UNIVERSIDADE VALE DO ACARAÚ- UVA
UNIVERSIDADE ABERTA VIDA - UNAVIDA
CURSO: LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
DISCIPLINA:
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
TEXTO-BASE PARA A AVALIAÇÃO ESPECIAL
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Sociologia da Educação – Texto-Base Para Prova Especial – Curso: Geografia
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
O século XIX foi um terreno fértil para a formação de uma nova ciência, que objetivava
explicar as dinâmicas das sociedades humanas contemporâneas, chamada sociologia.
A herança social, política, econômica e cultural que a sociedade ocidental recebeu a partir
das transformações da Revolução Científica (com o racionalismo cartesiano e o baconiano), do
Iluminismo, do avanço das Ciências Naturais e as revoluções políticas e econômicas ocorridas na
França e na Inglaterra nos séculos XVII, XVIII e XIX, preparou o ambiente de perplexidade,
insatisfação e desejo de intervenção na realidade que nutrirá o desenvolvimento de várias
correntes do pensamento político e científico do período.
A sociologia é uma ciência que tem como proposta pensar sobre o homem e a sua
interação, produzir conhecimento para pensar o processo social e como funciona esse processo
social, Essa construção da sociedade.
Sociedade que se faz o tempo todo, que se modifica sem parar. Também surgiu da
necessidade de se explicar os problemas sociais, as culturas existentes e as “diferenças”.
Para contextualizarmos o significado de tais transformações, podemos explicá-las uma a
uma, começando pela percepção sobre o que é o conhecimento.
 O racionalismo cartesiano foi uma inovação filosófica, resultado do esforço do filósofo
francês René Descartes (1596-1650) para estabelecer um método de pensamento que
permitisse perceber a verdade a partir da razão; é um sistema de pensamento que se
baseia na dúvida metódica e na busca da evidência, ou seja, todo conhecimento é
passível de questionamento, descarta certezas e verdades, indagando sobre aquilo que se
deseja conhecer, além de propor a decomposição analítica do "problema" em partes
isoladas, em ideias claras e distintas, filtradas pela razão - o único referencial para a
obtenção do conhecimento;
 O empirismo baconiano, criado pelo pensador inglês Francis Bacon (1561-1626), vincula o
conhecimento à experiência sensível, ou seja, só são aceitas verdades que possam ser
comprovadas pelos sentidos, rejeitando conceitos que extrapolam o mundo físico e
impossibilitam teste ou controle.
O racionalismo e o empirismo provocam uma grande revolução no conhecimento
científico, afirmando a razão como instrumento de deciframento da realidade, a dúvida
metodológica e a valorização da experiência como referenciais fundamentais, permitindo um
controle sobre o mundo físico e natural e lançando as bases para o desenvolvimento científico
dos séculos posteriores.
Em relação à filosofia política, o destaque inevitável ficaria com o Iluminismo, corrente
racionalista que surge a partir do século XVII (influência direta sobre a Revolução Francesa, entre
1789 e 1799, na qual o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade justificou a extinção dos
privilégios da nobreza e do clero e a afirmação de um Estado burguês, capitalista e liberal) e que
se fará presente nos séculos seguintes, mesclando-se, em diferentes níveis e intensidades, com
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as ideologias do Liberalismo, do Nacionalismo e do Socialismo (Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS,
1986):
 O Iluminismo defende o uso da razão como único instrumento de explicação do mundo e
diretriz para a organização social, representando os valores burgueses contra as
arbitrariedades do Absolutismo, os entraves econômicos do Mercantilismo e as
desigualdades da Sociedade Estamental; seus principais pensadores são: John Locke
(1632-1704), Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778),
ferrenhos críticos das injustiças sociais, da intolerância religiosa e dos privilégios do
Antigo Regime, e defensores da bondade natural dos homens, da liberdade de expressão
e culto, da igualdade perante a lei e da proteção contra o arbítrio;
 O Liberalismo surgiu no século XVII como uma doutrina econômica e, no século XIX,
apresentava-se como uma doutrina política, baseada na ideia do contrato social, a partir
da qual se afirma a necessidade do governo representativo (e do direito de voto), da
divisão dos poderes e do constitucionalismo, e as garantias do individualismo burguês;
 O Nacionalismo, no século XIX, questiona a legitimidade dos Impérios em contraste com a
ideia de Nação, unidade construída a partir da etnia, língua, homogeneidade de
costumes, entre outros referenciais, e é analisado por alguns autores como instrumento
político burguês para a consolidação de mercados; desempenhou um papel fundamental
na formação de nações como Alemanha e Itália, entre outras;
 O Socialismo, a partir da ideia de se construir uma sociedade igualitária, afirma-se como
valor moral que orientaria reformas sociais, nos chamados "socialistas utópicos", como
Henri de Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1832) e Robert Owen (17711858), e como projeto político de revolução proletária no socialismo científico de Karl
Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895).
