XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" PERFIL DA INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES PARA ESCOAMENTO DA SOJA NO BRASIL TIAGO SANTOS TELLES (1) ; MARIA DE FÁTIMA GUIMARÃES (2) ; ANTÔNIO CARLOS ROESSING (3) . 1,2.UEL, LONDRINA, PR, BRASIL; 3.EMBRAPA SOJA, LONDRINA, PR, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS PERFIL DA INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES PARA ESCOAMENTO DA SOJA NO BRASIL GRUPO DE PESQUISA: comercialização, mercados e preços agrícolas. Resumo: A soja se configura como o principal cultivo do setor agrícola brasileiro, seja por seu destaque nas exportações ou por sua participação no Valor Bruto da Produção (VBP), que impactua sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país. Apesar das inúmeras deficiências na sua distribuição, as vantagens tecnológicas comparativas na produção desta colocam o Brasil como segundo maior produtor e abastecedor mundial, ficando atrás somente dos Estados Unidos da América. A análise gira em torno dos fatores logísticos que fazem com que a soja brasileira perca competitividade nos mercados, e foi baseado em uma metodologia de análise descritiva de dados secundários, amplamente pesquisados. Assim, este estudo busca traçar um perfil da infra-estrutura de transporte em torno do escoamento da commodity. Palavras-chaves: soja; infra-estrutura; logística. Abstract: The Soya Bean is one of the primary vegetable cultivated in Brazilian agricultural sector. The Soya Bean has a direct impact over the GDP (Gross Domestic Product) and it’s partially explained by the exportation and the contribution to the GPV (Gross Product Value). Taking into account the various distributions problems of the Soya Bean, Brazil still remains the second largest world producer right after the Unite-States of Amercica (USA). This ranking is obtain by the technological advantages of Saya Bean production. An analysis clearly states the evidence of the logistic factors to be responsible for the lost of Brazilian Soya Bean competitiveness. The search method is based on a descriptive analysis over Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" secondary data on a wide search. Hence, this study is trying to trace a profile of the transport infra-structure. Key-words: soy; infra-structure; logistics. 1. Introdução A soja foi introduzida no Brasil pelos imigrantes japoneses em 1908, disseminada oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. Sua expansão se efetivou nos anos 70 com o interesse crescente da indústria de óleo e a demanda do mercado internacional (CÂMARA, 1996). Até 1975, toda a produção brasileira era realizada com cultivares e técnicas importadas dos Estados Unidos, onde as condições climáticas e de solos são diferentes. Assim, esta só apresentava produtividade em escala comercial nos estados do Sul, pois ali as cultivares americanas encontravam condições semelhantes às de seu país de origem. Trabalhos da área de melhoramento genético da Embrapa Soja resultaram em cultivares chamadas de “período juvenil longo”, ou seja, a planta desenvolveu a capacidade de retardar o florescimento quando cultivada em regiões tropicais. A partir daí foi criada a cultivar Tropical e inúmeras outras, o que levou a soja para as regiões centro-oeste, norte e nordeste. Isso permitiu a exploração econômica das terras de cerrados do centro-oeste e de áreas com pastagens degradadas. O centro-oeste passou a ser a região que mais produz soja no Brasil, ultrapassando 50% da produção nacional. Hoje, no Brasil, a soja se constitui numa das mais importantes commodities, movimentando grande montante de recursos e divisas no complexo agroindustrial. Na safra 2005/06 ocupou 47,1% da área plantada com grãos no país, atingindo uma produção de 55.414 milhões de toneladas (CONAB, 2007), 25% da produção mundial de 224.97 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos EUA que detém 39% (USDA, 2007). O volume mundial comercializado em 2006 ficou em torno de 63 milhões de toneladas e o Brasil, segundo maior exportador, foi responsável por aproximadamente 30% do total exportado (FAO, 2007). O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio atingiu, em 2006, R$ 540,06 bilhões. O PIB da agropecuária brasileira em 2006 foi de R$ 149,80 bilhões, sendo que o básico da agricultura somou R$ 84,97 bilhões. O Valor Bruto da Produção (VBP) da soja fechou 2006 em R$ 22,98 bilhões (CNA, 2007). Essa história de sucesso, porém, apresenta