Dinamicidade Agrícola no Estado do Rio de Janeiro: O Caso da Floricultura e
da Horticultura
Karina Vianna Cardoso
Leandro Ribeiro
Sâmea Barcelos
Introdução
A Região Serrana do estado do Rio de Janeiro abrange os municípios de
Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Nova Friburgo,
Petrópolis, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião
do Alto, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Morais. Localizada entre as
montanhas da serra dos Órgãos, os municípios assemelham-se tanto pelas
características físicas como pelo processo de ocupação. Inicialmente desbravada
por aventureiros em busca de ouro, é nesta região serrana que, no século XIX,
instalaram-se os primeiros imigrantes suíços autorizados por D. João VI para
desenvolver colônias de policulturas. Posteriormente, vieram imigrantes alemães
italianos, portugueses e assírios (Marafon et al, 2005).
Mapa 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro
Segundo Marafon et al (2005), a região apresenta uma diferenciação
interna marcante, pois alguns municípios alcançaram um desenvolvimento
econômico mais expressivo do que outros. Dentre eles, destacam-se os
municípios do Alto da Serra (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo), pois,
detiveram maior desenvolvimento em atividades produtivas que as demais terras,
pois não dependeram exclusivamente do café, mas sim da nascente
industrialização, da vinda de colonos imigrantes e acelerada urbanização (p. 109).
Apesar do plantio do café ter se tornado a principal atividade da região, os três
municípios citados, por motivos climáticos, desenvolveram outras culturas
agrícolas e atividades mais ligadas à indústria.
É imprescindível ressaltar que esta é a região do estado que apresenta
alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. Possui um dinamismo nos
setores da indústria, comércio e prestação de serviços, com destaque para a
atividade turística que se desenvolve, principalmente, devido ao clima de
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, que é frio no inverno e com temperatura
amena no verão. Aliados à proximidade com a metrópole carioca, estes fatores
contribuíram para a propagação de um fluxo de visitantes em direção à Região
Serrana Fluminense. Possui ainda inúmeras práticas agrícolas, concentrando 50%
das terras cultivadas de todo o estado, com produção destinada principalmente ao
abastecimento da metrópole. Além disso, a pecuária constitui-se como principal
atividade do meio rural de alguns municípios e em outros a produção de
hortigranjeiros sobressai dentre as demais desenvolvidas. Cabe ressaltar a
produção de olerícolas e hortícolas, já tradicionais na região (Marafon et al, 2005).
Este trabalho pretende ressaltar que, atualmente, novas e outras já
importantes atividades do setor agrícola têm se desenvolvido e se ampliado na
Região Serrana Fluminense, como a agricultura orgânica, a hidropônica e a
floricultura, detentoras de um potencial de crescimento que tem sido observado e
incentivado pelos órgãos fomentadores e a horticultura que já se constitui, há
algum tempo, como uma atividade que deixa suas marcas na paisagem. No caso
da concentração de atividades no ramo da floricultura na Região Serrana, esta
concentra 59,91% da produção do estado, com destaque para os municípios de
Nova Friburgo, Bom Jardim e Petrópolis (EMATER/RJ).
A floricultura desponta como uma alternativa econômica expressiva,
movimentando anualmente no Brasil algo em torno de US$ 1 bilhão, envolvendo
mais de cinco mil produtores e de quatro mil lojistas, configurando um mercado
que cresce cerca de 20% ao ano. Apresenta, inclusive, a versatilidade de
múltiplas formas de exploração e diversidade de cultivo, como sejam: produção de
flores de corte, produção de flores e plantas envasadas, produção de folhagens,
plantas de interior e viveiros de produção de mudas, sendo uma vantajosa opção
para o estado do Rio de Janeiro que tem condições climáticas favoráveis à
produção de uma enorme variedade de espécies de interesse para a floricultura,
sem considerar a tradição da cidade do Rio de Janeiro em jardinagem e
paisagismo, permitindo a geração de empregos nas regiões onde a atividade é
desenvolvida (EMATER/RJ).
