História Regional: A opção do recorte local aplicado à experiência
do Estágio
Gabriela Goulart (1), Marinês Dors (2)
(1) Jornalista (UPF), Pós Graduada em Gestão e Tutoria da Educação (Uniasselvi), Acadêmica
de Licenciatura em História(Uniasselvi) e Mestranda em História Regional(UPF) - Uniasselvi,
Brasil. E-mail: [email protected]
(2) Me. Marinês Dors, Doutoranda em História (UNISSINOS)- Uniasselvi, Brasil. E-mail:
[email protected]
História Regional: A opção do recorte local aplicado à experiência
do Estágio
Resumo: Este paper tem a missão de relatar a experiência do estágio de docência que teve como
ênfase a aplicação da história regional como área de contração da fundamentação teórica das
aulas regidas. A justificativa da aplicação da História Regional, no conteúdo “Revolução
Industrial” ministrado em 5 aulas, deve-se à tentativa de proximidade com a realidade do aluno.
Este objetivo almejava despertar o interesse dos alunos através das transformações da
comunidade onde vivem, considerado o fato de que as revoluções acontecem em todos os lugares
em tempos diferentes, mas sob as mesmas perspectivas das necessidades de mudança. Esta
experiência alentava uma expectativa, o despertar do interesse dos alunos por história; o
resultado conquistado foi além, o envolvimento dos mesmos com a comunidade em que vivem.
Palavras-chave: Experiência docente; História Regional; Comunidade.
Abstract: This paper has the mission to report the experience of teaching internship that had an
emphasis on the application of regional history as an area of contraction of theoretical classes
governed. The justification of the application of Regional History, the content "Industrial
Revolution" taught in five classes, due to the attempt to close with the reality of the student. This
objective aimed to arouse students' interest through the transformation of the community where
they live, considering the fact that revolutions happen everywhere at different times, but under the
same prospects of changing needs. This experience she encouraged an expectation, the awakening
of students' interest in history, the result achieved was beyond their involvement with the
community in which they live.
Keywords: Teaching experience; Regional History; Community.
1. INTRODUÇÃO
Este paper foi pensado como uma forma de apresentar as expectativas do estágio de docência,
a receptividade dos alunos com o tema situado na história regional – como uma opção de recorte
local, e, além desses itens, o envolvimento dos alunos com a história como agente modificador do
presente e construtor do futuro. O estágio abrangeu 5 horas de aulas assistidas e, ainda, 5 horas de
aulas regidas. Dentro da missão dedicada à mim, pela professora Lucia, de desenvolver o
conteúdo “Revolução Industrial” e a minha opção em vincular este conteúdo através da História
Regional, ficou o desafio de envolver os alunos através da realidade em que vivem nas
transformações do bairro em que vivem e onde se situa a escola: Bairro Planaltina. Conforme
informação apresentada pela direção da escola, 100% dos alunos da turma 71 – na qual estagiei –
são moradores do bairro em questão.
A partir deste pressuposto, adquiri ferramentas para desenvolver o tema com a turma.
Organizei os tópicos a serem apresentados levando em conta o livro didático utilizado pela escola.
Após o desenvolvimento destes tópicos, que serão apresentados na parte de vivência do estágio,
organizamos uma visita a uma fábrica de têxteis “Ki-Trapo”, sob indicação da professora Lucia,
experiência também relatada posteriormente no capítulo de vivência do estágio. Desta
experiência do estágio ficou a certeza da possibilidade de desenvolvimento de uma didática com
diálogo em áreas de concentração que podem despertar o interesse dos alunos e formar cidadãos
envolvidos com a realidade e com o dia a dia da comunidade onde vivem.
2. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A área de concentração da regência do estágio, como já foi introduzida anteriormente, se
fundamenta na história regional com ênfase às questões ligadas a espaço, fronteira, região e nação,
regionalismos e nacionalismos. É necessário destacar que os autores trabalhados aqui já foram
utilizados no paper do estágio observatório do semestre anterior, porém, como se tratam de
especialistas no assunto, são referenciais não só necessários como também obrigatórios para a
consolidação do estudo presente.