sérias dificuldades na infra-estrutura logística de transportes para o escoamento da produção da oleaginosa no Brasil, pois problemas nesse setor aumentam custos e provocam perdas de divisas e competitividade do produto. O objetivo deste trabalho é analisar a infra-estrutura disponível para escoamento da produção, indicando seus efeitos sobre a eficiência e o crescimento econômico. Para tanto, serão analisados os principais ‘gargalos’ do sistema de transporte no Brasil a partir da caracterização de importantes serviços oferecidos por cada modal de escoamento da produção, além de se identificar as principais rotas logísticas utilizadas para escoar a safra de cada região representativa, de modo a traçar o atual cenário desse setor. O artigo é apresentado em cinco partes: uma breve introdução; uma discussão em torna do objetivo, apresentando a evolução das teorias sob o conceito da competitividade; a 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" metodologia utilizada para a realização do estudo; análise dos resultados e; considerações finais. 2. Infra-estrutura logística de transporte Moderno, eficiente e competitivo, o agronegócio brasileiro conta com vantagens comparativas incontestáveis relacionadas ao clima (regime de chuvas e energia solar), à disponibilidade de água e de terras agricultáveis que permitem alta produtividade, além de tecnologia. Contudo, os problemas de infra-estrutura e logística existentes levam todo esse diferencial competitivo a ser literalmente desperdiçado. De acordo com Barro, Modenesi e Miranda (1997), a estabilização da economia e a eliminação do processo inflacionário brasileiro recuperaram entre os agentes econômicos a noção de preços relativos, trazendo à tona ineficiências da infra-estrutura que reduzem a competitividade dos produtos brasileiros, uma vez que elevam consideravelmente os custos. E, custos de transporte elevados geram desestimulo ao setor. Stülp e Plá (1992), Martins et all (2005), Ojima (2006) mostram que um dos segmentos que mais interfere na eficiência dos diversos setores da economia de um país é o de transporte. Melhorias em seu sistema podem corresponder a um diferencial nos preços, dado que esse estágio absorve cerca de 30% dos gastos do complexo soja (SOARES e CAIXETA FILHO, 1996). O Instituto Brasileiro de Economia (IBRE, 2006), apontou que o produtor brasileiro arca com um dispêndio médio de 25% de suas receitas com custos de transporte, enquanto o produtor norte-americano tem uma despesa média com transporte inferior a 10% da receita obtida. Limao e Venables (2001) destacam que o nível da infra-estrutura nessa operação tem grande impacto nos custos, e comprovadamente afeta os gastos com transporte. Zarzoso, Menendez e Burguet (2003) acrescentam que a utilização de cada modal viário deve ser feita de acordo com a disponibilidade infra-estrutural e levando-se em consideração as despesas como um todo, pois além do frete, os gastos com transporte na exportação envolvem itens como demurrage de navios, detention de contêineres, diárias de caminhões e de trens, todos associados a penalidades decorrentes por sobrestada e ociosidade desses ativos. O fato de não se utilizar o modal de menor expensa ou a não existência de uma conexão eficiente entre os modais (sistema multi-modal), representa um custo adicional na comercialização, dificultando a equiparação dos níveis de preços no mercado interno e externo de produtos agrícolas ligados à soja (FIGUEIREDO, FLEURY E WANKE, 2003). Na situação de tomador de preços, a tarefa de maior alcance é minimizar custos para ser competitivo. A separação entre produção agrícola e as regiões de consumo e exportação demandam um sistema de grande volume e baixo custo operacional, aspectos esses inerentes ao transporte ferroviário e hidroviário (BOUGHEAS, DEMETRIADES E MORGENROTH, 2004). No caso brasileiro, em que a maior parte do transporte é feita por rodovias, o processo de comercialização se torna oneroso, uma vez que esse apresenta tarifas elevadas. O trajeto percorrido pela soja, que é basicamente da área de produção ao armazém e, desses, para a fábrica ou porto, ou ainda diretamente da área de produção para a fábrica ou porto, poderiam contar com a participação efetiva dos segmentos ferroviário e hidroviário para redução dos dispêndios (SOARES et all,1997). 