o
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Rafael Alexandre Nascimento da Silva
A perspectiva dos legados esportivos da Copa 2014 para Natal/RN
NATAL/ RN
2013
RAFAEL ALEXANDRE NASCIMENTO DA SILVA
A perspectiva dos legados esportivos da Copa 2014 para Natal/RN
Trabalho de Conclusão do Curso de
Bacharelado em Gestão de Políticas
Públicas
apresentado
à
banca
examinadora
do
Departamento
de
Políticas Públicas, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel em Gestão de Políticas
Públicas.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca
Figueiredo
NATAL/ RN
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
A Deus, por me dar forças para finalizar mais uma jornada na vida;
Aos meus pais, Maria e Manoel, pelos bons princípios ensinados, que
constituem a minha base como ser humano;
A minha irmã, Viviane, pelas importantes dicas na produção deste trabalho;
A Andressa, Mileny e Suzana, pela amizade e força em momento crítico no
decorrer dessa jornada; juntam-se a elas Adriana, Eucástila e Raphaella, um sexteto
de boas cobranças para que este trabalho e, etapa da vida, fosse concluída;
Ao professor Fábio Fonseca, por ter aceitado me orientar nesse projeto; e
aos professores Fernando Cruz e André Nguiraze, integrantes da minha banca de
defesa, pelos elogios e sugestões;
Aos entrevistados, professor João Liparotti (DEF/UFRN) e secretário
municipal da SECOPA, sr. Luís Eduardo Machado, pela disponibilidade em
responder meus questionamentos e gerarem um conteúdo de grande importância
para a finalização desta pesquisa, e a bibliotecária Érica Melo (BCZM/UFRN) pela
grande ajuda as benditas normas da ABNT;
Aos professores que compõem o Departamento de Políticas Públicas;
Aos meus amigos e colegas GPPistas da turma de 2010 e de outros
semestres; aos meus companheiros de trabalho e a todas as amizades feitas nesse
período de graduação, sintam-se representados;
Agradeço também a todos aqueles que estiveram comigo no decorrer dessa
jornada e que, de alguma forma, contribuíram para que eu pudesse estar pensando
e escrevendo essas singelas palavras.
Muito obrigado!
“O esporte tem o poder de mudar o mundo, o poder de inspirar, o poder de unir as
pessoas em que poucos conseguem. Fala com as pessoas em uma linguagem que
elas entendem. O esporte cria esperança onde ela parecia não existir. Quebra
barreiras raciais, passa por cima de qualquer tipo de discriminação, dando
esperança ao mundo.” Nelson Mandela
RESUMO
O tema legado de megaeventos esportivos tem ganhado relevância a cada
disputa entre países para ser sede das maiores competições internacionais. Após a
escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas
do Rio, em 2016, o debate sobre a temática tem se intensificado, principalmente em
relação ao legado que ficará para a população e para o esporte nacional. Este
trabalho se constitui em um estudo qualitativo exploratório e tem como objetivo
averiguar quais os possíveis legados esportivos da Copa do Mundo para uma das
sedes da Copa de 2014, a cidade de Natal. As técnicas utilizadas neste estudo
foram: pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos, dissertações, teses e
periódicos; pesquisa documental de reportagens de jornal, revistas e sites
especializados; documentos oficiais e institucionais; análise qualitativa de discurso e
de conteúdo da entrevista semiestruturada feita com dois atores sociais que por dois
atores que atuam no âmbito do tema da pesquisa. A primeira parte consiste em
apresentar os tipos de legado, e fazer uma abordagem sobre a política esportiva no
país. A segunda parte faz uma análise do possível legado esportivo e a perspectiva
de usufruto desse legado pela população da cidade de Natal, a partir da leitura de
periódicos, da análise qualitativa de discurso e de conteúdo da entrevista realizada
com os dois atores. Sobre os prováveis legados para Natal/RN, ficam as dúvidas
sobre quando ficarão prontos, se servirão ao seu propósito de fato, e como serão
administradas.
Palavras chave: Arena das Dunas. Copa do Mundo de Futebol. Esporte. Legado
esportivo. Megaeventos.
ABSTRACT
The theme of legacy sports mega sporting events has gained relevance to
each dispute between countries to be headquarters of the largest international
competitions. After the choice of Brazil as a country-seat of the Football World Cup
and the Olympics in Rio, in 2016, the debate on the topic has been intensified,
especially in relation to the legacy that will be for the population and the national
sport. This work is an exploratory qualitative study and aims to investigate what the
possible sporting legacy of the World Cup to one of the seats of the 2014 World Cup,
the city of Natal. The techniques used in this study were: bibliographic search in
books, scientific articles, dissertations, theses and journals; documentary research of
reportages of newspapers, magazines and specialized sites; official documents and
institutional; qualitative analysis of discourse and content of the semi-structured
interview conducted with two social actors who by two actors that act on the subject
of the research. The first part consists in presenting the types of legacy, and make an
approach on the sports policy in the country. The second part is an analysis of the
possible legacy Deportivo and the prospect of enjoyment of this legacy by the
population of the city of Natal, from the reading of journals, the qualitative analysis of
discourse and content of the interview conducted with the two actors. On the
probable legacies for Natal/RN, are the doubts about when they will be ready, if will
serve his purpose in fact, and as will be administered.
Keywords: Dunes Arena. Legacy sports. Mega sporting events. The World Cup
Football.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Tipos de legado ...................................................................................... 8
Tabela 1 - Investimento municipal na construção das instalações do PAN
(milhões de R$) ................................................................................................. 11
Tabela 2 - Previsão de partidas nas arenas da Copa de 2014 com riscos de se
tornarem “elefantes brancos” ......................................................................... 29
Tabela 3 - Média de público de ABC e América no Campeonato Brasileiro,
séries B e C (2008 – 2012) ................................................................................ 30
Gráfico 1 - Causas da redução do público nos estádios, segundo os torcedores
............................................................................................................................ 31
LISTA DE SIGLAS
BNDES – Banco de Desenvolvimento Econômico e Social
CIE – Centro de Iniciação ao Esporte
COI – Comitê Olímpico Internacional
COB – Comitê Olímpico Brasileiro
CPB – Comitê Paraolímpico Brasileiro
CTS – Centro de Treinamento de Seleções
DER – Departamento de Estradas e Rodagens
FIFA – Federação Internacional de Futebol Associado
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PAN – Jogos Pan-americanos
PEC – Praça de Esportes e de Cultura
PELC – Programa Esporte e Lazer da Cidade
RN – Rio Grande do Norte
SECOPA – Secretaria Municipal da Juventude, Esporte, Lazer e Copa do Mundo
da FIFA
TCM/RJ – Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro
TCU – Tribunal de Constas da União
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
2 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E SEUS LEGADOS ............................................. 7
2.1 CUSTOS DE SEDIAR UM MEGAEVENTO ........................................................ 11
2.2 ESPORTE E LAZER ........................................................................................... 14
2.3 POLÍTICA ESPORTIVA NO BRASIL ................................................................... 16
2.3.1 Política Nacional do Esporte ......................................................................... 16
2.3.1 Política Municipal do Esporte........................................................................ 18
3 LEGADO ESPORTIVO DA COPA 2014 PARA NATAL ......................................... 21
3.1 ARENA DAS DUNAS........................................................................................... 25
3.2 IMPACTOS EM NATAL........................................................................................ 27
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35
ANEXO A - PERGUNTAS PARA ENTREVISTA DO TCC ........................................ 40
ANEXO B - PERGUNTAS PARA ENTREVISTA DO TCC ........................................ 41
5
1 INTRODUÇÃO
O tema legado de megaeventos esportivos tem ganhado relevância a cada
disputa entre países para sediar as competições internacionais. Após a escolha do
Brasil para ser sede da Copa do Mundo de 2014 e, mais especificamente, a cidade
do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, tem proporcionado
debates acalorados, principalmente em relação ao legado que ficará para a
população e também para o esporte nacional, sobre quem serão os “vencedores e
perdedores” (PREUSS, 2007, p. 17) desses grandes eventos, como serão mantidas
as obras de grande porte realizadas para recebê-los, sobre como a população da
cidade poderá usufruir desse legado e como combater o dispêndio de recursos e o
encarecimento do valor final do orçamento estipulado para os eventos.
A análise dos legados englobam seis grandes dimensões: econômica;
ambiental; informação e educação; políticas públicas e cultura; símbolos memória e
historia; e legado do esporte, onde o questionamento que surge para a população da
cidade-sede é sobre o legado que ficará para o cidadão comum em consequência
do vultoso custo de um megaevento como as Olimpíadas, como esse legado será
utilizado para o benefício das populações envolvidas e para o fortalecimento do
esporte no imaginário do brasileiro (RUBIO, 2010).
Este trabalho de conclusão de curso pretende averiguar, de forma breve,
quais os possíveis legados esportivos que a Copa 2014 deixará para Natal/RN e
divide-se em duas partes. Na primeira, serão apresentados os tipos de legados
resultantes dos megaeventos esportivos, preparação das cidades-sede e/ou país
para recebê-los, buscando evitar que os investimentos a serem realizados para a
construção das instalações esportivas para as competições não resultem em
desperdício de dinheiro público como ocorreu nas obras dos Jogos Pan-Americanos
de 2007 e fazer breve introdução sobre a política esportiva no país e no município.
Já na segunda parte serão analisadas informações sobre qual a perspectiva de
legado esportivo que ficará para o natalense em consequência de ser uma subsede
da Copa e procurar elucidar qual será o uso que as instalações esportivas terão
após os jogos. Por fim, encerraremos com as considerações sobre o possível legado
e como a população da cidade poderá usufruir dele.
