Pesquisa
PALHAÇOS EM HOSPITAIS
- Brasil -
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PALHAÇOS EM HOSPITAIS
- Brasil -
Realização
Centro de Estudos Doutores da Alegria
Coordenação
Morgana Masetti
Pesquisa
Carolina Pulicci, Edson Lopes, Joana Cury e Silvia Conway
Revisão
Edson Lopes
Edição
Joana de Abreu Sampaio Holl Cury
Colaboração
Daiane Carina
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A ciência fecha para poder
ver melhor. Quanto mais você abre a arte, mais arte você faz;
quanto mais você fecha a ciência mais ciência você tem.
ARTE: É tudo que se
abre.
(definição de uma criança, apud. M. Masetti. Boas Misturas,
São Paulo, tese de mestrado PUC-SP, 2001)
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SUMÁRIO
Apresentação e Justificativa ............................................................................................................ 5
Objetivos ......................................................................................................................................... 6
Metodologia..................................................................................................................................... 6
I. As organizações......................................................................................................................... 8
II. Atuação e equipes.................................................................................................................. 11
III. Formação artística e treinamento....................................................................................... 14
IV. Relação com os Hospitais.................................................................................................... 15
V. Número de visitas ................................................................................................................. 16
VI. Metas das organizações....................................................................................................... 17
VII. Divulgação e assessoria de imprensa .............................................................................. 18
VIII. Financiamento do projeto e captação de recursos ........................................................ 20
Conclusões..................................................................................................................................... 22
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Apresentação e Justificativa
Doutores da Alegria ⎯ Arte, Formação e Desenvolvimento é uma organização
sem fins lucrativos, fundada em 1991, que desenvolve a inserção de experiências
artísticas baseadas em técnicas circenses e teatro clown em espaços hospitalares,
estabelecendo outras relações com crianças hospitalizadas, pais e profissionais da
saúde, bem como com o saber médico e a disciplina hospitalar. Atualmente suas
atividades são regularmente desenvolvidas em 5 hospitais na capital paulista, em 2
hospitais no Rio de Janeiro 1 e em Recife no Hospital da Restauração.
Em 1998, foi criado o Centro de Estudos Doutores da Alegria, a partir da
necessidade de compreensão da relação deste tipo de experiência artística no espaço
hospitalar, com a criança em tratamento, seus familiares e os profissionais de saúde.
Portanto, o Centro de Estudos, tem como objetivos, o trabalho de formação,
multiplicação de saberes, publicação, aproximação e aperfeiçoamento de artistas e,
sobretudo, criar possibilidades de diálogos entre artes e saberes científicos.
Desde a criação dos Doutores da Alegria, observa-se o surgimento de um grande
número de iniciativas que incluem a atuação de palhaços em hospitais, em diferentes
regiões do país. Pode-se atribuir a esse desenvolvimento a influência dos conceitos e
movimento de Humanização em hospitais, valorização da filantropia, participação
popular e do trabalho das ONGs em diferentes âmbitos da sociedade civil.
A criação da pesquisa “Palhaços em hospitais” pretende conhecer a
multiplicidade de atividades artísticas que utilizam a figura do palhaço em visita,
interação, atuação junto a crianças e adolescentes em condições de internamento, em
Em São Paulo nos Seguintes Hospitais: Centro de Tratamento e Pesquisa Hospital do Câncer; Conjunto
Hospitalar do Mandaqui; Hospital das Clínicas ⎯ FMUSP⎯ Instituto da Criança; Hospital da Criança;
Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Hospital Santa Marcelina. No Rio de janeiro em atuação em:
Hospital Municipal Jesus e I.P.P.M.G.
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diferentes setores hospitalares. A diversidade de organizações, equipes ou iniciativas
individuais, apontam para diversas formações, metodologias, organização e finalidades
desses trabalhos. Importa para esta investigação, mapear as iniciativas existentes por
região e conhecer seus modos de atuação, organização e métodos gerais de trabalho,
ligados a culturas particulares e valores próprios de cada grupo. Não há o semelhante
ao Doutores da Alegria, a pesquisa não busca registrar a semelhança no método, na
organização ou na formação artística; busca conhecer a diversidade e a possibilidade de
fazer essas diversidades tornarem-se afins, ou o estabelecimento de um diálogo,
atualizando experiências e conhecimentos.
Objetivos
A pesquisa “Palhaços em hospitais” pretende um mapeamento das iniciativas
que utilizam a figura do palhaço na interação artística com pacientes sujeitos a
tratamentos e internações, com familiares e profissionais de saúde, e no limite, com o
sistema hospitalar. Mapear, neste sentido, é criar catálogo, relação e lista descritiva;
supõe observação das informações e análise de situação, ocorrência e método.
Pretendemos a publicação das informações em relatório e em site, para consulta,
pesquisa e aproximação dos diversos grupos para atualização de experiências,
estabelecer afinidades e possíveis comunicações.