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Conforme Wright (1980), o aproveitamento do potencial de expansão da produção de grãos depende do estabelecimento de um sistema que comporte volumes maiores a custos menores, permitindo assim que o setor de grãos aumente a sua contribuição no abastecimento interno de alimentos e mantenha sua posição no mercado internacional. Nesse sentido, Lício (1995) ressalta que com a viabilização e integração dos corredores de transportes multimodais (rodovia, ferrovia, hidrovia) aumenta a competitividade dos produtos, integrando áreas de produção, centros consumidores e mercado internacional. Fica evidente que o sistema de transporte da soja é um ponto importante na cadeia produtiva, pois a maior parte dos custos desta commodity resulta desse setor. Nesse sentido, a otimização desse segmento é essencial para aumentar a competitividade da soja brasileira no mercado internacional. 3. Material e métodos Este é um trabalho descritivo com base em análises ex post facto, pesquisas bibliográficas e levantamento das bases de dados referentes aos objetivos do estudo. Concentra-se em quatro focos principais: nas características dos serviços dos modais (rodoviário, ferroviário, hidroviário e portuário); nas principais rotas utilizadas para o escoamento da soja (mercado interno e externo); nos custos de movimentação desta commoditty e nos desafios do sistema de transporte. A fim de se obter maior precisão, para análise dos corredores que atendem a cada uma das regiões produtoras, o estudo contemplou os Estados produtores de soja no Brasil, apontados pelo relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2007): Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Considerando, dessa forma, a expansão da área plantada e a incorporação de terras virgens na produção (a fronteira da soja se expandiu para as regiões centro-oeste, norte e nordeste), além da área tradicional, caracterizada pela região centro-sul do país. Para desenvolver uma discussão em torno dos custos de movimentação desta commoditty, são utilizadas fontes secundárias, considerando os estudos desenvolvidos por Keedi e Mendonça (2000), Caixeta Filho (1996), Lieb (1978) e Puzzi (1986). 4. Discussões e análises O transporte da soja nas diferentes etapas pode ser realizado por diferentes modais de transporte: rodoviário, ferroviário e hidroviário. Essa distribuição se faz em decorrência das peculiaridades geográficas regionais. Entretanto, a infra-estrutura de transporte disponível no Brasil é significativamente menor do que aquela existente em diversos países de grandes extensões territoriais. O país possui uma malha rodoviária de 1,751862 milhão de quilômetros, sendo 1,382021 milhão de quilômetros de rodovias municipais, 276,775 mil quilômetros de rodovias estaduais e 93,065 mil quilômetros de rodovias federais. Entretanto, somente 19,7% se encontram em ótima/boa situação, 34,7% apresentam deficiências e 45,6 são ruins/péssimas (ANTT, 2007). O país que possui a maior malha rodoviária do mundo é os Estados Unidos 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" com 6,407636 milhão de quilômetros de rodovias (CIA. WORLD FACTBOOK, 2007), já o Brasil ocupa a 4ª posição nesse ranking. O transporte rodoviário faz parte do sistema terrestre, é aquele realizado em estradas de rodagem, com a utilização de veículos como caminhão e carreta, podendo ser realizado de forma nacional ou internacional (KEEDI E MENDONÇA, 2000). É sempre uma opção de atendimento “ponta a ponta”, tem custos fixos relativamente baixos, mas custos variáveis altos (impostos incorporados nos preços do combustível, pedágios e manutenção de frotas). Os desafios do transporte rodoviário se concentram na reestruturação do planejamento de transportes, indefinido desde a extinção do Grupo de Estudos de Integração de Política de Transportes (GEIPOT), em 2002, e na criação de um plano consistente de renovação da frota de veículos. Hoje a idade média dos caminhões que circulam nas rodovias brasileiras é de 18 anos, o que significa custo elevado de consumo e manutenção e maior risco de acidentes (ANTT, 2007). A malha ferroviária brasileira possui uma extensão de 29.489 quilômetros (ANTT, 2007), sendo que 28.225 quilômetros estão distribuídos em sete concessionárias, que no ano de 2006 aplicaram um montante, em investimentos, da ordem de 2,4 bilhões de reais (ANTF, 2007). A frota ferroviária possui: 83.700 vagões, 3.100 carros e 2.500 locomotivas. Essa estrutura coloca o Brasil na 10ª posição do ranking de países com maior malha ferroviária, que tem os Estados Unidos na liderança por ter uma malha ferroviária de 