A Última Carta
Sempre achamos que haverá mais tempo. E aí ele acaba.
(The Walking Dead)
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“E
la foi a melhor coisa que já me aconteceu, não quero sentir falta
disso. Desse momento. Dela. Ela é a única que sabe quando
estou mentindo e a única que nunca quero deixar ir. Ela se cala
para ouvir, cara. Ela não questiona. Ela não te pergunta por que.
Ela te ouve sem dizer "eu te disse". Quando ela me abraça, não ha outro lugar no
mundo onde eu queria estar. Não ha outra pessoa com quem eu queira estar. Ela
é perfeita, cara. Ela chegou do nada e se tornou meu porto seguro. Sempre está
ali quando preciso. Ela está comigo nos momentos de alegria e também nos
momentos de tristeza profunda. Eu amo ela, cara. Agora é impossível ficar sem
ela. O rosto dela fica girando na minha cabeça e eu não quero perde-la. Só de
pensar em vê-la partir me bate uma nostalgia, e eu quero morrer. Ela sabe que
sou bem dramático, mas ela não me amaria se eu mudasse. Ela não espera que
eu seja perfeito, cara. Ela gosta de mim do jeito que sou e não me pede para
mudar em nada. Ela me deixa feliz, mesmo quando estou triste. Faz-me sorrir,
mesmo quando estou chorando. Por que demorei tanto tempo para achar alguém
como ela? Ou melhor, por que demorei tanto tempo para achar ela? Não alguém
como ela. Não existe alguém como ela, ela é única, cara. Eu não quero vê-la
apenas em meus sonhos. Preciso toca-la, senti-la, beija-la. Agora é simplesmente
impossível ficar sem ela. Depois que a conheci, não quero conhecer mais
ninguém. Não faz sentido amar outra pessoa, se só ela faz com que eu ame. "O
seu sorriso é o mais lindo do mundo", ela disse. Cara sabe o que significa isso?
Que ela me ama. É claro, por que meu sorriso é o mais horrível do mundo. Só ela
me completa como um quebra-cabeça, e eu não quero sentir falta disso. Quero
continuar a vê-la todos os dias, por que aquele sorriso me da forças para
continuar seguindo em frente. É como se todos os problemas desaparecessem
quando ela está por perto. Escrevi várias cartas para ela, e quando eu chegar
vou entregar todas de maneiras diferentes. Espero que ela leia todas. Irei pedi-la
em casamento assim que entregar pessoalmente a última carta. Espero que ela
aceite. ”
Eu aceito Stephen Perter.
Eu aceito.
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— Te vejo em dois dias — ele disse ansioso.
— Te vejo em dois dias — respondi ainda mais ansiosa.
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Stephen foi para a França passar o verão com o pai e voltaria em dois dias. Comecei
a preparar tudo para que ele encontrasse tudo perfeito. Troquei as cortinas da sala de
verde para vermelho que é sua cor preferida. Pedi minha mãe para deixar eu ir busca-lo
no aeroporto e pedi meu pai para que me levasse.
Sem Stephen, esse foi o pior verão de todos. Fiz as mesmas coisas de sempre.
Acordei pela manhã, arrumei a casa, fiz almoço para minha mãe e meu pai. Fui para o
curso profissionalizante, olhei o por do sol todos os dias. O lado bom de tudo é que
conversei com Stephen todos os dias por telefone. Espero que ele me ligue durante a
viajem.
Ele não me disse como foi na França, apenas me disse que seu pai mal o deixava
sair. As vezes conversávamos baixinho durante a noite para que nossos pais não
ouvissem, principalmente o seu que ficava fora o dia todo e chegava bêbado em casa.
Stephen ficava preso o dia todo em casa, apenas com uma TV que pegava apenas três
canais, um computador sem internet e seu celular que mal fazia ligações.
Faltava apenas um dia para que ele chegasse. Avisei todos nossos amigos que ele
chegaria em um dia e que era para todos irem para a minha casa as 15:00hs. Ele
chegaria as 13:30hs, mas eu queria um tempo sozinha com ele, então prolonguei isso
um pouco.
Fiquei o dia todo trocando os moveis de lugar. Passei o dia todo limpando e
arrumando a casa que já estava limpa e arrumada. Queria que tudo estivesse perfeito.
