7º Círculo
A samaritana encontra Jesus
Em busca da fonte de água viva
João 4,1-42
Acolhida
1. Criar um bom ambiente. Dar as boas-vindas. Colocar as pessoas à
vontade.
2. Canto inicial. Sugestão: “Eu vim para que todos tenham vida”.
3. Apresentar brevemente o assunto que vai ser refletido, meditado e
rezado neste encontro.
4. Invocar a luz do Espírito Santo.
1. Olhar de perto os acontecimentos da nossa vida
Hoje vamos meditar sobre o encontro da samaritana com Jesus. Encontro
inesperado de duas pessoas diferentes. Foi uma conversa difícil, tanto para
Jesus como para a samaritana. Ambos tiveram que enfrentar uma série de
dificuldades. Jesus se encontrava num ambiente estranho, fora de casa. Não
conhecia ninguém. A samaritana se encontrava no seu próprio ambiente,
ambiente de casa e de trabalho. Mas, por ser mulher, ela não podia conversar
assim com um homem estranho, judeu, de outra religião. Mesmo assim, os
dois tentaram superar as barreiras. Após várias tentativas, a conversa
finalmente engatou quando o assunto passou a ser a religião. Não é fácil acolher
uma pessoa estranha e diferente e conversar com ela sem preconceitos. Hoje,
nas nossas comunidades, às vezes, aparecem pessoas diferentes, de outras
religiões, de outras mentalidades. Vamos conversar sobre isso.
1. Você já esteve alguma vez num lugar estranho, onde teve de conversar
com pessoas desconhecidas? O que você precisou vencer dentro de você
para poder puxar uma conversa?
2. Por que será que as pessoas gostam tanto de discutir religião?
2. Olhar no espelho da vida
1. Introdução à leitura do texto
Vamos ouvir o texto que descreve a conversa de Jesus com a samaritana.
O texto é comprido: João 4,1-42. Quem quiser pode escolher a forma mais
breve: João 4,7-26. Durante a leitura, vamos prestar atenção em como, durante
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a conversa, se passa de um assunto para outro. Vamos prestar atenção também
nas dificuldades que eles tiveram de superar.
2. Leitura do texto: João 4,1-42 (leitura mais breve é João 4,7-26).
3. Momento de silêncio.
4. Perguntas para a reflexão:
1. O que mais chamou a sua atenção neste diálogo entre Jesus e a
samaritana? Por quê?
2. Quais foram os assuntos principais desta conversa?
3. Quais foram as reações de Jesus e quais as reações da samaritana?
4. A samaritana puxou o assunto para a religião. Se você pudesse
encontrar Jesus e conversar com ele, qual o assunto que você puxaria com
ele? Por quê?
3. Celebrar a vida que Deus nos deu
Sugestões para a celebração
1. Canto: “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”.
2. Tentar dramatizar o diálogo entre Jesus e a samaritana.
3. Colocar em forma de prece o que refletimos sobre o evangelho e
sobre a vida. Como refrão, digamos: “Senhor, fazei brotar água viva dentro de
nós!”
4. Agora, depois que meditamos esta Palavra de Deus, o que ela pede
de mim, de nós?
5. Rezar um salmo. Sugestão: Salmo 45 (44),11-18: “Deus se apaixonou
por você!”
6. Terminar com o Pai-nosso.
Preparar o próximo encontro
1. No próximo encontro, vamos meditar sobre a cura do paralítico: João
5,1-18.
2. Para se preparar procure informar-se sobre as condições de
atendimento à saúde no seu bairro.
3. Distribuir as várias tarefas da acolhida, da leitura e das perguntas do
próximo encontro.
4. Marcar data e local onde será a próxima reunião do grupo.
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Uma ajuda para o grupo
1. Situando
1. Divisão do capítulo 4:
Jo 4,1-42: Encontro de Jesus com a samaritana
Jo 4,42-45: Jesus volta para a Galileia
Jo 4,46-54: Segundo sinal de Jesus: a cura do filho do funcionário real
2. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus. Este desprezo vinha de
longe, desde o século VIII antes de Cristo (2Rs 17,24-41), e transparece em alguns
livros do Antigo Testamento. O livro do Eclesiástico, por exemplo, fala de um “povo
estúpido que mora em Siquém, que nem sequer é nação” (Eclo 50,25-26). Muitos
judeus da Galileia, quando viajavam para Jerusalém, não passavam pela Samaria. O
Evangelho de João mostra Jesus fazendo o contrário, passando pela Samaria e
acolhendo os samaritanos. Por causa disso, era criticado pelos judeus, que o xingavam
de “samaritano, possesso de demônio” (Jo 8,48). Depois da ressurreição, os seguidores
e as seguidoras de Jesus, seguindo o exemplo de Jesus, superaram seus preconceitos
e anunciaram a Boa-nova aos samaritanos (At 8,4-8). Nas comunidades do Discípulo
Amado, havia muitos samaritanos.