A essas mudanças ideológicas e culturais se somavam enormes avanços técnicos que
culminaram com a expansão da Revolução Industrial, marca da pela utilização de novas fontes de
energia, a criação de máquinas, a divisão e especialização do trabalho, com uma nova
organização econômica local e transnacional, além da consolidação do domínio econômico da
burguesia, o surgimento do operariado e a consolidação do capitalismo como sistema dominante
na sociedade.
É dentro desse clima de intensas mudanças que se inserem o surgimento e o
desenvolvimento da doutrina positivista, criada e divulga da por Auguste Comte, que se
caracteriza como uma filosofia burguesa liberal, simultaneamente conservadora e progressista,
cujo objetivo é garantir a necessária evolução da humanidade em direção ao progresso, ao
mesmo tempo em que afirma uma ordem preestabelecida, nas quais as infrações são percebidas
como negativas.
Existem várias teorias que são utilizadas para tornar a sociedade melhor. De que forma os
educadores podem contribuir para educação, a educação está dentro da sociedade como um
todo. Para que as teorias vão servir? Como essas teorias nos ajudariam, os teóricos servirão para
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dar embasamento, para pensar na realidade atual, como responder certos problemas que estão
acontecendo.
A proposta do curso da disciplina é a interação, a troca. A teoria não serve de nada sendo
apenas teoria, ela vai deixar de ser teoria quando nós implementarmos ela na nossa prática que
é construída o tempo todo, no dia a dia, a partir da ação de cada um de nós, na prática
pedagógica, No convívio social, tudo isso e construído e reconstruído o tempo todo.
A proposta é trabalhar alguns problemas educacionais brasileiros e como será feita essa
discussão em outra ótica como um novo olhar. Ex: A democratização das escolas brasileiras,
todos têm acesso da mesma maneira? Com a mesma qualidade? Não! Por quê? A gente para e
pensa por que não é da mesma forma, se questiona do por que é diferente?
Devemos ver esse problema luz, embasado em determinadas teorias, mas além das
teorias deve haver discussões sobre os textos, as matérias que todos estão vendo.
 O papel da sociologia na realidade educacional brasileira.
 A discussão da realidade dos problemas que afetam a educação.
Outro ponto importante é entender como a sociologia passa a fazer parte da realidade da
educação brasileira, do currículo, dos cursos, tendo em vista sempre a democratização do ensino
e da sociedade. Durante as aulas será visto como se deu o processo de construção da sociologia
como ciência fundamental para se pensar em educação hoje, esse processo foi se construindo a
partir de alguns autores como:




Augusto Comte
Émile Durkheim
Kall Max
Max Weber
Esses autores trazem alguns conceitos como: poder, status, mobilidade, interação e
outros mais.
A sociologia nasce enquanto ciência como uma tentativa de explicar as mudanças sociais,
num momento de grandes mudanças sociais, marcado pela Revolução Industrial, Revolução
Francesa e a Formação dos Estados Nacionais, a chamada Modernidade.
A Sociologia da educação é uma ciência produtora de conhecimentos específicos que
levam a discussão da democratização e do papel do ensino, promovendo uma reflexão sobre a
sociedade e seus problemas relacionados à educação. Seu papel é investigar a escola enquanto
instituição social, analisando os processos sociais envolvidos, todas as mudanças ocorridas em
nossa sociedade, trouxeram mudanças para a educação.
