PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Medicina Veterinária
Curso de Medicina Veterinária
Jordana Costa Alves de Assis
PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE
ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM
LEISHMANIOSE VISCERAL
Betim
2013
Jordana Costa Alves de Assis
PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE
ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM
LEISHMANIOSE VISCERAL
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Medicina
Veterinária.
Orientador: Professor Doutor Vitor Márcio Ribeiro
Betim
2013
Jordana Costa Alves de Assis
PROGRAMAS DE BEM ESTAR ANIMAL E CONTROLE DE
ZOONOSES EM ANIMAIS E HUMANOS, COM ENFÂSE EM
LEISHMANIOSE VISCERAL
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Medicina
Veterinária.
____________________________________________
Professor Doutor Vitor Márcio Ribeiro (Orientador)-PUC Minas
____________________________________________
Luiz Flávio Telles– Mestre em clínica e Cirurgia Veterinária
____________________________________________
: Professora Doutora Maria Coeli Gomes Reis Lage- PUC Minas
Betim, 20 de Junho de 2013
Dedico à amiga Luana Paiva Arci e ao tio João,
que me ensinaram muitas lições
sobre a vida e o respeito aos animais.
Vocês estão sempre comigo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a algo maior, por me dar essa existência e ao Anjo Protetor, por
estar sempre ao meu lado.
À minha mãe, mulher de força e coragem que nunca desacreditou em mim,
pelo amor incondicional e valores e ao meu pai, pelo apoio e referência de trabalho e
caráter.
Ao meu irmão, Janderson, pela amizade, fraternidade, conselhos e
companheirismo.
À minha avó, Arlete, pela humildade, simplicidade e referência de luta na vida.
Às minhas tias, Vani e Cleuza, além do meu tio Dirceu, pelo apoio.
Aos meus animais de estimação, em especial, Minhel, Pink, Luana, Kira,
Bolinha, Brutus e Baliza, verdadeiros companheiros de aventuras e de sossego,
sempre ao meu lado.
Digo sempre que “não tenho amigos e sim, anjos ao meu redor e toda vez
que despenco do abismo, eles mergulham num voo e me pega no ar”. Agradeço à
todos meus amigos, em especial à Luana (in memorian), Jânia, Clarissa e Charles,
muito obrigada por estarem em meu caminho, vocês me faz uma pessoa melhor.
Aos meus companheiros de faculdade, que, ao poucos, fomos construindo
grande amizade e cooperação, agradeço à Gilmara, Rodolfo, Mirna, Mel e Leandro.
Ao Jair Miguel (Cabeludo), pela amizade, conselhos e boas conversas
sempre construtivas, além do apoio de toda hora.
À Professora Elísia, pela dedicação, amor à profissão e carinho de avó, um
exemplo a ser espelhado.
À Professora Maria Helena pela amizade, conselhos, dedicação e confiança,
sempre me confortando e mostrando que a vida pode ser serena e doce.
Ao Professor Vitor Márcio Ribeiro, pela confiança, ensinamentos, paciência e
extensão do aprendizado através do Programa ChiCão.
Agradeço aos bons professores que tiveram em minha jornada, pelos
ensinamentos e experiências, moldando mentes e ideias a favor do bem.
Aos funcionários da PUC e do Hospital Veterinário, que tanto trabalham para
que tudo esteja bem; vocês também fazem parte da construção do meu saber.
“Quando você perceber que, para produzir,
precisa obter a autorização de quem não produz nada;
quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia
não com bens, mas com favores;
quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno
e por influência, mais que pelo trabalho,
e que as leis não nos protegem deles,
mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você;
quando perceber que a corrupção é recompensada,
e a honestidade se converte em auto sacrifício;
então poderá afirmar, sem temor de errar,
que sua sociedade está condenada.”
Ayn Rand, pensadora e escritora.
“Cada ser carrega em si o dom de ser capaz de ser feliz”
Renato Teixeira
RESUMO
Há milênios atrás foi construída de forma simbiótica a relação entre seres
humanos e animais que se tornaram imprescindíveis à vida humana. Porém, além
dos benefícios, ocorreu ao longo da história a desorganização em relação à
população de cães e gatos que passaram a sofrer com o descontrole populacional,
sendo abandonados nas ruas, com consequente falta de bem estar, além do risco
de acidentes, danos ao ambiente e zoonoses, como a Leishmaniose Visceral,
doença de alta letalidade, que se expande rapidamente por quase todos os
continentes, tornando-se grande preocupação da Organização Mundial de Saúde e
da sociedade, todavia, com controle e prevenção aplicados através de algumas
metodologias pouco efetivas, como o abate de cães soropositivos. Dessa forma,
programas que visam ações em bem estar animal, posse responsável, manejo e
controle da população de cães e gatos, assim como a prevenção e controle de
zoonoses, que utiliza como princípio básico a educação libertadora e participação
integral das comunidades, órgãos públicos e privados, além das diversas esferas
que compõem o meio social em todo o processo, contribuem de forma eficaz para
minimizar e solucionar problemas antigos, devolvendo aos animais a dignidade, com
a construção de relações saudáveis entre os seres humanos e esses seres.
Palavras-chave: Educação. Manejo populacional de cães e gatos. Leishmaniose
Visceral.
ABSTRACT
The relationship between human beings and animals was built in a
symbiotic manner many millennia ago and became indispensables to human life.
However, along with the benefits of such relationship, throughout history there came
the disorganization of the population of dogs and cats who started suffering from the
uncontrolled birth, being abandoned in the streets, with lack of well-being as result,
besides the possibility of accidents, damages to the environment and zoonosis, such
as the Visceral Leishmaniasis which is a highly lethal disease that quickly spreads
throughout almost every continent, thus becoming the great worry of the World
Health Organization and the society, but with control and prevention applied through
some methodologies of little effect, such as the slaughtering of seropositive dogs. In
this manner, programs aimed at actions in animal welfare, responsible owning,
management and control of the population of dogs and cats, as well as prevention
and control of zoonosis, by using as the basic principle the liberating education and
the full participation of the community, the public and private agencies, besides the
several spheres which make up the social environment in the entire process,
effectively contribute to lessening and solving old problems, giving back to the
animals their dignity by building healthy relationships between them and the humans.
Key words: Education. Population management of cats and dogs. Visceral
Leishmaniasis.
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO
10
2.0 METODOLOGIA
2.1 A pesquisa
2.2 A população e a amostra
13
13
13
3.0 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 A educação como princípio e mantenedora das ações
3.2 Bem estar animal e posse responsável
3.3 Manejo da população de cães e gatos
3.3.1 Controle reprodutivo das populações de cães e gatos
3.4 Leishmaniose Visceral
3.4.1 Agente Transmissor
3.4.2 O cão e a leishmaniose visceral
3.4.3 Diagnósticos Oficiais da LVC no Brasil
3.4.4 Prevenção e controle da Leishmaniose Visceral Canina
3.4.5 Vacinação como método preventivo
3.4.6 Controle do vetor como método preventivo
3.4.6.1 Controle do vetor no ambiente
3.4.6.2 Controle do vetor no reservatório canino
14
14
19
22
26
29
33
37
38
40
42
47
48
49
4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
52
ANEXO
57
10
1.0 INTRODUÇÃO
A relação de cooperação afetiva entre seres humanos e animais surgiu há
milênios. Seres que a princípio eram selvagens, hoje fazem parte do cotidiano da
vida humana. Dentro de uma relação complexa, os animais são criados de acordo
com a cultura, crença, região e religião de cada humano e, dessa forma, são
essenciais no contexto social (WHO e WSPA, 1990; LIMBERT, MENEZES e
FERNANDES, 2009).
Foram os lobos que, inicialmente, se adaptaram para conviver mais
estreitamente nas comunidades humanas, a cerca de 10 a 14 milênios. Através da
procura de alimentos, esses animais se aproximavam dos acampamentos e
assentamentos humanos primitivos, se convertendo em visitantes frequentes e bem
vindos (WHO e WSPA, 1990).
Da convivência homem-lobo e da evolução ao cão, muitos benefícios
surgiram no decorrer da história. Da proteção a propriedade, dos rebanhos e dos
próprios indivíduos, à companhia fiel, o rastreamento de caça, o acompanhamento
de deficientes físicos e até o seu efeito terapêutico para humanos em situações
especiais consolidaram essa inter-relação, sendo as características caninas
selecionadas e aprimoradas de acordo com o interesse humano (REICHMANN,
2000).
Ao longo dos tempos, os gatos também passaram a compor o ambiente
doméstico humano, como companhia apreciada por sua lealdade, independência e
hábitos de higiene individual. Sua domesticação remonta a 3.000 a.C., através de
relatos de suas presenças em sarcófagos no Egito, onde eram idolatrados. Estudos
referem que seu ancestral selvagem foi o Felix libyca (REICHMANN, 2000).
Tais espécies animais tornaram-se imprescindíveis na rotina dos seres
humanos. Porém, acompanhando a própria desorganização social da humanidade,
surgiram problemas que são retratados no descontrole populacional, abandonos,
maus tratos e doenças, gerando grande preocupação à comunidade humana e aos
órgãos públicos, pois muitas dessas enfermidades, além de afetarem a qualidade de
vida dos animais, são também perigosas aos humanos, constituindo-se como
zoonoses (REICHMANN, 2000; LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009; SÃO
PAULO, 2009).
11
A princípio, as políticas para o manejo populacional canino eram
consideradas como sinônimo da atuação no controle da raiva e incluíam a captura e
eliminação de animais de rua (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF
THE UNITED NATIONS apud GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012). No ano
de 1984, foram reconhecidos pela WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO),
quatro métodos para o manejo populacional canino: restrição de movimentos,
captura e remoção e controle do habitat (controle das fontes de alimento e abrigo) e
da reprodução (GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012).
Em uma crônica publicada no início do XX, Lima Barreto descreve a
rápida movimentação de mulheres de sua vizinhança para prender e esconder os
cachorros antes da passagem de uma carroça destinada a recolhê-los. O autor não
censura o poder público pela tentativa de retirar os cães das ruas, mas enaltece as
mulheres pelas ações que dificultam o recolhimento desses animais (“A carroça dos
cachorros”, 1919). Passados 90 anos, um cronista de hoje não teria dificuldades
para encontrar o mesmo mote na maioria das cidades brasileiras (BORTOLOTI e
D’AGOSTINO, 2007).
