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O ESTADO DO MARANHÃO ™ SÃO LUÍS, 27 DE JANEIRO DE 2008, DOMINGO
™
“MORAMOS NUMA CASA EM PEDRINHAS QUE MAIS
LEMBRAVA UM SÍTIO. MINHA INFÂNCIA REALMENTE
COMEÇOU LÁ. TINHA MUITO VERDE E TAMBÉM TINHA
RIO. LEMBRO DOS CONSTANTES BANHOS NO RIO”
PERFIL
™
JOSÉ DINIZ DA SILVA FILHO
“O PROFESSOR MARTINS ERA AMIGO DA
FAMÍLIA E DISSE PARA MINHA MÃE ME COLOCAR
PARA PRATICAR KUNG FU. FOI QUANDO EU
FIQUEI FASCINADO PELA CULTURA”
“Quando conheci o mundo oriental,
vi que era isso que eu queria”
O SIMPLES INTERESSE PELA CULTURA CHINESA TRANSFORMOU-SE EM PROFISSÃO PARA O FISIOTERAPEUTA JOSÉ DINIZ DA
SILVA FILHO, UM DOS POUCOS A ATUAR NA ÁREA DA MEDICINA ALTERNATIVA EM SÃO LUÍS
FOTOS/PAULO SOAREST
ROBERTA GOMES
DA EQUIPE DE O ESTADO
O
s traços físicos que se assemelham
aos dos orientais enganam quem
pensa que José Diniz da Silva Filho, de 38 anos, possa ter alguma descendência chinesa, cuja cultura o encantou
desde o primeiro contato. Formado em
Medicina Chinesa e em Fisioterapia, há
cinco anos ele instalou o Centro de Terapias Orientais (CTO), em São Luís, e,
recentemente, passou três meses na
China, onde se aperfeiçoou e formalizou
convênios, ligando diretamente a capital
maranhense ao país oriental.
“Meus traços são indígenas, ao contrário do que as pessoas pensam. Meu
pai é negro e minha mãe indígena. Puxei
a ela”, justifica ele, que durante muito
tempo desconhecia o mundo oriental.
Nascido no município de Primeira Cruz
(MA), José Diniz viveu apenas os seus
primeiros cinco anos no local, mas as
lembranças ainda são muito vivas em
sua memória. “O que me lembro bem de
lá era o medo que tínhamos de espíritos,
almas penadas. Isso porque vivíamos
numa casa bem próxima ao cemitério.
Então, as histórias eram inúmeras. Eu e
alguns dos meus irmãos dormíamos
bem agarrados, todos juntos em uma só
rede”, relembra, com alegria e saudade,
da infância, quando também brincava
de pôr pequenas canoas nas poças de
água do mar que ficavam nas salinas do
município.
Sexto filho de uma prole de nove, José Diniz diz que a família sempre foi
muito ligada e essa relação se mantém
O fisioterapeuta José Diniz da Silva Filho passou três meses na China para se especializar em Medicina Alternativa
até hoje. E foi com toda a família, em
1975, que os pais, José Fernandes da
Silva e Maria Diniz da Silva, resolveram
se mudar para a capital do estado, onde
praticamente todos os parentes já viviam. “Moramos numa casa em Pedri-
nhas que mais lembrava um sítio. Minha infância realmente começou lá. Tinha muito verde e também tinha rio.
Lembro dos constantes banhos no rio,
das pescas e dessas brincadeiras próprias de quem vive muito ligado à terra”,
conta ele, confessando que não gostava
muito de estudar.
“A gente ia para a escola e na volta o
destino era tomar banho de rio. Mas,
quando chegávamos em casa, já viu. A
minha mãe era muito rigorosa e sempre
incentivava os estudos, principalmente
eu e meu irmão mais novo, Francinê. Os
outros sempre se voltaram mais para o
lado prático do trabalho”, ressalta José
Diniz, dizendo ainda que Francinê também enveredou pela cultura oriental e
hoje é professor de tai chi chuan.