As teorias sociológicas fornecem alguns conceitos que servirão de embasamento teórico
também para a sociologia da educação. [...] sociologia é uma disciplina potencialmente
humanista porquanto pode aumentar a área de escolha que os homens têm sobre suas ações.
Ela lhes permite localizar as fontes a que devem recorrer se quiserem mudar as coisas, e os
meios necessários, dando ao homem, dessa forma, uma base científica potencial para ação,
reforçando-o, em vez de constrangê-lo numa camisa de força do determinismo. (COULSON;
RIDDELL, 1979, p. 123).
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Os primeiros grandes sociólogos: a educação como tema e objeto de estudo
Entende-se educação como um caminho para propiciar o pleno desenvolvimento da
personalidade, das aptidões e das potencialidades, tendo como fim último o exercício pleno da
cidadania. De acordo com Tedesco (2004, p. 34), educação [...] é mais do que apenas a
transmissão de conhecimentos e a aquisição de competências valorizadas no mercado. Envolve
valores, forja o caráter, oferece orientações, cria um horizonte de sentidos compartilhados, em
suma, introduz as pessoas numa ordem moral. Por isso mesmo, também deve dar conta das
transformações que experimenta o contexto cultural imediato em que se desenvolvem as tarefas
formativas, ou seja, o contexto de sentidos e significados que permite que os sistemas
educacionais funcionem como meio de transmissão e integração culturais.
De acordo com Lakatos (1979, p. 23), a sociologia da educação “examina o campo, a
estrutura e o funcionamento da escola como instituição social e analisa os processos sociológicos
envolvidos na instituição educacional”.
Auguste Comte
Foi Auguste Comte (1798-1857) quem deu o primeiro passo e a quem é atribuído o uso,
pela primeira vez, da palavra sociologia. É de Comte também a preocupação de dotar a
sociologia de um método, preferencialmente alguma coisa bem parecida com os métodos
usados pelas ciências naturais, para que não restassem dúvidas sobre o fato de ser ela uma
ciência – a física social, como ele a definia inicialmente. Acreditava ser necessário que fossem
elaboradas leis do desenvolvimento social, isto é, leis que deveriam ser seguidas para que a vida
em sociedade fosse possível. Essa maneira de ver a sociedade (como alguma coisa passível de ser
controlada apenas por normas, regras e leis) e a sociologia (como a ciência que se encarregaria
de fornecer os instrumentos para isso), se dá no contexto do Positivismo. Comte priorizou a
noção de consenso, que se apoiaria em ideias e crenças comuns, se não a todos, ao menos à
maioria da sociedade, e na supremacia do todo sobre as partes.
Èmile Durkheim
Durkheim analisou as estruturas e instituições sociais, bem como as relações entre o
indivíduo e a sociedade, analisando as novas relações de poder que se configuravam na Europa
da sua época. Via a educação como um processo contínuo e como um caminho em direção à
ordem e à estabilidade, conforme determinados valores éticos fossem passados. Dizia também
que a sociedade é mais do que a soma de seus membros e que, portanto, deveriam ser
analisadas suas interações e o sistema que daí se originaria. Enfatiza em sua obra que o
comportamento dos grupos sociais não pode ser reduzido ao comportamento dos indivíduos que
fazem parte desse grupo. Parte da noção de fato social, isto é, a maneira de pensar, agir e sentir
de um grupo social, entendendo a sociedade como um conjunto de fatos sociais que só
poderiam ser estudados se fossem tratados como coisas. Caracterizou o fato social como sendo
comum a todos os membros da sociedade ou à sua maioria (princípio da generalidade); externo
ao indivíduo, isto é, que existe independentemente da sua vontade (princípio da exterioridade);
coercitivo, uma vez que acaba por pressionar os indivíduos para que sigam o comportamento
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esperado, estabelecido como sendo o padrão (princípio da coercitividade). Daí a possibilidade
concreta que Durkheim percebeu de se poder tratar o fato social como “coisa”. Distingue dois
tipos de sociedades, pautadas no que chamou de solidariedade mecânica e solidariedade
orgânica, dependendo da intensidade dos laços que unem os indivíduos. Para ele, [...] as
