XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. FATORES DETERMINANTES QUE COMPÕEM A CADEIA PRODUTIVA DO ESPORTE DA REGIÃO SUL DO BRASIL Ana Paula Kloeckner Tudesco (UFRGS) [email protected] Ricardo Augusto Cassel (UFRGS) [email protected] Juliano Denicol (UFRGS) [email protected] Aline Marian Callegaro (UFRGS) [email protected] Segundo Kasznar (2013) a prática esportiva no Brasil representa 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto). Entretanto, comparado aos Estados Unidos, onde esse valor corresponde a 3,2%, esse é um valor subestimado, pois o mapeamento do setor esportivo no Brasil possui alguns obstáculos. É preciso entender que o universo econômico da prática esportiva no Brasil vai além das modalidades profissionais e amadoras, englobando diversas cadeias produtivas como a produção de artigos esportivos (como vestuário, calçados, redes), serviços especializados (mídia e jornalismo, administração de clubes, eventos, gestão e manutenção de quadras e academias de ginástica), serviços de saúde, turismo, projetos sociais, terceiro setor, entre outros. O presente estudo tem como objetivo identificar quais são esses fatores determinantes que compõem a cadeia produtiva do esporte, bem como eles se relacionam. Como resultados obteve-se um desenho com três cadeias principais (infraestrutura, equipamentos e serviços), suportadas por cadeias auxiliares, as quais possuem elementos similares em mais de uma cadeia principal. Palavras-chave: Cadeia produtiva, Mapeamento, Esporte, Região Sul do Brasil XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Segundo Kasznar (2013) a prática esportiva no Brasil representa 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto). Entretanto, comparado aos Estados Unidos, onde esse valor corresponde a 3,2%, esse é um valor subestimado, pois o mapeamento do setor esportivo no Brasil possui alguns obstáculos. Entretanto quando se fala em prática esportiva é importante entender que alguns conceitos que diferenciam a prática esportiva da atividade física, bom como o que são esportes de alto rendimento e esporte amador. O esporte está relacionado a todas as formas de atividades físicas que, por meio de participação casual ou organizada, objetivam expressar ou promover a forma física e o bem estar mental, formando relações sociais ou obtendo resultados em competições de todos os níveis. Esporte de alto nível, ou de alto rendimento, é aquele que exige do atleta uma dedicação intensa para a obtenção dos melhores níveis de desempenho, alcançar os resultados esperados, ou seja, as vitórias pessoais ou coletivas (MCPHERSON; CURTIS; LOY, 1989). Para dar suporte a essa promoção da forma física, bem estar para a prática esportiva e resultados de desempenho do atleta, passa a ser essencial uma estrutura que permita que essas atividades físicas possam ser realizadas. A prática esportiva necessita de lugares apropriados, criados de acordo com os princípios, regras e aspirações de cada modalidade. Tais lugares podem ser denominados de instalações esportivas. São estádios, ginásios, autódromos, pistas de esqui, velódromos, campos de golfe, hipódromos, campos de futebol, quadras, pistas de atletismo, piscinas não residenciais, ginásios (DA COSTA, 2004). É preciso entender que o universo econômico da prática esportiva no Brasil vai além das modalidades profissionais e amadoras, englobando diversas cadeias produtivas como a produção de artigos esportivos (como vestuário, calçados, redes), serviços especializados (mídia e jornalismo, administração de clubes, eventos, gestão e manutenção de quadras e academias de ginástica), serviços de saúde, turismo, projetos sociais, terceiro setor, entre outros (KASZNAR, 2013). Procurando entender a influência do esporte sob alguns aspectos relacionados à cadeia produtiva, Borlan e MacDonald (2003) verificaram os determinantes-chave para a participação das pessoas em eventos esportivos. Poupaux e Breuer (2009) procuraram identificar fatores que influenciavam a prática do esporte, entre eles a infra-estrutura. Ratten e Ratten (2011) procuraram entender como o esporte influenciava nas marcas, no turismo e no desenvolvimento regional. Concluíram que o esporte é uma atividade econômica com grande potencial de desenvolvimento. Entretanto, nenhum dos 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. estudos apresentaram os fatores que compõe a cadeia produtiva do esporte, nem mesmo como se relacionam. São apresentadas apenas segmentações com algumas das partes que podem fazer parte de uma cadeia produtiva genérica para o esporte, independente da modalidade. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo identificar quais são esses fatores determinantes que compõem a cadeia produtiva do esporte, bem como eles se relacionam. Este artigo está organizado em cinco seções, sendo a primeira elas esta introdução, seguido pelo referencial teórico, procedimento metodológicos, resultados e discussão e considerações finais. 2. Referencial teórico 2.1. Cadeia Produtiva do Esporte Conforme apresentado anteriormente, alguns autores apresentaram alguns aspectos relacionados à cadeia produtiva do esporte (BORLAN; MACDONALD, 2003; POUPAUX; BREUER, 2009; RATTEN; RATTEN, 2011). Ratten e Ratten (2011), em um estudo voltado a discutir o marketing internacional dos esportes, bem como a importância da integração entre o marketing e negócios, observaram que o esporte é uma atividade econômica indicada para se empreender. Traz como exemplos as organizações esportivas, como a National Basketball Association, National Hockey League, a Major League Baseball e a FIFA. O estudo avalia a importância do esporte na economia global, e como muitas organizações esportivas já dominam o mercado mundial, bem como o esporte influencia nas marcas, no turismo, no desenvolvimento regional. Concluem que no que tange aos times, as marcas são importantes no mercado. Dessa forma, apresentam que empresas do meio esportivo devem aproveitar as oportunidades disponíveis no mercado global para os negócios e as estratégias de marketing (RATTEN; RATTEN, 2011). Já Borlan e MacDonald (2003) realizaram uma pesquisa voltada à cadeia do esporte voltada aos eventos esportivos. Analisaram o comparecimento de torcedores nos jogos esportivos profissionais. Primeiramente, identificaram a origem e os determinantes da demanda de competições esportivas. Posteriormente verificaram quais os determinantes-chave da participação em eventos esportivos. Utilizam algumas modalidades esportivas para análise: Baseball, basquete, futebol americano, hockey, futebol, cricket, rugby. Compararam o comparecimento das pessoas nos jogos de competições. Concluíram que um maior número de pessoas comparece nos jogos quando a qualidade da partida é mais alta - o que se observa no futebol inglês, onde nas baixas divisões das competições, menos pessoas vão assistir. A qualidade da visão durante o jogo também importa para os fãs, assim como 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. estádios novos, o tempo da partida e as condições climáticas também influenciam no comparecimento das pessoas nos jogos; o preço do transporte também influencia (BORLAN; MACDONALD, 2003). Poupaux e Breuer (2009) buscaram uma visão um pouco mais aprofundada em relação à infraestrutura. A infraestrutura, segundo Da Costa (2004) no Atlas do Esporte, compõe-se de duas partes: (i) recursos humanos e instalações; e (ii) academias e clubes. O estudo de Poupaux e Breuer (2009) focou na segunda parte, que está relacionado aos locais de práticas. Estudaram fundamentos teóricos sobre demanda do esporte, apresentaram um modelo empírico e, por fim, um estudo econométrico usando Munique como base para a pesquisa. O objetivo foi avaliar se a prática de esportes é influenciada por fatores de nível macro, como a disponibilidade de infraestruturas de esporte. Concluíram que o número de diferentes infraestruturas de esporte em Munique parece não ter impacto na decisão de praticar esporte, mas tem impacto positivo na frequência da prática de esporte. Além disso, notaram que o número de estruturas ao ar livre tem impacto negativo na frequência da prática do esporte. Essa última frase foi interpretada por eles no sentido de que a construção de uma estrutura ao ar livre não teria impacto na demanda por haver suficientes suprimentos nesses tipos de esporte. 