Comprei o CD de sua banda favorita que foi lançado uma semana depois que ele foi à
França e comprei também seu livro preferido “A Culpa É Das Estrelas” traduzido em
francês, já que ele queria tanto e seu pai não deixou que ele ao menos tentasse
encontrar os livros nas prateleiras Francesas. Foi bem caro. Mas tenho certeza que
compensará quando vê-lo sorrir. O sorriso mais belo do mundo.
Fui dormir cedo. Em menos de um dia veria Stephen desde o começo do verão. O
telefone tocou as 00 h. Acordei desesperada, com o coração disparado e mal conseguia
respirar.
— Roseie Bethen — ele disse.
— Oi meu amor, tudo bem? — eu disse, ainda com o coração disparando.
Apesar de nos chamar de amor, não existe nada entre a gente, eu acho. Somos
melhores amigos ha mais ou menos quatro anos, e nunca aconteceu nada. Acho que
nunca vai acontecer. Eu o amo muito, muito, muito mesmo. Ele é o príncipe encantado
que eu esperei por muito tempo. O brilho em meus olhos, a canção em meus lábios.
Mas eu sou só a amiga perfeita para ele. Tudo isso pode parecer clichê, mas eu
realmente me sinto assim por ele. É como se ele fosse feito para mim. Mas eu não fosse
feita para ele.
— Estou tão ansioso para te ver amanhã. Aposto que seu sorriso está dez vezes mais
bonito. Se isso é possível. — ele disse, me deixando ainda mais sem ar.
— Estou um pouco mais feia. Mas aposto que você está ainda mais lindo desde a
última vez que te vi. — respondi e meu rosto começou a ficar vermelho.
— Estou sim. Obrigado. — ele disse depois deu uma gargalhada. Percebi que sua
risada era bem mais bela do que me lembrava.
— Engraçadinho. — respondi e ficamos sem assunto.
Por um bom tempo a linha ficou muda. Aquele silêncio até que não me incomodava,
era como se ele estivesse aqui e eu estivesse deitada sobre seu peito ouvindo sua
respiração. Suspirei fundo e tentei dizer algo. Ele me interrompeu.
— Sinto sua falta. Você sente minha falta? — ele perguntou. Sua voz quase inaudível
parecia que estava chorando.
— Você faz mais falta que o oxigênio, Stephen. É claro que também sinto sua falta. —
respondi.
— Oxigênio? Serio? Não era mais fácil dizer ar? — ele perguntou sorrindo.
— Não seja estúpido. — disse e a ligação caiu.
Voltei a dormir já que ele não ligou de volta.
Acordei as 06:00hs e já fui preparando tudo para que esse foi o melhor dia de
minha vida. Ajeitei pela milésima vez a cortina vermelha. Arrumei a mesa com as frutas
preferidas de Stephen. Minha mãe havia comprado todas, menos uma. Por coincidência
era a que Stephen mais gostava. Maça, Pera, Uva, todas. Acho que ele terá que me
perdoar pela falta de morango no mercado.
Ouvi meu telefone tocando bem baixinho lá no meu quarto e fui correndo achando
que era Stephen. Chegando lá avistei meu celular sobe a cama tomando um banho de
sol. Atendi e era o Marcus.
— Bethen ligue a televisão agora. Rápido, rápido. — Marcus disse quase gritando.
Ele disse com um tom tão desesperado que também me deixou desesperada e mal
consegui responder.
Fui correndo ligar a TV, e ele disse quase gritando mais uma vez:
— Canal sete, Bethen. Canal sete.
Coloquei no canal sete, Bethen. Canal sete. e cai logo no sofá. Desesperada, comecei
a chorar. Voo 0117 caiu antes de chegar ao Brasil.
Voo 0117 era o voo de Stephen.
Com minhas mão tremulas mal conseguia segurar o telefone, então o mesmo caiu. O
oxigênio fugiu de meus pulmões e aquele sentimento de que eu nunca veria Stephen
outra vez começou a invadir a minha mente.
"Eu nunca o verei outra vez. Eu nunca o verei outra vez. Eu nunca o verei outra
vez…". Isso ficou ecoando em minha cabeça e senti todo o meu corpo enfraquecer.
Peguei outra vez o telefone e Marcus disse:
— Eu sinto muito. Disseram que não ha sobreviventes.