sociedades antigas apresentavam a divisão do trabalho fundamentada na solidariedade
mecânica. Nesta, cada indivíduo conseguia realizar um conjunto de atividades [...] onde havia um
pequeno número de habitantes e certa semelhança de funções [...] permitindo a um indivíduo ou
a outro executar tais ou quais tarefas devido à aproximação entre elas. (VIEIRA, 1996, p. 53). A
sociologia da educação para Durkheim seria um esforço [...] no sentido de refletir sobre os
processos da ação educativa no intento de conhecê-los, explicá-los e exprimir a sua natureza, o
que deve ser acompanhado pela observação histórica do seu processo evolutivo [...] e, tendo por
base o conhecimento científico da sociedade e da educação, é possível encontrar caminhos para
a tomada de decisões ou as reformas sociais. (TURA, 2002, p. 39)
Karl Marx
Karl Marx (1818-1883) vê a sociedade como um todo composto de várias partes, como a
economia, a política e as ideias (a cultura). Mas, para ele, a economia seria a base de toda a
organização social e as explicações para os fenômenos sociais viriam do aprofundamento da
análise econômica. Marx pensou de forma crítica sobre o Estado, que de alguma forma
legitimaria a apropriação por uma minoria dos meios de produção, com o objetivo de explorar a
força de trabalho do proletariado, classe que para Marx seria a classe revolucionária. Mas, para
tanto, a classe operária deveria conhecer a si mesma em termos teóricos, ao mesmo tempo em
que implementaria uma prática social que seria reflexo dessas escolhas conscientes. Parte da
premissa de que é em torno da produção que a sociedade se organiza, sendo o homem o sujeito
de sua própria história, a partir do trabalho e das atividades criativas que desenvolve. É pelo
trabalho, segundo Marx, que o homem se constrói e é em torno da produção que toda a
sociedade se organiza as condições de trabalho são determinantes. Entretanto, para que a
transformação se realize, a partir da atuação do proletariado, é preciso que a prática seja
orientada pela teoria. Daí a importância da sociologia para Marx.
De acordo com Costa (2005, p. 125), [...] Para Marx, a sociedade é constituída de relações
de conflito e é de sua dinâmica que surge a mudança social. Fenômenos como luta, contradição,
revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos históricos e não disfunções
sociais. A noção de classe social é fundamental na análise que Marx faz dos problemas oriundos,
a seu ver, da nova ordem instaurada pelo capitalismo, pautada, segundo ele, na exploração da
força de trabalho (classe dominante – a burguesia – sobre classe dominada – o proletariado).
Para ele, a mudança social estaria relacionada com a luta de classes e os estudos sociológicos
deveriam ter como objetivo a transformação social, que só aconteceria a partir da destruição do
capitalismo e sua substituição pelo socialismo.
O materialismo-dialético propõe exatamente que sempre se procure perceber que de um
embate, de um conflito, sempre surge alguma coisa nova e diferente daquelas que o originaram.
A maneira como as forças produtivas e as relações de trabalho estão organizadas é o que
mostraria como a sociedade se estrutura, uma vez que as forças produtivas compõem o que ele
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chamou de condições materiais de existência, constituindo-se nas mais importantes formas de
relações humanas.
Diante de tudo isso, não é difícil imaginar como Marx via o processo educativo. Não
acreditava na ideia de que a educação poderia ser a atividade que seria capaz de promover por si
mesma a transformação que a sociedade necessitaria, segundo seu ponto de vista, [...] a
atividade do educador era par te do sistema e, portanto, não podia encaminhar a superação
efetiva do modo de produção entendido como um todo. O educador não deveria nunca ser visto
como um sujeito capaz de se sobrepor à sua sociedade e capaz de encaminhar a revolução e a
criação de um novo sistema. A atividade do educador tem seus limites, porém, é atividade
humana, é práxis. É intervenção subjetiva na dinâmica pela qual a sociedade existe se
transformando. Contribui, portanto, em certa medida, para o fazer-se da história (KONDER,
2002, p. 19-20).
