UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA
CURSO DE CIÊNCIAS AQUÁTICAS
DISTRIBUIÇÃO, ETNOBIOLOGIA E PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO DO BOTO
CINZA, Sotalia guianensis (CETACEA: DELPHINIDAE) NO LITORAL CENTRAL E
LESTE DO MARANHÃO
MARIANA SOARES SANTOS
São Luís – MA
2007
0
Mariana Soares Santos
DISTRIBUIÇÃO, ETNOBIOLOGIA E PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO DO BOTO
CINZA, Sotalia guianensis (CETACEA: DELPHINIDAE) NO LITORAL CENTRAL E
LESTE DO MARANHÃO
Monografia apresentada ao Curso de Ciências Aquáticas com
Habilitação em Gestão de Recursos Hídricos da Universidade
Federal do Maranhão para a obtenção do título de Bacharel em
Ciências Aquáticas – Gestão de Recursos Hídricos.
Orientador: Prof. Dr°.Antônio Carlos Leal de Castro
Co-Orientador: Msc. Fagner Augusto de Magalhães
São Luís – MA
2007
1
Santos, Mariana Soares
Distribuição, Etnobiologia e Proposta de Conservação do boto
cinza, Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae) no Litoral Central e
Leste do Maranhão/ Mariana Soares Santos. – São Luís, 2007.
58 f.
Orientador: Antônio Carlos Leal de Castro
Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Maranhão,
Curso de Ciências Aquáticas com Habilitação em Gestão de Recursos
Hídricos, 2007.
1. Boto cinza – Proteção- Litoral do Maranhão.
2. Sotalia guianensis – Etnobiologia- Litoral do Maranhão.I.
Antônio Carlos Leal de Castro. II. Título.
CDU: 502.743:599.53(812.1)
2
DISTRIBUIÇÃO, ETNOBIOLOGIA E PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO DO BOTO
CINZA, Sotalia guianensis (CETACEA: DELPHINIDAE) NO LITORAL CENTRAL E
LESTE DO MARANHÃO
Mariana Soares Santos
Aprovada em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Dr. Antônio Carlos Leal de Castro
Universidade Federal do Maranhão
_____________________________________________
Msc. Fagner Augusto de Magalhães
Núcleo de Biodiversidade da Universidade Estadual do Maranhão
_____________________________________________
Drª. Dayani de Fátima Pereira
Universidade Federal do Maranhão
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por toda força disponibilizada em todos os momentos da minha vida.
A toda minha família, Mãe, Pai, Iazinha, Fernanda, Luciana, Inaê e Pablo por todo amor e
incentivo durante minha jornada.
Ao Professor Antônio Carlos Leal de Castro, pela orientação, esforço e dedicação em meu
trabalho. Sem você, com certeza nosso curso não seria o que é.
A Fagner Augusto de Magalhães por todo ensinamento, orientação e atenção, principalmente
por ter me proporcionado realizar um sonho profissional de trabalhar com cetáceos.
A Rosana Griselda Garri que esteve presente nos momentos mais difíceis do meu trabalho.
Obrigada pela incansável ajuda e orientação em minha monografia.
A Carolina Herédia Tosi que, mesmo longe, esteve sempre disponível no que eu precisasse.
Ao Seu Penheca “Panqueca”, Seu Luís Fernando “Dadau”, Jeremias e Seu Amaral, pela
atenção, carinho e pela incansável ajuda em campo. Meu trabalho eu devo a vocês.
A minha amiga irmã Mariana Bueno, não só pela ajuda em campo, mas principalmente por
estar sempre presente em minha vida.
A Dulce e Rafaela, amigas maravilhosas que conquistei no curso. Vocês são presentes de
Deus em minha vida.
A meu grande amigo Alfredo, por todo carinho e pela ajuda em campo.
Aos meus amigos Cristiano Cruz e Leonardo Oliveira pela grande participação em meu
trabalho.
Aos amigos Luís Eduardo e Nathali Ristau, por toda companhia e carinho.
A todos da minha sala que estiveram comigo em toda essa jornada acadêmica.
A Rosa, Ana Clara e Kátia, amigas que conquistei durante o estágio no IBAMA.
A toda “família” do Projeto Mamíferos Marinhos do Maranhão - PROMAR. Juntos
começamos, lutamos e aqui estamos, firmes e fortes.
A todos os professores pela fundamental importância em minha formação acadêmica.
Ao CNPq pela bolsa concedida para realização do trabalho.
A Cetacean Society International – CSI pelo apoio logístico nas saídas de campo para minha
monografia.
A Felipe Marques, pela elaboração dos mapas.
A todos os funcionários do Labohidro, por trabalharem pelo nosso curso.
4
“...A vida segue, o barco vagueia,
O vento em popa, a vela cheia.
Coração, o sangue bomba nas veias,
Do homem na terra,
Do golfinho e da baleia no mar...”
Marcos Roberto
5
RESUMO
O boto-cinza, Sotalia guianensis, é tipicamente de hábitos costeiros e estuarinos e distribui-se ao longo do litoral
de todo o Brasil, ocorrendo ao norte desde o litoral de Honduras até o sul do Brasil, em Santa Catarina. A
ocorrência em regiões costeiras o torna bastante vulnerável as ações antrópicas, não só por conta das atividades
pesqueiras, que é a principal ameaça a espécie, mas também por degradação ambiental, perda de habitat natural e
poluição química e sonora. No estado do Maranhão, estudos sobre o boto-cinza são escassos, apenas em 2005
iniciou-se pesquisas a cerca destes animais, com trabalhos sobre comportamento, captura acidental e
etnoecologia. O presente trabalho pretende embasar os conhecimentos com relação à ocorrência e distribuição de
S. guianensis no litoral central e leste do Maranhão, ampliando o conhecimento sobre a sua ecologia e
contribuindo para o fortalecimento de ações de proteção e manejo da espécie estudada, através de avistagens
embarcadas e etnobiologia, observando as características ambientais favoráveis a sua ocorrência. No período de
18 a 22 de julho de 2007, realizou-se um embarque com destino ao litoral leste do Maranhão com o intuito de
observar as áreas de ocorrência e distribuição de S. guianensis. Dados sobre fatores abióticos, coordenadas
geográficas, turbidez e temperatura da água foram coletadas a cada duas horas, utilizando planilhas
padronizadas, GPS e disco de secchi respectivamente. Quando o animal era avistado, coletava-se informações
sobre tamanho e composição de grupo, comportamento e interação com embarcações. Trabalhos etnobiológicos,
para entender melhor os conhecimentos do homem em relação à espécie em questão, também foram coletados no
intuito de subsidiar e nortear as propostas de conservação. O estudo realizado durante os quatro dias de
observação teve como esforço amostral 47 horas e 45 minutos e o esforço efetivo de 4 horas e 50 minutos.
Foram visitadas um total de 6 comunidades pesqueiras, totalizando 78 entrevistas. Através dos resultados, podese constatar que os botos têm preferência por áreas calmas e protegidas, com profundidade entre 4 a 17 metros; a
temperatura e a turbidez d´água não apresentaram grandes variações, portanto, neste trabalho, não puderam ser
consideradas fatores condicionantes na avistagem dos botos. Constatou-se a presença de S. guianensis na região
próxima a Humberto de Campos e Primeira Cruz. Os animais apareceram em grupos entre 15 a 20 indivíduos,
com a presença de filhotes, juvenis e adultos. Foi registrado que a presença de embarcações próximas aos botos
alterou o comportamento dos mesmos quando os barcos estavam com o motor ligado. No litoral Central e Leste
Maranhense, a captura acidental em redes de pesca é uma grande ameaça à espécie, sendo as redes de emalhar,
principalmente a serreira, o principal artefato de pesca responsável pela captura. O desenvolvimento de trabalhos
de educação ambiental, a longo prazo, é uma proposta relevante para a conservação da espécie.
6
ABSTRACT
The estuarine dolphin, Sotalia guianensis, is tipically founded in coastal and estuarines habitats, distributed
along the Brazilian coast, occurring from the northern coast of Honduras to the southern region of Brazil, in
Santa Catarina. This coastal distribution makes the specie vulnerable to antropic impacts, not only by fisheries
activities, but also by environment degradation, habitat loss and quimical and sound pollutions. In the Maranhão
state, studies about the estuarine dolphin are scarce, and only in 2005 the researches begun, with activities based
on animal behaviour, by-catch and etnobiology. The purpose of this work is to collect information about
occurrence and distribution of S. guianensis in the central and eastern of Maranhão coast, as well as bring up
results about filed work conducted in fishing communities, contributing with local conservation strategies. From
18 to 22 July 2007, an onboard survey was conducted by the Projeto Mamíferos Marinhos do Maranhão staff to
the east side of Maranhão coast. Data about abiotic factors, geographic coordenates, turbity and water
temperature were collected each two hours, using data sheets, GPS and Secchi disk respectively. Information on
size and group composition, behaviour and boat interactions were collected. Etnobiology works were also
developed to add information for the conservation actions. The four days expedition had 47 hours and 45
minutes of amostral effort and 4 hours and 50minutes of effective effort. A total of six fisheries communities
were visited, totalizing 78 interviews. The results showed that the estuarine dolphin were distributed in calms
and protected areas, from 4 to 17 meters deep; the water temperature and turbity not influenced the sightings.