Metodologia
A partir de uma fase inicial de pesquisa, localizamos 180 iniciativas em todo o Brasil
caracterizadas, principalmente, pela atuação de palhaços em hospitais. Estabelecemos
contatos com 111 grupos e a estes aplicamos questionário criado pela equipe de
pesquisadores do Centro de Estudos. Apenas 57 questionários foram devolvidos
devidamente respondidos. Embora tenhamos um banco de dados constando a
existência de 180 iniciativas, com esparsas informações sobre a atuação e localização, a
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construção analítica deste relatório está baseada nas informações dos outros 57 grupos
que afirmaram a vontade de participar da pesquisa, cedendo informações.
Fases do processo de pesquisa:
1º fase (01 a 04/2001): levantamento dos programas atuantes no Brasil através de:
⎯ pesquisa pela Internet;
⎯ levantamento de artigos publicados em jornais e revistas;
⎯ consulta ao arquivo do Centro de Estudos;
⎯ contatos estabelecidos pelos próprios grupos;
⎯ indicações de terceiros.
2º fase (04/01 a 10/01): elaboração do questionário e aplicação do Projeto Piloto a
12 grupos escolhidos aleatoriamente.
3º fase (10/01 a 11/01): reformulação do questionário e aplicação definitiva da
pesquisa.
4º fase (03/02 a 12/02): tabulação de dados, análise, elaboração do relatório
parcial e apresentação do resultado à equipe dos Doutores da Alegria.
5º fase (2003): elaboração do relatório final e publicação.
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I. As organizações
O mapeamento de iniciativas que utilizam a figura do palhaço na interação
artística com pacientes sujeitos a tratamentos e internações, com familiares e
profissionais de saúde, e no limite com o próprio sistema hospitalar, compreendeu 23
estados brasileiros. Porém, a maior parte das iniciativas estão concentradas na região
sudeste, que até o primeiro semestre de 2002 possuía 34 iniciativas, correspondente a
60% dos respondentes. Concentram-se, principalmente, no Estado de São Paulo e do
Rio de Janeiro. Apenas uma iniciativa foi mapeada no Espírito Santo e, embora o
contato tenha sido estabelecido, não houve retorno do questionário respondido,
portanto, não se inclui entre os 57 respondentes. Conta-se ainda com: 6% das iniciativas
no Centro-Oeste, 20% no Nordeste e 14% no Sul, com maiores atividades concentradas
nos Estados de Pernambuco (5,3%) e do Paraná (7%), respectivamente 3 e 4 casos.
Região
Freqüência
%
S
8
14%
SE
34
60%
C-O
4
6%
N
0
0%
NE
11
20%
TOTAL
57
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais.
Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Um dos principais interesses desta análise está relacionado à formação dos
profissionais que desenvolvem diretamente as atividades artísticas junto aos pacientes,
neste caso, aqueles que se caracterizam como palhaços. Na maioria das vezes, esses
palhaços se caracterizam como ″doutores″ 2 . Interessa conhecer quantas são as
Situação inversa porém, da experiência de Patch Adams, médico e fundador do Gesundheit Institute,
que vira palhaço para integrar à cura o uso da arte e da alegria.
2
8
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iniciativas que possuem profissionais de teatro com formação acadêmica e
especializações (seja no próprio teatro, no circo ou em outra arte) e quantas possuem
profissionais que, estando diariamente nos hospitais desenvolvendo diferentes
atividades, não passaram por nenhuma formação institucional e, ainda assim,
desenvolvem o palhaço como uma personalidade, conhecem técnicas circenses e
realizam diferentes ações lúdicas com pacientes. Para designar os primeiros usaremos o
termo palhaço-ator, e o segundo, palhaço-amador.
O que se registra em todo país é uma ocorrência pequena (35,3%) de iniciativas
compostas por integrantes-palhaços com formação em artes cênicas. Na Região Sudeste,
pelo menos 22,8% das iniciativas, possuem palhaços-atores desenvolvendo atividades
artísticas em hospitais.
Região
Formação Artística
TOTAL
Palhaço
Palhaço
Ator
Amador
S
3,5%
10.5%
14%
SE
22,8%
37,2%
60%
C-O
0%
6%
6%
N
0%
0%
0%
NE
9%
11%
20%
TOTAL
35,3%
64,7%
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Outro fator importante desta análise é a caracterização das iniciativas, não no que
concerne ao trabalho ou equipe, mas à organização e à institucionalização que regula
um corpo de profissionais, métodos e projetos, mediante regimento interno ou acordo
acertado entre as partes envolvidas. Segundo os declarantes, conta-se com 53% das
organizações, caracterizadas como Voluntárias, 13,6% como ONGs, 18,2% como
Associações, 7,6% como Públicas e 6,1% como Comercial/Privada. Há um limite ou
uma falha na produção do questionário que repercuti na produção da análise. Faltam,
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no questionário, informações para o leitor e respondente sobre o que se considera e
como se caracteriza uma ONG, uma organização voluntária, uma associação, etc. Além
disso, não há nenhuma questão que esclareça qual o tipo de vínculo estabelecido entre a
organização e o profissional. Não se pode afirmar, portanto, se os profissionais de uma
ONG são assalariados ou são voluntários; não há dados sobre as relações de trabalhos
inerentes a estas organizações.
