ESTÁGIO DE VIVÊNCIA NO ASSENTAMENTO MACEIÓ,
ITAPIPOCA-CE: troca de experiências de um primeiro olhar sobre a realidade de
um assentamento de reforma agrária
Maria Bruna Medeiros Araújo 1
Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected]
Luiz Fagner Ferreira Nogueira 2
Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected]
Maria Lúcia de Sousa Moreira 3
Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected]
Debir Soares Gomes4
Universidade Federal do Ceará - UFC
[email protected]
Resumo
Este trabalho tem como objetivo relatar a vivência de dois estudantes de graduação do
Centro de Ciências Agrárias – CCA, da Universidade Federal do Ceará – UFC, no
assentamento Maceió, sendo este registrado como o primeiro assentamento de reforma
agrária de zona costeira do estado do Ceará. O assentamento Maceió está localizado na
cidade de Itapipoca, município da região litorânea norte do estado, situado a 200 km de
Fortaleza. Uma das metodologias utilizada para este trabalho foi a pedagogia da
alternância, a qual é dividida em tempo comunidade e tempo universidade. Este artigo
tratará apenas do tempo comunidade. Como metodologia se teve um primeiro olhar
etnográfico que proporcionou observar e escutar as famílias assentadas, de uma forma
crítica, e conseguir transformar o diário de campo no principal instrumento de nosso
trabalho, registrando os momentos da vivência. Com base na Educação do Campo,
1
Estudante do curso de Graduação em Agronomia da Universidade Federal do Ceará - UFC; Bolsista do
Programa Residência Agrária
2
Estudante do curso de Graduação em Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceará - UFC;
Bolsista do Programa Residência Agrária
3
Professora do Departamento de Economia Agrícola – UFC; Membro da Coordenação do Programa
Residência Agrária
4
Economista Doméstica pela Universidade Federal do Ceará – UFC; Bolsista do Programa Residência
Agrária
percebeu-se nesse cotidiano a imagem do campo, que possibilita olhar e reconhecer
sobre os aspectos daquela realidade os sujeitos políticos, sociais e culturais. Torna-se
bastante verídica a afirmação de que faz parte da formação acadêmica de qualquer
profissional a parte “de ir ao campo”. O conhecimento adquirido propicia uma
reinterpretação do significado da vida profissional e uma visão concreta da validade e
da importância da educação do campo.
Palavras-chave: Programa Residência Agrária, Assentamento, Educação do Campo
Introdução
Os cursos de Ciências Agrárias das universidades públicas têm desenvolvido
pesquisas nas áreas de Reforma Agrária e em setores da agricultura familiar voltada
para o desenvolvimento sustentável, contudo ainda se observa muitas limitações na
formação de profissionais no campo do conhecimento tecnológico e pedagógico com
atuação em unidades familiares, com sistemas produtivos agroecológicos e que se
fundamente na troca de saberes com os povos do campo (MOLINA et al, 2009).
Diante dessa realidade, surge o Programa Nacional de Educação do Campo:
Formação de Estudantes e Qualificação de Profissionais, denominado posteriormente de
Programa Residência Agrária – PRA. Criado em julho de 2004 pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
MDA/INCRA e executado em parceria com universidades públicas, movimentos sociais
e Governo Federal, esse Programa teve como principal objetivo desde o seu início, a
formação voltada para a compreensão do campo como um espaço de produção da
existência campesina vista sob a ótica da educação do campo. As bases geradoras do
conhecimento estariam voltadas para o estudo da Agricultura Familiar e Camponesa, da
Agroecologia, da Reforma Agrária e da Economia Solidária, trazendo novos valores e
ajudando a consolidar a Educação do Campo na Universidade.
O Programa desde o início teve como principais parceiros os movimentos social
e sindical, no caso do Ceará: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará - FETRAECE.
Atualmente o Programa Residência Agrária da Universidade Federal do Ceará – UFC
apresenta novos parceiros como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará EMATERCE, Instituto Agropólos do Ceará, Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP, Secretaria de Desenvolvimento
Agrário - SDA, Conta ainda com o apoio do: Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e
Observatório da Educação do Campo/SECAD/MEC. Continuam como parceiros o MST
e a FETRAECE.
