Riscos Geológicos Associados a Encostas Naturais em Ilhas Vulcânicas. Alguns Casos de Estudo no Arquipélago dos Açores, Portugal Ana Maria M. A. P. Malheiro e Carlos Alberto F. Fraga Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Açores, Portugal RESUMO: Neste artigo são referidas algumas ocorrências resultantes dos perigos geológicos associados a encostas naturais mais frequentes no arquipélago dos Açores, todas elas consistindo em situações de risco para as populações, respectivos bens e economia. As ocorrências apresentadas são, não só consequência de escorregamentos (alguns deles desencadeados por acções sísmicas) afectando edifícios e vias de comunicação – mas também situações críticas resultantes da proximidade de construções à linha de costa, onde, frequentemente, se observam zonas de instabilidade devidas a processos de erosão. Para além destes casos, são apresentadas situações críticas resultantes da existência de edificações na base de taludes instáveis. Sugerem-se algumas medidas a serem adoptadas com vista a minimizar os danos que poderão ocorrer devido às referidas situações de instabilidade e tecem-se algumas considerações sobre as causas das situações abordadas. PALAVRAS-CHAVE: Perigos Geológicos, Sismos, Deslizamentos, Fenómenos de Erosão. 1 INTRODUÇÃO No presente artigo são abordadas algumas situações ocorridas em encostas naturais, que resultaram de alguns dos perigos geológicos mais comuns no arquipélago dos Açores. Todos os casos focados representam situações de risco para as populações, edifícios, infra-estruturas e economia. Os perigos associados aos fenómenos geológicos nas ilhas dos Açores não se resumem a sismos e vulcões. Deslizamentos, alterações bruscas no caudal de importantes linhas de água (provocando situações de inundações), e ainda as elevadas taxas de erosão, tanto nas ribeiras como nas áreas costeiras, são outros aspectos a ter em consideração. Alguns destes aspectos estão directamente relacionados com as condições geológicas e topográficas, mas muitas vezes é a própria intervenção humana que vai desencadear essas situações de risco. 2 PERIGOS GEOLÓGICOS ASSOCIADOS A ENCOSTAS NATURAIS: ALGUMAS DAS SITUAÇÕES MAIS FREQUENTES NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES 2.1. Movimentos de Massa No passado recente os deslizamentos foram responsáveis por algumas catástrofes de importantes dimensões nas ilhas dos Açores. A sua ocorrência pode ser despoletada durante períodos de precipitação intensa e prolongada, sendo muitas vezes potenciada pelos desequilíbrios provocados no ecossistema pelas actividades humanas. Enquadram-se neste caso factores como alterações na rede de drenagem, alterações na ocupação do solo (eliminação da cobertura vegetal, cortes instabilizadores), abertura de novas estradas, construção de muros, taludes mal dimensionados, lançamento de lixo, etc. Outros factores poderão também ser decisivos para o desencadear de movimentos de massa, como sejam os sismos e a actividade vulcânica. A entrada de água no sistema, quer seja de origem pluvial quer seja por acção do Homem, vai tornar o solo mais pesado, reduzir a coesão aparente e aumentar a pressão da água no solo. 1 As fracturas, por outro lado, aumentam a permeabilidade e, consequentemente, a taxa de infiltração de água das chuvas, promovendo a circulação sub-superficial de água, o que também vai contribuir para criar situações de instabilidade. A inclinação dos taludes é um dos factores que influencia a ocorrência de movimentos de massa. Assim, constata-se que é nos taludes mais inclinados que os processos de instabilidade assumem maior significado. Nos Açores é muito frequente este tipo de fenómeno, favorecido pelo regime pluviométrico, pelo tipo de ocupação do solo e pelo tipo de formações litológicas existentes (maioritariamente materiais não consolidados). Estes movimentos de massa ocorrem preferencialmente nos flancos dos vulcões