O estudo se constitui em uma pesquisa qualitativa exploratória que, segundo
Gil (1989, p. 44-45):
6
[...] têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e ideias, com vistas na formulação de problemas mais
precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...]
realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado
e torna-se difícil sobre ele elaborar hipóteses precisas e
operacionalizáveis.
As técnicas utilizadas neste estudo foram: 1. Pesquisa bibliográfica em
livros, artigos científicos, dissertações, teses e periódicos. 2. Pesquisa documental
de reportagens de jornal, revistas e sites especializados; documentos oficiais e
institucionais. 3. Análise qualitativa de discurso e de conteúdo da entrevista
semiestruturada realizada com dois atores sociais que por dois atores que atuam no
âmbito do tema da pesquisa.
Com o objetivo de descrever qual, como e quem irá usufruir do legado
esportivo no pós-copa, foram entrevistados dois atores sociais que atuam junto aos
projetos de execução dos quais irão resultar os legados: o secretário municipal da
Juventude, do Esporte e do Lazer e da Copa do Mundo de 2014 (SECOPA), Sr. Luís
Eduardo Machado Pereira, e o Prof. Dr. João Roberto Liparotti, professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenador do projeto UFRN na
Copa.
7
2 MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E SEUS LEGADOS
As cidades estão sempre em busca de grandes eventos que a promovam e
os megaeventos esportivos são uma excelente oportunidade para exibir uma
imagem positiva para o mundo, para revitalizar espaços degradados, realizar
grandes obras de infraestrutura. Os megaeventos são usados como o momento de
executar obras de grande impacto que esperam anos, muitas vezes décadas para
saírem do papel devido principalmente ao alto custo, que afetam diretamente o
cotidiano do cidadão por causa de sua grandiosidade e também por serem
impopulares ou possuírem objetivos duvidosos quando não contam com a
participação popular (RUBIO, 2010).
De acordo com Cashman (1999, 2002 apud RUBIO, 2010), o envolvimento e
compreensão da população são considerados “como fundamental para que o evento
em si possa deixar para a cidade um legado não só para os habitantes daquele
momento como para as demais gerações que poderão usufruir da infraestrutura
construída para essa finalidade [...]”, já que as benesses ou o ônus ficará para a
comunidade, que irá usufruir do legado ou arcar com o prejuízo. Dessa forma, a
temática passou a ser primordial por parte do Comitê Olímpico Internacional (COI) e
Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), organizadores dos maiores
eventos esportivos em escala global, na escolha da cidade ou país-sede onde a
participação popular se faz necessária,
Nesse sentido, Tavares (2008, p. 77-78) faz uma diferencial entre impacto,
definido por ser de “caráter mais imediato, uma duração curta no tempo e uma
possibilidade de valor ambivalente [...] pode ser controlado e medido”, enquanto
legado “engloba a ideia de longo prazo, menos imediato e uma possibilidade de
valor positivo [...] pode ser planejado”. Na busca para identificar os legados, Poynter
(2007, apud Mazo, Rolim e DaCosta, 2008, p. 118) usa as denominações de legado
hard e soft.
O legado hard é de caráter concreto, onde se enquadram as instalações
esportivas; centros de treinamento; vila para atletas; monumentos e instalações
temporárias montadas para o evento, como segurança, telecomunicações. Já no soft
é o capital simbólico, de caráter subjetivo: os conhecimentos adquiridos; memória do
8
evento; identidade cultural; prestígio; know how. Na literatura, autores como Tavares
(2008) e DaCosta (2008) se referem a esses legados como tangíveis e intangíveis.
Quadro 1 – Tipos de legado
Tangível (hard)
Intangível (soft)
Infraestrutura;
Confiança;
Reorientação dos espaços das cidades; Entusiasmo;
Aumento do conforto;
Reputação;
Novos tipos de uso dos terrenos e
Incremento do turismo nacional e
atividades econômicas.
internacional;
Status e orgulho local.
Fonte: Poynter (2007, apud MAZO; ROLIM; DACOSTA, 2008)
Portanto, não é coincidência o fato das 12 cidades que sediarão jogos da
Copa de 2014 no Brasil são polos turísticos do país, cada uma com suas
características e peculiaridades, seja a beleza das praias, a exótica natureza ou
polos comerciais e financeiros, na busca de atrair um capital que não viriam para as
cidades sem esse chamariz. Cada cidade procura realçar seus pontos fortes e criar
novos atrativos através do sucesso em sua realização. A promoção de eventos é
uma estratégia utilizada por gestores para atrair capitais, onde os eventos de caráter
internacional são os preferidos, por conferirem á cidade uma imagem mais
qualificada, e por atrair o turista com alto poder aquisitivo, dispostos a consumir bens
e serviços locais pagando com moeda forte (RAEDER, 2008)
Quando se pensa em megaeventos como os Jogos Olímpicos ou Copa do
Mundo, as instalações esportivas são critérios fundamentais que devem ser
construídas
seguindo
normas
rígidas,
com
publicações
que
descrevem
detalhadamente as características da instalação. Um exemplo claro é a exigência
por parte da FIFA de que, para estádios que sigam o seu padrão, não deve possuir
pista de atletismo em volta do gramado, pois a opinião da instituição é que:
Estas instalações não serão tão boas quanto um estádio construído
especialmente em função das dimensões de um campo de futebol
[...] os custos de construção e operação são muito altos na maior
parte dos casos e/ou comprometem a linha de visão de um ou de
ambos os esportes, mesmo com o maior nível de inclinação possível
dos assentos (FIFA, 2011, p. 44).
9
As instalações esportivas estão enquadradas entre os objetivos das cidades
que desejam ter um incremento turístico após o fim do evento podem elevar o nível
do esporte praticado no país, e ao mesmo tempo, um dos problemas que surgem
após o fim do evento é que essas instalações deixam de ser utilizadas pelas
pessoas mais carentes por causa dos altos valores dos ingressos, selecionando o
público frequentador com base na renda. Nesse ponto é que são analisados os
legados como positivo ou negativo. Preuss (2007, p. 16) afirma que “um ponto
crucial para entender legado é entender que um legado positivo para as classes
mais pobres pode ser um legado negativo para as classes mais ricas da sociedade,
os stakeholders”. Complementando, Filgueira (2008, p. 69) afirma que:
A intervenção de uma grande área visando a construção de grandes
arenas ou equipamentos voltados ao megaevento deve considerar
impactos ambientais, urbanísticos, econômicos, e sociais. O
planejamento, neste caso, deve buscar favorecer o estabelecimento
de redes de relacionamento, fomento à economia local, instalação de
equipamentos públicos essenciais e demandas habitacionais.
As competições podem ser de curta duração, mas as com consequências
para a cidade que recebe um megaevento são de longo prazo e atrairão, além da
visibilidade internacional, novos investimentos públicos e privados que não viria sem
eles incrementando a atividade econômica; o turismo, a rede hoteleira e a
qualificação da mão de obra do setor; infraestrutura das cidades-sede; e também
reestruturação de algumas áreas das cidades. Porém, se for calcado em obras
grandiosas e com perspectivas obscuras de utilização futura, pode gerar gastos
excessivos do poder público e não cumprir o papel do legado, proporcionando
beneficio para os moradores e se integrando ao lugar (RUBIO, 2010).
Além do legado físico dos megaeventos esportivos, uma preocupação cada
vez maior por parte dos organizadores é com o reconhecimento do atleta como
principal legado, por propagar o espírito olímpico e por causar admiração nas
crianças principalmente, o que fará com que estas tenham um maior interesse pelo
esporte (RUBIO, 2007). Seguindo esta linha do capital simbólico, em pesquisa
apresentada por Paraskevi (2007 apud MACHADO, RUBIO, 2007), as crianças
admiram um medalhista olímpico por os “considerarem um bom atleta, ser um bom
indivíduo, é um orgulho nacional ou possuir um bom fair play”. Ao responder sobre o
motivo para não gostar de um atleta medalhista, as respostas foram “mau
10
comportamento em público, uso de doping e possuírem temperamento desonesto”.
Quanto ao desejo de serem medalhistas, eles responderam que sim, “motivados
pela diversão da competição, mas também por fatores econômicos e pela glória”.
Por isso, um país como o Brasil, que será sede de grandes megaeventos
nos próximos anos e tem buscado se tornar uma potência esportiva, é fundamental
que haja a preocupação com o atleta como legado, para que os jovens,
adolescentes e crianças, principalmente, tenham quem admirar e que as façam ter
interesse em ser como os ídolos, de vencerem através do esporte. No entanto, fazse necessário que o legado esportivo não seja somente no esporte de alto
rendimento, mas também no esporte escolar, de participação, que faça parte da
formação da criança como cidadão, funcionando como uma forma de incluí-la na
sociedade e não somente em conquistar vitórias e medalhas.
É preciso observar que as sedes de megaeventos possuem diferentes
graus de desenvolvimento, principalmente hoje em que a FIFA se utiliza de um
revezamento de continentes para escolher o local da próxima Copa do Mundo, e
também porque a América do Sul receberá pela primeira vez uma edição de Jogos
Olímpicos do Rio, em 2016, onde há grande diferença em quesitos como
infraestrutura aeroportuária, sistema de transporte público de massa, participação e
responsabilidade social, em relação aos países desenvolvidos, fazendo com que os
investimentos variem em quantidade e no objetivo em que deva ser aplicado. Preuss
(2007, p. 15) afirma que “as cidades possuem diferentes pontos fracos e fortes em
relação à infraestrutura e aspectos sociais, quando estão sediando um evento.
Portanto, algumas cidades devem construir e evoluir mais em infraestrutura,
recursos humanos, e responsabilidade social, enquanto outras podem construir e
investir no seu alto nível”.
