Estudantes cabo-verdianos nos Açores – situação
actual e perspectivas futuras
Eduardo Ferreira (Universidade dos Açores)
Aproximando Mundos: Emigração, Imigração e Desenvolvimento em
Espaços Insulares
Angra do Heroísmo, 29 e 30 de Maio de 2008
OBJECTIVOS
Estudantes cabo-verdianos a frequentar o ensino superior nos Açores
Breve perfil
Avaliação da situação actual
Perspectivas futuras para o percurso/projecto migratório
Capitalização futura de competências e qualificações:
potencialidades/fragilidades
Debate
Contributos para pensar o papel que os estudantes cabo-verdianos nos
Açores podem vir a assumir no estabelecimento/consolidação de relações
entre as duas regiões, baseadas em projectos que passem por potenciar os
seus recursos pessoais.
Fluxos internacionais de estudantes vs. “brain drain”
Diversificação geográfica (origem e
destino)
Âmbito geográfico mais restrito (origem
e destino)
Sul → Norte
Sul → Norte e Norte → Norte
Estadias de curta e média duração
Vs.
Estadias de longa duração
Elevada probabilidade de retorno
Elevada probabilidade de permanência
definitiva na sociedade receptora
Mobilidade e circulação de segmentos
qualificados
“Fuga de cérebros”
FACTORES CONCORRENTES PARA O RETORNO
Diminuição do diferencial entre as sociedades emissoras e receptora
(oportunidades de ingresso no mercado de trabalho, condições de trabalho,
nível salarial, reconhecimento social, …)
Factores push (baixo nível de integração, existência de excedentes no
mercado de trabalho, obstáculos à mobilidade social,…)
Factores pull (obrigação de regressar, oportunidade de emprego imediata,
laços familiares, sentimentos de pertença,…)
IMPLICAÇÕES DO RETORNO
SOCIEDADE DE ORIGEM/RETORNO
Vantagens - Incorporação de conhecimentos, competências e
qualificações (“brain gain”, “transferência de tecnologia”) → Incremento de
produtividade, iniciativa, inovação, competitividade.
Condicionantes – Intensidade dos fluxos de retorno, perfil dos migrantes
regressados, contexto geográfico, económico e social de incorporação
IMPLICAÇÕES DO RETORNO
SOCIEDADE DE ACOLHIMENTO (TEMPORÁRIO)
Vantagens (após a partida) – Criar oportunidades de capitalizar
competências e qualificações “à distância”
Projectos unilaterais ou bilaterais; públicos/privados/semi-públicos); com ou
sem parcerias (governos, empresas, instituições, ONG, etc.), projectos de
desenvolvimento regional ou inter-regional, em sectores estratégicos,…
Condicionantes – Volume de migrantes regressados, sectores
económicos e grupos étnicos, “timming” de acção, actores envolvidos,
estratégias escolhidas, processos sociais desenvolvidos
Factores concorrentes para a capitalização de competências e
qualificações de estudantes em situação de retorno
Contextos estruturais de origem e
destino
Mercado de trabalho (Sector
Público e Privado)
Mercado de bens e serviços
Políticas sectoriais (económicas,
científicas, educacionais,
culturais, etc.)
Políticas de imigração
Agentes privados
Associações de migrantes
Organismos governamentais e não
governamentais
(…)
Retorno de estudantes
qualificados
Oportunidades de
capitalização
de
competências
e qualificações
Promoção do
desenvolvimento
Recursos pessoais
Na sociedade de retorno:
Qualificações
Actividade e cargo profissional
Expectativas profissionais
Inserção em redes sociais múltiplas
Manutenção de laços à sociedade de
acolhimento temporário
Domínio linguístico
(…)
Na soc. de acolhimento:
Área de formação
Projecto profissional
Experiência profissional adquirida
Expectativas profissionais
Nível de integração e avaliação da
sociedade receptora
Motivos da vinda e retorno
Percurso migratório
(…)
População estrangeira ao abrigo do regime legal de Visto de Estudo –
Açores e Portugal (2001-2007)
2001
2002
2003
2004
2005
2006
N
%
VLD
N
%
VLD
N
%
VLD
N
%
VLD
N
%
VLD
N
%
VLD
RAA
35
24.5
54
16.6
49
12.8
69
16.8
60
17.3
75
16.7
País
4392
42.6
3955
37.7
3658
34.0
3280
16.4
4051
25.2
4504
26.6
Fonte: SEF, Estatísticas de Estrangeiros (várias) e INE, Estatísticas Demográficas (várias).
