SEDIMENTOS RECENTES DA PLATAFORMA CONTINENTAL
PORTUGUESA A NORTE DO CANHÃO SUBMARINO DA NAZARÉ (1)
por
J. M. ALVEIRINHO DIAS *, LUÍS C. GASPAR * e J. HIPÓLITO MONTEIRO *
RESUMO
o presente trabalho integra-se numa série que descreve a cobertura sedimentar recente da plataforma continental portuguesa,
resultado do projecto «Reconhecimento Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa», que está
s~ndo promovido pela Direcção Geral de Geologia e Minas (Serviços Geológicos de Portugal e Serviço de Fomento Mineiro) com a colaboração do Instituto Hidrográfico e da Secretaria de Estado das Pescas. O trabalho geológico consistiu em investigações no campo e no
laboratório. Para o presente trabalho, a actividade de campo incluiu colheita de informação sobre a batimetria e colheita de amostras de
fundo de sedimentos depositados durante o Holocénico. As análises da textura e composição dos sedimentos foram efectuadas nos laboratórios da Divisão de Geologia Marinha, em Castanheira do Ribatejo.
A plataforma continental entre o paralelo da foz do rio Minho e o canhão da Nazaré é relativamente estreita (35 km a 60 km)
loca'nzando-se o bordo da plataforma à profundidade média de 160 km. Os sedimentos holocénicos (recentes) podem ser agrupados, com
base na textura e composição, em quatro tipos: «areias litorais» que se dispõem desde próximo da linha da costa até cerca de 40 m de
profundidade e consistem em areias unimodais; «depósitos cascalhentos» a Oeste das areias litorais com elevado conteúdo em cascalho;
«depósitos da plataforma exterior» consistindo em areias médias e finas com elevado conteúdo em carbonatos biogénicos; e «depósitos do
bordo da plataforma», areias finas bem calibradas em que a componente dominante da areia é o quartzo. As «areias litorais» e os «depósitos do bordo da plataforma» são considerados como depósitos neotéricos, os «depósitos cascalhentos» como sedimentos relíquia, protéricos e palimpsestos e os «depósitos da plataforma exterior» como sedimentos anfotéricos.
Os aspectos mais salientes da cobertura sedimentar da plataforma côntinental são a textura predominantemente arenosa e
a faixa de sedimentos relíquia e palimpsestos que ocorrem principalmente entre 40 m e 60 m de profundidade. A natureza arenosa é devida,
possivelmente, às condições de fronteira junto ao fundo condicionadas pelo regime da ondulação capaz de exceder o limiar de arranque das
partículas e facilitar o transporte dos sedimentos mais finos para a vertente continental e bacias oceânicas.
Os sedimentos grosseiros foram interpretados tendo em atenção a sequência de eventos da subida do nível do mar que se
seguiu à glaciação de WÜfm. Sugere-se que a formação dos «depósitos cascalhentos» está relacionada com o período de regressão temporária que interrompeu a transgressão geral, a qual ocorreu a meio da transgressão, e que tem sido correlacionada com o interstadial de
Allerod e com o avanço dos glaciares da Fenoscandia. Parece existir concordância entre esta hipótese e as variações climáticas ocorridas
entre 12000 e 11 000 anos antes do Presente, deduzidas do estudo de testemunhos colhidos na margem continental Ibero-Marroquina.
ABSTRACT
This paper is one report of a series that describes the recent sediment cover of the Portuguese continental shelf. This report
are the result of a geological project that is being conducted by the Serviços Geológicos de Portugal and Serviço de Fomento Mineiro
with the collaboration of the Instituto Hidrográfico and Secretaria de Estado das Pescas. The geological work consists of field and laboratory investigations and for this report, field work incIuded investigations of the bathymetry and the collection of bottom samples of the
sediments deposited during post-g1acial time. Studies of the texture and composition of the sediments were done at the project facility at
Castanheira do Ribatejo.
The continental shelf between paralel of the Minho river mouth and the Nazaré canyon is a relatively narrow shelf (35 to
60 km) and the shelf edge occurs at about 160 m depth. The Holocene (Recent) sediments can be grouped in four types on the basis of
their texture and composition: <diotoral sands» that are exposed at the surface near the shore line to about 40 m depth consisting of unimodal fine sands; «gravelly deposits» seaward of the litoral sands with high gravei percentage; «deposits of the outer shelf» consisting of
medium to fine sands with high biogenic carbonate content; and the «shelf edge deposits» of very fine well sorted sands with a dominant
quartz sand component. The «litoral sands» and the «shelf edge deposits» are considered as neoteric deposits; the «gravelly deposits» as
relict, proteric and palimpsest sediments and the «outer shelf deposits» as anfoteric sediments.
The most impressive aspects of the sedimentary cover of the continental shelf are their sandy texture and the coarse relict
and palimpsest gravelIy deposits occuring in the 40 to 60 m depth zone. Their sandy nature are perhaps due to the bottom boundary layer
conditions caused by the wave regime that are capable to exceed the treshold of sediment movement and permits the transport of the
finer particules to the continental sl.ope and deep oceano
The coarse sediments have been interpreted in the Iight of the sequence of events of sea levei rise following the Würm glaciation. One period of temporary regression interrupting the general transgression occurred at about mid point of the transgression, which
has been correlated with the Allerod interstadial and the advance of the Fennoscandia glaciers, is suggested to be reponsable for the
formation of the «gravelly deposits». There seerns to be agreement with cIimatic variations detected in cores off the Iberiall-Morocan margin about 11 000 to 12000 B. P.
1. -
INTRODUÇÃO
São praticamente inexistentes os trabalhos de
índole sedimentológica sobre a plataforma continental portuguesa entre o canhão submarino da Nazaré
e o paralelo da foz do rio Minho. Entre 1910 e 1930
publicou o Ministério da Marinha cartas litológi-
cas submarinas visando fundamentalmente o inventário de fundos para as pescas. A amostragem foi
(.) Trabalho elaborado no âmbito do projecto I.1.5-Reconhecimento e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem
Continental Portuguesa.
* Divisão de Geologia Marinha dos Serviços Geológicos de
Portugal.
181
classificada de forma expedita, não tendo sido publicados, à excepção dos trabalhos de J. GOMES (1915-16) e A. NOBRE (1926), quaisquer outros elementos
baseados em estudo mais pormenorizado das amostras colhidas. J. MONTEIRO (1971) efectuou a revisão
bibliográfica dos trabalhos publicados sobre a margem continental Este Atlântica de Finisterra a Casablanca, concluindo serem necessáríos estudos detalhados dos sedimentos da plataforma para melhor
compreensão da sedimentação holocénica.
Em 1974 iniciou a Direcção-Geral de Geologia e
Minas um projecto denominado «Reconhecimento
Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da
Margem Continental Portuguesa», cujos trabalhos decorrem nos Serviços Geológicos de Portugal, tendo sido
iniciados no Serviço de Fomento Mineiro. Os métodos utilizados e os objectivos dos cruzeiros realizados, na prímeira fase do projecto, estão relatados
em J. MONTEIRO et ai. (1977) sendo um dos objectivos do projecto o estudo dos sedimentos superficiais
da plataforma continental portuguesa. Os resultados
obtidos na prospecção prévia de cascalhos e areias
da plataforma continental portuguesa encontram-se
expressos em J. A. DIAS et ai. (1980).
O presente trabalho reporta resultados obtidos
na parte norte da plataforma continental até ao
canhão submarino da Nazaré, pretendendo-se reconhecer os padrões de distribuição dos sedimentos e
interpretá-los, tendo em conta a históría da transgressão flandríana e a sedimentação actual.
1.1. -
Características climáticas
O clima da região é temperado. A temperatura
anual média do ar ronda os 15° C no litoral, sendo
mais baixa no interior, onde se delimitam várias
zonas em que a referída temperatura é inferior a
10° C. A amplitude térmica anual média é moderada
varíando, na zona litoral, entre 10° C e 20° C.
A amplitude térmica é mais acentuada no interior,
especiâlmente nas zonas acidentadas. As temperaturas
mais elevadas registam-se nos meses de Julho a
Setembro e as mais baixas nos meses de Dezembro
a Fevereiro (Atlas Climatológico de Portugal Continental, 1974).
A insolação é grande, sendo em média 2 500 horas/ano, varíando entre 300 horas/mês em Julho e
100 horas/mês em Dezembro. A insolação é maior no
interíor que no litoral, no verão, e maior no litoral
no período de inverno.
