BALANÇO HÍDRICO NAS PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS
DO ESTADO DE SERGIPE EM 1999
Inajá Francisco de Sousa
Agrometeorologista, M.Sc., Professor do DEA/UFS - [email protected]
Overland Amaral Costa
Geógrafo climatologista da Superintendência de Recursos Hídricos - SE - [email protected]
A.O. AGUIAR NETTO,
Engenheiro Agrônomo, Profº.Dr. do DEA/UFS - arguiar @infonet.com.br
A.L.S. NETO
Aluno de graduação do de Engenharia Agronômica - [email protected]
RESUMO
Neste trabalho foi realizado o balanço hídrico mensal utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather, 1955, com base na
precipitação e temperatura do ar referentes ao ano de 1999, para as seis bacias hidrográficas do Estado de Sergipe. Os
resultados obtidos mostraram que a deficiência hídrica, ocorreu principalmente durante os meses de novembro a abril
em praticamente todas as bacias; neste período normalmente as precipitações são baixas, enquanto que a
evapotranspiração potencial foi bastante significativa. Entretanto no período considerado chuvoso no Estado de
Sergipe (maio a agosto) todas as bacias hidrográficas apresentaram armazenamento expressivo tendo em vista a
ocorrência de precipitação bem acima da média climatológica.
Palavras-chave: Balanço hídrico, Bacias hidrográficas, Precipitação
INTRODUÇÃO
Bacias hidrográficas são proporções de terras banhadas por uma rede hidrográfica ou fluvial a qual é
constituída pelo conjunto do rio principal e seus afluentes; o rio principal de uma rede fluvial é que dá nome ä sua
bacia hidrográfica.
A bacia hidrográfica é considerada como unidade funcional, onde a estrutura integra os vários elementos do
sistema, no qual as condições climáticas surgem como fornecedores de calor e umidade (Christofoletti, 1990).
Nas estratégias de gestão e planejamento dos recursos hídricos, torna-se essencial considerar os efeitos
climáticos e a variabilidade climática, variabilidade pluviométrica para tomadas de decisões em questões concernentes
ao armazenamento, demanda de água e para os diversos usos.
O comportamento irregular das precipitações em intensidade e distribuição determina o clima do Estado. De
acordo com a classificação climática de Koppen, há duas zonas: uma de clima chuvoso com verão seco (AS'), que
abrange 50% do Estado e outra de clima muito quente Semi-árido (BSsh'), caracterizando as extremidades de noroeste
e sudoeste, conhecida como Polígono das Secas (Atlas de Sergipe - SEPLANTEC/FIBGE, 1979).
1434
A ação do clima nessa condição de irregularidade pluviométrica repercute maciçamente na capacidade hídrica
da bacia hidrográfica e na atividade agrícola, uma vez que as mesmas abastecem os grandes centros urbanos e a
agricultura é uma das principais fontes de renda do Estado. Outro aspecto importante é o comportamento da elevada
taxa de evaporação presente na Região Nordeste do Brasil, contribuindo para perdas totais ou parciais de safras,
racionamento de água, causando sérios problemas sócios-econômicos.
As análises do balanço hídrico por bacia hidrográfica, permitem avaliar os níveis de excedente ou déficit
hídrico fornecendo indicadores para gestão e manejo dos recursos hídricos.
O Estado de Sergipe é drenado por seis bacias hidrográficas, mostradas na Figura 1, a saber: bacia do rio São
Francisco, que além de drenar o Estado de Sergipe, drena a Bahia, Alagoas, Pernambuco e Minas Gerais; bacia do rio
Japaratuba, genuinamente sergipana, é a menor do Estado; bacia do rio Sergipe é considerada a mais importante para o
Estado uma vez que engloba as regiões Centro-Norte e Cotinguiba, áreas produtoras de cereais, cana-de-açúcar e
criação de gado; a bacia do rio Vaza Barris é também importante pois banha a região Centro-Sul do Estado, onde
localizam-se produtores de fumo e criadores de gado; bacia do rio Piauí, e a bacia do rio Real; cujo regime hídrico
depende basicamente da precipitação..
Este trabalho teve como objetivos estudar o comportamento da precipitação pluvial ao longo de cada bacia
hidrográfica, com base na rede de pluviômetros e analisar o balanço hídrico proposto por THORNTHWAITE e
MATHER (1955), para o ano de 1999.
Figura 1 - Bacias Hidrográficas do Estado de Sergipe.
1435
METODOLOGIA
Foram utilizados dados mensais de precipitação e de temperatura do ar, da rede de coleta pertencente a
Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe – EMDAGRO e da Companhia de Desenvolvimento de
Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – COHIDRO e Centro de Pesquisas Espaciais de Sergipe - CEPES/CODISE,
referentes ao ano de 1999. Mensalmente foram analisados mapas de precipitação e os campos de desvios em relação a
média climatológica.
O comportamento hídrico das bacias (déficit ou acréscimo) foi determinado a partir das precipitações médias
nas bacias hidrográficas calculadas com base nos dados pluviométricos dos postos pluviométricos pertencentes a cada
bacia hidrográfica (Tabela 1) através do método de Thiessen, em seguida foi utilizado o balanço hídrico proposto por
THORNTHWAITER e MATHER (1955).