Max Weber
Max Weber (1864-1920) irá analisar a sociedade de seu tempo, quando o capitalismo se
consolida como modo de produção, e travará um diálogo profundo com a obra de Marx, de
quem discordará em muitos pontos. Partia do princípio de que, para entender a sociedade, era
preciso entender a ação do homem, tentando compreender, explicar e interpretar o social em
análises não valorativas, sempre considerando seu caráter dinâmico. Afasta-se de Marx ao
explicar a sociedade a partir das relações estabelecidas pelos homens no capitalismo, e não
apenas a partir da economia. Para ele, há vários grupos sociais em sociedades diferentes, com
culturas diferentes e que devem ser consideradas, inclusive na ação educativa. Não nega a luta
de classes, mas não enxerga aí todas as causas e/ou possibilidades de mudanças sociais.
Sua sociologia compreensiva tem como premissa básica que para entender a sociedade
capitalista em seus sistemas sociais e intelectuais, seria necessário compreender a ação do
homem em interação.
Pautado no recurso metodológico do tipo ideal, preocupava-se com o estudo da ação
social e da interação, vista por ele como o processo básico de constituição do ser social, da
cultura e da própria sociedade, sempre partindo de uma base teórico-metodológica consistente.
É o pioneiro nos estudos empíricos na sociologia. Base da interação social, a comunicação é um
aspecto fundamental do pensamento weberiano e exigiria a compreensão das partes envolvidas.
Na medida em que há uma aceitação das semelhanças e diferenças entre os indivíduos, e uma
certa padronização na forma de pensar e de agir a partir de valores e padrões que foram
interiorizados, tem-se o equilíbrio social, objetivo maior a ser alcançado na vida social.
Assim, o importante para Weber é entender como e por meio de que tipo de relações
sociais se mantém o modelo de sociedade e de que maneira os processos de dominação
estruturariam a vida social. Considera que os valores cultivados pelo indivíduo dizem respeito ao
seu lugar ideal na sociedade, à sua posição, e não apenas ao fato de ser ou não possuidor dos
meios de produção.
Mas, talvez, a maior contribuição de Weber esteja no fato de que ele, por meio de suas
análises da escola, trouxe para a sociologia da educação novos temas para serem discutidos,
muitos deles ainda bastante atuais, especialmente aqueles ligados com a questão da dominação
e reprodução social.
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E mesmo não produzindo uma teoria sociológica da educação, em muito contribui para a
percepção do papel e da função da educação – os sistemas escolares e a ordem burocrática e das
diferentes formas de acesso à educação; enfim o processo educativo, sua estrutura,
funcionamento e ideologia.
As teorias sociológicas e a educação
Para Gramsci, por exemplo, a cultura seria o espaço no qual se travaria a luta de classes e,
portanto, seria por meio de uma revolução cultural que se poderia mudar a estrutura da
sociedade. Destaca, então, o papel fundamental que a escola e os intelectuais exerceriam nesse
processo, estratégias para que o sucesso pudesse ser alcançado. Essa escola, que chamou de
única (e unitária do ponto de vista do conhecimento) seria frequentada tanto por operários
quanto por intelectuais, todos recebendo uma formação profissional e a cultura clássica. Esse
processo resultaria na formação do intelectual orgânico, comprometido com sua classe social e
com um saber (erudito e técnico-profissional). Acreditava que somente dessa maneira não se
teria mais a separação entre trabalho intelectual e trabalho material, possibilitando que esse
intelectual fosse promotor da mobilização política que levaria à revolução cultural que, por sua
vez, transformaria a sociedade.