centrais, nas paredes de caldeiras, nas vertentes das linhas de água, nas escarpas interiores e nas arribas litorais. Aparentemente, a precipitação registada no momento ou num certo intervalo de tempo antes do fenómeno parece ser um factor de extrema importância para o desencadear dos escorregamentos em ambientes geológicos com as características do dos Açores. Desconhecese, no entanto, qual a quantidade de chuva necessária para que tal se verifique, assim como a respectiva distribuição no tempo. Por conseguinte, torna-se necessária a instalação de estações meteorológicas, preferencialmente automáticas, e a análise do comportamento dos solos e das formações geológicas que constituem os taludes (Gaspar et al. 1997). Para além disso, os solos de natureza vulcânica, constituídos maioritariamente por cinzas e outros piroclastos de queda, apresentam elevada vulnerabilidade a este tipo de perigo, agravada pela intensa precipitação que frequentemente se faz sentir nestas ilhas, Isto contribui para a instabilização dos taludes, indirectamente através da alteração das rochas (diminuição dos parâmetros resistentes) e, directamente pelo aumento da pressão neutra nos solos (Valadão 2002). de S. Miguel, despoletados pela intensa e prolongada precipitação (220 l/m2), a maior parte deles localizados nas Furnas, Povoação, Ribeira Quente e Nordeste. Os fortes ventos de SE acompanhados por chuva intensa, e a vulnerabilidade dos solos vulcânicos, já saturados em resultado de longos períodos de contínua precipitação, terão certamente contribuído para a magnitude deste evento. Estes deslizamentos (escoadas de detritos muito fluidas), consistiram numa mistura de água, pedra-pomes, cinzas, raízes e troncos de árvores. Algumas destas escoadas de detritos continham grandes blocos lávicos, alguns com diâmetros da ordem dos 3 m. A maioria das cicatrizes destes deslizamentos era pouco profunda. Contudo, em alguns dos escorregamentos de maior magnitude, essas cicatrizes atingiram alguns metros de profundidade. Embora houvesse algumas excepções, a maioria dos movimentos de massa teve origem em taludes com inclinações muito acentuadas, normalmente superiores a 45%, apresentando pequena espessura mas extensão considerável. Os mais comuns apresentaram volumes entre algumas centenas a milhares de metros cúbicos, com espessuras que variavam de menos de um metro a alguns metros, larguras da ordem das dezenas de metros e comprimentos que se situavam entre algumas dezenas a escassas centenas de metros (Gaspar et al. 1997). Diversas casas e pontes ficaram total ou parcialmente destruídas, a maior parte das estradas da zona foi severamente afectada ou ficou mesmo intransitável, os sistemas de comunicações, transportes e fornecimento de energia ficaram interrompidos e uma área considerável de solos agrícolas ficou coberta de lama. Um destes deslizamentos destruiu 36 casas e matou 29 habitantes do lugar da Ribeira Quente. Também nesta zona 3 pessoas ficaram feridas e 114 desalojadas. Nesta sequência, esta freguesia ficou isolada por mais de 12 horas. 2.2. Erosão Costeira 2.1.1. Ribeira Quente, Ilha de S. Miguel, 1997 Na madrugada do dia 31 de Outubro de 1997, centenas de escorregamentos ocorreram na Ilha A evolução natural da linha de costa expressa a conjugação de um conjunto de fenómenos e de processos dinâmicos, cuja complexidade se 2 traduz na ocorrência de eventos de recuo, de tipo e forma diferenciada no espaço e no tempo. Este processo geológico tem sido objecto de grande preocupação, pelos danos que tem causado às populações que habitam nas zonas costeiras. Assim, constata-se em alguns locais da faixa litoral das ilhas açorianas, taxas de erosão costeira muito elevadas que levam a situações de risco para as populações que ali vivem ou para eventuais ocupações futuras. O fenómeno da erosão costeira nos Açores resulta da acção, por vezes conjunta, de vários factores: a) Factores