Cidade de Tessalônica
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
1 e 2 TESSALONICENSES
1. A cidade de Tessalônica
Tessalônica foi fundada em 315 aEC por Cassandro, general de
Alexandre Magno, no lugar de uma antiga vila chamada Thermas. Para
habitar a nova cidade, Cassandro transferiu a população de muitas
pequenas vilas do Golfo Termaico.
A nova cidade recebeu o nome em homenagem à sua mulher,
Thessalonike, irmã de Alexandre Magno, portanto, filha de Felipe II da
Macedônia. Thessalonike tinha nascido no dia da vitória de seu pai
sobre os tessálios em 353 aEC. Tessalônica, de fato, significa “vitória
dos tessálios”.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
A cidade de Tessalônica ocupava um lugar privilegiado e
estratégico no mar Egeu. Estava situada no fértil vale do rio
Vadar, protegida ao norte pelas montanhas Khortiatis e aberta
ao sul para o golfo Termaico. Seu porto era um dos mais
movimentados do mar Egeu. Distava 150 km de Filipos pela
via Egnatia que colocava em contato com a região do Épiro de
um lado e com o Bósforo de outro.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Na época de Paulo era, no dizer de Strabão, “a metrópole da Macedônia a mais populosa cidade”. O escritor romano Cícero, que se exilou ali de
maio a novembro de 58, escreveu: “Tessalônica está situada no meio do
nosso império” (as Atticum 3,19). O poeta Antípatro (50 aEC - 25 dC)
nela nascido, a celebra como “Mãe de toda a Macedônia”.
Em 168 aEC, os romanos conquistaram a Macedônia e a transformaram
em Província Romana. Em 146 aEC, Tessalônica tornou-se a capital da
Província Imperial da Macedônia. Nela, morava, o procônsul romano,
representante do imperador. Após a batalha de Filipos em 42 aEC,
obteve de Augusto o título de “cidade livre”. Era administrada por uma
assembléia popular eleita anualmente pela população e por magistrados
chamados “politarcos”. Como era costume na época, somente os
cidadãos nascidos em Tessalônica tomavam parte na vida democrática
da cidade. Os pobres, escravos, libertos e estrangeiros domiciliados
(metecos) estavam excluídos da organização da cidade.
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No tempo de Paulo, Tessalônica era uma cidade de segunda
grandeza no império, pouco menor que Alexandria do Egito,
Antioquia da Síria, Corinto, Éfeso, Cartago e Lião nas Gálias.Sua
população era formada por grande número de romanos e gregos,
e caracterizada por fortes contrastes políticos-sociais. De um lado
os comerciantes e armadores vindos de todas as partes do
império, com todos os direitos e de outro a grande massa de
pobres. Os escravos eram quase a metade da população. Havia
também uma numerosa e influente colônia judia, com sua
própria organização, com sinagoga, tribunal e conselho de
anciãos e o privilégio de “religião lícita”.No campo religioso,
havia em Tessalônica, como nas outra grandes cidades do
Império Romano, um grande sincretismo religioso.
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Tessalônica
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
A deusa principal da cidade era Nike – a deusa da vitória.
Havia ainda templos dedicados a Zeus ou Júpiter – pai de
todos os deuses; Netuno ou Posseidon – deus do mar; Ísis e
Osíres – deuses do Egito e outros. Um dos principais cultos era
o de Dionísio – Baco, um dos cultos de mistério com fortes
ligações com a vida pós-morte. De fato, uma das tribos
deslocadas por Cassandro na fundação de Tessalônica,
chamava-se Tribos Dionisias. As moedas da cidade traziam a
esfinge desse deus.
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O culto do imperador também ocupava um lugar importante.
Tessalônica se orgulhava com o título de Neókoros, concedido
somente às cidades que tinham permissão de construir templos ao
imperador. O culto ao imperador era um modo de conservar o
privilégio de cidade livre. Os judeus sabiam disso e acusaram
Paulo e seus companheiros de propor um outro rei – Jesus (At
17,7).
Durante a conquista turca, a cidade passou a ser chamada
Salônica, mas a partir de 1937 retomou seu antigo nome de
Tessalônica.
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2. A Evangelização
A permanência de Paulo na cidade não foi muito longa. At 17,2
fala de apenas três semanas. Mas as cartas deixam supor alguns
meses, de tal modo que Paulo teve tempo de aplicar-se a um
trabalho manual e material para assegurar sua sobrevivência
(lTs 2,9) e, ao mesmo tempo, constituir uma comunidade
bastante numerosa e formada sobretudo de pagãos convertidos
(lTs 2,10) e com uma certa "organização" (1Ts 5,12-13). Quanto à
classe social dos cristãos, At 17,4 fala de “damas da sociedade” e
1Ts 4,11 fala em “ganhar o sustento com as próprias mãos”.