227.736 quilômetros (CIA. WORLD FACTBOOK, 2007). No caso especifico da soja, o transporte ferroviário de carga movimentou aproximadamente 29 milhões de toneladas, correspondente a 7,9% do total das cargas transportadas por essa modalidade (ANTT, 2007). De acordo com Keedi e Mendonça (2000), esse tipo de modal de transporte é aquele realizado por trens, composto de vagões puxados por locomotivas, sobre trilhos. Atualmente, essa é uma das formas mais econômicas para se escoar a soja produzida nas Regiões CentroOeste e Norte, principalmente através da utilização da ferrovia Ferronorte que leva a soja diretamente da região produtora até os principais portos de exportação da commodity no país. Um dos grandes gargalos do segmento são as passagens de nível no contorno dos centros urbanos, bem como das invasões na faixa de domínio das ferrovias. Segundo a Associação Nacional de Transportadoras Ferroviárias (ANTF, 2007), 824 trechos estão comprometidos por famílias que moram em casas construídas muito próximas aos trilhos. Para evitar os acidentes, a velocidade média dos trens cai de 40 para 5 quilômetros por hora nessas áreas urbanas, reduzindo a eficiência operacional. Os números do segmento hidroviário brasileiro revelam uma malha hidroviária de 42.000 quilômetros, sendo que apenas 23,8% estão sendo utilizados, cerca de 10.000 quilômetros. Ou seja, nesse segmento ainda se tem muito a explorar. O transporte fluvial ou hidroviário é aquele realizado em rios, sendo um dos modais que compõe o sistema hidroviário (KEEDI E MENDONÇA, 2000). No Brasil, esse modal de transporte é pouco utilizado para o escoamento da soja em grãos para a exportação, devido a inúmeros fatores, como por exemplo, a falta de investimentos privados e públicos, pouca infra-estrutura e inexistência de uma rede interligada de rios que desemboquem no mar. O desafio imediato é integrar o sistema hidroviário às demais formas de transporte para reduzir o peso do transporte rodoviário, e para isso um dos maiores entraves está na necessidade de se elaborar um estudo rigoroso sobre a navegação fluvial e seu real papel na degradação do meio ambiente, para que as autoridades competentes possam se respaldar. No período compreendido entre 1994 e 2000 a modalidade de transporte rodoviário tem absorvido mais da metade dos transportes de cargas no Brasil, sendo que em 2000 foi 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" responsável por 60,49% contra 20,86% do transporte ferroviário e 13,86% do transporte hidroviário (GEIPOT, 1999). Conforme Caixeta Filho (1996, p. 04), “essa predominância do modo rodoviário pode ser explicada pelas dificuldades que outras categorias de transporte enfrentam para atender eficientemente aos aumentos de demanda em áreas mais afastadas do País, as quais não são servidas por ferrovias ou hidrovias”. Conforme Lieb (1978), as diferentes características entre os modais, como custos e outros aspectos qualitativos podem ser economicamente desejáveis. Entre a origem e o destino de um determinado produto pode ser utilizado mais de uma modalidade de transporte, havendo vantagens inerentes a cada uma delas, o que resulta num serviço de menor custo e/ou de melhor qualidade. Assim a intermodalidade, além de nortear os investimentos no setor dos transportes, contribui para redução dos custos, uma vez que os custos com transporte ferroviário e hidroviário são menores que os custos rodoviários, ocorrendo uma tendência de se substituir o transporte rodoviário de longa distância por transportes alternativos que deve implicar no aumento da competitividade da soja no mercado internacional de grãos, assim como a sua participação nas exportações mundiais. Cabe lembrar, ainda, que a complementação entre as modalidades de transporte desenvolvidas num sistema intermodal implicará em atividades de transbordo, isto é, recursos humanos e equipamentos para transferir as mercadorias de um meio de transporte para outro. Mas infra-estrutura ferroviária e hidroviária do País é insuficiente para realizar o transporte de grãos. Isso faz com que seja necessária a utilização do modal rodoviário para o transporte de grande parte da produção de soja brasileira, mesmo quando se trata de longas distâncias. O problema dessa predominância também se dá pelo baixo aproveitamento do transporte, pois carrega menos soja do que uma composição ferroviária e/ou hidrovia. No modal ferroviário, o uso de vagões inadequados, a pequena oferta de material rodante e a baixa qualidade