Os órgãos públicos, muitas vezes tratam os problemas relacionados ao
descontrole da população de cães e gatos e das zoonoses, principalmente a
Leishmaniose Visceral Canina (LVC) com métodos pouco eficazes a curto e longo
prazo, através de ações emergenciais e de baixa efetividade, não considerando
ações em prevenção e educação nas comunidades (DIAS, 1998).
O recolhimento e sacrifício de cães soropositivos para Leishmaniose
Visceral (LV) é uma prática pouco popular e não respaldada cientificamente, uma
vez que não contribui para a diminuição da incidência e prevalência da doença em
animais e humanos e ocasiona maior rotatividade desses animais nas residências e
menor controle populacional, constituindo grande problema para a saúde pública
(ANDRADE, 2007; ROMERO E BOUELAERT, 2010). Tavares e outros (2009)
salientam o desenvolvimento de vacinas contra a doença para os cães, assim como
a imunização em massa dos mesmos, associados ao controle do vetor no ambiente
e no animal.
A posse responsável de animais de estimação traduz o exercício
consciente e edificante da cidadania, a educação e os hábitos culturais diferenciados
de uma sociedade. A questão “possuir um animal” tem conotações de ordem
12
psicológica e pode refletir a condição que o ser humano assume o papel de dono,
chefe, proprietário de um bem, no caso, um ser vivo que o obedece, respeita e
acaricia (REICHMANN, 2000).
Ações em saúde voltadas para o bem estar animal, onde a educação
possa ser o cerne do processo, precisam ser incentivadas nos órgãos públicos, que
detêm as verbas da população. Alguns programas de extensão universitária
procuram demonstrar que ações educativas, embora pareçam lentas e sem
resultados, podem gerar a transformação necessária para o seu sucesso dos
programas (FREIRE, 1989).
Essas ações podem ser exemplificadas através do Programa ChiCão
antigo Programa Cireneu. Trata-se de um programa de extensão do curso de
Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus
Betim, que atende comunidades dos Municípios de Igarapé e São Joaquim de Bicas,
no Estado de Minas Gerais - Brasil, juntamente com docentes e discentes
extensionistas, desde o segundo semestre de 2011. Ele coloca em suas metas a
educação em saúde, o conhecimento das comunidades e suas lideranças, o
diagnóstico de zoonoses, o controle populacional canino e felino, a vacinação dos
animais contra doenças, inclusive contra a LVC e atitudes comunitárias preventivas
a doenças de transmissão vetorial (BARRETTO e FESSEL, 2012).
Esse trabalho tem por objetivo o levantamento bibliográfico de ações
voltadas para promoção do bem estar animal e controle de zoonoses em
coletividades, com ênfase em LVC, através da educação em saúde; controle
populacional de cães e gatos; programas de posse responsável e leis e portarias
voltadas para o controle de zoonoses e da LV no Brasil.
Nesse contexto, se situa e se justifica, uma vez que a compilação das
experiências de práticas que valorizam a educação, afetividade e compromisso com
o bem estar animal, gerarão saúde humana e controle de suas doenças.
13
2.0 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 A educação como princípio e mantenedora das ações
A implantação de programas de educação, bem estar animal, posse
responsável e controle de zoonoses, depende da participação comunitária, de
órgãos públicos e privados, através do dimensionamento de problemas que afetam
as localidades a serem abordadas, assim como estratégias de ação como palestras
e discussões que englobam todos os interessados, em ação conjunta de toda a
sociedade (LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009).
Segundo Freire (1989), a educação depende da integração entre o
educador e o educando, através do diálogo e da problematização. O que se
pretende com o diálogo, em qualquer hipótese (seja em torno de um conhecimento
científico e técnico, seja de um conhecimento “experiencial”), é a problematização do
próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta, na qual,
gera-se e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la.
Podemos colocar como educandos toda a comunidade envolvida nos
programas de bem estar animal, posse responsável e controle de zoonoses, sendo
os educadores os agentes de controle de zoonoses e de saúde que estão integrados
nesse processo, mas com a participação de todos na construção do saber e não
somente no repasse de informações. Dessa forma, é necessário que o educador
vivencie a realidade dos educandos, entendendo o meio em que os mesmos vivem,
assim como a realidade à volta, para melhor compreensão do ambiente em que se
encontram humanos e animais (FREIRE, 1989; DIAS, 1998; PEKELMAN, 2008).
Pekelman (2008) relata como essenciais na educação em saúde o
exercício do dialogo, ouvindo e problematizando (QUADRO 1).
14
Quadro 1 : Princípios essenciais para a educação popular em saúde.
Educação Popular em Saúde
Exercitar o diálogo: ouvir e problematizar.
 Ser essencialmente participativa.
 Favorecer a construção compartilhada do conhecimento.
 Explorar a percepção complexa do processo saúde-doença.
 Valorizar o cotidiano.
 Ampliar o campo de atuação em todas as ações cotidianas
dosprofissionais de saúde.
 Incentivar a construção de autonomia dos sujeitos/ atores sociais.
Fonte: PEKELMAN, 2008.
Na escola, a utilização de valores culturais, organização, gerenciamento,
qualidade física e social, planos de estudo, metodologias de ensino ou
aprendizagem, podem ser utilizados para a promoção da saúde (SÁ SILVA apud
DIAS, 2012). O Ministério da Saúde (MS) considera a escola um ambiente
educacional e social propício para se trabalhar conhecimentos e mudanças de
comportamento, onde adolescentes assumem o papel de agentes multiplicadores
(BRASIL apud DIAS, 2012).
No estudo realizado por Dias, (2012), que abordou a percepção e atitudes
sobre zoonoses e posse responsável em escolas do ensino fundamental no
município de São Luiz do Maranhão, foi demonstrado que 87,1% (217/249) dos
alunos possuem animais de estimação, sendo na maioria cães e gatos. Porém, ao
serem questionados sobre o termo zoonoses, 89% negaram saber o conceito, mas
ao ser explicado a palavra diante de alternativas a serem assinaladas, 51,1% optou
pela questão que definia o termo corretamente. Isso demonstra a importância de
uma educação esclarecedora, contínua e participativa para gerar o saber entre os
estudantes e a população. Ao final da realização do Projeto, concluiu-se que as
zoonoses, apesar de não serem reconhecidas inicialmente, encontravam-se
presentes nas comunidades e que as atividades extensionistas realizadas foram
importantes para essa percepção por parte das crianças.
França,
Marzonari
e
Schall
(2011),
analisaram
o
conteúdo
de
leishmanioses em livros didáticos de ciências e biologia indicados pelo Programa
Nacional de Livros Didáticos e demonstraram que 64,3% das informações são
15
incompletas nos livros de ciências e 53,3% nos de biologia. Apenas 10% do
conteúdo estavam corretos nos livros de ciências e 14,5% nos de biologia.
Propostas de intervenção de caráter educativo têm sido colocadas em
prática nos municípios, no entanto, na maioria das vezes são efetuadas na forma de
campanhas, e não na educação continuada. Programas descontinuados não geram
novos conceitos e formas diferenciadas para controlar os problemas das zoonoses e
o grande aumento populacional de cães e gatos (PEKELMAN, 2008; SOTO e
BERNARDI, 2011).
Segundo Gazzinelli e outros (2005), uma revisão dos documentos do MS
de 1980 a 1992 mostrou de forma clara, uma mudança no discurso oficial da
Educação em Saúde; de uma perspectiva tradicional, baseada na imposição de
modelos para uma abordagem voltada para a participação comunitária. Essa idéia é
central em Paulo Freire desde a década de 70 e é demonstrada no documento
“Ação Educativa nos Serviços Básicos de Saúde” (Ministério da Saúde, 1981) onde
predomina sua teoria de educação libertadora.
No entanto, as Diretrizes da Educação para a Saúde ainda definem
Educação em Saúde como “uma atividade planejada que objetiva criar condições
para produzir as mudanças de comportamento desejadas em relação à saúde”.
Subentende-se então, que a Educação em Saúde, tal como definida pelas diretrizes,
tem como intenção nítida reforçar padrões de saúde concebidos pelo governo para a
população (BRASIL, 1980 apud GAZZINELLI, 2005).
16
O QUADRO 2 apresenta de forma sucinta itens essenciais na relação
entre a educação e participação popular nas atividades de saúde pública
(PEKELMAN, 2008).
Quadro 2: Relação entre educação popular e participação popular na saúde:
Educação Popular e Participação Popular na Saúde
 Considerar como conceitos que se complementam.
 Perceber a realidade de participação da comunidade.
 Valorizar as iniciativas de participação locais e intervir através da
educação popular.
 Exercitar o compartilhamento de poder.
 Ouvir e dialogar com os movimentos populares.
 Partir dos processos participativos da população que servem de
ancoragem para o profissional de saúde na práxis educativa.
Fonte: PEKELMAN, 2008.
Os problemas de saúde pública no Brasil apresentam as maiores
ocorrências naquelas populações com baixo nível socioeconômico, saneamento
básico ausente ou deficiente, carência de abastecimento de água e condições
precárias de manipulação de alimentos, Onde as crianças são as mais acometidas
por infecções decorrentes desta estrutura básica de vida (SÁ SILVA apud DIAS,
2012).
Dessa maneira, o diálogo e a problematização não adormece a ninguém.
Conscientiza. Na dialogicidade, problematização, educador-educando e educandoeducador vão ambos desenvolvendo uma postura crítica, da qual, resulta a
percepção de que este conjunto de saber se encontra em interação. Saber que
reflete o mundo e os humanos, o mundo e com ele, explicando o mundo, mas
sobretudo, tendo que justificar-se na sua transformação (FREIRE, 1989). Essas
questões são apresentadas sintetizadas no QUADRO 3.
17
Quadro 3: Elementos para uma proposta educativa problematizadora na saúde:
Proposta problematizadora na saúde.
 Ter a curiosidade como inquietação indagadora.
 Sair da curiosidade ingênua e partir para a curiosidade epistemológica.
 Problematizar para a compreensão e explicação dos fenômenos.
 Valorizar o cotidiano e refletir sobre as vivências.
 Compreender a si e compreender ao outro para depois explicar e
reconstruir.
 Construir uma mudança cultural na prática educativa dos profissionais
de saúde.
Fonte: PEKELMAN, 2008.
Programar ações educativas que atuem nos diversos problemas da saúde
pública é um grande desafio para administradores e técnicos que trabalham com a
prevenção de doenças e agravos nos municípios, pois estes geralmente não têm
formação pedagógica para desenvolver tais programas (LIMA, 2010; SOTO e
BERNARDI, 2011). Educar e capacitar técnicos e agentes dos Centros de Controle
de Zoonoses é um processo que promove uma transformação interna que se reflete
em mudanças para toda a sociedade. “Ser um oficial de controle animal é ser um
profissional preocupado com os animais, humanos e não humanos”, de forma a
atuar como um educador comunitário (SÃO PAULO, 2009).