The groups sighted varied from 15 to 20 individuals, composed by juveniles, subadults and adults. It was
observed that the proximity of motorized boats close to the dolphins group modified the animals behaviour when
the motor turned off. In the Maranhão coast, the by-catch, generally gillnets, may be considered the main threat
to this specie. The developments of environmental education works, is a relevant proposal for the specie
conservation along the state.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Sotalia guianensis
16
Figura 2 -
Distribuição do boto cinza
17
Figura 3 -
Mapa do Litoral do Maranhão
20
Figura 4 -
Barco pesqueiro MAR 41 onde se realizou o embarque
21
Figura 5 -
Mapa com a trajetória percorrida pelo litoral leste maranhense
24
Figura 6 -
Mapa com o percurso, locais de avistagem e locais de entrevista no litoral central
25
Figura 7 -
Profundidade das localidades onde foram avistados os boto cinza
26
Figura 8 -
Avistagem do boto cinza na Ilha de Maruim – MA (A e B)
27
Figura 9 -
Presença de três indivíduos na Ilha de Maruim - MA
28
Figura 10 -
Atividade de deslocamento do S. guianensis em Macacoeira - MA
29
Figura 11 -
Rastro típico de comportamento de forrageio de S. guianensis na Ilha de Maruim – MA (A e B)
29
Figura 12 -
Presença de embarcações próximas de botos cinza na Ilha de Maruim, litoral leste do Maranhão
30
(A e B)
Figura 13 -
Mapa de distribuição do S. guianensis no litoral leste; entrevistas em comunidades de
31
pescadores
Figura 14 -
Utilização dos recursos pesqueiros pelos pescadores
32
Figura 15 -
Tipos de embarcações utilizadas para pesca no litoral maranhense (A, B e C)
32
Figura 16 -
Tipos de embarcações utilizadas pelos pescadores no litoral maranhense
33
Figura 17 -
Tipos de artefatos de pesca utilizados no litoral maranhense
34
Figura 18 -
As redes de emalhar como principais artefatos de pesca utilizados ao longo do litoral
34
Figura 19 -
Locais de ocorrência da espécie Sotalia guianensis de acordo com relato dos pescadores
35
Figura 20-
Posição dos pescadores com relação se o boto é um peixe ou não
36
Figura 21-
Presença de Sotalia guianensis durante a época do ano
36
Figura 22-
Relação entre a maré e avistagem de botos de acordo com o conhecimento dos pescadores
37
Figura 23-
Comportamento dos animais descrito pelos pescadores
37
Figura 24-
Barra dos Veados, local de avistagem de S. guianensis -MA
38
Figura 25-
Variação da quantidade de botos ao decorrer do tempo de acordo com a percepção dos
38
pescadores
8
Figura 26-
Interação do boto cinza com a pesca
39
Figura 27-
Tipo de interação do boto cinza com a pesca
39
Figura 28-
Captura acidental em redes de pesca no litoral maranhense
39
Figura 29-
Porcentagem de captura acidental por cada artefato de pesca
40
Figura 30-
Destino empregado na carcaça quando o animal é capturado
40
Figura 31-
Marcas de rede de pesca em um exemplar de Sotalia guianensis
41
Figura 32-
Captura acidental do Sotalia guianensis
41
Figura 33-
Trabalho de educação ambiental nas comunidades de pescadores no litoral central e leste
42
maranhense (A e B)
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1-
Dados dos fatores abióticos coletados a cada duas horas durante o embarque
26
Tabela 2-
Espécies alvo de peixes capturados por diferentes artefatos de pesca
35
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
13
2. REFERENCIAL TEÓRICO
14
2.1. Características Gerais dos Cetáceos
14
2.2. Sobre a espécie Sotalia guianensis
16
2.3. Etnobiologia
18
3. METODOLOGIA
19
3.1. Descrições da área de Estudo
19
3.2. Avistagem Embarcada
19
3.3. Etnobiologia
23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Ocorrência e distribuição de Sotalia guianensis no litoral leste maranhense
24
24
4.1.1. Fatores Abióticos
26
4.1.2. Tamanho e composição do grupo
28
4.1.3. Presença de embarcações
30
4.2. Etnobiologia
4.2.1. Características ecológica e sócio- econômica da atividade de pesca no
30
31
Litoral Central e Leste do Maranhão
4.2.2. Percepção dos pescadores em relação ao boto cinza
35
4.2.3. Captura acidental em redes de pesca
39
4.3. Propostas para conservação
41
5. CONCLUSÃO
43
6. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
45
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
46
ANEXOS
52
11
A – Planilha de Avistagem
53
B – Planilha de Fatores abióticos
54
C- Escala Beaufort
55
D- Planilha de entrevista com pescadores
56
E- Planilha de identificação das espécies
57
F- Cartilha de educação ambiental
58
12
1. INTRODUÇÃO
O boto cinza, Sotalia guianensis, por se tratar de uma espécie de hábitos costeiros e
estuarinos, pode ser encontrado ao longo do litoral de todo o Brasil (DA SILVA & BEST,
1996). Estes animais contribuem na ciclagem de nutrientes e, por ocuparem os níveis tróficos
mais elevados na cadeia alimentar, atuam como indicadores potenciais da saúde e da
produtividade dos ecossistemas (IBAMA, 2001).
Estudos ecológicos têm confirmado que as áreas preferencialmente utilizadas por
cetáceos possuem características físicas ou oceanográficas que estimulam a alta densidade de
alimento, e/ou facilitam a captura desse alimento, sugerindo que a disponibilidade de presas é
o principal fator influenciador da distribuição desses animais (HASTIE et al., 2004).
Além desses fatores, as condições ideais para a procriação e para o cuidado parental,
como temperaturas amenas, águas rasas e proteção contra a ação de ventos e ondas, parecem
também influenciar a maneira como algumas espécies de cetáceos se distribuem dentro de sua
área de vida (BARCO et al., 1999).
A distribuição costeira de S. guianensis o torna bastante vulnerável as ações
antrópicas, não só por conta das atividades pesqueiras, que é a principal ameaça a espécie,
mas também por degradação dos ambientes em que vivem, perda do hábitat natural e poluição
química e sonora (LODI, 2003)
No Brasil, registros sobre interações entre as atividades de pesca e cetáceos vêm sendo
efetuados ao longo de todo litoral (ROSAS et al., 2002; FREITAS NETTO & BARBOSA,
2003). Dentre os tipos de interações registradas em águas brasileiras, o emalhe, é o mais
comum e expressivo em termos de mortalidade das espécies envolvidas (DI BENEDITTO,
2004).
Embora a lei n°7643 de 18 de dezembro de 1987, proíba o molestamento de cetáceos
em águas jurisdicionais brasileiras, as atividades de pesca acidental de cetáceos e a
comercialização de alguns órgãos e dentes têm sido registradas principalmente para o litoral
norte, com ênfase nos estados do Maranhão, Pará (SHOLL, 2006; TOSI et al., 2007).
No litoral maranhense, estudos sobre os cetáceos são escassos, decorrentes da ausência
de monitoramentos sistemáticos relacionados à ocorrência, ecologia e conservação. As
pesquisas iniciaram-se apenas em 2005 com trabalhos sobre comportamento, captura
acidental (MAGALHÃES et al., 2005 a,b; GARRI et al., 2005; GARRI et al., 2006;
SANTOS et al., 2007); e etnobiologia (TOSI et al., 2005; DINIZ et al., 2007).
13
Neste contexto, há uma extrema necessidade de continuidade de pesquisas a cerca dos
cetáceos nesse litoral, principalmente da espécie S. guianenses que sofre constante pressão
antrópica e problemas com a captura acidental, sem, no entanto, existir medidas mitigadoras
para tal problema.
O presente trabalho pretende embasar os conhecimentos com relação à ocorrência e
distribuição de S. guianensis no litoral central e leste do Maranhão, ampliando o
conhecimento sobre a sua ecologia e contribuindo para o fortalecimento de ações de proteção
e manejo da espécie estudada, através de avistagens embarcadas e etnobiologia, observando
as características ambientais favoráveis a sua ocorrência.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Características gerais dos Cetáceos
Os cetáceos (latim científico: Cetacea) são mamíferos aquáticos, conhecidos como
botos, baleias e golfinhos. O nome da ordem deriva do grego ketos que significa baleia. São
constituídos por três subordens: Archaeoceti, cetáceos já extintos e reconhecidos somente por
restos fósseis; Mysticeti ou baleias verdadeiras e Odontoceti, baleias com dentes (HETZEL &
LODI, 1993).