Alunos entrados e saídos da Universidade dos Açores ao abrigo do
programa ERASMUS (2000-2007)
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
Incoming
15
38
35
18
19
31
30
Outgoing
4
10
7
13
22
35
25
Fonte: Universidade dos Açores (Gabinete de Relações Internacionais)
Entrada de novos alunos provenientes dos PALOP na Universidade dos
Açores (1999-2000 / 2006-2007)
1999/2000
2000/2001
2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
10
1
7
17
11
14
3
0
Fonte: Serviços Académicos da Universidade dos Açores
Alunos dos PALOP matriculados na Universidade dos Açores, por
nacionalidades (1997/98 – 2005/06)
S. Tomé e
Príncipe
3
5%
Angola
23
35%
Cabo Verde
40
60%
Cursos
Número de alunos dos PALOP matriculados na Universidade dos Açores,
por cursos de licenciatura (1997/98 – 2005/06)
Línguas M o dernas A plicadas
Serviço So cial
So cio lo gia
Co municação So cial e Cultura
Relaçõ es P úblicas e Co municação
Estudo s Euro peus e P o lítica
Ensino B ásico -1.º Ciclo
Educação de Infância
Eco no mia
Gestão de Empresas
Gestão /Info rmática
M atemática/Info rmática
Ciência e Tecno lo gia da Co mputação
Gestão e Co nservação da Natureza
Física e Química
Engenharia Civil (P rep.)
Engenharia M ecânica (P rep.)
Engenharia e Gestão do A mbiente
Ciências B io ló gicas da Saúde
B io tecno lo gia A gríco la
B io lo gia
0
1
2
3
4
5
6
7
8
N.º de alunos
9
10
11
12
Progressão das coortes de alunos que entraram na UA, entre 1999 e
2008, para frequentarem cursos de licenciatura com duração de 4 anos
1
2
1
3
1
4
0
(-1) 1
(-1) 2
2
1
2
12
3
4
(-1) 3
(-1) 9
2
(-1) 15
(-1) 2
9
(-3) 10
9
1
1999/00
4
2000/01
16
2001/02
2002/03
5
13
2003/04
2004/05
3
2005/06
2006/07
2007/08
Número de alunos dos PALOP matriculados na UA, por cursos de
licenciatura (2006/07)
So cio lo gia
Relaçõ es P úblicas e Co municação
Estudo s Euro peus e P o lítica Internacio nal
Ensino B ásico -1.º Ciclo
Educação de Infância
Cursos
Eco no mia
Gestão de Empresas
Gestão /Info rmática
M atemática/Info rmática
Ciência e Tecno lo gia da Co mputação
Gestão e Co nservação da Natureza
Engenharia e Gestão do A mbiente
Ciências B io ló gicas da Saúde
B io tecno lo gia A gríco la
B io lo gia
0
1
2
3
4
5
6
N.º de alunos
7
8
9
10
Caracterização dos entrevistados
Idade
Ent.
Curso/ano
Sexo
a
b
C
Est.civil/Fil
hos
Situação familiar
Principal meio de vida
1
Gestão de
Empresas / 3.º
ano
Masc.
26
19
19
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
A cargo da família (C.
Verde) e trabalha nas férias
(C. Civil)
2
Gestão de
Empresas / 3.º
ano
Femi.
23
19
19
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
A cargo da família e
trabalha durante o Verão
(Restauração)
3
Economia / 3.º
ano
Femi.
25
20
20
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
A cargo da família (pai na
Holanda)
4
Economia / 3.º
ano
Femi.
24
19
19
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
A cargo da família (mãe na
Itália)
5
Economia /4.º
ano
Femi.
23
19
19
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
A cargo da família (pais em
Lisboa)
6
Economia / 4.º
ano
Femi.
26
20
20
Solt. / 0
Vive c/
colegas/amigos
Bolseira e trabalha em parttime (Restauração)
a) Actual; b) No momento da partida; c) À chegada aos Açores
Ent.