Os cultivos de flores e as plantas ornamentais, a exemplo da fruticultura e
da olericultura,
proporcionam
rendimentos
superiores ao rendimento da
agricultura tradicional. Estima-se que cada hectare plantado com flores gere entre
três e seis empregos diretos, além de outros tantos em atividades correlatas,
enquanto nas culturas tradicionais, essa relação é de um posto de trabalho por
hectare. Além disso, cada hectare plantado por flores gera uma renda entre US$ 2
mil e US$ 25 mil, contra menos de US$ 500 das culturas tradicionais
(EMATER/RJ).
Em 2001, o governo do Estado do Rio de Janeiro criou a Câmara Setorial
de Floricultura. Uma de suas atribuições para atingir a meta definida no Parágrafo
Único do Art. 1º da Resolução SEAAPI Nº 470, é realizar o diagnóstico da
Floricultura no Estado (D. O. 18/01/2001), mobilizando esforços de diferentes
organizações direta e indiretamente envolvidas no setor. Esta atividade conta
ainda com incentivos do programa estadual Florescer, desenvolvido pela
Secretaria de Agricultura e Abastecimento, com objetivo de ampliar o setor
produtivo de flores ornamentais do estado do Rio de Janeiro. Este projeto é
destinado aos produtores rurais que queiram implantar, ampliar ou renovar
lavouras de flores, plantas ornamentais e medicinais, em sistema irrigado e
protegido. Apesar do maior marcado da produção ser a região metropolitana,
existem duas empresas exportadoras, responsáveis por abastecer o mercado
externo.
Como marco da relevância deste cultivo, em Nova Friburgo, anualmente, é
realizada a Festa da Flor - FriFlor -, uma vez que a cidade é considerada uma das
maiores produtoras de flores de corte do Brasil. Trata-se de uma feira organizada
pelo Sesc, com intuito de apresentar os mais variados produtos ligados à
floricultura e ao paisagismo. Nova Friburgo possui ainda a associação Aflorj
(Associação dos Floricultores do Estado do Rio de Janeiro) e a primeira Escola de
Flores do país, que está ensinando novas técnicas de floricultura, funcionamento
de mercado, suas regras e o que fazer para valorizar mais a produção. Nas
folhagens de corte, Nova Friburgo representa 29% da produção da Região
Serrana e 7,9% do estado. Ainda segundo a EMATER/RJ, são cerca de 191
produtores de flores em Nova Friburgo e cerca de 90% da produção é vendida no
Rio de Janeiro.
Horticultura e Floricultura: a expansão de importantes cultivos na economia
fluminense
A prática da horticultura e da floricultura vem se intensificando em alguns
municípios da Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, contribuindo para a
elevar a participação do setor no PIB do estado. O conjunto de atividades ligadas
à produção de hortícolas concentra-se, principalmente, nos municípios de
Teresópolis e Petrópolis, além dos municípios de Bom Jardim, São José do Vale
do Rio Preto, Nova Friburgo e Sumidouro, com destaque para o cultivo de
hortaliças, legumes e especiarias com vistas a abastecer o núcleo metropolitano
(Marafon et al, 2005). O cultivo de flores e plantas ornamentais está
marcadamente presente, sobretudo, nos municípios de Nova Friburgo (Vargem
Alta), Petrópolis (Caxambu de Cima), Teresópolis, Miguel Pereira, Sumidouro,
Bom Jardim (Venda Azul), Rio de Janeiro (Guaratiba, Vargem Grande e Ilha de
Guaratiba), Itaboraí, entre outros, sobressaindo-se no contexto estadual, onde as
maiores concentrações de unidades de produção estão entre 701 e 1.000 metros
de altitude e perfazendo 40,53% dos produtores do estado.
Estas atividades constituem setores agrícolas em desenvolvimento,
responsáveis por apresentarem potenciais a serem explorados na Região Serrana
Fluminense. Além disso, seu crescimento em escala nacional é bastante
significativo, corroborando o desenvolvimento de projetos destinados a ampliar a
produção e a produtividade (Marafon et al, 2005).