Baseados nesses textos, os exegetas falam de uma mínima
percentagem de membros da classe média e alta e a grande parte
de trabalhadores manuais, isto e, escravos, artesãos e pessoal do
porto.
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Como era seu costume, Paulo dirigiu-se, em primeiro lugar, aos
judeus e por três sábados ensinou na sinagoga (At 17,2). Sua
pregação teve certo sucesso (At 17,4). Mas uma insurreição de
judeus invejosos (At 17,5-10) obrigou Paulo e seus companheiros a
abandonar a cidade, indo para Beréia (At 17–10 ) e depois para
Atenas (At 17,15ss).
De Atenas, Paulo enviou Timóteo a Tessalônica (lTs 3,1) para
sustentar a jovem Igreja. Parece que era desejo seu ir pessoalmente
à Tessalônica, outra vez. Mas algo que desconhecemos atrapalhou
seus planos.
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Durante sua permanência em Tessalônica, os judeus,
provavelmente incitaram os pagãos contra Paulo e contra os
neo-convertidos. Sua partida da cidade não foi suficiente para
serenar os ânimos. Os cristãos eram ainda objeto de calúnias
por parte dos judeus (lTs 3,6-10). Assim na impossibilidade de
ir pessoalmente, Paulo enviou Timóteo. Nesse ínterim, Paulo
partiu de Atenas, onde sua mensagem não foi bem recebida,
para Corinto, onde Timóteo o encontrara no seu regresso de
Tessalônica.
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3. As Cartas
Segundo At 18,5 e lTs 3,6 as duas cartas foram escritas durante a
permanência de Paulo em Corinto, pelo ano 50/51, durante a sua segunda
viagem missionária.
a) A primeira carta é fruto da descrição, feita por Timóteo, da situação da
jovem Igreja.
Esta Carta não é somente a primeira em ordem de tempo, mas também o
primeiro escrito do Novo Testamento. No que se refere ao essencial da vida
cristã, as notícias eram boas. Os cristãos de Tessalônica permaneciam firmes
na fé, esperança e caridade. Sua fé tinha sido aprofundada por causa das
dificuldades e das provas encontradas (cf. lTs 1,3; 3,6-8). No entanto, a
comunidade não tinha entendido bem a doutrina sobre a Parusia, e se
preocupava pela sorte de seus membros mortos antes da vinda de Cristo
(4,13). Isso gerava desvios morais, angústias, tristezas e até ociosidade
Assim a carta de Paulo tem duplo objetivo:
- um encorajamento da fé dos cristãos e uma ação de graças por sua
operosidade (1–3);
- corrigir os desvios que surgiram na comunidade, sobretudo no que se
refere à sorte dos mortos na ressurreição e sobre a segunda vinda de Cristo
(4,13–5,10)..
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b) Os estudiosos que defendem que a segunda carta
também é de autoria do Apóstolo Paulo, afirmam que ela
foi escrita, provavelmente, alguns meses depois da primeira
Carta e praticamente tem o mesmo objetivo. Talvez as
palavras de Paulo “nós os que estivermos vivos...” em lTs
4,15 tenham motivado ainda mais a preocupação de uma
parusia iminente. O Apóstolo procura desfazer tais idéias
descrevendo os sinais que precederão a vinda de Cristo (2,112) e exortando todos a se dedicarem ao trabalho (3,10-12).
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4. Estrutura das Cartas
1Tessalonicenses – É dividida em
duas partes:
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
1,1
1,2 – 3,13
Endereço
1ª parte: Agradecimentos e recordações
1,2-3 → agradecimento pela fé, caridade
e esperança dos Tessalonicenses;
1,4-10 → ampliação do agradecimento: a
resposta dos Tessalonicenses â pregação de
Paulo;
2,1-12 → Paulo retoma o agradecimento:
a pregação de Paulo em Tessalônica;
2,13-16 → confirmação do
agradecimento: a resposta dos
Tessalonicenses ao anúncio evangélico;
2,17–3,5 → o tempo do afastamento: não
podendo ficar em Tessalônica, Paulo
enviou Timóteo;
3,6-13 → retomada do agradecimento:
Timóteo retornou trazendo boas notícias.
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É uma grande ação de graças pela realidade
da Igreja de Tessalônica. É quase uma
crônica emocionante, mas cheia de gratidão a
Deus. Paulo lembra a sua expulsão de
Filipos, o encontro com os tessalonicenses, a
acolhida do anuncio do Evangelho, o período
transcorrido na cidade, as dificuldades suas e
dos cristãos, a viagem de Timóteo e as boas
notícias recebidas. E termina com uma oração
para que Senhor faça crescer sempre mais os
tessalonicenses no amor e na conduta
irreprovável.