A época chuvosa corresponde aos meses entre
Novembro e Março com cerca de 70 % da precipitação anual. A precipitação total anual é maior no
Norte que na parte Sul da região, sendo também
mais elevada nas zonas mais montanhosas. Os
maiores valores de precipitação registam-se na zona
da serra do Gerês, atingindo valores superiores a
2800 mm/ano no período 1931-1960. Segundo o
Anuário dos Serviços Hidráulicos (1979), a altura
média de chuva foi, na parte portuguesa da bacia
do Cávado que drena a serra do Gerês, de 2319 mm
no período de 1954 a 1971. A média das alturas de
chuva anual foi, nesse período, na parte portuguesa
das bacias que efectuam a drenagem para esta zona
da plataforma portuguesa, de 1 295 mm.
Na zona costeira da região considerada predominam, durante o ano, os ventos de Noroeste e Norte,
embora sejam consideráveis os ventos provenientes
de Oeste e, se bem que em menor grau, os de Sudoeste.
182
As resu1tantes anuais são eni gerai entre NN'W e
WNW.
O rio com maior bacia hidrográfica que aflui a
esta zona da plataforma é, sem dúvida, o Douro,
cuja bacia hidrográfica, em Portugal, ocupa 18 710
km 2• No ano de 1970-71 o maior caudal diário foi,
na Régua, de 1 283 m 3/s em Maio de 1971, com uma
ponta de cheia de 1 414 m 3/s. O módulo do rio,
referído ao mesmo ano hidrológico e na mesma
localidade (e em referência à qual a bacia hidrográfica apresenta uma área de 91491 km 2), foi de
334 m 3/s, nitidamente inferíor, todavia, ao módulo
dos últimos 40 anos que foi de 450 m 3/s (Anuário
dos Serviços Hidráulicos, 1979). Os dados de natureza hidrológica sobre os restantes rios são mais
escassos sendo os seus valores nitidamente inferiores
aos citados para o rio Douro.
A agitação marítima que atinge a costa portuguesa a norte da Nazaré tem período compreendido,
predominantemente, entre 6 a 18 segundos, sendo
os períodos mais frequentes os que oscilam entre 9 e
11 segundos. No referente à direcção da agitação
ao largo verifica-se que as direcções mais frequentes
estão compreendidas entre W- 10° -N e W- 20 0 -N.
No que concerne à altura da ondulação, o escalão
de alturas significativas mais frequentes é o de 1 a
2 m (45 % das ocorrências totais) ocorrendo alturas
de onda superíores a 6 m apenas com frequência
de 2 % (cerca de 7 dias/ano) (CARVALHO & BARCELÓ,
1966). No que se refere à onda de maré, esta não
determina a formação de correntes importantes, a
não. ser junto à costa. A amplitude é, no Minho,
de 3,80 m (Roteiro da Costa de Portugal,1952).
1.2. -
Características da zona drenada e da costa
Na vasta área cuja drenagem se efectua para a
região da plataforma continental portuguesa a norte
do canhão da Nazaré, podem definir-se duas grandes
entidades geológicas: a) o soco antigo, constituído
essencialmente por granitos, na maioría hercínicos, e
metamorfitos precâmbricos e paleozóicos; b) os
terrenos de cobertura de idade mesocenozóica, que
constituem parte da orla ocidental.
Os granitos e os terrenos antigos prolongam-se,
desde um pouco a Sul do Porto (fig. 1) até ao extremo norte da região considerada, para a plataforma
continental (MUSELLEC, 1974). O curso dos principais
rios que aí desaguam (Minho, Lima, Cávado, Ave e
Douro) foi condicionado por fracturas, algumas das
quais ainda activas.
A linha de costa a Norte do paralelo 41 ° parece
ter sido inicialmente definida por fracturas. Trata-se
de costa bastante linear, frequentemente arenosa,
quase desprovida de grandes arribas mas onde
ocorrem muitos afloramentos do soco antigo, cuja
orientação geral é aproximadamente NNW/SSW.
O litoral a Sul do paralelo 41 ° é essencialmente
arenoso. Apresenta grande linearidade, a qual não
é interrompida senão nalguns locais condicionados
por esporões rochosos, como o do cabo Mondego
que constitui a irregularidade maior desta costa.
É curioso notar as diferenças flagrantes existentes entre as desembocaduras dos rios das partes
meridional e setentrional da região considerada.
Efectivamente, no norte, os rios apresentam estuários menos condicionados, na sua forma actual,
por depósitos sedimentares. A sul, pelo contrárío,
os estuários encontram-se muito assoreados, dificul-
LOCALIZAÇÃO DA AMOSTRAGEM
•
ArnoJlrCls
GEOLOGIA SIMPLIFICADA
(Ba,eado IICI ·CARTA GEOLÓGICA DA
PlATAFORMA CONTINENTAl-)
§§
!"'::"i=~o)
/"
folhos
(Soco
eruptivo
BATIMETRIA
para sul, atingindo cerca de 60 km frente ao cabo
Mondego, voltando a diminuir um pouco até ao
canhão da Nazaré. A largura média é de 43,7 km
(MusELLEc, 1974) nitidamente inferior à largura
média das plataformas continentais do globo que é
de 75 km (SHEPARD, 1973). O pendor da plataforma
oscila entre 5,7 a 2,4 m/km. Os maiores pendores
registam-se na parte norte da região, constatando-se
que são tanto maiores quanto mais próximo da plataforma aflora o soco ante-mesozóico, atingindo os
valores mais elevados na zona em que o próprio
soco aflora na plataforma interior. Segundo P. MuSELLEC (1974) estas diferenças de pendor testemunham, provavelmente, um movimento recente geral,
de báscula para o largo, mais importante a norte
que a sul.
No conjunto, a plataforma considerada é caracterizada por grande simplicidade de formas sem relação aparente com os acidentes tectónicos. Geologicamente, exceptuando a zona onde aflora o soco
antigo, a plataforma é constituída por monoclinal
de terrenos cretácicos e cenozóicos deformados localmente por alguns d;apiros (Carta Geológica da
Plataforma Continental, 1978).
2. - MÉTODOS UTILIZADOS
2.1. - Amostragem
Fig. 1 - Mapa de localização da amostragem e geologia
simplificada da região.
tando a comunicação com o mar. Na explicação deste
facto entrarão, por certo, três ordens de factores:
1) Na parte norte o perfil dos rios é mais jovem, mais
distante do perfil de equilíbrio, o que lhes confere
maior vigor; 2) A pluviosidade é maior no norte
que no sul; 3) O ângulo de ataque da ondulação é
mais agudo no norte que no sul o que poderá provocar maior tempo de residência das areias litorais
no sul.
1.3. - Características da plataforma continental
Na plataforma portuguesa localizada a Norte do
canhão da Nazaré (fig. 1) podem distinguir-se duas
zonas principais: 1) Uma zona condicionada pela natureza das rochas da orla ocidental, situada a Sul do
paralelo 41°, cuja largura varia entre os 40 e 50 km
a qual passa, a Oeste, de profundidades típicas· da
plataforma para profundidades . da ordem dos
4000 metros da Planície Abissal Ibérica; 2) Outra
zona sita a Norte do paralelo 41°, cuja largura média
é de 30 km e cuja vertente continental a liga a zona
submarina de profundidade intermédia entre a plataforma e a planície abissal (montanha submarina
de Vigo). Todavia, as duas zonas consideradas possuem características similares ou que variam de modo
gradual.
A profundidade do bordo da plataforma é, em
média, de 160 metros, variando entre 130 e 190 metros
(MusELLEc, 1974). A largura da plataforma continental varia, sendo mínima na parte setentrional, região
onde aflora o soco ante-mesozóico (cerca de 35km
até Póvoa de Varzim) alargando progressivamente
A amostragem utilizada no presente trabalho
foi colhida no decurso dos cruzeiros AC75/1 «VIABOA» (Outubro de 1975) e AC77/2 «FIMO»
(Setembro de 1977), efectuados no navio «N. R. P.
