TRABALHAR OU NÃO COM CONTEÚDOS DE EVOLUÇÃO? O DILEMA ENTRE
O COMO, O ONDE E O QUANTO
Álvaro Luis Freitas Coelho (Graduado em Ciências Biológicas – Licenciatura)
Christiano Franco Verola (Professor da Universidade Federal do Ceará)
INTRODUÇÃO
A teoria da Evolução Biológica é tratada como o eixo unificador da ciência da
Biologia (GASTAL, 2009). Sua relevância para o ensino nas escolas deve ser levada em
consideração, pois sem seu entendimento a disciplina de Biologia seria apenas uma coleção
de fatos e fenômenos sem conexão (MIANUTTI, 2010).
A compreensão dos mecanismos que regem o processo evolutivo necessita de um
conjunto de conhecimentos parciais de outras áreas, que auxiliam na obtenção de respostas
sobre o surgimento da biodiversidade e as semelhanças e diferenças entre os seres vivos
(OLEQUES, 2010). Para que tais mecanismos e a diversidade de seres vivos possam ser
compreendidos, faz-se necessário que as disciplinas biológicas sejam íntegras e coesas,
considerando-se o aspecto evolutivo (MIANUTTI, 2010).
A Evolução Biológica também é a teoria mais mal compreendida no contexto social
e escolar, neste último tanto por professores quanto por alunos (OLEQUES, 2010). Acreditase que existem barreiras para o entendimento da teoria que não estão ligados à capacidade do
professor ou as habilidades do aluno, mas sim ao contexto em que vivem, suas explicações
metafísicas, concepções históricas e à forma como este conteúdo é transmitido (OLEQUES,
2010).
Fatores como adaptação biológica e seleção natural são indispensáveis76yhn nas
explicações para o surgimento da diversidade existente (ALMEIDA, 2010). O MEC, através
dos PCN’s, afirma que tais conceitos são complicados e que é necessária a criação de
situações onde os alunos relacionem estes conceitos com outros conhecimentos (OLIVEIRA,
2010). Tal atividade pode ser desenvolvida junto a professores em formação inicial ou
continuada, garantindo maior domínio do conteúdo, sanando dificuldades e concepções
errôneas no processo de ensino (OLIVEIRA, 2010).
Estudos sobre ensino de Evolução demonstram equívocos na interpretação de
processos evolutivos por professores e alunos, evidenciados através dos conceitos
apresentados pelos mesmos (ALMEIDA, 2005). Problemas no aprendizado e ensino de
conteúdos ligados a Evolução, decorrem de falhas de interpretação de conceitos, derivadas de
problemas da formação docente, levando à desarticulação entre as disciplinas específicas de
biologia e da área pedagógica (MIANUTTI, 2010) além de materiais didáticos defasados e o
envolvimento de questões religiosas (OLIVEIRA, 2010).
Faz-se necessário formar professores autônomos, capazes de questionar sobre suas
ações e criar alternativas para suas ações pedagógicas (GOEDERT, 2004). Professores que
compreendam os fundamentos científicos e revelem uma visão ampla dos saberes
(OLIVERIA, 2010), tendo familiaridade com os processos e produtos da pesquisa científica e
analisar criticamente suas atividades (SANTOS 2002). Promover constantes conflitos
cognitivos seria o primeiro passo para uma reestruturação das ideias do individuo
(MIANUTTI, 2010)
Este trabalho busca esclarecer se o professor trabalha tal conteúdo em sala de aula e a
forma como este trabalho ocorre, além das formas de avaliação, do tempo disponível para o
trabalho, as meios de atualização do professor e o espaço escolar disponível para tais
atividades.
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado em quatro escolas públicas estaduais da cidade de
Fortaleza/CE com professores de biologia do ensino médio durante o primeiro semestre de
2012. Através de questionários, buscou-se obter dados sobre o trabalho realizado pelo
professor em sala de aula através da apresentação, ou não, do conteúdo de Evolução
Biológica, categorizando o trabalho docente em relação: i - a forma como este trabalha o
conteúdo e avalia o aprendizado dos alunos; ii - qual o tempo disponível para apresentação do
conteúdo; iii - os meios pelos quais o professor mantém-se atualizado sobre o tema e o espaço
escolar por ele utilizado para trabalhar o conteúdo. Vale ressaltar que, em alguns itens da
terceira parte, permitiu-se que o professor marcasse mais de uma alternativa.
RESULTADOS
Sobre o trabalho em sala de aula, 75% dos professores responderam que trabalham o
conteúdo, 18,75% que trabalham parcialmente e 6,25% que não. Sobre a forma com que
trabalham o conteúdo em sala de aula, a maioria respondeu que preferem trabalhar com
exposição do conteúdo (32%), seguido da apresentação de filmes (22%) e seminários (18%).
