Engenharia de Produção
Engenharia de Produção:
rumo ao sistema de “produção limpa”
A
decisão por um determinado curso
universitário está cada vez mais
difícil. Antigamente a escolha levava
em consideração a chamada “vocação”
e a orientação familiar, resumindose em eliminar aquelas áreas em
que se tinha menos aptidão. Como a
variedade de cursos em oferta era bem
menor, a escolha quase sempre recaía
naqueles chamados clássicos. Fora das
universidades públicas, alguns cursos
eram financeiramente inviáveis para a
maioria das pessoas, como Engenharia
e Medicina, só para citar dois dos mais
conhecidos e prestigiados. Atualmente,
com a ampliação da oferta de cursos, ao
se optar pela Engenharia, por exemplo, o
estudante passa a ter como alternativas
cerca de 50 diferentes habilitações,
que vão desde aquelas tradicionais,
como a Engenharia Civil e Mecânica, até
as habilitações mais recentes como a
Engenharia Mecatrônica (junção entre
mecânica, eletrônica e informática), a
Engenharia de Petróleo (enfoque em
geologia, química e física), Engenharia
Ambiental (multidisciplinar) e a
Engenharia de Produção.
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Devido a esta grande variedade de habilitações
no ramo da Engenharia, muitos alunos, talvez a
maioria, iniciam um curso sem saber exatamente a
qual delas seu perfil melhor se adapta ou que tipo
de atividade ele vai exercer quando formado. Porém
a questão principal com que os alunos deveriam
se preocupar é: “Quais os conhecimentos e competências que eu devo adquirir para exercer uma
atividade profissional que me traga prazer no dia a
dia, e que, além disso, me proporcione o padrão de
vida que eu desejo?”.
A seguir, busca-se mostrar um pouco do que é
a Engenharia de Produção para diminuir dúvidas
daqueles que têm interesse nessa área, aproveitando
para destacar a evolução da indústria automobilística, que acaba de completar um século desde o
primeiro modelo fabricado na Ford, em Detroit,
desta que é considerada “a máquina que mudou o
mundo”.
O QUE É ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Fugindo das definições mais formais, pode-se dizer
que Engenharia de Produção busca criar, desenvolver
e aplicar conhecimento científico e tecnológico para
solução de problemas de desempenho de sistemas
produtivos de bens e serviços, englobando questões
de natureza estratégica, tática e operacional das
empresas e organizações em geral. Para tanto, são
adotados critérios como produtividade, qualidade,
rapidez, flexibilidade e confiabilidade, considerando
fatores técnicos, econômicos, humanos, ambientais e
sociais. Nesse sentido, a Engenharia de Produção, ao
considerar tanto o ponto de vista do produto como
o do mercado, lida com problemas de como colocar
o produto certo, no lugar certo, na hora solicitada e
com a qualidade e preço que o consumidor, cliente
ou usuário esteja disposto a pagar. Essa é a filosofia
Just in Time, desenvolvida pela Toyota desde a década
de 60 e que tem se expandido por todos os tipos de
negócio.
ORIGENS DA ENGENHARIA
DE PRODUÇÃO
A Engenharia de Produção é derivada da chamada Engenharia Industrial do início do século passado, quando pioneiros, como Frederick Taylor, desenvolveram
estudos sobre o aumento da produtividade e métodos
de redução de tempos e movimentos dos operários
A decisão por um determinado curso
universitário está cada vez mais difícil.
Antigamente a escolha levava em
consideração a chamada “vocação”
e a orientação familiar
na fabricação de peças. Taylor, apesar de ser considerado o “pai da administração” era de fato engenheiro. Os métodos desenvolvidos por ele foram
posteriormente aplicados em larga escala na indústria automobilística por Henry Ford, que introduzindo o sistema de Produção em Massa através do
conceito de linha de montagem seriada, reduziu os
custos de produção, elevando de maneira fantástica
as taxas de produtividade e, principalmente, seus
lucros. Antes, os carros eram produzidos apenas de
forma artesanal, na Europa, pelos pioneiros Emile
Levassor e Gottlieb Daimler, este último, fundador
da Mercedes-Benz.
O primeiro automóvel fabricado pela Ford foi o
Modelo A, em 1903, bem simples e com motor de
dois cilindros sob o banco do motorista. Seguindo
a ordem alfabética, vieram modelos cada vez mais
aprimorados, até a chegada daquele que mudaria
o mundo: o Modelo T, em 1908 (Foto 1). Comparando a um modelo atual de automóvel (Foto 2),
podemos perceber a evolução fantástica da indústria automobilística desde o primeiro modelo produzido em série, através deste produto que é hoje
um verdadeiro ícone da capacidade do homem em
criar tecnologia.
A idéia de Ford era fazer um carro simples e
resistente, que muitos pudessem comprar, mas o
“pulo do gato” aconteceu em 1913, quando o processo de produção foi reformulado. As peças passaram a seguir por esteiras rolantes e cada operário fazia um trabalho repetitivo instalando sempre
componentes do mesmo tipo (padronização), num
determinado tempo. Nascia então a chamada “linha
de montagem ou “linha de produção”.
Desde então, a Engenharia de Produção teve
progressivamente seu foco ampliado e aprofundado, devido ao aumento da complexidade dos problemas, ampliação dos mercados e ao próprio processo concorrencial.
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O conceito de linha de montagem ainda hoje
é utilizado (ver Foto 3), contudo, através de sistemas organizacionais modernos, com trabalhadores
executando diversas funções, o que exige alta qualificação e treinamento para operar sistemas computacionais e robôs cada vez mais complexos, dentro
das chamadas “células de produção” (ver Foto 4).