Almeida Carvalho». Nas colheitas utilizaram-se
colhedores tipo «Shipek» e <Nan Veen»~ A escolha
dos locais de amostragem teve em atenção dois
objectivos principais: a) estudo da sedimentação
recente na plataforma continental; b) pesquisa
de depósitos eventualmente susceptíveis de interesse
económico. Efectuaram-se 10 linhas de amostragem
localizadas transversalmente em relação à plataforma e 4 manchas de amostragem em zonas onde se
suspeitava existirem depósitos de sedimentos grosseiros (Fig. 1).
Nalguns casos, o peso das amostras disponível
para peneiração era inferior ao sugerido por Wentworth (KRUMBEIN & PETTIJOHN, 1938). Entre rejeitar
as amostras tendo em atenção o critério de Wentworth, ficando sem dados desses locais, e aproveitá-las correndo o risco de estarem afectadas por
certa margem de erro, optámos por esta última hipótese, rejeitando unicamente as amostras que possuíam
nítida insuficiência de material. Mesmo nestes casos,
entrou-se em linha de conta com as características
observáveis para, em conjugação com as amostras
próximas, delimitar os depósitos.
2.2. -Procedimento laboratorial
O tratamento laboratorial da amostragem foi
realizado no Laboratório de -Geologia Marinha dos
S. G. P., utilizando a metodologia aí em uso, isto é:
ataque com peróxido de hidrogénio para remoção
da matéria orgânica; lavagem com água destilada
com o objectivo de retirar o cloreto de sódio e outros
sais dissolvidos; separação das fracções silto~argiiosa
e arel1o-cascalhenta por peneiração via húmida a
63!l(4<1»; e: separação das fracções areia e cascalho
por peneiração a seco com peneiro de 2 mm (-1<1».
183
FlCAÇÃO DOS
SEDIMENTOS
u;o•• Sh,u. Ui!i4)
FRACÇÃO TEXTURAL
DOMINANTE
~Ar.no ..
"I-
Em SlItoargllo..
FRACÇ.i.O DOMINANTli
NA AREIA
c:J TerrTgena
B
W~tff."~il
An;a SlItua
C
liiIIiI'iII'afUI!
Fig. 2 - Mapa da distribuição das fracções texturais dominantes. nas amostras e das fracçõs composicionais dominantes
na areIa.
A fracção fina foi desfloculada com hexametafosf~to de sódio 0,1 N após o que se determinaram, por
plp~tagem, as quantidades de silte (entre 411> e 811» e
argIla (menor que 811». A fracção areia foi peneirada
a intervalos de 111>, o mesmo acontecendo à fracção
cascalho quando presente em quantidade superior
a 5 % da amostra.
As fracções resultantes da peneiração foram examinadas à lupa binocular, utilizando método análogo ao descrito por F. SHEPARD & D. MOORE (1954),
estabelecendo para cada fracção, por identificação de
100 grãos, as percentagens de cada uma das seguintes
classes: quartzo, mica, agregados (fragmentos de
rocha e «beach-rock»), outros terrigenos, glauconite, foraminiferos bentónicos, foraminiferos planctónicos, moluscos, equinodermes, outros biogénicos
e não identificados. Com base na composição de
cada uma das fracções determinou-se a composição
total da areia.
A análise textural da areia foi efectuada com a
balança de sedimentação construida nos S. G. P.
de acordo com as recomendações de R. GIBBS (1972,
1974), estando a sua descrição efectuada noutro
trabalho (DIAS & MONTEIRO, 1978).
2.3. - Tratamento dos dados da análise textural
Nos registos provenientes da balança de sedimentação, ~fectuados na base tempo versus voltagem
proporcIOnal ao peso acumulado, foram determinadas as I?e~centagens acumulativas de 1/411> em 1/411>,
no dommIO de -111>(2 mm) a 411> (63(J.). As velocidades
184
Fig. 3 - Mapa da distribuição das classes texturais (segundo SHI!PARD, 1954).
terminais e diâmetros de sedimentação foram determinadas com a equação proposta por R. GIBBS et aI.
(1971). Os dados assim obtidos foram tratados no
computador do Centro de Cálculo da Fundação
Gulbenkian, utilizando o programa SEDIME 3
descrito em J. A. DIAS (1978). Utiliza o programa
referido sub-rotina extraida do programa de J. SCHLEE
& J. WEBSTER (1965), a qual permite efectuar a interpolação a 0,0511> entre os pontos originais de modo
a obter maior aproximação à curva continua de
distribuição. Todos os parâmetros utilizados neste
trabalho foram calculados com base nos pontos da
curva assim obtida.
Os parâmetros granulométricos foram calculados
pelo método dos momentos centrados na média
aritmética, tendo sido aplicado aos segundo e quarto
momentos as correcções de Shepard. Com os momentos assim calculados (mI> m 2, m5' e m 4) determinou-se
o valor dos parâmetros seguintes:
média granulo métrica ...... M = mI
desvio padrão
cr = vm;
assimetria (skewness) ...... 1X5 = m5/2crm2
achatamento (kurtosis) ...... ~2 = m4/(m2)2-3
Efectuou-se também a classificação do sedimento
segundo o diagrama triangular de Shepard, tendo-se
utilizado para tal subrotina desenvolvida por Lloyd
Breslaus tal como foi aplicada por J. SCHLEE &J.WEBSTER (1965).
As modas presentes na distribuição granulométrica foram determinadas por exame das diferenças
nico em vez do cascalho total porque a presença de
conchas no material grosseiro constitui, por via de
regra, um problema. Tal como T. McKINNEY &
G. FRIEDMAN (1970) decidimos não considerar, nesta
figura, o material biogénico superior a -1 ~ (2,00 mm),
3. - DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS
pois que é difícil dizer quando é que dada concha ou
fragmento de concha foi ou não transportada e depoA plataforma continental portuguesa entre o sitada com o restante sedimento.
canhão submarino da Nazaré e o paralelo da foz
A presença de outros tipos texturais diferentes
do rio Minho está coberta, na sua grande maioria, da areia é reduzida. Na plataforma interior, a propor sedimentos em que a classe textural dominante fundidades que variam em geral entre os 40 m e os
é a areia (Fig. 2). No mapa da Fig. 3 representou- 80 m, delimitam-se manchas várias em que a ocor-se a distribuição dos sedimentos de acordo com a rência de cascalho é elevada. A maior profundidade,
classificação de F. P. SHEPARD (1954). Neste mapa junto à desembocadura de alguns rios e nas proassinalaram-se ainda as zonas de ocorrência de cas- ximidades do canhão da Nazaré, existem alguns
calho com percentagens superiores a 5 % e a 25 % depósitos com conteúdo silto-argiloso mais elevado.
da amostra. Representámos o cascalho não biogé- Na Fig. 2 pode observar-se ainda qual é a componente dominante da fracção arenosa, constatando-se
Areias da
que a areia até à bati métrica dos 100 m é constituida
Areias
Depósitos
Areias da
Bardo da
Depósitos
essencialmente por elementos terrigenos, predomilitorais Cascalhento. Plataf. exterior Plataforma
sedimentares
nando os bioclastos a profundidades maiores.
Os diagramas de barras da Fig. 4 representam
as médias dos conteúdos em cascalho, areia, silte
e argila das amostras agrupadas de acordo com a
Número de
amostras
53
16
18
21
12
6
profundidade. Verifica-se que, como atrás se referiu,
a plataforma portuguesa a Norte da Nazaré está
coberta por sedimentos essencialmente arenosos.
:-10%As fracções siltosa e argilosa são muito reduzidas
""
notando-se,
todavia, aumento gradual destas frac~ 0%ções com a profundidade, diIninuindo no entanto,
junto ao bordo da plataforma. Consideramos que
20%este decréscimo carece de confirmação visto que só
das frequências, tendo-se eliminado as modas menores, isto é, as que apresentam frequência da classe
inferior a cinco vezes o intervalo fi da classe.
~
r
..
:=
.,.
.
10%-
10%-
SEDIMENTOS DA PLATAFORMA
CONTINENTAL PORTUGUESA· A
80%-
NORri; DO CANHÃO DA NAZARÉ
70%-
...=
60%50%-
<n
0<.
.,'
: 40%-
....=
~
_
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:z
c.:o
..
20%-
-=
~
10%-
u
1
0%5
65
95
125
155
35
(m)
Profundidade
200
Fig. 4 - Diagramas de barras representando as médias dos
conteúdos das fracções texturais das amostras em função da
profundidade.
Fig. 5 - Màpa de distribuição dos depósitos sedimentares
superficiais.
185
DESVIO PADRÃO ( ..)
