Sociologia e Espiritismo
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Etimologia; 2.2. Objeto da Sociologia; 2.3. Natureza
da Sociologia. 3. Histórico. 4. O Positivismo de Augusto Comte. 5. Positivismo X Espiritismo.
5.1. Caráter Positivo: 5.3. Lei dos Três Estados; 5.4. O Fato Social; 5.4.1. Indissolubilidade do
Casamento. 6. Conclusão. 7. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é estudar a Sociologia, como ciência, comparando-a
com os princípios codificados por Allan Kardec. Para isso, conceituaremos o
termo sociologia, faremos um resumo histórico das principais idéias
sociológicas, relataremos o positivismo de Comte comparado ao Espiritismo e
tiraremos algumas conclusões.
2. CONCEITO
2.1. ETIMOLOGIA
A palavra sociologia é um vocábulo composto da palavra latina societas
(sociedade, socius = companheiro) e da palavra grega logos (estudo, ciência).
A sociologia é, então, a ciência da sociedade ou da associação ou do
companheirismo. Assim, a sociologia é o estudo científico das formas
fundamentais da convivência humana.
De acordo com T. M. dos Santos em seu Manual de Sociologia, a sociologia é
a ciência que tem por objeto o estudo dos fatos sociais. Para o sociólogo, a
sociedade seria um grande complexo de relações humanas ou, para usar a
linguagem mais técnica, um sistema de interação. Relaciona nesse item
dezenove definições. (1966, p. 11-15)
2.2. OBJETO DA SOCIOLOGIA
Tem como objetivo o estudo científico dos fatos sociais.
Mas o que é um fato social?
Segundo Émile Kurkheim "O fato social são todas as formas de associações
humanas e as maneiras de agir, sentir, e pensar, padronizados e socialmente
sancionadas. Em uma palavra, os modos de ser, sentir, pensar e agir comuns
aos grupos sociais". (Santos, 1966, p. 15-17)
2.3. NATUREZA DA SOCIOLOGIA
Não é uma ciência normativa. Limita-se a estudar os fatos sociais tais como
são. Quer inteirar-se de como é a sociedade e não se propõe o problema de
como deve ser. Em síntese mostra o que é a sociedade e não como deve ser.
(Santos, 1966, p. 17-19)
3. HISTÓRICO
Tanto na Antigüidade clássica quanto na Idade Média as relações sociais não
chegavam a apresentar um "problema" a ser investigado. Além do mais o deve
ser prevalecia sobre o que é.
O surgimento da Sociologia só foi possível como resposta aos abalos
provocados pela Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por
ela criadas.
Num espaço de cento e cinqüenta anos, ou seja, de Copérnico a Newton, a
ciência passou por notável progresso, mudando até mesmo a localização do
planeta terra no cosmo.
Assim, os contributos para a mudança do deve ser para o que é são:
- Nicolau Copérnico (1473-1543) desloca o centro da terra para o Sol.
- Francis Bacon (1561-1626) diz que a teologia deve ceder lugar à dúvida
metódica. Para ele a observação e a experiência ampliariam infinitamente o
poder do homem e deveriam ser estendidas e aplicadas ao estudo da
sociedade. Quis realizar experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais
sobre a sociedade.
- Vico (1668-1744) expressa que o homem produz a própria história. Apoiandose nesse ponto de vista, afirmava que a sociedade podia ser compreendida
porque, ao contrário da natureza, ela constitui obra dos próprios indivíduos.
- Montesquieu (1689-1755), iluminista, estabeleceu uma série de observações
sobre a população, o comércio, a religião, a moral, a família etc. O intuito, ao
estudar as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais
e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido,
impediam a liberdade do homem.
- Revolução Francesa (1789-1799) desorganiza o Estado tradicional.
- Pensadores franceses como Saint-Simon, Comte, Le Play e outros
concentrarão suas reflexões sobre a natureza e as conseqüências da
revolução. A tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a
nova ordem, encontrando soluções para o estado de "desorganização" então
existente. Mas para estabelecer a "ordem e a paz", pois é a esta missão que
esses pensadores se entregam, para encontrar um estado de equilíbrio na
nova sociedade, seria necessário, segundo eles, conhecer as leis que regem
os fatos sociais, instituindo, portanto, uma ciência da sociedade. (Martins,
1987, cap. I)
4. O POSITIVISMO DE AUGUSTO COMTE
É dentro desse enfoque revolucionário que surge o pensador Augusto Comte
(1798-1857), criador do vocábulo "Sociologia", pretendendo oferecer uma
coexistência pacífica entre a ordem dos conservadores e o progresso dos
revolucionários.
A criação da Sociologia tem o objetivo de separar o conhecimento da teologia e
da metafísica, dando-lhe um caráter "positivo". O sentido positivo emprestado à
nova ciência, fê-la distinta de outras, tais como a Economia, o Direito e a
Política.