MUDANÇA
Quando estava com 14 anos, a família se mudou novamente, mas, dessa
vez, para o bairro São Bernardo, mais no
centro da cidade. “Quando morávamos
em Pedrinhas, quase não vínhamos à
cidade mesmo. Mas ficava encantado
algumas vezes que vinha com minha
mãe fazer compras no Mercado Central.
Achava muito legal o contato com muita
gente, muitos carros. E foi boa a mudança, mesmo não sendo opção natural dos
meus pais”, diz. Ele conta que a família
se mudou porque, na época, a Alcoa indenizou os moradores da região por
conta da instalação da Alumar.
E foi essa nova mudança que viria a
definir o futuro de José Diniz. Enquanto
terminava os estudos no Colégio Zoé
Cerveira, depois de fazer até a 5ª série no
Cema da Cohab, o então adolescente
começou a entrar em contato com a cultura oriental no Centro de Cultura
Oriental Ozaka. “O professor Martins era
amigo da família e disse para minha
mãe me colocar para praticar kung fu.
Foi quando eu fiquei fascinado pela cultura, porque lá a gente acaba estudando
tudo, inclusive a medicina oriental, mas
sem uma titulação oficial”, conta. Foi aí
que começou a trajetória profissional de
José Diniz. Aos 18 anos, ele já era instrutor de kung fu e tai chi chuan.
Amor pelo trabalho e pela família
José Diniz foi para o estado de São Paulo para se especializar em acupuntura
Cultura oriental tornou-se
opção de vida profissional
AUTO-RETRATO
“Quando eu passei a conhecer esse
mundo oriental, vi que era isso o que
eu queria para a minha vida”, destaca
José Diniz, que conheceu sua esposa
por meio do tai chi chuan. De acordo
com ele, o professor Martins o indicou
para ser instrutor da arte para Ilse Gomes, que já fazia acunputura no Ozaka.
“Lembro que, quando ela entrou na
minha casa, eu pensei: ‘Que mulher estranha’. Mas tudo porque ela tem um
estilo meio hippie, bem diferente”, comenta ele, que em cinco meses de
namoro já estava morando com a atual
esposa. “Minha família se assustou
porque ela foi minha primeira namorada e eu sempre fui muito tímido, mas
tão rápido já estava vivendo com ela.
Mamãe ficou desesperada e dizia: ‘Essa
mulher levou meu filho de casa’”, conta
ele, aos risos.
E foi nesse momento que José Diniz
percebeu que o seu ciclo no Ozaka estava chegando ao fim. “Virei para Ilse e
disse que eu queria ser acupunturista,
mas que aqui não havia curso. Então, ela
me incentivou e nós dois acabamos
buscando nossos objetivos fora do estado”, afirma. Os dois juntos, no fim da década de 90, foram morar em São Paulo,
onde José Diniz estudou no Centro de
Estudos de Acupuntura e Terapias
Alternativas (Ceata), por quatro anos, e
se formou em Medicina Alternativa.
“Depois de me formar ainda fui professor e coordenador de curso no Ceata, a
convite do dr. Wu Tou Kwang, diretor do
centro”, revela o acupunturista, que
também estudou no Colégio Brasileiro
de Acupuntura (CBA) e fez um curso
técnico de Massoterapia.
Logo depois, para que a esposa, Ilse
Gomes, terminasse o doutorado – ela é
cientista política pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) –, os dois
casaram-se em São Paulo e mudaramse para a Europa, onde viveram por
cerca de um ano entre Portugal e Espanha. Antes, porém, Diniz já havia
passado em um vestibular para Fisioterapia, curso no qual se graduou depois de voltar a São Luís, há cinco anos,
no UniCeuma.
E ao voltar para a capital maranhense, Diniz montou um consultório na
avenida Marechal Castelo Branco, no
bairro São Francisco. “A coisa foi crescendo e, em dois anos, com a procura
crescente pela medicina alternativa,
ministrei o primeiro curso de massoterapia. Aí surgiu a idéia de montar um
instituto com terapias orientais, que é
hoje o CTO (Centro de Terapias Orientais)”, completa.