MÉDIA
~ ANia grolnira _
t:::.:.illlMlil'OgfoIltIlra
.0'<0.50
h;r:::~N
"ANkI midkl 2.<M<1.
tl~~l
1.5(1< a< 0.80
I~J&~1~~1.~
A,.ia fano 3,,<11\<2.
~
Wf:f:):f:]
0'> fI.~q
Areia muito fina"".'C"MC3!1
4~'P
Fig. 6 - Mapa da distribuição dos valores da média granuloIllétrica da _areia. _
" _ __
tivemos oportunidade de analisar 6 amostras provenientes de profundidades superiores a 155 m.
As médias das percentagens de areia revelam dois
mínimos, entre os 35 m e os 65 m e outro entre os
125 m e 155 m. O primeiro corresponde à zona de
maior ocorrência de cascalho terrígeno e o segundo
à zona de maior deposição de siltes e argilas.
A conjugação dos dados texturais e composicionais permite-nos considerar, na plataforma, quatro
zonas diferentes com disposição grosseiramente
paralela ao litoral: areias litorais, depósitos cascalhentos, depósitos da plataforma exterior e depósitos
do bordo da plataforma (Fig. 5).
Este padrão da distribuição dos sedimentos na
plataforma continental é válido fundamentalmente
para a plataforma compreendida entre 41 0 30' N
e 39 0 50' N. A Sul deste último paralelo, a sedimentação parece estar condicionada pela existência do
canhão submarino da Nazaré. A Norte do paralelo
41 0 30' N, o padrão de distribuição dos sedimentos
apresenta também algumas diferenças importantes,
de entre as quais ressaltam a existência de sedimentos
lodosos a pequenas profundidades e a de sedimentos
com fracção cascalhenta importante a profundidade
e distância à costa maiores que as verificadas a Sul
deste paralelo. O reconhecimento dos depósitos sedimentares da plataforma galega, a norte, seria necesrio para completo esclarecimento das razões desta
situação.
3.1. -Areias
Iltorais
.Estes "depósitos, :situados -junto - ao - iitoral: prolongam-se em média até aos 40 metros de profundi186
Fig. 7 - Mapa da distribuição dos
padrão da areia.
va~ores
do desvio
dadé e são definidos pelo seguinte conjunto de características: 1) As areias litorais são finas e muito
finas (Fig. 6) o que se coaduna possivelmente com
o tipo de areias debitado na actualidade pelo rios
que aí afluem; 2) A calibração, representada pelo
desvio padrão (Fig. 7), é elevada, apresentando
geralmente a< 0,50, o que se ajusta bem a um tipo de
transporte actual por deriva litoral; 3) A assimemetria (Fig. 8), é geralmente negativa, tornando-se
nula a maior profundidade, perto do contacto com
os depósitos cascalhentos, o que se ajusta com o
actual transporte litoral; 4) As amostras referentes
a estas areias são na maioria unimodais (Fig. 9),
evidenciando pouca ou nenhuma mistura; 5) A
composição da areia é essencialmente terrígena
(Figs. 2 e 10) devido ao actual influxo de materiais
do continente que dilui a componente biogénica no
sedimento; 6) Os grãos de quartzo apresentam
geralmente superfícies bastante límpidas e brilhantes,
são sub-angulosos a sub-rolados, não apresentando
indícios de terem sido sujeitos a mais de um Ciclo
sedimentar; 7) A mica é ocasionalmente abundante
junto ao litoral, principalménte na região nordeste
da plataforma onde os gra:nitos e rochas metamórficas se estendem até à costaprolongatido-se para a
plataforma (Fig. 10 e J2). Apresenta-se em palhetas
pouco alteradas que; nalgumas amostras, chegam a
ter frequência elevada mesmo nas fracções mais grosseiras (0<1> a 1<1> e -i<l> a 0<1»revelando, às vezes, espessura -considerável, -o qUe indica origem bastante
próxima; 8) Nalgumas amostras, especialmente as
provenientes da região nordeste da plataforma, verifica-se _a _presença de feldspatos na fracção arenosa,
ás vezes em grãos poliminerálicos; 9):A compo-
ASSIM[TRIAI-S)
~ ~l>O
80<,·0
mm
D
o<'J<
o
MODALIDADE DE AREIA
~
Uailllodal
~
Blmodal
1IIIIIIII
Plurimodal
201m
L---J
Fig. 8 - Mapa da distribuição dos valores da assimetria
da areia.
Fig. 9 - Distribuição dos sedimentos caracterizados pela
existência de uma, duas e três ou mais inodasgranulométricas
na areia.
nente biogénica da areia, muito reduzida, é predominantemente constituída por conchas de moluscos;
quer inteiras quer fragmentadas" frequentemente
com a camada nacarada interior nitidamente visível,
parecendo, pelo aspecto das suas superfícies, serem
de origem actual. Todos estes factos legitimam a conclusão de que estas areias litorais são recentes, prosseguindo actualmente a sua deposição, constituindo
extensa mas estreita faixa que vai geralmente até
cerca de 40 m de profundidade.
d,e cor amarela4a ou, amarelo-alaranjado possivel:
meÍlú~ devido à existência de óxidos de ferro,o
que sugere terem sido estas partículas sujeitas a mais
de um ciéIo sêdimentar; 2) Os, bioclastos, predominantementé constituídos por framentos de conchas
de moluscos, apresentam-se muito corroídos, frequentemente sub-rolados a rolados, tomando, não raro,
aspecto terroso; 3) Foi constatada a existência,
nestes sedimentos, de agregados do tipo usualmente
conhecido sob a designação de «beach-rock».
Como a plataforma continental, nesta zona, não
apresenta rupturas de pendor muito marcadas, e
atendendo às características climatológicas e oceanográficas actuais da região, a presença destesdepósitos grosseiros, situados a profundidade mais, ele,.
vada e maior distância à costa que os sedimentos
finos das areias litorais, às quais se sucedem,constitui facto anómalo. Estas anomalias em relação ao
regime actual são, no entanto, compreensíveis se
considerarmos estes depósitos como não actuais~
K. EMERY (1968, p. 458), no mapa de distribuição
mundial dos sedimentos relíquia nas plataformas continentais, assinala a existência de sedimentos relíquia
nesta zona da plataforma portuguesa. Efectivamente,
o cOnjunto de características atrás apontado permite
classificar estes sedimentos como «relíquias» segundo
o critério de K. EMERY (1968).
Ao bservação das fracções mais finas da areia
(2<P a 3<Pe 3<p a4<p), presentes sempre em percentagens
muito reduzidas, revelam, no entanto, carácterísti-'
cas substancialmente diferentes das anteriormente
descritas para as fracçõesgrosseiràs e muito semelhantes às observadas nas areias litorais. Assim,
3.2. -
Depósitos cascalhentos
Estes depósitos, localizados a maior distância da
costa que os anteriores, a profundidades que oscilam, geralmente, entre os 40 m e os 80 m, possuem
percentagens de cascalho terrígeno em geral Superiores a 10 % da amostra, não sendo raras as amos,,:
tras em que tal percentagem excede os 50 % (Fig. 3).
A areia destes depósitos é grosseira (M <O<p), moderadamente bem calibrada (0,50 <0'< 0,80) sendo a
assimetria positiva (OC5 >0) (Fig. 6-8). Todavia, o carácter predominantemente quartzos o, bem como as
outras características composicionais, conferem-lhes
certa semelhança com as areias litorais atrás descritas sendo a diferença mais evidente a ocorrência de
elevadas percentagens de cascalho.
A análise destas areias à lupa binocular revelou
que os elementos constitutivos das fracções mais
grosseiras (-1<p a O<P e O<P a 1<P) são bastante diferentes dos elementos similares das areias litorais. Verificou~se que:
1) Os grãos de quartzo apresentam-se
sub-rolados, não brilhantes, com aspecto «sujo»,
187
0/0
M QUARTZO NA AREIA
~<2IJS
~ Entre
50"' • 75"
~Outro.l.r'ig.nol
BIOGENICOS
~"OIU"O.
~
Outrol blog'n1ees
AUTIGENICOS
~G ..uc:onil.
•••
Fig. 10- Mapa da distribuição das componentes dominantes da areia.
