IMPLANTAÇÃO DE UM INSTRUMENTO DE TRANSFERÊNCIA PARA A
ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE: A EXPERIÊNCIA DE UMA UNIDADE DE
CLÍNICA CIRÚRGICA1.
FARÃO, Elaine Miguel Delvivo2; SOARES, Rhéa Silvia de Ávila3; SAUL,
Alexandra Micheline Real4; WEILLER, Terezinha Heck5; ENGEL, Rosana
Huppes6; FERNANDES, Marcelo Nunes7;
RESUMO
A rede de atenção à saúde é composta pelo conjunto de serviços e equipamentos de saúde
que são como os nós de uma rede. Cada equipe multidisciplinar, de cada um destes
serviços que compõe a rede de atenção no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) tornase responsável pela integralidade. Neste contexto, este relato tem como objetivos relatar a
experiência de uma unidade de clínica cirúrgica que implantou um instrumento de
transferência de usuários na alta hospitalar para a atenção primária em saúde. O
instrumento de transferência foi elaborado por integrantes da equipe de enfermagem da
unidade de clínica cirúrgica em conjunto com residentes do programa de residência
multiprofissional em um hospital universitário. Foi apresentado na reunião de equipe da
unidade, sendo discutida a relevância de sua aplicação na alta hospitalar. Entre os meses
de Março e Abril foram realizadas quatorze transferências telefônicas, por meio do
instrumento, para as unidades de saúde de referência nos municípios de Santa Maria,
Passa Sete, Mata, Júlio de Castilhos e Restinga Seca. Percebemos que a maioria dos
profissionais contatados foram receptivos, sendo que muitos salientaram a importância da
continuidade dos cuidados no domicílio, além disso observamos maior envolvimento dos
profissionais no planejamento da alta hospitalar. Compreendemos que muitos são os “nós
críticos” encontrados, principalmente no que tange a regulação assistencial, constituindo-se
em um importante desafio na prática profissional em saúde na busca da integralidade.
Palavras Chave: Integralidade; Clínica Ampliada; Regulação Assistencial.
_______________
1
Relato de Experiência
Apresentador (a). Enfermeira do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema
Público de Saúde, Ênfase em Gestão e Atenção Hospitalar da Universidade Federal de Santa Maria
2
1
(UFSM). Membro do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Saúde Coletiva (GEPESC) da
UFSM. E-mail: [email protected]
3
Enfermeira da Unidade de Internação Cirúrgica do Hospital Universitário de Santa Maria,
Especialista em Saúde Pública. Membro do Grupo de Lesões de Pele (GELP) do HUSM. Preceptora
da Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde, Ênfase em Gestão e
Atenção Hospitalar da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa
Gestão em Enfermagem e Saúde. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira da Unidade de Clínica cirúrgica do Hospital Universitário de Santa
Maria(HUSM),Coordenadora do Grupo de Estudos de lesões de Pele(GELP) do HUSM.Mestranda
pela UTNBAs (Universidad Tecnológica Nacional de Buenos Aires) Argentina. Membro do Grupo de
Gestão em Enfermagem e Saúde. E-mail: [email protected]
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública. Profª Adjunto do Dep. de
Enfermagem/UFSM. Coordenadora do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Saúde Coletiva GEPESC/UFSM. E-mail: [email protected]
6
Enfermeira do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde,
Ênfase em Gestão e Atenção Hospitalar da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro
do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Saúde Coletiva (GEPESC) da UFSM. E-mail:
[email protected]
7
Enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família, Especialista em Gestão Educacional,Especialista em
Saúde Coletiva, Especialista em Educação Ambiental, Especialista em Tecnologias da Informação e
da Comunicação Aplicadas à Educação.Graduando do Programa Especial de Formação de
Professores para a Educação Profissional (UFSM). Especializando em Saúde da Família (UnASUS/UFPel). Mestrando do Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGEnf/UFSM). Membro
do Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Saúde Coletiva (GEPESC) da UFSM. E-mail:
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
A rede de atenção à saúde é composta pelo conjunto de serviços e equipamentos de
saúde que se dispõe num determinado território geográfico, seja ele um distrito sanitário, um
município ou uma regional de saúde. Estes serviços são como os nós de uma rede: uma
unidade básica de saúde, um hospital geral, um centro de atenção psicossocial, um
conselho municipal de saúde, dentre outros1.