geológicos As formações geológicas das ilhas (com excepção para St. Maria) são, em geral, relativamente recentes, o que se traduz num trabalho erosivo incompleto; em consequência, o equilíbrio geológico está longe de ser alcançado. A própria constituição geológica das falésias, que correspondem, geralmente, a alternâncias de materiais com diferentes resistências mecânicas contribui também para este tipo de processo. Assim, as diferenças de comportamento das camadas mais brandas, facilmente erodíveis, em relação às mais compactas e resistentes à erosão, e ainda a alteração e fracturação das formações geológicas que constituem a arriba, são aspectos muito importantes na estabilidade das falésias. A combinação de todas estas características dos maciços com a acção dos agentes de erosão é responsável por muitas quedas de material que estavam em equilíbrio precário devido à erosão diferencial. b) Factores de geometria A instabilidade das falésias é também fortemente condicionada pela altura dos taludes e pela sua tendência quase vertical; verificamse, com alguma frequência, situações em que a rotura dos taludes não se traduz num perfil de maior equilíbrio, mas, ao invés, em taludes de idêntica inclinação e maior altura; por outro lado, as formações presentes apresentam com frequência intensa fracturação, o que vai favorecer os movimentos por “topling”. c) Factores de meteorização A acção do mar (o regime de agitação costeira) representa um papel fundamental no recuo da linha de costa, isto é, na instabilização das falésias; com efeito, o desgaste provocado na base dos taludes pelo contínuo impacto das ondas provoca a instabilização da face exposta em virtude do desaparecimento da base da mesma, conjuntamente com a acção dos agentes climáticos (o vento e a chuva) sobre os materiais, muitas vezes pouco consolidados, que constituem as falésias. A circulação de água no interior dos maciços, levando à erosão diferencial dos estratos, bem como a escorrência superficial (particularmente nos sectores onde a densidade da fracturação é mais acentuada e os maciços se encontram mais alterados) podem ter um papel importante no desencadear deste processo. d) Factores de natureza antrópica A rápida ocupação antrópica da faixa costeira tem acelerado, em grande parte o processo erosivo. A exploração de areia dos fundos marinhos, bem como a extracção em dunas e praias contribuíram também para o desequilíbrio do sistema insular, com o aumento de erosão hídrica, alterações do balanço sedimentar nos litorais de acumulação, e modificação da intensidade dos processos de erosão costeira. Tem-se constatado que as taxas de recuo da linha de costa não são homogéneas nem contínuas ao longo do tempo, pois existem zonas tendencialmente mais estáveis e outras que se apresentam mais problemáticas. Em S. Miguel, a intensidade média obtida para estas taxas de recuo é de 0,27 m.ano-1 podendo nalguns casos atingir valores máximos da ordem dos 1,2 m.ano-1 (Borges 1995). Verificase que o recuo das arribas acontece, preferencialmente, em costas com formas côncavas, incidindo menos nas de formas convexas (Borges 1995). 2.2.1. Costa Norte da Ilha de S. Miguel Numa faixa significativa da costa norte da ilha de S. Miguel, abrangendo as freguesias de Rabo de Peixe, Calhetas e Fenais da Luz, tem-se verificado ao longo do tempo a ocorrência de diversos desabamentos, pondo em risco as moradias existentes no topo da falésia. Toda esta zona norte da ilha apresenta uma taxa média de erosão bastante considerável devido ao processo natural de desmonte da mesma. 