Foto 1 – Ford Modelo T, que mudou o mundo
TÉCNICAS E MÉTODOS DO ENGENHEIRO
DE PRODUÇÃO
Diferentemente de outras engenharias, em que a habilitação profissional fica vinculada a um ramo industrial (naval, civil, petróleo etc) ou a uma área técnica
dentro de uma empresa (química, elétrica, mecânica,
etc), com tendência à especialização com foco cada
vez específico, a Engenharia de Produção busca aliar
conhecimentos da engenharia tradicional a conceitos
de gestão empresarial e métodos matemáticos avançados, envolvendo administração, economia e tecnologia da informação, para que o profissional adquira
uma visão global do negócio da empresa, com competência para entender, aplicar e desenvolver métodos
e ferramentas para melhorar o desempenho ao longo
de toda a cadeia produtiva de produtos e serviços de
uma empresa. Pode-se dizer que as principais técnicas e métodos estudados e aperfeiçoados na Engenharia de Produção surgiram de três fontes principais:
(i) a indústria automobilística (controle estatístico
do processo, qualidade total, just in time, projeto e
produção auxiliados por computador - CAD/CAM
etc); (ii) o meio militar (programação matemática,
logística, planejamento estratégico, planejamento e
de projetos - PERT/CPM etc), e; (iii) empresas e
institutos de alta tecnologia (sistemas de informações
empresariais - ERP, lógica nebulosa (fuzzy logic), algoritmos genéticos etc).
Foto 2 – Exemplo de automóvel moderno
Foto 3 - Linha de produção atual
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Foto 4 - Linha de produção atual
‘‘A decisão por um determinado curso universitário
está cada vez mais difícil. Antigamente a escolha
levava em consideração a chamada vocação e a
orientação familiar’’
PORQUE CURSAR ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A Engenharia de Produção teve uma verdadeira explosão
na oferta de cursos nos últimos dois anos. Dados de
sites especializados (ver, por exemplo, www.abepro.
org.br e www.mec.gov.br) dão conta de cerca de 100
cursos oferecidos por instituições em todo o Brasil.
Reportagens recentes de revistas como Exame, Isto É
e Veja, e de jornais como Folha de São Paulo, apontam a
Engenharia de Produção como a Engenharia com as melhores perspectivas de mercado de trabalho, juntamente
com Agroindustrial, Telecomunicações e de Materiais.
Em grandes universidades (como, por exemplo, na
UFRJ), Engenharia de Produção é um dos cursos mais
disputados no vestibular. Situação semelhante ocorre em
muitas outras universidades do país, como se verifica
nos Estados de São Paulo e Paraná.
Os cursos de Engenharia de Produção mais
tradicionais foram criados a partir de alguma outra
modalidade da Engenharia já existente na Universidade, pela disponibilidade interna de laboratórios e
competência de professores de cursos anteriormente
existentes. Esse processo deu origem a cursos híbridos
como Produção Mecânica, Produção Elétrica, Produção Química e Produção Civil, por exemplo, comuns
em universidades paulistas. Por outro lado, algumas
instituições privilegiam características externas,
como a demanda de atividades econômicas regionais
e locais específicas. Por exemplo, na PUC do Paraná,
um dos cursos mais procurados é o de Engenharia de
Produção Agroindustrial, formado com o propósito
de suprir a demanda de formação técnica em nível
superior dessa forte atividade econômica da região.
Contudo, atualmente a tendência é a criação de cursos
de Engenharia de Produção plena ou “pura”, levando-se
em consideração tanto aspectos de capacidade interna
de oferta da universidade como a demanda regional
de setores econômicos, porém através de ênfases ao
final do curso e disciplinas optativas, sem vinculação
explícita no nome do curso.
O crescimento da Engenharia de Produção tem
ocorrido também fora dos grandes centros. Na esteira
do crescimento da indústria do petróleo e gás, a
cidade de Campos, por exemplo, se tornou o principal pólo universitário do estado do Rio, passando
por um verdadeiro boom de novos cursos de Engenharia de Produção. Atualmente, cinco instituições
oferecem o curso nível de graduação, além de um
em nível de mestrado e doutorado. A tendência é
que em breve todos estejam recomendados pelo
MEC, tornando a cidade além de um pólo universitário, um centro de excelência na Engenharia de
Produção. Para isso é necessário não só ensino, mas
também pesquisa. Nesse sentido é importante que
as instituições locais atentem para a necessidade de
investimento na formação de núcleos de pesquisa e
passem a prestigiar professores pesquisadores, pois
o conceito de “Universidade” só se sustenta com
base no tripé Ensino, Extensão e Pesquisa. Esse é o
principal fator a diferenciar uma Universidade de
um Centro de Ensino.
RUMO A UM SISTEMA DE “PRODUÇÃO LIMPA”
Por fim, pode-se afirmar que o curso de Engenharia
de Produção se coloca como um dos que mais abre
portas no mercado de trabalho atual, por capacitar
o aluno a tratar de forma abrangente as questões
fundamentais para a sobrevivência das empresas,
como a otimização de processos e a qualidade dos
produtos, de forma a agregar valor à cadeia logística
das empresas e dos negócios, considerando não só
aspetos econômicos, mas também os ambientais e
humanos.
Desse modo, todo o profissional deve ter em
mente que a qualidade de vida das gerações futuras
depende, sobretudo, da forma como tratamos os
recursos naturais do planeta e de como produzimos
hoje. Portanto, a tendência atual é chamada “produção limpa”, baseada em conceitos e princípios
ambientalmente sustentáveis.
Sebastião Décio Coimbra de Souza
Doutor em Engenharia de Produção e Professor da
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
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