Augusto Comte Utiliza-se dos métodos já elaborados pelas ciências naturais e
constrói comparativamente os fundamentos da Sociologia, estabelecendo leis
invariáveis para a sociedade, da mesma forma que a física e a química. Mostra
o que é a sociedade (ciência) e não o que deve ser (filosofia)
Estas informações estão registradas em seu Curso de Filosofia Positiva (1839).
(Martins, 1966, cap. II)
5. POSITIVISMO X ESPIRITISMO
5.1. CARÁTER POSITIVO
Positivismo: é uma doutrina que relaciona o conhecimento aos fatos
observáveis e às interdependências entre os fenômenos cuja natureza, ou
origem, deve ser aceita sem indagação. Seu objetivo era o de observar os
fenômenos históricos e deles inferir leis científicas do movimento da sociedade
correspondentes às das ciências naturais. Portanto sociologia e positivismo se
confundem.
Espiritismo: Allan Kardec, no capítulo I do livro A Gênese, mostra-nos o
caráter científico, positivo, do Espiritismo quando nos remete ao estudo da
Revelação. Faz hipóteses, observa e tira conclusões.
5.2. ORDEM E PROGRESSO
Positivismo: no campo da religião, o positivismo prega o amor como princípio,
a ordem por base e o progresso por fim.
Espiritismo: retrata tudo nas leis morais. O Cristo não nos ensinou o amor
como princípio de tudo?
Obs.: a diferença é que o positivismo encara o problema do ponto de vista
material, sem perspectiva de uma vida passada ou futura. Em sua religião da
humanidade Comte faz os mortos ensinarem os vivos, porém através dos
livros. O Espiritismo proclama a influência diária através dos Espíritos
desencarnados. (Amorim, cap. VII)
5.3. LEI DOS TRÊS ESTADOS
Positivismo: 1º) teológico ou fetichista, em que se nota a adoração de totens;
2º) metafísico ou racional, em que a inteligência já pode tentar a especulação
sobre as primeiras causas; 3º) científico ou positivo, em que não se necessita
de forças sobrenaturais, nem de deuses nem de anjos, porque dispõe de
recursos para compreender a natureza. Comte deu ênfase ao estado positivo,
mas criou o religioso, obedecendo a hierarquia católica, com a diferença que os
seus deuses são os homens célebres que se foram, tais como Sócrates,
Platão, César etc.
Espiritismo: aceita os três estados citados, mas nos diz que eles coexistem,
inclusive, numa comunidade cientifica. O que muitas vezes se nota é a
transferência de imagens. (Amorim, cap. VII)
5.4. O FATO SOCIAL
Positivismo: a Sociologia observa, formula hipóteses, experimenta e tira
conclusões dos fatos sociais. Não tem a incumbência de emitir juízos de valor.
Diz-nos como são os fatos sociais e não como devem ser.
Espiritismo: amplia a visão do fato social, quando o interrelaciona com a
palingenesia e a mediunidade. Enquanto para a Sociologia o "fato social" diz
respeito ao presente (ela não cogita de Deus nem de Espíritos), para o
Espiritismo ele tem uma dimensão cósmica, ou seja, há um entrelaçamento
entre o aqui e o agora com o ontem e o amanhã, pois tudo se encadeia na
natureza. (Pires, 1983, pág. 92)
5.4.1. INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO
Positivismo: citaria o dogma falacioso da Igreja Católica "O que Deus juntou o
homem não separe", mostrando estatisticamente o excesso de população em
algumas regiões do globo, os costumes e hábitos dos povos, algumas causas
de ordem física e na desobediência humana como elementos condicionantes
para o divórcio.
Espiritismo: explicar-nos-ia que a constituição de uma família está conectada
com "fatos" de outras existências. Não é contrário à separação dos cônjuges,
mas adverte que o divórcio deveria ser protelado o máximo possível, porque
acostumados à poligamia, deveríamos nos esforçar para automatizar os
reflexos da monogamia, entendida como uma forma mais evoluída de
relacionamento entre os casais.
6. CONCLUSÃO
O Espiritismo tendo em seu bojo a lei de evolução e do progresso, conseguirá
através dos estudos da reencarnação e da mediunidade ampliar a visão da
sociedade, pois nos indicará que as desigualdades sociais são conseqüências
do egoísmo e do orgulho humanos. Quando a humanidade estiver sintonizada
com a fraternidade universal, compreenderemos que o "fato social" tem
dimensão cósmica e como tal, refletiremos melhor em nossa ação individual,
procurando influenciar de maneira saudável o nosso próximo, o mundo que nos
rodeia e o cosmo que nos absorve.
7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMORIM, D. O Espiritismo e os Problemas Humanos. São Paulo, USE, 1985.
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo.
17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
MARTINS, C. B. O Que é Sociologia. 16. ed., São Paulo, Brasiliense, 1987
(Coleção Primeiros Passos, n.º 57)
PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo, Paidéia, 1983.
SANTOS, T. M. Manual de Sociologia - Introdução Didática ao Estudo da
Sociologia. 4. ed., São Paulo, Editora Nacional, 1966.
São Paulo, maio de 1996
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