2. Comentando
1. João 4,1-6: O palco onde se realiza o diálogo entre Jesus e a samaritana
Quando Jesus percebe que os fariseus poderiam irritar-se com a sua atividade
batismal, ele sai da Judeia e volta para a Galileia. Desse modo, evita uma briga
religiosa (Jo 4,1-3). Voltando para a Galileia, Jesus passa pela Samaria. Por volta do
meio-dia, ele chega junto do poço de Jacó. Cansado da viagem, senta perto do
poço, onde a samaritana o encontra. O poço era o lugar tradicional de encontros e
de conversas. Hoje, seria a praça, o bar, a rodoviária, o shopping... É perto do poço
que começa a longa e difícil conversa que foi de muito proveito para ambos.
2. João 4,7-15: Primeira parte do diálogo: a conversa sobre a água ou o trabalho
Água, corda, balde e poço eram os elementos que marcavam o mundo do trabalho
da samaritana. É Jesus que toma a iniciativa do diálogo. Ele parte da necessidade
bem concreta da sua própria sede e diz: “Dá-me de beber?” Pela pergunta a samaritana
descobre que Jesus precisa dela para ele poder resolver o problema da sua sede.
Assim, Jesus desperta nela o gosto de ajudar e de servir. Desde o começo da
conversa, Jesus usa a palavra água nos dois sentidos. No sentido normal: água
que mata a sede; e no sentido simbólico: água como fonte de vida e como dom do
Espírito Santo, prometido no Antigo Testamento (Zc 14,8; Ez 47,1-12). Desde o
começo da conversa, a samaritana entende a palavra água no seu sentido normal de
água que mata a sede do corpo. Existe uma tensão entre os dois. Jesus tenta ajudar
a samaritana a passar para um outro nível de entendimento. A samaritana, por sua
vez, procura levar Jesus a entender as coisas conforme o sentido que elas têm no
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dia a dia. Por isso, por esta porta da água ou do trabalho, Jesus não consegue
comunicar-se com ela e a conversa não avança.
3. João 4,16-18: Segunda parte do diálogo: a conversa sobre o marido ou a família
Jesus tenta estabelecer contato por uma outra porta. Ele diz: “Vá buscar seu marido!”
É a porta da família. Mas também aqui ele encontra a porta fechada. A samaritana
responde secamente: “Não tenho marido!” Jesus diz: “Você falou bem. Você teve
cinco maridos e o que tem agora não é o seu marido!” Os cinco maridos evocam
simbolicamente os cinco ídolos do povo samaritano (2 Rs 17,29-30). Aquele com
quem ela convive agora, ou seja, o sexto a que Jesus alude, talvez seja João Batista,
venerado como messias, ou a fé diferente dos samaritanos em Javé. O Quarto
Evangelho sugere discretamente que o sétimo é o próprio Jesus, o messias, o esposo
que o povo estava esperando.
4. João 4,19-24: Terceira parte do diálogo: a conversa sobre o lugar da adoração
Finalmente, por causa da resposta recebida, a samaritana identifica Jesus e diz:
“Vejo que o senhor é um profeta”. Neste momento, ela se situa na conversa e
começa a tomar a iniciativa. Muda o rumo da conversa e puxa o assunto para a
religião: Onde adorar Deus? Lá em Jerusalém ou aqui no Monte Garizim? Os
samaritanos tinham construído um templo no Monte Garizim que ficava perto do
poço onde eles conversam. Jesus entra pela porta que a mulher abriu. Primeiro, ele
relativiza o lugar do culto: nem aqui nem lá! Neste ponto, os judeus não têm nenhum
privilégio. Em seguida, esclarece que tanto judeu como samaritano, ambos adoram
Deus. A diferença é que os judeus adoram o que conhecem. Os samaritanos adoram
o que (ainda) não conhecem, “porque a salvação vem dos judeus”, mas não se
restringe a eles. E Jesus termina dizendo que chegará o tempo em que se poderá
adorar Deus em qualquer lugar, contanto que seja “em espírito e verdade”.