FORMAÇÃO ARTÍSTICA
TIPO DE ORGANIZAÇÃO
Palhaço
Amador
Palhaço
Ator
Não
resposta
TOTAL
ONG
Voluntária
9,1%
40,9%
4,5%
10,6%
0,0%
1,5%
13,6%
53,0%
Comercial/Privada
0,0%
6,1%
0,0%
6,1%
Pública
6,1%
1,5%
0,0%
7,6%
Associação
9,1%
7,6%
1,5%
18,2%
Não resposta
0,0%
1,5%
0,0%
1,5%
TOTAL
65,2%
31,8%
3,0%
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Entre as organizações 40,4% possuem sedes próprias, para localização
administrativa, reunião da equipe, desenvolvimento de atividades, treinamento, etc.
Destas, somente 12,3% são de organizações que trabalham com palhaços-atores. A
regulamentação jurídica, organizando o trabalho , as relações com órgãos públicos, com
os hospitais, relações trabalhistas, etc., existe para apenas 36,8% das organizações, das
quais 17,5% trabalham com palhaços-atores.
Essas organizações são de formação recente, em 38,6% dos casos têm até 3 anos
de vida e em 42,1% têm de 4 a 7 anos. Boa parte destas organizações formaram-se na
década de 90, em períodos de crescimento e valorização do terceiro setor, bem como de
incentivo à participação popular, inclusões e capacitações, corroborados por órgãos
públicos, leis de incentivo e investimentos em criar condições favoráveis à cidadania
consciente.
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TEMPO DE ATIVIDADE ATÉ DEZ/02 (anos)
24,6%
22,8%
19,3%
14,0%
10,5%
Não resposta
8,8%
De 1 a 2 anos
De 2 a 3 anos
De 3 a 4 anos
De 4 a 7 anos
Mais de 7 anos
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
II. Atuação e equipes
As equipes que constituem estas organizações são formadas por profissionais de
áreas diversas que ocupam cargos e funções dentro das organizações segundo
formação, habilidade e capacidade desta instituição de agregar e distribuir tarefas,
provocar atividades e criar projetos. Em 16 iniciativas (28,1%) a equipe é formada por
mais de 16 integrantes, há porém uma média de 49,2% das organizações que é
composta por 5 até 15 integrantes. Considerando o interesse particular desta análise, o
que temos é uma média de 60% de organizações que possuem de 4 a 15 integrantes. São
grupos relativamente pequenos, cujo tamanho da equipe está associado à carga de
atividades, tempo disponível para realização das atividades, capacidade de captar
recursos e atender às instituições hospitalares, regulação do trabalho, etc. O número dos
palhaços é correspondente ao número de profissionais da área administrativa ou
operacional, mais vinculada à comunicação, capacitação de recursos, agendamentos,
etc. Geralmente a equipe é formada por 3 a 5 palhaços; 20% das organizações possuem
de 5 a 10 palhaços-atores. O número de palhaços é importante pois aponta a capacidade
efetiva de atendimento a leitos, hospitais, pacientes, familiares e médicos.
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Os projetos e intervenções artísticas em hospitais estão voltados ao seguinte
público: crianças e adolescentes (27,7%), familiares e acompanhantes (18,8%),
profissional de saúde (17,8%). Entre os grupos que desenvolvem suas atividades para
adultos, idosos e deficientes físicos soma-se 33,6%.
A maior parte das organizações (40,4%) trabalha em apenas um hospital. Atuam
com freqüência semanal, em sua maioria de 1 a 2 vezes por semana (57,9%).
Palhaço
Amador
Palhaço
Ator
Não
resp.
TOTAL
Menos de 2
29,8%
8,8%
1,8%
40,4%
De 2 a 4
15,8%
12,3%
0,0%
28,1%
De 4 a 8
5,3%
5,3%
0,0%
10,5%
FORM. ARTÍSTICA
NÚMERO DE INST.
Mais de 8
3,5%
1,8%
0,0%
5,3%
Não resposta
8,8%
7,0%
0,0%
15,8%
FORM. ARTÍSTICA
FREQ. DAS VISITAS
Até 2 vezes por mês
Até 1 vez por semana
Até 2 vezes por sem.
Até 3 vezes por sem.
Mais de 4 vezes por sem.
Outra freqüência
TOTAL
63,2%
35,1%
1,8%
100%
TOTAL
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos
Doutores da Alegria 2002.
Palhaço
Amador
Palhaço
Ator
Não
resp.