Entretanto, para a construção de uma rede na saúde precisamos questionar o
relacionamento existente entre os serviços que compõe essa rede e qual o fluxo percorrido
pelo usuário em busca de melhoria de sua qualidade de vida.
Cada equipe multidisciplinar, de cada um destes serviços que compõe a rede de
atenção no âmbito do Sistema Único de Saúde torna-se responsável pela atenção integral
do doente, por todos os aspectos de sua saúde, devendo elaborar projetos que contemplem
a singularidade de cada indivíduo, buscando compreender e suprir as suas necessidades.
2
O atendimento integral refere-se ao atendimento das necessidades dos indivíduos
de uma maneira ampliada, sendo um eixo importante na construção do SUS e constituindose como um desafio na caminhada de construção do sistema.
No que tange a estas formulações, no que se refere à crítica ao modelo médicocentrado e à fragmentação das práticas em saúde, à valorização de ações de promoção e
prevenção, à importância do trabalho interdisciplinar e do fortalecimento do vínculo entre
profissionais e usuários para qualificar as ações de saúde, a proposta de buscar as equipes
de referências no caso de cada usuário propõe um novo formato de equipe de saúde,
valorizando os núcleos de saberes dos diferentes profissionais e constituindo projetos
terapêuticos que visam à integralidade da atenção em saúde 2.
Nesta perspectiva, autores
2,3
apontam que a integralidade do cuidado só pode ser
obtida em rede, uma vez que a “linha do cuidado” pensada de forma plena atravessa
inúmeros serviços de saúde3.
Dessa forma, se fazem necessárias ações inovadoras nos serviços de saúde que
busquem efetivar os princípios do SUS, dessa forma a construção de redes ativas é uma
estratégia indispensável, pois permite criar múltiplas respostas para o enfrentamento da
produção saúde-doença 4,5.
2. OBJETIVOS
Relatar a experiência de uma unidade de clínica cirúrgica que implantou um
instrumento de transferência de usuários na alta hospitalar para a atenção primária em
saúde visando garantir à integralidade na atenção a saúde no sistema público.
3. METODOLOGIA
O instrumento de transferência foi elaborado por integrantes da equipe de
enfermagem da unidade de clínica cirúrgica em conjunto com residentes do programa de
residência multiprofissional em um hospital universitário, com base na literatura, e surgiu a
partir da necessidade do serviço de formalizar as ações realizadas pela equipe.
Este contém as seguintes questões: nome do paciente; data de nascimento; número
de registro no hospital; endereço domiciliar; profissional de referência no caso após a alta
hospitalar; telefone do serviço de referência (Unidade básica de saúde, Estratégia de Saúde
3
da Família, dentre outros); nome da pessoa com quem foi feito contato telefônico; data da
internação; data da alta hospitalar; diagnóstico clínico de internação; cirurgia e /ou
procedimento realizado; cuidados domiciliares necessários; profissionais envolvidos na
transferência do paciente; enfermeiro responsável pela transferência. Também foi
acrescentado ao final do documento o telefone da unidade hospitalar e a solicitação para
que o serviço de referência confirme o recebimento da segunda via.
A primeira via fica no prontuário do paciente na instituição hospitalar, sendo
orientado ao usuário e/ou acompanhante que a segunda via seja entregue na unidade
básica de saúde de referência.
O documento elaborado foi apresentado na reunião de equipe da unidade, sendo
discutida a relevância de sua aplicação na alta hospitalar.
Foi pactuado que o enfermeiro é o responsável pela transferência do usuário e que
quando possível esta será realizada juntamente com a equipe multiprofissional.