Atualmente os cetáceos são representados por 83 espécies (RICE, 1998 apud
REEVES, 2003), distribuídos pelos mares e oceanos de todo o mundo, incluindo ainda alguns
habitantes de sistemas fluviais na América do Sul e Ásia (JEFFERSON et al., 1993). As
espécies costeiras têm preferências por áreas mais rasas, situadas sobre a plataforma
continental. Elas podem ocorrer desde a linha da costa até a quebra da plataforma. As espécies
oceânicas, por sua vez, são tipicamente restritas à quebra da plataforma continental, ao talude
e a áreas adjacentes localizadas em bacias oceânicas profundas, com mais de 200 metros de
profundidade. Existem ainda as espécies mais versáteis, que podem viver tanto em áreas
costeiras quanto em áreas oceânicas (SICILIANO et al., 2006).
Os cetáceos são componentes vitais da biodiversidade aquática marinha e fluvial. Sua
importância ecológica no ecossistema se relaciona, entre outros aspectos, com a manutenção
do equilíbrio da estrutura trófica, com a relação comensal que outros organismos mantêm com
eles e com a atividade alimentar compartilhada desenvolvida com aves marinhas e algumas
14
espécies de peixes (PARSONS, 1992). Além disso, esses mamíferos aquáticos também
apresentam potencial como indicadores de qualidade ambiental (NORSE, 1993).
Segundo LODI (2003), em águas jurisdicionais brasileiras já foram oficialmente
registradas a presença de 44 espécies de cetáceos, entre eles 8 misticetos e 36 odontocetos,
representando 51,7% das espécies em âmbito mundial. Portanto, políticas dirigidas para sua
conservação e manejo são prioritárias.
O monitoramento de encalhes é hoje a principal fonte de informação sobre a
ocorrência, biologia e ecologia da maioria das espécies de mamíferos marinhos,
principalmente em regiões onde a pesquisa com esses animais ainda é incipiente. Esse estudo
pode proporcionar o conhecimento necessário para direcionar os esforços de conservação e
fornecer dados para uma avaliação anual da taxa de mortalidade dos grupos taxonômicos,
causas de óbitos, sazonalidade dos eventos e associação com atividades humanas
potencialmente perturbadoras. A determinação de áreas criticas à conservação e a elaboração
de estudos que visem subsidiar e aprimorar as técnicas de reabilitação empregadas são outras
informações relevantes que podem ser obtidas a partir desse acompanhamento (IBAMA,
1999).
Os mamíferos marinhos estão expostos a impactos ambientais de diferentes fontes. No
Brasil, a caça comercial foi uma das principais causas de mortalidade de cetáceos no passado.
A caça à baleia foi suspensa em 1985 com a adoção da moratória proposta pela Comissão
Internacional Baleeira (IWC) e, posteriormente, com a ratificação da lei Federal 7643 de 18
de dezembro de 1987 que proíbe o molestamento intencional de cetáceos em águas
jurisdicionais brasileiras (ZERBINI, 1999). Atualmente, as principais ameaças são a captura
acidental em redes de pesca e a degradação ambiental. Nesta segunda categoria, inserem-se a
poluição química (óleo e derivados, compostos organopersistentes, metais pesados, esgoto
orgânico) e sonora (obras de engenharia costeira e oceânica, exploração de petróleo,
atividades sísmicas), o tráfego de embarcações, o desenvolvimento, a ocupação e a
exploração/utilização desordenada de regiões costeiras e águas adjacentes (baías, enseadas,
estuários e etc.). A poluição dos ambientes é causada pelo despejo de esgotos, tanto
industriais quanto residenciais, escoamento dos resíduos da agricultura e derramamentos de
óleo (ZERBINI, 1999).
Adicionalmente, os ambientes perdem qualidade através da acelerada ocupação de
novas áreas, como a construção de portos, marinas e plantas industriais. As águas abrigadas,
de baías e enseadas, são utilizadas para atracação de navios, embarcações de pesca e
atividades recreativas, gerando intensa poluição sonora e trânsito marítimo. Estas atividades
15
podem restringir o uso ou a ocupação de áreas preferenciais das espécies de mamíferos
marinhos costeiros (ZERBINI, 1999).
2.2. Sobre a espécie Sotalia guianensis
A espécie Sotalia guianensis (van Bénéden, 1864) pertence à ordem Cetacea, à subordem Odontoceti sendo uma das menores espécies de delfinídeos existentes (SILVA &
BEST, 1996). Caracteriza-se por apresentar a nadadeira dorsal pequena, localizada no centro
do dorso e de forma triangular. Nesta espécie não há dimorfismo sexual significativo
(OLIVEIRA et al., 1995), o comprimento total de S. guianensis, nos adultos, varia de 1,65 a
2,06m (ROSAS & MONTEIRO-FILHO, 2002).
Figura 1: Sotalia guianensis.
Distribui-se geograficamente ao norte até o litoral de Honduras, na América Central
(15°58’S; 85°42’W; SILVA & BEST, 1996) e ao sul até o Estado de Santa Catarina (27°35’S;
48°34’W), na América do Sul, no sul do Brasil (SIMÕES-LOPES, 1988) (Figura 2). No
litoral do Brasil, a espécie é comumente encontrada em regiões próximas à costa,
principalmente enseadas e desembocaduras de rios (SILVA & BEST, 1996), portanto
presentes em águas turvas (SICILIANO et al., 2006).
O S. guianensis foi incluído pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) entre os cetáceos do litoral do país com maior nível
de pressão antrópica sendo listada como “insuficientemente conhecida” pelo Plano de Ação
16
de Mamíferos Aquáticos II do IBAMA (2001), ou seja, não existem informações adequadas
para fazer-se uma avaliação.
As principais ameaças que o afetam estão diretamente relacionadas com a destruição
de hábitats ao longo de sua área de distribuição, incluindo a poluição por efluentes industriais,
agrotóxicos, construção de barragens para fins hidrelétricos e de irrigação, urbanização e
desmatamento das margens dos rios, lagos e mangues (IBAMA, 2001). O intenso tráfego de
barcos, o turismo desordenado, a redução de estoques pesqueiros e principalmente as capturas
acidentais em redes de pesca também são problemas comuns nas áreas de ocorrência da
espécie. Entende-se por captura acidental ou by-catch, a fração proveniente da pesca que é
devolvida ao mar morta ou debilitada, de forma que provavelmente não sobreviverá
(MCCAUGHRAM, 1992). O registro da mortalidade por captura acidental tem sido
observado ao longo da costa brasileira, através da intensa atividade pesqueira (ZANELATTO,
1994).
Área de distribuição de S.
guianensis
Figura 2: Distribuição do boto cinza, Sotalia guianensis, ao norte até Honduras e ao sul até o estado de
Santa Catarina, Brasil (Fonte: MEIRELLES, 2005).
17
2.3. Etnobiologia
A etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. É o estudo do papel da natureza
no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as
categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo (POSEY, 1986).
O contato dos pescadores com o ambiente que os circunda, bem como sua
dependência pelos recursos naturais permite que estes desenvolvam valiosos conhecimentos
sobre a bioecologia dos recursos (COSTA & SCHIAVETTI, 2002).
Estudos sobre o conhecimento etnobiológico podem gerar dados que contribuam para
o estabelecimento de diretrizes para os planos de gestão e manejo dos recursos naturais, não
somente em Unidades de Conservação, mas também em outras áreas (PETERSON et al.,
2005).
Os saberes das populações locais sobre a natureza são de suma importância para a
valorização do conhecimento etnoecológico das mesmas e para a administração dos recursos
naturais de forma adequada (MENDES, 2002).
Neste trabalho, os dados etnobiológicos ajudarão a entender melhor a relação que os
pescadores do litoral maranhense têm com os botos cinza, a percepção dos mesmos com
relação aos animais e também, o conhecimento tradicional a respeito do comportamento da
espécie em ambiente natural.
18
3. METODOLOGIA
3.1 Descrições da Área de Estudo
O Litoral maranhense tem na sua extensão, 640 km, compreendidos entre o Delta do
rio Parnaíba, na fronteira com o Piauí, até a foz do rio Gurupi, fronteira com o Pará (Figura
3). A plataforma continental é vasta e rasa, com alta produção primária, em virtude da grande
quantidade de nutrientes trazidos pelos rios e pela larga e extensa área de mangue. A
amplitude de marés atinge 7 metros no Golfão maranhense e diminui em direção a leste,
registrando-se 3 a 4 metros em Tutóia (DHN, 1972).
