HOMENS QUE OUSARAM MUDAR A HISTÓRIA
Mudar a história não significa retroceder ou alterar o passado, nem escrever algo diferente daquilo
que já fora escrito. Muitos gostariam de poder fazer isso, pois a história dos homens não tem sido a
das melhores. Sempre foi escrita com respingos de sangue, violência, roubos, atrocidades,
desrespeito, indiferença, farisaísmo e mediocridade. Entretanto, há um meio sim de mudar o curso
da história. E isso nos alegra o coração. Tais mudanças foram feitas por homens que ousaram tomar
atitudes em meio às situações mais críticas, nas épocas mais complexas da vida moral, social e
espiritual, e impuseram rumos novos para a barca da nossa história.
Ao olharmos para esfera espiritual, percebemos que também nessa área a história sempre sofreu
mutações, porque homens, movidos pelo Espírito de Deus, não se conformaram com a situação
que vinha sendo vivida pelo seu povo e decidiram proclamar uma saída, pagando o preço. A
Bíblia fala de Abraão, Isaque, Jacó, José do Egito, Moisés, Josué, Gideão, Samuel, Davi, Neemias,
Jeremias, Jesus Cristo. Esses e tantos outros foram homens que conseguiram escrever uma nova
história. É possível que você também tenha mudado o rumo de sua história pessoal, quando
aceitou a Jesus como seu salvador ou quando definiu um rumo seguro para sua fé.
O não-conformismo gera mudanças
Todas as vezes que homens curvaram sua cabeça e se conformaram com o que estava sendo
imposto sobre eles, houve sofrimento. Os sofrimentos quase sempre estão condicionados às nossas
atitudes de passividade. Precisamos saber que, quanto à fé, somos livres para ler a Palavra e
reconhecer nela os princípios de vida. O livre-exame é uma conquista do protestantismo e que se
aplicou à política e às ciências. E daí o progresso da humanidade.
Embora poucos, alguns homens ousaram mudar a história por não se conformarem, não
aceitarem aquilo que estava estabelecido, mas foram além em busca da verdade. Homens que
não se contentaram com o que seus olhos contemplavam, homens que se sentiram agredidos em
sua inteligência e se dispuseram, para estabelecer melhores rumos, a enfrentar tudo: reis, clero,
burguesia, prisões e até o inferno.
Homens que não se conformaram com a história que estava sendo imposta sobre a igreja do
Senhor Jesus Cristo. E, cheios de ousadia e fé, acabaram abrindo novas vias na história da
humanidade e da igreja. Homens como: John Wycliff (1324-1384), João Huss (1369-1415, Martinho
Lutero (1483-1546), Calvino (1509-1564) e Ulrich Zwinglio (1484-1534)... Homens que não se
conformaram com indulgências, com silogismos, nem com a forma distorcida como era difundido
o evangelho aos menos favorecidos, proibindo-se-lhes até mesmo de ler a Bíblia.
Outubro, quando comemoramos do “dia da reforma”, tem sido propício para relembrar estes
nomes que tanto contribuíram para que hoje tivéssemos a oportunidade de conhecer um Deus
que não vende salvação, um Deus que não vende milagres. Na verdade, muitos destes homens
perderam tudo: esposa, filhos, parentes e até a vida, porém, movidos pelo Espírito Santo, não se
importaram, porque o desejo de seus corações é que chegasse às gerações futuras uma história
embasada na verdade.
A consolidação da mudança na história
Foi o não-conformismo que levou Lutero, no dia 31 de outubro de 1517, a fixar na porta da catedral
de Wittenberg, as noventa e cinco teses que refutavam as práticas absurdas e abusivas da Igreja
Católica. Esta data tornou-se o marco de uma reforma que já havia começado bem antes com
homens que, dentro de seu contexto, também não se conformaram e ousaram mudar a história,
não permitindo que o evangelho se estagnasse.