NOME:
José Diniz da Silva Filho
NATURALIDADE:
Primeira Cruz (MA)
FORMAÇÃO:
Medicina Chinesa
e Fisioterapia
Atualmente, o CTO é sediado em uma
casa no Cohafuma, mas, para chegar ao
reconhecimento que tem hoje, Diniz precisou trabalhar intensamente, prejudicando até o acompanhamento dos primeiros anos de sua única filha, Bárbara,
de cinco anos. “Por falta de tempo, não
acompanhei de perto, como gostaria, a
primeira fase da vida da minha filha. Até
hoje, ela reclama muito a minha presença
e, por isso, tento compensar no tempo livre que tenho”, revela José Diniz, que se
diz um pai mais permissivo do que deveria. “Para tentar suprir essa falta, acho que
acabo não dizendo o ‘não’ necessário”,
pontua.
Ainda que passe os fins de semana
dando cursos no CTO, a família de Diniz é
bastante unida. Os programas são sempre feitos com os três juntos, mas os preferidos são na própria casa. “Adoramos
assistir a filmes orientais, por exemplo. As
músicas, normalmente, são mais românticas e aquelas de relaxamento”, diz ele,
que tem, ao lado da família, hábitos bastante saudáveis em relação a comida.
“Ilse é vegetariana, mas eu não. Porém,
gosto bastante de peixe e verduras,o que
comemos no dia-a-dia lá de casa”, revela.
VIAGEM
E ficar longe da família durante três
meses foi bastante difícil para José Diniz.
Durante os meses de setembro, outubro e
novembro de 2007, ele esteve na China
estudando acupuntura, no berço da medicina oriental. “Foi bastante complicado
ficar lá esse tempo. Gastei R$ 3 mil de
NASCIMENTO:
12 de janeiro de 1970
FILIAÇÃO:
José Fernandes da Silva e
Maria Diniz da Silva
ESTADO CIVIL:
Casado com Ilse Gomes Silva
Todo o tempo disponível é dedicado à esposa Ilse Gomes Silva e à filha Bárbara
conta de telefone. Nos comunicávamos
bastante por e-mail e Messenger, mas
chegava uma hora que era impossível
não telefonar”, conta.
Para Diniz, ir à China era um sonho se
realizando. A viagem foi feita por meio do
Ceata e era para durar apenas um mês.
“Como o CIEP também estava mandando umas pessoas para lá, resolvi ficar mais
os dois meses e até fazer uma prova que
me deu o título de Doutor em Acupuntura pela Universidade de Shandong”, destaca. Além dos estudos, Diniz firmou convênios com a Federação Mundial de Acupuntura e Universidades de Shandong e
Xangai, onde também estudou.
Contudo, a viagem não foi só estudo.
Diniz conheceu os principais pontos
turísticos da China, tirou muitas fotos e,
ao contrário do que muitos pensam, descobriu que a comida chinesa nada tem a
ver com o que se conhece no Brasil. “Eles
comem cachorro e até escorpião. Não
tive coragem nem de experimentar”,
comenta ele, sorrindo. O que facilitou,
segundo ele, foi o fato de estarem em
grupo de brasileiros e a comida ter sido
adaptada. “No primeiro dia, eles colocaram um banquete com vários pratos e
fomos provando. Assim, eles perceberam
o que mais agradava nosso paladar e foram servindo no dia seguinte”, recorda.
“A COISA FOI CRESCENDO E, EM
DOIS ANOS, COM A PROCURA
CRESCENTE PELA MEDICINA
ALTERNATIVA, MINISTREI O
PRIMEIRO CURSO DE
MASSOTERAPIA. AÍ, SURGIU
A IDÉIA DE MONTAR UM
INSTITUTO COM TERAPIAS
ORIENTAIS, QUE É HOJE O CTO
(CENTRO DE TERAPIAS
ORIENTAIS)”
FILHA:
Bárbara, de 5 anos
QUALIDADE:
Persistência
ALEGRIA:
Ter concretizado o sonho de
estudar na China
TRISTEZA:
Não ter acompanhado
os primeiros anos
da filha, por causa do
trabalho excessivo
DEFEITO:
Impulsividade
SAUDADE:
Da infância
PLANO:
Transformar o
Centro de Terapias
Orientais em
uma faculdade
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“Quando conheci o mundo oriental, vi que era isso que eu queria”