do existente podem ser consideradas as principais deficiências na infra-estrutura. Já para o modal hidroviário, o problema reside na baixa capacidade de intermodalidade e comboio, além de oferecer pouca atratividade de investimentos devido às barreiras ambientais. Segundo Puzzi (1986), no Brasil um dos componentes que mais pesam no custo final dos grãos é o frete, devido à falta de hidrovias, à insuficiência de ferrovias e à precariedade de estradas pavimentadas. Desta forma, a partir de dados disponíveis no extinto GEIPOT (2000) e no MAPA (2006), e dos estudos da Companhia Vale do Rio Doce (2003), IBGE (2006), das peculiaridades geográficas brasileiras, e das rotas de transporte existentes no país, foram identificados como principais rotas logísticas utilizadas para escoar a safra: ─ Corredor centro-oeste-sudeste, com quatro rotas principais: (1) ligação ferroviária Ferronorte / Ferroban e a Hidrovia Tietê-Paraná, responsáveis pelo escoamento de boa parte da soja colhida no Centro-Oeste (sul de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e sul de Goiás) que se dirige aos Estados do Sudeste e para o Porto de Santos. (2) Alto Taquari, no Mato Grosso, onde tem início a Ferronorte, concentra, num raio de 600 quilômetros, o escoamento da produção de soja destinada ao Sudeste. A carga segue por caminhão pelas rodovias BR 163, BR 364, BR 070, fazendo o transbordo para o trem nesse município. Em Aparecida do Taboado (MS), na divisa com o Estado de São Paulo, a carga segue pela Ferroban para o Porto de Santos. (3) Parte da produção do sul de Goiás, sudeste de Mato Grosso do Sul e oeste de Minas Gerais, segue por rodovia até o terminal intermodal de São Simão, em Goiás, onde é feito o transbordo para a Hidrovia Tietê-Paraná, chegando até Pederneiras (SP), de onde segue por rodovia ou ferrovia para o Porto de Santos. (4) O escoamento da soja do centro6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" leste de Goiás e de Minas Gerais se dá pelas rodovias BR 262, BR 040 e outras estradas menores e pelas ferrovias EFVM e FCA em direção ao Porto de Vitória (ES). Por esse porto, foram embarcadas, em 2000, 679 mil toneladas de grãos e 1,2 milhão de toneladas de farelo. ─ Corredor centro-oeste-norte, dividido em duas as rotas: (1) ligação Cuiabá (MT) Santarém (PA), por meio da rodovia BR 163, responsável por parte da distribuição da soja do norte e centro do Mato Grosso. Há, ainda, a alternativa de escoamento pela Hidrovia Teles Pires-Tapajós, com a vantagem de permitir o embarque da soja diretamente em navios no Porto de Santarém, seguindo, via Rio Amazonas, para exportação. (2) A outra rota inclui o norte de Mato Grosso e Rondônia, onde a soja segue por rodovia (BR 364 e vicinais) em direção a Porto Velho. Nesse local, há o transbordo para barcaças que seguem pela Hidrovia do Madeira até o Porto de Itacoatiara, onde a carga é embarcada em navios que seguem pelo Rio Amazonas para exportação. Em 2000, foram embarcadas para exportação 800 mil toneladas de grãos por Itacoatiara. ─ Corredor centro-oeste-nordeste (corredor norte/nordeste): esta rota tem como destino o Porto de Itaquí, em São Luís (MA), e responde por parte da produção de Goiás, Tocantins e da nova fronteira agrícola no Maranhão, Piauí e Bahia. As alternativas de escoamento incluem a Hidrovia Araguaia-Tocantins, a BR 153, a malha ferroviária da EFC, que liga Carajás (PA) ao Porto de São Luís e o trecho concluído da Ferrovia Norte-Sul, entre Estreito (MA) e Açailândia (MA), onde há o encontro com a EFC. O Porto de Itaquí/São Luís exportou em 2000 561 mil toneladas. ─ Corredor centro-oeste-sul: visando uma saída via Mercosul, há a alternativa de escoamento via Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, partindo pela BR 262 e estradas vicinais ou pela ferrovia Novoeste em direção a Corumbá (MS), onde há o Porto de Ladário, seguindo pela hidrovia até o Porto de Nova Palmira, no Uruguai. ─ Corredor sul: (1) a produção do Paraná tem como corredor mais importante o que segue em direção ao Porto de Paranaguá. Grande parte da produção do Rio Grande do Sul também segue em direção ao porto paranaense. A densa malha rodoviária e a extensa e ramificada malha ferroviária da América Latina Logística (ALL) são responsáveis pelo deslocamento da soja para o Porto de Paranaguá. (2) O Porto de Rio Grande (RS) recebe parte da soja gaúcha, que seria inviável seguir até Paranaguá, utilizando também a malha da ALL e as rodovias BR 293, BR 392 e estradas