A ENDOSCOPIA DIGESTIVA EM LONDRINA – DADOS HISTÓRICOS
ALCEU SERPA FERRAZ
Até 1969 a endoscopia digestiva no Brasil, mormente no Hospital das
Clínicas de São Paulo era realizada com aparelhos semi rígidos (SAS WOIF)
no Serviço do Professor José de Souza Meirelles Fº, onde eu dei meus
primeiros passos na área. Nessa ocasião foi programado no serviço do
Prof. José Fernandes Pontes um curso ministrado por Takao Hayashi
visando difundir o uso da gastrocâmara equipamento que representava o
grande avanço na época.
Em março de 1969, recebi carta do Dr. Shilioma Zaterka convidando-me
para fazer esse curso que seria, como de fato foi, uma nova e
revolucionária era no estudo das patologias digestivas em todo o mundo.
Fiz o curso e comprei uma gastrocâmara mesmo sabendo que seria uma
temeridade conseguir pagar suas prestações pois seria necessário criar a
demanda que na época não existia.
Contava com o apoio do colega e amigo, Dr. Dalton Fonseca Paranaguá,
com quem eu trabalhava e com o Instituto de Câncer de Londrina (ICL)
que seria, o ambiente médico mais propício para desenvolver um serviço
de diagnóstico do câncer gástrico precoce. Sendo assim contei com o
apoio da Da. Lucila Ballalai transferindo o equipamento para o ICL que
assumiu o pagamento das prestações e dessa forma nasceu o serviço de
diagnóstico precoce do câncer gástrico onde trabalhei e desenvolvi o
serviço durante vários anos.
Em 1973 veio para a UEL uma carta do Consulado do Japão em São Paulo
oferecendo uma vaga para um médico da Gastroenterologia viajar ao
Japão freqüentando durante 2 meses um curso de endoscopia, radiologia
e anatomia patológica voltado para o diagnostico precoce do câncer
gástrico.
Essa carta desencadeou uma grande e injusta inveja nos componentes do
setor (gastroenterologia) porque na época o único docente que já exercia
a endoscopia era eu, mas um colega mobilizou os demais para decidirem
por votação (!!!) quem seria o candidato àquela vaga – em outras palavras
era uma eleição entre eu e os outros. Aconteceu o óbvio; perdi a eleição e
com ela a chance de ir ao Japão. O colega eleito mandou seu currículo
para o Consulado em São Paulo; suas condições porém não preenchiam os
requisitos exigidos e não foi aceito. Segundo eu soube na ocasião, ele foi
ao Japão no ano seguinte, com recursos próprios.
Em 1974 fui ao Japão fazer aquele curso contando com a ajuda do
Instituto de Câncer de Londrina ( ICL) na pessoa de Da. Lucila Ballalai, e
sua amiga Kimiko Togami e seu marido membros da Rede Feminina de
Combate ao Câncer. Na época, eu pertencia ao Rotary Clube Londrina
Norte e contei também com a estrutura daquela organização.
As despesas de passagem foram pagas por mim mas no Japão recebi
dinheiro suficiente para pagamento de hospedagem, alimentação e
transporte através do diretor do Instituto de Câncer em Tokio.
Esse estágio no Japão custou-me também o sacrifício de deixar minhas
funções no Depto. De Clínica Médica e conseqüentemente minha carreira
universitária já que a UEL não me ajudou em nada pelo contrário tudo fez
para que eu desistisse do meu objetivo. Diante desse fato não tive outra
alternativa senão pedir demissão da UEL mesmo sabendo que voltando do
Japão eu iria enfrentar nova barreira agora, no ICL porque segundo
convenio entre a UEL e o ICL, o médico só poderia exercer atividade no
ICL, se fosse docente na UEL. E nessa ocasião o grupo médico que
controlava o ICL, era justamente o mesmo grupo que mandava na Gastro,
isto é, eu iria encontrar as portas fechadas no serviço que eu mesmo havia
criado alguns anos antes.
Não satisfeitos com isto acusaram-me de que eu recebia dinheiro dos
colegas radiologistas e patologistas porque eu prestigiava o serviço deles,
em detrimento dos serviços do ICL, isto é, eu era acusado de realizar
dicotomia de honorários (artigo 87 do código de ética médica). Fui em
busca de declaração desses colegas de que eu jamais havia recebido
qualquer pagamento pelo envio desses exames.
Posteriormente durante o mandato do reitor José Carlos Pinotti veio a
decisão de demitir alguns docentes que estavam sendo acusados de
múltiplas irregularidades como o desvio de pacientes da UEL para seus
consultórios particulares,entre outras. Essa decisão atingiu principalmente
os docentes da Gastro, e assim o HU não tinha como atender a demanda
de pacientes desta área, por isto, fui procurado pelo reitor Pinotti para
que eu aceitasse nomeação baseado no regulamento de “admissão por
notório saber”. Convite que eu aceitei porque estava agora se fazendo
justiça em relação à minha demissão. Justiça que não estava sendo aceita
pela maioria dos docentes e também pelos alunos, porque envolvidos
agora por interesses políticos e ideológicos, fizeram uma greve que durou
muitos dias. Só eu sei o quanto sofri já que não podia dar aula, nem
mesmo atender o ambulatório.
Diante dessa situação fui transferido do HU para a DIBEC (hoje NUBEC)
onde durante alguns meses atendia docentes, alunos e seus familiares
sendo depois transferido para o psicotécnico que na época era um serviço
baseado em convenio entre a UEL e o DETRAN.
Posteriormente fui aposentado como médico e como funcionário da UEL
mas continuei realizando endoscopias até há 3 anos quando completei
mais ou menos 16 mil exames.
Assim nasceu e se desenvolveu a endoscopia em Londrina a qual me deu
muita satisfação mas me cobrou um alto preço – o de deixar a UEL e a
carreira universitária.
Londrina, Julho de 2008.
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A Endoscopia Digestiva em Londrina - Dados Históricos