Consideradas atividades vinculadas ao setor agroindustrial no estado do
Rio de Janeiro, assim como a fruticultura em Campos dos Goytacazes e
municípios adjacentes, a produção de hortaliças e a floricultura na Região Serrana
foram identificadas como núcleos de especialização no setor agroindustrial,
apesar de, no estado do Rio de Janeiro, não se constituírem como um Arranjo
Produtivo Local, APL, diferentemente de municípios em outros estados brasileiros,
como Maracás na Bahia e Recife e Gravatá em Pernambuco (SEBRAE). Contudo,
compõem um das sessenta e uma concentrações de atividades econômicas
identificadas pelo SEBRA/RJ no estado do Rio de Janeiro. Dentre estas,
dezessete se aproximam mais da definição de arranjos produtivos locais, como a
fruticultura em Campos dos Goytacazes, o petróleo em Macaé, a moda íntima em
Nova Friburgo, o setor metal-mecânico em Piraí e Volta Redonda, entre outras.
Ainda que não esteja inserida nesta classificação, a prática da horticultura e da
floricultura,
enquanto
concentrações
de
atividades
econômicas,
vem
apresentando crescimento significativo na economia fluminense.
Os arranjos produtivos locais assumem importância ímpar no processo de
reorganização e especialização produtiva e territorial, na medida em que se
propõem “a incrementar a competitividade das empresas e o desenvolvimento
local” (Lins, 2005). Tais arranjos são compreendidos pelo SEBRAE/RJ como
“aglomerações de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em conjuntos
específicos de atividades econômicas que apresentem vínculos mesmo que
incipientes” (Cassiolato e Lastres apud Lins, 2005). Nesta perspectiva, constituem
“aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam
especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação,
cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais tais como
governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa”,
buscando, sobremaneira, a competitividade dos micro e pequenos negócios e
estimulando o desenvolvimento local (SEBRAE/RJ).
A busca pelo maior dinamismo das economias do interior fluminense vem
acompanhada de políticas orientadas para setores que se destacam nos
principais indicadores sócio-econômicos do estado. Neste sentido, a Quadro 1
pretende analisar as características básicas do APL e das concentrações de
atividades no setor agroindustrial.
Quadro 1 - Características Básicas do APL e das Concentrações de Atividades no
Setor Agroindustrial
Atividade - Município
Emprego
N.º de
Remuneração
Tam. Médio
Remuneração
s
Estab.
(dez. 2001 - R$)
(empregos)
Média (R$)
1.568
141
746.127,67
11,12
475,85
419
70
125.292,10
5,99
299,03
285
62
86.826,73
4,60
304,66
158
26
63.461,04
6,08
401,65
295
52
70.423,32
5,67
238,72
2.725
351
1.092.131
7,76
400,78
1- Produção de Açúcar
- Campos dos
Goytacazes
2- Fruticultura Campos dos
Goytacazes
3- Hortaliças - Região
Serrana
4- Floricultura - Região
Serrana
5- Fruticultura - Rio
Bonito
Total
Fonte: SEBRAE (2005)
A Quadro 2 demonstra a participação das concentrações identificadas no
total do emprego, estabelecimentos e remunerações dos respectivos municípios.
Neste caso, os municípios da Região Serrana apresentam uma participação
menor do que os demais municípios destacados, o que não exclui, por sua vez,
sua relevância para o setor agroindustrial do estado.
Quadro 2 - Participação no Total de Emprego, Estabelecimentos e Remunerações
nos Respectivos Municípios - APL e Concentrações de Atividades no Setor
Agroindustrial
Atividade – Município
% dos
% dos
% da
Empregos
Estabelecimentos
Remuneração
3,28%
2,52%
2,91%
Petrópolis
0,30%
0,48%
0,14%
Teresópolis
0,60%
1,21%
0,36%
Petrópolis
0,23%
0,27%
1,12%
Teresópolis
0,07%
0,07%
0,06%
0,07%
0,22%
0,03%
0,88%
1,25%
0,49%
1,97%
4,62%
1,04%
Açúcar - Campos dos Goytacazes
Hortaliças - Região Serrana
Floricultura - Região Serrana
Nova Friburgo
Fruticultura - Campos dos
Goytacazes
Fruticultura - Rio Bonito
Fonte: SEBRAE (2005)
No contexto da Região Serrana, devemos salientar que os municípios de
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo apresentam os valores referentes ao PIB
per capita, a renda per capita e ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
superior aos outros municípios aqui referenciados, conforme nos aponta a Quadro
3.