Fig. 11 - Mapa da distribuição do quartzo existente na
areia.
entre os 2<1> e os 4<1>, os grãos de quartzo são geralmente límpidos, hialinos, brilhantes e sub-angulosos
a sub-rolados. Os fragmentos biogénicos, se bem que
continuem a mostrar nítida subordinação à fracção
quartzosa, estão bem conservados e evidenciam
maior diversidade. Não são raras as conchas de
moluscos inteiras ou quase inteiras, ainda com o
interior nacarado bem conservado. Estas características encontram-se em oposição com as o bservadas nas fracções mais grosseiras e sugerem que
as fracções finas (2<1> a 4<1» destes depósitos pertencem
a sedimentos recentes.
A análise à lupa binocular da fracção intermédia
(1<1> a 2<1» revelou existir mistura dos dois tipos atrás
descritos, sendo às vezes dominantes as características das fracções mais grosseiras (relíquias), outras
as das fracções mais finas (recentes).
componente acessória, frequentemente com percentagens bastante inferiores a 25 % da areia e predominantemente nas fracções mais finas. As fracções granulo métricas maiores (-1 <1> a 0<1> e 0<1> a 1<1» são geralmente dominadas por fragmentos de conchas de
moluscos, frequentemente corroídas e desgastadas.
A morfoscopia dos grãos e a composição das
amostras provenientes destes depósitos conduz-nos,
aplicando os mesmos critérios que utilizámos para
os depósitos antes referidos, à conclusão de que são
sedimentos mistos de recente e relíquia. Em algumas
amostras, a abundância de partículas presumivelmente antigas é tal, que podem considerar-se como
sedimentos relíquia. Noutras amostras, as partículas
com aspecto antigo são tão raras que podem ser consideradas como recentes. Como vimos atrás, a oriente
dos depósitos cascalhentos, a sedimentação terrígena
recente modifica os sedimentos no sentido de lhes
conferir caract.erísticas mais modernas, obliterando
as características iniciais dos depósitos. Nos depósitos da plataforma exterior, a ocidente dos depósitos cascalhentos, constata-se modificação análoga,
embora muito menos nítida, provocada neste caso
pela deposição de elementos bioclásticos, essencialmente de carapaças de foraminíferos.
3.3. - Depósitos da plataforma exterior
A ocidente de uma linha que segue, «grosso
modo», a bati métrica dos 100 metros, as areias são
dominadas pela componente biogénica (Fig. lO e 13).
Trata-se de areias médias e finas (1<1><M<3<1»,
com calibração variável, e assimetria geralmente
negativa (Fig. 4). A areia revela, por via de regra,
plurimodalidade (Fig. 9). A glauconite aparece de
modo sistemático nas amostras estudadas embora,
regra geral, não ultrapasse os 5 % da areia (Fig. 14).
As carapaças de foraminíferos constituem, na grande
maioria das amostras, a componente dominante
da areia (Fig. 6-8). O quartzo não aparece senão como
188
3.4. -
Depósitos do bordo da plataforma
No bordo da plataforma e na vertente continental superior verifica-se a existência de manchas de
sedimentos constituídos por areias muito finas
(M > 3<1» e geralmente bem calibradas (Fig. 6 e 7).
O/o
DE BlOCLASTOS NA AREIA
~":10"
O/o
DE MICA NA AREIA
E3 Entre 10,. e 50"
~
Entre SO".
9o"
, .
•~ Entre 0.5.5'1.
II1II Entre 5". 201.
_;.20>
Fig. 12 - Mapa da distribuição da mica existente na areia.
A componente biogénica da areia continua a
ser importante, sendo constituida essencialmente
por carapaças de foraminiferos. Todavia, a componente dominante da areia é frequentemente formada
por quartzo, o qual se apresenta brilhante e anguloso
a sub-anguloso. A percentagem de ocorrência de
glauconite decai para valores que permitem considerá-la como vestigial ou mesmo ausente (Fig. 14).
A mancha de sedimentos deste tipo com maior extensão foi detectada ao largo do Cabo Mondego.
As caracteristicas morfoscópicas dos elementos
das amostras provenientes destes depósitos sugerem
tratar-se de sedimentos recentes, mas o escasso
número de amostras colhidas impossibilita melhor
caracterização.
4. - DISTRIBUIÇÃO DO QUARTZO, MICA E
GLAUCONITE
4.1. -
Quartzo
Facto digno de realce e aparentemente contraditório é a baixa percentagem de quartzo na plataforma interior da zona setentrional (Fig. 11). A abundância de mica explicaria, só por si, o decréscimo de
quartzo, visto que os dados são do tipo percentagens
relativas. Acresce ainda que, devido à agitação
aquando da peneiração, a mica tem tendência a desagregar-se em palhetas, aparecendo sobrevalorizada
nas contagens.
Na restante plataforma, a percentagem de quartzo
parece estar relacionada com os locais de desembocadura dos rios que drenam regiões graníticas, pare-
Fig. 13 - Mapa da distribuição da componente bioclástica
da areia
cendo poder concluir-se que a extensão e coalescência das manchas reflecte o acentuado transporte
principalmente por deriva litoral. Na parte setentrional da região, a abundância de mica dilui, como
se disse atrás, o valor das percentagens de quartzo.
A forma da mancha representativa da abundância
de quartzo maior ou igual a 75 % da areia será devida
às variações relativas do quartzo e dos outros terrigenos, traduzindo diferenças de maturidade do sedimento relacionadas com a proximidade das fontes
e a intensidade do transporte.
4.2.-Mica
A abundância de mica na areia parece estar relacionada com a natureza e proximidade do soco
antigo e as desembocaduras dos rios que efectuam
a respectiva drenagem directamente para a plataforma (Fig. 12).
As maiores frequências detectaram-se junto à
costa, a norte do paralelo 41°, região onde o soco
poli metamórfico e eruptivo se prolonga para a plataforma continental. Voltam-se a encontrar altas
percentagens de mica relacionadas com a foz do
Mondego, rio que efectua a drenagem dos granitos
da serra da Estrela.
Pelas dimensões e aspecto de alteração que apresentam, as micas dos depósitos litorais do norte
revelam origem mais próxima que as do sul. A quase
ausência de mica ao largo de Aveiro poderá estar
relacionada com o. facto de haver retenção pela
laguna onde vai desembocar o rio Vouga.
189
0/0 OE
GlAUCOi\llTE NA AREIA
~Entre1'l••
5'"
R .. ,o.
Fig. 14 - Mapa da distribuição da glauconiteexistente
na areia.
4.3. -
Glauconite
A glauconite não aparece na faixa costeira até
perto da bati métrica dos 100 m (Fig. 14), mas é relativamente abundante abaixo desta profundidade, chegando mesmo a constituir a componente dominante
da areia. As maiores percentagens de glauconite parecem estar associadas a altas frequências de carapaças de foraminíferos, embora a afirmação inversa
nem sempre seja válida. Esta associação tem sido
frequentemente citada (por exemplo, em VAN ANDEL
& POSTMA, 1954; EMERY, 1960; EHLMANN et aI., 1963
e McRAE, 1972), verificando ainda estes autores que
os sedimentos em que ocorre a glauconite têm tendência a ser bem calibrados, facto este que também
se verifica na região estudada.
Observámos grãos de todos os tipos descritos
por D. TRIPLEHORN (1966), sendo mais frequentes os
moldes internos e os grãos esferoidais e ovaloides,
parecendo os primeiros ser mais abundantes a maiores profundidades. Tivemos oportunidade de observar vários estádios de transição que vão desde carapaças de foraminíferos com pequenos indícios de
glauconitização até moldes internos de foraminíferos
constituídos exclusivamente por glauconite. Segundo
S. McRAE (1972), as conchas de micro-organismos
constituiriam micro-ambientes propícios à transformação mineralógica que culminaria na glauconite.
A matéria orgânica aí em decomposição provocaria
as condições de oxi-redução necessárias à formação
deste mineral autigénico (CLOUD, 1965).
As fracções com maior percentagem de glauconite
são as de 1<I> a 2<1> e de 2<1> a 3<1>, chegando nalguns
190
casos a atingir 80 % da fracção, como acontece no
bordo da plataforma frente a Aveiro e junto ao
bordo Norte do canhão da Nazaré. As fracções com
maior abundância de glauconite condizem com o
que tem sido observado noutras plataformas, em
que as dimensões mais frequentes oscilam entre
100 !Lm (~ 3<1» e 500!Lm (1<1» (WILLIAM et aI., 1954;
MERo, 1965; McRAE, 1972). Todavia, nalguns casos
raros, especialmente quando a glauconite constitui
a componente principal da areia, estes grãos chegam
a ter frequência superior a 10 % da fracção -1 a 0<1>.
