I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
DINÂMICA ECONÔMICA E POPULACIONAL DO ESTADO DA BAHIA: UMA BREVE
ANÁLISE REGIONAL
Irialinne Queiroz Rios
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
[email protected]
Karla Christiane Ribeiro Tanan
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
[email protected]
Shadia Fernanda dos Santos Pinto
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
[email protected]
Vitor de Souza Silva
Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
[email protected]
INTRODUÇÃO
A partir do princípio de que a Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico e
a sua relação com o homem, pode-se afirmar que esse ramo do conhecimento possibilita
estudos acerca das dinâmicas espaciais, que engloba mudanças de cunho social, físico e/ou
econômico. Com esta percepção se entende a necessidade de maior análise acerca da
dinâmica populacional e econômica, tanto os seus fundamentos conceituais quanto as suas
configurações espaciais, neste caso, dando ênfase ao estado da Bahia.
Os desequilíbrios econômicos e sociais tem se tornado um forte ponto de discussão,
visto que essas disparidades são perceptíveis em todo o mundo, não obstante o estado da
Bahia também apresenta uma forte desigualdade de renda e desenvolvimento, que pode ser
observada a nível municipal e regional, uma vez que as divisões regionais do estado
possibilitam um aprofundamento nos estudos socioeconômicos de cada faixa territorial e a
ratificação do forte contraste entre elas.
Esta pesquisa reúne os critérios e os fatores que impulsionam a dinâmica econômica
e populacional na Bahia, a partir da variação espacial dos setores econômicos e como eles
influenciam nas relações sociais. Cabe ressaltar que a atual feição do estado é decorrente
de um complexo processo de territorialização histórico e político.
O objetivo deste trabalho está voltado para a análise sobre os desníveis de
desenvolvimento entre os indicadores econômicos e sociais do estado da Bahia na
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perspectiva de discutir a ligação entre a economia e a população e a condição de
interdependência entre ambos, ou seja, a primeira delas tem a sua base vinculada e
estruturada pela segunda e vice-versa. A sociedade determina as metas a serem atingidas,
modificando, transformando este desejo à proporção que mudam as formas de relações e
as disponibilidades de capital e de técnica (Andrade, 1987), paralelamente, há casos que o
estímulo de uma economia é a disponibilidade da força de trabalho.
Assim como afirma Amélia Damiani (1991):
(...) de qualquer forma, há uma ligação direta e complexa entre a geografia
da população e a geografia econômica. O nível ou potencial de existência
não seria determinada pela unidade geográfica de superfície, mas pela
localização da população, referenciada por um marco espacial, definidos
por critérios técnicos e econômicos, que permitem classificá-los segundo
seu grau de desenvolvimento” (DAMIANI, 1991, pág. 50).
Partindo desta discussão, pretende-se expor sugestões para um planejamento
público-político que visa o fortalecimento equável das economias e a melhoria da qualidade
de vida da população baiana.
METODOLOGIA
A metodologia adotada partiu de uma pesquisa e revisão bibliográfica, cujas
referências disponibilizam informações, conceitos e teorias relacionados ao tema abordado,
para uma análise crítica e reflexiva. A fim de obter melhor compreensão do conteúdo e das
discussões propostas foram inseridas ao trabalho, ilustrações tais como mapas e tabelas,
adquiridas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Superintendência
de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
Por reconhecer a complexidade e a extensão do território baiano, o qual é o nosso
principal objeto de estudo, será utilizado como base das analises socioeconômicas o critério
de divisão territorial em regiões econômicas, por levar em consideração seus intuitos de
diminuição das disparidades no Estado, como forma de melhor administrar e planejar de
maneira equável o desenvolvimento e o crescimento da Bahia.
UMA BREVE DISCUSSÃO TEÓRICA
Tendo em vista as grandes divergências encontradas quando se tenta compreender
a complexa relação entre a economia e a população, observa-se que um dos fatores que
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apresenta um caráter estratégico e muitas vezes conflitante na análise da dinâmica
econômica é o contingente populacional.
De acordo com as condições e as possibilidades de vida numa dada região, cada
nascimento assume um significado particular (Pierre, 1973). O ritmo do crescimento
demográfico deve acompanhar as condições de distribuição da produção de renda para se
manter
uma
estabilidade
socioeconômica,
ou
melhor,
carece
sustentar
uma
proporcionalidade entre o crescimento do produto interno bruto e a distribuição de
rendimentos.