Quadro 3 - Características de Municípios com APL e Concentrações no Setor
Agroindustrial
PIB - Valores
Município
absolutos (1.000
R$)
Populaçã Valores PIB per
Renda per
o
capita (R$)
capita (R$)
Petrópolis
2.092.973
286.537
7.304
399,93
Nova Friburgo
1.132.828
173.418
6.532
366,84
791.647
138.081
5.733
366,61
1.736.447
406.989
4.267
247,20
236.042
49.691
4.750
276,19
Teresópolis
Campos dos
Goytacazes
Rio Bonito
IDH
0,80
4
0,81
0
0,79
0
0,75
2
0,77
2
Rank
IQM
6
25
15
10
33
Fonte: Anuário Estatístico do Rio de Janeiro - CIDE (2002) (base de dados: 2000)
No que concerne à produção de hortaliças, foi identificado um núcleo de
produtores de hortaliças orgânicas na região do Brejal, no município de Petrópolis,
além dos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, São José do Vale do Rio
Preto, contando com o apoio da ABIO - Associação de Agricultores Biológicos do
Estado do Rio de Janeiro – viabilizado na forma de apoio técnico aos que
pretendem implementar sistemas orgânicos de produção em suas propriedades.
Neste sentido, os agricultores teriam maiores facilidades de acesso ao mercado,
além da certificação de origem orgânica dos produtos comercializados a partir do
selo da ABIO, atestando a qualidade dos produtos (SEBRAE/RJ).
O cultivo de hortaliças, segundo dados do SEBRAE, conta com 62
estabelecimentos concentrados nos municípios de Petrópolis e Teresópolis, e
caracterizados pelo predomínio de pequenas e microempresas, gerando 285
postos de trabalho formais. A hortícola, em sua maioria, abastece o CEASA – RJ1,
gerando uma grande intensidade de fluxos destes produtos, caracterizando a rede
de comercialização agrícola na qual está inserida a Região Serrana (mapa 1).
1
“O sistema de Centrais de Abastecimento CEASA nasce com o intuito de atuar no mercado como grande
entreposto comercial capaz de organizar a comercialização à jusante, isto na produção e à montante, ou
seja, na distribuição varejista confeccionando uma simbiose entre produção e comercialização capaz de
minimizar os efeitos negativos da intermediação, principalmente no Rio de Janeiro” (Seabra, 2004).
Mapa 2: Principal área de abastecimento de hortícolas para o CEASA-RJ
Além da baixa remuneração média por empregado, os municípios de Nova
Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, núcleos de especialização vinculados a este
ramo
de
atividade,
apresentam
a
concentração
de
empregados
em
estabelecimentos de pequeno porte. Esta concentração de atividades possui
apenas uma empresa exportadora de pequeno porte, cujos mercados de
sementes hortícolas são compostos pelos Estados Unidos, Bolívia e Colômbia. As
Quadros 4, 5, 6 e 7 a seguir permitem visualizarmos melhor estes dados.
Quadro 4 - Características da Concentração de Atividades - Hortaliças - Região
Serrana
CNAE - Atividades
Emprego
N.º de
Remuneração
Tam. Médio
Remuneração
s
Estab.