O clima é tropical com temperatura e umidade relativamente altas, com um alto índice
pluviométrico, que chega a ser superior a 2200 mm no Noroeste do Estado (STRIDE, 1992).
A variação de temperatura na plataforma continental maranhense é relativamente
baixa com os seguintes valores extremos: 28,4° C e 27,3° C, apresentando um índice de
variação térmica de 1,1 ° C demonstrando uma nítida estabilidade térmica da área,
diferenciados apenas por dois períodos climáticos: período seco e período chuvoso; sendo a
temperatura média da área 28,0° C (SUDENE, 1976).
A área de estudo foi dividida em:
•
Costa central: encontra-se o Golfão do Maranhão, no qual situa-se a ilha de São Luis,
que separa o Golfão em duas grandes baías, a baía de São Marcos onde desembocam
dois dos maiores rios do Maranhão (Mearim e Pindaré); e a baía de São José, onde
desembocam os rios Munim e Itapecuru (CEPENE, 2002).
•
Costa leste: estende-se do Golfão até o Delta do Parnaíba, também onde encontra-se
os Lençóis Maranhenses (CEPENE, 2002).
3.2 Avistagem embarcada
Com o intuito de observar as áreas de ocorrência e distribuição de S. guianensis,
realizou-se uma expedição de barco pelo litoral leste maranhense, no período de 18 a 22 de
julho de 2007, partindo do Porto do Braga do município da Raposa (02°26.009’ S e
44°04.599’ W) até o município de Tutóia (02°40.814’ S e 042°26.319’ W).
19
20
Figura 3: Mapa do litoral maranhense (Fonte: Diagnóstico da pesca Experimental do Maranhão (STRIDE, 1998)
O barco pesqueiro “Mar 41”, onde foi realizado o embarque pertence ao município da
Raposa e caracteriza-se por possuir aproximadamente 11,5 metros de comprimento, 3,5
metros de altura, 1,5 metros de calado, motor 75 HP posicionado na popa da embarcação,
equipado com GPS, sonda e rádio, com capacidade para 8 pessoas, dentre estas, quatro
tripulantes e quatro pesquisadores (Figura 4).
Figura 4: Barco pesqueiro “MAR 41” onde se realizou o embarque pelo litoral leste do Maranhão.
As observações foram realizadas a 1,5m acima da superfície da água e a velocidade do
barco durante o percurso manteve-se em aproximadamente 20 km/h. Durante toda expedição
as coordenadas geográficas foram coletadas através do “Global Positioning System” (GPS),
modelo Garmin’s GPS II Plus, a cada duas horas, para determinar a trajetória percorrida. Os
pontos obtidos foram plotados no mapa em programa Geomedia Professional Versão 6.
A avistagem foi realizada por quatro pesquisadores num período de 12 horas diárias
contínuas, com início às 06:00 horas e término às 18:00 horas ( a cada seis horas realizava-se
um rodízio dos pesquisadores). Durante a noite o barco atracava em terra dando continuidade
a pesquisa no período da manhã. Dois observadores posicionaram-se na proa (0°), cada um
responsável por um lado do barco com um ângulo de visualização de 90°. Para melhor
processo de avistagem, foram utilizados binóculos (Bushnell 12x50), câmera digital (Canon
3.2) e planilhas padronizadas. As mesmas foram divididas da seguinte forma:
21
•
Planilha de embarque (Anexo 1): utilizada durante a presença dos animais,
sendo registrado local de avistagem, coordenada geográfica (GPS), tamanho e
composição do grupo, descrição do comportamento e presença de embarcações
próximas, assim como, turbidez, profundidade e temperatura da água.
•
Planilha de avistagem (Anexo 2): a cada duas horas coletava-se os dados
referentes à cobertura do céu, visibilidade, condições do mar, direção do vento
e força do vento (de acordo com a escala Beaufort, anexo 3), temperatura,
profundidade e turbidez da água.
Quando o boto cinza era avistado, diminuía-se a velocidade para minimizar a
interferência do barco sobre os mesmos. O motor da embarcação era desligado quando os
animais encontravam-se a uma distância aproximada de 20 metros. Somente quando se
distanciavam a mais de 50 metros, o motor era religado para manter a aproximação dos botos.
Por estimativa visual, os indivíduos foram classificados como filhote, juvenil e adulto
de acordo com o tamanho e a coloração-padrão. O comprimento total de S. guianensis, nos
adultos, varia de 1,65 a 2,06m (BARROS, 1991; ROSAS & MONTEIRO-FILHO, 2002) e a
coloração apresenta tons de cinza no dorso e nas laterais, e tons variando do rosa ao branco no
ventre e no filhote a coloração cinza rosada (ROSAS & MONTEIRO-FILHO, 2002; LODI,
2003). O filhote sempre está acompanhado por um juvenil ou adulto. A estimativa da faixa
etária dos botos foi possível através de um consenso com no mínimo dois observadores a
bordo, principalmente para determinar o tamanho de indivíduos entre filhote-juvenil e juveniladulto.
Para descrever o comportamento, neste estudo, utilizaram-se as definições
estabelecidas por KARCZMARSKI et al. (1999), NASCIMENTO (2002) e (SPINELLI,
2002).
a) Deslocamento: movimentação com sentido direcional determinado ocorrendo a intervalos
regulares para respiração.
b) Forrageio: comportamento caracterizado por procura, perseguição, bote e consumo da
presa.
c) Descanso: quando os animais apresentam um baixo nível de atividade, encontram-se bem
coesos, com deslocamento lento, tocando a superfície com a cabeça e a nadadeira dorsal
quase que simultaneamente, submergindo lentamente.
22
d) Atividade acima da superfície da água: representada saltos (totais, parciais e
cambalhotas) e por brincadeiras, desempenhadas por um grupo que contem animais imaturos;
ausência de função aparente; repetição exagerada, em intensidade ou freqüência, de
comportamentos exibidos por animais maduros.
Para coleta dos fatores abióticos durante a avistagem dos botos, como turbidez,
temperatura e profundidade, utilizou-se respectivamente, disco de Secchi, termômetro digital
e uma corda de 100 metros com um peso na ponta.
Para o ciclo de maré, utilizou-se a tábua de maré da Diretoria de Hidrografia e
Navegação (DHN) do Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil (CHM), segundo a Tábua
de Maré do Porto do Itaqui-MA (http://www.mar. mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm).
3.3. Etnobiologia
Para obtenção de dados etnobiológicos foram realizados questionários semiestruturados individualmente e aleatoriamente com pescadores no litoral leste e no litoral
central maranhense. As coletas foram realizadas entre os meses de junho e julho. No Litoral
Central, fez-se entrevistas no município de Raposa e no município de São Jose de Ribamar.
No Litoral Leste as entrevistas foram realizadas durante a expedição embarcada, no município
de Tutóia, e nas localidades pesqueiras de Areinhas, Barra do Tubarão e Barra dos Veados,
pertencentes ao município de Humberto de Campos.
O questionário apresentou perguntas diretas, com respostas exatas e indiretas de forma
a deixar o pescador a vontade para responder (Anexo 4).
Segundo REGO (1994), o pesquisador deve tomar algumas medidas para que a sua
interferência seja reduzida ao máximo, de modo que as informações recolhidas por ele
correspondam, na medida do possível, à situação real da comunidade. Particularmente
importantes são os cuidados na realização de entrevistas, em que as perguntas devem ser
construídas de forma que elas não induzam o entrevistador a favorecer uma determinada
resposta. De acordo com Posey (1986), “o máximo de cuidado deve-se ter para que os relatos
sejam aproximados quanto possível da maneira como eles pensam, não permitindo distorções
nas falas dos especialistas locais”.
Para a identificação da espécie, utilizou-se um cartaz, com fotos de várias espécies,
possíveis ou não de ocorrerem no litoral maranhense, a fim de confundir o entrevistado.
Assim, o pescador apontava qual era o boto cinza e quais outras espécies que já haviam
avistado, ajudando assim futuros trabalhos com espécies ainda não estudadas (Anexo 5).
23
Simultaneamente ao trabalho de entrevista foram realizados trabalhos de educação
ambiental, com conversas informais e distribuição de cartilhas informativas (Anexo 6),
levando conhecimento sobre características dos botos, as principais ameaças, os males que
pode causar o consumo da carne e a importância da conservação da espécie.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Ocorrência e distribuição de Sotalia guianensis no litoral leste maranhense
O percurso manteve-se margeando a costa, partindo do Município de Raposa com
destino ao município de Tutóia (Figura 5). A velocidade durante o transcurso foi de
aproximadamente 20 km/h.