vicinais. A soja sai do sul do Estado em direção ao porto gaúcho, para exportação. Esse porto embarcou em 2000 1,4 milhão de toneladas de grãos, 1,2 milhão de toneladas de farelo e 250 mil toneladas de óleo de soja. (4) A produção catarinense e de parte do sul do Paraná tem como um dos destinos o Porto de São Francisco do Sul, por meio das rodovias BR 282, BR 470, BR 116 e estradas vicinais e pela malha da ALL que corta o Estado. O porto catarinense exportou em 2000 250 mil toneladas de grãos, 1,2 milhão de toneladas de farelo e 121 mil toneladas de óleo. ─ Novas rotas: (1) A partir do triângulo formado pelas cidades de Corumbá (MS), Cáceres (MT) e Cuiabá (MT), em direção ao leste, a soja tem novas opções de escoamento que envolve as ferrovias da Vale do Rio Doce, Ferroban, Novoeste, FCA e MRS. Um dos trajetos atinge o Porto de Santos (SP); outro chega a Paranaguá; e há ainda a alternativa do Porto de Tubarão (ES) e Porto de Sepetiba (RJ). (2) No Nordeste, onde existe a expectativa de incremento significativo da produção nos próximos anos, somada à produção do Tocantins, há outra alternativa de escoamento. A soja seguiria pela Hidrovia do São Francisco e por ferrovia até os portos de Recife (PE), Aratu (BA) e Ilhéus (BA), desde Petrolina (PE). O Porto de Ilhéus, por exemplo, embarcou em 2000 109 mil toneladas de grãos e 509 mil toneladas de farelo. (3) Em outro extremo, a produção de soja de Roraima e norte do Amazonas pode 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" utilizar a BR 174 tendo como opção de escoamento a saída pelo Caribe. (4) Evidentemente, todas essas alternativas logísticas só tem sentido a partir de um aumento da produção e exportação da soja. A perspectiva nesse caso é otimista, considerando o ritmo das exportações dos últimos anos. Para se ter idéia, o crescimento da produção de grãos, de 1993/1994 para 2000/2001, foi de 56% e as exportações cresceram mais de 150%. Mas convém fazer uma ressalva: a concorrência é forte e não está parada, podendo complicar as coisas para o Brasil. 5. Considerações finais Um dos fenômenos marcantes observados na economia agrícola brasileira foi o rápido crescimento da soja como produto de consumo e exportação e o seu arranjo espacial. A soja foi ocupando áreas de fronteiras, como o Norte e o Centro-Oeste, além de vastas áreas no Nordeste, e essa ocupação se deu em geral com a utilização de modernas tecnologias de produção. Paralelamente, fornecedores de insumos, armazenadores e indústrias de processamento vão se aglomerando ao redor das zonas de produção. E, toda essa estrutura demanda de transporte para o escoamento da commodity. A motivação fundamental para a busca dessa otimização é a necessidade de incrementar a competitividade da produção nacional face à concorrência externa, o que implica não somente em redução de custos referentes às operações de transporte e exportação, mas também otimização na prestação dos serviços deste setor. De forma a cumprir rigorosamente com prazos e contratos. Existe uma expectativa pouco otimista em relação ao sistema rodoviário como um todo. O descrédito nos investimentos públicos em rodovias deve ser o motivo que leva a isso, embora o processo de concessão de várias rodovias tenha trazido alguns avanços significativos. Outro aspecto que explica a baixa satisfação com os serviços rodoviários é a situação por que passam as empresas de transporte rodoviário de cargas, que estão sofrendo um expressivo achatamento de lucratividade, sobretudo considerando o transporte de produtos de baixa especificidade, como é o caso da soja. Transportadoras bem estruturadas, que conhecem efetivamente seus custos, chegam a interromper as operações em função do baixo preço pago pelos demandantes. Os autônomos, que não têm o domínio dos custos, correm o risco de sair do mercado no médio prazo. Como resultado, observa-se um quadro composto por equipamentos deteriorados, já depreciados e com manutenção precária. Com relação à manutenção das rodovias, o ciclo do problema é bem conhecido: (1) caminhões trafegam com excesso de carga, em sistemas viários com fiscalização deficiente; (2) as rodovias deterioram-se devido ao excesso de peso; (3) as rodovias passam então a exercer o papel de agravar os custos de transporte envolvidos, uma vez que será consumido mais combustível, haverá maior desgaste de pneus e maior consumo de lubrificantes. Por outro lado, há expectativas mais otimistas em relação ao sistema ferroviário como um todo. Espera-se que com a privatização e melhor fiscalização das rodovias e com o constante aumento nos preços dos combustíveis, o valor do frete rodoviário deva ser aumentado e a competitividade das ferrovias incrementadas. O grande desafio a ser vencido é o do resgate de sua credibilidade, devido aos problemas estruturais (gerenciamento, diferença de bitola nos trilhos, etc.) e reduzida malha viária. 