(dez. 2001 - R$)
(empregos)
Média (R$)
157
27
48.257,50
5,81
307,37
especiarias hortícolas –
128
35
38.569,23
3,66
301,32
Teresópolis
Total
285
62
86.826,73
4,60
304,66
Integradas
Hortaliças, legumes e
especiarias hortícolas –
Petrópolis
Hortaliças, legumes e
Fonte: SEBRAE (2005)
Quadro 5 - Distribuição do Emprego por Faixa de Tamanho - Concentração de
Atividades - Hortaliças - Região Serrana
Empregos por Faixas de Tamanho
CNAE - Atividades Integradas
Hortaliças, legumes e especiarias hortícolas –
Petrópolis
0 a 19
50,3
%
Hortaliças, legumes e especiarias hortícolas –
Teresópolis
83,6
%
20 a
100 a
Mais de
99
499
500
49,7%
0,0%
0,0%
100%
16,4%
0,0%
0,0%
100%
Fonte: SEBRAE (2005)
Quadro 6 - Empresas Exportadoras - Hortaliças - Região Serrana
Total
Número de
Valor Exportado (US$ mil)
Empresas
2000
2001
2002
1
-
35,9
114,1
1
-
35,9
114,1
Contínua
1
-
35,9
114,1
Exportação Total dos Municípios
90
43.717,
38.589,
7
5
TOTAL
PORTE
Pequeno
FREQÜÊNCIA
22.298,2
Fonte: SEBRAE (2005)
Quadro 7 - Principais Destinos das Exportações - Hortaliças - Região Serrana
NCM-SH
1209-91
Descrição
Exportação (US$
Três Principais Destinos (por
Milhões)*
ordem de importância)
0,1
EUA, Bolívia e Colômbia
Sementes de produtos
hortícolas, para semeadura
* Média 2000-2002 Fonte: SEBRAE (2005)
Concernente ao fornecimento destes produtos, podemos dizer que “os
dados sobre o abastecimento de hortaliças caracterizam a zona serrana como
aquilo que mais se aproxima de um cinturão verde da metrópole carioca
respeitando a estrutura em leque (concentradora) da cidade do Rio de Janeiro
como principal mercado consumidor onde converge boa parte da produção do
estado do Rio do Janeiro” (Seabra, 2004).
No que tange à floricultura brasileira, cabe ressaltar que, desde o final da
década de 1980, esta atividade vem passando por rápidas e importantes
transformações. Até recentemente, essa atividade estava restrita a poucos
estados da federação e voltada apenas para mercados regionais. Atualmente, é
praticada em doze estados, possui mercado nacional e busca mercado externo.
Apresentando forte crescimento e expansão, o mercado de flores e plantas
ornamentais vem registrando nos últimos anos, aumentos significativos, levando
muitos estados da federação a investirem neste setor. A floricultura possibilita
múltiplas formas de exploração e diversidade de cultivo, tais como: produção de
flores de corte, produção de flores e plantas envasadas, produção de folhagens,
plantas de interior e viveiros de produção de mudas. Estas múltiplas formas de
exploração permitem a geração de um número significativo de empregos nas
regiões onde se desenvolve a floricultura. Do total da produção nacional de flores
e plantas apenas de 2 a 5% destinam-se ao mercado externo, destacando-se as
flores tropicais, e a maior parte da produção ainda é consumida pelo mercado
interno (EMATER/RJ).
Em âmbito nacional, O Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR),
atualmente empreende um esforço através do mapeamento nacional e do
diagnóstico internacional de floricultura. O objetivo do programa, denominado
Flora Brasilis, é conhecer quem é quem na cadeia produtiva de flores e plantas
ornamentais do país, elaborando um banco de dados sobre o atual estágio de
desenvolvimento da floricultura brasileira. Isso permite direcionar as ações para
capacitação da mão-de-obra envolvida no processo produtivo, adequar produtos,
técnicas de manuseio, acondicionamento e apoio logístico, além de adequar o
fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos. Ao mesmo tempo, o
diagnóstico internacional visa detectar a demanda do mercado alvo. Além disso, o
programa também objetiva implantar a marca Flora Brasilis para a divulgação dos
produtos
nacionais
da
floricultura
com
qualidade
dentro
dos
padrões
internacionais de qualidade (EMATER/RJ).