TOTAL
8,8%
19,3%
15,8%
5,3%
5,3%
8,8%
1,8%
14,0%
8,8%
1,8%
1,8%
7,0%
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
1,8%
10,5%
33,3%
24,6%
7,0%
7,0%
17,5%
63,2%
35,1%
1,8%
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos
Doutores da Alegria 2002.
Observa-se, principalmente, que estas visitas são realizadas por duplas de
palhaços (34,4%), no atendimento direto a pacientes em diversas situações e, no limite,
em trio. Essas incidências valem tanto para as equipes de palhaços-atores, quanto de
palhaços-amadores.
FORMAÇÃO ARTÍSTICA
NÚM. DE PALHAÇOS NA VISITA
Palhaço
Amador
Palhaço
Ator
Não
resposta
TOTAL
Um
13,1%
4,9%
0,0%
18,0%
Dois
16,4%
18,0%
0,0%
34,4%
Três
9,8%
8,2%
1,6%
19,7%
Quatro
4,9%
1,6%
0,0%
6,6%
Mais de Quatro
19,7%
0,0%
0,0%
19,7%
Não resposta
0,0%
1,6%
0,0%
1,6%
TOTAL
63,9%
34,4%
1,6%
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
A capacidade de aumentar o atendimento a leitos e hospitais está
intrinsecamente ligada a fontes de recursos, capacidade de organização, disponibilidade
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de captação de recursos, envolvimento com leis de incentivo, reconhecimento público,
etc.
A figura do palhaço, além de ser constituída por um conjunto de atos, caretas,
trejeitos irônicos, etc., depende, também, de uma caracterização do corpo; que algumas
das vezes o aproxima do modo de vestir do médico, da enfermeira, do assistente, etc.
Segundo o questionário aplicado, obtivemos as seguintes citações acerca da
caracterização dos palhaços: uso de figurino tradicional de palhaço, 17,4%; de jaleco,
12,5%; do figurino de cada palhaço, 13,4%; de equipamentos médicos, 9,8%; de nariz
vermelho, 8,5%; de crachá, 1,3%.
CARACTERIZAÇÃO DOS PALHAÇOS
Qt. cit.
Freq.
Figurino tradicional de palhaço
39
17,4%
Maquiagem
38
17,0%
Figurino próprio de cada palhaço
30
13,4%
Jaleco
28
12,5%
Equipamentos médicos
22
9,8%
Nariz vermelho
19
8,5%
Adereços variados
19
8,5%
Brinquedos
17
7,6%
Instrumentos de música
5
2,2%
Crachá
3
1,3%
Doces
3
1,3%
Não resposta
1
0,4%
TOTAL CIT.
224
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Lembrando a distinção de Fellini entre os palhaços branco e augusto ⎯ este meio
trapalhão, desajustado e aquele de comportamento elegante, lúcido, perfeito ⎯ ,
podemos comparar o palhaço no hospital, ao palhaço augusto que ante a reprovação, a
exigência, a lucidez do olhar do seu companheiro branco (o corpo de profissionais, ou o
hospital de uma forma geral), opõe o desajuste, o erro, sem distrair-se da delicadeza que
a saúde exige em situações difíceis.
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III. Formação artística e treinamento
Ao todo temos 19 equipes formadas por palhaços-atores distribuídas entre,
Paraná (1 caso), Pernambuco (2 casos), Rio de Janeiro (3 casos), Rio Grande do Norte (1
caso), Rio Grande do Sul (1 caso), São Paulo (10 casos) e Sergipe (1 caso).
As procedências dessas pessoas são diversas, como são diversas suas formações,
objetivos e valores que orientam as atividades. Entre estas organizações, 45,6% possuem
palhaços que passaram por cursos específicos de linguagem de palhaço; destes, 24,6% já
são atores formados por instituições de ensino, seja a academia ou cursos de técnicas de
teatro. Declaram-se, sobretudo, satisfeitos com a qualidade artística de suas equipes ⎯
mesmo quando 64,7% das equipes não tenham nenhuma formação artística
institucionalizada ⎯ e não apresentam interesse em aprimoramento ou reciclagem a
partir de cursos (62,7%).
FORMAÇÃO ARTÍSTICA
PARTICIPAÇÃO EM CURSO DE PALHAÇO
Palhaço
Amador
Palhaço
Ator
Não
resposta
TOTAL
Não
40,4%
21,1%
1,8%
63,2%
Sim
5,3%
24,6%
5,3%
35,1%
Não resposta
1,8%
0,0%
0,0%
1,8%
TOTAL
47,4%
45,6%
7,0%
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Frente à possibilidade de participação em cursos de artes, formação, reciclagem,
etc., em São Paulo, 57,9% das organizações declaram facilidade de transporte para o
local da realização, seja para toda a equipe ou para representantes. Destes, 21,1% são de
organizações que possuem na equipe palhaços-atores e 36,8% de organizações de
palhaços-amadores. São organizações da Região Central (3 casos), Nordeste (3 casos),
Sudeste (21 casos), Sul (6 casos). As dificuldades mais freqüentes, apontadas pelas
organizações, que impedem a participação em possíveis cursos ministrados em São
Paulo, dizem respeito à falta de verba para custeamento dos transportes ou à falta de
tempo.