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2ª parte: Exortações e vários ensinamentos:
4,1-2 Introdução
4,3-8 → a busca da santidade no amor;
4,9-12 → o amor fraterno;
4,13-18 → o destino daqueles que morreram;
5,1-11 → os tempos e o momento do fim;
5,12-13 → os responsáveis da comunidade;
5,14-22 → exortações conclusivas.
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Na primeira parte se nota a presença do binômio “nós-vós”. O
“nós” dos missionários e o “vós” dos tessalonicenses. Isso mostra
a indiscutível comunhão que unia Paulo e seus companheiros à
comunidade de Tessalônica. O nexo dessa união é a aceitação do
anúncio de Jesus morto e ressuscitado. A participação nesse fato
cria a união entre os evangelizadores e os evangelizados. Essa
união se dá pela palavra acolhida e anunciada, a mesma fé e
esperança. Nasce assim uma nova união. Basta notar o freqüente
uso do termo “irmãos” na carta (14 vezes).
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Na segunda parte, prevalece os motivos de exortação,
encorajamento, instrução (4,10ss; 5,12). Aqui Paulo se
mostra como guia da comunidade. Fala com decisão,
segurança e autoridade. Usa verbos no imperativo. Mas
não se trata de uma exposição fria de princípios morais.
Paulo fala ao coração e procura convencer. Percebe-se a
consciência que Paulo tem de sua própria vocação
apostólica.
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2 Tessalonicenses:
1,1-2
Endereço
1,3-12
Agradecimento e intercessão
1,3-5 → Fé e amor mútuo dos tessalonicenses;
1,6-7 → Punição dos perseguidores;
1,11-12 → Oração pela comunidade de Tessalônica
2,1-12
A vinda do Senhor (Parusia)
2,1-2 → O dia do Senhor não é eminente;
2,3-5 → O fim será precedido da manifestação do
homem ímpio;
2,6-7 → Esta será porém impedida de um
misterioso obstáculo;
2,8-12 → Destruição do homem ímpio com todos os
seus adeptos.
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2,13 – 3,15
Exortação
2,13-17→ Novo agradecimento
a Deus e exortação a manter as
tradições;
3,1-5→ Solicitação de orações;
3,6-15→ Repreensão àqueles
que se comportam de modo
indisciplinado.
3,16-18
Saudação final
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
5. Mensagem:
Alguns pontos importantes que podemos concluir das
duas cartas:
a) Temos aqui exemplo do que era o kerigma
missionário, onde já se pode perceber um sentido
trinitário do anúncio. Insiste-se na adesão ao único e
verdadeiro Deus.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
b) Pelas Cartas se pode perceber também as dificuldades
encontradas, os primeiros problemas que surgiram nas
comunidades e o modo como o Apóstolo tentou resolvê-los.
c) O Evangelho é verdadeiramente “Palavra de Deus” (2,13).
A 1Ts é o primeiro escrito do NT. Esta Carta não é
endereçada a pessoas, mas a uma Igreja (1,1). É o novo Israel
que Deus amou e escolheu (1,4; 2Ts 1,11).
d) É interessante a preocupação com a Parusia e a
Escatologia e as soluções propostos por Paulo.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
e) Na comunidade percebe-se já a existência de alguns
ministérios, a quem Paulo recomenda o respeito (1Ts
5,12). Porém, todos são instrumentos na mão de Deus
(1Ts 4,9) e devem se ajudar mutuamente (1Ts 5,14).
f) A oração é importante para o bem da comunidade,
que tem também os dons do Espírito (carismas). Os
cristãos devem ter o discernimento, porém não devem
apagar o Espírito e não devem desprezar as Profecias
(1Ts 5,19-21).
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
g) Os cristãos devem esperar com paciência à vinda de Cristo,
portanto, devem trabalhar e inserir-se na vida social, ganhando o pão
de cada dia com o trabalho (cf. 2Ts 3,5-15). A história humana
prossegue o seu curso, sem que possamos estabelecer a data do seu
fim.
i) Os temas trabalhados nestas duas Cartas permanecem atuais. O
anúncio da palavra é sempre novo. “Por esta razão é que sem cessar
agradecemos a Deus por terdes acolhido sua Palavra, que vos
pregamos não como palavra humana, mas como na verdade é, a
Palavra de Deus que produz frutos em vós, os fiéis” (1Ts 2,13). De
outra parte, muitos são os que hoje anunciam a Palavra com fins
enganosos, anunciam ainda o “fim do mundo” (por ignorância ou
com objetivos econômicos), enganando multidões. Palavra de Deus é
palavra que produz a vida e não o medo!
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Créditos
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Coordenação geral da Produção: Irmã Bernadete Boff, fsp
Texto: Padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Arte do power point: Irmã Matilde Aparecida Alves, fsp
Irmã Ivonete Kurten,fsp
Bianca Russo
Fotos: Arquivo Paulinas – Proibida a reprodução e cópia de
imagens - Direitos reservados
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1 e 2 Tessalonicenses