3 Na maioria das situações, a costa nesta zona apresenta alturas médias da ordem dos 20 a 30 metros e é constituída, na parte superior, por escoadas basálticas, por vezes bastante fracturadas, com intercalações de níveis de clinker. Na parte inferior, consiste em diversos níveis de material piroclástico de natureza traquítica (cinzas e lapilli). Assim, a disposição espacial das litologias que constituem a falésia vai favorecer a ocorrência de erosão costeira, pelo facto de existirem materiais menos resistentes (clinker, pedra pomes e cinzas pomíticas), que por acção de diversos factores, tais como o mar, o vento e a chuva, são erodidos com maior facilidade, deixando em consola as escoadas basálticas que lhes estão sobrejacentes. Neste contexto, e dado que estas escoadas apresentam um grau de fracturação elevado, em condições mais adversas verifica-se a queda de blocos, resultando num recuo da falésia, e pondo em perigo os quintais e algumas casas existentes naquela zona. Todo este processo natural de erosão é reforçado pela existência de vários tubos de esgotos a drenarem directamente sobre a arriba, bem como pelo lixo abundante depositado na zona. 2.2.2. Rocha dos Campos (Costa Sul, S. Miguel) Este local situa-se na costa sul, na zona central da ilha de S. Miguel, integrado no Complexo Vulcânico do Fogo. Os materiais que aqui constituem a arriba, correspondem a piroclastos, nomeadamente pedra-pomes de queda, sobreposta a níveis pomíticos de fluxo, que por sua vez assentam sobre escoadas lávicas (Borges et al. 1997). Esta falésia apresenta uma altura de 50 a 70 m nos troços NW-SE e NESW, chegando a atingir um máximo de 80 m no seu troço de arriba fóssil. Junto à sua base, observam-se acumulações localizadas de detritos, resultantes de desmoronamentos recentes. Estas acumulações de material funcionam, particularmente no sector NW-SE, como uma protecção natural à acção erosiva das ondas. Sensivelmente ao centro desta zona verifica-se a existência de uma praia (Praia do Arruda). Ao longo do tempo, verificou-se nesta área a ocorrência de sucessivos desmoronamentos, fruto de um intenso processo de erosão ali instalado. Estes provocaram o recuo da arriba, causando, numa primeira fase, a destruição parcial da via pública, e numa segunda fase, a partir de 1988, o desmoronamento de parte das casas ali existentes. Constatou-se que este processo é heterogéneo no espaço e no tempo, reconhecendo-se zonas tendencialmente mais estáveis e outras onde o equilíbrio já é mais precário. Borges (1997), com base em medições de terreno aferidas por fotografia aérea, determinou a taxa de recuo médio para esta zona e para o período de 1955-1988, obtendo 0,12 m/ano. Só no período de 1988-1996, o recuo desta zona da arriba foi, em média, de 3 m (0,33 m/ano). 2.3. Sismos Dada a sua localização na confluência das 3 placas tectónicas (Americana, Euroasiática e Africana), o arquipélago dos Açores é uma região altamente sísmica. Por esta circunstância, é relevante o efeito das acções sísmicas, quer directamente no parque edificado, quer na instabilização de taludes naturais. Esta acção vai repercutir-se também, de forma indirecta, na vulnerabilidade das construções, em função da sua localização face aos acidentes geomorfológicos. 2.3.1. Faial, 9 Julho, 1998 Às 05h20m (hora local) do dia 9 de Julho de 1998, ocorreu um violento sismo que foi sentido em seis das ilhas açorianas, particularmente no Faial. O sismo teve o seu epicentro localizado a 15 km NNE da cidade da Horta, na ilha do Faial, e teve magnitude 5.8 na Escala de Richter. Foi sentido em toda a ilha do Faial, onde atingiu intensidades máximas da ordem dos VIII/IX na Escala de Mercalli Modificada. Durou 30 segundos, tendo provocado 8 mortos e 110 feridos. Causou ainda estragos significativos em cerca de 500 casas, tendo, consequentemente, deixado 1457 desalojados. Várias igrejas sofreram danos 4 consideráveis (duas colapsaram e outras ficaram severamente danificadas). O abalo principal foi seguido por um enorme conjunto de réplicas, algumas de magnitude elevada, que vieram agravar o grau de danos em muitas estruturas. Constatou-se em diversos locais a ampliação da acção sísmica devida, possivelmente, à existência de depósitos pouco consolidados, o que causou extensos