo seus sub-empreiteiros e
fornecedores,
assumindo
conjuntamente
o
desenvolvimento de finalização de seus produtos
necessários para manter felizes os clientes, procurando
desenvolver um relacionamento de longo prazo com
seus clientes, para satisfaze-los em todas as obras
encomendadas.
[3] Womack & Jones, A mentalidade enxuta.
Campus. Rio de Janeiro, 1.998.
[4] ABNT. NBR 8950, Indústria da construção. Rio
de Janeiro, 1.985.
[5] Conte, A. S. I., Lean Construction: O Caminho
para a excelência operacional na Construção Civil.
In: CONTADOR J. C. et. al. Gestão de operações.
São Paulo, Edgard Blücher, p.497-510, 1.997.
[6] Jobim, M. S. S., Aplicação dos Conceitos de
Desenvolvimento de produto à Construção Civil. In:
5o
SEMINÁRIO
SOBRE
“LEAN
CONSTRUCTION”,
1O
SEMINÁRIO
INTERNACIONAL SOBRE “LEAN DESIGN” E
“LEAN BUILD”, São Paulo. Anais. São Paulo,
Instituto de Engenharia, 2.000.
[7] Scardoelli, L. S. et al. Melhorias de qualidade e
produtividade: iniciativas das empresas de
construção civil. Rio Grande do Sul, Serviço de
Apoio às micros e pequenas empresas do Rio
Grande do Sul, (Programa da Qualidade e
produtividade da Construção Civil), 1.994.
[8] Andrade & Conceição, Produtividade se
Constrói, Qualidade na Construção Vol. 1, n.8, p.
16-27, 1.998.
[9] Thomas, R. & Sinha, S. K., Are construction
sites and manufacturing facilities the same? In: W65
Triennial Internacional Symposium do CIB –
Internacional Council for Research and Inovation in
Construction.
Cincinnati,
USA,
2.002.
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SISTEMA FÍSICO DE PRODUÇÃO - Boletim Técnico da FATEC-SP