Os programas devem abranger todas as esferas, desde o governo, os
agentes e técnicos da saúde e a comunidade, com visão humanista sobre o
processo da educação para se obter a transformação do meio em que os humanos e
os animais de estimação estão inseridos. Muitas vezes, os agentes são tão
alienados em saber quanto a comunidade, não havendo assim, melhorias no
processo, pelo contrário, pode haver agravamento dos problemas já existentes
(FREIRE, 1989; PEKELMAN, 2008).
18
Exemplo de reunião com estudantes e professores extensionistas,
integrantes da ONG “Associação de Proteção Animal Amigo Feliz”, líderes
comunitários e moradores da comunidade do Município de Igarapé, Minas Gerais
buscando troca de experiências e conhecimento antes da saída à campo (FIGURA
1).
Figura 1: Reunião com integrantes do Programa de Extensão:
Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão.
No estado de São Paulo, foi implantado em 2005, o curso de Formação
de Oficiais de Controle Animal (FOCA), com ações comprometidas com a
humanização dos serviços de controle de zoonoses, possibilitando incorporar
conceitos de saúde animal no âmbito da saúde pública, assegurando ao mesmo
tempo a saúde e a segurança da população, a preservação ambiental e o bem estar
de cães e gatos, além de integrar ao programa, ações de controle da população de
cães e gatos através da esterilização (SÃO PAULO, 2009).
Uma das contribuições da promoção da saúde é a ampliação do seu
entendimento, contribuindo para o processo em que a comunidade aumenta a sua
habilidade de resolver seus problemas de saúde com competência e intensifica sua
própria participação (PEKELMAN, 2008; LIMA, 2010). Essa atividade pode ser
desenvolvida em espaços diversos, como escolas, permitindo a expansão e o
fortalecimento da saúde da população através de um trabalho coletivo e participativo
com toda a comunidade escolar (LIMA, 2010). Qualquer ambiente comunitário, como
as igrejas e postos de saúde são pertinentes como local de discussões da
problemática que envolve o bem estar animal, posse responsável e controle de
19
zoonoses. O mais importante é a participação de todos os envolvidos e interessados
nesse processo (FREIRE, 1989).
2.2 Bem estar animal e posse responsável
O exercício da cidadania traz como padrão de comportamento e
preservação do meio ambiente, o cuidado com os seres vivos e o respeito a tudo
que componha a vida do ser humano. Quando surge a oportunidade de decidir sobre
a posse de um animal, para mantê-lo como companhia e utilizá-lo em outros
diferentes campos de interesse humano, o bem estar e a boa qualidade de vida que
lhe for proporcionada, refletirá o aprimoramento do ser humano enquanto
componente de uma estrutura maior, que é o mundo (REICHMANN, 2000).
Em seus primórdios o bem estar animal baseou-se no movimento de
proteger os animais da crueldade, para posteriormente promover seu bem estar.
Bem estar, termo utilizado para animais, inclui os seres humanos e refere-se ao
pleno estado de saúde mental e física, onde o indivíduo se encontra em harmonia
com o ambiente em que vive (SILVANO, 2010). Para qualquer definição de bem
estar, é necessário levar em conta as variações individuais ao se enfrentar
adversidades e os efeitos que elas exercem sobre os animais (BROOM, e
MOLENTO, 2004).
Comportamentos inadequados ou outras frustrações determinadas por
diversas circunstâncias de vida têm, por meio de um animal, a possibilidade de
expressão, pois agradando, castigando ou expulsando aquele ser, objeto da ação,
pode ocorrer o retorno de um amigo ou um subalterno solícito, sem resquícios de
ressentimentos. Em classes menos favorecidas, existem altas densidades de
animais de estimação, mesmo sem acesso a cuidados adequados e em classes
mais favorecidas os animais dispõem de maiores cuidados e existe menor
densidade de animais de estimação (REICHMANN, 2000).
Um critério essencial para a definição de bem estar animal deve referirse a característica individual de cada animal, e não algo proporcionado ao animal
pelo homem. O bem estar do animal pode melhorar como resultado de algo que lhe
seja fornecido, mas o que se lhe oferece não é, em si, bem estar. O termo bem estar
pode ser utilizado às pessoas, aos animais silvestres ou a animais cativos em
fazendas produtivas, à zoológicos, à animais de experimentação ou à animais nos
20
lares. Os efeitos sobre o bem estar incluem aqueles provenientes de doenças,
traumatismos, fome, estimulação benéfica, interações sociais, condições de
alojamento,
tratamentos
submetidos,
manejo,
transporte,
procedimentos
laboratoriais, mutilações variadas, tratamento veterinário ou alterações genéticas
através de seleção genética convencional ou por engenharia genética (BROOM e
MOLENTO, 2004).
O conceito de posse responsável reflete a percepção pelo ser humano,
mais precisamente dos proprietários de cães e gatos de estimação, da total
dependência física e afetiva desses animais. Cuidar de cães e gatos significa
assumir total responsabilidade por toda e qualquer atitude desses animais
mantendo-os em perfeitas condições de saúde e contenção, de tal forma que não
seja causa de qualquer espécie de constrangimento ou risco a todos de seu convívio
social. Esse processo envolve mudança de comportamento e apenas se
concretizará com o envolvimento da comunidade, que deve ser produtora/atora
dessa transformação (GOMES, 2005).
Sendo assim, posse responsável pressupõe a manutenção constante de
animais de estimação nos domicílios de seus proprietários, em boas condições de
higiene e saúde e, quando a passeio, que sejam controlados através do uso de
coleiras e de guias por pessoas com capacidade física para conduzi-los (WHO e
WSPA, 1990). A construção de uma cultura de propriedade responsável e assim
ações que permitam a elevação da idade média dos cães e gatos devem ser
estimuladas, uma vez que a renovação elevada prejudica o controle de zoonoses
(GARCIA, 2005).
Há também, a necessidade de desenvolver a compreensão da posse
responsável de animais de estimação como pré-requisito para assegurar que os
animais de companhia recebam os cuidados indispensáveis ao seu bem estar e
daqueles com quem convivem; sendo que, a não assimilação do conceito de posse
responsável contribui para o aumento da população de cães e gatos e assim têm-se
como sugestão as cirurgias de esterilização como boa alternativa de controle
(MAGALHÃES apud LIMBERT, MENEZES e FERNANDES, 2009).
Contudo, é preciso educação e o professor desempenha papel
fundamental em projetos educativos extensionistas, uma vez que é detentor de
conhecimentos e prática pedagógicos (FIGURA 2). Entretanto, precisa ser
capacitado constantemente com temas técnicos específicos para que estes
21
assuntos sejam desenvolvidos em sala de aula. Neste particular, as zoonoses
transmitidas por cães e gatos e o exagerado aumento populacional desses animais
assumem grande importância, motivo pelo qual a promoção de sua posse
responsável deve se dar de forma contínua para minimizar este problema (SOTO e
BERNARDI, 2011).
Atividade extensionista e recreativa realizada com estudantes e
professores de Medicina Veterinária, integrantes da ONG “Associação de Proteção
Animal Amigo Feliz” e crianças da comunidade localizada no Município de Igarapé-,
Minas Gerais, abordando termos referentes à educação em saúde e cuidados com
os animais (FIGURA 2).
Figura 2: Atividade extensionista e recreativa realizada no Município de
Igarapé, Minas Gerais:
Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão.
Através do estudo realizado por Cunha, Duarte e Silva (2008), no
município de Betim-MG, através de inquérito domiciliar concluiu-se que a população
não tem conhecimentos sobre o Programa de Posse Responsável de Animais e que
não há mobilização para mudança de hábitos dos proprietários, assim como não há
incorporação do conceito de bem estar à cultura. Ainda nesse estudo, entre os
entrevistados que demonstraram respeito aos seus animais, evidenciou-se
preconceito sobre a esterilização dos seus cães e gatos.
Dessa maneira, o processo educativo de posse responsável não é
apenas a transferência de conhecimento, embora ela faça parte, mas principalmente
o esforço e engajamento de todos os setores da sociedade no sentido de levar ao
22
cidadão a percepção dos riscos de doenças e agravos relacionados aos animais
domésticos e da necessidade de remoção de conceitos ultrapassados no combate a
eles. E desse novo pensar mais humano e mais moderno, estabelecer novas
atitudes, às vezes corajosas e arrojadas para a determinação do convívio
harmonioso homem e animal (GOMES, 2005; FREITAS, 2010, GENARI, 2012).
2.3 Manejo da população de cães e gatos
O desenvolvimento das medidas de controle das doenças e manejo da
população de cães e gatos depende da ecologia e da biologia destes animais e das
condições socioculturais e econômicas da sociedade (REICHMANN, 2000). O
estudo da população de cães e gatos, dos aspectos antropológicos relevantes, tem
por
função,
estabelecer
informação
antecedente
para
o
planejamento
e
implementação de esquemas na população desses animais e para o controle das
enfermidades zoonóticas, além da vigilância da efetividade dessas medidas (WHO e
WSPA, 1990; REICHMANN, 2000; GARCIA, 2005; BORTOLOTI e D’AGOSTINO,
2007; AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009).
Somente a remoção e eliminação de animais errantes, com ou sem
proprietários, não resolve o problema dos animais soltos em vias públicas,
abandonados e passíveis de adoecer e transmitir agentes de doenças. É necessário
atuar na causa do problema: a procriação animal excessiva e a falta de
conscientização dos proprietários e na falta de sensibilização dos seres humanos
quanto ao respeito a todas as formas de vida (GARCIA, 2005).
Devido
aos
hábitos
inadequados
de
manutenção,
a
procriação
descontrolada e à deterioração da qualidade de vida dos animais em certas
comunidades humanas, o excessivo número de animais domésticos, sobretudo cães
e gatos, passou a constituir grave problema, tornando-se indesejados pelos agravos
produzidos em pessoas, por aspectos ambientais ou pela presença de grupos
animais abandonados. Diversas propostas foram desenvolvidas, porém, algumas,
como o recolhimento e sacrifício foram severamente rejeitadas pelas comunidades
humanas. O controle da população canina e felina são necessários, e devem se
desenvolver através de métodos racionais, protetores e diferenciados para os quais
é importante a participação ativa dos proprietários. Cães e gatos integrados às
23
comunidades humanas delas dependem para dispor de abrigos, alimentação, além
de recursos para a prevenção de doenças (REICHMANN, 2000).