Cabe iniciar este desenvolvimento com a referência de Viscardi (1997, v3.nº1) que traz a
definição de história regional, e seus recortes, em diversos autores, criticando-os negativa ou
positivamente, trazendo a ideia de que:
[...] no estudo da História Política, cabe ao historiador, na definição dos limites
de seu recorte regional, se apropriar de uma região simbolicamente construída
no período estudado, capaz de responder aos seus questionamentos, levando-se
em conta os critérios de delineamento já existentes, mas escolhendo entre eles,
o que melhor se adéqua aos seus objetivos de pesquisa. [...] Tendo em vista a
reconhecida importância do imaginário coletivo na pesquisa histórica, cabe ao
historiador da política regional levar em conta como a região era vista, sentida e
percebida pelos seus habitantes no momento pesquisado. [...] A partir da
diminuição do recorte espacial que encontramos nas novas pesquisas históricas
produzidas, a região pode assumir um novo caráter, tendo seu recorte também
reduzido, constituindo-se em uma micro-região inserida em outra maior.
(VISCARDI, 1997, V3. Nº1).
Com a constituição da do recorte espacial, destacado na citação anterior, leva-se
em conta o imaginário coletivo. Tal imaginário se deve a formação de uma identidade e
nesta contextualização do estudo sobre identidade, é Guibernau (1997, p.83) quem
demonstra que “Os critérios de definição de identidade são: continuidade no tempo e
diferenciação dos outros, ambos os elementos fundamentais da identidade nacional. A
continuidade resulta de se conceber a nação como uma entidade historicamente enraizada,
que se projeta no futuro”. Esta definição instiga o aprofundamento da questão da
identidade no coletivo, pelo mesmo autor:
A identidade coletiva, considerada como um processo, envolve: formulação de
estruturas cognitivas referentes aos objetivos, aos meios e ao ambiente da ação;
estímulo de relacionamento entre os agentes, que comunicam, negociam e
tomam decisões; e preparo de investimentos emocionais, que habilitam os
indivíduos a se reconhecerem nos outros.
Interpreto o atual renascimento do nacionalismo como uma reação a uma
necessidade de identidade coletiva, bem como individual. (GUIBERNAU,
1997, p.84)
É neste conceito do coletivo apresentado que Guibernau (1997, p.94) identifica a
identidade nacional um fator de unificação pois, “corresponde a um processo complexo
pelo qual os indivíduos se identificam com símbolos que têm o poder de unir e acentuar o
senso de comunidade”. Por isso a opção em trabalhar com a concentração na História
Regional, a busca da identidade coletiva como um despertar para a história geral.
Na questão do uso do global, nacional e local, Strathern e Stewart, no livro
“Globalização e Identidade Nacional”, trazem esta a identidade ligada a um conceito
antropológico na interpretação de nacionalidade e seu uso. Para os autores,
a produção de localidade traça paralelo com a produção de etnicidade, ou a
produção de nacionalidade, se olharmos para ela em termos de apropriação de
significação e processos de poder que tornam tais significados aceitáveis:
escalas móveis, temas constantes. (STRATHERN E STEWART, 1999, p.41)
Este conceito de nacionalidade e trazido na ótica da experiência de micro-análise
por Revel, o autor reconhece como uma nova forma de fazer a análise do espaço na
história social:
[...] a micro-história nasceu como uma reação, como uma tomada de posição
frente a um certo estado da história social, da qual ela sugere reformular
concepções, exigências e procedimentos. Ela pode ter, nesse ponto, valor de
sintoma historiográfico. (REVEL, 1998, p. 16)
É por esta interpretação de sintoma que cabe a utilização da microanálise nesta
etapa de estudo com referencial no âmbito da História Regional. A experiência docente
pode valorizar o caráter aproximador do uso da microhistória, levando os alunos para a
realidade existente fora da sala de aula, envolvendo-os na comunidade onde vivem para
definir a fronteira deste campo como passível de estudo e compreensão. No contexto
apresentado por Revel, os exemplos destas representações do real no espaço monográfico
deixam margens para o uso ao qual fiz no na teoria projeto e relatei neste paper.