Tabela 1 - Municípios onde estão localizados os postos pluviométricos
BACIA
MUNICIPIOS
ÁREA DE INFLUÊNCIA (Km2 )
C. do São Francisco
866.00
Porto da Folha
727.00
Poço Redondo
1285.00
Aquidabã
457.00
Propriá
549.00
Rio São Francisco Itabi
430.00
2
7184.00 Km
Nossa Sra. de Lourdes
248.00
Neópolis
1006.00
Gararu
204.00
Monte Alegre
1300.00
Nossa Sra. da Glória
112.00
Rio Japaratuba
1840.00 Km2
Rio Sergipe
3270.01 Km2
Rio Vaza Barris
3050.00 Km2
Rio Piauí
4150.00 Km2
Rio Real
2500.05 Km2
Japaratuba
Capela
Nossa Sra. das Dores
Aracaju
Carira
Malhador
Itabaiana
Ribeirópolis
Nossa Sra. Aparecida
Maruim
Itaporanga d’Ajuda
São Cristóvão
Frei Paulo
Arauá
Boquim
Estância
Pedrinhas
Itabaianinha
Lagarto
Riachão do Dantas
Simão Dias
Umbaúba
Salgado
Poço Verde
Tobias Barreto
Tomar do Geru
Cristinápolis
1436
487.40
867.80
474.80
285.54
576.12
560.08
151.58
512.75
783.25
400.69
851.49
626.54
1571.97
251.72
323.58
490.14
208.78
149.96
558.06
439.87
499.39
364.82
863.68
764.33
963.27
263.05
499.40
RESULTADOS
Observando as Figuras 2 a 7, percebe-se que durante os meses de janeiro a abril a precipitação mensal
observada se comportou abaixo da média climatológica. Neste período foram constatadas deficiênciaa hídricas na
maioria das bacias hidrográficas com variação entre 80 a 100 mm; a evapotranspiração potencial apresentou valores
significativos entre 100 a 140 mm.
Em cada Figura do balanço hídrico existe uma legenda com o seguinte significado: precipitação observada
mensal durante o ano de 1999; precipitação normal ao longo de cada bacia, baseada numa série de 30 anos;
evapostranspiração potencial (ETp); armazenamento de água (Arm); evapotranspiração real (Evr) e deficiência hídrica
(Def). . As (ETp), (Evr) e (Def), foram determinadas através do balanço hídrico proposto por THORNTHWAITE e
MATHER, 1955.
No período considerado chuvoso do Estado (maio a agosto), foram verificados que todas as bacias
hidrográficas apresentaram acréscimo hídrico em decorrência das precipitações que se situaram acima da média
climatológica;, neste período, praticamente não se observou deficiência hídrica. O armazenamento durante este
período foi bem marcante em todas as bacias hidrográficas, variando entre 100 a 140 mm.
As precipitações mensais com magnitude significativas ocorreram nas seguintes bacias hidrográficas: bacia do
Rio Real nos meses de maio e agosto com valores de 180 e 170 mm; a bacia do Rio Sergipe apresentou valor
expressivo em maio com magnitude de 300 mm; bacia do Rio São Francisco em setembro com 340 mm; na bacia do
Rio Piauí foram observados valores expressivos nos meses de maio e agosto com 270 e 240mm; na bacia Vaza Barris
os meses de maio e outubro apresentaram os seguintes valores expressivos na ordem de 360 e 440 mm
respectivamente.
200
190
180
170
160
150
140
130
120
110
100
90
80
70
340
60
320
50
300
40
30
280
20
260
10
240
0
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
DEF(mm)
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
220
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
200
DEF(mm)
180
Figura
160 2 - Balanço hídrico utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather 1955, para a bacia
do
Rio Real. (Lat: 10º 42' a 11º 33' 54"S; Long: 37º 22' 42" a 38º 15' W.Grw.)
140
120
100
80
60
40
20
0
1437
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 3 - Balanço hídrico para a Bacia do Rio Sergipe utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather 1955, (Lat: 10º
07' 30" a 11º 02' 12"S; Long: 36º 51' 12" a 37º 47' 48" W.Grw.)
380
360
340
320
300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
DEF(mm)
Jan Fev Mar Abr
Mai Jun
Jul
Ago Set Out Nov Dez
Figura 4 - Balanço hídrico utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather 1955, para a bacia
do Rio São Francisco. (Lat: 09º 30' a 10º 37' 54"S; Long: 36º 23' 30" a 38º 02' 42" W.Grw)
320
300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
DEF(mm)
Jan Fev Mar Abr
Mai Jun
Jul
Ago Set Out Nov Dez
Figura 5 - Balanço hídrico utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather 1955, para a Bacia do Rio Japaratuba. (Lat:
10º 13' 42" a 10º 44' 18"S; Long: 36º 42' 06" a 37º 18' W.Grw)
1438
300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
DEF(mm)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 6 - Balanço hídrico para a bacia do Rio Piauí utilizando o modelo de Thornthwaite-Mather, 1995. (Lat: 10º 41' a
11º 29' 12"S; Long: 37º 12' 42" a 37º 56' 42" W.Grw.)
500
480
460
440
420
400
380
360
340
320
300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Prec. Obs.(mm)
Prec. Normal(mm)
EVP(mm)
ARM(mm)
EVR(mm)
DEF(mm)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 7 - Balanço hídrico da Bacia do Rio Vaza Barris, utilizando o modelo de Thornthwite-Mather 1955. (Lat: 10º
21' 48" a 11] 13' 30"S; Long: 37º 04' 54" a 37º 51' 30" W.Grw.)
1439
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CHRISTOFOLETTI, A.A. A aplicação da abordagem em sistemas na geografia física. Revista Brasileira de
Geografia. Rio de Janeiro, V. 52, nº 2, p. 21-35, 1990.
TUBELIS, A. Meteorologia Descritiva, Ed. Nobel S.A. São Paulo 1984.
THORNTHWAITE, C.W. Approach toward a rational classification of climate. Geographical Review, 38 (1)
p.p. 55-94, 1948.
THORNTHWAITE, C.W. and MATHER, J.R. The water balance, publication in climatology laboratory of
climatology, 8 (1) p.p. 1- 104, 1955.
1440
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