Assim sendo, essa diferença é explicitada observando-se os países que
sediaram as duas últimas edições da copa: Alemanha, em 2006, um dos países mais
desenvolvidos do mundo e fanático por futebol, e África do Sul, em 2010, país em
desenvolvimento com elevados níveis de pobreza e desigualdade social, onde o
futebol não é o esporte principal. A partir disso, complementando a ideia de Preuss,
Proni e Silva (2012, p. 4) afirmam que “países em desenvolvimento normalmente
requerem investimentos muito maiores para se prepararem para um evento desse
porte, aumentando consideravelmente os riscos e custos de oportunidade”.
11
Em suma, para construir as instalações e melhorar a infraestrutura para
receber o evento, deixa-se de lado uma possível construção de escolas hospitais,
residências populares para os mais carentes, melhoria no transporte público de
massa. Os maiores legados para os alemães talvez “tenham sido o fortalecimento da
identidade nacional e o orgulho cívico” (MANNING; PORSCHE, 2008 apud PRONI,
SILVA, 2012, p. 4), enquanto que para os sul-africanos “melhorou a percepção
internacional do país, impulsionou o turismo e gerou um sentimento de orgulho
nacional”. (PRONI; SILVA, 2012, p.5) Porém, o Brasil é um elo entre essas
situações: possui desigualdades e problemas sociais semelhantes à África do Sul, e
a paixão pelo futebol como tem a Alemanha, o possibilita resultados diferentes dos
estádios sul-africanos subutilizados e um incremento no futebol brasileiro, como
ocorreu no futebol alemão.
2.1 CUSTOS DE SEDIAR UM MEGAEVENTO
Mesmo que o saldo da organização do PAN 2007 tenha sido primordial para
que o Comitê Olímpico Internacional elegesse o Rio de Janeiro como sede dos jogos
de 2016, é preciso ressaltar os questionamentos sobre os custos e o aproveitamento
do legado resultante do megaevento, os processos judiciais de investigação das
principais obras e os atores envolvidos tanto na organização, como na construção
destas. O orçamento inicial de custo do evento era no valor de R$414 milhões, e no
final consumiu cerca de R$4 bilhões, custo superior à soma do valor das cinco
edições anteriores, que somadas, investiram R$ 2,1 bilhões em valores atuais
(TORRES, 2007).
Tabela 1 - Investimento municipal na construção das instalações do PAN (em
milhões R$)
Instalações
Esportivas
Estádio Olímpico
Arena Multiuso
Parque Aquático
Velódromo
Orçamento Valor
Inicial
Final
87,39
365,65
67,60
127,46
48,87
84,97
9,76
12,00
Custo final em relação
ao orçamento inicial (%)
418,41
188,55
173,88
123,01
Fonte: TCM/2009
Uma das quatro maiores edificações permanentes para o PAN 2007 foi o
Velódromo Municipal, construído por um dos maiores especialistas na área e que já
12
projetou vinte pistas, incluindo a dos jogos de Atenas 2004. A instalação possui pista
adequada para o clima tropical, de madeira siberiana, porém com a capacidade para
apenas 1500 pessoas, abaixo dos padrões olímpicos, mesmo com o interesse futuro
de a cidade sediar uma olimpíada (HISTORIAS..., 2013).
Na mesma reportagem, o engenheiro e arquiteto responsável pela
construção do velódromo alega que a limitação do orçamento obrigou que o teto
fosse sustentado por duas pilastras internas, porém, com espaço para a
remodelagem, caso o Rio de Janeiro viesse a ser escolhida como sede olímpica.
Falhas com permitir que o vento externo entre no local, montagem da pista e falta de
temperatura controlada foram usadas para a decisão demolir o atual velódromo e a
construção de um novo para as Olimpíadas.
Como justificativa para os erros e desperdício de dinheiro público, o
Ministério do Esporte resolveu doar o velódromo atual para a cidade de Goiânia, o
que aproveitaria menos de 15% da pista e com o custo de quase R$35 milhões
sendo que, para os jogos do Rio 2016, um novo velódromo será construído dentro
do parque olímpico. Especula-se que será uma das mais belas obras dos jogos, em
formato de capacete, ao custo de R$147 milhões (HISTORIAS..., 2013).
Por sua vez, o Estádio Olímpico João Havelange (popularmente conhecido
como Engenhão) administrado pela Cia Botafogo (ligada ao clube Botafogo Futebol
e Regatas) após vencer licitação do município, vinha tendo utilização satisfatória até
serem detectados problemas estruturais, que resultou em interdição por risco de
desabamento da cobertura. Além disso, alguns problemas devido o uso de matéria
prima de qualidade duvidosa e o estouro do orçamento para a construção do estádio
levaram à investigação das quatro obras principais por parte do TCM/RJ.
Em matéria do site do Globo Esporte, moradores relatam que a interdição do
Engenhão mudou negativamente a vida da comunidade que reside nas mediações
do estádio. Alguns deles montaram pequenos negócios, principalmente bares, que
funcionavam exclusivamente em dias de jogos. Após o fechamento do estádio,
muitos perderam a sua fonte de renda principal e passaram a conviver com o
aumento da violência na região. Com o estádio em funcionamento, a segurança na
região era maior e agora, sem a utilização da praça, a área se encontra em estado
de abandono. Enquanto há casos de moradores que conseguiram substituir parte da
renda familiar trabalhando na reforma do estádio, outros sofrem com problemas
psicológicos devido às perdas que o fechamento do local ocasionou.
13
O clube Botafogo F. R., administrador do estádio, também encara problemas
financeiros ocasionados pela interdição, para que seja realizada a recuperação da
cobertura do estádio, obra prevista para durar 18 meses. Devido a esse fator, o
clube perdeu o patrocínio da Ambev, parceira na administração do local; deixou de
negociar a cessão do naming rights do estádio para a Caixa, e de ganhar 30
milhões; deixou de ganhar a receita dos aluguéis para Flamengo e Fluminense
mandarem seus jogos no local; e obrigou o clube a ter que remanejar funcionários a
fim de evitar um número maior de demissões (SOARES, 2013).
A interdição levou o time a realizar jogos fora da cidade do Rio de Janeiro,
alguns em Volta Redonda/RJ, outros jogos com mandos de campo do Botafogo
foram disputados no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, além do clássico com o
Fluminense ter sido na Arena Pernambuco, enquanto o Maracanã era concluído e o
contrato de uso do local ser assinado junto à empresa que detém a concessão do
estádio.
Partindo desse pressuposto, tem-se um caso o desperdício de dinheiro
público referente às obras para a Copa 2014, referente à construção do estádio de
Rio Doce, bairro carente homônimo da cidade de Olinda/PE (ALVES, 2013). A
histórica cidade pernambucana pleiteava um Centro de Treinamento de Seleções
graças ao estádio que estava sendo construído. Orçado em R$ 7,1 milhões, a obra
já consumiu R$ 5,2 milhões de sua verba total e o que seria um marco para a
revitalização da região, atualmente encontra-se em estado de abandono, com as
obras paralisadas desde outubro de 2012.
Nas palavras deputado federal Augusto Coutinho à reportagem da ESPN “O
pior de tudo é que a estrutura de concreto está com sinais de rachadura. Ou seja,
pode comprometer toda a obra. Está tudo completamente parado, o mato cresceu e
os moradores reclamam de drogas e prostituição”. Isto é, um equipamento que seria
um meio de buscar a inclusão social da comunidade e poderia ser um marco na
revitalização da região, passou a gerar um problema de segurança pública,
tornando-se mais um exemplo de mau uso de dinheiro público.
No sentido de evitar desperdícios como no exemplo citado, o Tribunal de
Contas da União realizou no ano de 2012, um estudo denominado “Levantamento
dos riscos da Copa 2014”, onde um dos pontos analisado foi em relação à
coordenação e supervisão das obras por parte do Ministério do Esporte. Os riscos
ressaltados
nessa
análise
foram:
ausência
de
informações
de
prazo,
14
desconhecimento dos motivos que atrasam o andamento das obras e que geram
eminente risco de encarecimento final na tentativa de sanar problemas ligados ao
atraso do cronograma do contrato. Para amenizar esses riscos, o Ministério do
Esporte informou detalhadamente que a governança das ações da Copa, a
fiscalização das ações definidas na Matriz de Responsabilidades e o método de
obter dados têm sido constantemente aperfeiçoados (TCU, 2012).
2.2 ESPORTE E LAZER
A atenção por parte do governo brasileiro em relação ao esporte iniciou em
1937, com a criação da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e
Cultura, no governo de Getúlio Vargas. Somente em 2003, no governo Lula, a
temática Esporte passou a ter uma pasta exclusiva, o Ministério do Esporte, para
fomentar políticas públicas de uma área que só cresce em importância para as
nações. O marco fundamental da atividade do ministério é garantir e assegurar a
todos a prática de atividades físicas e de lazer como uma forma de mudar o quadro
de exclusão e vulnerabilidade social de uma grande parcela de brasileiros.
O esporte e o lazer contribuem diretamente na formação e integração do
indivíduo na comunidade, na a sociedade, e também influi diretamente na qualidade
de vida, podendo elevar a autoestima, solidariedade, cooperação, tolerância,
convívio em grupo, no combate a criminalidade e contribui diretamente para um
estilo de vida saudável. Mesmo não sendo a solução de problemas sociais nem
devendo ser utilizado para camufla-los, ambos são fatores de desenvolvimento
humano. Após a escolha do Brasil para ser sede da Copa do Mundo de 2014 e o Rio
de Janeiro, sede da Olimpíada e Paraolimpíada de 2016 (além de ter sediado o PanAmericano de 2007, Jogos Mundiais Militares de 2011), destacando que o país será
apenas o quarto na história a hospedar os dois megaeventos consecutivamente, o
discurso e os gastos em nome do esporte estão no centro dos holofotes.