A partir da década de 70, vários países implantaram programas para o
manejo populacional de cães. Tais programas normalmente envolvem controle
reprodutivo, legislação, educação para a conscientização da posse responsável,
registro e identificação dos animais. Na América Latina, onde a maioria dos países,
inclusive o Brasil, não possui uma política nacional para o manejo populacional de
cães, muitas cidades, estados ou províncias já a estabeleceram (GARCIA, 2009
apud AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009).
Segundo a WHO (1992), os cães podem ser classificados de acordo
com seu controle. No Brasil, as formas de vida dos cães são classificadas como: cão
domiciliado ou cão de família: totalmente dependente e controlado; cão comunitário
ou de vizinhança: parcialmente dependente, parcialmente controlado; cão sem
controle: errante ou cão sem dono. O animal errante obtém abrigos em pátios de
estacionamentos, supermercados, terrenos baldios, construções abandonadas ou
outras estruturas físicas da localidade. Alimenta-se com restos de comida colocados
nas ruas pela população ou de material descartado no lixo e procria livremente; cão
selvagem: independente, sem qualquer controle. Obtém sua alimentação através de
caça e abrigos em reservas de matas, grutas e outros locais agrestes. Procria
livremente, mantendo-se em bandos, isolado de grupos humanos e competindo com
outros animais, comportando-se como predador (WHO, 1992 apud REICHMANN,
2000).
24
Parâmetros para obter informação sobre o tamanho da população canina, sua
estrutura, taxa de reprodução, práticas para manutenção de cães e estrutura do
habitat, segundo WHO e WSPA, (1990), são apresentados no QUADRO 4.
Quadro 4: Parâmetros de mensuração da população canina:
Parâmetros
Técnicas
população
de
mensuração
da
a) Abundância de cães
1.
Tamanho total da população
2.
Número de cães com dono
3.
Número de cães sem dono
Técnicas de marca, captura e recaptura.
Registros de licenças; mensuração
através de questionários; dados sobre a
população humana e geográfica.
Cálculos 1 e 2.
b) Estrutura da população canina
4.
Proporção de idade
Cães com
questionário.
5.
Sexo dos animais
Cães com dono: mensurar com
questionário.
Cães sem dono e sem supervisão:
observação direta.
c) Taxa de reprodução
d) Práticas para manutenção de cães
e serviços úteis proporcionados pelos
mesmos.
e) Estrutura do habitat.
dono:
mensurar
com
Cães com dono: mensurar com
questionário.
Estudos post mortem.
Cães sem dono: observações de campo
e estudos post mortem.
Mensurar com questionário;
Observações a campo.
Mapeamento dos recursos: espaço,
alimento, água e abrigo;
Investigação do manejo de dejetos e
desperdícios.
Fonte: Adaptado de WHO e WSPA, 1990.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a remoção
sistemática e eliminação de cães em grande escala, são utilizadas em várias partes
do mundo em função do desconhecimento sobre a composição e dinâmica da
25
população canina. A retirada aleatória de cães e gatos de determinada área sem
que se alterem as condições ambientais favoráveis (como a disponibilidade de
abrigo, água e alimento) e sem levar em consideração a relação desse animal junto
à comunidade, propicia à rápida reposição de novos indivíduos susceptíveis, não
permitindo, dessa maneira, a formação de barreira protetora natural por animais
imunizados ou resistentes (GARCIA, 2005).
As estratégias de manejo da população canina devem contemplar ao
mesmo tempo o cenário das políticas públicas nacionais e a implementação em
nível local pelas municipalidades; ações educativas para promover os valores
humanos, os conceitos de bem estar animal e posse responsável (GARCIA,
CALDERÓN e FERREIRA, 2012).
Os registros de animais e a concessão de licença aos proprietários têm
por finalidade identificar o cão ou gato em posse de um ser humano e contempla
orientações relativas à posse responsável e ao bem estar animal. Os animais devem
ser registrados anualmente, mediante comprovação de estarem vacinados contra a
raiva e de recolhimento das taxas previstas conforme legislação municipal
(REICHMANN, 2000).
Cadastramento e identificação de cães através de colar vermelho,
vacinação contra raiva e tratamento antiparasitário, podem ser observados abaixo
durante campanha promovida pela WSPA e RSPCA no Sri Lanka (FIGURA 3).
Figura 3: Identificação, vacinação e controle parasitário em cão no Sri Lanka:
Fonte: WSPA, RSPCA.
26
A utilização desses registros deve ser obrigatória para animais com
proprietários e para os que integram a comunidade, com cadastro único
centralizado, acessível pelos diferentes setores envolvidos direta ou indiretamente
(poder público, organizações não governamentais, clínicas veterinárias e empresas
da área, por exemplo). O registro e a identificação também devem ser obrigatórios
para todos os animais registrados em clubes de raças e para os comercializados
(GARCIA, CALDERÓN e FERREIRA, 2012).
A identificação dos animais registrados pode ser feita por coleiras coloridas
ou coleiras plásticas com código de cores, plaquetas de identificação numeradas,
tatuagens, implantação subcutânea de microchips ou outras formas de fácil
comprovação. O registro dos animais pode ser desenvolvido em conjunto por
serviços oficiais, clínicas veterinárias, sociedades de proteção animal e outros
serviços afins desde que credenciados (REICHMANN, 2000).
2.3.1 Controle reprodutivo das populações de cães e gatos
A difusão de conhecimentos sobre os métodos disponíveis para o controle
reprodutivo tais como castração, uso de anticoncepcionais ou mesmo a simples
separação de machos e fêmeas, é importante para que os proprietários possam
optar por um deles e cuidar para que os acasalamentos só ocorram quando as
condições forem apropriadas ou, ainda, optar pela interrupção definitiva dessa
atividade biológica. Esses métodos precisam ser apresentados aos proprietários e o
profissional responsável deve alertá-los sobre as vantagens e desvantagens de cada
um (REICHMANN, 2000).
Devido à fecundidade dos cães e gatos, a superpopulação de animais não
desejados permanece como um problema até que programas efetivos envolvendo o
controle da reprodução sejam instituídos (GARCIA, 2005). O controle da reprodução
de cães e gatos depende da participação do proprietário, porém, antes mesmo de
implantar o controle da reprodução em animais de estimação, é necessário o
controle da propriedade irresponsável e da educação dos proprietários (WHO e
WSPA, 1990, VIEIRA; 2008).
Para o controle da reprodução de cães e gatos podem ser utilizados
métodos não cirúrgicos e cirúrgicos. Métodos não cirúrgicos não são permanentes,
portanto, adequados apenas aos proprietários responsáveis, a quem se pode confiar
27
em repetir os tratamentos e como medida temporal enquanto se planeja a cirurgia;
os esteroides sintéticos com efeitos anti andrógenos ou progestativos são utilizados
e causam esterilização temporária com as seguintes restrições: necessidades de
administração em datas precisas e a intervalos regulares não garantem inibição do
cio, uso frequente, favorecem o desenvolvimento de possíveis distúrbios fisiológicos;
mudança de comportamento, aborto ou inibição do parto (WHO e WSPA, 1990).
Os métodos cirúrgicos podem ser aplicados em cães e gatos independente
do sexo. Em fêmeas, a ovariosalpingohisterectomia promove a remoção de todo
órgão reprodutivo, a ovariectomia consiste na retirada apenas dos ovários e ambos
os métodos interrompem definitivamente a capacidade reprodutiva. Em machos, a
orquiectomia é o método pelo qual, são removidos os testículos, a vasectomia
consiste na ligadura e na ressecção de uma porção do canal deferente e em ambos
o macho perde a capacidade de fertilização (REICHMANN, 2000).
Outro método contraceptivo utilizado apenas em cães machos é a
esterilização química que se baseia no uso de agentes esclerosantes, como
soluções à base de zinco injetada no parênquima testicular, que induz processo
inflamatório exacerbado com oclusão fibrosa dos ductos deferentes e epidídimos,
além de atrofia testicular, reduzindo a espermatogênese e concentração sérica de
andrógenos. Essas soluções são utilizadas, pois o zinco em concentrações elevadas
inibe a divisão e replicação das células germinativas tornando o cão macho, estéril
(OLIVEIRA, 2007).
Porém, esse método se mal conduzido e por questões da própria reação
inflamatória pode ter como efeitos colaterais, desde aumento do diâmetro e da
temperatura testicular, além de sensibilidade à palpação nos primeiros dias, até
mesmo dor, irritação, dermatites, vômitos e ulcerações, chegando a complicações
mais severas que as cirúrgicas (WANG, 2002 apud OLIVEIRA, 2012). Dessa forma é
importante o uso de analgésicos e anti-inflamatórios devido ao procedimento, porém,
ainda não se sabe se essas drogas interferem na ação inflamatória produzida por
soluções à base de zinco e consequentemente na eficácia da esterilização
(OLIVEIRA, 2011).
28
Os proprietários podem acompanhar seus animais nas campanhas de
esterilização e devem incentivar a participação de toda comunidade. Esta ação
torna-se educativa e contribui para o abandono de antigos paradigmas e
preconceitos (FIGURA 4).
Figura 4: População local assistindo a cirurgia de esterilização através da
janela de clínica móvel em Zanzibar:
Fonte: WSPA e RCPCA.
O controle de mobilidade com a domiciliação é a alternativa mais
simples, natural e viável por não oferecer riscos à saúde dos animais e ônus aos
proprietários, o que constitui ampla vantagem para o controle populacional dos
animais de estimação (REICHMANN, 2000).
Em São Paulo, foi implantado em 2001 o “Programa Saúde do Animal”
com o propósito principal de controlar as populações de cães e gatos e diminuir os
riscos que possam representar ao ser humano e meio ambiente. Mais de 50 mil
animais já passaram pelo Programa, com custo médio de 30 reais por cadela para
sua esterilização. Por outro lado, relatório realizado pelo centro de Controle de
Zoonoses sobre os custos com a remoção e eliminação de animais, aponta que
cada cão eliminado custa R$62,00 ao poder público municipal e um gato R$45,00
mais as taxas de incineração que custam em torno de R$60,00 para um cão de 15
kg (GARCIA, 2005).
A esterilização aplicada continuamente ao longo do tempo é capaz de
reduzir a densidade populacional canina se não houver importação de animais de
outras áreas. No entanto, mesmo para altas taxas de esterilização, onde uma
redução de 20% na densidade populacional seria notada apenas após cinco anos de
29
campanhas de esterilização, não sendo notados seus impactos imediatamente
(AMAKU, DIAS e FERREIRA, 2009).