2.2. Fatores que impactam e determinam a Cadeia Produtiva do Esporte Appelqvist et al. (2013), procuraram entender o que melhoraria a cadeia produtiva de empresas de equipamentos esportivos, através da análise da complexidade da cadeia produtiva e do tipo da cadeia (make or buy). O objetivo do estudo foi documentar um trabalho desenvolvido por três anos a fim de melhorar a cadeia produtiva de sete empresas de equipamentos esportivos. Os resultados apontaram que a simplificação na cadeia produtiva melhora a performance da mesma; e que empresas sem produção terceirizada apresentaram um maior nível de desenvolvimento criativo. Yu-Kun e Min-Han (2009) procuraram definir uma cadeia de suprimentos global para produtos esportivos para melhorar o gerenciamento da mesma. O termo “cadeia de suprimentos” refere-se a um conjunto de empresas integrantes de uma cadeia produtiva específica voltada para um determinado segmento, vinculando-se a um consumidor específico para melhorar seus fatores competitivos em nível de mercado consumidor (VACHON et al., 2009; GUNASEKARAN et al., 2008). Dessa forma, o estudo de Yu-Kun e Min-Han (2009) enfoca sobre produtos esportivos gerais, com foco na Nike na China. O estudo ilustra o caminho da informação e dos produtos, a estrutura da cadeia e a cadeia de suprimentos integrada. Os resultados apresentam a complexidade de uma cadeia de suprimentos, onde se depende muito da dificuldade no alinhamento de objetivos entre empresas e definição e 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. variabilidade da demanda, devido principalmente ao ciclo de vida curto dos produtos. Destacam ainda a necessidade de cooperação entre todos os níveis da cadeia. Roscoe e Baker (2014) estudaram fatores que influenciavam a segmentação da cadeia de suprimentos do esporte, através das vendas aos consumidores por cadeias de varejo. O estudo foi direcionado à corrida, aplicados a duas empresas específicas: Reebok e Adidas. Foram entrevistados 22 especialistas que eram intimamente envolvidos com as duas empresas. Os autores afirmam que múltiplas cadeias de suprimentos podem coexistir dentro de uma companhia e serem usadas como estratégia de venda, exemplo: caso de customização-ágil e o reabastecimento lento de grandes quantidades de produto. Os autores propõem um framework de nove passos, para o relacionamento com varejistas: (i) determinar comportamento dos consumidores; (ii) determinar onde compram; (iii) decidir sobre o critério de atendimento para o varejista; (iv) proposição de valor aos varejistas; (v) definir melhores produtos e preços; (vi) descrever atributos de demanda; (vii) definir padrões do tipo de produto para o varejista específico; (viii) estabelecer qual das 4 cadeias de suprimentos melhor se enquadra; (ix) configurar os modelos da cadeia de suprimentos para se encaixar no tipo prático da cadeia. Com uma visão diferente, Gibson et al. (2005) procuraram entender o impacto econômico das atividades esportivas, eventos esportivos e turismo esportivo no Reino Unido, através da observação da cadeia de suprimentos em nível regional, nacional e global. Os autores modelaram em computador o comportamento dos eventos observados dadas algumas variáveis. O modelo traça a geografia dos eventos ou atividade em si e da cadeia de abastecimento da área local através de áreas vizinhas ao nível regional, nacional e global. Concluem que cada região ou localidade é responsável pela sua cadeia de abastecimento, não só em termos de vendas e compras, mas também em termos de valor agregado, renda e empregos. 3. Método O presente trabalho caracteriza-se por uma pesquisa de natureza aplicada, exploratória, utilizando como procedimento a pesquisa de campo. O uso da pesquisa exploratória ocorreu por haver pouco material bibliográfico e conhecimento disponível sobre a temática abordada. Dessa forma, buscou-se conhecer o assunto com maior profundidade, proporcionando uma visão geral cerca do fato estudado (CERVO; BREVIAN, 1983; GIL, 1999). Nessa fase do estudo não formulada hipóteses acerca do tema, já que o mesmo está pouco explorado na literatura, tornando-se difícil formulá-las de forma precisa e operacional. Dessa forma, buscou-se identificar quais os principais fatores a serem considerados para o entendimento e delineamento da Cadeia Produtiva do Esporte. O estudo foi 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. realizado em 5 etapas principais, realizadas para a obtenção e consolidação dessas informações. Na primeira etapa, foi realizada a fundamentação teórica sobre o tema, onde se buscou, através de uma pesquisa sistemática, identificar estudos relacionados ao tema. Na segunda etapa, foi realizada a identificação dos fatores que fazem parte da cadeia e interferem na mesma para dar sequencia à terceira etapa, que corresponde à realização de entrevistas em profundidade com atores chave sobre o desenvolvimento do esporte na região sul do Brasil. O uso de entrevistas em profundidade, foi realizado para auxiliar no ganho de dados válidos e confiáveis que são relevantes aos objetivos e questão de pesquisa. As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, no