A importância dessas parcerias no projeto formativo do PRA consiste
principalmente no incentivo e apoio ao estágio de vivência dos estudantes no campo que
se dá dentro de uma proposta metodológica da Pedagogia da Alternância que ocorre em
duas etapas: Tempo Universidade e Tempo Comunidade. Essa pedagogia afirma que,
A
alternância
educativa
fortalece
a
relação
teoria/prática
(escola/família/comunidade), permitindo que jovens alternem períodos de
formação no ambiente escolar e períodos de práticas, experiências e
pesquisas no ambiente familiar-comunitário, integrando família e escola no
processo contínuo de formação (SOSSAI, 2002, p.16).
No Tempo Universidade são realizadas as capacitações pedagógicas com
momentos de estudos em grupo, socialização de experiências entre jovens universitários
e jovens assentados. Na VI Capacitação Pedagógica do Projeto “Formação de
Multiplicadores em Agroecologia para o Fortalecimento da Agricultura Familiar”,
ocorrida em fevereiro de 2011, os estudantes recém ingressos e bolsistas do Programa
de Educação Tutorial – PET – Conexões de Saberes, receberam sua primeira formação
sobre os marcos históricos e novos desafios do PRA, bem como temas abordando a
Agroecologia, Agricultura Familiar e Campesina, Estudo Etnográfico, Educação do
Campo, Questão Agrária no Brasil, Políticas Públicas para o Campo, Segurança
Alimentar e Nutricional.
É no Tempo Comunidade que os estudantes universitários viajam para os
assentamentos/acampamentos para conviver com as famílias camponesas, escutar,
observar e aprender como vivem, se organizam e constroem a luta pela reforma agrária
e educação. O modo de vida, os contos do cotidiano e história de luta do assentamento,
são alguns dos vários aspectos que o estudante registra em seu diário de campo. Esse
registro é fundamental para no Tempo Universidade se produzir uma re-leitura e uma
reflexão da história e da vida campesina.
A partir desse contexto, esse artigo pretende apresentar as experiências do
estágio de vivência e primeiro contato com o campo de dois estudantes de graduação
recém-ingressos no PET/PRA – Conexões de Saberes, dos cursos de engenharia de
pesca e agronomia. O local do estágio foi o assentamento Maceió, situado no litoral
norte do estado do Ceará no município de Itapipoca a 200 km de Fortaleza. O mesmo
possui onze comunidades sendo a vivência realizada nas comunidades Maceió e Jacaré.
Iniciou-se um primeiro olhar etnográfico que proporcionou observar e escutar as
famílias assentadas, de uma forma crítica, e conseguir transformar o diário de campo no
principal instrumento de nosso trabalho, registrando os momentos da vivência.
O Assentamento Maceió e aspectos do cotidiano observado
Durante esse primeiro contato com as famílias assentadas foi possível conhecer
o que é um assentamento, que segundo Bergamasco (1996, p.7) “podem ser definidos
como a criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas
governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de trabalhadores
rurais sem terra ou com pouca terra”.
Sendo registrado como o primeiro assentamento de reforma agrária de zona
costeira do estado do Ceará, o assentamento Maceió está localizado na cidade de
Itapipoca, município da região litorânea norte do estado, situado a 200 km de Fortaleza.
Numa extensão de 5.844 hectares, o Assentamento possui 336 famílias
cadastradas junto ao INCRA e está subdividido em onze comunidades: Apiques, Bom
Jesus, Mateus, Córrego da Estrada, Barra do Córrego, Coqueiro, Humaitá, Lagoa
Grande, Maceió e Bode. Destas, apenas Apiques e Maceió possuem faixa litorânea.
As atividades econômicas do assentamento são baseadas na pesca e na
agricultura, sendo também muito forte a presença cultural no artesanato local. A pesca
não é apenas a principal fonte de renda, mas de reprodução familiar e cultural, já que os
saberes e práticas do mar são passados por gerações (CAJADO, 2010).
A história da comunidade traz como característica a luta e a permanência na
terra. A especulação imobiliária é muito acirrada naquela região e a luta pela terra
permanece viva entre as famílias assentadas contra a posse da faixa litorânea da
comunidade por parte de um grande empresário estrangeiro.
Essa luta é observada por meio da resistência feita pelas famílias com a
formação de um acampamento à beira-mar que já completa quatro anos de permanência.
Esta ação é apoiada por vários membros da sociedade, por movimentos sociais como
MST e outras instituições não-governamentais como o “Instituto Terra-Mar”.
Partindo da comunidade Maceió que fica cerca de 4 km de distância da faixa
litorânea, o acesso ao acampamento é feito caminhando a pé por cima das dunas, onde
na travessia se é possível observar várias belezas naturais.