Quando abordado o problema entre essas relações, ainda que moldando uma
aproximação através de regulações quantitativas, deve-se levar em consideração o conjunto
das estruturas e das relações políticas. Esse problema não está necessariamente no
contingente populacional. É inegável que uma face econômica precária reflete uma
realidade social também delicada, que tende a se tornar preocupante com o crescimento da
população. Porém, não se pode considerar e sintetizar a existência de um maior ou menor
desenvolvimento em função de ser uma região mais ou menos populosa ou mais ou menos
povoada.
De acordo com Rossetti (1994) nenhum país se desenvolveu com uma população
declinante. Historicamente, nos períodos de crescimento mais rápido dos países hoje
desenvolvidos, as elevadas taxas de crescimento populacional coincidiram com a expansão
de suas economias, constituindo-se, talvez numa das causas do crescimento econômico
acelerado (Madison apud Rossetti, 1994). No entanto, em meio a tantas contradições, devese entender que na realidade existem países muito populosos, isto é, com grande população
absoluta, desenvolvidos e subdesenvolvidos, do mesmo modo como existem países pouco
populosos, muito desenvolvidos, ao lado de outros pouco desenvolvidos (ANDRADE, 1998).
Em casos como o do Brasil, onde existem grandes espaços a ocupar em contraste
com outros densamente povoados, necessita-se dinamizar a economia, a fim de que o
crescimento demográfico seja suplantado pelo crescimento econômico.
Cabe ressaltar que, se em termos econômicos o Estado da Bahia é a sexta maior
economia do país, o mesmo não pode se dizer em termos sociais. Para Alban (2005), os
tímidos resultados até então obtidos pela Bahia no desenvolvimento humano são percebidos
como a comprovação de um suposto esquecimento dos governos baianos com a área
social, nos quais a preocupação central seria sempre o desenvolvimento econômico. Mais
uma vez torna-se claro o papel da política na administração da estrutura econômica que
mantém vinculada direta e indiretamente à populacional.
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HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E POPULACIONAL NO ESTADO DA
BAHIA
População
A história da Bahia muitas vezes se confunde com a história do Brasil, uma vez que
o processo de ocupação no território brasileiro teve início no litoral baiano. Fazia-se
necessário a ocupação do mesmo e segundo a SEI (2001) muitos participaram desse
movimento: governantes, bandeirantes, religiosos, aventureiros e degredados, garimpeiros,
agricultores, entre outros.
Trinta anos após a descoberta e posse do país, de acordo com Silva (1989) surgiram
as primeiras condições para que fosse possível o povoamento calcadas nas terras
abundantes com condições favoráveis para a implantação da cultura de cana-de-açúcar e
mão-de-obra barata já que havia uma grande demanda do produto no mercado europeu,
além de defender o território contra as invasões estrangeiras.
O sistema de capitanias hereditárias foi a primeira forma de explorar e povoar as
terras brasileiras, com uma população composta por índios (que já ocupavam as terras
brasileiras), europeus e negros (oriundos do tráfico de escravos para exploração da mão-deobra nas plantações de cana), que culminou com a criação de vilas e povoados,
consolidando essa ocupação.
A maioria da população ainda se concentrava ao longo da região litorânea no final do
século XVII, principalmente na região da Baía de Todos os Santos, por questões de início de
povoamento, economia e por falta de rotas terrestres. Porém a criação das estadas das
boiadas - que conduziam o gado vindo do interior - atraiam os aventureiros por causa do
barateamento das terras interioranas (SILVA, 1985). As missões jesuíticas também tiveram
grande importância na ocupação do território baiano. Longe da capital, as missões e as
fazendas de gado cresciam, ocasionando a criação de povoações. Na região de Ilhéus, os
jesuítas fundaram núcleos em aldeias de índios catequizados. A descoberta de minerais
preciosos na região de Jacobina também atraia bandeirantes e garimpeiros, povoando
aquela localidade.
No início do século XVIII o Recôncavo encontrava-se bastante povoado, porém
permanecia a necessidade de se adensar o povoamento em outras regiões. As expedições
começaram então a se direcionar para norte, sul e sertão e segundo SILVA (1989) esse
período ficou caracterizado pela ruralização da população, onde mais de 70% dela viviam
em meio rural.