qual foram listados temas e questões relevantes, as quais devem ser adequadas de acordo com o conhecimento e área do entrevistado (SAUNDERS et al., 2009). A partir da quarta etapa, foi realizada a análise qualitativa dos dados, o que permite desenvolver teorias a partir dos mesmos, através da categorização simples de respostas para processar e identificar relacionamentos entre categorias (SAUNDERS et al., 2009). Dessa forma, na quarta etapa, foram definidos os fatores que impactam e compõem a cadeia produtiva do esporte na região sul do Brasil. A partir da definição dos fatores, partiu-se para o desenho da Cadeia Produtiva do Esporte Genérica. Para a realização da mesma foram realizados brainstormings em 4 encontros, nos quais foram utilizados mapas visuais para desenhar a cadeia. A partir das discussões e entendimentos, cada um dos participantes da pesquisa propôs um desenho, os quais foram sendo unidos e aprimorados, até chegar a primeira versão das cadeias consolidadas. Após essa etapa, seguiu-se para a última, na qual o desenho foi validado com os envolvidos na pesquisa, sendo eles, os pesquisadores do projetos, pesquisadores convidados e entrevistados. O resultado final foi o desenho da Cadeia Produtiva do Esporte Genérica consolidada. Tabela 1 – Etapas da pesquisa Etapa Ferramentas de coleta utilizadas Participantes 1 Fundamentação teórica Pesquisa sistemática de literatura Pesquisadores do projeto 2 Identificação dos fatores Análise de texto, brainstorming e mapas visuais Pesquisadores 3 Entrevistas em profundidade Roteiro entrevista Pesquisadores e principais atores do cenário do esporte na região sul do Brasil 4 Definição dos fatores Brainstorming Pesquisadores do projeto + pesquisadores convidados 5 Desenho da Cadeia Produtiva do Esporte Genérica Brainstormings e Mapas visuais Pesquisadores do projeto semiestruturado de 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 6 Validação do Desenho da Cadeia Apresentação envolvidos do Desenho aos Pesquisadores do projeto + pesquisadores convidados + entrevistados 4. Resultados e Discussão A partir do referencial seguiu-se a segunda etapa, onde alguns fatores foram identificados, conforme seguem na Tabela 2 (fatores que impactam) e Tabela 3 (fatores que compõem). Sage (2004) em um estudo sobre a evolução da cadeia produtiva do esporte apresenta uma divisão em três segmentos principais: performance, promoção e produção. Nesses três segmentos, estão englobados grande parte dos fatores que compõem a cadeia. No primeiro deles, a performance, está relacionado com a prática esportiva, isto é, em como o esporte é oferecido ao consumidor como participante ou espectador dos produtos. Podem estar relacionados aos fatores infraestrutura, locais para prática, bem como profissionais de apoio, corroborando com Da Costa (2004) e Poupax e Breuer (2009). Em relação à promoção, Sage (2004), relaciona as ferramentas de marketing para promover os produtos do esporte. Este segmento está relacionado ao grupo de serviços, como os eventos, que são destacados por Borlan e MacDonald (2003). Indo de encontro às afirmações anteriores, Ratten e Ratten (2011) falam sobre a importância do marketing na cadeia produtiva do esporte. O terceiro e último segmento apresentado por Sage (2004) é o de produção, que está relacionado à produção industrial, a qual busca a melhoria da qualidade performance do esporte. Esses fatores também são apresentados por Yu-Kun e Min-Han (2009) e Ratten e Ratten (2011). Tabela 2 – Fatores que impactam a Cadeia Produtiva do Esporte e autores Autores Fatores que impactam a cadeia Appelqvist et al, 2013 Complexidade da Cadeia Tipo da Cadeia (make or buy) Yu-Kun e Min-Han, 2009 Fluxo de informações Fluxo de produtos Variabilidade da Demanda Complexidade Grau de Cooperação Roscoe e Baker, 2014 Multiplicidade de cadeias dentro da companhia Comportamento dos Consumidores Tipo de produto Gibson et al., 2005 Geografia da cadeia de abastecimento (regional, nacional e global) 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Ratten e Ratten, 2011 Desenvolvimento Econômico Demanda Poupax e Beurer, 2009 Demanda Borlan e MacDonald, 2003 Demanda Tabela 3 – Fatores que compõem a Cadeia Produtiva do Esporte e autores Fatores que compõem a cadeia Autores Marketing Ratten e Ratten, 2011 Turismo Gibson et al., 2005; Ratten e Ratten, 2011 Eventos Borlan e MacDonald, 2003 Transporte Borlan e MacDonald, 2003 Infraestrutura Poupax e Breuer, 2009 Locais de prática (Academias, Clubes) Da Costa, 