14
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IV. Relação com os Hospitais
O resultado da análise aponta que a maior parte das organizações (64,6%), após a
construção da equipe e criação de um projeto de atividades artísticas, procura os
hospitais, para estabelecer um contato inicial, bem como uma apresentação de seus
projetos e intenções.
PRIMEIRO CONTATO COM A INSTITUIÇÃO
64,6%
13,8%
9,2%
10,8%
1,5%
Procuramos o
hospital
Indicação de
terceiros
O hospital nos
procurou
Outros
Não resposta
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
A apresentação formal da organização, de suas atividades e de seus projetos,
para a instituição hospitalar, ocorre para 52,6% das organizações. Estes declarantes
realizaram a apresentação formal, para toda instituição hospitalar a que se associaram.
A maior parte dos projetos são construídos pelas equipes (75,4%), sem a consulta,
associação, debate, ou parceria da instituição hospitalar e profissionais de saúde. Entre
as equipes de palhaços-atores, apenas 5 iniciativas criaram seus projetos e organizaram
as atividades consultando interesses e valores dos hospitais, veiculando necessidades
de ambas as partes, cuidados técnicos e éticos.
São raras as formalizações de contratos com os hospitais, apenas 11 organizações
(19,3%) revelaram ter realizado algum tipo de contrato de serviços, regulando as
relações entre ambas as instituições. Independente de uma relação contratual ou não,
15
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47,4% das equipes passam por avaliações constantes das suas práticas artísticas e seus
efeitos. Também, 56,1% das organizações auto-avaliam suas atividades, o modo como
se organiza o hospital e se relacionam os profissionais, a recepção das linguagens
artísticas pelos profissionais de saúde, etc. Para 33,3% das equipes, as avaliações partem
tanto dos hospitais, como do próprio grupo.
A auto-avaliação dos grupos aponta tanto a limites e dificuldades quanto às
satisfações com os trabalhos e desenvolvimento artístico da equipe. Aponta-se,
principalmente, para dificuldades financeiras ⎯ em 37,5% das citações ⎯, o que
impossibilitaria freqüências em hospitais, compras de materiais e acréscimo de leitos
atendidos. Citam, ainda, as seguintes dificuldades: relação com o hospital e/ou
profissional de saúde ( 17,5%), suporte artístico e material (12,5%), disponibilidade dos
palhaços (12,5%) e desgaste e/ou falta de preparo emocional (3,8%).
V. Número de visitas
Ao somarmos o número de visitas realizadas por todas as organizações desde a
data de suas formações, teremos um valor máximo de 345.310 visitas. Porém, a maioria
das equipes (31,6%) realizaram menos de 10.000 visitas a hospitais.
NÚMERO DE VISITAS DESDE O INÍCIO
52,6%
19,3%
12,3%
10,5%
5,3%
Não resposta
Menos de 1000
De 1001 a 10000
De 10001 a 30000
Mais de 30001
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
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Do segundo semestre de 2001 ao primeiro semestre de 2002, foram realizadas
78.416 visitas em hospitais. Anualmente, 14% das equipes conseguem realizar menos de
100 visitas; e 15,8% de 101 a 500 visitas. Estes números estão relacionados à capacidade
técnica e financeira de cada organização, quantidade de profissionais agregados às
equipes de palhaços, número de hospitais atendidos e quantidade de visitas semanais.
Ao estabelecer um padrão eqüitativo, teríamos uma média anual de 2.704 visitas ao ano,
por grupo; e considerando os últimos 10 anos, teríamos uma média de 12.789 visitas,
por grupo, nesse período.
NÚMERO DE VISITAS (ÚLTIMO ANO)
49,1%
14,0%
15,8%
10,5%
8,8%
1,8%
Não resposta
Menos de 100
De 101 a 500
De 501 a 1000
De 1001 a 5000
Mais de 5001
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
VI. Metas das organizações
As metas concluem um conjunto de idéias e pretensões que orientam a criação de
projetos, desenvolvimento de atividades e o amadurecimento das organizações de
palhaços em hospitais. A maior parte dos respondentes apontam que suas metas
principais estão concentradas no aprimoramento administrativo e consolidação das
organizações ( 23,5% das citações), expansão (22,4% das citações), desenvolvimento de
ações de capacitação de recursos (18,8% das citações) e aprimoramento da formação
artística.
17
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METAS
Qt. cit.
Freq.