“Nós trabalhamos para o inútil”. Foi nessa linha de pensamento que o
professor doutor Pablo Waichman1 (Universidade de Buenos Aires), iniciou o
seminário sobre esporte e lazer. Atualmente, o nosso tempo de lazer não nos dá a
1
Palestrante que abriu o XVII Fórum de Gestão Desportiva e de Lazer e Qualidade de Vida, realizado
em Natal, no período de 29 a 31 de agosto de 2013.
15
oportunidade de aproveitar o ócio apenas, ele é apenas um período em que
descansamos para poder voltar a produzir com mais vigor após essa pausa e/ou
férias. Assim funciona o recreio no colégio desde a infância; o recesso escolar; as
férias do trabalho, onde os que têm melhores condições financeiras programam
viagem com guias, roteiros pré-definidos, sem tempo para divagar ou sair livremente
com destino incerto. Aos que não têm essa disponibilidade financeira, resta negociar
parte de suas férias e/ou desfrutar do restante na frente da TV, esperando seu
programa favorito.
Historicamente, na esfera do trabalho, a seriedade e a disciplina não admitia
“passatempos” e o tempo livre foi justificado como necessário ao repouso para a
manutenção e reprodução da força de trabalho. A importância do lazer como
fenômeno social é resultado das demandas da classe trabalhadora europeia,
principalmente da Inglaterra, por um maior tempo de “folga” e, devido a isso, surgiu a
necessidade de organizar atividades de lazer com tempo e local apropriado e com a
separação entre tempo livre e tempo de trabalho (BUENO, 2008).
Em muitos casos, o lazer é negligenciado por falta de opções, como não
haver uma estrutura disponível na comunidade para essas atividades, por não ter
condições de custear um clube ou academia para praticar uma atividade física ou
por ter que ganhar o seu sustento no horário em que seria para o lazer, além da
concorrência com o espectador do esporte, que acompanha as modalidades do sofá
de sua casa e/ou internet. O desenvolvimento do esporte tem forte relação com o
desenvolvimento do tempo livre e o lazer, sendo este resultado da conquista social
dos trabalhadores em relação aos controles burgueses e/ou governamentais.
Conforme Bueno (2008, p. 11-12):
Diversos estudos apontam que o estabelecimento formal do direito
ao tempo livre pela classe operária gerou polêmica e apreensão no
mundo burguês, pois nada garantia que esse tempo seria preenchido
por atitudes socialmente aceitas pela burguesia. O receio era que
fosse destinado a atividades degradantes ou pior, para tramar contra
a própria burguesia.
O esporte e lazer é um direito garantido na Constituição Federal de 1988:
“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição“ (Artigo 6º da Constituição Federal);
16
e “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais como
direito de cada um (...)” (Artigo 217º da Constituição Federal), e por isso, é dever do
Estado garanti-lo a sociedade, independentemente da classe socioeconômica do
indivíduo.
Com o objetivo de descrever qual, como e quem irá usufruir do legado
esportivo no pós-copa, foram entrevistados dois atores sociais que atuam junto aos
projetos de execução dos quais irão resultar os legados: o secretário municipal da
Juventude, do Esporte e do Lazer e da Copa do Mundo de 2014 (SECOPA), Sr. Luís
Eduardo Machado Pereira, e o Prof. Dr. João Roberto Liparotti, professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenador do projeto UFRN na
Copa.
2.3 POLÍTICA ESPORTIVA NO BRASIL
Observaremos a seguir as divisões da Política Nacional do Esporte e as
diretrizes da Lei Orgânica do município de Natal sobre esporte e lazer.
2.3.1 Política Nacional do Esporte
O Ministério do Esporte divide a política esportiva brasileira em esporte
educacional, esporte de participação e esporte de alto rendimento:

Esporte educacional
É o esporte voltado diretamente ligado ao ensino e aplicação da educação
física no desenvolvimento físico, psicológico, capacidades e habilidade dos alunos,
principalmente para crianças e jovens dos ensinos fundamental e médio, onde
atividades como danças e jogos (como o xadrez p. ex.) também fazem parte dessa
vertente, tendo continuidade nas instituições de ensino superior. Fora das escolas
formais, engloba academias, clubes, escolinhas de diferentes modalidades, onde a
maioria é de futebol. Com a prática do esporte escolar, alguns jovens despontam
potencial para o alto rendimento e nesse ponto é que surge o debate sobre a lógica
17
voltada para descobrir atletas para o esporte profissional em vez da prioridade de
educar. (BUENO, 2008)
Em nível federal, o programa Segundo Tempo, base da atuação da
Secretaria Nacional de Esporte Educacional, é voltado para escolas públicas e
comunidades localizadas em áreas de risco social, proporcionando maior qualidade
de vida e um incentivando à formação de crianças, adolescentes e jovens nos
preceitos da cidadania. Busca a democratização do esporte e inclusão social por
meio dele. É praticado no turno oposto ao das aulas formais, onde os alunos
praticam atividades físicas durante duas horas por dia, três vezes na semana,
recebendo merenda, uniforme e material esportivo. O programa também capacita
professores de Educação Física das escolas de nível fundamental e médio para
coordenarem o programa, bem como estagiários e estudantes de graduação para
atuarem como monitores. (BUENO, 2008)

Esporte de participação
Caracteriza-se pelo uso do tempo da população em atividades que
proporcionam bem estar físico e psicológico e também incluem em ações voltadas
para a saúde publica. Pode ser praticada por meio do esporte formal ou informal,
onde o lazer e a socialização são os alvos, garantindo o direito social ao esporte e
lazer a crianças, jovens, adultos idosos e pessoas com deficiência.
Em escala nacional, o Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) atua em
parceria com estados e municípios além de organizações do terceiro setor, sempre
por meio de convênios, integrado a outras políticas públicas de desenvolvimento
humano e inclusão social, com o objetivo de suprir a demanda social, ampliar,
democratizar e universalizar o acesso à prática e ao conhecimento do esporte
recreativo e de lazer à populações carentes e em vulnerabilidade socioeconômica

Esporte de alto rendimento
Trata do esporte competitivo, a busca de recordes, vitórias e a glória, onde
as disputas são feitas conforme as regras formais da modalidade. Faz parte do alto
rendimento atletas com dedicação integral, ou seja, profissionais do esporte,
contratados de entidades esportivas, quase sempre com patrocinadores. Aqueles
18
que ainda não adentraram no profissionalismo contam muitas vezes com bolsas
para dedicar parte do tempo ao esporte, onde as metas de resultado devem ser
cumpridas e também podem contar com patrocínio. É o esporte espetáculo das
disputas de campeonatos, torneios com calendário pré-definido sustentam o esporte
de alto rendimento. (BUENO, 2008)
É responsabilidade da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento,
que tem duas atribuições básicas: fomentar o treinamento e a formação de atletas
de ponta e organizar megaeventos esportivos no Brasil. A estrutura do esporte de
alto rendimento brasileiro é liderado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o
Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), seguido das confederações dos diferentes
esportes, das federações estaduais e, na base, dos clubes, tanto nos esportes
olímpicos como paraolímpicos.
2.3.1 Política Municipal do Esporte
Em nível local, as diretrizes sobre esportes e lazer encontram-se na Lei
Orgânica do Município do Natal, mais especificamente no capítulo IX, Do Desporto e
Lazer (1990, p. 43-44) do artigo 170 a 174, onde destacamos:
Art. 170 - O Município tem o dever de fomentar as práticas esportivas
de competição, formais, não formais e de lazer, como direito de
todos, enfatizando o atletismo como atividade básica, com vistas à
emulação e à integração entre os bairros, mediante:
I - criação, ampliação e manutenção de áreas destinadas à prática
esportiva e ao lazer comunitário;
VI - incentivo e apoio às ações voltadas para a melhoria da qualidade
do ensino-aprendizagem de educação física;
VII - promoção da prática desportiva e de lazer nas escolas, com
atividades extracurriculares e sem prejuízo das atividades escolares
regulares;
VIII - integração dos centros desportivos e das áreas de lazer com as
escolas da rede municipal;
XII - a garantia de acesso da comunidade às instituições esportivas e
de lazer das escolas públicas municipais.
Em entrevista com o secretário municipal, foi perguntado quais as ações que
estão em prática para que referida Lei Orgânica seja aplicada, mais especificamente
dos parágrafos “VII - integração dos centros desportivos e das áreas de lazer com as
escolas da rede municipal” e “IX - a garantia de acesso da comunidade às
instituições esportivas e de lazer das escolas públicas municipais”, já que muitas
19
escolas sequer tem esse espaço para a prática do esporte, sendo que esses fatores
estão diretamente ligados com os esportes escolar e educacional, o entrevistado
respondeu que:
[...] as quadras localizadas na parte interna das escolas são de
responsabilidade da secretaria de Educação e que somente as que
são em espaços abertos da cidade fazem parte da atuação da
secretaria de Esporte, que cuida do uso e manutenção dessas
praças. Não há uso escolar os equipamentos já construídos, pois
como foram construídos há bastante tempo e de forma aleatória,
raramente estão nas proximidades da escola, havendo esse tipo de
uso somente nos casos em que coincide de existir uma escola perto
da quadra/campo nas mediações. Há o conhecimento por parte da
secretaria de algumas atividades nessas quadras. Informou também
que a prefeitura pretende cadastrar 16 escolas no programa
Segundo Tempo [do Ministério do Esporte], programa que trabalha o
esporte no contratempo da escola, onde a exigência para o pleito é
que as escolas devem ter quadras.