Primeiramente, é realizado o contato telefônico com o serviço de referência do
usuário, sendo conversado, se possível, com o profissional de referência no caso (Agente
comunitário de saúde, enfermeiro, técnico de enfermagem, assistente social, dentre outros).
Após esse contato, o profissional preenche a documentação em duas vias de igual teor, e
procede a orientação do usuário quanto aos cuidados pertinentes ao seu caso, bem como
da importância de que o documento seja entregue ao profissional da atenção básica.
4. RESULTADOS
A implantação do instrumento de transferência teve início no mês de Fevereiro de
dois mil de doze, sendo priorizada pela equipe, nesta fase inicial, a realização de
transferência dos pacientes com agravos a saúde como comorbidades, o retorno ao
domicílio em uso de dieta por sonda nasoentérica ou gastrostomia, curativos que
necessitam de maiores cuidados e utilização de coberturas, dentre outros.
Entre os meses de Março e Abril foram realizadas quatorze transferências
telefônicas, por meio do instrumento, para as unidades de saúde de referência nos
municípios de Santa Maria, Passa Sete, Mata, Júlio de Castilhos e Restinga Seca.
Foi realizada uma transferência por meio de conversa realizada pessoalmente com o
profissional de referência no caso.
4
Percebemos que a maioria dos profissionais contatados foram receptivos, sendo que
muitos salientaram a importância da continuidade dos cuidados no domicílio. Quando
possível foi agendada visita domiciliar da equipe de estratégia de saúde da família.
Os usuários foram orientados na alta hospitalar a continuarem o acompanhamento
na unidade básica de saúde e/ou estratégia de saúde da família.
A unidade de internação recebeu duas ligações das unidades de referência, com
vistas a confirmar o recebimento da segunda via do instrumento por meio do usuário, bem
como para solicitar maiores esclarecimentos devido aos cuidados orientados pela equipe
multiprofissional do hospital.
Nesse processo de implantação do instrumento observamos maior envolvimento dos
profissionais no planejamento da alta hospitalar, sendo investigadas as possíveis
necessidades do usuário no domicílio, o que tem contribuído para a melhoria da qualidade
de vida desses indivíduos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os problemas e desafios no SUS, são produzidos em redes complexas e, por esta
razão, reclamam compreensões ampliadas e intervenções intersetoriais, articulando
distintos territórios de saberes e práticas5.
A expectativa é de que, no momento em que o sistema de transferência para os
serviços de saúde que compõe a rede de atenção estiver plenamente implantado, possa ser
alcançada uma regulação assistencial mais efetiva, visando à criação de fluxos de
referência e protocolos padronizados5.
Compreendemos que muitos são os “nós críticos” encontrados, principalmente no
que tange a regulação assistencial5, sendo necessário romper com o modelo tradicional
vigente, atuando para a comunicação efetiva entre os profissionais dos serviços que
integram a rede de cuidados, buscando a efetivação da intersetorialidade constituindo-se em
um importante desafio na prática profissional em saúde na busca da integralidade.
6. REFERÊNCIAS
5
1 Carvalho SR, Campos GWS. Modelos de atenção à saúde: a organização de Equipes de
Referência na rede básica da Secretaria Municipal de Saúde de Betim, Minas Gerais. Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16 (2): 507-515, abr-jun, 2000.
2 Pinheiro R, Matos RB, Organizadores. Os Sentidos da Integralidade na Atenção e no
Cuidado à saúde. Instituto de Medicina Social, Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva, UERJ, IMS: ABRASCO, 2001, 180p.
3 Machado MFAS, Monteiro EMLM, Queiroz DT, Vieira NFC, Barroso, MGT. Integralidade,
formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS - uma revisão conceitual.
Ciência & Saúde Coletiva, 12 (2):335-342, 2007.
4. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de
Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Redes de produção de saúde – Brasília:
Ministério da Saúde, 2009.
5 Ministério da Saúde (Brasil). Diretrizes para a implantação de Complexos Reguladores /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Regulação,
Avaliação e Controle de Sistemas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
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