FORAMINÍFEROS DO TALUDE SUPERIOR DA COSTA NORTE DO ESTADO
DE SERGIPE
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Oliveira, M. R. ; Gueiros, F. B. ; Guimarães, C. R. P.
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Graduando do curso de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia – UFS, [email protected]
Graduando do curso de Ciências Biológicas, Departamento de Biologia – UFS, [email protected]
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Departamento de Biologia, Núcleo de Ecossistemas Costeiros – UFS, [email protected]
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RESUMO
A plataforma continental de Sergipe é estreita, rasa e apresenta o talude bastante próximo da
costa. A região do talude carece de estudos no Brasil, acarretando uma lacuna no conhecimento
da biodiversidade desta área. Foram realizadas amostragens na região superior do talude
continental de Sergipe em 2007, na porção mais ao norte do Estado e separadas para análise
amostras de três estações. Foi utilizado um busca fundo tipo van Veen para as amostragens e o
material foi fixado em formol a 10%. O trabalho teve como objetivo verificar a composição da fauna
de macroforaminíferos e relacioná-la a alguns parâmetros sedimentológicos analisados. Foi
coletado um total de 29.909 indivíduos, distribuídos por 17 famílias; a diversidade da região pode
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ser considerada média (2,72 bits.ind ) e apresenta uma equitatividade também média (0,66).
Palavras-chave: Macroforaminífero, sedimento, biodiversidade.
INTRODUÇÃO
A plataforma continental representa a extensão submersa dos continentes. Normalmente
apresenta gradientes suaves, inferiores a 1:1000, se estendendo desde a linha da praia até uma
região na qual há um aumento pronunciado da declividade, chamada de quebra da plataforma
continental (BATISTA NETO & SILVA, 2004), que dá inicio ao talude continental.
A plataforma continental nordestina é caracterizada por sua reduzida largura, pouca
profundidade e predominância de sedimentos carbonáticos (COUTINHO, 1981) e apresenta o
talude mais abrupto do Atlântico (SHEPARD, 1973).
Características sedimentares são responsáveis pela instalação de determinadas espécies
bem como pelas adaptações morfológicas e fisiológicas dos organismos bentônicos, incluindo os
foraminíferos” (JOHNSON apud ANDRADE, 1997).
Foraminíferos são protoctistas bentônicos ou planctônicos que vivem, predominantemente,
em ambientes marinhos. Possuem variadas formas de tecas compostas por uma ou várias
câmaras que se intercomunicam através do forâmen. A composição dessas carapaças (carbonato
de cálcio, sílica, partículas orgânicas ou do sedimento), além de outras características como o
hábito bentônico ou planctônico, o tipo de enrolamento das câmaras e a ocorrência no tempo
geológico, são fatores que auxiliam na taxonomia dos grupos (CARVALHO, 2004). Suas testas
são adicionadas ao sedimento após a morte dos organismos tornando-se elementos integrantes do
sedimento, e se comportando como grãos sedimentares (MARTIN, 1986).
Objetiva-se com este estudo identificar a diversidade de foraminíferos presentes em três
pontos diferentes do talude superior de Sergipe além de analisar a relação Foraminífero-sedimento
nesta área.
MATERIAIS E MÉTODO
Foram realizadas coletas no litoral norte da costa de Sergipe, em Janeiro de 2007, em três
regiões do talude superior, numa profundidade no entorno de 100m (74 a 121m), com um buscafundo tipo van Veen. A estação “A” se encontra a aproximadamente 17 km da costa (10 37,66 S;
36 21,74 W), a estação “B” a 38 km (10 54,01 S; 36 31,27 W) e, a estação “C” a 35 km (10 55,23 S;
36 49,92 W). As amostras biológicas coletadas foram fixadas com formol a 10% contendo rosa-de-
bengala e etiquetadas. Em laboratório foram lavadas sobre peneira de 500µ e triadas sob
microscópio estereoscópico, separando-se os foraminíferos do restante do material, e calculados
os parâmetros ecológicos.
Figura 1- Localização das estações de amostragem no talude da Costa de Sergipe.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foi identificado um total de 29.909 indivíduos pertencentes a 17 famílias algumas
tipicamente bentônicas e algumas planctônicas: Amphisteginidae, Textulariidae, Lituolidae,
Rotaliidae, Siphoninidae, Globorotaliidae, Hauerinidae, Peneroplidae, Lagenidae, Discorbidae,
Globigerinidae, Nummilitidae, Ellipsoidinidae, Verneulinidae, Valvulinidae, Reussellidae.
A abundância foi bastante diferenciada nas três estações, sendo a estação B, a mais
abundante e a C, a menos abundante. A diversidade das três estação pode ser considerada média
(< 3 bits/ind. e >1 bits/ind.).
As famílias Amphisteginidae, Textulariidae e Peneroplidae estiveram presentes nas 3
estações.
A maior diversidade foi encontrada na estação B. A maior equitatividade, encontrada na
estação C, deve-se ao fato de ter ocorrido igual quantidade de indivíduos em cada família. E, a
maior dominância, apresentada pela estação A, deve-se a família Amphisteginidae que foi
responsável por 66% dos indivíduos da amostra.
O tipo de fundo, evidenciado pelos % de cascalho, areia, silte e argila bem como pelos
teores de CaCO3 parecem apresentar relação com a abundância de foraminíferos. A quantidade de
famílias cresceu proporcionalmente com o aumento do tamanho do grão.
A estação B, onde ocorreu a maior abundância, apresentou o tipo de fundo mais grosso
(φ= 2,57), os maiores percentuais de cascalho e areia e os menores teores de lama (tanto de silte
como de argila), além dos teores mais elevados de CaCO3. Os teores de matéria orgânica não
apresentaram diferença significativa entre as estações.
O substrato da plataforma sergipana é descrito por Coutinho (1981) como uma mistura de
areia e lama, onde o sedimento mais fino se deve à influência terrígena. O que pode ser observado
nas estações A e C, que estão localizadas mais próximas aos canions dos rios São Francisco e
Japaratuba, respectivamente, é o predomínio de lama.
CONCLUSÕES
Foram encontradas 17 famílias de foraminíferos no talude continental de Sergipe. O tipo de
substrato desempenha um importante papel na composição das assembléias de foraminíferos,
caracterizando o padrão de distribuição das famílias. A fauna foi caracterizada por famílias de
águas quentes, rasas e de baixas latitudes.
Como as amostras foram lavadas com peneira de 500µ, uma vez que o objetivo da coleta
era a análise da macrofauna bêntica, as informações e dados obtidos representam apenas os
macroforaminíferos. Coletas e análises específicas para foraminíferos podem ampliar a
biodiversidade encontrada.
REFERÊNCIAS
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(Salvador à Barra do Itariri). Tese de Doutorado. Pós-Graduação em Geologia: Geologia
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CUSHMAN, J. A. 1959. Foraminifera their classification and economic use. Cambridge,
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MARTIN, R. E. 1986. Habitat and distribuition of the foraminifer Archaias angulatus (Fichtel and
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MORAES, S. S. 2006. Distribuição espacial e tafonomia de foraminíferos na plataforma
continental da região norte da Costa do Dendê (foz do rio Jequiriçá à Ponta dos
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Instituto de Geociências. Universidade Federal da Bahia. Salvador/BA.
SHEPARD, F. P, 1973. Submarine Geology. Harper and Row, New York. 3 rd ed., 517 pp.
VILELA, C. G. 2004. Foraminíferos. In: CARVALHO, I.S. Paleontologia. Rio de Janeiro:
Interciência.
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