RAPOSA
TUTÓIA
Figura 5: Trajetória percorrida partindo do Município de Raposa no litoral central ao município de
Tutóia, no litoral leste.
24
Durante os quatro dias de embarque para o Litoral leste foram registradas em quatro
localidades a avistagem dos botos cinza, na Ilha de Maruim, Macacoeira, Barra dos Veados e
Rosarinho (Figura 6). O total de esforço amostral foi de 47 horas e 45 minutos e de esforço
efetivo (presença de animais nos diferentes locais de avistagem) de 4 horas e 50 minutos.
1
3
4
2
Figura 6: Mapa do percurso do porto da Raposa ao porto de Tutóia (ponto roxo); Local de avistagem do
Sotalia guianensis (ponto vermelho); Local de entrevistas com pescadores (ponto azul). Ponto 1: Ilha de
Maruim; Ponto 2: Macacoeira; Ponto 3: Rosarinho; Ponto 4: Barra dos Veados.
As avistagens ocorreram principalmente entre a Região de Primeira Cruz e Humberto
de Campos. Supõe-se que isso se deve pelo fato de que a costa, nesses pontos, seja uma área
que apresenta mais barras, locais de águas mais calmas e protegidas ideais para refúgio e
cuidado dos filhotes. Segundo os argumentos dos pescadores, nesses locais é possível avistar
os botos todos os dias, o que nos faz refletir a probabilidade de esses animais serem residentes
na região. S. guianensis se distribui por todo litoral leste maranhense, possivelmente não se
avistou boto cinza nos outros locais, devido às condições meteorológicas e oceanográficas.
No entanto, para maiores esclarecimentos sobre a ausência dos botos nesse trecho precisa-se
realizar uma pesquisa mais aprofundada.
25
4.1.1. Fatores Abióticos
Os dados coletados durante a expedição demonstraram que a variação da temperatura
da superfície da água apresentou-se relativamente baixa, com valores entre 29°C e 30°C. A
turbidez da água apresentou índices entre 0,40 e 1,5 metros e a profundidade variou entre 1,5
a 18 metros com média 9,4 metros.
De acordo com a planilha de avistagem de fatores abióticos utilizadas durante o
percurso, a cada duas horas, foram apresentados os dados de cobertura do céu, visibilidade,
condições do mar, direção do vento e força do vento (Tabela 1).
Tabela 1: Dados dos fatores abióticos e climáticos coletados a cada duas horas durante o
embarque.
Cobertura do céu
visibilidade
Moda
2
1
Mínimo
1
1
máximo
3
3
Condições
do mar
1
Direção do vento
3
Força do vento
(Beaufort)
1
1
2
1
3
5
2
Os resultados indicaram que a profundidade média dos locais onde os indivíduos
foram avistados foi de 8,84 metros (±5,61), sendo a menor de 4 metros e a maior de 17 metros
(Figura 7).
SIMÃO e POLETTO (2002) observaram na Baia de Sepetiba (RJ), que nunca foram
avistados botos cinza freqüentando áreas de profundidade inferior a 3m, quaisquer que fossem
as atividades que os animais estivessem desenvolvendo. O resultado de nosso estudo coincide
com o citado anteriormente pelos autores, não registrando-se indivíduos a profundidades
inferiores a 3 metros.
Maruim
Macacoeira
Veados
Rosarinho
profundidade (m)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Figura 7: Profundidade das localidades onde foram avistados os boto cinza.
26
A temperatura não pôde ser considerada um fator limitante na ocorrência de S.
guianensis no Litoral leste maranhense, por ser uma variável ambiental que não apresenta
uma mudança considerável ao longo do ano, foi registrado uma variação térmica durante o
trabalho de apenas 1°C. No entanto, sugere-se a realização de trabalhos comparativos a longo
prazo entre as épocas de verão e inverno para verificar validade da hipótese levantada.
Com relação à turbidez da água, observou-se que não houve uma mudança relevante
entre os locais de avistagens e os locais onde não foram avistados, variando entre 0,3 e 1,04
metros. Segundo o estudo realizado por CARVALHO et al. (2004) na Praia da Badusca-BA
há um relação entre a turbidez da água e a presença dos botos, sendo que os mesmos tem
preferência por águas mais turvas. Estes resultados também foram observados no litoral do
Maranhão, já que as águas caracterizam-se por apresentarem alto índice de turbidez devido à
grande influência de manguezais.
As áreas de ocorrência preferencial dos botos caracterizaram-se por serem bem
próximas à costa, protegidas, apresentando águas calmas e profundas, denominadas pelos
pescadores de barras (Figura 8 A e B).
Influxos sazonais de cetáceos têm sido atribuídos às variações das características
físicas do hábitat, resultando em certas áreas mais propícias para evitar predadores, criar
filhotes, reprodução e alimentação (WELLS et al., 1980).
Distância da costa
A
B
Figura 8 (A e B): Avistagem do boto cinza na Ilha Maruim.
27
De acordo com a tábua de marés, as avistagens ocorreram 25% em ciclo de enchente e
75% em ciclo de vazante. GEISE (1989) registrou um aumento no número de botos cinza
mais de 4 horas depois do pico de preamar e ciclo da maré enchente em Cananéia (SP), ao
passo que para a Praia de Iracema (CE), OLIVEIRA et al. (1995) registraram freqüências de
ocorrência maiores de S. guianensis durante baixa mar e ciclo da maré enchente. Estes autores
sugerem que a ocorrência do boto cinza pode estar relacionada à abundância local de peixes, a
qual é provavelmente maior em marés baixas e enchentes, com sua captura facilitada pelo
menor volume da água (ROSSI-SANTOS, 2006).
4.1.2. Tamanho e composição do grupo
Em todos os locais de avistagem dos botos constatou-se a presença de adultos, juvenis
e filhotes. Verificou-se a presença de filhotes sempre acompanhados de um ou mais
indivíduos sendo tanto juvenis como adultos. A presença de filhotes propõe que essas áreas
poderiam ser provavelmente propícias para reprodução e cuidado parental.
O número total de indivíduos registrados em cada local de avistagem, foi de 15 a 20,
entretanto observou-se grupos de 2 a 5 botos (Figura 9).
Figura 9: Presença de um grupo de três indivíduos de Sotalia guianensis na Ilha de Maruim.
A relação direta entre o número de filhotes e/ou juvenis e o tamanho dos grupos indica
que as fêmeas e as suas proles não abandonam os grupos, o que confirma os hábitos gregários
28
da espécie, podendo ser também interpretado como uma indicação da existência de um forte
vínculo social de S. guianensis (LODI, 2003).
Através das avistagens embarcadas observou-se, de forma geral, que os botos
apresentaram diferentes comportamentos de forrageio, deslocamento e descanso, assim como
brincadeiras (Figura 10, 11 A e B).
Figura 10: Atividade de deslocamento do Sotalia guianensis em Macacoeira.
Atividade de forrageio
A
Atividade de forrageio
B
Figura 11 (A e B): Comportamento típico de forrageio na Ilha Maruim.
29
4.1.3. Presença de embarcações
Diversas embarcações pesqueiras foram observadas próximas aos locais onde os
animais se encontravam, como barcos a motor e a vela com redes de pesca de arrastão,
serreira, espinhel e caçoeira (Figura 12). Quando os barcos se aproximavam constatou-se que
os animais mantinham certa distância >100 metros mantendo-se submersos por mais tempo.
Esta observação também foi registrada para a espécie em estudo na praia de Pipa-RN, por
VALLE e MELO (2005) que verificaram que a aproximação das embarcações pode ter sido
responsável pelas alterações no tempo de submersão dos animais. Constatou-se
principalmente na Ilha de Maruim, que a presença das embarcações pesqueiras citadas acima,
causaram mudanças nas atividades comportamentais nos botos, principalmente com o
comportamento alimentar.
Supõe-se que a poluição sonora produzida pelos motores afastava os botos, no
entanto, quando o motor era desligado, eles se aproximavam reagindo naturalmente (Figura
12 A e B).
B
A
Figura 12 (A e B): Presença de embarcações próximas de botos cinza na Ilha de Maruim, litoral leste do
Maranhão.
4.2. ETNOBIOLOGIA
Para a coleta de dados etnobiológicos realizou-se 78 questionários com pescadores,
individualmente e aleatoriamente, nos municípios de Raposa e São Jose de Ribamar, no
Litoral Central e em Tutóia, nas localidades de Areinhas, Barra dos Veados e Barra dos
Tubarões no Litoral Leste (Figura 13).
30
..
Figura 13: 1. Pontos de avistagem do Sotalia guianensis (pontos em vermelho) no litoral leste do
Maranhão; 2. Entrevistas em comunidades de pescadores (pontos em azul).