Aprimorar administração/consolidar-se
20
23,5%
Expandir-se
19
22,4%
Ações de captação de recursos/manutenção financeira
16
18,8%
Aprimorar formação artística
10
11,8%
Núcleos de pesquisa
2
2,4%
Formar/capacitar pessoas
1
1,2%
Não tem definido
3
3,5%
Não resposta
14
16,5%
TOTAL CIT.
85
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Todas estas metas, associadas a metodologias e objetivos, apontam ao interesse
das organizações em expandir suas atividades para um maior número de hospitais,
atendendo cada vez mais pessoas, à segurança financeira para financiamento das
atividades e ao reconhecimento público da organização e de seus projetos de uma
forma geral.
VII. Divulgação e assessoria de imprensa
Quando da realização da pesquisa, a assessoria de imprensa dos Doutores da
Alegria localizou publicações impressas em jornais e revistas, com pequenos informes,
ou mesmo, grandes matérias, sobre outras equipes de palhaços doutores. Outras
publicações foram enviadas junto aos relatórios respondidos. Isso ajudou a organizar
um arquivo mais rico, com informações variadas. Essas publicações são representativas
do grau de reconhecimento público desses trabalhos. Pelo menos 77,2% das equipes
possuem matérias publicadas em mídias diversas.
Embora 50,9% das equipes não tenham o suporte técnico de assessorias de
imprensa e tampouco técnicos responsáveis por uma estratégia de divulgação,
procuram produzir materiais explicativos, divulgam suas atividades na imprensa,
constróem sítios em rede. Entre materiais descrevendo histórico, objetivos, métodos e
características dos projetos, têm-se: book (em 13% dos casos), folders (em 13%), projeto
escrito (em 39%) ou outro tipo de material (em 15,6%). Somente 11 equipes de palhaços
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não possuem nenhum tipo de material explicativo. Esse material é também um dos
principais elementos de legitimação do grupo, na medida que se torna um importante
meio pelo qual será avaliado pelo hospital, órgãos de reconhecimento público,
patrocinadores e a sociedade em geral. Hoje, o grande meio midiático em que a maioria
dos grupos apresentam seus valores, integrantes, projetos e atividades, é a Internet, por
meio de sítios e e-mails 3 .
PÁGINA NA INTERNET
Sim
29,8%
Não
70,2%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Um dos elementos importante para a comunicação dos grupos com a imprensa
ou mesmo o Hospital com que se relaciona, é a figura do porta-voz. Afinal, este é o
profissional que estabelece o contato, que está sempre disponível para esclarecimentos,
que representa o grupo e, ao mesmo tempo, fala por ele. Este porta-voz está presente
em 82,5% das organizações; não é necessariamente um profissional da comunicação,
pode até ser um ator, ou uma pessoa que se disponibiliza. Em muitos grupos cuja
formação é recente, uma única pessoa desenvolve várias atividades dentro da
organização, e muitas vezes, essa pessoa é a mesma que teve a idéia inicial de criação da
organização, um palhaço, o principal porta-voz e referência.
3
Entre as 57 organizações respondentes, 17 possuem sítios na Internet.
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VIII. Financiamento do projeto e captação de recursos
A captação de recursos está intimamente associada à capacidade de cada grupo
de criar projetos, implementá-los, ou dar continuidade ao trabalho que já desenvolvem.
A captação pode se constituir como um departamento, em que trabalham pessoas
especializadas, ou então se constitui pelo esforço dos integrantes em conquistar
financiamentos. Trata-se aí, de uma tarefa que fica sob a responsabilidade do porta voz,
presente em, pelo menos, 47 organizações (82,5%). Geralmente as equipes responsáveis
pela captação de recursos é composta por três ou mais pessoas (em 24,5% dos casos), ou
então uma única pessoa (em 26,3% dos casos) ; apenas 10,5% das organizações possuem
duas pessoas responsáveis pela captação de recursos ; conta-se esses valores para uma
população de 44 respondentes. Deve-se levar em conta, que a parte do relatório
destinada à captação, não foi respondida por todos os grupos, por isso o alto valor de
não respostas.
O sustento material de 19,3% das organizações ocorre a partir do investimento
próprio de seus integrantes, mesmo quando se trata de equipes de palhaços-atores
(9,1%). Trata-se de um tipo de associação de pessoas que se organizam, inclusive
financeiramente, para manter um tipo de projeto, ou intenção assistencialista. Outro
tanto (13,6% das organizações), recebe financiamento de empresas 4 e boa parte deste
financiamento é possível através de leis de incentivo.
Grande parte dos financiamentos de pessoa física ou jurídica, foram facilitados pelas leis de incentivo à
cultura e, especialmente, pela lei 8313/91 (Lei Rouanet), cujo objetivo é fomentar a atividade cultural e
artística nas mais diversas modalidades e facilitar a captação de recursos para a área cultural. A partir
desta lei, instituiu-se o PRONAC (Programa Nacional de Apoio à Cultura), que incentiva a iniciativa
privada e o governo a investir em projetos culturais através do Mecenato e/ou do Fundo Nacional de
cultura.