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No século XIX, intensificou-se a ocupação da população no oeste. Houve um
aumento da população nas áreas de atuação das novas fronteiras agrícolas, mesmo assim,
de acordo com Silva (1989), o Estado da Bahia perdeu população para outros estados do
Sudeste e Sul do país causando grande mobilidade demográfica refletindo também no
século XX.
Todo esse processo mostra que o povoamento da Bahia se fez através de uma
colonização, de certa forma orientada para a exploração econômica do território em ações
diretas do governo ou de forma espontânea.
A população da Bahia apresenta, segundo dados da SEI (2001), forte contingente de
negros e mulatos, concentrados no Recôncavo, além de numerosos caboclos e a cultura
africana tem grande influência na música, na culinária e na religião. O Estado possui a maior
população do Nordeste e a quarta maior do país. Suas principais cidades, que vem ganhado
destaque por tamanho da população são: Salvador, Lauro de Freitas, Feira de Santana,
Camaçari, Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista, Jequié e Juazeiro.
Economia
Na perspectiva de Alcoforado (2007) a história econômica do Estado da Bahia
apresentou duas fases: a primeira, que vai do Século XVI até 1970, corresponde à fase de
economia primária exportadora e, a segunda, de 1970 em diante, diz respeito à fase de
economia predominantemente industrial inaugurada com a implantação da indústria
petroquímica ampliada pela metalurgia do cobre, pela indústria de celulose e, mais
recentemente, pela indústria automobilística.
Inicialmente a economia baiana estava voltada para exploração do pau-brasil nos
primeiros anos da colonização portuguesa, caracterizando-se como uma economia de
exportação. Com a ocupação do território brasileiro, começou a se desenvolver a partir do
século XVI as lavouras de cana e a produção de açúcar na região do Recôncavo e o
algodão, que também se mostrou como um dos principais produtos de exportação. Também
deve-se destacar ao longo da história a importância de produtos tais como o fumo,
produzido nos tabuleiros e nas terras arenosas da Bahia, a pecuária, que se fixou no sertão
baiano, proporcionando as condições para a exportação de couros e solas e a produção da
farinha nas regiões de Jaguaripe, Camamu e Nazaré.
Após a independência do Brasil, assim como explica Alcoforado (2001) a Bahia
passa a ter uma economia mais diversificada, ainda voltada para exportação, mas também
passa a importar diversos produtos como tecidos, vinhos, lã, azeite, entre outros. Nas
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ultimas décadas do século XVII, após uma série de crises na economia baiana, destaque
para a crise açucareira, resultado de métodos inadequados de produção, trabalho escravo,
estreita dependência da economia ao mercado externo e falta de recursos financeiros.
No final do século XIX e início do século XX inicia-se então uma nova fase na
economia baiana com a produção do cacau e, em 1925, sua liderança entre os produtos de
exportação da Bahia. Nesse período são instaladas as primeiras indústrias no Estado como
a têxtil e as fábricas de charutos e calçados.
As restrições ao comercio com a Alemanha, causadas pela I Guerra Mundial (1914 –
1918), juntamente com a crise de 1929, abalou, também, fortemente a Bahia, que por muito
tempo dependeu economicamente do cacau até meados da década de 80. No entanto,
ainda de acordo com Alcoforado (2001) com a política de substituição de importações
implementadas pelo governo federal a partir da década de 70, a Bahia entrou num processo
de industrialização, especificamente na produção de bens intermediários, como será
explanado posteriormente.
Como afirma Silva e Silva (1996) têm-se hoje importantes indicadores de uma nova
estruturação do território baiano em que é possível destacar diversas áreas e setores de
atividades.
ESPACIALIZAÇÃO DOS SETORES ECONÔMICOS NO ESPACO BAIANO: BREVE
ANALISE REGIONAL
O estado da Bahia possui 15 regiões econômicas representadas na Figura 01, que
se destacam pela suas potencialidades econômicas e populacionais. A região Metropolitana
de salvador é a mais desenvolvida do Estado sendo adensada pela presença de suporte
comercial, de serviços e turismo, sobretudo em Salvador, sua capital com infra-estrutura
diferenciada em relação ás demais regiões da Bahia (ALCOFORADO, 2007). A cidade de
Salvador possui um elevado investimento na indústria, devido à importância do setor
petroquímico e ao grande acúmulo de capital.