Sobre os métodos de avaliação de desempenho dos alunos, provas convencionais
ocupam o primeiro lugar (40,5%), seguido de trabalhos em grupo (29,7%), trabalhos
individuais (21,6%) e outros tipos de atividades como participação em sala, entre outros
(8,1%).
O tempo disponível para trabalhar o conteúdo com os alunos variou, onde 31,25%
dispõe de uma semana ou menos, 25% dispõe de mais de 4 semanas, 12,5% dispõe de 3 ou 4
semanas e 12,5% que não responderam. Dos espaços escolares mais utilizados, os mais
votados foram: sala de aula (36,6%), sala de vídeo (26,8%) e laboratório de informática
(17%).
Por último, foi questionado aos professores quais são suas principais fontes de
atualização para o tema Evolução Biológica. Das alternativas propostas, os itens mais
frequentes foram: livros de ensino superior (25,9%), seguido de livros de ensino médio
(22,2%), revistas e sites da internet (18,5%).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais que muitos indivíduos tenham afirmado trabalhar o conteúdo de evolução
em sala, basta verificar o tempo disponível para notar que não há como todo este trabalho ser
realizado, em algumas poucas aulas (MIANUTTI, 2010). Os PCN’s recomendam que
Evolução deve ser trabalhada de forma contínua e contextualizada, interagindo com a
realidade do aluno (MIANUTTI, 2010). Não deve subtender-se que aqueles que tenham entre
três e quatro semanas para trabalhar o conteúdo, ministrem o conteúdo de acordo com as
propostas dos PCN’s, pois o tempo aplicado não traz um diferencial muito grande se não
estiver atrelado a aulas que estimulem a curiosidade científica dos alunos (OLIVEIRA, 2010;
MIANUTTI 2010).
O formato das aulas, também é de grande importância para o bom aprendizado por
parte dos alunos. Como evolução é um tema polêmico e controverso no ambiente escolar
(DIAS, 2009), faz-se necessário que os professores busquem formas de conectar exposição do
conteúdo (aulas expositivas, vídeos e seminários) com outras formas onde os alunos sejam
mais participativos (OLIVEIRA, 2010).
A avaliação do aprendizado sempre foi algo bastante controverso. Como muitos
professores se mostraram adeptos das avaliações/provas convencionais, é interessante a
introdução de modelos de questões onde um determinado problema ou situação seja
apresentado para que o aluno mostre uma solução plausível para o problema (MIANUTTI,
2010). Atividades em grupo também são de grande importância, pois exploram outras
habilidades dos alunos (OLIVEIRA, 2010). Elaborar métodos de avaliação é uma atividade
bastante difícil, ainda mais quando tem que lidar com diversas outras atividades no ambiente
escolar, o que torna o trabalho muito desgastante para o professor (GASTAL, 2009;
MIANUTTI, 2010). Por isto, muitos professores acabam por realizar avaliações que tornem
seu trabalho mais rápido e menos desgastante.
A utilização de espaços escolares não convencionais para jogos e práticas do
conteúdo de evolução, pode trazer bons resultados ao aprendizado dos alunos (OLIVEIRA,
2010). O desenvolvimento e planejamento de tais atividades demanda muito tempo, logo
muitos professores acabam por optar por espaços mais tradicionais de ensino (MIANUTTI,
2010).
É importante que o professor possa manter seu conteúdo atualizado frente aos
avanços científicos, tornando sua aula mais dinâmica e atrativa aos alunos (OLIVEIRA,
2010). Porém, deve-se tomar cuidado com possíveis equívocos na compreensão dos
conteúdos para que não sejam transmitidas informações equivocadas, além de tomar os
devidos cuidados com a escolha dos materiais para atualização (OLIVEIRA, 2010).
REFERÊNCIAS
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DIAS, Fernanda Malta Guimarães; BORTOLOZZI, Jehud. COMO A EVOLUÇÃO
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GASTAL, Maria Luiza et al. PROGRESSO, ADAPTAÇÃO E TELEOLOGIA EM
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Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Florianópolis, n. , p.1-12, 08 nov.
2009.
GOEDERT, Lidiane. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA NA UFSC E O
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MIANUTTI, João; BASTOS, Fernando. O ESTUDO DE OBRAS CLÁSSICAS DO
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OLEQUES, Luciane Carvalho; BÔER, Noemi; BARTHOLOMEI-SANTOS, Marlise
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OLIVEIRA, Roni Ivan Rocha de; GASTAL, Maria Luíza de Araújo. FORMAÇÃO
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RIDLEY, Mark. EVOLUÇÃO. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. 752 p.
SANTOS, Charles Morphy Dias; CALOR, Adolfo Ricardo. ENSINO DE BIOLOGIA
EVOLUTIVA UTILIZANDO A ESTRUTURA CONCEITUAL DA SISTEMÁTICA
FILOGENÉTICA - II. Ciência & Ensino, Fortaleza, v. 2, n. 1, p.1-12, dez. 2007.
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