O espaço monográfico é habitualmente concebido como um espaço prático,
aquele no qual se reúnem dados e se constroem provas (e no qual também é
recomendável que se deem provas da própria competência). Mas acredita-se
que ele seja inerte [...]. O problema colocado por cada uma delas não era o da
escala de observação, mas o da representatividade de cada amostra em relação
ao conjunto no qual ela tendia a se integrar, assim como uma peça deve
encontrar em seu lugar num puzzle.[...] (REVEL, 1999, p. 20)
Com base neste conceito que, após a explanação dialogada do conteúdo da
“Revolução Industrial”, se optou por envolver os alunos na realidade da comunidade onde
vivem levando-os até uma fábrica têxtil local, deixando um dever aos alunos de produzir
um relato da visita, uma análise da qual Revel prossegue em sua
especificação/delimitação na micro-história como conjuntura historiográfica,
O recurso à microanálise deve, em primeiro lugar, ser entendido como a
expressão de um distanciamento do modelo comumente aceito, o de uma
história social que desde sua origem se inscreveu, explícita ou (cada vez mais)
implicitamente, num espaço ‘macro’. Nesse sentido, ele permitiu romper com
os hábitos adquiridos e tornou possível uma revisão crítica dos instrumentos e
procedimentos da análise sócio-histórica. Mas, em segundo lugar, ele foi a
figura historiográfica inteiramente prática por intermédio da qual uma atenção
nova foi dispensada ao problema das escalas de análise na história [...].
(REVEL 1998, p. 20)
Com aporte teórico nestes autores que a História Regional se fundamenta e com
expressividade na escolha de estudo da microanálise como forma de apresentar o estudo,
através da Escola Monteiro Lobato que proporcionou o suporte necessário para o estágio
observatório e prático. A partir desta experiência, cabe destacar a necessidade de clareza
quanto ao uso dos conceitos embasados como um viés para aproximar a esfera global ou
nacional na escala de observação de grande objetos/acontecimentos da cognoscibilidade
de nossos alunos.
3. VIVÊNCIA DO ESTÁGIO
O estágio foi realizado com intuito de atender a segunda etapa do estágio curricular,
constante no 5º semestre da Faculdade de História do Centro Universitário Leonardo Da Vinci. A
atividade estipulada foi de 10 horas, sendo 5 horas de observação e 5 horas de regência. Ambas
foram realizadas na Escola Estadual de 1º e 2º graus Monteiro Lobato, sob a regência da
Professora Lucia R. Trindade, no turno da manhã.
A turma de regência foi a 71, e utilizou-se o método explicativo dialógico. A ideia era
fazer com que os alunos se sentissem estimulados a participar da aula através de vínculos com a
realidade de todos eles. A internet foi um meio de pesquisa, entre outros afins, que instruí à
utilização. Considerando a probabilidade de os alunos não conseguirem aproveitar todos os
recursos deste meio, concedi a possibilidade da realização de um trabalho, de uma tarefa,
estipulado com prazo para a aula seguinte, concedendo dicas de sites para consulta e referência de
fonte a ser utilizada. Minha visão a cerca deste recurso previa a construção de um pesquisador e
construtor do próprio conhecimento. Dando ênfase à preferência de vínculo com a história
regional, conforme o conteúdo indicado pelo professor supervisor, priorizei a assimilação do tema
conforme o período à níveis nacional, estadual, local, enfim, conforme o recorte se fez necessário
para envolver e situar os alunos.