5. João 4,25-26: A revelação: “O Messias sou eu que estou conversando contigo!”
A samaritana muda novamente o rumo da conversa e puxa o assunto para a esperança
messiânica do seu povo: “Sei que vem um Messias. Quando ele vier, nos vai mostrar
todas essas coisas!” Novamente, Jesus aceita a mudança do rumo da conversa,
entra pela porta que a samaritana abriu e se apresenta: o Messias “sou eu que estou
conversando contigo!” A esta mulher, excluída e herética para os judeus da época,
Jesus revelou, por primeiro, a sua condição de Messias. Enquanto ele mesmo tomava
a iniciativa, a conversa não avançava. Ela só avançou e atingiu o seu objetivo a
partir do momento em que a samaritana se situou e começou a tomar a iniciativa.
Será que nós temos a mesma coragem de deixar ao outro a iniciativa do rumo da
conversa?
6. João 4,27-30: A transformação que o diálogo realiza na samaritana
Os discípulos tinham ido ao povoado comprar alimento (Jo 4,8). Retornando,
encontraram Jesus conversando com uma mulher. Estranham, mas não dizem nada.
Então, a samaritana larga o balde perto do poço e volta sem água para o povoado.
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Já não precisa da água do poço de Jacó, da antiga Lei. Ela havia encontrado a fonte
da água que brotava dentro dela para a vida eterna (Jo 4,14). Chegando no povoado,
ela anuncia Jesus: “Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Será que
ele é o Messias?” O resultado deste difícil diálogo parece muito reduzido. Jesus só
conseguiu provocar uma pergunta na mulher: “Será que ele é o Messias?” Talvez
seja este o resultado mais positivo que se possa imaginar. Jesus não dá respostas.
Ele levanta perguntas que levam a pessoa a refletir sobre o sentido da vida.
7. João 4,31-38: A transformação que o diálogo realiza em Jesus
Mesmo correndo o risco de não obter nenhum resultado, Jesus não se impõe nem
condena a mulher, mas respeita-a profundamente. Durante a conversa, ele não se
fecha dentro da sua religião nem dentro da sua raça, mas se orienta por aquilo que
ele mesmo aprendia da própria samaritana. No fim, esqueceu até a comida que os
discípulos tinham trazido, pois presta atenção ao que o Pai lhe diz por meio da
conversa com a samaritana: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou
e completar a sua obra!” (Jo 4,34). Jesus lê os fatos com outros olhos. Para os
judeus, os samaritanos são um povo a ser desprezado. Para Jesus, eles são um
campo fértil, pronto para a colheita (Jo 4,35). Ele descobre que, na vida da samaritana,
pessoa não judia e não praticante, existe o “dom de Deus” (Jo 4,10). A Boa-nova de
Deus existe na vida de todas as pessoas. Os discípulos e as discípulas não são os
donos da Boa-nova. Devem ser servidores, instrumentos. Sua missão é ajudar as
pessoas a descobrir o dom de Deus dentro das suas vidas.
8. João 4,39-42: O resultado da missão de Jesus na Samaria
Aqui temos o mesmo processo que já vimos na formação da primeira comunidade:
encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus. A samaritana
encontrou, experimentou, partilhou, testemunhou e conduziu o seu povo até Jesus.
Os samaritanos, por sua vez, escutaram a partilha que ela fez e, por isso, convidaram
Jesus a ficar com eles. Durante a convivência de dois dias, eles mesmos
experimentaram a Boa-nova e começaram a partilhar e a testemunhar a sua experiência
com a samaritana: “Nós próprios ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o
Salvador do mundo!” Resumindo: nesta longa conversa, Jesus transgrediu várias
normas religiosas e culturais da época: Passou pela Samaria, o que não era costume
dos judeus. Sendo judeu, conversou com uma samaritana, o que era proibido.
Sendo homem, conversou com uma mulher e pediu bebida a uma pessoa proibida,
sem preocupar-se com as normas severas da pureza. Conviveu dois dias com os
samaritanos. Conviver, comer e beber juntos era sinal de grande intimidade. A
comunhão de mesa era permitida só com os da mesma religião.
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3. Alargando
As mulheres no Evangelho de João
O papel das mulheres nas comunidades do Discípulo Amado era muito importante.