4.2.1.Características ecológica e sócio-econômica da atividade de pesca no Litoral
Central e Leste do Maranhão
O Maranhão é tradicionalmente o principal produtor de pesca da região nordeste do
Brasil, sendo que a maior parte da pesca marinha, ou seja, 95% é proveniente de um grande e
disperso setor artesanal (STRIDE, 1998). Os municípios do litoral, em sua maioria, têm a
pesca como a principal fonte de renda. De acordo com os dados obtidos através de entrevistas
com pescadores, o campo de pesca estende-se do litoral oeste ao litoral leste, destacando-se
alguns pesqueiros, como por exemplo, Barra dos Veados, Baía de Tubarão, Farol de Santana,
Atins e Tutóia no Litoral Leste; Outeiro, Porto Rico, Praia dos Lençóis e Carutapera no
Litoral oeste. Os pescadores do Litoral Central pescam em ambos os lados.
Dos 78 pescadores entrevistados, 93,6% pescam para vender, 2,6% pescam para
consumo próprio e 3,8% não responderam à pergunta (Figura 14).
31
100
80
%
60
40
20
0
venda
consumo
não responderam
Figura 14: Utilização dos recursos pesqueiros pelos pescadores.
Somente 65% dos pescadores são associados à colônia, enquanto que 35% não são. A
adesão à colônia de pescadores é de fundamental importância, pois é através dela que são
oferecidos os benefícios de aposentadoria aos pescadores.
Quando se questionou com relação ao ambiente, 64% dos entrevistados mensuraram
que o ambiente está conservado e 36% acreditam que está degradado, no entanto, quando se
pergunta sobre a disponibilidade de recursos, a maioria, 89%, disse que os recursos estão
diminuindo. Os pescadores relatam que a quantidade de peixes está cada vez menor, e que a
causa disso é a quantidade e variedade de redes pesqueiras, além da exploração e pesca
predatória. “Antes a gente saia pra pescar e trazia a canoa cheia de peixe, hoje é difícil a
gente pegar até pra comer. Muito material de pesca atrapalha o número de peixes”.
As embarcações da frota pesqueira são representadas pelas canoas não motorizadas,
movidas à vela ou a remo e as motorizadas (Figura 15, A, B e C).
A
B
32
C
Figura 15: Tipos de embarcações utilizadas para pesca no litoral maranhense. A - embarcação a motor;
B - embarcação a remo; C - embarcação a vela.
Os barcos utilizados pelos pescadores entrevistados nesse trabalho correspondem a
63% motorizadas, 26% a vela e 3,8% a remo (Figura 16).
70
60
50
%
40
30
20
10
0
motorizada
vela
remo
não respondeu
Figura 16: Tipos de embarcações utilizadas pelos pescadores no litoral maranhense.
A atividade pesqueira no Maranhão é realizada utilizando-se métodos e aparelhos de
capturas rudimentares, sendo feita em alto mar, na costa e nos estuários, com características
bastante artesanais (STRIDE, 1992).
Há uma enorme variedade de artefatos para pesca. Os principais utilizados no litoral
central e leste do Maranhão são as redes de emalhar, como a serreira, malhadeira, gozeira
tainheira e caçoeira; as armadilhas, como espinhel, tapagem e curral; os de arrasto, como
arrastão e puçá; e outros como, a linha de mão, tarrafa e coleta manual. A serreira apresentou
33
maior uso pelos pescadores (20.9%), seguida do espinhel (18,9%), caçoeira (14,8%),
malhadeira (12.9%) e linha de mão (10.8%) (Figura 17).
25
%
20
15
10
5
se
m rrei
a l ra
ha
de
ta ira
in
he
ir
cu a
rr
go al
z
ta eira
pa
ge
m
lin
es ha
pi
nh
ta el
rr
ca afa
ço
ei
ra
pu
ar ça
ra
sta
o
co
le
ta
0
Figura 17: Tipos de artefatos de pesca utilizados no litoral maranhense.
Em geral, as redes de emalhar são as mais utilizadas ao longo do litoral central e leste
do estado (54,45%), como mostra a figura 18.
%
60
50
40
30
20
10
0
emalhar
armadilhas
arrasto
outros
Figura 18: As redes de emalhar como principais artefatos de pesca utilizados ao longo do litoral.
Através das respostas dos pescadores, pode-se constatar que cada tipo de artefato
pesqueiro é utilizado para pesca de espécies alvo (Tabela 2).
34
Tabela 2: Espécies alvo de peixes capturados por diferentes artefatos de pesca.
Artefato de pesca
Espécie de peixes capturados
Serreira
Peixe serra, pescada e uritinga, guaravira e enchova
Malhadeira
Pescada
gó,
peixe-pedra,
pescada,
cangatã,
corvina
e
bandeirado
Tainheira
Tainha sajuba e tainha pitiu
Curral
Pescada e camurupim
Gozeira
Pescada gó, jurupiranga
Tapagem
Tainha, bagre e baiacu
Linha
Bandeirado, uritinga e peixe-pedra
Espinhel
cangatã, bandeirado,pescada, corvina e raia
Tarrafa
Tainha e uritinga
Caçoeira
coró, bagre, curvina, serra, cavala
Puçá
Camarão
Arrastão
Camarão
Coleta manual
Caranguejo, sururu e ostra
4.2.2. Percepção dos pescadores em relação ao boto cinza
Todos os entrevistados já avistaram o boto cinza em diversas áreas no Litoral Leste do
Maranhão. De acordo com a maioria dos pescadores, S. guianensis ocorre em regiões
costeiras, mas também podem ser encontrados em estuários e alto mar (Figura 19).
100
%
80
60
40
20
0
costa
estuário
mangue
alto mar
não
responderam
Figura 19: Locais de ocorrência da espécie Sotalia guianensis de acordo com relato dos pescadores.
35
A maioria dos pescadores acreditam que, por viver no mar, o boto é um peixe, no entanto
relatam que é um peixe diferente dos outros. “O boto é um peixe sabido, ele coloca a cabeça
fora da água pra respirar. Ele é inteligente e melhor que os outros peixes”.
Quando se questiona sobre se o boto é peixe, 78,2% dizem que sim e 12,82% acham
que não (Figura 20).
100
%
80
60
40
20
0
sim
não
não
responderam
Figura 20: Posição dos pescadores com relação se o boto é um peixe ou não.
Com relação à sazonalidade propícia a avistagem dos animais, 20,5% percebem a
presença durante o verão, 37,2% no inverno e 42,3% responderam que a época do ano não
interfere na presença dos botos, podendo ser avistados o ano inteiro (Figura 21).
50
40
%
30
20
10
0
verão
inverno
qualquer época
Figura 21: Presença de Sotalia guianensis durante a época do ano.
Para a maré, 2,5% dos pescadores argumentaram avistar botos na vazante, 15,4% na
enchente, 18% na maré seca, 27% na maré cheia e 33,3% acham que a maré não influencia na
avistagem dos animais, enquanto que 3,8% dos entrevistados não responderam (Figura 22).
36
de
ra
m
ue
r
re
sp
on
nã
o
qu
al
q
ch
ei
a
se
ca
en
ch
en
te
va
za
nt
e
%
35
30
25
20
15
10
5
0
Figura 22: Relação entre a maré e avistagem de botos de acordo com o conhecimento dos pescadores.
O comportamento observado pelos pescadores do boto cinza foi descrito em 18,4%
com deslocamento, 36% com forrageio e 45,6% como atividades acima da superfície da água
(Figura 23).
50
%
40
30
20
10
0
deslocamento
forrageio
atividades
Atividades acima da
aéreas da água
superfície
comportamento
Figura 23: Comportamento dos animais descrito pelos pescadores.
O tamanho dos grupos de boto cinza observado pelos pescadores varia de 2 a 50
animais, com média de 13 (dp = ± 8,51). No entanto, a ocorrência maior é de grupos com 10
indivíduos. Os principais locais de ocorrência dos indivíduos no litoral central e leste e
maranhense, de acordo com o relato dos pescadores são: Curupu, Porto de Barbosa, Cais de
São José de Ribamar, Panaquatira e Caura na parte Central e Farol de Santana, Barra de
Areinhas, Canal do Navio, Baía de Tubarão, Rosarinho, Ilha do Arpoador, Maruim, Barra dos
Veados, Barra de Tutóia, Travosa e Atins no litoral leste (Figura 24).
37
Figura 24: Barra dos Veados, local de avistagem de Sotalia guianensis.
Contatou-se que 57,7% dos pescadores acreditam que a quantidade de botos está
aumentando nos últimos tempos, 39,7% avistavam mais antigamente e 2,5% não observaram
%
diferença (Figura 25).
70
60
50
40
30
20
10
0
aumentou
diminuiu
não variou
Figura 25: Variação da quantidade de botos ao decorrer do tempo de acordo com a percepção dos
pescadores.