Nestas fracções grosseiras encontram-se, com frequência, pequenas pontuações verdes, com aspecto
de glauconite, em fragmentos de conchas de bivalves
desgastados e corroídos.
Nos moldes e enchimentos de foraminíferos, a
cor da glauconite é verde azeitona, verde claro e às
vezes acastanhada. Nos grãos ovaloides e lobados a
cor tem tendência a ser mais escura, às vezes, quase
negra. Esta associação preferencial das tonalidades
com certos tipos morfológicos da glauconite tem
sido referida em várias plataformas, nomeadamente
na plataforma portuguesa ao largo de Sines (MOITA,
1971) e ao largo da Península de Setúbal (MONTEIRO
& MOITA, 1971). Detectámos, todavia, bastantes
excepções, tendo observado até que alguns grãos
mais claros possuem zonas mais escuras. A. EHLMANN et aI. (1963) atribuem essa cor mais escura dos
grãos à oxidação do ião ferroso.
As profundidades em que a glauconite aparece de
forma significativa nas amostras estão dentro da ordem
de 'grandeza estimada para a sua formação, a qual
varia, segundo vários autores (nomeadamente PORRENGA, 1967 e McRAE, 1972) entre 30 e 700 metros.
A formação da glauconite é favorecida por taxas
de sedimentação pequenas ou até negativas. Tais
condições, juntamente com outras condições favosáveis, podem ser encontradas durante transgressões marinhas (RECH-FRoLLO, 1963; McRAE, 1972).
Este facto explica a razão porque a glauconite ocorre
frequentemente em relação com sedimentos não
modernos, anteriores à subida do nível do mar que
se verificou após a última glaciação (ALLEN, 1965;
CLARKE, 1969). Tal facto é também verificável na
região estudada. Efectivamente, a ocorrência de
glauconite verifica-se aqui em relação com os sedimentos com características relíquia atrás descritos.
5. - DISCUSSÃO
5.1. - Sedimentos modernos versus sedimentos relíquia
Os efeitos, nas plataformas continentais, das
flutuações do nível do mar no Quaternário têm sido
reconhecidos . pelo estudo dos sedimentos, tendo
F. SHEPARD (1932) posto em evidência a importância
dos sedimentos relíquias como testemunhos de níveis
do mar mais baixos que os actuais, devido às glaciações. Todavia, quando se aplica o termo «relíquia»,
deve-se fazê-lo com prudência porquanto o significado da palavra varia segundo os autores. Para
K. EMERY (1952) os sedimentos relíquia são «remnant from an earlier environment», identificando
este conceito, mais tarde (EMERY, 1968) com determinado conjunto de características texturais e composicionais do sedimento. Aos sedimentos relíquia
opor-se-iam sedimentos modernos ou em equilíbrio,
os quais são os que são transportados actualmente
para a bacia de deposição (CURRAY, 1965). D. SWIFT
et aI. (1971) propõem a introdução do con,?eito de
«sedimento palimpsesto», aplicável a sedImentos
retrabalhados. Segundo estes autores, os sedimentos
palimpsestos teriam características petrográficas de
dois ambientes sedimentares, um mais antigo e outro
mais moderno. Assim, «sedimento relíquia» poder-se-ia
aplicar, com sentido genético, a sedimentos remanescentes de ambientes anteriores, enquanto «sedimento
palimpsesto» seria o termo descritivo conveniente para
os sedimentos relíquia posteriormente retrabalhados.
Ainda segundo os autores citados, são possíveis todos
os estádios intermédios desde os relíquias puros, passando pelos palimpsestos até aos sedimentos modernos autóctones nos quais não teriam sido preservados
quaisquer atributos petrográficos ou fisiográficos
imputáveis a ambiente sedimentar anterior.
Outro conceito de sedimento relíquia foi introduzido por J. CURRAY (1975), sob a designação de
«sedimento em pseudo-equilíbrio». Estes sedimentos
seriam relíquias que foram de tal modo modificados
pelos processos ambientais actuais que ficaram em
equilíbrio com esses processos, embora os depósitos
possam não ser constituídos por material depositado actualmente.
O conceito de sedimento relíquia foi discutido
também por R. BELDERSON et aI. (1971), que propõem
o seu abandono argumentando que este termo não
põe em evidência o aspecto dinâmico que é, segundo
estes autores, o aspecto mais importante da sedimentação recente nas plataformas continentais.
D. MeMANUS (1975) tenta sistematizar a classificação dos sedimentos assentando os seus conceitos
em bases essencialmente dinâmicas. Entra, este
autor, em linha de conta, com dois grupos de processos sedimentares: a) processos envolvidos no
fornecimento de materiais para a bacia de deposição;
b) processos de distribuição das partículas nas
bacias. A interrelação destes processos é utilizada na
definição dos conceitos que permitem classificar os
diferentes tipos de sedimentos, abrangendo este
termo não só as partículas mas também os depósitos
sedimentares por elas formados. Assim, sedimentos
«neotéricos» são depósitos modernos constituídos
por partículas que estão presentemente a ser fornecidas à bacia. Sedimentos <<protéricos» são depósitos
modernos constituídos por partículas que chegaram
à bacia de deposição antes do presente. Sedimentos
«anfotéricos» são depósitos modernos constituídos
não só por partículas que estão presentemente a chegar à bacia de deposição, mas também por outras
que para aí foram transportadas anteriormente. Os
sedimentos <<palimpsestos» constituem depósito relíquia contendo principalmente partículas anteriormente chegadas à bacia de deposição, incluindo
também algumas partículas para aí transportadas
actualmente. Finalmente, considera D. MeManus um
quinto tipo, o de sedimento «relíquia», o qual é um
depósito não contaminado por partículas recentes.
A sistematização efectuada por D. MeMANUS
(1975) parece-nos ser a mais indicada, atendendo ao
actual grau de conhecimento dos processos sedimentares das plataformas, porque assenta numa base
dinâmica e envolve os processos sedimentares fundamentais: os implicados no fornecimento de partículas, em que forçosamente há que incluir todo o
processo desde a erosão aos diferentes tipos de transporte; e os de distribuição das partículas, que envolvem quer a deposição propriamente dita, quer o
DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS
MODERNOS I RELÍQUIAS
(SqamcbullTucIIHIttIüliUS)
§
Naotérlcol
mm
Anlot.rlcoc
Fig. 15 - Mapa da distribuição dos sedimentos, de acordo
com a classificação de D. MACMANUS (1975).
retrabalhamento dos depósitos que conduz a novos
transportes e deposições.
De acordo com a terminologia de D. MeMANUS
(1975), os sedimentos da plataforma continental
portuguesa atrás descritos como «cascalhentos»,
podem ser denominados, de um modo geral, por
«palimpsestos». No entanto, verifica-se existir certa
variação nas características destes sedimentos. Nalgumas amostras, as partículas mais finas (2<1> a 4<1»,
modernas, são praticamente inexistentes, podendo-se
considerar o sedimento como relíquia. Outras amostras revelam a existência de grande quantidade de
material depositado recentemente, correspondendo
na classificação de D. Me MANUS (1975), a sedimentos
anfotéricos. Noutros casos ainda, como acontece
nalgumas amostras colhidas mais perto da costa,
o sedimento é quase totalmente constituído por
partículas recentes, embora se verifique existirem,
nas fracções mais grosseiras, algumas partículas
com características de' relíquia. Estes sedimentos
podem ser denominados já por neotéricos. Em resumo, a amostragem colhida nos sedimentos descritos como «cascalhentos» revela existência de depósito constituído em anterior ciclo sedimentar, o qual
foi em grande parte modificado pela introdução de
material mais recente, constituíndo actualmente uma
faixa de sedimentos palimpsestos, os quais, principalmente nas zonas mais perto do litoral, evoluem,
mercê da deposição de materiais modernos, para
sedimentos neotéricos enquadráveis nos depósitos que denominámos por areias litorais. No mapa
da Fig. 15 tentou-se representar a distribuição dos
sedimentos de acordo com a classificação de D.
191
McMANUS (1975). Como se pode observar, aos sedimentos neotéricos descritos como «areias litorais»
sucedem-se sedimentos anfotéricos que passam, a
ocidente, a palimpsestos, que correspondem aos
depósitos descritos como «cascalhentos».