A concentração de atividades no ramo da floricultura também foi
identificada com um total de 686 produtores rurais no estado com exploração de
flores e plantas ornamentais, concentrando a atividade em 53 municípios do
estado do Rio de Janeiro, com a maioria localizada nos municípios da Região
Serrana, consoante já mencionado, como Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Bom
Jardim e Petrópolis, os quais reúnem a maior área total explorada pela atividade,
conforme nos aponta o mapa 2 (EMATER/RJ).
Mapa 3: Área total explorada pela floricultura por região administrativa
Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003.
A Região Serrana apresenta, além do mais elevado percentual de
produtores do estado (mapa 3), um significativo percentual de produtores na
condição de proprietário, com significativa importância ainda para os produtores
parceiros, como veremos mais adiante. O município de Nova Friburgo sobressai
como o que concentra o maior percentual de produtores de flores e plantas
ornamentais da Região Serrana (mapa 4) (EMATER/RJ).
Mapa 4: Distribuição percentual dos produtores por região administrativa
Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003.
Mapa 5: Número de produtores por município
Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003.
Assim como no ramo da horticultura, neste caso também se observa o
predomínio de pequenas e microempresas com um reduzido número de
empregados por estabelecimento. A quase totalidade das unidades de produção
encontra-se na faixa de até 4,99 hectares (96,5%), com destaque para a
concentração de áreas menores que um hectare (74,49%) e utiliza sistemas de
irrigação, destacando-se o uso da aspersão convencional (EMATER/RJ).
Os principais municípios produtores de flores de corte concentram-se na
Região Serrana, com destaque para Petrópolis e Nova Friburgo. Este tipo de
cultivo é seguido pela folhagem de corte, pelas plantas em vaso, pelas plantas de
jardim, pelas plantas de forração e pela grama, no que tange à área explorada por
tipo de cultivo em hectare.
Neste caso, a remuneração média por empregado também é relativamente
baixa, assim como no cultivo das hortícolas. Além de os empregos estarem
concentrados nos estabelecimentos de menor tamanho, a prática da floricultura
conta com duas empresas exportadoras de pequeno porte que abastecem os
mercados dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão (SEBRAE/RJ). As
Quadros que se seguem buscam clarificar os dados apresentados. Cada vez
mais, o crescimento da demanda pelo mercado de flores e plantas ornamentais
incentiva a criação de parcerias, a fim de ampliar a produção e estabelecer
estratégias de comercialização.
Quadro 8 - Distribuição do Emprego por Faixa de Tamanho - Concentração de
Atividades - Floricultura - Região Serrana
Empregos por Faixas de Tamanho
20 a
100 a
Mais de
99
499
500
20,2%
0,0%
0,0%
100%
Cultivo de flores e plantas ornamentais - Nova Friburgo 100% 0,0%
0,0%
0,0%
100%
CNAE - Atividades Integradas
Cultivo de flores e plantas ornamentais - Petrópolis
Fonte: SEBRAE (2005)
0 a 19
79,8
%
Total
Quadro 9 - Empresas Exportadoras - Floricultura - Região Serrana
Número de
Valor Exportado (US$ mil)
Empresas
2000
2001
2002
2
14,8
14,5
17,0
2
14,8
14,5
17,0
Contínua
1
11,4
9,9
11,9
Assídua
1
3,4
4,6
5,1
TOTAL
PORTE
Pequeno
FREQÜÊNCIA
Exportação Total dos Municípios
90
43.717, 38.589,
7
5
22.298,2
Fonte: SEBRAE (2005)
Quadro 10 - Principais Destinos das Exportações - Floricultura - Região Serrana
NCM-SH
0602-90
Descrição
Plantas vivas, mudas e
micélios de cogumelos
Exportação (US$
Três Principais Destinos (por
Milhões)*
ordem de importância)
0,02
EUA, Alemanha e Portugal
* Média 2000-2002 Fonte: SEBRAE (2005)
A importância da floricultura no estado do Rio de Janeiro vem sendo
comprovada, principalmente, com a realização, pela EMATER/RJ (Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro) da 4ª Friflor –
Festa da Flor de Nova Friburgo, realizada em 2004. O estado do Rio de Janeiro
produz hoje 7,9 milhões de maços de flores de corte, onde nos 763,66 hectares
cultivados por flores, 37% são ocupados por flores de corte. Além dos mais de
2.000 empregos fixos gerados no estado, o setor também gera mais de 800
empregos temporários, sendo a média de quatro a sete empregos por hectare
(EMATER/RJ).
