ID: 41055790
01-04-2012
Tiragem: 41286
Pág: 17
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 10,70 x 30,26 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Portugal pode
ter que deslocar
populações devido
à erosão costeira
Ambiente
Jorge Talixa
Secretário de Estado
admite que, a médio prazo,
não haverá outra solução
senão mudar de lugar
alguma população
“Em alguns sítios não temos outra
solução a médio prazo que não seja deslocar populações”, admite o
secretário de Estado do Ambiente
e do Ordenamento do Território,
referindo-se ao crescente problema
da erosão costeira em várias zonas
do país e à progressiva elevação do
nível do mar motivada pelas alterações climáticas.
Pedro Afonso de Paulo explica
que Portugal não tem dinheiro para
fazer paredes de betão semelhantes
às que foram feitas na Holanda para
funcionarem como diques e protegerem as populações da invasão da
água do mar. Nesta altura, cerca de
30 por cento da costa portuguesa
está sujeita a “muito forte erosão”,
acrescenta.
Por esta razão, o governante defende que será preciso tomar medidas para “proibir terminantemente
a construção” em muitas áreas costeiras. “Dificilmente teremos meios
e técnicas” que permitam suster este avanço das águas originado pelas
alterações climáticas, justifica.
Pedro Afonso de Paulo participou,
quinta-feira à noite, num colóquio
sobre ambiente e ordenamento do
território organizado pela comissão
concelhia de Vila Franca de Xira do
PSD. Em resposta a um dos participantes, previu que Portugal vai
Cerca de 30% da costa está
sujeita a forte risco de erosão
cumprir sem grandes dificuldades
as metas de redução das emissões
poluentes estabelecidas no Protocolo de Quioto.
“Infelizmente vamos cumprir as
metas sem esforço”, observou, frisando que a “desindustrialização”
vivida pelo País durante muito tempo e a mais recente crise económica fizeram com que as emissões tenham baixado bastante.
“Temos menos indústria e, com a
crise económica, não só as empresas
emitem menos como as pessoas utilizam menos os carros”, salientou,
vincando, todavia, que cerca de 80
por cento das nossas emissões de
CO2, ao contrário do que se pensa,
têm origem na energia consumida
nas casas dos portugueses e nos carros em circulação e não estão relacionadas com as fábricas e com a
actividade económica.
“Acreditamos numa indústria que
pode estar presente e não ser muito
poluente. Infelizmente não somos
um país muito industrializado, não
produzimos tanto quanto poderíamos produzir”, lamentou. “As estimativas todas dizem que vamos
cumprir as metas de Quioto, o que
também é importante”, acrescentou
o governante.
Pedro Afonso de Paulo disse, ainda, que o Governo apresentará em
Abril um plano para o uso eficiente
da água e um roteiro do baixo carbono. Estão a decorrer os processos de
revisão da Lei de Bases do Ordenamento do Território e do Solo e do
regime da Reserva Ecológica Nacional. Mas, também em resposta a alguns dos participantes no colóquio,
o governante considerou muito difícil e oneroso aprofundar as políticas
de reutilização de águas tratadas,
porque exigiriam redes próprias,
separadas, para o transporte destas águas para os meios urbanos, o
que implicaria investimentos nesta
altura incomportáveis.
Já Pedro Aguiar Pinto, professor
do Instituto Superior de Agronomia,
defendeu que as variações do clima
em Portugal têm séculos e que, em
média, até chove um pouco mais por
ano em Lisboa do que em Londres.
“Portugal tem uma preocupação,
que é a grandíssima variabilidade
do seu clima. Mas não devemos ter
uma visão catastrófica”, argumentou, considerando depois que há
que desdramatizar esta questão.
“Desdramatizar não é ignorar o
risco. Mas é preciso não dramatizar e a agricultura tem uma grande
capacidade de adaptação a novas
situações”, concluiu.
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Portugal pode ter que deslocar populações devido à erosão costeira