Na cidade de Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, foi
implantado em 1996 o “Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos”,
com assessoria da Organização Não Governamental (ONG) de proteção animal
ARCA Brasil. A Prefeitura cede os medicamentos, anestésicos, materiais
descartáveis, coleiras, plaquetas e vacinas contra a raiva para as clínicas
veterinárias, que, por sua vez, realizam gratuitamente o registro e identificação e
vacinação contra a raiva e, as esterilizações cirúrgicas a preços viáveis para a
população. Atuando na raiz do problema, o Programa é uma alternativa para a
procriação descontrolada e consequente eliminação desses animais pelo poder
público (GARCIA, 2005).
Na análise realizada pelo estudo de Bortoloti e D’Agostino (2007),
programas de esterilização de cães e gatos de baixo custo nas clínicas particulares,
esterilização gratuita em abrigos municipais e em entidades protetoras de animais,
além de mutirões de esterilização nos bairros populares podem tornar esse
procedimento cirúrgico amplamente disponível e acessível para toda a população,
podendo explicar o aumento na demanda pelo serviço.
O comportamento humano possivelmente é a força mais poderosa por
trás da dinâmica populacional dos animais de estimação. O encorajamento das
interações homem-animal de maneira responsável e compensatória levará à
melhoria do bem estar animal e redução de muitas das origens de cães de rua,
prevenindo muitos problemas. O comportamento humano em relação aos animais
de estimação é a força propulsora por trás desses problemas (RSPCA, HUMANE
SOCIETY, IFAW, WORLD SMALL ANIMAL, ARC, WSPA, 2007).
Dessa forma, metodologias quanto ao controle reprodutivo da
população animal é um dos eixos principais do conjunto de ações de posse
responsável, resultando na diminuição da densidade animal que por vez diminui o
número de animais susceptíveis a leishmaniose e outras zoonoses (GOMES, 2005).
O mundo está buscando uma saída ética para o problema da
superpopulação de animais. As cidades que compreendem que governar é educar
serão as que estarão na vanguarda e indicarão qual caminho a seguir (SÁ, 2006).
30
2.4 Leishmaniose Visceral
A LV é uma zoonose amplamente difundida, ocorrendo na Ásia,
Europa, África e nas Américas e ainda não foi descrita na Antártica (WHO, 1990). É
considerada de grande relevância na saúde coletiva devido à sua heterogenicidade
epidemiológica, alta letalidade e soroprevalência (BARATA in BORGES, 2008)
Atualmente encontra-se entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo
(BRASIL, 2006).
Considerada zoonose de transmissão vetorial, a LV afeta o homem
apresentando evolução geralmente crônica, com acometimento sistêmico, que se
não tratada, pode levar a morte até 90% dos casos. É considerada grave problema
de saúde pública, uma vez que tem registrado anualmente média de 3.370 casos,
com 7,4% de letalidade. Está distribuída em 20 Unidades Federadas com incidência
aproximada de dois casos por 100.000 habitantes, com tendência ao crescimento
(BRASIL, 2008). A associação de fatores como a desnutrição, o diagnóstico tardio e
a presença de outras infecções concorrem para o aumento da sua letalidade
(OLIVEIRA, 2010).
A doença é causada por protozoários pertencentes ao Gênero
Leishmania, espécie Leishmania chagasi, sinônima de L. infantum (BARATA, 2004).
É parasita intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear
(SFM), com forma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto
vetor e outra forma aflagelada ou amastigota nos tecidos dos vertebrados (BRASIL,
2006; BORASCHI e NUNES, 2007).
31
A
forma
parasitária
promastigota
encontrada
em
hospedeiros
invertebrados, Lutzomyia longipalpis e a forma amastigota, em hospedeiros
vertebrados, podem ser observadas nas FIGURAS 5 e 6.
Figura 5: Forma flagelada ou
promastigota, encontrada em
hospedeiros invertebrados:
Fonte: MS, BRASIL, 2006.
Figura 6: Forma aflagelada ou
amastigota, encontrada em
hospedeiros vertebrados:
Fonte: MS, BRASIL, 2006.
Na área urbana, o cão (Canis familiaris) é considerado seu principal
reservatório doméstico e principal fonte de infecção do vetor. Os reservatórios
silvestres identificados e potencialmente envolvidos no ciclo de transmissão são as
raposas e os marsupiais A enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos
humanos e a infecção em cães tem sido mais prevalente que em humanos
(ELKHOURY, 2005; BRASIL, 2006).
O comportamento epidemiológico da LV é cíclico, com aumento de
casos em períodos médios a cada cinco anos. No Brasil, a LV apresenta aspectos
geográficos, climáticos e sociais diferenciados, em função da sua ampla distribuição,
envolvendo as Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Na década de 90,
aproximadamente 90% dos casos registrados de LV ocorreram na região nordeste.
Inicialmente, esta endemia apresentou padrão de transmissão eminentemente rural
e na medida em que a doença se expande para as outras regiões atinge
preferencialmente áreas peri-urbanas e urbanas. Isso ocorre devido modificações
ambientais causadas por ações antrópicas que vem modificando essa situação e no
ano de 2005 a região Nordeste já apresentava 67% dos casos no país (ELKHOURY,
2005). No ano de 2011, 21,2% (905) dos casos encontravam-se na Região Norte e
50,5% (2155) na Região Nordeste (BRASIL, 2012) (TABELAS 1 e 2).
32
Tabela 1: Casos confirmados de leishmaniose visceral no Brasil, Grandes
Regiões e Unidades Federadas. 1990, 1995, 2000, 2005, 2010 e 2011:
Região e
UF
Região
Norte
Região
Nordeste
Região
Sudeste
Região
Sul
Região
CentroOeste
UF
Ignorada
Brasil
1990
1995
2000
2005
2010
2011
35
171
366
660
636
905
1650
3519
4029
2011
1662
2155
243
171
314
656
629
777
0
0
0
3
2
7
16
78
149
261
303
417
_
_
_
6
294
_
1994
3885
4858
3597
3526
4261
Fonte: Adaptado de SINAN/SVS/MS. Atualizado em 26/06/2012.
Tabela 2: Casos confirmados de leishmaniose visceral. Região Sudeste e
Estados. 1990, 1995, 2000, 2005 e 2010:
Estado
Minas
Gerais
Espírito
Santo
Rio
de
Janeiro
São Paulo
1990
226
1995
164
2000
218
2005
494
2010
469
15
0
4
4
3
2
7
4
3
0
0
0
88
165
157
Região
Sudeste
243
171
314
656
629
Fonte: Adaptado de SINAN/SVS/MS. Atualizado em 26/06/2012.
O ambiente característico e propício à ocorrência da LV é aquele de
baixo nível socioeconômico, promiscuidade, prevalentes em grande medida no meio
rural e na periferia das grandes cidades (QUEIROZ, ALVES E CORREIA, 2004;
BRASIL, 2006; WHO, 2010). Entretanto, estas características vêm se tornando
comuns nos centros urbanos, principalmente, nos estados das regiões Sudeste e
Centro-Oeste, onde a LV se encontra urbanizada (BRASIL, 2006; WHO, 2010).
Não existe diferença de susceptibilidade entre idade, sexo e raça em
humanos e animais. Porém, crianças e idosos são mais susceptíveis (BRASIL,
2006). Além disso, a migração de indivíduos não imunes pode resultar em risco de
33
transmissão, assim como o estado nutricional resultante de uma dieta pobre
aumenta a probabilidade de que diante da infecção por L. infantum, o indivíduo
evolua para manifestação da doença (WHO, 2010).
De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)
(BRASIL, 2012) no ano de 2011 foram notificados 4.261 casos em todo país, dentre
eles, 1.981(46,4%) em crianças com faixa etária de até nove anos de idade.
No estudo realizado por QUEIROZ, ALVES e CORREIA (2004), ao qual,
avalia as características clínico-epidemiológicas em 445 crianças acometidas por LV
provenientes de área endêmica, internadas em um hospital pediátrico de referência
em Pernambuco-Brasil, constatou-se que a frequência de subnutrição na população
estudada foi de 44,5%, enquanto 26,9% de todas as crianças eram desnutridas
graves. Ainda nesse estudo, verificou-se que das 317 crianças em que foi possível
obter informação sobre escolaridade materna, o tempo médio de permanência na
escola foi de 3,1 anos. Dentre as características de domicílio, foi possível obter a
informação sobre a existência ou não de água e sistema de esgoto sanitário em 358
prontuários, e cerca de 70% das casas não dispunham desses serviços.
Outro fator de relevância é a co-infecção entre HIV e LV, devido à ruralização
e urbanização dessas infecções, respectivamente (RABELLO, 2005).
Ainda em
2011, dos casos notificados de LV pelo SINAN, 271 apresentavam co-infecção com
HIV, 2.758 não apresentavam e 1.232 foram considerados ignorados ou sem
notificação (BRASIL, 2012). Provavelmente, os números oficiais da co-infecção são
subestimados, por resultarem de notificação passiva e da LV não ser considerada
doença definidora de HIV (RABELLO, 2005).
O MS apresenta como formas de controle e prevenção da LV, o diagnóstico e
tratamento precoce dos humanos infectados, uso de inseticidas para controlar a
população de insetos vetores (flebotomíneos) e o sacrifício de cães soropositivos ou
que apresentam o quadro clínico da doença (BRASIL, 2006). Apesar dos esforços, a
LV tem aumentado significativamente sua importância no contexto epidemiológico
em decorrência do processo de urbanização e das alterações no ambiente natural
(BORGES, 2008).
Porém, em virtude das características epidemiológicas e do conhecimento
ainda insuficiente sobre os vários elementos que compõem a cadeia de transmissão
da LV, as estratégias de controle desta endemia ainda são pouco efetivas no Brasil
(ALVES, 2005). Destaca-se que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento
34
dos casos humanos e atividades educativas devem ser em todas as situações
priorizadas através do dialogo com as comunidades envolvidas (ALVES, 2005;
WHO, 2010).
2.4.1 Agente transmissor
A transmissão se dá através da picada de fêmeas do inseto vetor infectado,
pertencente ao Gênero Lutzomyia e Phleblotomus, no Novo Mundo e Velho Mundo,
respectivamente (BARATA, 2004). No Brasil, a L. longipalpis é considerada a
principal espécie transmissora da L. infantum, e mais recentemente a L. cruzi foi
incriminada no estado de Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2006; CUNHA e CHAGAS,
1937, LAINSON e SHAW, 1987, REBELO, 1996, SANTOS, 1998 apud ELKHOURY,
2005; BORASCHI e NUNES, 2007).
