IDÉIAS EM CONSTRUÇÃO
DOCUMENTOS PARA ESTUDO
Setembro de 2003 - 02
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA BACIA DO GOITÁ
A formatura dos ADLs (Agentes de Desenvolvimento Local) e ADACs (Agentes
de Desenvolvimento da Arte da Cultura), dia 3 de setembro, inaugurou um novo jeito do SERTA e Aliança e seus agentes pensarem os processos formativos e a integração entre os diversos Centros de Resultados e atores sociais
locais. Esse texto é um esforço nesse sentido. Sua leitura nunca deve ser individual, pois exige a reação do leitor.
A consciência de três desafios
A partir da formatura, há três desafios que o SERTA/Aliança não podem deixar de
enfrentar. O primeiro é integrar mais todas as pessoas que já passaram por processos formativos no SERTA. O segundo é acompanhar a atuação de cada pessoa
para melhorar o seu entorno, a partir da formação que participaram com o SERTA. O
terceiro é ampliar o número de pessoas, de locais, de instituições que possam participar dos benefícios e oportunidades proporcionadas pela Aliança.
Vamos exemplificar cada desafio para melhorar sua compreensão. O primeiro é
que o SERTA já fez e continua fazendo capacitação com jovens, com professoras,
com produtores, com conselheiros, com famílias do PETI dos 4 municípios desde
2000. Porém, nem todas essas pessoas se conhecem dentro do próprio município
que residem. Há um potencial muito maior para a ação, se elas se conhecerem no
território onde vivem.
O segundo é que existe muito mais ação do que se imagina, muito mais gente
atuando, mas sem um planejamento conjunto no nível de território. Tem Agente de
Desenvolvimento agindo sem conhecer produtores, têm produtores agindo, sem conhecer educadores, sem um fortalecer a ação do outro.
O terceiro é que para conseguir o desenvolvimento do território, não se consegue só a partir das pessoas que tiveram a oportunidade de serem capacitadas pelo
SERTA. E que quando o SERTA e Aliança começaram a atuar tinham muita clareza
disso. As pessoas foram preparadas, os projetos foram construídos, exatamente,
para que os participantes, os beneficiados atingissem outras pessoas, passassem
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adiante o que aprenderam, os valores que os transformaram, nas famílias que convivem, nas propriedades e negócios que trabalham, nas escolas que estudam, nas
igrejas que se congregam, nos municípios onde moram.
As condições favoráveis para enfrentar os desafios.
A partir de setembro de 2003, duas turmas de adolescentes concluíram uma
parte de sua formação no Campo da Sementeira e continuou uma outra, a terceira
dos ADLs. O SERTA tinha duas opções, ou retomar de imediato novas turmas, ou
aproveitar a oportunidade para integrar melhor as pessoas que já foram formadas,
avaliar e sistematizar, pois já passam de mil atores ao todo.
Preferimos a segunda opção, por ser também uma oportunidade dos próprios
adolescentes continuarem a sua formação, aprendendo a mobilizar as pessoas do
território local, e dos educadores e técnicos do SERTA terem mais tempo para dedicarem-se a essas tarefas. E também para que as pessoas pudessem envolver-se
juntas na aplicação da PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável.
Vamos, portanto, ter uma oportunidade única, de todos os educadores, líderes de
Centros de Resultados, monitores, articuladores municipais, organização dinâmica,
adolescentes, conselheiros aplicarem a PEADS no desenvolvimento da Bacia do
Goitá. Vai ser um aprendizado coletivo.
Primeira etapa da PEADS no território da Bacia do Goitá.
Como em outras situações, vamos partir do que já existe, das pessoas que já
participam do processo de formação. Para isso, a primeira coisa que temos a fazer,
é identificar essas pessoas, onde elas estão, o que estão fazendo, com quem estão
fazendo, e que resultados e impactos estão conseguindo alcançar.
Para essa tarefa, vamos precisar planejar esse levantamento, um roteiro de pesquisa e entrevista, formular perguntas e escolher as mais adequadas. A terceira
turma vai aplicar essas pesquisas nos municípios, com cada adolescente que já
concluiu a etapa no Campo da Sementeira, com cada professora, com cada produtor, com cada arte-educador, com cada conselheiro, cada estagiário, capacitados
pelo SERTA. Na medida que entrevistar as pessoas, vai convidando-a para participar do encontro municipal de mobilização.
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Não pode deixar ninguém de fora. Nem mesmo as pessoas que se mudaram,
pois pessoas que se mudaram estão também agindo no lugar em que se encontram.
Para encontrar essas pessoas, há relação e lista de presença nos Centros de
Resultados (CR), nas Secretarias de Educação, nos Arquivos do FAT. Há pessoas
que podem indicar outras.
O objetivo imediato dessa pesquisa é mapear quem somos, quantos somos, onde estamos, fazendo o que, com quais resultados. Um levantamento desse porte vai
dar uma noção mais exata das pessoas já formadas, das ações em andamento, em
cada cidade, em cada sítio, em cada setor, em cada escola.