Outro critério utilizado foi o da explanação de conteúdos específicos, pois, é de
conhecimento de toda a comunidade à qual a escola pertence que não há livros didáticos para
todos os alunos em sala de aula. Considerando o fato de a turma ter 25 alunos, deixei a critério dos
alunos fazer o trabalho individual ou com algum colega. Neste sentido, foi possível observar a
capacidade de interação, foco e qualidade de aprendizado dos mesmos sem que se inserisse a
fronteira de uma avaliação formal. A questão de optar por uma avaliação informal não impediu
que se apresentasse o método e que se deixasse claro o processo utilizado, pelo contrário foi o
primeiro passo para torná-los conscientes de que são responsáveis pelo próprio desenvolvimento.
Percebi que apesar da interação constante entre os alunos, a qualidade da aula na questão
participação/interação no conteúdo não ficou deficitária. Ao final da aula constatei que todos
haviam feito as observações que indiquei e também anotado as questões se seriam avaliadas
através do quizz na aula seguinte. Os alunos me interromperam quando as dúvidas surgiam ao
longo do conteúdo, conforme eu havia deixado disponibilizado no início da aula. Quanto à visita
técnica proposta para aproximação dos alunos ao tema revolução industrial, todos fizeram o
questionamento que acharam necessário, através da curiosidade muniram-se de informação para a
tarefa deixada de desenvolver um resumo de relato da visita.
Após o retorno da visita técnica, mais um período aconteceu na sala de aula. Neste
período desenvolveu-se um quizz com os alunos sobre o tema “Revolução Industrial”, com a
expectativa de avaliar o aproveitamento do conteúdo na compreensão dos alunos. Através deste
jogo de perguntas e respostas foi possível avaliar a participação, trabalho em equipe,
desenvolvimento cognitivo, dentre inúmeros outros itens necessários para a avaliação informal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível destacar a importância da avaliação informal no rendimento dos alunos, afinal,
percebi como eles se sentiram mais a vontade participando da visita técnica e do quizz do que se
eu tivesse uma prova escrita do conteúdo. O quizz foi proposto como uma forma de brincadeira
com recompensa. Os alunos aprendiam a respeitar a vez do colega para responder, para cada
questão certa ganhava como recompensa dois chocolates bis, para a equipe com o maior número
de acertos o prêmio foi uma caixa de bombom lacta. Esta foi uma forma de avaliação que buscava
garantir a dedicação dos alunos em entender o conteúdo, aproximar à realidade deles, desenvolver
a capacidade de interação e trabalho em grupo, lidar com a concorrência/competição de forma
saudável, e entre outras.
Quanto à visita técnica realizada à empresa “Ki-Trapo”, que acolheu os alunos do bairro
ao qual pertence, percebi a disponibilidade de envolvimento de todos com a história da
comunidade na qual vivem, o interesse na compreensão da Revolução Industrial em escala local,
em um recorte mais atual envolvendo a cidade de Passo Fundo. Foi através desta inserção da área
de concentração na História Regional que se tornou possível despertar o interesse dos alunos em
relação à própria comunidade. A professora responsável por minha supervisão e a escola
prontamente me apoiaram nesta atividade, o que tornou possível esta aproximação do aluno com a
comunidade desde o primeiro momento. É desta forma que percebi como a escola e a comunidade
podem fazer a diferença na formação dos cidadãos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GUIBERNAU, Monserrat. Nacionalismos. O Estado Nacional e o nacionalismo no século XX.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
DIRETRIZES E REGULAMENTO DE ESTÁGIO E TRABALHO DE GRADUAÇÃO. Cursos
de licenciatura. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2011.
REVEL, Jacques. Microanálise e construção do social. In Revel, Jaques (org.) Jogos de escala.
Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 15-38.
STRATHERN, Andrew; STEWART, Pamela J. Global, nacional, local: escalas móveis, temas
constants. In BARROSO, João Rodrigues (coord.) Globalização e Identidade Nacional. São
Paulo: Atlas, 1999.
TAFNER, Elisabeth Penzlien; SILVA, Everaldo da. Metodologia do Trabalho Acadêmico.
Indaial: UNIASSELVI, 2012.
VISCARDI, Claudia. História, região e poder: a busca de interfaces metodológicas. Locus:
revista de história. Juiz de Fora, 1997, v.3, n.1, p.84-97.
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