Com 72 produtores do total de 686 no estado do Rio, o município de
Petrópolis é responsável por 36% dessas flores e o município de Friburgo fica
com 31% da produção, embora abrigue 33% dos produtores fluminenses, num
total de 191. A maior concentração de produtores de flores do estado fica na
comunidade de Vargem Alta, em Nova Friburgo (EMATER/RJ). Vale ressaltar a
aplicação de mão-de-obra feminina, com destaque para os municípios de Bom
Jardim, Miguel Pereira, Nova Friburgo, Sumidouro, Petrópolis, como os maiores
empregadores de mulheres na floricultura. Quanto ao emprego de mão-de-obra
familiar destacam-se Miguel Pereira, Bom Jardim, Nova Friburgo, Itaguaí,
Sumidouro e Petrópolis, como os principais municípios que utilizam mão-de-obra
familiar (mapa 5).
Mapa 6: Composição percentual e total de empregos gerados por região
administrativa
Fonte: SEBRAE (2005)
Ainda no concernente às relações de trabalho, cinqüenta e oito por cento
dos produtores de flores são proprietários das terras cultivadas por flores, 21%
são parceiros e 11% arrendatários. A produção destinada à exportação é
composta, principalmente de orquídeas, as quais são produzidas em Niterói,
Guapimirim e Petrópolis e vendidas para os Estados Unidos, Japão, Argentina,
Austrália, entre outros países (EMATER/RJ). O estado do Rio de Janeiro dispõe
de oito laboratórios de propagação vegetativa e na Região Serrana temos quatro
destas instalações, segundo dados levantados, sobressaindo, inclusive, como
uma das maiores detentoras de equipamentos, como motobomba e microtrator.
Além disso, a maior parcela dos produtores da região não se utiliza do crédito
rural – apenas 15 produtores em Nova Friburgo, 5 em Sumidouro e 4 em Bom
Jardim. Enquanto alguns recebem assistência técnica da EMATER, outros poucos
recebem assistência técnica particular. Após a colheita, as mercadorias são
transportadas através de caminhões baú não refrigerados e veículo utilitário sem
ventilação (EMATER/RJ).
A prática da floricultura na Região Serrana, contudo, apresenta algumas
dificuldades que, muitas vezes, inviabilizam a plena expansão do setor, tais como
a falta de espaço apropriado para a comercialização, a insuficiência de crédito
rural, a falta de assistência técnica e de infra-estrutura de produção, a pouca
disponibilidade de mão-de-obra e o alto preço dos insumos. Os recursos
destinados aos produtores são provenientes do Programa Florescer do Governo
do Estado (EMATER/RJ).
A Secretaria
de Estado de Agricultura,
Abastecimento,
Pesca e
Desenvolvimento do Interior do Estado do Rio de Janeiro – SEAAPI/RJ – propõe,
no contexto das políticas públicas atuais para o rural fluminense, alguns
Programas Setoriais ligados às linhas de crédito e investimento do Programa
Moeda Verde, implementado no governo de Anthony Garotinho. Dentre eles, o
Programa Florescer, implementado a partir do Decreto nº 34.335 de 18 de
novembro de 2003, visa o desenvolvimento de flores, plantas ornamentais e
plantas medicinais no estado do Rio de Janeiro, a fim de conquistar e solidificar os
mercados interno e externo. O programa fornece, no que tange às condições de
financiamento do FUNDES, um prazo de pagamento de 60 meses, com juros de
2% ao ano, fixos, capitalizados mensalmente e 20 meses de carência, de acordo
com a cultura financiada.
