Aonde nos levam os
preconceitos?
Centro Cultural Franciscano
8 de Novembro de 2008
• Mais de 8 milhões de pessoas por todo o
mundo morrem em cada ano, porque são
demasiado pobres para permanecerem
vivas
• Morrem anonimamente, sem repercussão
pública.
• A maior parte das pessoas não conhece a
sua luta diária pela sobrevivência, nem o
imenso número de pobres que por todo o
mundo perde essa luta
• Contudo, todas as regiões começaram
em extrema pobreza.
• Há 200 anos quase toda a gente era
pobre, com uma excepção pequena
composta por governantes e senhores
da terra. Não existiam grandes fossos
entre riqueza e pobreza.
• A diferença de 4 para 1 em termos de
rendimento per capita, é ampliada 7
vezes e passa para 20 para 1, nestes
dois séculos
• A confrontação entre pobres e ricos tornase muito pronunciada: a diferença de
riqueza significa também diferença de
poder
• E as grandes diferenças de poder
contribuíram para teorias sociais,
percepções e comportamentos
incorrectos, que são fonte de injustiça que
permanece
Alguns exemplos
• Em princípio, todas as sociedades no
passado não enriqueceram e
permaneceram pobres, foram castigadas
com o não desenvolvimento, por serem
preguiçosas. Contudo, quando os seus
cidadãos se tornam ricos, considera-se
que tal se deve ao seu empreendedorismo
– O Japão foi classificado como preguiçoso e
indolente em 1870
– As teorias de Max Weber classificam os
católicos como estáticos e passivos por
oposição aos empreendedores protestantes
– O Confucionismo é entendido como inibidor
do desenvolvimento
– Os africanos preguiçosos e irracionais
contudo
– O Japão transformou-se numa das maiores potências
económicas
– As católicas Irlanda e Itália ultrapassam os níveis de
crescimento da protestante Inglaterra
– A China desenvolve-se graças aos valores asiáticos
– Os pais africanos (Nigéria e Tanzânia) na Pesquisa
Mundial sobre Valores manifestam 20 pontos
percentuais acima dos americanos quanto à intenção
de educarem os seus filhos nos valores do trabalho
…vê-se assim que o entendimento das
causas da pobreza é, pois, pré-cientifico,
…subjectivo
• Preguiçosos,
• Não querem fazer nada
• Incompetentes,
• Porque abandonaram a escola
• Dependentes,
• E quem depende é quase sempre incompetente
• Responsáveis pela sua situação,
• Não credíveis,
• O que torna prioritário o combate à fraude
• Perigosos,
• Porque inevitavelmente reproduzem comportamentos
associados
• Pertencentes a minorias
…e não fundamentado
• A maioria trabalha, está desempregada ou já
está reformada – só cerca de 27% é inactiva
• Têm trabalhos pesados, longos e mal
remunerados
– Múltiplos trabalhos, mal remunerados, impossibilidade de
pouparem, impossibilidade de adquirirem mais competências
para acederem a trabalhos mais bem remunerados,…
• Das 126.621 famílias apoiadas pelo RSI, só
44.780 não têm mais nenhum rendimento
• 60 mil licenciados desempregados,
dificilmente poderão ser considerados
como incompetentes, bem como os
milhares de trabalhadores que passaram
por acções de formação profissional
integradas no âmbito do RSI
• 92% das acções de micro crédito são
marcadas pelo sucesso, o que significa
que são credíveis
Mas a forma como são considerados os
pobres pode ser impeditivo que saiam da
pobreza
• As etiquetas/rótulos eliminam as qualidades das
pessoas, impedem-nas de demonstrar que não
são incompetentes, forçam, muitas vezes, as
pessoas a comportarem-se de acordo com as
etiquetas/rótulos
• Os pobres consideram-se então vítimas do azar,
da sociedade, e esperam que o Estado resolva
Contudo sabe-se
• Que os argumentos dos preconceitos
tendem a ser circulares
– As pessoas são pobres porque são preguiçosas, e como
se sabe que são preguiçosas, são pobres
• Que a baixa produtividade quase sempre
resulta, não da preguiça ou falta de
esforço, mas da falta de capital
• Que é necessário conhecer os contextos
onde se trabalha
Fazer ouvir a voz dos pobres
• Ghandi e Martin Luther King não
esperaram para ser ouvidos; fizeram-se
ouvir
• Os pobres não podem esperar que os
ricos façam circular o seu apelo à justiça,
nem que dêem forma ao seu futuro
Bibliografia
• Comissão Europeia (2007), Special Barometer,
Poverty and Exclusion
• Costa, A. B. (2008), Um Olhar sobre a
Pobreza, Gradiva, Lisboa
• Gans, H. J. (1995), The War Against the Poor,
Basic Books, New York
• Sachs, J. (2006), O Fim da Pobreza, Casa das
Letras, Cruz Quebrada
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