Já Althusser identificava-se bastante com o marxismo, sendo, portanto, crítico do
capitalismo e engajado com as questões do seu tempo e do seu país, especialmente o maio de
19684. Concorda, mas vai além de Marx ao discutir o conflito e fazer uma conexão entre a
educação e o que chamou de aparelhos ideológicos de Estado, certos dispositivos que quando
acionados tendem a manter as classes dominantes no poder. As instituições escolares seriam um
desses aparelhos e funcionariam como aparelhos de reprodução e alienação, meios através dos
quais o Estado exerceria o controle da sociedade, sem utilizar a violência e/ou a repressão,
gerando e mantendo a reprodução social e submetendo o indivíduo à ideologia dessa classe
dominante. A escola seria, então, o aparelho ideológico mais expressivo, até em função do
tempo em que permanece “exposto” à sua influência. Quando esse processo não atinge seu
objetivo, isto é, controlar os indivíduos, “modelando-os” para a vida em sociedade, entraria em
ação. Um dos aparelhos repressivos do Estado é a polícia, feita, entre outras coisas, para conter
qualquer manifestação de descontentamento e/ou resistência ao sistema. Na sua disciplina ou
na sua prática pedagógica, já notou ideias e/ou atitudes preconceituosas? Como você lida com
essas situações? Pense nisso!
A Sociologia da Educação no Brasil
Enquanto, na Europa, o Positivismo justificava as atitudes da burguesia, referido na ideia
do progresso retilíneo da humanidade, no continente americano essas ideias traziam no bojo
discussões de forte caráter político. No Brasil, as ideias de cunho positivista, liberal e
evolucionista se fortaleceram nas cidades, devido principalmente à “identificação” que as
camadas letradas tinham com essas correntes políticas, sociais e filosóficas. Cabe lembrar que
elas se difundiram, aqui, de maneira um tanto distinta do modelo europeu.
No Brasil, tais doutrinas tiveram aceitação entre os políticos republicanos. Entre os nomes
de reconhecimento nacional e que eram adeptos dessas ideias, destacamos Benjamin Constant,
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fundador da Escola Normal do Rio de Janeiro e professor da Escola Militar, o qual ensinou as
bases do positivismo a jovens oficiais. Estes, posteriormente, iriam lutar pela instituição da
República Brasileira.
Você se lembra do que está escrito no centro da bandeira brasileira?
Caso tenha respondido Ordem e Progresso, acertou!
E sabe qual a relação deste lema com o que estamos discutindo aqui?
Talvez você já esteja imaginando, não é?
Pois bem, a célebre frase que se encontra no centro de nossa bandeira nacional é um
lema inspirado nas ideias positivistas, relacionadas ao mito do progresso. E você sabe por que “o
mito do progresso” era uma ideia “perigosa”? Porque, a partir desta concepção, se estabelece a
ideia de evolução contínua da sociedade e da humanidade, e nós sabemos que a realidade não é
bem assim. Afinal, em prol deste suposto progresso e / ou evolução, têm sido justificadas muitas
ações desastrosas e, por que não dizer catastróficas, empreendidas por poucos sobre muitos.
Como exemplo disto, aponto o genocídio de indígenas por toda a América e o massacre do povo
judeu durante a Segunda Guerra Mundial.
A nossa bandeira, com o seu lema, atesta a intensa repercussão da doutrina positivista na
política e sociedade brasileira. Dominando o pensamento das classes mais abastadas, o
Positivismo repercutiu em diversos setores da sociedade: na educação, propondo uma
reestruturação do ensino; na política, a separação entre a Igreja e o Estado; e, na religião, a
liberdade de cultos. Influenciou, também, a mocidade intelectual que, então, passava a adotar
um foco mais científico do que literário sobre temas específicos ou gerais, e começava a se
preocupar mais efetivamente com estudos de caráter social, sob a égide não só desta teoria, mas
também das teorias liberais e evolucionistas.
Deste modo, podemos perceber que, constituídas o fundamento para a solução de
problemas através do método científico, as ideias positivistas, liberais e evolucionistas passaram
a ser discutidas abertamente nos âmbitos político e científico.
A bem da verdade, este foi um processo desencadeado no Brasil a partir da segunda
metade do século XIX, e que se acentuou diante de alterações no cenário econômico e político,
com repercussão, inclusive, nas áreas de atuação das elites intelectuais nacionais.
Foi, também, neste clima que os estudos sociais nas universidades de Direito do Recife e
de São Paulo começaram a se delinear.
Preocupados em estabelecer um “código nacional”, os estudantes da faculdade de São
Paulo adotaram, em sua maioria, os modelos liberais de análise, enquanto que, no Recife,
predominava o social-darwinismo.