prejuízos. Para além dos avultados danos causados no parque habitacional, o sismo também deixou algumas marcas, mais ou menos significativas, ao longo das estradas, quer ao nível de escorregamentos em taludes de escavação e em taludes de aterro, quer ao nível dos muros de suporte e obras de arte (pontes e aquedutos), quer ainda nos pavimentos e muros de guarda. Estes estragos, que se verificaram um pouco por toda a ilha, foram em maior número e gravidade nas zonas onde a intensidade do sismo foi maior, devido à proximidade quer ao epicentro, quer a falhas geológicas activas. Os danos causados pela acção sísmica nas estruturas geotécnicas relacionaram-se com: movimentos de massa associados à presença de alinhamentos de escarpas de falhas e à presença de taludes inclinados; amplificação das ondas sísmicas em zonas com grande espessura de solo; instabilidade superficial com queda de material e ainda à compactação de aterros (Oliveira e Malheiro 1999). A acção deste sismo, associada ao tipo de morfologia (zonas pouco estáveis e com inclinações muito grandes) e à constituição geológica (materiais vulcânicos) existentes na ilha do Faial, favoreceu a ocorrência de inúmeros movimentos de massa, registados em vários locais. Estes movimentos de massa localizaram-se essencialmente ao longo das linhas de costa das ilhas do Faial e de S. Jorge, em zonas de elevadas arribas, em escarpas de falha, nas paredes internas da Caldeira Central e na vertente NW do vulcão Central (Faial) e em zonas de material pouco consolidado. São, no geral, escorregamentos superficiais, não envolvendo grandes quantidades de material. Contudo, um dos mais significativos movimentos de massa ocorreu num talude que corresponde a uma escarpa de falha (falha da Lomba Grande) em Pedro Miguel, com 200 metros de altura, tendo o material envolvido sido deslocado algumas dezenas de metros. Esta zona é particularmente vulnerável a movimentos de massa devido às suas características geomorfológicas e ao tipo de materiais vulcânicos que constituem a escarpa: sequências eruptivas antigas do Complexo da Ribeirinha, incluindo escoadas lávicas alternadas com depósitos piroclásticos, geralmente muito alterados. O sismo de 9 de Julho de 1998 veio mostrar como determinado tipo de formações vulcânicas sofrem fenómenos de instabilidade, originando escorregamentos importantes que estão directamente relacionados com a intensidade da acção sísmica actuante (acelerações superiores a 0,5 g), sendo de notar o agravamento dos danos na proximidade de falhas geológicas e a sua dependência da componente vertical. 3 CONCLUSÕES Todas as situações acima referidas levaram a avultados prejuízos: vidas humanas, destruição da rede viária regional e rural, inundação e destruição de edifícios, destruição da rede telefónica, destruição de infra-estruturas, perda de gado, destruição de culturas agrícolas, etc. Na maioria dos casos, os factores que terão contribuído para a ocorrência das situações de risco foram os acentuados declives, a saturação dos solos (factores climáticos e hidrológicos), a natureza das formações vulcânicas envolvidas (desagregadas e com fracas características mecânicas) e ainda a actividade humana (utilização não planeada dos solos, desflorestação não controlada, alteração dos sistemas naturais de drenagem, obstrução das linhas de água, construções no domínio hídrico e no topo e base de taludes instáveis, vias de comunicação coincidindo com vales de escoamento de águas, pontes e aquedutos que não foram bem localizados ou dimensionados e deficientes sistemas de drenagem em estradas). Face às diversas situações atrás expostas, de um modo geral, considera-se necessária a implementação de algumas medidas, de modo a minimizar o risco: (i) Elaboração de cartas de risco e de perigos (as autoridades deveriam estar conscientes da importância da avaliação 5 dos perigos e vulnerabilidades de modo a garantirem um