Construído de forma bem artesanal, as famílias utilizaram a palha de coqueiro,
madeiras em forma de forquilha como cobertura e a lona preta dava impermeabilidade
ao teto do acampamento. Essa estrutura facilita que o acampamento possa ser montado e
desmontado de acordo com a mudança das marés.
Outra forma que as famílias assentadas encontraram para resistir a especulação
imobiliária se deu através de um projeto de cultivo de algas. Em conversa com as
lideranças do projeto CALMA – Cultivo de Algas de Maceió fica claro que eles vêem o
projeto como algo promissor, que possibilitaria um desenvolvimento da comunidade.
Contudo, alguns estavam desestimulados por não terem o retorno imediato diante do
esforço empregado no cultivo.
A comercialização de algas se torna difícil com a ação de alguns pescadores que
não fazem parte da luta, que fazem a extração do produto dos bancos de algas de forma
individual e vendem para atravessadores. Entretanto, o objetivo econômico fica em
segundo plano quando se refere a luta e resistência que está sendo travada por aquelas
terras.
Além disso, percebe-se uma consciência ambiental por parte desses produtores
de algas, quando relatam que a produção de algas em cultivo torna-se um refúgio para
muitas espécies marinhas, e que isso é confirmado no momento da limpeza periódica
das algas.
Frente ao processo educativo de discussão sobre o direito a terra, outras
conquistas já foram alcançadas pelos moradores do assentamento Maceió. Em julho de
2010 na comunidade Jacaré, lócus do estágio de vivência, foi inaugurada a Escola de
Ensino Médio Maria Nazaré de Sousa5.
Essa é a primeira Escola do Campo da região e a segunda a ser inaugurada das
dez escolas conquistadas com a luta do MST em assentamentos de reforma agrária. A
Escola possui uma infra-estrutura ampla, com sala de vídeo, laboratório, biblioteca,
porém, ainda sem funcionamento, já que a Escola encontrava-se no início das aulas.
5
O nome é em homenagem a poetisa e lutadora pela terra e dos diretos da mulher, Nazaré Flor.
Segundo Arroyo (2004) uma escola pensada a partir da concepção da Escola do
Campo é
[...] Aquela que trabalha os interesses, a política, a cultura e a economia dos
diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas
formas de trabalho e de organização, na sua dimensão de permanente
processo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do
desenvolvimento social e econômico igualitário desta população. A
identificação política e a inserção geográfica na própria realidade cultural do
campo são condições fundamentais de sua implementação (ARROYO, 2004,
p.53).
Luta, resistência, organização social, especulação imobiliária, contradições,
educação do campo, são algumas palavras que descrevem o assentamento Maceió.
Muitas informações em relação à história de conquista e resistência da terra dentro da
comunidade são relatadas em artigos, monografias e outros trabalhos acadêmicos.
Entretanto, o melhor é vivenciar e ouvir sobre a luta e a permanência na terra relatada
pelos assentados.
Alternando experiências: narrativa de duas vivências
Diante da realidade de um assentamento de reforma agrária e participando da
rotina das famílias camponesas, o contato inicial tornou-se diferente do que se
imaginava. A primeira comunidade observada foi Maceió. A rua principal é de barro e
as casas não são barracos como é de costume ver e imaginar dos interiores do Ceará. As
casas são de alvenaria e bem próximas umas das outras. Um local tranqüilo e silencioso
distante de buzinas e vozes.
A chegada à comunidade Maceió foi repleta de expectativas, pois seria a
primeira vivência dos dois estudantes em áreas de assentamentos. A estadia foi na casa
dos próprios assentados, inclusive o ponto de apoio se deu em uma das casas de
lideranças da comunidade, onde já foi possível absorver algumas informações a cerca da
localidade. Como todo morador daquela comunidade, o dono da casa era pescador e a
dona fazia seu artesanato.
A priori, o receio era tomar qualquer atitude ou até mesmo se pronunciar à
qualquer pessoa que se direcionasse a alguma conversa, mas isso foi passageiro, logo
ficou claro que estávamos entre pessoas que além da boa acolhida, demonstravam
companheirismo. A acolhida foi de forma agradável e com ar de companheiros.