O movimento reformista do século XVI se alastrou por todo o mundo, dando vazão ao desejo do
povo por liberdade religiosa: Alemanha, Escócia, Dinamarca, Suíça, França, Noruega... E chegou
ao Brasil em 1557, quando fora celebrado o primeiro culto protestante. Este primeiro culto
evangélico em solo brasileiro foi celebrado no dia 10 de março de 1557, por protestantes
franceses. Eles chegaram à Baía de Guanabara, fugindo da perseguição em seu país, e à procura
de uma nova pátria. O pregador baseou-se no Salmo 27:4: “Ao Deus Eterno peço somente uma
coisa: que Ele me deixe viver na Sua casa todos os dias da minha vida, para sentir a Sua bondade
e pedir a Sua orientação”. O culto foi dirigido pelo pastor Pierre Richier - (Fonte: http://
textosdareforma.net).
Estes homens estavam convictos, por isso ousaram mudar a história, e em toda parte do mundo
havia focos da reforma protestante que, apesar da resistência católica, manifestada nos atos da
inquisição, ainda assim, permanecia vivo no coração daqueles homens o ardor da verdade e do
desejo por mudanças.
No Brasil não foi diferente. No ano seguinte chegaram as perseguições e os missionários foram
obrigados a planejar sua volta para a França. Embarcaram num velho navio chamado Jacques,
em 04 de janeiro de 1558. Mas, depois de sete ou oito dias de viagem, o navio começou a fazer
água. Correndo risco de afundar, para diminuir peso, cinco missionários resolveram voltar para a
Baía de Guanabara. Eram eles: Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon e
Jean Jacques le Balleur.
Em terra, tiveram de enfrentar a crueldade de Villegaignon que procurava motivos para condenálos à morte. No propósito de condená-los, Villegaignon elaborou um questionário com perguntas
controvertidas e pediu respostas aos missionários. O pedido foi feito no dia 08 de fevereiro de 1558,
com prazo de doze horas para resposta. A resposta foi a 1ª Confissão de Fé do Continente
Americano. Esta Confissão foi tomada como prova de acusação. Villegaignon, no dia 9 de
fevereiro de 1558, mandou prender e martirizar os quatro missionários que subscreveram. Apenas
Jean Jacques le Balleur não subscreveu a Confissão, tendo fugido para São Vicente (São Paulo),
escapando da morte naquele momento.
Eles lutaram e a fé cristã venceu
Em 1591, chegaram oficialmente ao Brasil os tribunais da Santa Inquisição. A Inquisição se instalou
no Brasil em três ocasiões: em 09 de junho 1591, na Bahia, por 3 anos; em Pernambuco, de 1593 a
1595; e novamente na Bahia, em 1618. Todos os que confessavam não crer nos dogmas católicos
eram sentenciados. Praticamente a metade dos prisioneiros brasileiros, novos convertidos, eram
mulheres.
Na Paraíba, Guiomar Nunes foi condenada à morte, na fogueira, em um processo julgado em
Lisboa. A Inquisição interferiu profundamente na vida colonial brasileira durante mais de dois
séculos. Um dos exemplos dessa interferência era a perseguição aos descendentes de judeus. Os
que estavam nesta condição podiam ser punidos com a morte, confisco dos bens ou, na melhor
da hipótese, ficavam impedidos de assumir cargos públicos.
Segundo historiadores, 1761 foi o fim da inquisição católica no Brasil. Com isto chegam ao Brasil os
primeiros luteranos, os metodistas e, em dia 12 de agosto de 1859, chega o primeiro missionário
presbiteriano, pastor Ashbel Green Simonton, ao Rio de Janeiro, que funda a Igreja Presbiteriana.
Quarenta e quatro anos mais tarde, surge a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB),
fundada pelo Carlos Pereira, em São Paulo. E, no dia 08 de janeiro de 1975, consolidou-se a
formação da Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil, igreja esta que teve seu nascedouro na
fusão das Igrejas Cristã Presbiteriana e Presbiteriana Independente Renovada.
Concluindo, podemos dizer que o movimento reformado e as correções históricas ao longo dos
anos chegaram até nós. Isso nos lembra a responsabilidade de manter acesos o ardor e a chama
no coração e na mente desses líderes e, se preciso for, ousarmos também mudar a história.
Pr. Luiz Márcio Longo
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