Figura 01 – Regiões Econômicas do Estado da Bahia
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A centralização econômica de Salvador e de seu entorno imediato, foi
sensivelmente estimulada com a atividade industrial. No entanto, ainda se mantendo como
centro econômico administrativo do Estado, está aos poucos sentido os efeitos causados
pelos mecanismos de descentralização, expressos pelo processo de dinamização
econômica e de urbanização no interior do Estado, mudando bastante a regionalização do
mesmo, tornando-se bem mais diversa e muito mais complexa.
A região do Paraguaçu tem a cidade de Feira de Santana como a mais desenvolvida
devido a sua proximidade com a capital e por estar localizado em um entroncamento
rodoviário e possui também uma economia de aglomeração, que beneficia outras cidades
circunvizinhas com os serviços médicos, educacionais, comercio e lazer. As principais
atividades econômicas da região do Paraguaçu são as comerciais, o serviço, a indústria de
transformação e também a agricultura irrigada e a agroindústria.
O espaço baiano no processo de descentralização econômica por volta dos anos 60
formou novas áreas econômicas. A segunda maior região de atração de investimentos é o
extremo sul com a concentração da produção de celulose (ALCOFORADO, 2007, p.28). É
beneficiado também com a fruticultura com o setor agropecuário e com o segmento
madeireiro, mas mesmo assim a região ainda tem um baixo nível de industrialização.
Segundo Alcoforado (2007), o Extremo Sul é também o segundo lugar pólo turístico do
estado da Bahia - a costa do descobrimento- dotada de infra-estrutura hoteleira e de
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aeroporto, envolvendo além de Porto Seguro, Arraial d’Ajuda, Trancoso, Caraivas e os
municípios de Santa Cruz de Cabrália e Belmonte.
A região Oeste atingiu o seu desenvolvimento a partir da década de 1980, com a
implantação da soja. Hoje a Bahia ocupa o 8º lugar na produção de soja que alcança os
mercados externos, apoiadas na estrutura agroindustrial, a região oeste é a mais moderna e
desenvolvida em termos agrícolas.
Com a soja, implanta-se na região todo um conjunto de atividades e práticas
ligadas á agricultura moderna. Entre 1980/81 e 1985/86, a área plantada
com soja se expandiu 143 vezes e a produção em 848 vezes, enquanto
crescia também a produção de arroz. Na safra 1991/92, foram produzidas
800mil toneladas de grãos no oeste da Bahia (soja, milho, arroz e feijão,
sendo 460 mil toneladas de soja). Foram instaladas no município de
Barreiras duas plantas industriais de processamento da soja. Estima-se que
230 mil toneladas de soja sejam absorvidas no próprio Nordeste, na forma
de óleo e de farelo, sendo exportadas cerca de 140 mil toneladas de farelo
(BARCELAR de ARAÚJO 1995, apud SILVA e SILVA, 1997, p.79).
A região da Serra Geral tem a sua base econômica com o cultivo do algodão, que
compreende as principais cidades: Brumado, Caetité e Guanambi, sendo a ultima o principal
pólo de desenvolvimento da região. Apresenta ainda como atividade econômica, a extração
de Urânio no município de Caetité.
Na região econômica do Sudoeste as atividades são ligadas a pecuária, cafeicultura
e indústrias de transformação e abrange os municípios de Itapetinga, Jequié e Vitória da
Conquista entre outros, sendo que a ultima é a que mais concentra investimentos na região.
A localização de Vitória da Conquista lhe credencia a implantar indústrias de transformações
para o atendimento de mercados locais, regional e nacional e a desenvolver atividades
comerciais de maior porte para o mercado regional (ALCOFORADO, 2007).
A região do Litoral Norte, conta com uma base produtiva diversificada, o petróleo e a
fruticultura é o que mais se destaca, tem uma economia ligada à indústria na cidade de
Alagoinhas. O turismo é outro setor que cresce principalmente com a abertura da estrada da
linha verde no litoral norte.
Os municípios de Ilhéus e Itabuna fazem parte da região econômica do Litoral Sul,
sendo essas cidades uma das mais representativas da região. As principais atividades são o
cacau e a pecuária bovina. A cacauicultura por volta da década de 1970 teve grande
representatividade no PIB baiano, mas com a queda da produtividade do cacau e com a
“Vassoura-de-bruxa” a região teve que optar por outras culturas. Hoje na região é cultivado
o dendê, cana-de-açúcar, seringueira (borracha vegetal). Entre alternativas para a
industrialização: o guaraná, a banana, o cravo-da-índia, a pimenta do reino e a pesca.