Como primeiro momento de vivência, se teve um olhar etnográfico que se baseia
no olhar, ouvir e escrever sobre a realidade vivenciada. O diário de campo foi a
ferramenta principal utilizada para registrar as histórias e relatos das pessoas da
comunidade. Neste, não existia nenhuma restrição a cerca do que escrever, apenas
tinha-se que escrever aquilo que lhe chamava a atenção.
A vivência na comunidade Jacaré foi pensada a partir do Programa, atrelando as
características da comunidade com a formação profissional do estudante estagiário.
Diferente da Comunidade Maceió, as casas são mais simples, diminuem em número,
tornando-se mais distantes umas das outras.
Embora as diferenças nesse primeiro momento tenham sido percebidas apenas
de espaço físico, quando se considera a ótica da educação do campo, pode-se entender
que o modo de vida no campo não é homogênea, uma vez que o “próprio campo
caracteriza-se por uma diversidade cultural, social e econômica”, e “dar continuidade à
Educação do Campo requer análise das especificidades de cada lugar” (SOUZA, 2006,
p.24).
Na comunidade do Jacaré, procurou-se a princípio fazer uma caminhada
transversal, também denominada leitura de paisagem, proporcionando desenvolver um
olhar para os aspectos da realidade e organização espacial da comunidade.
Segundo Garcia Filho (1999) apud Cajado et al. (2010),
A Leitura de Paisagem é realizada através de percursos sistêmicos de campo
que permitem atravessar e verificar as diferentes heterogeneidades dos
ecossistemas. É importante não só observar a paisagem, mas também
interrogar-se sobre ela considerando sua relação, os seres humanos e como ao
longo do tempo foi configurada (CAJADO et al, 2010, p.4)
As pessoas nos observavam com certa desconfiança, por não saber o motivo da
nossa presença no assentamento. Em conversa com alguns moradores da comunidade
ainda adolescentes, nos interrogavam sobre nossa presença, nos questionando por conta
de sermos da cidade e querermos conhecer o modo de vida dos assentados. Um deles
ressaltou que não queria ficar a vida toda na comunidade, mas partir para Fortaleza ao
término do ensino médio.
Segundo Cajado (2009),
(...) a grande maioria dos jovens atualmente não se encontram envolvidos
com a pesca, o que se verifica é que, cada vez mais, os mesmos buscam
caminhos que lhes proporcionem uma realidade diferente, uma melhor
condição de vida, porém é clara a vontade dos mesmos em se qualificarem
para prestarem serviço a própria comunidade (CAJADO, 2009, p. 4).
Esse momento despertou a vontade de conhecer o cotidiano social daqueles
moradores. Entender por que pessoas com garra, expressões de muito trabalho e
sofrimento para garantir para si e suas famílias uma condição de vida digna, querem
desistir de sua terra conquistada com tanto sofrimento e luta.
A aproximação e confiança dos adolescentes assentados foram se dando com a
caminhada transversal, no qual fizeram o convite para conhecer as dunas e a praia.
Mantendo um diálogo simples e com relação de respeito, os jovens passaram a se sentir
mais à vontade com a nossa presença, contando histórias, fazendo brincadeiras e
mostrando o assentamento do alto das dunas.
Heredia (1979) ressalta que
O pesquisador embora membro de outra classe deve compartilhar da vida do
grupo, das suas comidas e da vida cotidiana e inclusive realizar caminhadas
sob o sol para escutar longos relatos sobre problemas. Esta prática é um
elemento que contribui sensivelmente para estabelecer relações cordiais
(HEREDIA, 1979, p. 23).
As famosas rendeiras aparecem no alpendre de suas casas, conversando e
fazendo renda, e assim, passam a tarde toda tecendo os fios com seus bilros entrelaçados
na almofada. No assentamento há uma forte influência do artesanato, tanto por uma
questão cultural, mas também no sentido financeiro, reafirmando que “as mulheres
contribuem com razoável significância no orçamento familiar, apesar de não
apresentarem uma organização voltada para otimização da produção em nível de
comunidades.” (CAJADO, 2009, p. 4).
As crianças improvisam seus brinquedos com cabos de vassouras e galopam em
seus cavalos. A tábua velha já um pouco comida pelos cupins que está esquecida no
quintal, junto com as rodinhas daquele carrinho antigo, vira um caminhão. É muito
prazeroso ver crianças sabendo reaproveitar, usando de sua criatividade para fazer as
suas diversões.