No Brasil do final do século XIX e início do século XX, muitas eram as perguntas que
instigavam os diversos grupos de intelectuais. Perguntas do tipo O que é o Brasil? E Como é a
sociedade brasileira? Levaram muitos estudiosos a se preocuparem em compreender as relações
e a composição da sociedade daquele momento.
De início, temos em Machado de Assis e Euclides da Cunha importantes pensadores
sociais. Enquanto o primeiro retratava as relações sociais urbanas em obras como Esaú e Jacó, o
segundo voltava seu olhar para questões sociais do Brasil rural - um exemplo é o seu clássico Os
Sertões, em que relata o trágico episódio de Canudos.
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Posteriormente, outros estudiosos foram surgindo como representantes do pensamento
social brasileiro, entre eles Sérgio Buarque de Holanda, com a obra Raízes do Brasil, e Caio Prado
Junior, com História Econômica do Brasil, ambos seguidores de diferentes concepções teóricas.
Cabe assinalar a importância de Anísio Teixeira, educador de grande expressão não apenas por
pensar a questão educacional brasileira, mas por propor mudanças no sistema de ensino público
nacional; e, ainda, Fernando Azevedo, um dos idealizadores do ensino público e laico no Brasil.
Na primeira metade do século XX, um outro nome teve grande destaque no contexto dos
estudos sociológicos e se tornou um dos grandes expoentes da sociologia brasileira: trata-se de
Florestan Fernandes, com obras importantes como Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada.
Bem, até aqui você conseguiu relembrar alguns aspectos do surgimento da Sociologia
enquanto ciência e a sua inserção no contexto político e social brasileiro. Convido-o (a) a dar
continuidade a seus estudos, descobrindo nas próximas seções um pouco mais sobre esta ciência
e a sua relação com a educação.
Paulo Freire e a educação
Quando se fala em educação popular no Brasil, não podemos deixar de referir Paulo
Freire, um dos grandes educadores da atualidade não só aqui, mas no mundo, e que se tornou
referência, graças à sua prática e experiência, ao pensar a sociedade brasileira e a educação.
Paulo Freire era cristão, e de seu cristianismo vinha parte de suas inspirações e ações
enquanto educador. Oriundas do cristianismo, mas embasadas em uma teologia libertadora,
suas práticas estavam constantemente preocupadas com o contraste entre a pobreza e a riqueza
no Brasil, riqueza esta que resultava em privilégios sociais e desigualdades entre os mais pobres.
Escreveu inúmeras obras que ajudaram e ajudam os educadores a pensar
constantemente a educação e a sociedade brasileira. Tais obras têm como característica a
relação entre a teoria e a prática, relação esta que sempre deve levar em conta a realidade do
aluno.
Paulo Freire se entendia e entendia os sujeitos como seres humanos em construção,
construção que se daria por meio da constante busca de conhecimento.
Partindo do princípio de que vivemos em uma sociedade dividida em classes e que uma
tem privilégios sobre as outras, considerava que “a vocação humana de ser mais só se concretiza
pelo acesso aos bens culturais [...]”, e que, entre esses bens culturais, está à educação, à qual,
geralmente, grande parte da população, principalmente de países do chamado “Terceiro
Mundo”, não tem acesso. Para ele, haveria dois tipos de pedagogia: “a pedagogia dos
dominantes, na qual a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido –
tarefa a ser realizada -, na qual a educação surge como prática da liberdade” (ARANHA, 2001, p.
207).
Sua “pedagogia problematizadora”, como ele mesmo a classificava, estava voltada à
alfabetização de adultos e era a expressão da sua crença no poder libertador pela consciência e
pelo conhecimento. Acreditava ele que o homem tem vocação para ser sujeito ativo e
participativo e não, mero objeto da história. “Libertar o homem do povo de seu habitual
mutismo era a missão e a motivação para a mobilização pedagógica política que deu vida ao
método de Freire” (BOMENY, 2001, p.59). Esta concepção problematizadora da educação
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considera que conhecer deve ser um processo estabelecido no contato do homem com o mundo
vivido: um processo dinâmico e em contínua transformação.