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A região Piemonte da Diamantina compreende as cidades de Campo Formoso e
Senhor do Bomfim, é uma das regiões mais pobres e com menor grau de urbanização. As
principais atividades econômicas são: criação de bovinos, caprinos e ovinos, incluindo
também a mineração com garimpos de esmeralda e o sisal que é predominante.
O Médio São Francisco, tem o seu pólo de desenvolvimento em Bom Jesus da Lapa,
que tem o cultivo de frutas com a irrigação e a agroindústria de conserva. A CODEVASF
(Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba) influencia na
ocupação do espaço com a implantação de projetos de irrigação.
O Baixo Médio São Francisco compreende a cidade de Juazeiro como um dos pólos
de desenvolvimento. Tem em suas atividades a agricultura irrigada, os serviços e o
comércio e se destaca por ser uma das regiões mais modernizadas em produção de frutas
na Bahia. Com a implantação da barragem de Sobradinho surgiram os mais novos
investimentos tecnológicos para a região.
A região do Nordeste tem o pólo de desenvolvimento na cidade de Paulo Afonso
com atividades voltadas para a agropecuária e a produção de energia. Nesta região se
localiza o complexo hidrelétrico que vai de Paulo Afonso a Xingó. As demais regiões de
Irecê, Chapada Diamantina e Recôncavo Sul, destacam-se respectivamente pela produção
de feijão, mineração, agricultura e turismo. Vale ressaltar que as informações citadas acima,
foram baseadas em Alcoforado, na obra Bahia: desenvolvimento do século XVI ao século
XX e objetivos estratégicos na era contemporânea.
Baseado nos índices de desenvolvimentos econômicos pode-se extrair a conclusão
de que os focos dinâmicos em algumas regiões estão contribuindo para o processo de
acumulação de capital e conseqüentemente para o seu desenvolvimento econômico
(Alcoforado, 2007).
INDUSTRIALIZAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA
Para a melhor compreensão das transformações em curso no território baiano, é
importante pensar sobre uma periodização recente de momentos considerados como
relevantes para o enquadramento da atual dinâmica econômica e de suas perspectivas
(Silva e Silva, 1996).
A partir dos anos 1950, o processo de industrialização do Estado teve início com
atividades de exploração e refino do petróleo na região do Recôncavo Baiano, destacandose a entrada em operação da Refinaria Ladulfo Alves (RLAM), da Petrobrás (Teixeira e
Guerra, 2000). No entanto, foi nesse mesmo período em que se constituiu o famoso “enigma
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baiano”, o qual se configurava na questão sobre a posição periférica do Estado na economia
nacional no novo sistema (industrial). Em síntese, o “enigma baiano” consistia na não
industrialização da Bahia, ou melhor, no porque da não industrialização (Alban, 2005).
Após longo período de concentração econômica no sudeste, o Brasil observou
relevante desconcentração do setor industrial, entre as décadas de 1970 e 1980, sendo
algumas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste, incluindo Salvador, as que mais foram
beneficiadas por esse processo. Em consequência disso, houve aumento do Produto Interno
Bruto (PIB) dessas regiões.
As principais transformações compreendem na criação de: fundações para a
pesquisa e comissão de planejamento econômico; Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), da Petrobrás, e da Companhia de Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF).
Após esse período, destaca-se, na Bahia, um processo de dinamismo na
industrialização. Dentre outros ganhos, ocorreu a criação do Centro Industrial de Aratu
(1960), e do Complexo Petroquímico de Camaçari (1970), e a modernização da
agroindústria, a partir da década de 1980.
Como cita Silva (1997, p.93), pode-se considerar a Bahia como [...] “um expressivo
exemplo de uma área periférica dinâmica”, com importantes alterações na composição
setorial do PIB. Este que era associado a uma economia predominante agropecuária passou
a ter maior influência dos setores secundário e terciário, especialmente nos seguimentos
químico, petroquímico, extrativo mineral e comércio. Dados sobre a composição setorial
podem ser observados na Tabela 1, referente ao período entre 2005 a 2007.
