Caderno de comunicação na escola: da ideia à ação
Elaine Cristina Paixão da Silva*
Denise Pereira Silva*
*fonoaudiólogas da Secretaria de Educação de São Bernardo do Campo
Eixo temático: Relato de experiência e comunicação alternativa
Palavras- chave: escola, inclusão, comunicação
Resumo
O presente trabalho objetiva relatar como temos buscado favorecer o relato de
situações vividas, a partir do uso do caderno de comunicação (CC), por
crianças que possuem dificuldades acentuadas de comunicação. A escola é
um ambiente privilegiado para o desenvolvimento da linguagem em função de
possibilidades infinitas de interação e diálogo, mas é comum a criança com
distúrbio severo de comunicação ficar à margem nas situações de interlocução.
Na ausência da fala devemos ampliar as oportunidades de expressão
valorizando e significando vocalizações, gestos, uso dos objetos ou até mesmo
a realização de deslocamentos que a criança faz para poder se expressar.
Além disso, é necessário o uso de recursos de tecnologia assistiva que
permitam repertoriar e organizar as formas de comunicação, caso contrário a
criança pode assumir o lugar de quem não tem nada a dizer. Todos
educadores da comunidade escolar precisam atuar conscientes do seu papel
de mediadores para o desenvolvimento de linguagem das crianças. É
importante que em diferentes situações comunicativas as crianças tenham
oportunidade de dizer e de usar sua expressão inclusive para organizar seu
próprio pensamento. Essa aprendizagem requer a ação do outro como parceiro
mais experiente que viabiliza o uso de tecnologias e realiza mediações para
dar voz às crianças. Buscando eliminar barreiras aprimorando os contextos de
comunicação e a participação nas atividades, passamos a indicar o uso de
diversos recursos, entre eles: as pranchas temáticas; o caderno de
comunicação, o chaveiro e a carteira de comunicação. Um dos recursos que
apresentou resultado bastante positivo foi o caderno de comunicação. Durante
7 anos demos orientação sobre o uso desse caderno nas Escolas Municipais
de Educação Básica da rede regular de ensino, no município de São Bernardo
do Campo, no estado de São Paulo. Durante esse período o uso do Caderno
de Comunicação foi abordado nas escolas como um recurso de tecnologia
assistiva que possibilitava ampliar a participação do aluno com acentuadas
dificuldades de comunicação nas situações de conversação. Analisamos: as
diversas maneiras de mediar o uso desse recurso para favorecer a
comunicação do aluno com diferentes interlocutores dentro e fora da escola;
as diferentes possibilidades para mobilizar que o aluno participe da realização
dos registros; a viabilidade do uso do Caderno de Comunicação comente na
escola, caso a família não viesse a efetivar o uso desse recurso etc. Quando
iniciamos o trabalho com o caderno de comunicação orientávamos que pais e
professora da sala registrassem experiências significativas vividas pelo aluno
com dificuldade acentuada de comunicação, através do emprego de signos
imagéticos (fotos, desenhos, elementos da natureza, etc.)
e de um texto
escrito. Atualmente, organizamos em forma de apostila, todas as orientações
para o trabalho com esse recurso, tais como a estrutura do caderno: página
inicial – apresenta uma síntese de como esse recurso pode ser utilizado;
pranchas temáticas anexas - para favorecer o trabalho com o relato de
situações vividas - (fotos de pessoas com quem a criança convive; fotos ou
ilustrações referentes aos locais que ela mais frequenta, desenhos que fazem
alusão aos sentimentos e emoções), registro em forma de texto - informações
necessárias na produção desse texto, etc. O estudo sobre o Caderno de
Comunicação ocorreu durante as observações em contexto escolar e nas
reuniões com famílias, equipe gestora da escola, professor regente, professor
do Atendimento Educacional Especializado e nas indicações feitas pelos
próprios alunos . Como resultado, observamos que os alunos com dificuldades
acentuadas de comunicação passaram a participar com mais freqüência das
rodas de conversa, realizando o relato de situações vividas. Os momentos
livres de conversa, também foram favorecidos, pois os demais alunos da
classe, seguindo os modelos de conversação oferecidos pelos professores,
passaram a buscar mais diálogo com o colega que apresentava impedimentos
na comunicação e vice versa. Vale ressaltar, que o uso das pranchas temáticas
atrelado ao uso do caderno de comunicação e a formação constante com
professores e pais, favoreceram o processo comunicativo como um todo. O uso
desse recurso permitiu aumentar as possibilidades de diálogo entre a criança
que apresenta dificuldade na comunicação oral e seus interlocutores. Quando
usado como disparador de conversa favoreceu o estreitamento de vínculos, até
mesmo no período de adaptação/ transição de um trabalho (escolar, clínico,
com um cuidador, etc.). Além disso, o Caderno de Comunicação pôde propiciar
maior parceria entre família, escola, clínica, etc. Concluímos que o
fonoaudiólogo escolar tem um papel importante no que se refere às leituras de
necessidades dos interlocutores para indicação e aprimoramento de recursos
da tecnologia assistiva e para a formação dos diferentes interlocutores para a
viabilidade da comunicação com alunos que apresentam dificuldade acentuada
de comunicação.
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