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" As hidrovias também são altamente desejáveis para cenários futuros. Entretanto, a principal razão de o Brasil não ter um sistema hidroviário que venha a solucionar o problema de transporte, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, reside no fato de que não há rios navegáveis que desemboquem no oceano. Os rios brasileiros, com exceção do sistema Tietê-Paraná, não estabelecem ligações entre centros econômicos importantes. Isso faz com que sejam necessárias várias operações de transbordo para que a soja chegue ao destino final. Assim, a efetivação e viabilização do transporte fluvial deve ser mais lenta do que a de outros modais. Há ainda que se passar por um processo de incentivo à utilização hidroviária, que entre outras medidas preveja a localização adequada, e operacionalização de terminais hidroviários, ressaltando-se a importância da avaliação e redefinição das cargas hidroviárias, normalmente de baixo valor agregado. Estrategicamente, devem ainda ser considerados o deslocamento de cargas utilizando contêineres e a avaliação e dimensionamento de sistemas de eclusas. Quanto aos portos marítimos, fica a expectativa de medidas que reforcem a sua modernização e estimulem seu aumento de capacidade e eficiência, passando inclusive, pela expansão de atividades voltadas à movimentação por cabotagem. Vale ressaltar, que um conjunto de ações, como a redução dos custos dos serviços de apoio portuário (praticagem) e a reestruturação dos órgãos de fiscalização do governo nos portos – tendo em vista uma maior agilidade na operacionalização do trânsito aduaneiro – é fundamental para aproximar o nível de eficiência dos portos brasileiros aos padrões internacionais. De qualquer forma, o principal entrave à modernização é muito mais de natureza estrutural-gerencial, devendo os portos ser entendidos não mais de forma isolada, mas como integrantes de complexos logísticos. A instalação de novos terminais intermodais e a construção e finalização de obras complementares (eclusas) ao longo das hidrovias brasileiras, também num horizonte de médio e longo prazo, são aguardadas como alternativas estimuladoras para incrementar a viabilidade do transporte hidroviário. Nesse provável e desejável contexto intermodal, será de fundamental importância a ágil e eficiente manipulação de cargas em embalagens com características padronizadas, tais como os contêineres – que ainda não desempenham papel relevante no cotidiano de movimentação de cargas agrícolas no Brasil. Em termos de novos paradigmas a serem observados, é altamente positiva a expectativa em relação aos avanços tecnológicos que ocorrerão no setor de transportes. Assumindo que mesmo no médio prazo a malha rodoviária continuará sendo fundamental para o escoamento de commodities, as medidas referentes à redução dos custos de transporte, no curto prazo, devem dizer respeito ao aumento da produtividade dos veículos rodoviários, melhorando os processos de carga e descarga, incrementando a segurança e administrando as cargas de retorno. A modernização do setor rodoviário deve ser estimulada por meio de medidas que favoreçam o seu incremento tecnológico. Finalizando, o que se espera é que o Brasil se confirme como um país integrado por uma eficiente rede intermodal de transportes utilizando eficazmente modernos padrões logísticos, reduzindo custos e ampliando suas vantagens competitivas, de sorte que não somente o complexo da soja se faça beneficiado e se desenvolva, mas todos os setores da economia. Referencias bibliográficas 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" ANTT. Agência Nacional de Transportes Terrestres. <http://www.antt.gov.br>. Acesso em: 10 de janeiro de 2007. ANTF. Associação Nacional dos Transportes Ferroviários. <http://www.antf.org.br>. Acesso em: 10 de janeiro de 2007. Disponível Disponível em: em: BARRO, J. R.; MODENESI, R.; MIRANDA, E. F. de. A agricultura e o custo Brasil. Revista de Política Agrícola. Brasília, n. 6, p. 3-4, 1997. CAIXETA FILHO, J. V. 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