Temos de ter claro que, de acordo com o posicionamento filosófico, o método pensado
por Freire não poderia ser reduzido a mera técnica de alfabetização, bem como, os educadores
não deveriam ser compreendidos como os “sabidos” que já saberiam de antemão o que tratar e
trabalhar com os educandos.
Precisava-se, acima de tudo, ter consciência das diferenças regionais e culturais que
caracterizam o Brasil. Em decorrência, “as cartilhas” teriam de ser rejeitadas, pois acabavam, na
maioria das vezes, tratando de assuntos bastante distantes da realidade vivida pelo estudante.
Dentro desta ótica, os educadores deveriam superar a postura autoritária e estar abertos ao
diálogo, procurando ouvir os educandos.
Diferentemente de métodos meramente técnicos de alfabetização, Paulo Freire pensou
num método construído com base na ideia de um diálogo entre educador e educando. A partir
dessa ideia, tal método não poderia se apoiar em materiais já prontos, como cartazes, cartilhas,
cadernos de exercício, que trouxessem de seu mundo (educador) um material e uma fala
distante da realidade do educando. Sendo assim, esse método partia do pressuposto de que
ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação deveria ser um ato coletivo,
solidário e de amor, nunca imposta, uma vez que educar deveria constituir uma tarefa de troca e
jamais realizada por um sujeito isolado: “até a autoeducação é um diálogo à distância”.
(BRANDÃO, 2001, p. 22).
Você já parou para pensar como seria para um operário adulto, depois de uma longa
jornada de trabalho, chegar a uma sala de aula e ter que repetir as seguintes frases:
Eva viu a uva.
A ave é do Ivo.
Ivo vai na roça.
Percebe?
Pois bem: Freire pensava que a educação não poderia ser resultado do depósito de
conhecimento de quem supostamente possui todo o saber, sobre aquele que foi obrigado a
pensar que não possui nenhum saber. A partir do exposto, acreditava ser necessário fazer o que
ele chamava de levantamento do universo vocabular, com o intuito de escolher palavras
geradoras, as quais variavam conforme o local ou a região. Por exemplo: numa região de
Pernambuco, as palavras escolhidas foram tijolo, voto, siri, palha, doença, emprego, mangue...
Já, em favelas do Rio de Janeiro, seriam chuva, terreno, comida, batuque, trabalho, salário,
governo... Então, a partir deste universo vocabular pertencente à realidade do educando, dar-seia início a um processo de alfabetização voltado à leitura não só das palavras, mas também do
entendimento delas dentro do seu mundo.
Neste sentido, o processo educacional seria baseado num diálogo de constante troca, em
que o educador não é mais aquele que apenas educa, mas aquele que é educado enquanto
educa. Emana deste processo, assim, um conhecimento crítico e reflexivo que possibilita aos
envolvidos posicionarem-se de forma política, a fim de transformar o mundo.
Apesar de ter sido um educador que contribuiu para alterar o pensamento acerca de
metodologias de ensino e, sobretudo, da educação, Freire sofreu muitas críticas: dos católicos
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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Sociologia da Educação – Texto-Base Para Prova Especial – Curso: Geografia
conservadores, por se utilizar dos pensamentos marxistas para orientar suas ações; de
intelectuais esquerdistas, que o acusavam de sucumbir ao nacional-desenvolvimentismo; e, por
fim, dos que diziam ser sua “pedagogia” demasiado espontaneísta, e não, diretiva. Sobretudo, é
inegável a sua contribuição à educação e o seu compromisso com a transformação do indivíduo
apto a empreender uma transformação social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2001.
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Janeiro: Zahar, 1979.
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TEDESCO, J.C. (Org.). Educação e novas tecnologias: esperança ou incertezas. São Paulo: Cortez;
Buenos Ayres: Instituto Internacional de Planeamiento de la Educación; Brasília: UNESCO, 2004.
Cite dois aspectos que foram fundamentais para a constituição do pensamento sociológico no mundo e
no Brasil.
A partir do que você estudou, desenvolva um pequeno texto dissertando sobre aspectos importantes da
proposta pedagógica de Paulo Freire.
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