Os beneficiados são os produtores rurais e suas associações e
cooperativas, com o fim de investimentos e custeio de projetos de implantação,
ampliação ou renovação de lavouras de flores, plantas ornamentais e medicinais
em sistema irrigado e protegido. Além disso, os tributos ao setor foram reduzidos,
principalmente, quando a produção se destina à exportação de flores de corte. A
EMATER/RJ, com o apoio de grupos de pesquisa vinculados ao projeto, bem
como com o apoio da PESAGRO-RJ (Empresa de Pesquisa Agropecuária do
Estado do Rio de Janeiro), UENF, UERJ, UFRRJ e UFRJ, fornece a assistência
técnica necessária (Silva, 2005).
Considerações Finais
As considerações acima expostas apontaram para a expansão e para o
crescimento de um setor que vem buscando espaço no desenvolvimento da
economia estadual e, principalmente, nacional. Para tanto, mostrou-se de
importância ímpar a análise do censo realizado pela Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro – EMATER-Rio, de
abril/2002 a julho/2003, o qual apresenta dados relativos a todas as regiões do
estado, permitindo o conhecimento da situação atual do setor, a caracterização
das áreas e sistemas de produção, níveis tecnológicos adotados e dinâmicas do
processo de comercialização, estabelecendo-se um marco para esta atividade
produtiva. Deve-se mencionar que, a partir do conhecimento agregado no censo,
é possível vislumbrar potencialidades, buscar alternativas para eliminação dos
entraves e construir cenários de desenvolvimento sócio-econômico integrados à
conservação ambiental. Também foi de extrema relevância a consulta ao material
bibliográfico
relacionado
ao
tema,
contribuindo,
sobremaneira,
para
o
enriquecimento do trabalho.
A prática da horticultura e da floricultura, apesar de ainda representarem uma
atividade que almeja espaço no território fluminense, já demanda maior atenção
por parte do governo estadual, bem como por parte dos órgãos voltados para a
pesquisa agropecuária. Neste sentido, muito ainda se pode esperar em termos de
dinamismo neste ramo que tende a contribuir para o incremento da produção do
estado.
A Secretaria Estadual de Agricultura, com o apoio da Câmara Setorial de
Floricultura e outras parcerias busca, sobremaneira, a consolidação deste setor
como uma das mais importantes fontes de geração de emprego e renda nos
municípios do interior do estado do Rio de Janeiro, dinamizando suas economias.
Diversos atores trabalham em parceria buscando um ambiente de inovação
tecnológica onde interagem o meio acadêmico, o setor empresarial, a comunidade
e o setor público visando o desenvolvimento regional, tendo como conseqüência a
melhoria das condições de vida da população.
Referências Bibliográficas
EMATER – Rio (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do
Rio de Janeiro). Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro. 2002/2003.
LINS, Cristina Pereira de Carvalho. Dinâmica Econômico-Espacial Recente no
Estado do Rio de Janeiro: Um Foco nos Arranjos Produtivos Locais. Dissertação
(Mestrado) / Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. Mestrado em
Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais. Rio de Janeiro, 2005.
MARAFON, Gláucio José.. [et al]. Regiões de Governo do Estado do Rio de
Janeiro: Uma Contribuição Geográfica. Rio de Janeiro: Gramma, 2005.
RUA, João. Urbanização em Áreas Rurais no Estado do Rio de Janeiro. In:
MARAFON, Gláucio José e RIBEIRO, Marta Foeppel (orgs.). Estudos de
Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Infobook Ltda., 2002.
SEABRA, Rogério dos Santos. Comercialização Agrícola no Estado do Rio de
Janeiro: O Papel do Sistema CEASA – RJ. 72 F. Dissertação (Graduação em
Geografia). IGEO – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004.
SEBRAE. Disponível na internet. www.sebrae.com.br Data de acesso: agostosetembro/2005.
SILVA, Augusto César Pinheiro da. Em busca do rural moderno no estado do Rio
de Janeiro: projetos, estratégias e gestão do território, exemplificados no norte e
noroeste fluminense. Tese (Doutorado) / Universidade Federal do Rio de
Janeiro/PPGG. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.
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Dinamicidade Agrícola no Estado do Rio de Janeiro: O