4
20
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ORIGEM DOS RECURSOS
Qt. cit.
Freq.
Investimento pessoal da equipe
18
21,2%
Empresas
12
14,1%
Geração de Renda
11
12,9%
Indivíduos/pessoa física
10
11,8%
Hospitais
6
7,1%
Outros
11
12,9%
Não resposta
17
20,0%
TOTAL CIT.
85
100%
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
Independente de financiamentos, há outras medidas de geração de renda para
estas equipes ⎯ capazes de assomar-se à investimentos dos integrantes, financiamento
ocasional de empresas, doações pessoais, ou remuneração por parte da instituição
contratante ⎯ como realizações de cursos, eventos, comercialização de produtos, etc.
Por estes meios, 14,6% das equipes garantem um tipo de custeamento que, embora não
suficiente, se complementa ao orçamento mensal de cada projeto. Sabe-se que os
contemplados por leis de incentivo são uma minoria de 7%, ou exatamente 4 grupos.
FORMAS DE GERAÇÃO DE RENDA
49,3%
16,0%
13,3%
10,7%
5,3%
Não resposta
Realização de
cursos
5,3%
Promoção de
eventos
Realização de
espetáculos
Venda de
Produtos
Outros
Fonte: Pesquisa Palhaços em Hospitais. Centro de Estudos Doutores da Alegria 2002.
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Conclusões
Outrora, Fellini distinguira o clown branco e o augusto, dois opostos,
idiossincrasias indissociáveis; são o orgulho, o rigor, a razão e a distração, a
desmemória, o desleixo, a liberdade dos instintos. Relacionam-se, encenam juntos, há
hierarquia nas suas interações, “o clown branco e o augusto são a professora e o menino,
a mãe e o filho arteiro, e até se podia dizer que o anjo com a espada flamejante e o
pecador. São, em suma, duas atitudes psicológicas do homem, o impulso para cima e o
impulso para baixo, divididos, separados” 5 . O augusto não se dá bem com tanta
perfeição, embebeda-se, cai, tropeça, é meio sem jeito, acostuma-se mal ao bom tom, às
regras duras de comportamento.
Morgana Masetti compara o clown branco ao médico, o augusto a outro palhaço
que ironiza sua relação com o branco, na dinâmica da realidade hospitalar 6 . São
palhaços sem picadeiro, diria Fellini: “O mundo, não só minha cidade, está povoado de
clowns”. Em certo momento da produção de I Clown, Fellini era capaz de ver clowns por
toda Paris; eram homens de negócio, mulheres de luvas, velhas com chapéus ridículos.
Cria-se augusto. Mas ante o augusto, o clown branco. Porque não imaginar o hospital,
cheio de palhaços, em relações quase desatentas às disciplinas, exigentes de cuidados,
simultâneas às brincadeiras? O augusto não sucumbi ao encanto das perfeições do
branco; o palhaço no hospital sabe que é doutor, mas também sabe que não pode curar
pelos mesmos meios do médico, resgata no mais das vezes as emoções, recria
realidades, invoca respostas alegres ante momentos difíceis, quando a liberdade não
pode se conciliar com a internação, a dor ao prazer e a emoção à racionalidade técnica
que por vezes faz-nos desaperceber os sentidos.
5 Cf. Federico Fellini. Fellini por Fellini. Porto Alegre, L&PM Editores, 1983, pp. 99-121.
6 Cf. Morgana Masetti. Soluções de palhaços: transformações na realidade hospitalar. São Paulo, Palas Athena,
1997, pp. 37-41. Masetti, utiliza-se do termo palhaço como sinônimo do termo clown utilizado por Fellini;
outros autores atribuem aos termos, distinções teóricas.
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Ao realizar a pesquisa sabíamos destas ingerências, sabíamos que a instituição
hospitalar não se abriu facilmente às iniciativas artísticas de palhaços, foi reticente,
demorou a acostumar-se, mas se convenceu frete aos primeiros sucessos e bons
resultados. Sabíamos também, que palhaços não são iguais, criam piadas diferentes;
quando no hospital, encaram as coisas e pessoas cada um a seu modo, possuem
repertórios diversos, intenções que não combinam. Além das atuações de palhaços em
hospitais, somam-se outras iniciativas, que lidam com arte, narrativas, educação,
leitura, etc., que adentram o espaço hospitalar — e principalmente a partir da década de
90 — , com propostas inovadoras no que tange ao cuidado do paciente, relação de
trabalho dos profissionais de saúde, ao afeto e emoção dos envolvidos nas situações de
tratamento hospitalar, etc. Com o sucesso de algumas iniciativas, o hospital e mesmo os
profissionais de saúde tornaram-se mais abertos aos diversos projetos, experiências,
propostas de humanização e voluntariado. Sabíamos, porém, que a abundância por
vezes se aproxima ao descuido, à falta de avaliação, ao despreparo.
