i m p o r t â n c i a política, t o d a na m ã o d a s cam a r i l h a s palacianas e dos reis absolutos. O
desenvolvimento da burguesia industrial era
dificultado pela legislação s e m i - f e u d a l d o
velho e s t a d o a b s o l u t o , q u e com os dizimos,
as c o r p o r a ç õ e s ( s u p r i m i d a s pelo M a r q u ê s ) ,
o c o m u n i t a r i s m o estatual a l i m e n t a n d o fartam e n t e u m a aristocracia ignara e p a r a s i t a ,
o s vínculos o p e r a n d o u m a c o n c e n t r a ç ã o da
t e r r a , a tutela inglesa n ã o p e r m i t i n d o o auxílio á indústria n a s c e n t e , lhe t o r n a v a m impossível o seu d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ó m i c o ,
a sua m a i o r i d a d e política.
A o b r a d o M a r q u ê s foi toda dirigida n o
sentido d e facilitar o a p a r e c i m e n t o de n o v a s
indústrias, de fomentar as q u e já existiam,
e de d a r u m a importância política a essa
nova classe, q u e r c h a m a n d o muitos dos
seus e l e m e n t o s mais d e s t a c a d o s p a r a cargos governativos, q u e r nobilitando o u t r o s .
E ' nesta preferência d a d a á nova classe
em d e t r i m e n t o dos interesses de n o b r e z a
c o m u n i t a r i s t a , que d e v e m o s e s t r i b a r o derr u b a m e n t o de Castelo-Melhor. A s perseguições de q u e foi vítima C a s t e l o - M e l h o r , as
c o n s p i r a t a s palacianas contra D. Afonso vi
s e u p a t r o n o , d e v e m - s e , q u a n t o a n ó s , á política r e f o r m a d o r a de C a s t e l o - M e l h o r , política
q u e iria ferir os interesses da n o b r e z a comunitarista em favor da b u r g u e s i a industrial e
p e q u e n a b u r g u e s i a agrícola, e as conspirações contra o g o v e r n o de S e b a s t i ã o José e
o R e i que o a p o i a v a ; c o n s p i r a t a s que o
pulso firme de P o m b a l reprimiu s e m p r e até
á m o r t e do R e i . C o m a m o r t e de D . J o s é ,
chegou a tão d e s e j a d a «viradeira», e com
ela de novo assentou arraiais a n o b r e z a
c o m u n i t a r i s t a , até q u e , finalmente, depois
d e várias lutas ( a revolução de 1820, o
golpe de e s t a d o de D . Miguel) foi t e r m i n a r
pelo triunfo definitivo da revolução liberal
em 1834 e c o n s e q u e n t e triunfo político da
b u r g u e s i a industrial e p e q u e n a burguesia
agrícola. A nova classe tinha c o m o ment o r e s ideológicos a famosa plêiade francesa
d o século d e z o i t o : R o u s s e a u , Voltaire, Did e r o t , D ' A l e m b e r t , q u e na sua variada o b r a
e x p r e s s a r a m , uns melhor, o u t r o s p e o r , as
aspirações da classe q u e e n t ã o era a d e t e n t o r a da ideia de p r o g r e s s o e de m e l h o r a m e n t o da vida social.
E m P o r t u g a l as figuras mais r e p r e s e n - •
t a t i v a s desta corrente r e n o v a d o r a foram
V e r n e y com a sua crítica lúcida ao e n s i n o ;
D . L u í s da C u n h a com a indicação do M a r quês p a r a a s u b s t i t u i ç ã o do c a q u é t i c o F r e i
G a s p a r da E n c a r n a ç ã o n o g o v e r n o d o p a í s :
Ribeiro S a n c h e s , o c o l a b o r a d o r da Enciclopédia na reforma da U n i v e r s i d a d e de Coimb r a , levada a Cabo pelo M a r q u ê s de P o m b a l .
F o r a m s o b r e t u d o estes « e s t r a n j e i r o s » os
principais o p e r a d o r e s dessa reforma, pois
e x e r c e r a m u m a influência notável em t o d o s
o s sectores da vida p o r t u g u e s a . Q u a l q u e r
deles c o n c o r r e u g r a n d e m e n t e p a r a a r e n o v a ç ã o da vida nacional, q u e r n o c a m p o
político, — todos estes h o m e n s foram fortem e n t e influenciados pelos p e n s a d o r e s franceses em cujo convívio alguns deles viveram
— q u e r no c a m p o p u r a m e n t e intelectual.
F o r a m os «estranjeirados»; p o r q u e vivendo
fora do p a í s r e s p i r a r a m u m ar q u e n ã o era
o a m b i e n t e asfixiante da corte joanina, cujos
horizontes em m a t é r i a intelectual n ã o iam
além dos v e r s o s preciosos, g l o s a n d o m o t e s
imbecis, l a n ç a d o s p o r freirinhas ladinas ás
g r a d e s dos c o n v e n t o s , ou dos discursos laudatórios d u m b a r r o q u i s m o ô c o . T o d o este
m o v i m e n t o r e n o v a d o r (crise lhe c h a m o u o
S . H e r m a n i C i d a d e n u m belo ensaio) vai
t e r o seu epílogo, n o c a m p o económico,
industrialização d o p a í s , n o c a m p o político
pelo triunfo da revolução liberal, e, finalm e n t e , no c a m p o intelectual, pelo aparecim e n t o d o R o m a n t i s m o q u e , na definição d o
velho H u g o , é o liberalismo na literatura.
Q u e r e o S r . A n t ó n i o Sérgio que a publicação da « H i s t ó r i a de P o r t u g a l » p o r H e r culano seja, depois d o «Verdadeiro M é t o d o
d e E s t u d a r » , de V e r n e y , u m dos g r a n d e s
p a d r õ e s da critica p o r t u g u e s a : d e facto,
n i n g u é m c o m o H e r c u l a n o conseguiu c o n s truir u m t a m s e g u r o t r a b a l h o da análise
histórica, n e m deitar p o r t e r r a t a n t a s e
tam falsas concepções a - p r o p ó s i t o da história nacional. S e o p e r i p a t o e a influência
da C o m p a n h i a d e J e s u s n o ensino sofreram
u m r u d e golpe com a p u b l i c a ç ã o d e «Verd a d e i r o M é t o d o de E s t u d a r » , t a m b é m m i r a m com fragor t o d o s os e m b u s t e s e l e n d a s
da historiografia dos séculos xvn e x v m
p e r a n t e esse m o n u m e n t o crítico q u e é a
« H i s t ó r i a de P o r t u g a l » .
Foi H e r c u l a n o , c o m o F e r n ã o L o p e s , o
filho espiritual d u m a r e v o l u ç ã o : o seu teorista, p o d e r e m o s dizer, pois a revolução legislativa de Mousinho da Silveira s ó toma o
seu v e r d a d e i r o significado com os c o m e n t á rios d o a u t o r dos « O p ú s c u l o s » . S e v e m o s
e sentimos em t o d a a sua g r a n d e z a o movim e n t o p o p u l a r de 1383, a t r a v é s as páginas
a d m i r á v e i s q u e lhe c o n s a g r o u F e r n ã o L o -
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Síntese N14-15, Vol.II_11