5.2. -
Sedimentação holocénica
Durante os episódios glaciários, o nível do mar
baixou possivelmente até cerca de -130 metros
abaixo do nível actual. Nesses períodos, pelo menos
a parte superior da plataforma continental sofreu
exposição subaérea, sendo os sedimentos debitados
para a plataforma por sistema fluvial diferente do
que se conhece actualmente. Por exemplo, a análise
batimétrica detalhada revela que os canhões submarinos de Aveiro e do Porto estão possivelmente relacionados respectivamente com os rios Vouga e Ave.
Os efeitos da transgressão subsequente obliteraram,
em grande parte, os vestígios deste sistema de drenagem. Os «depósitos cascalhentos», ter-se-iam formado em período em que o nível do mar se encontrava abaixo do actual, correspondendo então, pelo
menos parcialmente, a depósitos litorais. Nesta
altura, a competência dos rios era, provavelmente,
bastante maior, pois que o nível base estava muito
abaixo do actual. Consequentemente, a esse maior
potencial erosivo e transportador corresponderiam
depósitos fluviais e fluvio-marinhos mais grosseiros
que os que hoje se constituem. Os depósitos litorais
formados por remobilização dos sedimentos pela
ondulação, apresentavam, portanto, médias granulométricas em geral superiores aos que as praias actuais
revelam. Ter-se-iam assim constituído depósitos litorais de areias grosseiras e cascalhos, com composição
essencialmente terrígena, actualmente representados
na plataforma pelos sedimentos palimpsestos descritos como «depósitos cascalhentos», os quais se
distribuem entre os 40 m e os 100 m de profundidade,
com maior incidência entre os 40 m e os 60 m de
profundidade.
Estes depósitos ter-se-iam formado entre 12000
e 10000 anos antes do presente. Os eventos deste
período bastante significativo na história da transgressão holocénica tiveram repercursões nas plataformas continentais que parecem correlacionar-se
bem com os vestígios das glaciações tanto na América do Norte como na Europa. Os dados texturais
e mineralógicos dos sedimentos, bem como a análise
da morfologia de algumas plataformas, sugerem que
o nível do mar, no início deste período, subiu para
40 m a 45 m abaixo do nível actual, tendo depois
baixado para cerca de 63 m (CURRA Y, 1960). O nível
de -40 m a -45 m correlaciona-se aproximadamente
com os episódios de Aller<I>d e Two Creeks, da América do Norte, que se verificaram entre 11 000 e
12000 anos antes do presente (CURRAY, op. cit.).
É precisamente a profundidades entre os 40 m e os
60 m, análogas às referidas acima, que foi recolhida,
na plataforma estudada, a maior parte das amostras
que evidenciam características de relíquia e palimpsestos. A existência de sedimentos deste tipo, na plataforma portuguesa evidencia, possivelmente, a
mudança climática generalizada, e o abaixamento
do nível das águas que se seguiu à permanência do
mar no nível dos -40 m a qual corresponde ao avanço
dos glaciares da Fennoscandia, na Europa (EMILIANJ, 1955) e de Mankato, na América do Norte (RORBERG, 1955). Segundo J. CURRAY (1960) verificou-se
192
também, nesta altura, mudança de regime de ventos e
correntes no Golfo do México. M. EWING & W. DONN
(1956, 1958) defendem que o oceano Ártico estaria
então gelado o que teria afectado a circulação oceânica no Nordeste Atlântico. J. THIEDE (1977) indica
aumento de percentagem de sedimentos terrígenos
grosseiros em testemunhos de sondagens efectuadas na vertente e rampa continentais Ibero-Marroquina, na parte mais antiga do «andar I» que se
iniciou há 11 000 anos. Tal facto confirma a existência de período de maior transporte do continente para a bacia oceânica e consequentemente
para a vertente e plataforma continentais. As variações climáticas referidas podem também estar relacionadas com a pequena percentagem de bioclastos
nos palimpsestos estudados. Refere-se, a este propósito, que os testemunhos da vertente da zona Ibero-Marroquina, estudados por J. THIEDE (1977) revelam
também depressões dos valores de CaC05 há 11 000
anos.
Segundo J. CURRAY (1960), verificou-se há 10000
anos o início de subida rápida do nível do mar
acompanhada de aquecimento generalizado das
águas superficiais dos oceanos e do clima dos continentes, sendo o regime de ventos e correntes análogo
ao actual. A rapidez desta subida do nível do mar
teria permitido apenas pequenas modificações nos
«depósitos cascalhentos». É possível que as fracções
mais finas destes sedimentos tenham sido erodidas
nesta altura. Ao mesmo tempo, ter-se-ia verificado
o assoreamento continuado da parte terminal dos
rios, devido à menor competência das águas atribuível à subida do nível de base. É possível que parte
desse assoreamento tenha sido provocado pela deposição de materiais finos provenientes da plataforma.
Atribuímos também a este período de assoreamento
parte das manchas de sedimentos mais finos e micáce os que retalham os «depósitos cascalhentos»
ao largo da desembocadura actual de alguns rios.
Não encontrámos indícios das pequenas oscilações do nível do mar que se teriam verificado quando
este estava já perto do actual, variações essas que
têm sido apontadas por vários autores (FAIRBRIDGE,
1961, GUILCHER, 1969), talvez porque a amostragem que estudámos não permite descriminação
suficiente.
5.3. - Sedimentação actual
As areias dos sedimentos que actualmente são
transportadas pelos rios até ao mar, depositam-se,
preferencialmente, junto à costa, constituindo as
praias e os extensos cordões litorais da região e os
depósitos que denominámos por areias litorais. Em
virtude da direcção da ondulação mais frequente,
estes sedimentos sofrem movimento generalizado em
direcção ao sul. Estes depósitos encontram-se em
equilíbrio dinâmico, frequentemente precário, como
o provam as conhecidas erosões verificadas com certa
frequência nalgumas praias da região. Parte importante destas massas sedimentares terminam o seu
trajecto litoral junto à Nazaré, sendo drenadas para
fora da plataforma pelo canhão submarino do mesmo
nome. Outra parte, transportada em determinada
altura do seu trajecto litoral para maiores profundidades, acaba por se integrar em depósitos mais
antigos da cobertura sedimentar da plataforma,
contribuindo para a evolução dos sedimentos palimpsestos e anfotéricos. Efectivamente, o regime de ondu-
lação que atinge esta reglao da costa portuguesa
possui características tais que lhe permitem, ocasionalmente, provocar a remobilização dos sedimentos
até grandes profundidades da plataforma. P. KOMAR
& M. MILLER (1975a) mostraram que não são necessárias condições excepcionais de ondulação para
produzir movimento de sedimentos localizados a
profundidades da ordem dos 125 m. Ondulação com
período de 15 segundos e altura de 6 m, por exemplo,
provocará mobilização de areia média a 125 m,
de areia fina até aos 135 m, de areia muito fina até
perto dos 150 m e de silte grosseiro até mais de 160 m
de profundidade. Estas observações permitem-nos
pensar que, esporadicamente, sedimentos distribuidos por toda a gama de profundidades da nossa
plataforma serão remobilizados. Aliás, já J. CURRAY
(1960) sugeria o mesmo para a plataforma do Texas
sob a acção dos furacões, tendo L. DRAPER (1967)
indicado também que, a Oeste da Grã-Bretanha, a
acção da ondulação seria suficientemente intensa
para provocar a mobilização da areia fina durante
mais de 20 % do ano. I. MCCAVE (1971) demonstrou ainda que a distribuição dos sedimentos dos
mares do Norte e Céltico é condicionada pela ondulação.
Como atrás se referiu, os períodos mais frequentes
da ondulação que chega à nossa costa, oscilam entre
9 e 11 segundos, sendo o escalão de altura significativa mais frequente o de 1 a 2 metros. Regista-se,
ocasionalmente, ondulação de período superior a
20 segundos e no que se refere à altura da onda,
esta ultrapassa esporadicamente os 6 m, chegando-se
mesmo a falar de ondas de 12 m.