Os pescadores acham que a quantidade de indivíduos tem aumentado nos últimos
tempos, porque a espécie não é alvo de pescaria comercial, portanto, ninguém captura com
finalidade de venda. Como eles pensam que é um peixe, por não haver pesca especifica para
boto, acham que o animal só tende a reproduzir e assim aparecerem cada vez mais no
ambiente. Os próprios pescadores relatavam o seguinte: “É um peixe que não se pega”,
“Porque estão se reproduzindo cada vez mais”, “Porque não tem pescaria para pegar esse
tipo de peixe”, “Porque diminui a pesca do boto”.
Por outro lado, os pescadores que perceberam que a quantidade vem diminuindo,
devem esse fato principalmente a captura acidental nas redes de pesca, argumentando que:
“Muito material de pesca atrapalha o numero de peixes”, “As pessoas matam sem querer”, “
38
Esse peixe é espantado por conta da pesca”, “As pessoas matam e usam de isca” (Relatos de
pescadores de diferentes regiões).
Dos entrevistados, 64,1% percebem interação entre o boto e a pesca (Figura 26), sendo
70
60
50
40
30
20
10
0
80
%
60
40
20
0
sim
não
não sabe
Figura 26: Interação do boto cinza com a pesca.
negativa
positiva
nenhuma
Figura 27: Tipo de interação do boto cinza com a pesca.
Muitos pescadores consideram a interação com a pesca negativa porque acham que o
boto espanta os peixes das redes e também consomem suas presas. Outros acham que a
presença do boto é positiva já que não prejudicam a pesca, tampouco interferem no consumo
das suas presas.
4.2.3. Captura acidental em redes de pesca
S. guianensis, por se distribuir em regiões costeiras onde a pesca é bastante praticada,
se torna bastante vulnerável. Na região estudada observou-se que a captura acidental em redes
de pesca é uma grande ameaça aos animais. Dos 78 entrevistados, 33 já capturaram
acidentalmente o boto cinza (Figura 28).
60
50
%
%
que 69,2 % consideram a interação positiva e 16,6% negativa (Figura 27).
40
30
20
10
0
capturou
não capturou
não respondeu
Figura 28: Captura acidental em redes de pesca no litoral maranhense.
39
De acordo com este estudo, verificou-se que a rede serreira (57,5%) apresentou maior
porcentagem de captura acidental, seguida da caçoeira (12,2%) e malhadeira (15,15%)
se
rre
i
an
zo
l
ar
pã
o
ta
in
he
ir a
es
pi
nh
m
el
al
ha
de
ira
go
ze
ira
80
60
40
20
0
ra
ca
ço
ei
ra
%
(Figura 29).
Figura 29: Porcentagem de captura acidental por cada artefato de pesca.
Os principais artefatos que ocasionam a captura acidental são as redes de espera de
emalhar que diferem uma das outras pelo tamanho da malha e o tipo de nylon. As mesmas
possuem a malha com variação entre 40 e 120 milímetros e o nylon entre 0,2 e 1,0 mm de
espessura. As redes são colocadas no mar no mínimo duas vezes por dia e retiradas após seis
horas, assim, quando o boto se emalha, fica impossibilitado de respirar e morre. Quando o
pescador vai retirar a rede, já encontra o animal morto. A intenção do pescador não é matar o
boto, muitas das vezes quando encontram um vivo na rede, devolvem ao mar, porém, o local
onde pescam geralmente é área de rota do boto, assim, o animal se torna mais suscetível.
A região do corpo em que o animal mais se emalha é a cabeça (Figura 31), e também
as nadadeiras. Quando o animal é capturado, diversos são os destinos da carcaça, 8,5% é
utilizado para isca, 34,3% para consumo humano e 57,2% dos pescadores responderam que
%
descartam o exemplar no mar (Figura 30).
70
60
50
40
30
20
10
0
descartou
alimentação
isca
Figura 30: Destino empregado na carcaça quando o animal é capturado.
40
Figura 31: Marcas de rede de pesca em um exemplar de Sotalia guianensis.
Muitas das vezes, quando o animal vem morto na rede, os pescadores retiram a carne e
utilizam para consumo próprio, e o resto da carcaça do exemplar é descartado no mar. Todos
têm conhecimento que é proibido pescar, por isso, por medo, não comercializam a carne.
Alguns utilizam a carne do boto para fazer isca para pesca de tubarão (Figura 32)
Figura 32: Captura acidental do Sotalia guianensis.
4.3. Propostas para conservação
A maioria das comunidades litorâneas maranhense sobrevive da pesca, portanto, a
uma variedade e quantidade de apetrechos por toda parte. A interação do boto com a pesca
pode ser positiva e negativa para ambos, no entanto, percebe-se que aqui, a pesca é uma
ameaça aos animais que por vezes se emalha nas redes. Porém, não é qualquer artefato capaz
de capturar o boto, apenas os que apresentam malha grande e espessa, como a serreira, por
exemplo, que neste estudo foi a que apresentou maior porcentagem de captura acidental. A
41
maioria dos pescadores tem uma visão positiva dos botos e sabem que é proibido matar.
Sabe-se que a intenção deles não é capturar o animal, mas como eles mesmos dizem: “A gente
bota a rede e deixa lá pra tirar depois de seis horas, quando a gente vai ver o bicho ta
enrolado e já ta morto, da até pena, mas a gente não tem culpa”.
O trabalho de educação ambiental é a principal proposta de conservação da espécie.
Conversando com as comunidades, pudemos propor maior conhecimento a respeito desses
animais. Com as cartilhas pode-se informar sobre a biologia, comportamento e importância da
espécie no litoral maranhense (Figura 33, A e B); esclarecer que os botos são mamíferos, que
precisam respirar fora d’água e que a pesca tem sido uma grande problema para a espécie.
Contudo, é necessário que se dê continuidade as pesquisas e principalmente nos
trabalhos de educação ambiental, a fim de promover maior conscientização e conservação dos
botos cinza no litoral maranhense.
A
B
Figura 33 (A e B): Trabalho de educação ambiental nas comunidades de pescadores.
42
5. CONCLUSÃO
a. A espécie Sotalia guianensis distribui-se no litoral leste do Maranhão principalmente
próximos à costa em locais caracterizados por serem protegidos e de águas calmas.
b. Os fatores abióticos como temperatura e turbidez da água não apresentaram variações
consideráveis durante a avistagem ou não dos botos, portanto, não foi um fator
limitante durante este estudo.
c. A profundidade mínima dos locais de avistagem foi de 4 metros e a máxima de 17
metros. Constatou-se que a profundidade é uma variável ambiental importante na
ocorrência dos botos cinza no litoral leste do Maranhão.
d. Foi registrada a presença de filhotes em todos os locais de avistagem, o que nos leva a
concluir que provavelmente seriam áreas propícias para reprodução e cuidado
parental.
e. A
presença
de
embarcações
próximas
aos
indivíduos
produz
alterações
comportamentais nos mesmos. Supõe-se que os ruídos dos motores dos barcos afastam
os botos.
f. A atividade de pesca no litoral maranhense é a principal fonte de renda para as
comunidades.
g. De acordo com o relato dos pescadores do litoral leste e central do Maranhão, a
quantidade de peixes está diminuindo e isso se deve principalmente a quantidade e
variedade de artefatos de pesca.
h. Existe uma enorme variedade de artefatos de pesca, cada uma responsável por presas
diferentes, porém, os mais utilizados no litoral maranhense são as redes de emalhar.
i. Todos os pescadores entrevistados já observaram o boto cinza ao longo do litoral
maranhense, principalmente na região costeira, denominada por eles de barras. Os
43
pescadores acreditam que os botos são peixes, no entanto percebem diferenças entre o
boto e o peixe. Denominam o boto com um “peixe esperto”.
j. De acordo com os entrevistados, a quantidade de boto cinza vem aumentando e só
tende a aumentar cada vez mais, porque “é um peixe que ninguém pega”. Por não
serem alvo de pescaria, acreditam que os animais estejam se reproduzindo mais.
k. Há interação entre o boto e a pesca, no entanto essa interação pode ser negativa ou
positiva. Alguns falam que o boto atrapalha a pesca, pois afugenta os peixes e ainda
consome as presas capturadas nas redes. Outros acham que o boto não atrapalha a
pesca e que ficam apenas se deslocando perto do barco.
l. A captura acidental de Sotalia guiansensis em redes de pesca é uma grande ameaça à
espécie e ocorre ao longo do litoral maranhense. Os artefatos que mais ocasionam a
captura acidental são as redes de emalhar, principalmente a serreira.
m. Quando o animal é capturado, diversos são os destinos empregados nas carcaças.