Chorando de soluçar, mal conseguia responder. E o sentimento de que nunca veria o
amor da minha vida outra vez continuava, porém mais intenso.
Quando Marcus disse aquilo tudo o que vivi com Stephen passou pela minha cabeça.
Todas as cenas, tudo bem intenso. Eu nunca diria para ele o que ele significava pra
mim. Eu nunca veria seu rosto pessoalmente novamente. Eu nunca o abraçaria e
deixaria seu cheiro em minha roupa outra vez. Ele se foi. Mas dessa vez ele não iria
voltar. Ele nunca ouviria o novo CD de sua banda favorita, que esperava tão ansioso
pelo lançamento, e a última coisa que eu disse para ele foi “Estúpido". É claro que ele
sabia que eu estava brincando, mas eu queria tanto ter a oportunidade de me despedir,
de dizer o que eu sinto por ele, o que ele significa para mim.
Minha mãe abriu a porta e me viu chorando desesperada. Logo olhou para a TV e
percebeu o motivo de minhas lágrimas. Sem dizer nada apenas me abraçou. Como
queria que aquele abraço fosse do Stephen.
Já era 13:30hs, ele não chegaria. Não importasse o quanto eu gritasse. Não
importasse o quando eu chorasse. Eu nunca o veria entrar por aquela porta outra vez.
Meus amigos chegaram e todos estavam aos prantos. Olhares tristes e vazios por
toda a sala. Todos dizendo que tudo ficaria bem, que ele está em um lugar melhor e
toda aquela porcaria. Chorar não o traria de volta, mas seria um bom começo.
Mesmo sabendo que todos nós estamos condenados a morte, nunca estamos
preparados para perder alguém que amamos. Parece tão injusto, é tão injusto. Todos os
planos, todos os sonhos, todos os desejos. Todo o tempo perdido em vão, ele nunca
faria faculdade. Ele nunca compraria a casa vermelha na esquina que ele sempre quis.
Ele nunca vai sonhar outra vez.
No outro dia, seria seu enterro. Eu nunca pensei que
isso um dia aconteceria. Pensando bem, acho que sim. Imaginava eu e ele bem
velhinhos abraçados dando o último suspiro. Nunca imaginei que enterraria o garoto
dos meus sonhos antes mesmo de poder dizer isso a ele.
Eu não fui ao enterro. Odeio enterros. Odeio enterrar as pessoas que eu amo para o
esquecimento. Simplesmente odeio. O cachão foi enterrado vazio, já que não
encontraram seu corpo. E eu estava deitada sobre a minha cama, ouvindo o CD que eu
havia comprado de sua banda favorita que foi lançado uma semana depois que ele foi
para a França. Ele ficaria tão feliz em saber que adiantaram o lançamento. Ele nem teve
a oportunidade de ouvir uma música por que estava sem internet. Eu deveria ter
mandado por correio ou sei lá, ele estava tão ansioso para isso. Mas a verdade é que eu
nunca imaginei que isso aconteceria. Eu nunca pensei que meu tempo com ele um dia
acabaria.
Se você me perguntasse como eu veria minha vida hoje, eu diria que me via deitada
sobre minha cama com Stephen ouvindo o CD novo de sua banda favorita. Ele sorrindo
feito um bobo e beijando a minha testa. Tudo do jeito que deveria ser. Agora aqui estou
eu, sozinha, ouvindo o CD da banda favorita de Stephen, apenas imaginando como
seria bom se ele estivesse aqui. Mas ele nunca estaria outra vez. Lágrimas invadindo o
meu rosto, começou a tocar a faixa seis do CD. Todas as memorias continuam em sua
cabeça / Todas as memorias continua em minha cabeça / Você é a canção mais bela
que já cantei / A melodia que jamais vou me cansar de dançar. Desabei quando
começou o refrão: "Eu nunca pensei que teríamos um fim / Nunca pensei que
terminaríamos assim / Você não se lembra de dizer: "para sempre e sempre"?".
Acabei de ouvir todo o CD e a faixa número seis foi a música com que eu mais me
identifiquei. Enquanto a ouvia minha mente foi invadia por memorias e uma delas do
Stephen dizendo que nunca teríamos um fim.
É claro que teríamos um fim. Mas eu nunca pensei que fosse assim. Tão inesperado.
Tão cedo. Tão injusto.
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Depois de uma semana recebi uma mensagem de Marcus dizendo que estava
chegando à minha casa.