O vetor L. longipalpis é conhecido popularmente como mosquito palha, birigui
ou tatuquiras. É um inseto pequeno, díptero (FIGURA 7) e reproduz em locais com
muita matéria orgânica em decomposição e umidade (BRASIL, 2006; COSTA, 2011
apud SCHIMMING, 2012). Além disso, Apresenta grande capacidade de adaptação
em diversos ambientes, aumentando muito a densidade destes insetos dentro e ao
redor das habitações humanas, facilitando a transmissão do agente (BARATA,
2005).
A fêmea de flebotomíneo adulto, após repasto sanguíneo em hospedeiro
vertebrado, engorgitada pode ser encontrada em variados ambientes, geralmente
desprovidos de qualidade sanitária (FIGURA 7).
Figura 7: Fêmea de flebotomíneo adulto, após repasto sanguíneo, engorgitada:
Fonte: BRASIL, 2006.
35
As fêmeas de L. longipalpis alimentam-se de sangue durante o
crepúsculo, com maior frequência entre 19 e 23 horas, de vários animais,
especialmente galinhas, roedores, cães e do homem (LAISON e RANGEL, 2005
apud FREITAS, 2010). Sua população aumenta nas épocas de altas temperaturas e
umidade relativa do ar, que coincidem com o período de maior transmissão,
ocorrendo predominantemente durante as estações chuvosas, quando os insetos
invadem os domicílios para se alimentar de sangue de humanos e cães (BORASCHI
e NUNES, 2007).
O vetor ovipõe em locais úmidos, como pequenas fendas ou buracos no
solo, instalações de animais ou em cama de folhas, pois as larvas buscam
alimentação na matéria orgânica acumulada. Há quatro estádios larvais antes da
pupação. Os períodos para completar os estádios são variáveis, pois dependem da
temperatura, onde a diminuição e o aumento promovem maior tempo e menor tempo
para o desenvolvimento, respectivamente. Em experimentos in vitro as larvas
eclodem em aproximadamente 10 dias, seu desenvolvimento ocorre em torno de
três semanas e o flebotomíneo adulto emerge da pupa em 10 dias. Os estádios
anteriores ao vetor adulto são difíceis de serem encontrados na natureza, mas de
maneira geral se reproduzem em locais ricos em matéria orgânica (WHO, 2010).
36
Fatores de risco para a ocorrência da LV podem ser relacionados em: (A)
Condições
socioambientais
e
sanitárias
desfavoráveis,
(B)
Presença
do
flebotomíneo no peridomicílio e intradomicílio, (C) Fonte de repasto para o vetor e
posterior infecção de animais e humanos desprotegidos (FIGURA 8).
Figura 8: Fatores de risco para a ocorrência da LEISHMANIOSE VISCERAL:
Fonte: Adaptado de- (A) Arquivo Programa ChiCão, (B) WHO, 2010, (C) WSPA, RSPCA.
A infecção ocorre quando fêmeas de L. longipalpis ingerem sangue
sugado de animais infectados, ingerindo macrófagos contendo formas amastigostaS.
No trato digestivo do inseto há liberação dessas formas parasitárias que passam
pelo processo de divisão binária e assumem a forma flagelada denominada
promastigota que se converte em paramastigota. Os parasitos colonizam o esôfago
e a faringe do vetor, se diferenciam em formas infectantes, promastigotas
metacíclicas. O ciclo do parasito no inseto se completa em 72 horas (BRASIL, 2006;
MACHADO, HOLFFMANN e LANGONI, 2007; WHO, 2010), sendo a hematofagia
necessária para as fêmeas do flebotomíneo somente para a maturação dos ovários
(DIAS, LOROSA e REBÊLO, 2003).
Após este período, as fêmeas infectadas ao realizarem novo repasto
sanguíneo liberam as formas infectantes juntamente com a saliva do inseto. Na
epiderme do hospedeiro, estas formas são fagocitadas por células do SMF, onde
diferenciam-se em amastigotas que multiplicam-se intensamente até o rompimento
das células, liberando as amastigotas que serão fagocitadas e assim disseminando
37
o agente para outros tecidos ricos em células do SMF, como linfonodo, fígado, baço
e medula óssea (MO) (BRASIL, 2006; MACHADO, HOLFFMANN e LANGONI,
2007).
Condições sócio ambientais, como o desmatamento, reduziram a
disponibilidade de animais que serviam como fontes de alimentação para o vetor,
colocando o cão e o homem como fontes de repasto. Muitos fatores interrelacionados têm sido considerados determinantes no aumento das endemias, como
exploração de terras, interrupção de inquéritos epidemiológicos, aumento das áreas
ocupadas por moradias inadequadas e más condições sanitárias, proporcionando
acúmulo de material orgânico para reprodução dos vetores (ELKHOURY, 2005;
CAMARGO, 2007; BORASCHI e NUNES, 2007; WHO, 2010).
2.4.2 O cão e a leishmaniose visceral
O cão há muitos anos, é incriminado como reservatório doméstico
potencial da LV. Seu papel como reservatório doméstico na LV está mais elucidado
do que na leishmaniose tegumentar (ALVES, 2005). O calazar canino, do ponto de
vista epidemiológico, é considerado mais importante que a doença humana, pois
além de ser mais prevalente, apresenta grande contingente de animais infectados
com parasitismo cutâneo, que servem como fonte de infecção para insetos vetores.
Estas características tornam o cão principal reservatório do parasito, porém, em
epidemias, o ser humano também pode ocupar esse papel (GOMES, 2005;
KONTOS, 1993 apud FARIA, 2007).
38
A dinâmica da infecção por L. infantum no hospedeiro canino depende de
vários fatores e alguns são apresentados no QUADRO 5.
Quadro 5: Fatores que interferem na dinâmica da infecção por Leishmania
infantum no hospedeiro canino:
Dinâmica da infecção por L. infantum
I.
Período de transmissão;
II.
Preferências dos vetores na alimentação e repasto;
III.
Densidade do vetor;
IV.
Densidade e suscetibilidade da população canina;
V.
Forma de vida do cão (Exemplo: se o cão tem acesso à rua, vive no
intradomicílio ou peridomicílio, provém de zona rural ou urbana);
VI.
Presença de outros reservatórios (galinhas, porcos, marsupiais,
canídeos silvestres ou outros cães), além da postura do dono nos cuidados com o
animal;
VII.
Formas de prevenção da infecção.
Fonte: Adaptado de TORRES, 2012.
A transmissão da L. infantum ocorre após o repasto do vetor infectado no
cão e não foi verificada predisposição racial, sexual ou etária relacionada com a
infecção do animal. Em cães susceptíveis após a infecção da pele, ocorre
disseminação do parasito por todo o corpo com posterior desenvolvimento dos
sintomas. O aparecimento dos sinais vai depender da imunocompetência do animal.
Geralmente, a doença no cão é sistêmica e crônica, no entanto, a evolução aguda e
grave pode levar o animal ao óbito em poucas semanas. Em alguns cães, a doença
pode permanecer latente, levando inclusive à cura espontânea. No Brasil, a forma
assintomática da doença é encontrada com índices variados, geralmente representa
40 a 60% da população soropositiva (BRASIL, 2006; WHO, 2010).
As formas clínicas podem ser assintomáticas, em que as manifestações
clínicas não existem ou então são muito limitadas, e as formas patentes ou
sintomáticas, com clara manifestação clínica da infecção (BRASIL, 2006; WHO,
2010).
39
2.4.3 Diagnósticos Oficiais da LVC no Brasil
Os métodos diagnósticos sorológicos da LVC, recomendado pelo
Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose para os órgãos de saúde
pública no Brasil até ao final do ano de 2012, eram o Ensaio Imunoenzimático
(ELISA L. major like) como método de triagem e a Reação de Imunofluorescência
Indireta (RIFI L. major like), (titulação ≥ 1:40), como confirmatório, utilizados na rotina
e nos inquéritos caninos em municípios onde já houve registro da doença,
produzidos pelo laboratório Bio-Manguinhos (GALLEGO, 2OO9; BRASIL, 2011).
Porém, vários estudos já demonstraram que nas abordagens diagnósticas
utilizadas na rotina da saúde pública no Brasil, no caso o RIFI, existe alta
probabilidade de reatividade cruzada com outros tripanosomatídeos e infecções por
outras espécies de Leishmania (por exemplo, L. braziliensis), devido à baixa diluição
utilizada (1:40) (LUCIANO, 2008; TORRES, 2012; FARIA e ANDRADE, 2012;
RIBEIRO, 2012). Por isso, apenas diante da titulação acima de 1:160 deve-se
considerar o cão positivo (RIBEIRO, 2012).
O estudo realizado por Ferreira em 2007 apud Barichello (2010),
demonstrou a ocorrência de reações cruzadas, utilizando os métodos ELISA e RIFI,
ambos do laboratório Bio-Manguinhos, com Trypanosoma cruzi, L. brasiliensis,
Toxoplasma gondii e Erlichia canis.
A partir de novembro de 2012, o MS substituiu a RIFI pelo teste rápido
imunocromatográfico (DPP) como teste de triagem e determinou o ELISA como
confirmatório. Espera-se, com o novo teste de triagem solucionar ou minimizar
alguns problemas enfrentados, tais como, reduzir o número de falsos positivos e
agilizar a retirada de animais infectados (BRASIL, 2011).
Ainda assim, a confirmação parasitológica não faz parte dos testes
oficiais, mas é onerosa e inexequível para o serviço de saúde pública de modo que o
resultado positivo na sorologia significa execução do animal (GENARO, 2003 apud
SÁ, 2006; RIBEIRO, 2012).
40
2.4.4 Prevenção e controle da LVC
O controle contínuo e bem conduzido apresenta excelentes resultados, mas
devem ser duradouros, requerem vigilância epidemiológica pertinaz e obstinada,
pois caso contrário, os focos ressurgem e o esforço realizado anteriormente é
anulado (SÁ, 2006). Além disso, a educação deve ser preconizada como controle
cultural da LV, por tornar participantes diversas camadas da população e por
democratizar atitudes capazes de beneficiar as práticas de controle (FREIRE, 1989;
LUZ, apud BORGES, 2008).