Com base na Educação do Campo, percebemos nesse cotidiano a imagem do
campo, que possibilita olhar e reconhecer sobre os aspectos daquela realidade os
sujeitos políticos, sociais e culturais. Observar pelo prisma da educação do campo
mostra a representação do campo como,
(...) lugar de produção de vida, trabalho, cultura, saberes e valores. Como
terra que educa, lugar de educar e não a educar. De produção de solidariedade
e identidades culturais. De formação de sujeitos humanos. O campo como
espaço pedagógico – a pedagogia da Terra. Reconhecer o campo com
território educativo. Este é o sentido da expressão Educação do Campo
(SOUZA, 2006, p.10).
Ao visitar a casa de uma família agricultora é de se notar a preocupação que
todos têm de agradar, sendo todos muito gentis e atenciosos. Todos curiosos ficaram
olhando tentando adivinhar o motivo da visita. A casa é grande, bem conservada e
limpa, apesar dos pintos não saírem da cozinha.
Em uma conversa informal onde a moradora contava histórias da família, ela
explica que a Comunidade Jacaré ficou assim conhecida devido aos dois primeiros
moradores da comunidade que foram ao rio pescar e encontraram um jacaré.
No quintal observa-se a criação de animais de pequeno porte, o canteiro
medicinal sobre suportes de madeira para as galinhas não bicarem; hortaliças, fruteiras,
tanque de peixes e mais recuado as plantações. No momento a família estava
produzindo gergelim, salsa e cebolinha, feijão, mandioca, melancia e milho.
Os quintais produtivos são sistemas agroflorestais destinados a colaborar com
a segurança alimentar, renda, saúde e outras necessidades básicas, de
pequenos agricultores e suas famílias, em várias partes do mundo. A grande
diversidade de espécies vegetais presentes nestes espaços refletem a bagagem
cultural, a situação social e econômica de seus proprietários, e seus planos
para o futuro (SABLAYROLLES, 2004 apud BRITO, 2000).
Embora a vivência tenha sido curta, o apoio e a orientação de um jovem do
assentamento possibilitou que a caminhada dentro da comunidade se tornasse bastante
proveitosa, pois foi possível visitar pessoas ícones dentro da localidade no que se refere
as questões culturais e políticas.
A vivência também possibilitou a participação em reuniões com pescadores e
rendeiras, onde foram debatidos vários temas a cerca da comunidade. A participação
nesse momento coletivo permitiu conhecer pelo menos inicialmente a forma de
organização social e política da comunidade Maceió.
Muitas histórias de permanência na terra em busca de uma vida melhor foram
compartilhadas pelas famílias assentadas. Isso foi bastante válido, pois diante de uma
riqueza cultural muito grande e os fatos históricos que eram relatados pelos assentados
passou-se a compreender que o espaço do assentamento é um espaço de vida.
Chegando o final da vivência, a despedida é imersa de sentimentos de empatia,
reconhecimento e saudade.
O que se guardou dessa experiência
Os dias vivenciados nesse primeiro momento não foram suficientes para
conhecer toda organização da comunidade. Contudo, permitiu um primeiro olhar
etnográfico enquanto observação, descrição e interpretação da cultura desse grupo de
pessoas, resultado da vivência do pesquisador no campo e transformando o estranho em
algo familiar.
Nesse primeiro olhar, foram percebíveis várias características culturais notórias,
como a renda de bilro, que é muito praticada por várias mulheres da comunidade e que
além de cultural representa uma fonte de renda para as famílias.
Depois de vivenciar essa nova realidade e aproximar a realidade do meio rural
(campo) com o meio acadêmico (universidade), observa-se que o campo é um espaço
propício para reflexões sobre interdisciplinaridade.
A vivência em campo possibilitou fazer uma leitura inicial da realidade
camponesa e permitiu reconstruir conceitos sobre o trabalho do profissional do campo.
Torna-se bastante verídica a afirmação de que faz parte da formação acadêmica de
qualquer profissional a parte “de ir ao campo”. O conhecimento adquirido propicia uma
reinterpretação do significado da vida profissional e uma visão concreta da validade e
da importância da educação do campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Orgs.). Por uma Educação do Campo. Petrópolis: Vozes, 2004
BRITO, Márcia Aparecida; COELHO, Maria de Fátima. Os quintais agroflorestais em
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CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA, 26, 2009, Natal - RN.
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BERGAMASCO, Sônia Maria; NORDER, Luís Antônio Cabello. O que são
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MOLINA, Mônica Castagna et al. Educação do campo e formação profissional: a
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