A análise baseou-se na pesquisa realizada anteriormente por Morgana Masetti
em Boas Misturas, em que vê no trabalho dos palhaços, uma ressignificação da prática
médica. A isto acrescentamos uma pergunta: pode-se entender estes grupos que se
espalham pelo Brasil como esforços por construir ressignificações das práticas médicas
e do espaço hospitalar?
Um breve histórico dos circos, nos levaria das lonas, das famílias nômades de
artistas variados, às escolas de circo 7 da década de 80 e aos cursos de palhaços 8 que
O picadeiro da escola nacional de circo é inaugurado em 13 de maio de 1982. Segundo Antônio Torres,
“esta escola, como as demais que existem hoje no Brasil, ganham importância quando a atividade
circense começa a deixar de ser familiar, não repassando mais os seus ensinamentos de pai para filho”. E
segundo Omar Eliott, “Hoje São poucos circos que continuam familiares. Por mudança de valores, os
circenses passaram a pôr seus filhos para estudar, para fazer um curso universitário. (...) O certo é que
iniciativas particulares já vinham criando escolas de circo antes mesmo de se tornarem estruturadas de
forma permanente, com sua gestão a cargo de entidades oficiais. Isso veio a dar continuidade e ampliação
ao trabalho de Miroel Silveira e do Piolim, em São Paulo, do grupo paulista que fundou a Escola Picolino
na Bahia, e de outros empreendimentos do Gênero ( Cf. O circo no Brasil. Rio de Janeiro/ São Paulo,
FUNARTE/Atração, 1998).
8 Cf. Idem, 1998.
7
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proliferam atualmente. Hoje, só na cidade de São Paulo, são mais de 15 escolas de
palhaços. Não se pode dizer, porém, que o palhaço perdeu o picadeiro, só passou a
brincar no teatro 9 , no hospital, em qualquer outro espaço. Como demonstra esta
pesquisa, há 180 organizações de “Palhaços em hospitais”, só no Brasil (em 2001),
realizando em média 2.704 visitas ao ano. Concentradas, principalmente nos estados de
São Paulo e Rio de Janeiro, fator facilitador de contatos, encontros e relações.
Só em São Paulo, 11 organizações, realizaram ao todo, 49.345 visitas entre o
último semestre de 2001 e o primeiro semestre de 2002. A expansão destes projetos
poderia conciliar-se a uma realidade paulista de 2.883 leitos pediátricos hospitalares ⎯
43 hospitais da rede pública, 27 da rede privada e 7 universitários (todos da rede SUS) 10
⎯ quando as principais metas elencadas são: consolidação das organizações, expansão,
capacitação de recursos e aprimoramentos de recursos e formação artística.
Quanto à captação de recursos, quando se conta com o investimento de
empresas, estas têm que reconhecer vantagens nos seus financiamentos, tanto no que se
refere à visibilidade da marca ou da empresa, ou no que se refere aos benefícios fiscais;
portanto, os incentivos estão no âmbito dos interesses. A menor parte das organizações
são beneficiadas pelas leis de incentivo fiscal, ou principalmente, pela Lei federal n.º
8.313, a Lei Rouanet. Segundo a pesquisa realizada por Cristiane Olivieri no Ministério
da Cultura, sabe-se que o aumento do número de produções culturais, de parcerias com
a iniciativa privada e da profissionalização do setor, esbarra no excesso de burocracia e
permite a concentração de recursos na região sudeste do país, a exclusão de artistas
amadores e a idéia ingênua de que os incentivos fiscais seriam suficientes para atender
a todo o tipo de demanda 11 . Quanto à formação artística, hoje, ela se apresenta como
Oswald de Andrade, admirador do circo de Piolim, queria um teatro povoado de elementos trazidos da
cultura popular, do circo, do cabaré e do teatro de revista. Enche sua obra de trocadilhos, chiste, paródias,
do grotesco e de palhaço. Opõe ao discurso intelectualizado e ao drama, a cultura popular.
10 Fonte: Ministério da Saúde – sistema de Informações hospitalares do SUS (SIH/SUS).Cf. site da
secretaria de saúde para mais informações.
11 Cf. Cristiane Olivieri. O incentivo fiscal à cultura e o Fundo Nacional de Cultura como política cultural do
Estado: usos da Lei Rouanet (1996-2000). São Paulo, tese de mestrado USP, 2002.
9
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um desafio — tanto para as iniciativas de palhaços, quanto para instituições formadoras
de artistas e de profissionais de saúde, sem deixar de lado toda instituição hospitalar —,
quando se pretende uma ressignificação dos espaços e relações hospitalares, não só no
que tange aos conhecimentos técnicos das artes cênicas e das artes circenses, mas ao
despreparo emocional, qualidade do trabalho e das metodologias desenvolvidas por
cada organização, frente às necessidades dos hospitais e da saúde de cada palhaço e
pessoa atendida.
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