Em relação ao esporte de participação, o secretário comentou sobre a
utilização dos equipamentos esportivos de responsabilidade da secretaria, onde
afirmou que:
[...] o uso das quadras e campos da cidade deve ser com gestão
compartilhada com a comunidade. Sabemos que vários bairros têm
projetos de escolinhas, principalmente de futebol, mas também de
outros esportes. Disse que há 500 crianças cadastradas na
secretaria para receber material esportivo e utilizar esses espaços
públicos e que há problemas em com algumas praças, que estão
tendo uso privado. Comentou que há um projeto a ser implantado
pela pasta de esporte, onde a ideia é ocupar um turno do dia das
quadras e campos do município com atividades esportivas na
comunidade, e que a gestão compartilhada é interessante, pois é a
própria comunidade que faz uso do equipamento e essa gestão
serve para combater a apropriação por parte de terceiros, cobrando
aluguel para usufruto do equipamento.
Já o questionamento feito ao professor foi sobre a política nacional do
esporte com um todo, o que precisa ser mudado na política esportiva para que o
lazer e o esporte escolar recebam mais atenção por parte dos governos, já que hoje
o foco é o alto rendimento, ainda mais com os megaeventos que o Brasil sediará nos
próximos anos, o professor entende que:
Não existe política esportiva nem para o lazer, nem para o esporte
escolar, muito menos para a Educação Física enquanto área. Não
existe também o foco no alto rendimento, estamos muito distantes,
nem sequer começamos a definir as prioridades e os meios para
alcançá-las a médio e longo prazo. Os atletas que veremos no
mundial de futebol e jogos olímpicos foram preparados há mais de 12
anos atrás e com uma legislação que permite reeleições infindáveis
de presidentes desde o COB até as federações de esportes[...]
20
Comentou também sobre um dos problemas para que não haja maior
comprometimento em aplicar o que determina a Política Nacional do Esporte:
[...] com uma legislação que permite reeleições infindáveis de
presidentes desde o Comitê Olímpico Brasileiro, passando por todas
as federações de esportes que formam as confederações, que são
geridas por algumas poucas famílias por vários anos que se mantém
no poder (assim como os canais de mídia brasileiros que deviam ser
concessões públicas, mas estão sob o poder de poucas famílias que
as receberam em troca de apoios e favores durante muitos anos no
nosso país).
E faz uma sugestão para o uso social da Arena das Dunas:
[...] o futebol amador, de base (sub-17, sub-18, sub-21 e sub-23),
classista, militar, estudantil e universitário, feminino e paraolímpico
também poderão se beneficiar caso exista uma programação de
datas públicas para a realização de eventos, como por exemplo,
finais destes campeonatos com portões abertos e/ou convites a
todas as escolas públicas da cidade e do RN.
No Brasil, o esporte segue a tendência de busca por resultados para servir
como vitrina do desenvolvimento político-econômico do país, pois mesmo tendo leis
e programas para o uso do esporte e do lazer como estratégia de inclusão social de
crianças e jovens em situação de risco, exercício da cidadania, elevar a qualidade
de vida da população, o foco principal é no esporte de alto rendimento, em
detrimento do esporte lúdico para auxiliar na formação educacional e como atividade
física da população, sendo inclusive uma política que tem efeitos benéficos na área
de saúde pública.
21
3 LEGADO ESPORTIVO DA COPA 2014 PARA NATAL
O ministro do esporte Aldo Rebelo foi questionado2 sobre o cenário esportivo
brasileiro pós-megaeventos em relação ao legado estrutural e impacto sociocultural
que ficará para o país, além das cidades-sede Ele respondeu que o objetivo é a
valorização do esporte educacional e não só o alto rendimento, e que isso será feito
através da “nacionalização da copa e olimpíadas” através do programa dos Centros
de Iniciação ao Esporte, que integra o PAC 2. Voltado para os esportes olímpicos e
contempla cidades com mais de 100 mil habitantes, no caso das regiões Sul e
Sudeste, e de 70 mil habitantes para as demais regiões e o Plano Brasil Medalhas,
visa à construção de 22 centros de treinamento para o esporte de alto rendimento.
O padrão das doze arenas multiuso construídas e/ou reformadas para sediar
jogos da Copa, elas devem seguir o programa da FIFA chamado Gol Verde (Green
Goal), que a partir da Copa da Alemanha passou a ser exigido das futuras sedes,
visando à sustentabilidade através do uso de energia elétrica, uso de tecnologias
para economia de água em instalações sanitárias na fase de construção e uso
responsável de água potável para irrigação; emprego de recursos renováveis e
materiais biodegradáveis; redução de lixo produzido durante as partidas; e que
incentivem principalmente o uso do transporte público de massa como meio de
locomoção para chegar aos mesmos (FIFA, 2011). Além disso, a própria utilização
dos novos estádios nas competições locais e nacionais após o fim da Copa implicará
numa mudança sociocultural para os torcedores e gestores, pois a infraestrutura
dessas arenas é muito distante da realidade da absoluta maioria dos arcaicos
estádios brasileiros.
O uso permanente das instalações de serviços e apoio em atividades em
atividades
não
necessariamente
desportivas
depois
do
encerramento
das
competições do megaevento foi proposto no “princípio de logística reversa”
(DACOSTA, 2011). Existem iniciativas em estádios brasileiros que devem se repetir
com as arenas da Copa, como: locação para shows, convenções e eventos;
implantação de Campus Universitário (parceria entre a Universidade Gama Filho e o
estádio João Havelange no Rio de Janeiro); construção de bares e restaurantes
2
Em entrevista à publicação Cadernos FGV Projetos (jun/jul, 2013)
22
temáticos (caso do Estádio Olímpico em Porto Alegre e Morumbi em São Paulo);
criação de shoppings e áreas de entretenimento (previsto no projeto de reforma do
estádio Beira-Rio em Porto Alegre); inauguração de espaços culturais como museus
e galerias (caso do Museu do Futebol no Pacaembu em São Paulo) (DACOSTA et
al, 2013).
Na opinião do secretário municipal3, o principal legado esportivo da Copa
para Natal, o belo estádio Arena das Dunas, a principal obra construída para a
realização dos jogos, mas não somente o único o equipamento desportivo que ficará
para a sociedade. Porém, não foi claro em relação ao uso no pós-copa, deteve-se a
comentar que o estádio não será aberto somente em dias de jogos devido à sua
multifuncionalidade, que permite além da realização de eventos esportivos
atividades não esportivas como eventos sociais, culturais, de negócios, lazer e
entretenimento.
Nas palavras do secretário, um dos grandes legados para Natal, da
realização da Copa do Mundo será os Centros de Iniciação ao Esporte (CIE). A
cidade solicitou quatro, o máximo que a cidade poderia captar e, extra oficialmente,
o Ministério do Esporte sinalizou que iria conceder dois deles à cidade. Natal ainda
pode receber os outros dois no início de 2014. Eles serão construídos inicialmente
em dois dos seguintes bairros: Nordeste (zona Oeste), Gramoré, Alvorada I e Brasil
Novo (os três últimos na zona Norte da cidade).
O objetivo do CIE é ampliar a oferta de infraestrutura de equipamento
público esportivo qualificado, incentivando a iniciação esportiva em territórios de
vulnerabilidade social em áreas das grandes cidades brasileiras. O projeto integra,
num só espaço físico, atividades e a prática de esportes voltados ao esporte de alto
rendimento, estimulando a formação de atletas entre crianças e adolescentes. Em
Natal será instalados o modelo II do CIE, que necessita de terreno com 3.500 m²,
com 2.750 m² de área construída que inclui ginásio poliesportivo (arquibancada para
195 pessoas); área de apoio (administração, sala de professores/técnicos,
3
Em palestra no XVII Fórum de Gestão Desportiva e de Lazer e Qualidade de Vida,
realizado em Natal, no período de 29 a 31 de agosto de 2013.
23
vestiários, chuveiros, enfermaria, copa, depósito, academia, sanitário público) e
quadra externa descoberta (BRASIL, 201?).
Além das quatro unidades do CIE serão construídas duas Praças dos
Esportes e de Cultura (PEC), nos bairros de Felipe Camarão, na Zona Oeste, e
Lagoa Azul, na Zona Norte de Natal. O modelo de PEC busca integrar em um
mesmo espaço físico, programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer,
formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços assistenciais, políticas
de prevenção violência e inclusão digital, de modo a promover a cidadania em
territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras (BRASIL, 201?).
As duas PEC em construção também são do modelo II, que necessita de
3.000 m² de área total e 1.034,46m² de área construída e contará com dois edifícios
multiuso dispostos numa praça de esporte e lazer, com os seguintes equipamentos:
CRAS, salas multiuso, biblioteca, telecentro, cineteatro/auditório com 60 lugares,
quadra poliesportiva coberta, pista de skate, equipamentos de ginástica, playground
e pista de caminhada. A obra é orçada em R$2,02 milhões.
O aspecto positivo da distribuição dos equipamentos é que eles estão
localizados nas duas zonas da cidade carentes de infraestrutura mínima em todos
os quesitos tidos como “mais importantes”: saúde, educação, segurança, moradia,
saneamento básico, e como o esporte/lazer é sempre relegado para segundo plano,
praticamente não existe equipamentos esportivos e culturais nessas zonas da
cidade, e quando existe algum, as condições para o uso geralmente são precárias.
De acordo com informações colhidas no site do Ministério da Cultura, as duas
construções estão em andamento e com 34,10% e 64,37% do financiamento
executado, respectivamente, sendo que a PEC – Felipe Camarão conta com uma
contrapartida do município, enquanto a unidade Lagoa Azul é totalmente financiada
pelo Governo Federal.