Alguns pescadores, por saberem que é proibido pescar esse animal, descartam a
carcaça no mar, outros consomem a carne e fazem isca para tubarão.
n. O desenvolvimento de educação ambiental a cerca da espécie em questão é de
fundamental importância no que diz respeito à conscientização e conservação de
Sotalia guianensis no Litoral do Maranhão.
o. Presume-se que a qualidade e a gestão adequada dos recursos hídricos,
particularmente da zona costeira, ofereceu condições que incrementam as funções de
alimentação, reprodução e crescimento da espécie Sotalia guianensis no litoral
maranhense.
44
6. RECOMENDAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
a) Para maior embasamento sobre a influência dos fatores abióticos como temperatura e
turbidez da água na ocorrência de Sotalia guianensis, é necessário o desenvolvimento de
pesquisas a longo prazo, em diferentes épocas do ano, quando esses fatores apresentam
variações consideráveis.
b) A continuidade do trabalho de educação ambiental é de extrema importância no que diz
respeito à conscientização dos pescadores e conservação da espécie.
c) Áreas de maior concentração da espécie, conhecida por apresentar águas calmas e
protegidas precisam ser consideradas prioritárias para a criação de Unidades de Conservação,
necessitando também a intensificação de fiscalização quanto à pesca acidental.
d) Estudos a longo prazo precisam ser desenvolvidos nas áreas de maior concentração de S.
guianensis para se avaliar o grau de residência desses animais nas respectivas áreas de
interesse.
45
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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51
ANEXOS
52
Projeto Mamíferos Marinhos do Maranhão – PROMAR
Planilha de Embarque
Data: _________ Nome da Embarcação: ___________ Tipo da embarcação:______________
N°dos pesquisadores embarcados: _______________________________________________
Hora de Início da avistagem: ____________
Término: _______________________
Avistagem em ponto fixo: S ( ) N ( )
Local: __________________________
Descrever as Condições do tempo:
Espécie : ______________________ Tamanho e composição do grupo_____ ( ) F ( ) J ( ) A
Local da avistagem: ______________________
( ) mangue
( ) costa
Coordenada _____________________
( ) alto mar
Profundidade: _______ metros
Turbidez da água: ________ metros
Outras espécies associadas:
Gaivotão ( ) Fragata ( ) Trinta-réis ( ) Peixes ( )
Descrição:
Presença de outras embarcações na área:
Pesca ( ) Comercial ( ) Turismo ( ) Particular ( )
Descrição das atividades pesqueiras próximas aos cetáceos:
Descrever o comportamento do (s) cetáceos (s)
Descrever o comportamento da embarcação em relação ao cetáceo em questão:
53
Planilha de Avistagem (PROMAR)
Data:_____/_____/______
Cobertura do
Hora
céu
Visibilidade
Condições do
Direção do
Força do vento
Mar
vento
(Beaufort)
LEGENDA
Cobertura do céu:
-Coberto -1
-Parcialmente coberto –2
-Sem nuvens -3
Visibilidade:
-Excelente - 1
-Boa - 2
-Razoável - 3
-Fraca - 4
Condições do mar:
-Liso - 1
-Com carneirinho -2
-Muito mexido –3
Direção do vento:
-Norte -1
- Sul -2
-Leste -3
-Oeste -4
Força do vento:
-Calmaria - 0
-Bafagem - 1
-Aragem - 2
-Fraco - 3
-Moderado - 4
-Fresco - 5
54
ESCALA BEAUFORT
Força Designação
0
1
2
calma
aragem
brisa leve
3
brisa fraca
4
brisa
moderada
5
6
7
brisa forte
vento fresco
vento forte
8
ventania
9
ventania
forte
10
11
12
tempestade
tempestade
violenta
furacão
m/seg
km/h
nós
0 - 0,5
0-1
0-1
Espelhado.
A fumaça sobe
verticalmente.
2-3
Mar encrespado com
pequenas rugas, com a
aparência de escamas.
A direção da aragem é
indicada pela fumaça,
mas a grimpa ainda não
reage.
4-6
Ligeiras ondulações de 30
cm (1 pé), com cristas, mas
sem arrebentação.
Sente-se o vento no
rosto, movem-se as
folhas das árvores e a
grimpa começa a
funcionar
7 - 10
Grandes ondulações de 60
cm com princípio de
arrebentação. Alguns
"carneiros".
As folhas das árvores se
agitam e as bandeiras se
desfraldam.
11 - 16
Poeira e pequenos papéis
Pequenas vagas, mais longas
soltos são levantados.
de 1,5 m, com frequentes
Movem-se os galhos das
"carneiros".
árvores.
17 - 21
Vagas moderadas de forma
Movem-se as pequenas
longa e uns 2,4 m. Muitos
árvores. Nos a água
"carneiros". Possibilidade de
começa a ondular.
alguns borrifos.
22 - 27
Assobios na fiação aérea.
Grandes vagas de até 3,6 m. Movem-se os maiores
galhos das árvores.
Muitas cristas brancas.
Guarda-chuva usado com
Probabilidade de borrifos.
dificuldade.
28 - 33
Mar grosso. Vagas de até 4,8
Movem-se as grandes
m de altura. Espuma branca
árvores. É difícil andar
de arrebentação; o vento
contra o vento.
arranca laivos de espuma.
34 - 40
Vagalhões regulares de 6 a
Quebram-se os galhos
7,5 m de altura. Faixas com
das árvores. É difícil
espuma branca e fraca
andar contra o vento.
arrebentação.
41 - 47
Vagalhões de 7,5 m com
faixas de espuma densa. O
mar rola. O borrifo começa
afetar a visibilidade.
48 - 55
Grandes vagalhões de 9 a 12
m. O vento arranca as faixas Arranca árvores e causa
de espuma; a superfície do danos na estrutura dos
mar fica toda branca. A
prédios.
visibilidade é afetada.
0,6 - 1,7
1,8 - 3,3
3,4 - 5,2
5,3 - 7,4
7,5 - 9,8
9,9 - 12,4
12,5 - 15,2
15,3 - 18,2
18,3 - 21,5
21,6 - 25,1
26,2 - 29
30 - ...
2-6
7 - 12
13 - 18
19 - 26
27 - 35
36 - 44
45 - 54
55 - 65
66 - 77
78 - 90
91 - 104
105 - ...
Aspecto do mar
Influência em terra
Danos nas partes
salientes das árvores.
Impossível andar contra
o vento.
56 - 65
vagalhões excepcionalmente
grandes, de até 13,5 m. a
Muito raramente
visibilidade é muito afetada.
observado em terra.
Navios de tamanho médio
somem no cavado das ondas.
66 - ...
Mar todo de espuma.
Espuma e respingos saturam
Grandes estragos
o ar. A visibilidade é
seriamente afetada.
55
PLANILHA ENTREVISTA PESCADORES - PROMAR
Local ______________________________________________ Data _____/____/____
Nome _______________________________________ profissão__________________
Associado a colônia
( )s
( )n
Local da pesca_______________________
O ambiente está: ( ) conservado ( ) degradado
Os recursos estão: ( ) aumentando ( ) diminuindo
Principal problema da região?____________________________________________
Pesca para: ( ) consumo próprio
( ) venda
( ) venda e consumo próprio
Tipo de barco ( ) a motor ( ) a vela
Tipo de pesca
( ) serreira
( ) gozeira
( ) malhadeira
( ) tarrafa
( ) espinhel
( ) linha
( ) puçá
( ) caçoeira
( ) coleta manual
( ) outros__________ Presa principal___________________________
Já vui boto? ( ) s
( ) n Local: ( ) mangue ( ) próximo a costa ( ) alto mar
peixe? ( ) s
O boto é
()n
Maré ( ) cheia ( ) seca
Época do ano ( ) verão
Tamanho do grupo ______
( ) inverno
comportamento ( ) for ( ) soc ( ) brinc ( ) desloc
Local de avistagem _________________ O n° de animais ( ) aumentou ( ) diminuiu
Pq_____ ___________________________ tamanho dos grupos no passado______
Interação com a pesca ? ( ) s
Capturou? ( ) s ( ) n
()n
Tipo ( ) negativa ( ) positiva
Acidentalmente ( ) s ( ) n
artefato ________________
Destino da carcaça ( ) medicamento ( ) alimentação ( ) isca ( ) descartou ( ) vivo
Região de emalhe ( ) cabeça ( ) peitorais ( ) cauda ( ) meio do corpo ( ) corpo todo
O que acha do boto? ____________________________________________________
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PLANILHA DE IDENTIFICAÇÃO DE CETÁCEOS
PROJETO MAMIFEROS MARINHOS DO MARANHÃO - PROMAR
Delphinus
Steno bredanensis
Sotalia
Tursiops truncatus
Physeter macrocephalus
Stenella clymene
Inia geoffrensis
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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - CAR-SPAW-RAC