O MS (2004) recomendou que as ações no controle da LV, sejam centradas,
entre outras, no controle do reservatório doméstico, por meio da realização de
inquéritos sorológicos, amostrais e censitários em áreas de transmissão e do
sacrifício de animais sororreagentes ou doentes. As demais ações de controle
(vetorial, educação em saúde, diagnóstico e tratamento dos casos humanos) devem
ser realizadas de forma integrada para assegurar a efetividade das atividades.
A OMS reconhece que o sacrifício dos cães infectados, na maioria dos
países, se reserva cada vez mais para casos especiais, como resistência aos
fármacos utilizados no tratamento, recaídas repetidas ou situações epidemiológicas
perigosas, pois a maioria dos veterinários prefere administrar tratamento
acompanhando atentamente as recaídas. Os fármacos anti-leishmaniótico são
antimoniais pentavalentes, aminosidina, anfotericina B e alopurinol, cuja utilidade
tem sido demonstrada no controle das recidivas da LV em cães (RIBEIRO e
MICHALICK, 2001). Porém, o tratamento da LVC no Brasil é proibido, devido aos
fármacos utilizados serem de uso humano e não registrados pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2008).
Assim como no Brasil, a LV está presente na Europa, de forma endêmica.
Nesse continente, a maior parte dos países atingidos encontra-se na região do
Mediterrâneo, sendo o cão o principal reservatório, mas com a consideração de que
como animal de companhia o mesmo é considerado “o melhor amigo do humano”,
tornaram inviável e ineficaz em tal continente, programas de controle baseado na
eliminação da população canina infectada (RIBEIRO e MICHALICK, 2001;
ARAGÓN, GÓMEZ, CARBAJO e BUEY, 2005). Com o tratamento dos animais,
estudos apontaram que após o uso de combinações com alopurinol e antimoniais
41
durante seis meses, 85% dos animais apresentaram xenodiagnóstico negativo
(ARAGÓN, GÓMEZ, CARBAJO e BUEY, 2005).
Sendo assim, o sacrifício dos cães soropositivos no controle da doença vem
sendo muito discutido no meio científico. O impacto do controle da LV pelo método
de eliminação dos cães soropositivos, infectados ou doentes se mostrando
conflitante por se mostrar trabalhoso, de eficácia duvidosa e desagradável para os
médicos veterinários e os proprietários (CAMARGO, 2007).
Além disso,
pelo fato
da
comunidade desprezar muitas vezes,
a
obrigatoriedade do sacrifício dos cães soropositivos, muitos animais são levados
para outros municípios ou abandonados nas ruas, o que promove a disseminação
da doença, além do aumento na taxa de reposição de cães, na maioria das vezes,
filhotes, portanto, com o sistema imunológico mais frágil, concluindo que esse ciclo
banaliza o vínculo homem-animal e contribui para a ineficácia das políticas de
controle da LV (CIAMPI, 2005).
No estudo realizado por Andrade e outros (2007), no município de Araçatuba,
Estado de São Paulo, avaliou a reposição de animais em residências que tiveram
cães sacrificados pelo CCZ e demonstrou nas residências visitadas após um ano do
sacrifício dos cães, que 45% da população canina já havia sido reposta, sendo que
19% dessa reposição ocorreu com mais de um animal, demonstrando que apesar
dos seus animais terem sido sacrificados, os ex-proprietários não se privam do
direito de terem cães como animal de estimação ou guarda. Essas ações contribuem
para a renovação da população canina, principalmente animais mais jovens, além de
menor controle populacional, acarretando prejuízos à saúde pública e ao bem estar
dos animais e dos seres humanos.
O processo de sacrifício de cães sororreagentes para LV é alto e de pouco
impacto, o custo chega a R$140,00 (cerca de US$65,00) por animal. Assim como
ocorre em outras áreas da saúde, a implementação de medidas preventivas em
grande escala tende a revelar-se economicamente mais vantajosa. Essa
constatação ganha relevância no contexto dos países em desenvolvimento, onde as
limitações financeiras frequentemente
servem
de
justificativa
para o
não
atendimento de inúmeras necessidades (CIAMPI, 2005).
Não existem evidências quanto à efetividade do abate de cães para a
diminuição da LV, devendo esta ação ser abandonada como estratégia de controle
42
da doença, Além das implicações éticas e distorção dos dados científicos para
erroneamente dar suporte político à eliminação dos animais (COSTA, 2011).
Dessa forma, a educação em saúde torna-se fundamental no controle da LV,
pois uma população informada sobre a gravidade da enfermidade pode contribuir
para sua prevenção e controle. Tal processo de conscientização pode ser iniciado
nas escolas, com a vantagem dos estudantes levarem as informações para suas
casas (GENARI, 2012).
2.4.5 Vacinação como método preventivo
As atuais estratégias de controle da LV não têm se mostrado eficazes.
Dessa forma, o desenvolvimento da vacina contra LVC surge como estratégia
importante no controle da doença. A vacinação tem como objetivo proteger o animal
da doença e impedir que se torne reservatório do parasito, servindo como fonte de
infecção aos vetores (DALSECCO, 2010).
Com a utilização de vacinas contra a LVC, a imunização em massa de
cães poderá resultar na redução do reservatório susceptível ao parasito, assim como
do número de cães infectados, com consequente diminuição na incidência de casos
humanos e o abandono do abate de cães como principal método de profilaxia
(SOUSA, 2009). Ações como a descrita podem ser desenvolvidas por diversos
profissionais ou indivíduos capacitados (FIGURA 9).
Figura 9: Estudante extensionista em campanha de imunização
contra Leishmaniose Visceral Canina, no Município de São Joaquim de Bicas,
Minas Gerais:
Fonte: Arquivo pessoal, Programa ChiCão.
43
Uma vacina capaz de proteger o cão e, consequentemente, diminuir as
taxas de transmissão para o homem será de grande importância como medida
adicional na prevenção e controle da LV (BRASIL, 2009).
No Brasil, são comercializadas duas vacinas (BRASIL, 2009), uma utiliza
o antígeno de membrana de L. donovani, fucose manose ligante (FML), constituindose como uma vacina de primeira geração (Leishmune®) (BARICHELLO, 2010;
DALSECCO, 2010). A segunda é recombinante e utiliza o antígeno A2, encontrado
no núcleo de várias espécies de Leishmania, inclusive L. infantum. Utiliza na sua
composição a bactéria Escherichia coli, que passa a produzir e secretar em larga
escala o produto proteico do gene clonado que é então purificado e utilizado para a
produção da vacina (Leish-Tec®) (HERTAPE CALIER, 2008).
A vacina que Leishmune® é composta pela fração do complexo glicoproteico
FML, isolada de promastigostas da L. donovani. Utiliza como adjuvante de
imunidade a saponina, que possui potente capacidade de estimular a resposta
imune ao antígeno, promovendo aumento na síntese de várias citocinas, como IFNy, IL2, IL12 e TNF (COX e COUTER, 1997 apud BARICHELLO, 2010). A vacina
comprovou ser segura e altamente imunogênica para cães (DA SILVA, 2001,
BORJA-CABRERA, 2002 apud BARICHELLO, 2010).
Resultados obtidos a partir dos experimentos da fase III demonstraram
que do total de cães vacinados com a vacina Leishmnune®, obteve-se 92-95% de
proteção e 76-80% de eficácia, demonstrando grande avanço na imunização contra
a LVC (SOUSA, 2009).
A segunda vacina se baseia na tecnologia de DNA recombinante (LeishTec®), derivadas de recombinações genéticas em microorganismos, sendo
composta pelo antígeno A2. Utiliza também a saponina como adjuvante. Vários
estudos demonstraram que o antígeno A2, específico do estádio amastigota da
Leishmania, tem grande potencial como antígeno vacinal, pois anticorpos anti-A2
foram detectados em amostras de soro de pacientes e cães acometidos pela LV,
mostrando que a proteína A2 é altamente antigênica (GHEDIN, 1997 e CARVALHO,
2002 apud HERTAPE CALIER, 2008).
No estudo de Fase III, a vacina Leish-Tec® demonstrou, após
acompanhamento de um ano dos cães testados, 82% de proteção e eficácia de 71%
(FERNANDES, 2012).
44
O MS argumenta a possibilidade de que, uma vez vacinados (no caso
com a Leishmune®), os cães passem a apresentar resultado sorológico reagente
nos testes sorológicos aplicados, dificultando a identificação dos cães realmente
infectados. Trabalhos realizados, entretanto, não comprovam esta preocupação
(DALSECCO, 2010).
No estudo realizado na cidade de Campo Grande- Mato Grosso,
importante área endêmica para a LV, utilizou amostras de 110.000 cães (toda a
população) no ano de 2007, Desse total, foram vacinados 5.680 cães com a vacina
Leishmune®, após essa triagem, foram coletados soro de todos os animais do
experimento e testados pelo ensaio oficial ELISA, utilizado na saúde pública do
Brasil. Apenas 76 dos 5860 cães vacinados apresentaram reatividade sorológica ao
teste, ainda confirmado pelos resultados de RIFi, constituindo 1,3% de toda a
população vacinada. Os mesmos cães não mostraram anticorpos para a proteína de
antígeno recombinante, além da negatividade no exame parasitológico que utilizou
punções teciduais de linfonodo ou de medula óssea, comprovando a não infecção
desse animais por L. infantum. Concluiu-se então, que apesar das preocupações em
reações cruzadas do anticorpos vacinais e anticorpos produzidos perante a infecção
natural, a imunização de cães não interferiu com o controle sorológico (SOUSA,
2009).
Ainda assim, a OMS afirma que cães vacinados não podem ser
distinguidos de cães infectados naturalmente (WHO, 2010).
Na pesquisa realizada por Barichello, (2010); composta por 39 animais
sadios previamente testados antes da vacinação com exames sorológicos foram
imunizados com Leishmune® (três doses iniciais da vacina, com intervalo de 21 dias
entre as doses, mais reforços anuais) e 48 cães naturalmente infectados com L.
infantum. Os soros foram testados nos três métodos, e os resultados demonstraram
que nenhum cão vacinado apresentou resultado positivo em mais de um teste.
Apenas um cão vacinado (1/39) apresentou resultado de 1:40 na RIFI, e quatro cães
(4/39) apresentaram resultado positivo no ELISA L. major-like. Nenhum soro de cão
vacinado apresentou resultado positivo no ELISA S7. O único resultado positivo na
RIFI foi negativo nos outros dois métodos, e os quatro soros positivos no ELISA L.
major-like foram negativos tanto na RIFI quanto no ELISA S7. Estes resultados
demonstraram que se os soros de cães vacinados forem testados em dois métodos
(ELISA e RIFI), a possibilidade de apresentarem resultado positivo será remota.