Outra instalação esportiva que está sendo construída na cidade localiza-se
na UFRN, um dos 22 centros de treinamento para o alto rendimento que o Governo
Federal pretende construir no país. A candidatura da universidade como Centro de
Treinamento de Seleções (CTS) possibilitou que a captação de recursos para a
recuperação do parque esportivo, o mesmo desde a sua construção. A pista de
atletismo teve inauguração extraoficial para a disputa dos Jogos Escolares da
Juventude, realizados no início do mês de setembro. E, além da construção da pista
e o campo de futebol, serão construídas arquibancadas, academias, ampliação do
24
Ginásio de Esportes e reforma das piscinas e instalações elétricas (MINISTRO...,
2013).
Questionado sobre quais seriam os ganhos efetivos para a comunidade,
acadêmica e externa, ocasionados pela candidatura da UFRN como CTS, o prof.
Liparotti explicou que:
[...] a candidatura para que a UFRN se torne Centro de Treinamento
Oficial na Copa do mundo FIFIA 2014 foi vista em 2010 como
oportunidade de captação de recursos federais para a modernização
de todo o parque poliesportivo da instituição. O projeto é ousado e
em longo prazo inclui completa transformação das instalações em
espaço público aberto à comunidade nos feriados, finais de semana,
comunidade em geral, como novo espaço de lazer (pistas de
caminhada, ciclovias, quadras poliesportivas, piscinas com
vestiários), centro de alto rendimento (Atletismo, Futebol e esporte
Paraolímpico), Eco-estádio com instalações completas com ações
sustentáveis e replantio da Mata Atlântica em todo campus (45 mil)
pelos próximos 11 anos, para se tonar zona livre de veículos
poluentes.
Quanto ao uso desse complexo esportivo da UFRN, que será reformado
devido à proposta de ser um dos CTS da FIFA, ele comentou:
Como a definição de legados é o que fica para a população após um
megaevento, toda a comunidade externa e universitária poderá se
beneficiar das instalações nos próximos anos, desde que a se
profissionalize as funções e não sejam mantidas as atuais
sobreposições e distorções nos setores [da UFRN] com cargos
ocupados por indicação e sem a devida formação e experiência nos
administradores e equipe gestora. A reitoria constituiu uma comissão
para análise e propostas para o setor recentemente.
Ademais, serão reformadas 26 praças esportivas em todas as zonas da
cidade, entre quadras e campos de futebol, com destaque para um equipamento
tradicional da cidade e que está fechado há dois anos: o Palácio dos Esportes, que
completa 50 anos em 2013. O espaço será adequado às normas de acessibilidade,
receberá piso emborrachado semelhante ao do Ginásio Nélio Dias, o principal do
estado. Conforme o secretário, “a quadra não poderá ser ampliada para as medidas
oficiais para futsal e handebol por se tratar de um prédio antigo, mas ela poderá ser
utilizada para jogos de vôlei, basquete e artes marciais.” (REFORMA..., 2013).
25
3.1 ARENA DAS DUNAS
A Arena das Dunas sediará quatro jogos da 1ª fase da Copa 2014, terá a
capacidade de 42 mil lugares durante a copa (e 32 mil no pós-copa) e custará de
R$417 milhões. Obra realizada através de uma Parceria Público-Privada firmada
entre o Governo do Estado e a construtora OAS, onde foi feito um empréstimo de
300 milhões, realizados junto ao BNDES e mais R$100 milhões em recursos
próprios. A mesma empresa será a administradora da nova arena nos próximos 20
anos. Como o custo de manutenção é cerca de 10% do valor do estádio, a nova
arena irá custar mais de R$1 bilhão na somatória do período de manutenção mais o
valor da construção. Eis a forma de pagamento:
Nos primeiros 11 anos de funcionamento do estádio serão
prestações mensais de R$ 9 milhões. Do décimo segundo ano até o
décimo quarto ano, serão R$ 2,7 milhões/mês de prestação. Nos três
últimos anos do contrato de financiamento, o Governo pagará à OAS
prestações mensais de R$ 90 mil. Ao final doa contrato de 20 anos,
incluindo os três de carência, o Governo do Rio Grande do Norte
terá desembolsado R$ 1.288.400.000, ou seja, o equivalente a (3)
três Arena das Dunas. (DANTAS, 2011, grifo meu)
O Governo do Estado é o avalista do empresário das OAS junto ao BNDES.
Como garantia para o pagamento do empréstimo da OAS, o avalista é o Governo do
RN, que deu como garantia bens móveis, considerados insuficientes pelo BNDES, o
que obrigou o Estado a depositar R$70 milhões, valor mínimo do fundo garantidor.
Conforme o Contrato de Concessão Administrativa N.º001/2011 (2011, p. 30),
firmado entre o DER (Governo do Estado) e a Arena das Dunas Concessão e
Eventos, o fundo é instituído da seguinte forma:
27.4.3. Para fins específicos da garantia da CONTRAPRESTAÇÃO,
o PODER CONCEDENTE destinará a arrecadação dos créditos
decorrentes de royalties e participação especial, relacionados à
exploração de petróleo e gás natural, a que tem direito, no valor
mínimo de R$70.000.000,00 (setenta milhões de Reais) nos
seguintes prazos:
a) R$15.000.000,00 (quinze milhões de Reais) antes da data de
assinatura do CONTRATO;
b) R$55.000.000,00 (cinqüenta e cinco milhões de Reais) aportados
em vinte e quatro parcelas mensais iguais e subseqüentes a
assinatura do presente CONTRATO.
26
A fonte, mais que segura, da renda para o fundo: os royalties que a
Petrobrás pagará pela extração de petróleo no RN, “cerca de R$ 250 milhões por
ano. Então, parte deste valor vai garantir o pagamento da OAS pela Arena das
Dunas” (SEGALLA, 2013). Ou seja, a construtora solicita o empréstimo ao Governo
Federal com o Estado avalizando o empréstimo com seu patrimônio e royalties.
Nas palavras do procurador Luciano Ramos, do Ministério Público de Contas
do RN, se a lucratividade mínima do administrador da arena não for alcançada, o
contrato determina: “no caso do Rio Grande do Norte e da Arena das Dunas, esses
eventuais custos extras ao Estado serão pagos aumentando os valores mensais
cedidos à empreiteira ou ainda ampliando o período de concessão.” (SEGALLA,
2013)
Em relação o uso da arena pós-copa, o secretário municipal falou que ainda
“não há projetos com esse fim porque a prefeitura não é a dona do estádio, como
era o caso do Machadão” e ressaltou que:
[...] pelo fato do município ter cedido a área onde foi construída a
arena sem uma contrapartida por parte da OAS, sem que quaisquer
equipamentos esportivos fossem construídos em outras áreas da
cidade, foi de grande prejuízo para a população. E para que futuros
projetos sejam aplicados na arena será necessário realizar parcerias
com o estado, o que não existe no momento. O que há é uma
conversa com a OAS para que a cidade seja beneficiada de alguma
forma pela perda das duas instalações sem uma contrapartida para o
município, pois a prefeitura de fato e de direito é quem representa a
população da cidade. A meta é ter um acesso a ações e espaços da
arena de uma forma menos burocrática.
Na opinião do professor, o maior legado esportivo será mesmo a arena, pois:
É um estádio maior, mais seguro e moderno, com grama de
qualidade e manutenção adequada, podem trazer legados esportivos
para o futebol se houver mudança radical dos dirigentes dos clubes
esportivos, avanços na legislação e regulamentos dos jogos (como
os propostos pelos jogadores do Bom Senso FC) e se as respectivas
federações forem gerenciadas de forma profissional e com
responsabilidade jurídica dos atos. Uma parceria público-privada se
for regulada e mantida com equilíbrio para as duas partes, também
pode trazer benefícios com a promoção de jogos e espetáculos
esportivos em maior quantidade e qualidade. Ainda não sabemos
como a parte pública estará representada.
Ainda de acordo com o professor, em relação ao futebol, o maior beneficiado
será “[...] o América, que não tem estádio próprio e poderá voltar a jogar na capital
27
evitando desgastes físicos e fisiológicos enormes em deslocamentos, diminuindo o
tempo de treino, de descanso e recuperação”.
Porém, na opinião do presidente da FNF, em contraponto à construção de
uma grandiosa arena em Natal, seria mais interessante construir pequenos estádios
no interior do estado, buscando aumentar o nível técnico dos demais clubes em vez
de centralizar as atenções somente em ABC e América (FIGUEIREDO; ARAÚJO,
2013). Enquanto Natal terá uma arena multiuso de primeiro mundo, cidades
importantes como Mossoró e Caicó, que tiveram clubes campeões estaduais nas
duas últimas décadas, possuem estádios precários e que sofrem frequentes
interdições por parte dos órgãos competentes devido ao nível de degradação da
infraestrutura.
A precariedade dos estádios Nogueirão e Marizão, localizados em Mossoró
e Caicó, respectivamente, o secretário estadual de esporte alegou4 que um fator que
interfere na resolução desses problemas é o fato dos estádios não serem de
propriedade do Governo do Estado. Há o interesse por parte da secretaria que essas
praças sejam “estadualizadas” para que o governo possa recuperá-las e gerar
condições mínimas para que possam ser utilizadas em competições profissionais e
não menos importante, na realização de campeonatos amadores buscando revelar
talentos ou para a simples prática do lazer.
3.2 IMPACTOS EM NATAL
Para a construção da Arena das Dunas, foram demolidos três equipamentos
esportivos que existiam na região, estádio de futebol, ginásio poliesportivo
Machadinho e kartódromo, que além de serem de grande importância para o
desporto potiguar eram marco arquitetônico da cidade, como o caso do estádio
Machadão, também conhecido como o “poema de concreto armado”. Todas as
decisões tomadas sem qualquer consulta à sociedade.