2004; Poupax e Breuer, 2009 Recursos Humanos Da Costa, 2004 Suprimentos / Produtos esportivos / marcas Yu-Kun e Min-Han, 2009; Ratten e Ratten, 2011 Com base nos dados levantados na literatura, seguiu-se para o levantamento e entendimento desses fatores, bem como consolidação dos mesmos, a partir das entrevistas em profundidade (Etapa 3). Foram realizadas um total de 5 entrevistas em profundidade, buscando entender quais os fatores compõem a cadeia produtiva do esporte na região sul do Brasil, com representantes de diversos grupos de representantes do esporte, principalmente do estado do Rio Grande do Sul. Foram entrevistados dois representantes da Secretaria do Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, um representante da Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, dois representante do Ministério do Esporte e um pesquisador sobre esporte de alto rendimento e políticas de desenvolvimento do esporte. As entrevistas foram conduzidas através de um roteiro semiestruturado, no qual inicialmente eram apresentados os fatores identificados na literatura e suas possíveis inter-relações. Depois, eram questionados por blocos de perguntas, as quais procuravam desenvolver e extrair um maior número de informações em relação a esses fatores. As entrevistas duraram em média de duas horas cada uma, nas quais vários fatores puderam ser aprofundados e novos pontos apontados para e definição dos fatores que compõem a cadeia produtiva do esporte, bem como seus agrupamentos. Nas entrevistas com os representantes da Secretaria do Esporte do RGS, o foco principal foi entender como é visto o esporte como fator de desenvolvimento econômico e industrial, bem como a 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. representatividade do mesmo para o estado. Foram levantados também os principais entes ligados à secretaria, identificando que estão fortemente ligados aos grandes eventos esportivos, usando como exemplo a copa do mundo de futebol realizada nos meses de junho e julho de 2014, apresentando apoiadores, parceiros e impactos para o esporte. Já na entrevista com a Fundação de Esporte e Lazer do RGS, foram desenvolvidos com maior aprofundamento os temas relacionados aos projetos associados ao esporte, apoiados pelo governo através de verbas de incentivo, como eventos de menor porte, apoio aos atletas para competições e compra de materiais e equipamentos. Como o ministério do esporte, foi possível entender melhor sobre como o governo atua no apoio ao desenvolvimento do esporte e dos atletas e como são realizados os incentivos ao esporte de alto rendimento, assim como os incentivos à pesquisa sobre o esporte olímpico, por exemplo, através de institutos de pesquisa e universidades. Como último entrevistado, complementando uma série de informações levantadas durante as demais entrevistas, buscou-se esclarecer e alinhar conceitos relacionados à modalidades esportivas, esportes de alto rendimento, praticantes do esporte, equipamentos, infraestrutura. Além disso, procurou-se entender sobre como s relacionam os profissionais de apoio na formação e desenvolvimento dos atletas. Após a realização das entrevistas e compiladas e organizadas as informações, foram realizados brainstormings com um grupo de pesquisadores para identificar padrões e conexões entre os fatores levantados (Etapa 4). Foram realizados quatro brainstormings para que houvesse um consenso em relação aos fatores estudados. A partir disso, foram definidos os fatores que compõem a cadeia produtiva genérica do esporte, através do agrupamento desses fatores em três grandes grupos (Tabela 4). Os grupos foram definidos como Infraestrutura, Equipamentos e Serviços, sendo cada um deles apoiados por cadeias auxiliares, contendo elementos como manutenção de estruturas, transporte e hospedagem, formação de profissionais, recursos humanos, P&D, financiadores e órgão reguladores. Tabela 4 – Grupos de fatores que compõem a cadeia produtiva do esporte Grupos Principais Características 1 Infraestrutura Demanda e suporte à construção de locais para prática esportiva 2 Equipamentos Cadeia que compõe a produção de materiais esportivos desde a matéria-prima até chegar ao atleta 3 Serviços Atividades de suporte/apoio ao atleta Para a construção da cadeia, buscou-se desenvolver toda a cadeia, até a chegada dos produtos e serviços até o ponto final desejado na cadeia: o atleta. As cadeias produtivas são a soma de todas as 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. operações de produção e comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias primas a um produto final, que chegará às mãos do usuário, no caso, o atleta. Para Christopher (2000), dar importância ao que gera valor par o cliente, em termos da cadeia produtiva, deve estar também associada ao que oferece vantagem competitiva em relação aos custos. O primeiro grande grupo é composto pela Infraestrutura, a qual pode ser caracterizada pela demanda e suporte à construção de locais para prática esportiva, composto por construtoras, por exemplo, e seus fornecedores. O segundo grande grupo são os Equipamentos, nos quais estão incluídos os materiais necessários para a prática esportiva, vestuários e equipamentos de musculação, por exemplo. Neste grupo, é representada a cadeia que corresponde à produção de materiais esportivos, desde a matéria prima, até os produtos chegarem ao atleta, o que deve passar por fabricantes, distribuidores e varejistas. Para Sage (2004), os bens esportivos são uniformes, tênis, bolas, luvas, equipamentos de proteção e o que mais for necessário para praticar o esporte. Além disso, o mesmo autor destaca a importância desse segmento por constituir uma indústria global de U$ 170 bilhões, afirmando que os bens esportivos são componentes chave na indústria e comercialização do esporte. O terceiro e último grupo é composto pelos serviços, os quais são aquelas atividades que dão suporte/apoio para a prática esportiva do ponto de vista do atleta. É composto por profissionais de apoio, clubes e academias, mídia, eventos, federações, clínicas e hospitais, entre outros. Com base em todas as informações levantadas, prosseguiu-se com o desenho da cadeia produtiva do esporte genérica, bem como com a validação da mesma. Como resultados finais, obteve-se um desenho com três cadeias principais organizadas de acordo com os três grandes grupos identificados (Figura 1). É importante destacar que todas as cadeias principais (infraestrutura, equipamentos e serviços), são suportadas por cadeias auxiliares, as quais possuem elementos similares em mais de uma cadeia principal. Figura 1 – Desenho da Cadeia Produtiva do Esporte Genérica 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 5. Considerações Finais Considerando que a prática esportiva no Brasil possui um grande potencial de crescimento, bem como estudos apontam sua importância para o desenvolvimento econômico das regiões, sejam elas em termos regionais, nacionais ou globais, é importante lembrar que existe uma cadeia produtiva que deve dar suporte à prática esportiva e ao atleta. Conhecer a cadeia produtiva do esporte pode ser uma forma de identificar dificuldades das indústrias e impulsionar o crescimento e desenvolvimento das mesmas, bem como saber quais são os elos mais fracos e necessitam de maior atenção e investimentos. O presente estudo procurou levantar os fatores que fazem parte da cadeia produtiva do esporte e como se relacionam de uma forma geral. Dessa forma, pode-se identificar 3 grupos principais, os quais aglomeram os fatores identificados nesta pesquisa que estão relacionados entre si. Isso possibilitou uma representação visual dessa cadeia produtiva genérica, através de um desenho, onde são apresentados os principais fatores que compõem a cadeia, assim como a forma como se relacionam. Entende-se que os relacionamentos entre os componentes da cadeia ainda é mais complexo do que a representação visual apresentada, entretanto, tamanha complexidade impossibilitaria o entendimento e visualização dos principais fatores atuantes na cadeia. É importante destacar que a literatura ainda não apresenta dados suficientes para poder comparar os resultados obtidos nesse estudo, como uma cadeia genérica que engloba todos os fatores apresentados. REFERÊNCIAS APPELQVIST, P.; CHAVEZ-DEMOULIN, V.; HAMERI, A.; HEIKKIL, J. Turnaround across diverse global supply chains using shared metrics and change methodology: The case of Amer Sports Corporation. International Journal of Operations & Production Management, v. 33, n° 5, 2013. BORLAND, J.; MACDONALD, R. Demand for Sport. Oxford Review of Economic Policy, v. 19, n° 4, 2003. CERVO, L.; BREVIAN, A. Metodologia Científica: para uso de estudantes universitários. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1983. CHRISTOPHER, M. A logística do marketing. 2. ed. São Paulo: Futura, 2000. DA COSTA, L. Atlas do Esporte no Brasil. 2004. GIBSON, H.; MCINTYRE, S.; MACKAY, S.; RIDDINGTON, G. 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