desenvolvimento sócioeconómico eficaz); (ii) Planeamento urbano eficaz tendo em conta os perigos geológicos passíveis de ocorrerem na zona; (iii) Qualidade na construção para garantir a segurança (iv) Preservação ambiental; (v) Manutenção permanente dos empreendimentos; (vi) Estabilização de taludes com vegetação apropriada. As áreas sem qualquer tipo de vegetação, encontram-se muito mais expostas à erosão e alteração. Por outro lado, não obstante as raízes aumentarem a resistência ao esforço transverso de uma hipotética superfície de escorregamento, durante tempestades com ventos fortes, alguns tipos de vegetação, com raízes superficiais, podem ser arrancadas despoletando deslizamentos); (vii) Criação de programas de sensibilização que permitam informar as populações sobre os riscos existentes, as medidas preventivas que podem conduzir à minimização do risco e os procedimentos que devem adoptar em casos de situações de emergência. No que concerne aos sismos, a ocorrência relatada veio demonstrar, uma vez mais, a necessidade da implementação sistemática das normas de construção anti-sísmica, bem como do cumprimento efectivo de um planeamento territorial que evite as edificações em zonas de maior risco, como única forma de prevenção aos danos resultantes da acção daquele perigo. Concretamente, no caso referido do sismo do Faial, houve a preocupação de não só dotar todas as estruturas a reconstruir de elementos resistentes aos sismos, mas também elaborar um ordenamento das áreas a recuperar, tendo em conta os perigos geológicos passíveis de ocorrerem. No que diz respeito à erosão costeira, apesar de em ambos os casos referidos ter havido realojamento e posterior demolição das casas afectadas e em risco, as medidas tomadas foram diferentes: na costa norte, pela inviabilidade de travar e/ou retardar o processo erosivo, apenas se recomendou não construir numa faixa costeira de, pelo menos, 50 metros; na Rocha dos Campos a situação foi solucionada através da execução de um aterro controlado, com socalcos e taludes de inclinação estável, dotado de um sistema de drenagem adequado. No caso da Ribeira Quente, apesar de ter havido uma tentativa de implementar um ordenamento que impediria a ampliação do parque edificado, tal não foi possível concretizar face ao apego àquele local por parte da população ali residente. Relativamente aos movimentos de massa, importa referir que, de futuro, torna-se necessário procurar respostas para muitas das questões levantadas. Nomeadamente, interessa correlacionar as ocorrências verificadas com diversos parâmetros, tais como: (i) altura do desprendimento, (ii) distância atingida, (iii) tipo de formações e (iv) declive da encosta. Outros parâmetros como o teor em água, a presença de vegetação, o grau de adensamento, etc., são também importantes para a caracterização de escorregamentos que possam vir a ocorrer em eventuais sismos. O problema da amplificação devido a solos brandos deverá ser outra área de intervenção próxima. REFERÊNCIAS Borges, P. J. S. A. (1995) – Contribuição para o conhecimento geológico do litoral sul de S. Miguel (Açores). Provas de acesso à categoria de Assistente de Investigação. Univ. dos Açores. Gaspar, J. L., Wallenstein, N., Coutinho, R., Ferreira, T., Queirós, G., Pacheco, J., Guest, J., Tryggvason, E. e Malheiro, A. (1997) – Considerações sobre a ocorrência dos movimentos de massa registados na madrugada de 31 de Outubro de 1997 na ilha de S. Miguel, Açores. Rel. Técnico-científico 14/DGUA/97, 28 p. Malheiro, A., Fraga, C. e Oliveira, C. S. (1999) – Escorregamentos e danos nas vias de comunicação causados pelo sismo de 9 de Julho de 1998 no Faial – Pico – S. Jorge. 4º Encontro Nacional sobre Sismologia e Engenharia Sísmica, Univ. de Faro. Valadão, P. (2002) – Contribuição para o estudo de movimentos de vertente nos Açores. Tese de mestrado em “Vulcanologia e Riscos Geológicos, Univ. Açores, 119 p. 6