CABO VERDE
AÇORES
(primeiros seis meses após a
chegada)
AÇORES
(actualmente)
Estudante
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Construção Civil
Regime: Durante as férias
Situação: TCO
Vínculo: Sem contrato
Modo de obtenção: Amigos
Horas extraordinárias: Sim (rem)
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Construção Civil
Regime: Durante as férias
Situação: TCO
Vínculo: Sem contrato
Modo de obtenção: Amigos
Horas extraordinárias: Sim (rem)
Estudante
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Restauração
Regime: Durante as férias
Situação: TCO
Vínculo: Contrato a prazo
Modo de obtenção: Anúncio
Horas extraordinárias: Sim (rem)
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Restauração
Regime: Durante as férias
Situação: TCO
Vínculo: Sem contrato
Modo de obtenção: Anúncio
Horas extraordinárias: Sim (rem)
E3
Estudante
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Restauração
Regime: Tempo parcial
Situação: TCO
Vínculo: Sem contrato
Modo de obtenção: Anúncio
Horas extraordinárias: Sim (rem)
Estudante
E4
Estudante
Estudante
Estudante
E5
Estudante
Estudante
Estudante
Estudante-trabalhador
Actividade: Operadora de caixa
Sector: Comércio a retalho
Regime: Tempo parcial
Situação: TCO
Vínculo: Contrato a prazo
Modo de obtenção: Através de amigos
Horas extraordinárias: Não
Estudante-trabalhador
Actividade: Emp. de balcão
Sector: Restauração
Regime: Tempo parcial
Situação: TCO
Vínculo: Sem contrato
Modo de obtenção: N/ respondeu
Horas extraordinárias: Não
E1
E2
E6
Empregada
Actividade: Recepcionista
Sector: Comunicações
Regime: Permanente
Situação: TCO
Vínculo: Contrato a prazo
Modo de obtenção: C.de
Emprego
Horas extraordinárias: Não
Avaliação das relações com a população local e comunidade académica
Entrevistados
Relacionamento com a população local
do tipo “positivo”, “razoável”, “bom”
E1, E2, E3, E4, E5, E6
Relacionamento com a comunidade
académica do tipo “bom” e “muito bom”
E1, E2, E3, E4, E5, E6
Relacionamento com a comunidade
académica “melhor” do que com a
população local
E3, E5
Avaliação das políticas de imigração nacionais e da actuação governativa
regional face aos imigrantes
Entrevistados
Avaliação positiva, encontrando-se a actuação
governativa regional ao mesmo nível das
políticas de imigração nacionais
E1, E5
Avaliação positiva, ainda que a actuação
governativa regional supere as políticas de
imigração nacionais
E2, E3, E4, E6
Disposição para repetir a experiência migratória por motivo de estudo
Entrevistados
Destino migratório
Repetia, sem dúvida
Repetia, muito provavelmente
Açores
E2, E5, E6
E1, E3, E4
Em “aberto”
E2, E3, E4, E5, E6
E1
Regressar a Cabo Verde, mas…
«Era bom arranjar cá um trabalho, antes de voltar. Em termos salariais, está melhor
aqui do que em Cabo Verde.» (E1)
«Gostaria de fazer cá um mestrado, depois arranjar um trabalho nos Açores. Já me
sinto bem cá …só depois é que gostava de regressar a casa. Das vezes que já fui a Cabo
Verde, vi lá as coisas e não estão fáceis (…) Acho que as coisas cá não estão tão mal para
os imigrantes.» (E2)
«Eu até gostava de trabalhar aqui um ou dois anos… era uma experiência diferente.»
(E4)
«… porque vim com o pensamento de voltar para
os familiares e desenvolver o país em termos
económicos e gerais.» (E4)
«(…) Tenho de fazer alguma coisa pelo meu país (…) Se todos que vêm não
regressarem, aquilo não melhora!» (E2)
«Se todos que vierem estudar ficarem por cá…» (E3)
«(…)Pretendo contribuir para o desenvolvimento da minha terra, para a
tranquilidade do meu país.» (E5)
«Cabo Verde é um país em vias de desenvolvimento, precisa de quadros e pessoas
com um certo nível académico para contribuir para o seu desenvolvimento.» (E6)
«… por ser estrangeiro cá, acho que tenho menos
hipóteses de trabalho.» (E1)
Factores motivadores da intenção de regresso
Factores
Entrevistados
Regressar para junto da família
E1, E2, E3, E4, E5
Contribuir para o desenvolvimento do país
E2, E3, E4, E5, E6
Encontrar melhores oportunidades de emprego
E1, E3
Em síntese: potencialidade e fragilidades
Formação em áreas com
afinidade a sectores estratégicos
Intenção declarada de regressar a
Cabo Verde ( + estratégias de
capitalização de recursos
qualificados) → Reforço das
relações entre Cabo Verde e os
Açores
Experiências de inserção no
mercado de trabalho açoriano
Áreas de formação e de inclusão
no mercado de trabalho altamente
competitivas e excedentárias
Variáveis de influência micro e
macro imprevisíveis + Inexistência
de projectos profissionais
concretos
Actividades desenvolvidas não
correspondentes às qualificações
apresentadas + Inexistência de
experiências profissionais
Em síntese: potencialidade e fragilidades
Linearidade do percurso
migratório entre Cabo Verde e os
Açores → Redução da
fragmentação relacional dos
migrantes e possível
aparecimento de sentimentos de
“dupla pertença”
Risco de consolidação de
relações com outros destinos
migratórios da diáspora caboverdiana → Distensão dos
laços sociais com os Açores
após a partida
Poderão os estudantes cabo-verdianos
constituir capital humano passível de ser
aproveitado em eventuais processos de
desenvolvimento que integrem os espaços
de origem/retorno e de acolhimento?
Reflectir – Planear – Agir
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Eduardo Ferreira - Centro de Estudos Geográficos da Universidade