Todo esse levantamento precisa ir para o computador, em planilhas ou banco
de dados preparado pela equipe de informática. Todos os educadores e técnicos
vão ajudar os adolescentes a concluir esse levantamento.
Segunda etapa da PEADS no Território
Na PEADS, depois de uma pesquisa é feita a análise dos dados levantados,
das informações construídas e como primeiro passo para analisar, é preciso organizar os dados, não se pode analisar com eles misturados. Por exemplo, é preciso arrumar as ações das professoras rurais por escola; a dos produtores, a dos conselheiros, a dos adolescentes. É um primeiro nível da organização.
Uma outra forma é organizar por espaços geográficos, sobretudo nas comunidades que tem produtores, professoras e adolescentes. Uma terceira forma de
organizar é por público alvo trabalhado ou por temática da ação. Na escola, o trabalho da professora com os alunos, com as famílias, com as hortas. As ações dos
adolescentes com as crianças nos programas sociais, nos grupos de jovens, nos
conselhos, com associações, nas escolas, nas igrejas, nas propriedades e negócios
e assim por diante.
Ao fazer essa análise e desdobramento, as pessoas vão aprender muitas
coisas, além de conhecer as ações. Vão exercitar o ordenamento das idéias e do
pensar. Um exercício fundamental para quem precisa aprender a planejar, avaliar,
como professoras, conselheiros, adolescentes etc
Outro aprendizado importante é registrar por escrito, documentar o processo de desenvolvimento. Narrar as ações por escrito. Na Aliança temos muitas
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histórias fantásticas, mas estão descritas oralmente. Poderão desaparecer a qualquer momento e vai ser uma perda. O Agente de Desenvolvimento e o Educador
que souberem escrever bem terão uma ótima ferramenta de trabalho em suas mãos.
Daí a necessidade de aproveitar essa oportunidade para melhorar a nossa escrita
Na segunda etapa da PEADS, além da análise tem o aprofundamento dos
conhecimentos. Isto é, os conhecimentos organizados vão ser ampliados. Educadores e adolescentes vão observar se as informações dadas na primeira etapa
estão descritas com clareza, se está faltando complementar informação importante, se os números citados estão precisos ou se estão imprecisos ou se os
números não são citados. Nessa complementação devem ser evitadas expressões
indefinidas como alguns, muitos, poucos, maioria, minoria, porção, bocado, tuia,
grupo, parte, pedaço.
Na segunda etapa também se aprimoram as formas da organização dos
dados. Sobretudo com a informática, as apresentações podem ser enriquecidas
com fotografias, depoimentos, gráficos e até filmagem quando se tiver filmadora.
Pode-se publicar uma coletânea de história de vida de adolescentes, ou de professoras ou de produtores ou conselheiros e dispor na home page do SERTA. A história de vida de adolescentes e de professoras tem sido o maior marketing da
Aliança na Bacia do Goitá. No entanto, como já se afirmou antes, não estão
escritas, sempre foram colocadas oralmente. E vão perder-se. Por exemplo, os
adolescentes da terceira turma não conhecem as histórias de vida dos da primeira.
Se tivessem sido escritas, o mundo inteiro poderia ter tomado conhecimento.
A sistematização da PEADS que o SERTA está construindo com adolescentes e professoras vai precisar muito dos registros escritos. A Aliança está também
fazendo uma sistematização das ações nas três microrregiões e no mês de outubro, uma avaliação geral sobre os resultados alcançados. Ambas vão precisar
muito de dados escritos. Enquanto durar a segunda etapa, poderemos fazer estudos
ou oficinas sobre redação, relatório, elaboração de projeto e outras para aprimorar a
aprendizagem dos agentes de desenvolvimento.
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Terceira etapa da PEADS
O que fazer depois da pesquisa, da análise, do aprofundamento? Com o conhecimento novo adquirido, vamos então, melhorar as ações que estão sendo desenvolvidas. De que maneira isso é possível?
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Fazendo que as pessoas do mesmo sítio, rua, escola, comunidades se co-
nheçam e se entrosem mais.
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Participando com elas nas ações.
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Estimulando os que concluíram, a primeira e segunda turmas a integrarem-se
nas ações.
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Divulgando as ações e os resultados nos municípios.
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Construindo entre as ações uma unidade maior.
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Passando para essas pessoas os textos escritos, estimulando a entrarem
também nos processos formativos, na redação das ações.
Quarta etapa da PEADS.
Um processo desse precisa ser avaliado antes, durante e depois das ações,
ou seja, em cada etapa. Mas precisamos de um tempo maior para avaliar o conjunto
do processo formativo e para programar as próximas etapas. Quando chegarmos a
essa etapa, outros textos desses serão editados e o explicaremos melhor.
Pelo momento é importante saber que depois dessa rodada de pesquisa, análise, desdobramento e melhora das ações, vamos estudar e pesquisar, desta vez, o
público que está sendo atingido pelas ações dos adolescentes, dos produtores, das
professoras, dos gestores, em vista de uma mobilização cada vez maior pelo desenvolvimento sustentável em cada município. Teremos outro texto para estudar.
Abdalaziz de Moura – Presidente do SERTA
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3.17. Desenvolvimento Territorial na Bacia do Goitá