As transformações espaciais também exerceram grande influência na economia
baiana. Com o crescimento do modelo de transporte rodoviário, o estado passou a ter maior
integração com a economia nacional. Houve “produção e ampliação das fábricas existentes,
e perspectivas de criação de novas fábricas e regras mercadológicas externas e
independentes da capacidade de influência do Estado” (Spínola, 2001 apud Alcoforado,
2003, p. 231).
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SOBRE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DA BAHIA
Como se refere Alcoforado (2003), a Bahia cresceu economicamente no período de
1967/1999, mas não se desenvolveu. A concentração de esforços pela industrialização e
pelo desenvolvimento econômico deixou a qualidade de vida em segundo plano (Oliveira,
2002).
O sentido do desenvolvimento se associa à qualidade de vida das populações.
Muitas vezes é usado como sinônimo de crescimento econômico, mas desenvolvimento
resulta do crescimento econômico acompanhado de melhoria na qualidade de vida. Para
Oliveira (2002, p.41) “ambos os conceitos são complementares, e, embora o crescimento
econômico não seja condição suficiente para o desenvolvimento, é um requisito para
superação da pobreza e para a construção de um padrão digno de vida”.
Ainda de acordo com Oliveira (2002), pode-se dizer que desenvolvimento é um
processo complexo de mudanças e alterações de ordem econômica, política, e,
principalmente, humana e social, ou seja, é o crescimento acompanhado da satisfação das
necessidades do ser humano, relacionadas, dentre outras, à saúde, educação, moradia,
transporte, alimentação e lazer. No Brasil e demais países do terceiro mundo, é comum a
desigualdade na distribuição dos recursos básicos da população. A Bahia, assim como o
Brasil, reflete essa discrepância entre crescimento e desenvolvimento.
Segundo dados do IBGE (2006) o crescimento da participação do Nordeste no
Produto Interno Bruto (PIB) nacional foi alavancado pela Bahia que obteve o terceiro lugar
entre os estados que apresentaram maior crescimento. A Bahia vem ocupando desde 2003
posição de evidência no PIB nacional. Em 2004, por exemplo, o PIB nacional teve expansão
de 4,9% e a Bahia 9,8%. Já em 2005, os índices foram de 2,3% e 4,9%, respectivamente. O
PIB baiano representa 5,1% do nacional e corresponde a 36% do montante da região
Nordeste. Contudo, o Estado, ainda, ocupa um dos últimos lugares na maioria dos
indicadores de desenvolvimento humano, ficando em 2005 com o 19º lugar no ranking do
IDH entre as Unidades da Federação, de acordo com dados do PNUD (2008).
De 1991 a 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) registra melhorias em
todos os estados brasileiros, mas, ainda, permanecem desigualdades. Ressalta-se que o
IDH, índice criado pela Organização das Nações Unidas, avalia o nível de escolaridade,
renda per capita e expectativa de vida. Assim, combater essa desigualdade continua sendo
um desafio para que o crescimento gere maiores e melhores benefícios para todos.
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Ao analisar algumas perspectivas voltadas para o planejamento público-político do
Estado, torna-se pertinente interpretar as propostas apresentadas por Edgar Porto (...) e
Marcus Alban (2005). O primeiro deles, considerando que a Bahia possui uma rede de vinte
e oito cidades responsáveis por mai de 80% do PIB baiano, propõe um investimento ainda
maior em tais cidades, visando uma participação cada vez mais expressiva na economia
nacional.
Por sua vez, Alban dá como alternativa, para minimizar as desigualdades entre as
regiões, a construção de uma nova capital localizada estrategicamente no centro geográfico
do Estado. Entretanto, as propostas apresentadas por estes autores, em parte são inviáveis
ou não são suficientes para atender as problemáticas envolvendo as discrepâncias
socioeconômicas da Bahia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Necessita-se para o Estado, políticas governamentais capazes de melhorar a
qualidade de vida da população baiana, pois, como visto anteriormente, para se atingir
realmente o desenvolvimento, é necessário que se invista em qualidade de vida, a qual
envolve moradia, saúde, cultura e lazer, tendo o econômico não como único fator, mas
como agente auxiliador para o desenvolvimento.
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XVI ao século XX. In: Os Condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia.
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RIOS, Irialinne Queiroz - Curso de Geografia