4
Em palestra no XVII Fórum de Gestão Desportiva e de Lazer e Qualidade de Vida, realizado em
Natal, no período de 29 a 31 de agosto de 2013.
28
A demolição do Machadão sem ao menos preservar uma fachada, como foi
feito em Wembley, em Londres, p. ex., foram demolidos junto com os escombros, um
símbolo arquitetônico da cidade, ficando apenas no imaginário dos frequentadores e
dos admiradores de sua arquitetura. Para substituir o estádio será construída uma
arena multiuso que rompe com o passado desenvolvimentista, onde os estádios
eram grandes, monumentais, voltados apenas para o futebol, enquanto a tecnologia
das novas arenas busca o uso da praça por diferentes modalidades e tipos de
público, com uma capacidade menor e com mais conforto (CAMPOS; AMARAL,
2013), onde o objetivo é fidelizar o torcedor como um cliente, onde ele tem que se
sentir à vontade, voltar, recomendar a amigos, trazer a família.
No caso do ginásio Machadinho, que foi construído em 1992, ele sediou
diversos eventos nacionais e alguns internacionais de diferentes modalidades e bem
antes de ser cogitada a sua demolição, estava com a estrutura de sustentação da
cobertura seriamente comprometida. Antes mesmo de ser demolido, o equipamento
que viria a ser seu substituto foi construído, o ginásio Nélio Dias. Localizado na zona
Norte da cidade, que tem 300 mil habitantes, o ginásio possui capacidade para 10
mil pessoas e setecentas vagas de estacionamento.
Tem estrutura bastante elogiada pelas comissões esportivas que utilizaram o
local e uma ambiguidade relacionada à sua construção: negativa porque a cidade já
contava com um ginásio de grande porte e que se encontrava sem manutenção, não
seria necessário erguer outro, numa área de difícil acesso principalmente se for
comparado ao local anterior; e positiva também por ser mais afastado, pois serviu
para descentralizar as praças esportivas, que se situavam numa mesma área, para
outra onde não existem equipamentos semelhantes em uma região populosa e
carente de equipamentos esportivos, com o mérito de ter sido construído um
complexo cultural-esportivo no entorno do local.
Um caso ainda sem resolução é o do kartódromo Geraldo Melo, construído
em 1989 em um terreno cedido pelo Governo do Estado, sedia há mais de 20 anos
competições regionais e na formação de pilotos, que foi demolido no início de 2013
para dar lugar ao estacionamento da arena, com capacidade para 1300 vagas e sem
qualquer perspectiva em curto prazo sobre a construção de um novo equipamento
esportivo. Entre os pilotos formados no local, o destaque é Victor Uchoa, atual
campeão brasileiro de Kart em 2010 e vice-campeão em 2012, que assim como os
pilotos menos famosos, encaram dificuldades para treinar, tendo que se ir treinar na
29
pista mais próxima localiza-se em Recife ou treinar em simuladores, o que
compromete o nível de competição.
Segundo o secretário municipal:
[...] o local do antigo kartódromo não será mais para o
estacionamento da Arena das Dunas, agora abrigará uma parte das
obras de mobilidade urbana nos arredores da arena. Sobre a
construção de um novo equipamento, ele falou que têm sido
realizadas reuniões com a associação de pilotos, mas o principal
entrave é encontrar um terreno de 06 hectares, área mínima para
que possa sediar eventos regionais e nacionais e quando há, são
terrenos em áreas de proteção ambiental e que surge como opção
construir uma nova instalação em Parnamirim, Extremoz ou São
Gonçalo do Amarante.
Em DaCosta (2013), a Arena das Dunas não foi citada pelo autor como um
dos possíveis “elefantes brancos”, analisando o número de jogos e torneios que
podem vir a disputados nos novos estádios. O estudo do autor foi realizado antes de
ABC e América assinarem contrato para atuarem na nova arena. Similarmente ao
levantamento de jogos em cada arena realizado pelo autor, também simulamos a
quantidade mínima de jogos que o estádio poderá receber de acordo com o número
mínimo de jogos de acordo com a competição e que um clube venha a realizar
mesmo que seja eliminado na 1ª fase da competição (na Copa do Brasil, seria um
jogo, p. ex.). Adaptamos e acrescentamos mais uma competição para os clubes
potiguares, a Copa do Nordeste, que definitivamente entrou para o calendário da
região.
Tabela 2 - Previsão de partidas nas arenas da Copa de 2014 com riscos de se
tornarem “elefantes brancos”
UF
Estádio
Clubes
CB SA SB SC CNE Total
AM
Arena Amazônia
Penarol/Nacional
02
-
-
-
-
02
DF
Mané Garrincha
Brasiliense*
01
-
-
09
-
10
MT
Arena Pantanal
Cuiabá
01
-
-
09
-
10
RN
Arena das Dunas
ABC/América**
01
-
16
-
02
19
Fonte: DaCosta (2013), modificada
Siglas - UF: Unidade Federativa; CB: Copa do Brasil; SA: Série A; SB: Série B; SC: Série C; CNE:
Copa do Nordeste.
* O Brasiliense foi rebaixado para a série D, mas entrou com ação na Justiça para não cair, alegando
mudança do regulamento com o campeonato já iniciado, devido a Inclusão do Rio Branco/AC no seu
grupo, que ficou com 11 times e passou a rebaixar três, em vez dos dois inicialmente previstos.
** ABC e América tem obrigação contratual de mandar um percentual dos seus jogos de todas as
competições que participarem, na Arena das Dunas.
30
Ao observamos a tabela 2, constatamos que o estádio Arena das Dunas
será utilizado em um número bem mais elevado do que as outras três arenas que
correm o risco de serem subutilizadas após a Copa, mais do que o dobro de jogos
das duas arenas que vem em segundo lugar. Vale ressaltar que o ABC/RN, que
possui o estádio Maria Lamas Farache (mais conhecido como Fraqueirão, com a
capacidade para 18 mil pessoas), também assinou contrato para com a OAS,
administradora da arena, onde o clube se compromete a disputar uma parte dos
jogos de todas as competições (30% nas menos importantes, em outras 40%, e nas
mais importantes, até 55% dos jogos. O mesmo percentual se aplica ao América)
que participar na Arena, incluindo todos os clássicos entre ABC e América. Para
efeito da tabela 3, entrarão as partidas com o mando na série B do Campeonato
Brasileiro, já que o clube não disputará a Copa do Brasil nem a Copa do Nordeste
em 2014.
Porém, no levantamento dos riscos da Copa 2014 realizado pelo TCU
(2012), nos riscos evidenciados em relação aos estádios, quatro das cidades-sede
correm o risco de ter estádios que serão “elefantes brancos”, entre elas Natal, pois
foi observado que há riscos dos custos de manutenção da arena não serem
cobertos pela renda que ela venha a gerar após o encerramento da competição. O
risco se estende também as cidades de Brasília, Cuiabá e Manaus, por não terem
sido identificadas ações para atenuar os riscos pra que essas previsões se
concretizem por parte dos órgãos competentes e pelo próprio tribunal.
Tabela 3 - Média de público de ABC e América no Campeonato Brasileiro, séries B e
C (2008 – 2012)
Ano/Clube
ABC
América
2008
6.272 (B)
5.498 (B)
2009
4.830 (B)
6.462 (B)
2010
9.106 (C)
3.027 (B)
2011
5.541 (B)
3.330 (C)
2012
4.254 (B)
1.584 (B)
Média
6.001
3.980
Fonte: Figueiredo; Araújo (2013), editada.
Um dos problemas a serem superados para que a Arena das Dunas seja
viável economicamente é o fortalecimento dos clubes visando atrair o público
natalense para assistir o futebol in loco, para que a média de público dos dois
maiores clubes do RN possa se elevar em relação ao patamar atual, pois a arena
terá capacidade para 32 mil pessoas após a Copa, e a média de público dos clubes
31
no Campeonato Brasileiro não atinge os 40% do local, 12.800 pessoas, ou seja, não
consegue atingir metade da capacidade mínima para o estádio manter sem repasse
por parte do Estado para completar o lucro mínimo. O problema se torna mais grave
quando as disputas forem apenas do Campeonato Potiguar.
Em pesquisa realizada pela Smart Opinião Pública e Mercado, divulgada na
Tribuna do Norte em 17/11/2013, com a coleta de dados sendo realizada após os
jogos entre América x Ceará (26/10) e ABC x América (02/11), dois jogos de risco
devido à rivalidade do clássico local e a aliança entre as torcidas do ABC e Ceará.
Foram 309 entrevistados, com a margem de erro de 4%.
Gráfico 1 - Causas da redução do público nos estádios, segundo os torcedores
Fonte: Baseada em dados extraídos da Tribuna do Norte
Como observamos no gráfico 1, o principal motivo alegado pelos
entrevistados para o esvaziamento nos jogos realizados em Natal é a insegurança
que o torcedor sente em ir aos jogos, seguido do preço dos ingressos, problemas
apontados por mais da metade dos entrevistados. Os dois fatores estão
intrinsecamente ligados e, somando-se aos quatro fatores que o seguem, jogos
transmitidos pela TV fechada, horário dos jogos e em menor percentual, falta de
transporte público e a localização dos estádios, faz com que o torcedor prefira ficar
em casa ou ir a um bar, onde gastará menos, poderá levar a família ou se reunir com
os amigos gastando menos, se sentindo mais seguro e podendo ingerir bebida
alcoólica, algo que é proibido nos estádios brasileiros.