45
Desta maneira, a vacinação de grande quantidade de cães não dificultaria
as ações atualmente empregadas para o controle da LVC, mas poderia, ser somada
as medidas já adotadas, evitando assim o sacrifício de cães (BARICHELLO, 2010).
As vacinas registradas no MAPA cumprem com os requisitos técnicos de
eficácia, vigentes no momento da concessão dos registros. Entretanto, o MS ainda
não recomenda seu uso em Saúde Pública, pois estão sendo realizados estudos
para avaliar a associação entre a proteção canina (já confirmada cientificamente)
com a queda nos casos humanos (DALSECCO, 2010).
Em dezembro de 2012, o MAPA e o MS aprovaram o estudo de fase III da
vacina LEISH-TEC®, recomendando a vacinação de cães assintomáticos com
sorologia negativa para a LVC, juntamente com as outras medidas já adotadas no
país. A vacina Leishmune® ainda tem a fase III sob análise (BRASIL, 2013).
2.4.6 Controle do vetor como método preventivo
O objetivo dos programas para controle de vetores é reduzir ou interromper a
transmissão da doença. Uma estratégia eficaz para reduzir a LV se dá através do
controle de vetores flebotomíneos. Existem várias formas de controle que exercem
grande impacto sobre a população de vetores, porém, deve-se envolver mais de um
método e de forma integrada na gestão do mesmo. Essa ação depende da
adequada compreensão da epidemiologia local da doença, estudo detalhado das
espécies de flebotomíneos, do local a ser abordado, assim como o habitat, faixa de
voo, locais de acúmulo de matéria orgânica, locais de repouso e sazonalidade
(NEVES, 2005; WHO, 2010).
Dentre as medidas profiláticas contra a LV, o controle do vetor tem se
mostrado eficaz na prevenção da doença. Diversas ações podem ser adotadas,
visando a esse controle no animal e no ambiente (HERTAPE CALIER, 2008). O uso
de inseticidas tópicos com eficácia comprovada contra picadas de flebotomíneos
tem se mostrado para redução da incidência da LV em cães de forma significativa
(por exemplo: Brasil, Itália e Tunísia) e humanos (República do Irã), dependendo do
nível de endemia na região (WHO, 2010).
46
2.4.6.1 Controle do vetor no ambiente
Para que se tenha sucesso no controle de vetores que transmitem a L.
infantum, é preciso a utilização de vigilância entomológica no Programa de Vigilância
e Controle da LV, que tem como objetivo levantar as informações de caráter
qualitativo e quantitativo sobre flebotomíneos transmissores da LV. Qualitativamente
a simples presença do vetor L. longipalpis e/ou L. cruzi é um indicador de risco de
transmissão. O conhecimento da distribuição espacial do vetor, a fim de estabelecer
prioridades em áreas ou setores urbanos ou localidades rurais, nos quais deverão
ser desencadeadas as ações de prevenção e controle do vetor e, a priorização de
setores ou localidades que serão avaliados quanto à presença de enzootia canina
ou das taxas de prevalência canina. Quantitativamente a vigilância vetorial permite
obter indicadores de densidade vetorial por domicílio, a fim de estabelecer a curva
de sazonalidade dos vetores e, avaliar o impacto das ações de controle ao vetor
(NEVES, 2005).
Medidas de controle, através de saneamento ambiental consistem em
medidas mecânicas, que alterem as condições propícias para o estabelecimento de
criadouros ou de repouso, ou ainda, que impeçam desenvolvimento larvário, por
meio de limpeza de quintais, terrenos e praças públicas; limpeza urbana e
eliminação de resíduos sólidos orgânicos, bem como o destino adequado dos
mesmos (NEVES, 2005, BRASIL, 2006, FREITAS, 2010), além do plantio de plantas
repelentes naturais (NEVES, 2005; HERTAPE CALIER, 2008).
Recomenda-se borrifação com inseticidas à base de piretróides, (NEVES,
2005; HERTAPE CALIER, 2008), porém, esse método apresenta inúmeras
dificuldades, especialmente relacionadas à recusa da população em permitir a
entrada dos agentes de controle a endemias (ACEs) dentro dos imóveis para tal
prática, sobretudo em imóveis onde residem pessoas alérgicas, idosas ou
acamadas. O impacto ambiental e à saúde dos trabalhadores desta ação também
precisa ser revisto, principalmente quando se buscam novas alternativas de
produtos para substituir os piretróides (FREITAS, 2010).
O controle peri e intradomiciliar é importante, sendo benéfico a colocação
de telas do tipo malha fina nas portas e janelas das casas, nos canis, clinicas
veterinárias, hospitais veterinários e canís públicos, visando, dessa forma, reduzir o
contato de flebotomíneos com cães e humanos (BRASIL, 2006; WHO, 2010).
47
2.4.6.2 Controle do vetor no reservatório canino
A utilização de inseticidas tópicos ou repelentes naturais em loções ou
incorporados em coleiras tem se mostrado método auxiliar eficaz contra a LV. Estes
exercem efeito repelente e letal sobre os flebotomíneos, minimizando a possibilidade
de ocorrência do repasto sanguíneo e, consequentemente, de infecção do animal
(HERTAPE CALIER, 2008).
Os cães devem ser protegidos das picadas de flebotomíneos através de
várias ações aplicadas no próprio animal e no ambiente que o cerca, apresentadas
no QUADRO 6.
Quadro 6: Medidas de prevenção às picadas de flebotomíneos em cães
Prevenção às picadas de flebotomíneos em cães
I. Manter o cão dentro do domicílio no período crepuscular, ao qual, há
maior atividade dos vetores, privilegiando os passeios diurnos;
II. Redução de microambientes favoráveis à oviposição e posterior
desenvolvimento do vetor; onde o animal frequenta e na vizinhança, através da
retirada de matéria orgânica excessiva;
III. Uso de inseticida ambiental, com aplicação centrada nos canis e em
locais onde o cão permanece por mais tempo, como aqueles à base de deltametrina
e cipermetrina, em aplicações semestrais;
IV. Uso de inseticidas e repelentes no cão, tais como: colar impregnado
com deltametrina à 4%, substituído a cada seis meses, em caso de reação alérgica
ao colar, utilizar inseticidas de ação tópica à base de permetrina a cada 15 a 30 dias
e em áreas de alta prevalência e/ou em cães com presença de amastigotas na pele,
as duas indicações anteriores são recomendadas.
V. Uso de plantas repelentes de insetos, como a citronela e a neem.
Fonte: Adaptado de RIBEIRO, 2007 ; GALLEGO, 2009.
Em condições experimentais, diversos trabalhos demonstraram a eficácia
na utilização de coleiras impregnadas com deltametrina à 4%, como medida de
proteção individual para os cães contra picadas de flebotomíneos, sendo
gradualmente distribuído pelo tecido adiposo do subcutâneo dos cães dentro de uma
48
a duas semanas e em condições ideais, o efeito repelente desses colares podem
durar por até seis meses (GALLEGO, 2009). Entretanto, para a sua adoção em
programas de saúde pública, a fim de interromper o ciclo de transmissão doméstico,
é necessária a implementação de estudos longitudinais que demonstrem sua
efetividade como medida de controle (BRASIL, 2006).
Sendo assim, desde junho de 2012, o MS iniciou nova estratégia para
conter o avanço da LV no Brasil através do encoleiramento em massa de cães a
partir do uso de coleiras impregnadas com deltametrina à 4%, que engloba doze
cidades em sete estados brasileiros: Piauí, Mato Grosso do Sul, Pará, Ceará,
Maranhão, Tocantins e Minas Gerais, nos quais, bairros com transmissão intensa
são escolhidos. A previsão de duração do Programa é de 42 meses (MSD, 2012).
Com isso, espera-se que a utilização do encoleiramento em grande escala, produza
extensão do efeito protetor também aos animais não encoleirados, reduzindo-se a
força de infecção pela barreira imposta pela coleira (ORLANDI, 2011).
Além disso, tendo em vista que o poder de infectar os vetores poderia
persistir no animal tratado, o encoleiramento permitirá pleitear a liberação do
tratamento terapêutico (sem ser picado, o cão não transmite a infecção) (ORLANDI,
2011).
Formulações de spray e spot-on a base de permetrina também oferecem
elevados níveis de proteção, apesar de ter menor duração, duas e três semanas,
respectivamente (GALLEGO, 2009).
De qualquer forma, estudos de campo demonstraram que alguns
inseticidas tópicos e colares utilizados em populações caninas têm sido eficazes na
redução da transmissão de agentes patogênicos (GALLEGO, 2009).
49
3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relação estabelecida entre seres humanos e animais ultrapassa milênios e
sua complexidade envolve a saúde e o bem estar de todos.
Muitos problemas surgiram dessa inter-relação, como maus tratos e
descontrole populacional de cães e gatos, consequência daqueles que, por falta de
educação e consciência ainda os consideram objetos, além das zoonoses, como a
LV, grande preocupação da saúde pública.
A antiga “carrocinha”, atualmente os Centros de Controle de Zoonoses,
procuram tornar-se mais “humanizados”, preocupando-se com o bem estar dos
animais e de todos os setores envolvidos.
Contudo, a continuidade do recolhimento e sacrifício de cães soropositivos
para LV como principal método de controle da doença, não encontra respaldo
científico, é impopular e surtiu pouco impacto depois de meio século de sua
realização como medida principal do controle da LV.
Nesse aspecto, a vacinação contra a LVC e o controle do vetor com a
participação da comunidade em todo o processo pode trazer modificações benéficas
e duradouras.
Ações voltadas para mudar o conceito de que animais são seres
insensíveis e inconscientes, assim como o manejo racional da população de cães e
gatos, existem e devem estar interligadas diretamente à educação libertadora e
transformadora como princípio de todo o processo, modificando a cultura antiga, de
forma a melhorar as condições de vida dos seres que nos trazem benefícios sociais,
físicos e psicológicos.
Somente a educação fornece metodologias para a efetiva mudança,
que deve partir não somente dos órgãos públicos, mas de todos, como as
comunidades, escolas e universidades com seus discentes e docentes e ONGs a
favor do bem maior. Dessa maneira, cães e gatos terão dignidade na sua
domesticação e os humanos poderão conviver de forma saudável com esses seres.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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interior do Estado de São Paulo. Rev. Saúde Publica; 39 (6), p. 891-897, 2005.
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populacional canina: potenciais efeitos de campanhas de esterilização. Rev. Panam.
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