comunicado de imprensa
18 de dezembro de 2013
Consciência ambiental dos portugueses
elevada, mas pouco levada à prática
Barómetro da União Europeia destaca a consciência ambiental dos
portugueses, mas também o seu desconhecimento e falta de atuação face à
perda de biodiversidade.
O relatório intitulado “Eurobarómetro” publicado pela Comissão Europeia em
novembro de 2013, reflete a “atitude face à biodiversidade” dos europeus,
através de inquéritos a uma amostra representativa da população. Os dados em
relação a Portugal sugerem algumas tendências, que tanto têm de curiosidade,
como de importância, de onde se destaca a elevada consciência ambiental dos
portugueses, mas também a sua desinformação em relação ao tema.
Foto: Observação de aves © Nuno Barros
O relatório realça novamente que a perda de biodiversidade na União Europeia e a
nível global tem acelerado nos últimos anos. Cerca de uma em cada quatro espécies
encontram-se ameaçadas na UE, e de acordo com a Comissão Europeia, são
atualmente alvo de sobrepesca 39% das populações de peixes analisadas no
Atlântico, e 88% no Mediterrâneo. Face a este problema, a UE adoptou em maio de
2011 uma ambiciosa estratégia para travar a perda de biodiversidade e dos serviços
dos ecossistemas no espaço comunitário até 2020.
Incidindo mais concretamente sobre os resultados do “Eurobarómetro”, verifica-se
que 43% dos portugueses sabe o significado do termo “biodiversidade” (uma
abreviatura para “diversidade biológica”), 38% já ouviu falar mas não sabe o que é, e
19% nunca ouviu falar. Na mesma linha, 39% sentem-se “informados” em relação à
perda de biodiversidade, enquanto que e 60% se sentem “não-informados”, e 91%
revelam interesse em estar melhor informados sobre o tema.
Foto: Picanço-barreteiro, uma espécie em
declínio em Portugal © José Viana
Os portugueses são o povo europeu que mais importância coloca na “poluição do ar e
da água”, “desastres de origem humana” (93%) e “destruição de habitat” (68%) como
sendo causas muito relevantes para a perda de biodiversidade. A perda das florestas
nativas surge como o problema que os portugueses consideram mais grave em
relação ao tema (81% considera este problema muito grave). Isto, relembrando que
estamos num contexto em que a recente proposta de alteração da legislação sobre
Arborização e Rearborização, abre a porta à liberalização das plantações de eucalipto,
e com a nova "Lei das Sementes" em vias de ser aprovada pelo Parlamento Europeu,
a proibir a troca de sementes e tornando ilegal a comercialização de espécies
autóctones.
Ainda em relação aos resultados, a consciência ambiental dos portugueses surge
novamente em primeiro lugar com 78% dos inquiridos a considerarem que a perda de
biodiversidade é um problema grave a nível mundial. No entanto este número cai para
62% quando se fala à escala europeia, e apenas 55% dos portugueses considera a
perda de biodiversidade como um problema sério em Portugal. De referir que em 2010
este valor era de 72%, o que demonstra um acentuado decréscimo da importância
que os portugueses dão à perda da biodiversidade no país. Em contraste, Portugal
volta a estar em primeiro lugar quando 41% dos inquiridos afirmam já estar a ser
afetados pelo problema.
Para mais informações contactar:
Nuno Barros
Assistente do Programa Marinho
TEL 918 468 233
e-mail: [email protected]
comunicado de imprensa
18 de dezembro de 2013
A verdade é que nem só nas florestas tropicais longínquas a perda de biodiversidade é
um problema. Segundo a BirdLife International, 40% das espécies de aves mais
comuns na Europa regrediram a nível populacional nos últimos 30 anos, com ênfase
para as aves mais dependentes de zonas agrícolas. Em Portugal destacam-se os
casos da rola-brava, do picanço-barreteiro, e do picanço-real, casos comprovados a
partir dos programas de monitorização realizados pela SPEA. Também no mar existem
problemas, sendo as aves marinhas o grupo de aves em declínio mais acentuado a
nível mundial, afectado por ameaças como a introdução de espécies invasoras nas
colónias de nidificação e capturas acidentais nas artes de pesca. Lembramos que as
águas portuguesas são cruciais para espécies de aves em vias de extinção como a
pardela-balear, ou as endémicas freira-da-madeira, freira-do-bugio e painho-demonteiro, que vivem exclusivamente nas águas das nossas Regiões Autónomas dos
Açores e da Madeira.
Em relação às áreas protegidas, apenas 14% dos portugueses sabe o que é a “Rede
Natura 2000” (a rede ecológica para o espaço comunitário resultante da aplicação das
Diretivas Aves e Habitats), 25% desconhece o seu significado mas está familiarizado
com o termo, e 60% nunca ouviu falar. Novamente com tendência para o topo da
tabela, os portugueses são o povo que considera mais importante que nas áreas
protegidas se promova o eco-turismo (71%), e os usos sustentáveis da área (90%).
Numa nova demonstração de consciência ambiental, 92% dos portugueses
(novamente em primeiro lugar) consideram que é uma obrigação moral parar a perda
de biodiversidade. E mesmo no atual contexto socioeconómico, apenas 10% dos
portugueses defende que os impactos negativos do desenvolvimento económico nas
áreas protegidas são “aceitáveis” pois o desenvolvimento está sempre acima da
conservação da Natureza.
Mas quando as questões estão relacionadas com o quotidiano, o cenário muda. Um
pouco abaixo da média europeia (38%), apenas 34% dos portugueses admite que se
esforça para travar a perda de biodiversidade. Em 2010, há apenas 3 anos, este valor
era de 43%, o que reflete um aumento no relaxamento das metas ambientais a atingir
pelo cidadão português para o seu dia-a-dia.
A SPEA apela a que mesmo num contexto socioeconómico adverso, os cidadãos
continuem a realizar pequenos gestos simbólicos para o bem do planeta que pouco
exigem de esforço, como reciclar e reduzir, dar preferência a produtos locais e/ou que
respeitem boas praticas ambientais, participar em debates públicos pela
sustentabilidade das decisões políticas, e a um maior contacto com a Natureza que
nos rodeia, e que ainda é a nossa maior riqueza.
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Notas para editores:
SPEA - A Sociedade Portuguesa para o estudo das Aves é uma Organização Não Governamental de Ambiente que trabalha
para a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal. A SPEA faz parte da BirdLife International, uma aliança de
organizações de conservação da natureza em mais de 100 países, considerada uma das autoridades mundiais no estudo
das aves, dos seus habitats e nos problemas que os afectam | www.spea.pt
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