Havia acabado de acordar, eram 9:30 da manhã e nada fazia sentido. O céu
continuava azul, o bar da esquina continuava aberto, os vizinhos da casa de frente
continuavam brigando. Tudo continuava ali, menos Stephen.
Marcus chegou e fui logo convidando-o para entrar.
Com uma causa jeans azul
escura, cabelo liso caindo sobre o rosto, braços fortes, perfume encantador, e tudo fazia
lembrar-me de Stephen. A verdade é que tudo fazia com que eu me lembrasse do
Stephen. Os pássaros cantando, a música que ele odiava tocando na rádio, o vento
soprando. Qualquer coisa conspirava para que eu me lembrasse dele, como se eu por
um momento sequer estivesse esquecido.
Stephen era o garoto mais bem vestido que eu conhecia. Sempre usava uma
camiseta de suas bandas preferidas. Sempre usava calça jeans preta escura, e seus
perfumes eram os mais atraentes. Cabelo enrolado e castanho claro, lábios vermelhos,
pele branca e com pequenas sardas sobre o nariz. Acho que o que mais me atraia nele
era o jeito com que ele fazia tudo parecer possível. Sem ele tudo perdeu o sentido.
Com certeza Marcus percebeu que eu estava péssima e tendo um péssimo ano. Mas
não disse nada sobre isso.
— Acho que você deveria ler. — ele disse estendo a mão e me entregando uma carta.
— O que é isso? — perguntei confusa.
— Stephen me mandou isso na terceira semana dele na França — ele disse e parou.
Todas suas tentativas de continuar dizendo falharam e ele começou a chorar. — Sinto
muito — ele disse com a voz quase totalmente inaudível.
Mal conseguia abrir a carta. Parecia que estávamos no espaço e que eu acabara de
respirar a última porção de oxigênio.
Respirei fundo e comecei a ler a carta com as mãos tremulas.
"Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu, não quero sentir falta disso.
Desse momento. Dela. Ela é a única que sabe quando estou mentindo e a única
que nunca quero deixar ir. Ela se cala para ouvir, cara. Ela não questiona. Ela
não te pergunta por que. Ela te ouve sem dizer "eu te disse". Quando ela me
abraça, não ha outro lugar no mundo onde eu queria estar. Não ha outra pessoa
com quem eu queira estar. Ela é perfeita, cara. Ela chegou do nada e se tornou
meu porto seguro. Sempre está ali quando preciso. Ela está comigo nos
momentos de alegria e também nos momentos de tristeza profunda. Eu amo ela,
cara. Agora é impossível ficar sem ela. O rosto dela fica girando na minha
cabeça e eu não quero perde-la. Só de pensar em vê-la partir me bate uma
nostalgia, e eu quero morrer. Ela sabe que sou bem dramático, mas ela não me
amaria se eu mudasse. Ela não espera que eu seja perfeito, cara. Ela gosta de
mim do jeito que sou e não me pede para mudar em nada. Ela me deixa feliz,
mesmo quando estou triste. Faz-me sorrir, mesmo quando estou chorando. Por
que demorei tanto tempo para achar alguém como ela? Ou melhor, por que
demorei tanto tempo para achar ela? Não alguém como ela. Não existe alguém
como ela, ela é única, cara. Eu não quero vê-la apenas em meus sonhos. Preciso
toca-la, senti-la, beija-la. Agora é simplesmente impossível ficar sem ela. Depois
que a conheci, não quero conhecer mais ninguém. Não faz sentido amar outra
pessoa, se só ela faz com que eu ame. "O seu sorriso é o mais lindo do mundo",
ela disse. Cara sabe o que significa isso? Que ela me ama. É claro, por que meu
sorriso é o mais horrível do mundo. Só ela me completa como um quebra-cabeça,
e eu não quero sentir falta disso. Quero continuar a vê-la todos os dias, por que
aquele sorriso me da forças para continuar seguindo em frente. É Como se todos
os problemas desaparecessem quando ela está por perto. Escrevi várias cartas
para ela, e quando eu chegar, irei entregar todas de maneiras diferentes. Eu
espero que ela leia todas. Irei pedi-la em casamento assim que entregar
pessoalmente a última carta. Espero que ela aceite. ”
Eu aceito Stephen Perter.
Eu aceito.
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