Um legado intangível inesperado causado indiretamente pela Copa 2014
para o país e Natal em particular, é a participação social, onde a população foi às
ruas para reivindicar melhorias no transporte público, educação, saúde, onde o
32
conceito do “padrão FIFA de qualidade” esteve entre os alvos principais dos
protestos. O diferencial é o fato do esporte, costumeiramente utilizado como uma
forma de validar regimes autocráticos com base nos bons resultados esportivos, a
exemplo da rivalidade norte-americana e russa nos Jogos Olímpicos no período da
Guerra Fria, servir de estopim para os manifestos, que ganharam visibilidade
internacional principalmente no período da Copa das Confederações.
Recentemente, os protestos ultrapassaram as quatro linhas do campo:
jogadores de grandes clubes brasileiros formaram o Bom Senso F. C., que reivindica
melhorias no calendário futebolístico do país, como a redução do número de partidas
e maior tempo de pré-temporada, como acontece no futebol europeu; o fair play
financeiro pelos clubes, onde os clubes endividados seriam punidos, vindo até a
perder pontos nas competições; um calendário maior para os clubes pequenos, para
que possam se manter ativos na maioria do ano. No caso mais recente, o
movimento ameaça paralisar o Campeonato Brasileiro, que está na 36ª rodada,
porque o Náutico/PE pagou salários somente a uma parte do seu elenco. Essas
greves já acontecem na Argentina, mas no Brasil, só a possibilidade de uma greve já
é marca histórica de novos tempos no futebol do país.
33
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dois megaeventos que serão realizados no Brasil nos próximos dois
anos, Copa 2014 e Olimpíadas 2016, deixará a nação em evidência para o mundo,
atrairão turistas e capital externo, será um marco para o ganho de infraestrutura
mais do que necessária para a população e o desenvolvimento nacional, serão doze
estádios de categoria internacional que podem elevar o patamar atual do futebol
brasileiro, entrarão para a história do país e marcará a memória do povo brasileiro.
Contudo, resta saber quais os aspectos terão mais peso nessa memória: positivos
ou negativos.
Ao analisar alguns erros cometidos no PAN 2007, que resultaram em
processos judiciais, estouro de orçamento e a falta de planejamento de legado do
evento, incluindo a demolição do velódromo da mesma cidade que sediará uma
Olimpíada e que já tinha a pretensão desde o planejamento do PAN; a interdição de
um estádio com apenas seis anos de construção a um custo de quatro vezes o valor
inicial; observamos que o país está seguindo o mesmo caminho, como o exemplo do
estádio de Rio Doce, em Olinda. A construção de estádios em cidades em que o
futebol profissional praticamente não existe, como Brasília, Cuiabá e Manaus, com
sérios riscos de se tornarem legados negativos, os famosos “elefantes brancos”.
Natal e sua arena também são incluídas nessa lista pelo TCU e alguns especialistas
da área esportiva. Mesmo com problemas sociais semelhantes aos sul-africanos, a
paixão pela “bola no pé”, como os alemães também possuem, podem impulsionar
boas mudanças no futebol nacional.
Em relação à Arena das Dunas, ela poderia ser considerada uma incógnita
em relação ao uso pós-copa, situação em que se encontra atualmente o Castelão e
a Arena Pernambuco, respectivamente. Baseando-se no artigo utilizado de
Lamartine DaCosta e na perspectiva da elevação do nível do futebol local
ocasionado pelo estádio; interesse do público, que terá conforto e instalações nãoesportivas como restaurantes e lojas em um mesmo lugar, como em um shopping, p.
ex., além da localização da arena ser privilegiada em relação ao estádio do ABC, e
principalmente, para o América, que há anos joga fora de Natal.
Todavia, problemas como a sensação de insegurança de ir aos estádios,
insuficiência de transporte público de massa (pode haver melhora com as obras de
mobilidade e a futura licitação, mas também está no campo das hipóteses) e o
34
provável encarecimento dos ingressos pesam negativamente para que a arena
consiga arrecadar com os jogos de futebol o necessário para a sua manutenção.
A decisão da cidade se candidatar a sede da Copa foi realizada sem
qualquer consulta à população, a demolição das três praças de esportes da área
onde foi erguida a arena também foi tomada sem consulta popular, o fundo de
garantidor, caso necessite ser utilizado, irá comprometer a arrecadação do estado,
pois a garantia tem origem nos royalties do petróleo.
Como provável legado positivo para Natal, podem ser citadas as duas
unidades da PEC e, inicialmente, duas unidades da CIE (há a possibilidade de mais
duas serem autorizadas em 2014), que serão construídas em áreas carentes do
município, sendo que as PEC já estão com obras em andamento. Porém, ficam as
dúvidas sobre quando ficarão prontas, se servirão ao seu propósito de fato, como
serão administradas. O Centro de treinamento de Atletismo da UFRN será outro
legado importante para a cidade e o estado, além de ser importante para a
comunidade acadêmica, mas não sabemos como será utilizado pela comunidade
externa.
A participação popular através das manifestações de rua talvez possa ser
considerada um legado positivo gerado pelo Brasil ser sede da Copa, pois os gastos
gerados na preparação para sediar o evento, que ocorreram nas principais cidades
do país e que tiveram seu ápice durante a Copa das Confederações. Protestos como
esses não aconteciam no país desde as Diretas Já, com o diferencial de ter no
esporte a força motriz e, inclusive, contando com o apoio dos jogadores da Seleção
Brasileira, sempre usada como uma forma de alienar a população como suas
conquistas. Os jogadores que atuam no Brasil também estão engajados em torno do
Bom Senso FC, que exige melhorias nos clubes, como o fair play financeiro, menos
partidas no calendário do futebol nacional, respeito ao torcedor por meio de jogos
realizados em horários mais acessíveis.
Por fim, em consequência do protagonismo assumido pelo Brasil de sediar
os dois maiores eventos esportivos, com as pretensões do país em se tronar uma
potencia olímpica, vide do Plano Decenal de Esportes e Lazer e os “10 pontos para
projetar o Brasil entre os 10 mais”, é de grande importância que o estudo científico
sobre os legados, mais especificamente o legado esportivo, seja cada vez mais
frequente, porque ao contrário de outros tipos de legados, a temática não conta com
uma grande produção acadêmica.
35
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2013.
40
ANEXO A - PERGUNTAS PARA ENTREVISTA DO TCC
Secretário SECOPA – Luiz Eduardo Machado
1. Na preparação para a Copa, o complexo esportivo do Machadão foi demolido
em troca de uma moderna arena multiuso, onde o Machadinho teve como
substituto o ginásio Nélio Dias, enquanto o automobilismo ficou órfão sem o
kartódromo. Em sua opinião, qual será o legado esportivo que ficará para a
população da cidade de Natal depois da Copa 2014?
2. Já existem projetos elaborados (esportivos ou não) para o uso da Arena das
Dunas após o fim da disputa dos jogos?
3. Um megaevento como a Copa afeta o imaginário da população tanto antes
como depois dos jogos, até mesmo com as obras e construção do estádio.
Como a prefeitura pretende aproveitar o momento propício imaginário de
crianças e jovens, criado pela disputa dos jogos na cidade?
4. Quais os programas específicos para uso das praças de esporte e lazer
(quadras, campos, ginásios) da cidade?
5. De acordo com a Lei Orgânica Municipal, deve haver integração dos centros
desportivos e das áreas de lazer com as escolas da rede municipal, e a
garantia de acesso da comunidade às instituições esportivas e de lazer das
escolas públicas municipais. Então, quais as ações que estão em prática para
que esses pontos, já que muitas escolas sequer tem esse espaço para a
prática do esporte?
6. Com a demolição do complexo esportivo do Machadão, o estádio terá um
substituto, o ginásio já tem, mas o kartódromo que também foi demolido não
teve uma nova pista construída. Queria saber se há previsão de lugar e de
quando a obra será entregue, pois o local era de grande importância por
abrigar competições regionais, revelar talentos, única pista do RN, o que
obriga a pilotos irem treinar em Recife (pista mais próxima) ou em
simuladores. Como esse problema será resolvido?
7. Existe parceria entre prefeitura e governo do estado para melhor utilização
desse legado esportivo que ficará para a cidade?
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ANEXO B - PERGUNTAS PARA ENTREVISTA DO TCC
Prof. Dr. João Liparotti/UFRN
1. Na preparação para a Copa, o complexo esportivo do Machadão foi demolido
em troca de uma moderna arena multiuso, onde o Machadinho teve como
substituto o ginásio Nélio Dias, enquanto o automobilismo ficou órfão sem o
kartódromo. Em sua opinião, qual será o legado esportivo que ficará para a
população da cidade de Natal depois da Copa 2014?
2. E mais especificamente, qual o impacto desse megaevento no futebol local?
3. Como Natal e o RN poderiam aproveitar o imaginário criado pela disputa dos
jogos na cidade nas crianças e jovens? E qual o impacto deste legado que
ficará para o esporte escolar e para o lazer comunitário, já que a atenção
maior é voltada para o alto rendimento?
4. Quais os ganhos efetivos ocasionados para a comunidade, acadêmica e
externa, com a escolha da UFRN como centro de treinamento da FIFA?
5. A renovação do parque esportivo da UFRN poderia ter ocorrido mesmo que
Natal não fosse uma cidade-sede da Copa do Mundo?
6. O que precisa ser mudado na política esportiva para que o lazer e o esporte
escolar recebam mais atenção, já que hoje o foco é majoritariamente no alto
rendimento, ainda mais com os megaeventos que o Brasil sediará nos
próximos anos, ápice do alto rendimento?
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SILVA, Rafael Alexandre Nascimento da. A