Logo no início, o primeiro milagre-sinal de Jesus foi realizado por intervenção de
Maria, a mãe de Jesus (Jo 2,1-11). E no fim, ao pé da cruz, é novamente ela, a mãe de
Jesus, que se torna mãe da comunidade do Discípulo Amado (Jo 19,25-27). Nos
capítulos 2, 3 e 4 aparece claramente uma evolução na fé que vai desde a desconfiança
de Jesus a respeito dos judeus (Jo 2,23-25), passando pela incapacidade de
Nicodemos para entender a novidade do Espírito (Jo 3,1-12), até chegar à mulher
samaritana. Ela não somente acreditou, mas levou muitos samaritanos a aceitar
Jesus como o Messias (Jo 4,39-42). No centro da confrontação entre Jesus e os judeus
aparece uma outra mulher, aquela que deve ser apedrejada por adultério. A simples
presença daquela mulher já é uma denúncia e uma crítica para eles (Jo 8,1-11).
No centro do Evangelho, está a confissão de fé de Marta (Jo 11,27), igual à
confissão de Pedro no Evangelho de Mateus (Mt 16,16). Se Pedro faz esta confissão
de fé e por isso recebe as chaves do Reino como sinal da sua autoridade, a confissão
de Marta indica que, nas comunidades do Discípulo Amado, é uma mulher que
assume este serviço. Cabe a Marta a responsabilidade de levar a fé em Jesus ao seu
pleno amadurecimento. No final do ministério público de Jesus, está uma outra
mulher, Maria de Betânia. Com um gesto profético, ela unge os pés de Jesus
(Jo 12,1-11). O seu gesto é repetido pelo próprio Jesus na última ceia (Jo 13,1-16)
para expressar o serviço amoroso como identidade do verdadeiro discípulo e
discípula. Há ainda um grupo de discípulas de Jesus que estão junto com Maria,
sua mãe, na hora da sua crucifixão. São elas a mãe de Jesus, a irmã de sua mãe,
Maria de Cléofas, e Maria Madalena (Jo 19,25).
Surpreendente é o papel de Maria Madalena. Ela é a mulher da busca
incansável. É ela quem vê primeiro o túmulo vazio e vai correndo anunciá-lo aos
discípulos. Sua persistência na busca leva-a à experiência do encontro com Jesus
ressuscitado. Jesus aparece primeiro a ela e envia-a com uma mensagem para os
Onze (Jo 20,11-18). A credencial para ser apóstolo é ter visto o Senhor ressuscitado
e ter sido enviado a anunciá-lo (1Cor 9,1-2;15,8-11; Gl 1,11-16). Por isso, desde o
começo da tradição apostólica, Maria Madalena recebeu o título de apóstola dos
apóstolos.
Este uso do Antigo Testamento mostra que, em Jesus, chegou um novo critério
para entender o sentido pleno da Bíblia e da história do povo. O desafio que fica
para nós é este: reler hoje o nosso passado e a nossa história, tanto escrita como
oral, de tal maneira que também nós possamos descobrir nela a ação do Espírito de
Deus que orienta o nosso povo e a nossa cultura em direção à vida plena em Cristo.
Comparando as duas conversas
Tanto a conversa de Jesus com Nicodemos (Jo 3,1-12) como a conversa com a
samaritana, ambas só existem no Evangelho de João. Comparando as duas conversas,
percebemos que o evangelista quer acentuar algumas diferenças e, assim, transmitir
uma mensagem. Diferenças não tanto de conteúdo, mas principalmente entre as
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duas personagens. De um lado, temos Nicodemos (Jo 3,1-21). É um homem, um
judeu importante, de idade avançada. Dele sabemos o nome. No entanto, ele procura
Jesus durante a noite, atraído pelos sinais que Jesus fazia, mas com dificuldades
para crer. Ele está num processo pessoal de busca e parece não entender bem a
proposta de Jesus, a quem chama apenas de Mestre. Do outro lado, temos a
samaritana (Jo 4,1-30). É uma mulher, uma samaritana sem nenhuma importância
social, desprezada e marginalizada. Dela não sabemos o nome. Ela não procura
Jesus diretamente, mas é uma mulher com sede de vida, disposta a ter uma água que
não seja a água parada do poço. Sente-se atraída pela proposta de Jesus, crendo,
aceitando e reconhecendo nele o Messias. A conversa com a samaritana acontece
em plena luz do dia. Ela não tem medo de ninguém e proclama para todos as suas
descobertas. Ao fazer um paralelo entre estas duas atitudes, o Evangelho de João
nos mostra que o caminho feito pela samaritana é muito mais agradável
a Jesus do que a busca medrosa feita por Nicodemos. Afinal, Jesus “não precisa
de informações a respeito de ninguém porque ele conhecia o homem por dentro”
(Jo 2,25).
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Anexo #4