Pode concluir-se, portanto, que se regista frequentemente, na plataforma portuguesa, ondulação capaz de remobilizar as fracções finas dos palimpsestos. Após as particulas terem entrado em movimento devido à acção da ondulação, podem ser
transportadas por correntes unidireccionais, mesmo
que a magnitude destas seja incapaz de provocar
a entrada em movimento das particulas. Segundo
P. KOMAR & M. MILLER (1975 b), este tipo de transporte é, provavelmente, o mais importante nas plataformas continentais. A resultante do transporte
será ainda condicionada pela componente gravitica, a qual provocará desvios dos grãos para profundidades maiores. As particulas acabam por sedimentar, após transporte intermitente, nos sedimentos anfotéricos situados a Oeste. Ai poderão ser ainda,
esporadicamente, remobilizadas e transportadas
para o bordo da plataforma e vertente continental
superior.
O desconhecimento das correntes junto ao fundo
e o pequeno número de amostras colhidas nas zonas
onde menos se faz sentir a acção da ondulação, dificultam a interpretação das caracteristicas das areias
do bordo da plataforma. No entanto, as suas
características texturais e composicionais levam-nos
a supor que formam prismas progradantes que
teriam resultado do transporte actual de areias
muito finas a partir das areias da plataforma exterior.
6. - CONCLUSÕES
Identificaram-se, na reglao abrangida pelo presente trabalho, quatro tipos de depósitos principais:
areias litorais, depósitos cascalhentos, depósitos da
plataforma exterior e depósitos do bordo da plataforma.
13
As «areias litorais», que se dispõem junto à
costa até cerca de 40 m de profundidade, são sedimentos neotéricos segundo a classificação de D.
McMANUS (1975), sendo caracterizadas, em geral,
por areias finas e muito finas, (Fig. 6), com boa calibração (Fig. 7), unimodais (Fig. 9), com composição essencialmente terrígena (Fig. 2) em que a
componente dominante é o quartzo (Figs. 10 e 11).
Os grãos de quartzo apresentam superficies limpidas
e brilhantes, e são sub-angulosos a sub-rolados.
A presença de mica constitui outra característica
destes sedimentos, a qual por vezes ocorre em percentagens superiores a 20 % da areia (Fig. 12).
Os «depósitos cascalhentos» caracterizam-se
essencialmente por elevadas percentagens de cascalho, o qual, não raro, atinge mais de 50 % da amostra
(Figs. 2 e 3). Consideramos estes sedimentos grosseiros
como palimpsestos. A análise à lupa binocular revelou
que as fracções granulo métricas -1<11 a 0<11 e 0<11 a 1<11
são constituidas predominantemente por grãos que
parecem ter sido sujeitos a ciclo sedimentar anterior
pois que as conchas de moluscos estão fragmentadas,
muito corroidas, frequentemente roladas, às vezes
com aspecto superficial terroso e os grãos de quartzo
sub-rolados a rolados, não brilhantes, com aspecto
«sujo» de cor amarelada ou amarelo-alaranjada
devido possivelmente à existência de óxidos de
ferro. Todavia, a análise das fracções 2<11 a 3<11 e 3<11 a
4<11, constituindo, por via de regra, as fracções
menos abundantes, frequentemente com percentagens inferiores a 5 % da areia total, revelou que as
particulas 'destas dimensões são análogas às dos
sedimentos neotéricos descritos como «areias litorais». Consideramos que estes «depósitos cascalhentos» se constituiram em anterior ciclo sedimentar, e continuam a ser modificados pela introdução
de material mais recente. A areia destes depósitos
é geralmente grosseira, moderadamente calibrada,
bimodal ou plurimodal, com composição essencialmente quartzosa (Figs. 6, 7, 9 e 11).
Os «depósitos da plataforma exterior» são constituidos, em geral, por areias finas e médias (Fig. 6),
plurimodais e bimodais (Fig. 9). A composição
destas areias é essencialmente bioclástica, constituindo frequentemente as carapaças de foraminiferos a componente dominante da areia (Figs. 10 e
13). Outra característica importante destes depósitos é a presença sistemática de glauconite (Fig. 14) a
qual, no entanto, não ultrapassa geralmente os 5 %
da areia, embora nalguns pontos ocorra em percentagens bastante superiores. Estes sedimentos fo~am
considerados como sedimentos «anfotéricos».
Os «depósitos do bordo da plataforma» e vertente continental superior são constituidos por
areias muito finas (Fig. 6) e bem calibradas (Fig. 7),
em que a componente dominante é o quartzo (Figs.
10 e 11), o qual se apresenta geralmente em particulas brilhantes e sub-angulosas a sub-roladas. Considerámos estes sedimentos como «neotéricos», localizando-se possivelmente em zonas progardantes do
bordo da plataforma.
As diferentes condições de sedimentação a que
esteve sujeita a plataforma durante a transgressão
flandriana deixaram vestigios nos sedimentos que
hoje ai se observam. Assim, os «depósitos cascalhentos», que não estão em equilibrio com as condições
de sedimentação actual, ter-se-iam formado após a
última glaciação em que a maior competência dos
lios transportou para o litoral sedimentos mais
193
grosseiros. Por comparação com a curva de variação
do nível do mar estabelecida por J. CURRAY (1960)
para o Golfo do México, este período em que o
nível do mar teria descido de -40 m para -60 m ter-se-ia verificado entre os 11 000 e 12000 anos antes
do presente. Esse abaixamento do nível do mar
teria sido acompanhado por mudanças climáticas
que poderão estar relacionadas com a pequena
percentagem de bioclastos nestes sedimentos. A
rápida transgressão subsequente permitiu que estes
depósitos não fossem cobertos por sedimentos
posteriores.
As areias que actualmente são debitadas pelos
rios que desaguam nesta zona da plataforma portuguesa são finas e depositam-se preferencialmente
junto à costa, constituindo os sedimentos neotéricos
que denominámos por «areias litorais». Em virtude
da direcção da ondulação, estes sedi.mentos sofrem
movimento generalizado por deriva litoral em direcção ao sul. A maior parte destas massas sedimentares
é drenada para fora da região através do canhão
submarino da Nazaré. Outra parte, transportada
em determinada altura do seu trajecto litoral para
maiores profundidades, acaba por se integrar em
depósitos mais antigos da cobertura sedimentar da
plataforma, contribuindo para a transformação dos
sedimentos palimpsestos e anfotéricos aí existentes
(depósitos cascalhentos e depósitos da plataforma
exterior).
O regime de ondulação que atinge esta região
possui características tais que lhe permitem, ocasionalmente, provocar a remobilização das partículas
sedimentares até grandes profundidades. Devido a
tal facto, podemos concluir que, esporadicamente,
sedimentos finos distribuídos por toda a gama de
profundidades da plataforma portuguesa são remobilizados e transportados, possivelmente para maiores
profundidades, verificando-se, mercê de transporte
selectivo, que as partículas maiores têm tendência a
permanecer na parte central da plataforma. Explica-se, deste modo, que as partículas granulometricamente maiores (cascalho e areia entre -1<1> e 1<1»
apresentem frequentemente características de «relíquias» e que as partículas mais finas (2<1> a 4<1» tenham
em geral aspecto de «recentes».
7. -
AGRADECIMENTOS
Os autores expressam os seus agradecimentos ao Comandante
Beça Gil e ao Comandante Beça Pacheco e às guarnições do navio
«N. R. P. Almeida Carvalho» pelo inexcedivel apoio que nos prestaram durante a realização dos cruzeiros.
A todo pessoal técnico que participou nos cruzeiros, L. Simões
Lima (Universidade de Coimbra), J. Santos Dinis (Universidade
do Porto), F. Santos (Instituto Hidrográfico), A. Silva, A. Correia,
E. Schliman e J. F. Soares (estudantes da Faculdade de Ciências
de Lisboa) e J. Moreira (Serviços Geológicos de Portugal), agradecemos a colaboração e trabalho minucioso durante os quartos a
bordo. Pela muita dedicação que revelou no decorrer do processamento laboratorial da amostragem, agradecemos ainda a Rosa
Lourenço, do Laboratório de Geologia Marinha dos Serviços
Geológicos de Portugal.
Ao Instituto Hidrográfico agradecemos as facilidades de utilização do navio e ao Centro de Cálculo do Instituto Gulbenkian
de Ciência, agradecemos as facilidades de utilização do seu ordenador. Os autores agradecem também à J. N. I. C. T. o apoio financeiro dado para o desenvolvimento do sistema automatizado de
dados sedimentológicos (Contrato de Investigação n.O 36.78.109).
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